Skip to main content

Full text of "Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro"

See other formats


Google 


This  is  a  digital  copy  of  a  book  that  was  prcscrvod  for  gcncrations  on  library  shclvcs  bcforc  it  was  carcfully  scannod  by  Google  as  part  of  a  projcct 

to  make  the  world's  books  discoverablc  online. 

It  has  survived  long  enough  for  the  copyright  to  expire  and  the  book  to  enter  the  public  domain.  A  public  domain  book  is  one  that  was  never  subject 

to  copyright  or  whose  legal  copyright  term  has  expired.  Whether  a  book  is  in  the  public  domain  may  vary  country  to  country.  Public  domain  books 

are  our  gateways  to  the  past,  representing  a  wealth  of  history,  cultuie  and  knowledge  that's  often  difficult  to  discover. 

Marks,  notations  and  other  maiginalia  present  in  the  original  volume  will  appear  in  this  file  -  a  reminder  of  this  book's  long  journcy  from  the 

publisher  to  a  library  and  finally  to  you. 

Usage  guidelines 

Google  is  proud  to  partner  with  libraries  to  digitize  public  domain  materiais  and  make  them  widely  accessible.  Public  domain  books  belong  to  the 
public  and  we  are  merely  their  custodians.  Nevertheless,  this  work  is  expensive,  so  in  order  to  keep  providing  this  resource,  we  have  taken  steps  to 
prcvcnt  abuse  by  commercial  parties,  including  placing  lechnical  restrictions  on  automated  querying. 
We  also  ask  that  you: 

+  Make  non-commercial  use  of  the  files  We  designed  Google  Book  Search  for  use  by  individuais,  and  we  request  that  you  use  these  files  for 
personal,  non-commercial  purposes. 

+  Refrainfivm  automated  querying  Do  nol  send  automated  queries  of  any  sort  to  Google's  system:  If  you  are  conducting  research  on  machinc 
translation,  optical  character  recognition  or  other  áreas  where  access  to  a  laige  amount  of  text  is  helpful,  please  contact  us.  We  encouragc  the 
use  of  public  domain  materiais  for  these  purposes  and  may  be  able  to  help. 

+  Maintain  attributionTht  GoogXt  "watermark"  you  see  on  each  file  is essential  for  informingpcoplcabout  this  projcct  and  hclping  them  find 
additional  materiais  through  Google  Book  Search.  Please  do  not  remove  it. 

+  Keep  it  legal  Whatever  your  use,  remember  that  you  are  lesponsible  for  ensuring  that  what  you  are  doing  is  legal.  Do  not  assume  that  just 
because  we  believe  a  book  is  in  the  public  domain  for  users  in  the  United  States,  that  the  work  is  also  in  the  public  domain  for  users  in  other 
countiies.  Whether  a  book  is  still  in  copyright  varies  from  country  to  country,  and  we  can'l  offer  guidance  on  whether  any  specific  use  of 
any  specific  book  is  allowed.  Please  do  not  assume  that  a  book's  appearance  in  Google  Book  Search  mcans  it  can  bc  used  in  any  manner 
anywhere  in  the  world.  Copyright  infringement  liabili^  can  be  quite  severe. 

About  Google  Book  Search 

Googlc's  mission  is  to  organize  the  world's  information  and  to  make  it  univcrsally  accessible  and  uscful.   Google  Book  Search  hclps  rcadcrs 
discover  the  world's  books  while  hclping  authors  and  publishers  rcach  ncw  audicnccs.  You  can  search  through  the  full  icxi  of  this  book  on  the  web 

at|http: //books.  google  .com/l 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


Do.icdt,  Google 


4S 


.dbiGoogle 


.dbiGoogle 


REVISTA  TRIIIENSAL 


D,i.,.db,  Google 


Do.icdt,  Google 


REVISTA  TRIMENSAL 

INSTITUTO  HISTÓRICO     ' 

Geographieo  e  Eduognphico  do  Brasil 

FUNDADO  SO  BIO  DB  JANEIRO 

DEBAIXO  DA  IMMEDIATA  PROTECÇÃO  DE  S.  U.  1. 

O  Sr.  D.  Pedro  11 

TOHO  XXXI 

Parle  prlaielra 

lloc  fácil,  ui  longoi  iurent  bene  getla  ptr  annos 
El  potnnt  terá  ptulerilale  frui. 


RIO    r>E    JAINEinO 
B.   L.  Saralcr  —  LlTrelr«-e41(*r 

69    HUB  do  Ouvidor    69 
i8«6 


Dictzedby  Google 


.dbiGoógle 


/^.„...<V-^ 


'''^REVISTA  TRIMENSAL 


INSTITUTO   HISTÓRICO 

GEOGBIPBIOD,  E  ETHNOGRAPHICO  DO  BRASIL 
l^RIMESTKE  DE  1868 

MEMORIA 

SOBRE  O  UBLHOHAUBNTO  DA  PROVÍNCIA  DB 

S,    PAULO 
APPLIUTEL  CM  6AAKDE  PARTE  As  PROVI  NCI.IS  DO 

BRASIL  (•) 

ASTONIO  RODR1OUBSVE1.LOSO0E  OLIVEIRA 

ConuRendador  da  Ordem  de  Christo.  do  Confielbo  de  Estada  de  Sun  tlages- 

t*d«  D  Imperador  Coiutitucional  do  GtmíI  e  seu  Defeneor  PeriKtuo 


ADVERTÊNCIA 


LbC'  ViX.  E  dbRio-Jvii, 

Para  uãu  apparecer  criminosa  na  presença  da  lei,  frau- 
dados os  meus  deveres  pela  sempre  culpável  ínercía,  ira^ 
balbei  por  fazer  o  que  devia,  advogando  a  causa  da  pátria, 
e  promovendo  os  seus  mais  preciosos  interesses,  como  me 
permittiram  as  minhas  poucas  forças. 

Por  esta  razão,  live  a  honra  de  oETerecer  a  el-rei  o  Senhor 
D.  João  VI  em  1810  a  M.einvma,  que  sahe  agora  á  luz,  para  o 

(*)  Julgamoe  de  sumiiio  íDtercseu  a  reiíupjessTio  d'esla  ialcressíinle 
Manoria  do  conEelheiro  Velloso,  que  devemos  á  obsequjosiiladc  do 
nosM  consócio  o  Sr.  Dr.  Ernesto  Ferreira  Franga. 

[  Nota  dí  redacção  ) 


Dictzedby  Google 


melhoramealo  da  capitaoía,  hoje  província  de  S.  Paulo, 
appticavel  em  grande  parta  a  todas  as  outras  do  Brasil. 

Não  era  minha  intenção  que  ella  se  fizesse  publica  por 
meio  da  imprensa,  apezar  dos  votos  dos  meus  amigos  que 
a  leram;  mas,  honrado  agora  pela  minha  provinda  de 
S.  Paulo,  constituindo-me  seu  procurador  geral,  devia  neces- 
sariamente mudar  de  parecer,  publicando  as  minhas  anti- 
gas reflexões,  para  de  algum  modo  cumprir  os  deveres  que 
me  são  impostos  pelo  nunca  assaz  louvado  decreto  de-26 
de  Fevereiro  d'este  venturoso  anno  de  1822, 1°  da  liber- 
dade e  independência  do  Brasil. 

E' na  época  feliz  da  honesta  liberdade,  e  quando  fa- 
voráveis circumstancias  concorrem  á  porfia  para  o  augmento 
e  prosperidade  da  pátria,  alé  agora  desvalida,  que  todos  os 
cidadãos  de  algum  préstimo  devem  pensar  com  maior  ar- 
dor, escrever  e  manifestar  as  suas  idéas.  Eu  os  convido  ao 
necessário  cumprimento  de  tão  dignos  ofllcios;  e  a  lerem 
com  a  mais  imparcial  reflexão  a  minha  não'  desprezivel 
Memoria,  que  lhes  vai  ser  apresentada,  como  ha  doze  an- 
n06  foi  escripta,  intervindo  comludo  alguns  adiantamentos 
quome  pareceram  necessários  á  maior  illuslração  da  matéria. 
Da  justa  discussão  de  cada  um  dos  artigos  dos  meus  diffe- 
rontes  projectos  ha, sem  duvida,de  resultar  o  importantíssimo 
fim  quii  dirigiu  a  minha  ponna,  ísto  é,  a  prosperidade  da 
grande  terra  que  habitamos,  c  dos  nossos  mais  proveitosos 
interossos. 


Dictzedby  Google 


INTRODUCÇAO 

Agradou  ao  justo  e  incomparável  soberano  que  nos  go- 
Tema,  firmar  a  gloria  da  monarcbia  do  Brasil,  c  a  fortuna 
particular  dos  seus  lieis  vassallos  sobre  alicerces  indestruc- 
liveis. 

Dignou-se,  portanto,  estender  as  suas  vistas  paternses 
sobre  a  agricultura,  fabricas,  commercío  e  povoaçSo  d'esle 
mui  vasto  e  interessantissimo  psiz  :  destruiu  o  antigo  sys- 
tema  colonial,  que  a  fraqueza  organisára  e  a  necessidade 
conservara:  substituiu-Ihe  a  honesto  liberdade  de  cultivar 
com  proveito  desertos  até  agora  inúteis,  e  que  não  podiam 
vivificar-se;  associando  aos  nossos  trabalhos  agrários  a 
industria  e  as  fadigas  dos  estrangeiros,  aos  quaes  mandou 
distribuir  terras  com  largueza  e  sem  pensão  alguma. 

Quer  que  em  Ioda  a  extensão  dos  seus  vastos  domínios 
sejam  os  grosseiros  tecidos  de  algodão  para  saccas,  que 
unicamente  se  permitliara,  sem  demora  substiluidos  pelas 
mais  preciosas  e  ricas  producções  da  industria,  applicada 
ás  matérias,  que  na  maior  abundância  e  como  à  porfia 
nos  ofTerecem  o  reino  animal,  o  vegetal  e  o  mineral : 
determinou,  emfim,  que  o  commercio  livre,  e  sem  conhc- 
ceroutros  limites,  além  d'aquellesque  são  prescriplos  pelas 
regras  do  justo  e  do  honesto,  se  encarregasse  de  levar 
•tos  paizes  mais  lemotos  e  ao  mundf^inteiro  os  fructos  da 
nossa  industria,  e  de  augmentar  o  seu  valor  natural  e 
primitivo  (1).  E  taes  são,  com  efTeito,  as  solidas  bases  em 
que  deve  repousar  o  respeitável  edifício  de  um  império 
grande,  justo,  e  equitavcl. 

E'  pois  muito  próprio  da  obrigação  de  todos  os  vassallos 

(1)  São  capitães  n'esios  matérias  a  caria  régia  de  28  de  Janeiro 
de  1808,  o  atvará  do  1°  de  Abril,  c  o  decreto  de  25  de  Novembro  do 
mesmo  anão. 


DictizedbyGoOJ^IC 


que  pensam  manifestar  as  suas  idéas  sobre  o  melhoramento 
de  qualquer  ramo  de  industria  nacional,  ou  de  alguma 
parte  do  paíz  que  habitam  ;  porque  n'isso,  imitando  o  seu 
mesmo  soberano,  concorrem,  como  lhes  é  possível,  para 
facilitar  os  estabelecimentos,  que  elle  lem  em  vista  «para 
a  fortuna  dos  seus  compatriotas. 

Eis-aqui  os  motivos  que  me  obrigaram  a  escrever  esta 
Memoria  a  respeito  da  capitania  de  S.  Paulo,  aonde  nasci, 
e  cujas  particulares  circumstancias  tenho  cuidadosamente 
examinado.  Ella  é  uma  das  províncias  mais  interessantes 
(]e  todo  este  continente,  e  da  qual  se  devem,  com  razão, 
esperar  riquezas  incalculáveis,  logo  que  se  lhe  proporcio- 
nom  os  meios  e  se  formem  os  estabelecimentos  de  que  é 
snsceplivel. 


PARTE  I 

CAPITULO   I 

DESCRIPÇ^O  t>\   CAPITANIA    DE   S.  PAULO 

E'  a  capitania  de  S.  Paulo,  como  lodos  sabem,  muito 
extensa,  muito  fértil  o  muito  amena.  Dívide-se  natural- 
mente em  duas  parles,  maritima  e  central :  seis  portos 
grandes,  além  de  muilos  pequenos,  formados  por  outros 
tantos  rios,  e  numerosas  enseadas,  com  seguros  ancora- 
douros, pela  maior  parte,  adornam  as  suas  costas,  que  se 
estendem  desde  a  praia  Brava  e  ilha  das  Couves,  aonde 
termina  a  capitania  do  Rio  de  Janeiro,  pela  porte  meri- 
dional, na  latitude  austral  de  23°  e  3^,  atéa  do  Rio  Grande 
de  S.  Pedro  do  Sut  e  Santa  Catharína,  na  foz  do  rio  de 
S.  Francisco,  cm  latitude  de  26°  e  25'.  A  sua  extensão 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  9  — 

pelos  tMiilorios  de  serra  acima  q&o  é  bem  conheeida,  e 
chega  talvez  a  29*  em  aUeiiQão  á  sua  irregularidade. 
Por  eete  modo  se  devem  considerar  os  seas  limites  occi- 
deolaes ;  por  qutiDto,  para  esta  parte,  e  carregando  mais 
ao  sul,  oooãoa  com  os  povos  das  missdos  do  Uruguay,  e 
com  os  da  Assumpção  do  Paraguay  ;  eiDcliaando-se  para  o 
norte,  ou  pontos  mais  occidenlaes,  termina  com  as  capi- 
tanias de  Goyaz  e  Mato-Grosso;  e  em  outros  mais  orien- 
taes,  com  as  de  Minas  Geraos  e  Rio  de  Janeiro,  tendo 
finatmeote  este  ímmenso  espaço  quanto  á  sua  latitude  3°, 
e  de  longitude  t4°. 

CAPITULO  II 

CIBCUMSTANCUS  PRÓPRIAS  DA    PARTE  MAUTIMA 

As  liellas  madeiras,  de  que,  abundam  as  ditas  costas,  « 
igualmente  as  serras  vizinhas,  e  as  margens  de  muitos  rios, 
que  descem  do  interior  e  são  navegáveis  por  grandes  es- 
paços, ainda  que  não  pouco  desiguaes,  otTereccm  á  con- 
slrucçáo,  em  geral,  foda  a  facilidade,  e  ao  commercio 
grandes  riquezas. 

A  extraordinária  e  mui  variada  quantidade  dos  peixes, 
que  multiplicam  quasí  inutilmente  para  o  homem  nos 
mares  vizinhos,  e  vão,  conduzidos  pela  naluroza,  a  des- 
fructar  o  saboroso  e  certo  alimento,  que  ellos  diariamente 
lhes  liberalisam,  e  a  possibilidade  de  se  estabelecerem  sa- 
linas em  muitos  e  dilferentes  lugares,  apropriados  ao  in- 
tento, seguram  á  pescaria  e  a  outros  diversos  estabeleci- 
mentos muitas  vantagens. 

As  matérias  o  pedras  calcarias,  que  principalmente  na 
formosa  ribeira  de  Iguape  e  nas  costas  da  Cananéa  for- 
mam grandes  e  inexhauriveis  montanhas,  convidam  áedi- 
TOMO  XXXI,  P.  1.  2 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


—  IO  — 

fieaç&o,  já  faciliuda  peU  abuodancia  das  madeiras,  e  pro- 
metlera  ás  operações  agrarias  ef&caz  auxilio. 

A  espoDtonea  producção  da  baaoilha,  a  outra  da  gerum  - 
beba,  ou  calo  de  coxonílha,  cujo  préstimo  e  valor  DÍnguem 
hoje  ignora,  assim  como  do  piquíi,  da  sapucaia  e  dos 
coqueiros  de  differentes  espécies  particulares  (três  ma- 
naamaes  fecundos  de  excellentes  azeites,  até  para  os  adubos 
da  mesa)  parecem  anticipar  aos  poros  os  trabalhos  e  as 
despezas  da  plantação  e  da  lavoura. 

A  cultora,  emfim,  da  laraogeira,  da  pimenteira  da  índia, 
do  craveiro  e  do  cafezeiro,  que  parecem  indígenas  do  paiz. 
e  a  outra  do  arroz,  o  melhor  que  se  conhece  no  Brasil, 
bastariam  para  a  producção  das  mais  avultadas  riquezas. 
Mas  o  assucar,  o  algodão  e  o  tabaco,  com  todos  os  mais 
fructos  e  gados,  que  se  cultivam  e  criam  nas  outras  ca- 
pitanias marítimas  ao  norte,  prosperam  de  uma  maneira  ad- 
mirável, e  pelo  menos  com  igual  vantagem  nes  terras  de 
que  fallo,  divísando-se  ainda  n'eUas  com  mais  particulari- 
dade a  grande  abundância  de  aguas,  que  por  toda  a  parte 
se  prestam  liberalmente  ao  serviço  de  quaesquer  machinas 
e  moinhos.  Não  é  fácil  eneonlrar  em  uma  só  província 
tantas  circumstancias,  e  tão  vantajosamente  reunidas  a  fa- 
vor da  agricultura,  fabricas,  navegação,  commercio  e  po- 
voação. Elias  parecem  desafiar  de  uma  maneira  imperiosa 
os  cuidados  e  as  providencias  do  governo. 

CAPITULO  III 

hAS  PROPRIEDADES   QUE  ADORNAM   A    OUTRA  PARTE  CENTRAL 

Não  menos  interessante  se  ostenta  a  parte  central  da 
capitania  de  S.  Paulo.  Este  paiz  immenso,  seguindo  em 
comprimento  a  direcção  do  sul  e  em  largura  a  do  oeste, 


D,:„l,;cdtv  Google 


^  11  — 

para  oade  se  estende  mais,  é  todu  alto  e  superior  ao  que 
borda  o  mar.  Talves  que  pela  igualdade  e  circumstancias 
da  sua  Ronfigoratão,  seguindo  constante,  e  suavamente  por 
um  modo  admirável  a  volta  do  globo,  seja  tfto  fértil,  como 
se  sabe,  e  a  porção  mais  bella  de  todo  o  Brasil. 

Prosperam  no  seu  delicioso  clima  os  fructos  das  quatro 
parles  do  mundo  conhecido  em  pleao  ar,  ainda  que  nem 
todas  as  situações  lhes  sejam  igualmente  favoráveis.  Os 
gados  oão  precisam  os  cuidados  da  arte  para  multiplicarem 
liberalmente,  e  o  homem  frugal  e  moderado  desfrucla, 
em  quasi  todos  as  lugares,  os  doces  prazeres  da  natureza, 
juntos  dqueltes  da  saúde,  da  força  do  corpo,  das  bem 
desenvolvidas  faculdades  da  alma  e  de  uma  vida  assaz 
longa. 

Os  muitos  e  caudalosos  rios,  que  regam  o  seu  bellu 
loreno,  todos  bordados  de  preciosas  madeiras  e  variados 
fructos,  com  outras  producQÕes  de  grande  estímaçAo  e 
valor,  todos  mui  piscosos,  todos  navegáveis  e  abundantes 
de  ouro,  e  não  poucos  de  mármores  excellentes  e  das  mais 
ricas  pedras  preciosas,  entre  as  quaes  não  se  esconde  o 
diamante,  augmentam  ainda  mais  o  valor  do  mesmo  ter- 
reno, e  multiplicam  as  commodidades  do  homem.  Assím 
as  muitas  cachoeiras  e  a  fereza  dos  índios  que  habitam  as 
margensde  muitos  d' estes  rios,  não  puzessem  tantos  limites 
ás  mesmas  commodidades. 

Presla-se,  não  sem  grande  conveniência,  A  economia  pu- 
blica eaocommercioínterioroencadéamentodelantosaguas, 
que,  passando  por  planos  successivamente  inclinados  e 
engrossando  com  a  união  de  outros,  facilitam  a  narração 
por  todas  as  povoações  ao  norte  de  Mogjr  das  Cruzes,  até 
Lorena,  pelos  rios  Parahybu,  Paraitinga,  Jacuy  e  Parai- 
buna  Pequeno,  até  agora  não  bem  conhecidos,  e  meito 
menos  os  vastos  sertões  que  existem  n'esta  bellisstma  si- 


Dictzedby  Google 


(uação;  entrelaato  que  outros  váo  fazer,  pelo  occídeote, 
volumoso  o  Tietê  ou  A.Dhaniby  ,  o  Iguaçu,  grande  rio  da 
Curitiba,  o  Ivai,  o  Piquery,  e  o  Paraná panema,  formado 
pelo  Itapitininga,  Taquary  e  Piray,  no  qual  desagua  o  dia- 
mantino Tibagy.  E  todos  acompanhados  de  nSo  poucosniais, 
preslando-se  á  navegação  da  capitania  inteira  ea  diversos 
rumos,  na  distancia  de  mais  de  duas  mil  léguas,  calcu- 
lada a  extensão  das  suas  duplicadas  margens,  vSo  emlim 
enriquecer  o  Paraná,  ponto  centra)  de  toda  a  navegação 
interior  do  Brasil  para  Goiazes,  Cuyabá  o  Mato-Grosso, 
assim  como  para  os  dois  maiores  rios  do  mundo,  o  Paraguay 
(melhor  conhecido  com  o  nome  da  Prata,  depois  que  n'elle 
enlra  o  Pilco  Mayo,  e  confunde  as  suas  aguas  com  as  do 
mar,  nas  vizinhanças  de  Montevideo)  e  o  Amazonas,  que 
na  sua  eitensissiraa  ca  rreira  se  presta  ainda  á  navegação  in- 
teira de  rauilos  rios  famosos  de  uma  e  outra  margem; 
sendo  entre  elles  notados  com  muita  particularídada  o  rio 
Negro  e  o  Branco,  que  n'ellc  conflue  pela  parte  de  Teste, 
regnndo  as  riquíssimas  e  intermináveis  campinas  da  Guia- 
na ;  o  Iça,  não  menos  apreciável,  e  por  fim  o  Jupurá,  cuja 
navegação  franca  se  estonde  por  quatrocentas  léguas.  Qual 
outro  paiz  no  mundo  tem  proporções  para  tão  extensa  na- 
vegação interior !  I  Quando  nos  séculos  futuros  a  povoação, 
que  ornava  tanlos  mares  interiores,  o  o  brutal  despotismo  se 
não  envergonha  da  haver  destruído,  fdr  emfim  restituída 
ao  seu  antigo  numero,  e  melhorada  pela  educação  pró- 
pria, que  dirá  o  mundo  da  grande  terra  que  habitamos  I  ! 
Não  menos  apreciáveis,  emfim,  são  os  famosos  campos, 
que  geralmente  formam  o  assento  de  um  paíz  tão  recom- 
mendavel:  só  elles,  tomados  separadamente,  podem  servir 
para  o  mais  rico  e  sohdo  estabelecimento  de  uma  nação  tão 
numerosa  como  a  França  eAllemanha  :  taes  são  os  Gemes 
na  Curitiba,  com  os  denominados  de  Ambrósio,  cuja  vas- 


Dictizedby  Google 


—  1»  — 

tisBtraa  extensão  parece  iaterminavel,  e  aiada  se  aSo  cal- 
culou exactamente.  Os  de  Garapuava,  que,  separados 
d'aqueUes  por  uma  grossa  mata  de  quarenta  léguas  de  lar- 
gura e  desconhecido  comprimeolo,  correndo  pela  imme- 
diaçào  da  serra  da  Apucurana,  á  margem  do  rio  Iguaçu, 
formam  uma  superfície,  que  se  avalia  em  mais  de  seis  mil 
léguas  quadradas.  Os  de  Igatimy,  aioda  maiores  e  impor- 
laolíssífflos,  abrangendo  desde  a  foz  do  rio  Igua  yniy,  nas 
Sele  Quedas,  e  por  ello  acima,  até  os  pontos  mais  altos  da 
Serra  de  Marecajú,  e  vertentes  dos  rios  Ipané,  Guaraj'  o 
Vocuy ;  e  por  este  abaixo  até  o  Paraguay,  os  grandes  paizes 
de  Guairá,  Itaty  e  Tape,  com  os  da  antiga  Vaccaria. 

Os  de  Paranãpanema,  de  Itapetininga  e  de  Mogy  Guaçú, 
até  onde  vai  terminar  com  os  remotissimos  limites  das 
capitanias  de  Minas-Geraes,  Goyaze  Cuyab^,  e  além  d'estes, 
outros,  que  se  vão  pouco  a  pouco  descobrindo  no  meio  de 
um  vastíssimo  e  desconhecido  sertão,  laes  como  os  de  Arara- 
quars  nas  margens  do  Tietê  e  Piracicaba,  e  os  de  Potenduba. 

E  para  que  um  quadro  tão  importante  terminasse  com 
os  precioMts  ornatos,  que  Ibe  convém,  nenhuma  capitania 
se  tem  feito  tJo  recommendavel,  como  a  de  S.  Paulo,  pelos 
importantes  e  arriscados  serviços  que  (Izoram  á  corda  e 
ao  Estado  os  seus  industriosos  e  esforçados  naturaes; 
serviços  qiieexcitaram  sempre  o  reconhecimento  do  throno, 
e  merecem  a  honrosa  recordação  que  d^elles  se  digna,  imi- 
tando os  seus  augustas  predecessores,  fazer  ultimamente, 
DO  alvará  de  39  de  Agosto  de  1808,  o  mais  amável  dos  ' 
soberanos. 

Com  efibito,  aos  naturaes  de  S.  Paulo,  í  sua  industria, á 
sua  força,  e  extraordinária  constância,  qualidades  que  os 
fazem  láo  recommendaveis,  como  os  povos  mais  celebres  da 
antiguidade,  se  deve  o  descobrimento  ,e  povoação  de  quasi 
todas  as  terras  que  possuímos,   desde  o   cabo  de  Santo 


Dictzedby  Google 


^  u  — 

Agostinho  alé  os  remulos  coulins  íb  Mato-tirosso,  e  elles 
mesmos  as  conservaram  em  toJa  a  sua  iolegrídade,  em 
tempos  calamitosos,  e  om  dura  guerra,  destituídos  de 
auxilio  externo,  para  d'ella3  fazerem  fiel  deposito  nas  mãos 
augustas  de  nossos  legítimos  soberanos. 

Um  paiz  tão  importante  não  deve  jezer  por  mais  tempo 
iiadesgra^-a  que  o  tem  opprimido.  Vejamos  de  que  modo 
podor&o  agora  os  seus  naturaes  dar-lhe  o  esplendor,  que 
Ibe  convém,  e  habilitarera-se  elles  mesmos,  no  meio  das 
riquezas  e  das  commodidades,  para  o  bom  exilo  de  todas 
as  emprezos  necessárias  ao  serviço  do  Estado  e  á  gloria  do 
soberano. 

CAPITULO  IV 

DOS  MEIOS  PRÓPRIOS  E  REGRAS  GERAES,  PARA  O  APROVE tTAHEnTO 
DA  PARTE  MARÍTIMA 

Para  se  felicitar  a  parte  marítima  da  capitania  de  S.  Pau- 
lo, ou  para  reviver  com  gloria  a  aatíga  capitania  de  S.  Vi- 
cente, a  primogénita  do  Brasil,  creada  pelo  grande  Martim 
Allonso  de  Sousa,  aquella  que  liberalísou  is  mais  a  plaota 
das  cannas  de  assucar,  as  sementes  e  os  gados,  que  formam 
actualmente  os  seus  respectivos  estabelecimentos,  nada 
mais  seria  necessário  do  que  observar  bem,  e  aproveitar 
devidamente  as  circuoistancias  particulares  do  paíz,  segun- 
do as  idéas  que  ficam  acima  expendidas. 

Com  effeito,  um  corte  económico  de  oiadeiras  em  diffe- 
rentes  lugares,  e  o  estabelecimento  dos  competentes 
moinhos,  ou  serras  d'agua  e  de  vapor,  ou  aind»  de  ani- 
mães  próprios,  para  a  serragem  e  o  aproveitamento  d'ellas, 
ó  um  dos  meios  mui  lucnisos  que  se  podem  proporá  in- 
dustria e  trabalho  popular,  não  sem  grande  utilidade  do 
governo,  cujns  luzes  u  i)fudente  economia  desejava  eu  ver 


DictzedbyGpOgle 


—  IS  — 

enipr^iadas  «n  dír^ir  bem  esta  exceltente  operação,  sem 
d'ella  comtudo  perceber  direitos,  ou  emoiume  ntos  «Iguas, 
coQtra  o  que  agon  se  pratica  sem  lei  nem  ordem. 

Uma  espeeiiiação  doesta  natureza,  e  que  por  si  mesma 
se  recommenda^  produziria  :  1*,  um  ramo  de  commercio 
assaz  vantajoso,  e  tão  superior  ao  da  Suécia  e  Dinamarca, 
quaolo  é  mais  subida  a  qualidade  das  nossas  madeiras, 
mais  rariada  nos  seus  usos,  e  mais  abondaute  a  quantidade 
nas  Doasas  matas.  Se  pobres  pinhaes  podem  na  verdade 
produzir  avultadas  riquezas,  qual  deve  ser  a  nossa  sorte 
no  commercio  de  madeiras  tão  preciosas,  e  que  a  Europa 
inteira  tanto  ambiciona  ?  3*.  ella  nos  suppriria  de  Ioda  a 
qualidade  de  moveis  grossos  e  miúdos,  entre  os  quaes  a 
aduela,  de  que  precisaremos  em  pouco 'tempo  para  mui- 
tas mil  pipas,  e  grande  numero  de  toneis  e  barris,  merece, 
sem  duvtda,  particular  memoria  -,  3»,  forneceria  grande 
abundância  de  resinas,  tintas,  óleos  e  vernizes  de  se- 
melhante valor,  cujos  préstimos,  usos  e  necessidades  seria 
injurioso  ignorar ;  4°,  serviria  de  origem  certíssima  ao  es- 
tabeleeimeato  dos  estaleiros  para  a  construcção  dos  barcos 
e  navios  destinados  á  pescaria,  á  cabotagem,  ao  commer- 
cio estrangeiro  e  armada  real;  5*,  produziria  uma  quanti- 
dade avultada  de  porlassae  potassa,  originada  de  ramos, 
folhas  e  cavacos  inúteis.  Os  inglezes  chamam  perlassa  o 
sedimento  do  sal,  que  Uca  no  vaso,  depois  de  cozida  a  li- 
xívia, ou  decoada  das  cinzas.  Quando  este  sedimenta  é  pu-  , 
ríficedo  pelo  fogo  toma-se  potassa  ;  6',  finalmente  des- 
embaiai^ria  as  terras  de  arvoredos  importunos,  e  até  agora 
inutcBs,  tornando-se  logo  em  preciosos  fundos  de  cultura, 
e  nova  origem  de  população,  de  navegação  mais  fácil  pelo 
interior  dos  rios  que  descem  ao  mar,  de  novos  prazeres  e 
commodidades ;  e,  o  que  mais  importa  sobretudo,  de 
sendo  MM  seus  antigos  e  novos  habitantes. 


Dictzedby  Google 


—  u  — 

Esle  commercio  d«s  madeins  exige  aa  verdade  muito 
cuidado  e  a  mais  particular  atteoçáo;  porque  seguramente 
se  pôde  dizer  privativo  do  Brasil.  B'  um  thesouro  que  a  na- 
tureza aos  deu  ua  maior  abundância  para  todos  os  nossos 
usos  e  riquíssima  exportação,  e  não  deve  ficar  ioulil  por 
mais  tempo.  As  nossas  malas  por  si  mesmas,  e  sem  neces- 
sidade de  cultura,  se  reproduzem,  jA  das  sementes  cabidas 
das  grandes  arvores,  já  dos  próprios  troncos,  depois  de 
cortados  ,  e  chegam  no  espaço  de  trinta  annos  a  grande 
perfeição. 

O  Peru  e  o  México  não  podem  entrar  em  concurrencía  a 
este  respeito  com  o  Brasil,  impedidos  pela  maior  difficu)- 
dade  da  sua  navegação  ,  e  fretes  muito  mais  subidos.  As 
madeiras  da  America  Septenlrional,  -que  se  podem  reduzir 
i  duas  espécies  principaes,  carvalho  branco  e  pinho, 
ainda  vendidas  com  a  mesma  proporção  ou  dífTerençn  de 
preço  que  no  mercado  publioo  adiam  a  aduela  branca  d'a- 
quelle  paiz  e  a  preta  do  Báltico,  vulgarmente  chamada  de 
Hambuigo,  não  poderão  jamais  impedir  o  prompto  con- 
sumo das  nossas,  como  se  verifica  a  respeito  da  mesma 
aduela;  não  sendo  além  d^isto  o  pinbo  melhor  que  o  do 
norte  da  Europa  ;  e  o  carvalho  tão  inferior  que  um  navio 
fabricado  d'esta  madeira  dura  menos  de  metade  do  (empo, 
do  que  outro  feito  de  carvalho  da  producção  européa. 

Ora,  que  a  exportação  de  madeiras  unicamente  da  capi- 
tania de  S.  Paulo,  estendendo-se  a  todos  os  rios  que  do 
mais  interior  descem  ao  mar  por  dilTerentes  vias,  podia  ap- 
proximar-se  em  valor  á  que  actualmente  fazem  muitas  das 
provincias  unidas,  quando  nos  não  impedisse  a  pobreza 
da  povoação,  <i  falta  de  braços  e  de  industria ,  verdade  é 
de  mui  fácil  demonstração,  alheia  porém  d'es(a  Memoria. 
E  que  as  nossas  madeiras  sejam  melhores  do  que  qualquer 
espécie  de  carvalho,  roais  bellas  e  de  uso  muil  o  mais  varia- 


Dictzedby  Google 


—  n  — 

do.iiem  o  abbado  Paw  se  atreveu  a  negar;  et[e,que,doininado 
pelo  espirito  do  mais  decidido  partido,  viu  por  toda  a  parle 
a  natureza  como  degradada  e  privada  da  sua  grande  força 
no  novo  mundo,  e  incapaz  por  isso  mesmo  de  alguma 
producçào  tão  bella  e  igual  &  do  antigo. 

Quantos  bens  procednm  da  pescSria  em  grande  e  bem 
regulada  lodos  sabem.  A  ella  devem  a  (irã-Bretanha,  a 
Krani;a,  a  llollanda  e  a  Dinamarca  uma  não  pequena 
parle  do  seu  eslabelecíraenlo  o  da  sua  prosperidade.  Mas 
quantas  tentativas,  inúteis  umas,  e  todas  dispendiosas; 
quantas  perdas  de  navios,  quantos  encontros  políticos  e 
hostis  não  precederam  a  estes  ricos  eslabolecimentos? 

Nós,  pelo  cootrarío,  aâo  temos  de  pescar  em  mares  tor- 
mentosos,  e  embarai^dos  por  eslranjjeira  industria,  ou 
pela  mã  fé  de  pérfidos  concurrentes :  tudo  para  nás  é  fácil. 
Vequenos  capitães  avançados  a  propósito,  a  formatura  de 
associações  piscatórias,  a  vigilância  constante  do  governo, 
e  a  protecçio  infailivel  de  que  precisam  os  pescadores 
são  os  instrumentos  únicos  e  necessários  para  a  perfeição 
doesto  ramo  de  industria. 

Fanamos  então  a  pescaria  da  tainha,  da  garoupa,  da  mi- 
ragaia, da  pescada,  da  sardinha  ede  outros  muitos  peixes, 
entre  os  quaes  nào  falta  obacalhão,  que  se  divisam  nas 
estações  próprias,  e  em  (empos  competentes,  na  maior 
abundância,  por  tn<los  os  mares,  ilhas,  b;mcos,  costas  e 
rios  ao  sul  do  Rio  de  Janeiro  Alé  Santa  Catliarina  :  e  ella 
promette  riquezas  semelhantes  às  produzidas  pelo  bacalháo 
uos  bancos  da  Terra-Nova,  e  pelo  arenque  c  sardinhas  nas 
costas  de  qualquer  das  quatro  nações  referidas;  e  além 
d^ísto  uma  grande  população  e  abastança  de  marinheiros 
excellentes,  como  entie  ellas  acontece,  para  a  navegação 
mercantil,  (la  qual  em  toda  a  parte  procede,  como  da  sua 
mais  pura  fonte,  a  armada  real,  a  cujo  estabelecimento  ne- 
TOMO  XXXI,   c   I  3 


Dictzedby  Google 


cessario  é  que  se  dirijam  consta  ntein«Dle  os  nossos  votos, 
porque  elle  conlém  o  meio  singular,  ou  pelo  menos  mais 
apropriado,  para  íezer  poJerosa  e  mui  respeitável  a  nossa 
nascente  monardiJa.  C  como  na  verdade  de  outra  maneira 
poderemos  derender  dos  insultos  bostis  e  inimigos  as  nos- 
sas costas. ermas  e  desertas,  offerecendo  na  extensão  de 
mil  e  duzentas  léguas  Irequenles  e  seguros  desembarques  ? 

O  estab^ecimento  das  salinas,  sejam  estas  construídas 
em  pleno  ar,  ou  cobertas  e  derendidas  do  insulto  das  chu- 
vas copiosas  d'estes  climas,  promettem  igualmente  riquezas 
de  maior  consideraçio  e  o  meio  certissi  mo  de  se  melhora- 
rem os  animaes,  as  carnes,  o  leite,  o  sebo  e  as  pelles,  da 
maneira  mais  própria  e  mais  conveoieiite  ;  servindo-nos 
assim  o  reino  animal  de  fundamento  ao  commercio  mais 
rico  do  mundo,  n^este  artigo  interessantissimo.  Mas  como 
poderá  formar-se  um  estabelecimento  doesta  natureza, 
achando-se  opprimida  a  capitania  com  o  enorme  direito' 
de  400  rs.  cada  alqueire  de  sal,  além  das  mais  iroposi^-òes 
communs  a  outras?  EUe, que  eiige  lodo  o  Favor  ea  mais 
particular  protecção?  (2)  Sem  duvida  que  as  primeiras 
tentativas  deviam  ser  feitas  á  custa  das  rendas  publicas  on 
de  associações  particulares,  meio  singular  e  dotado  da  oe- 
cessaria  forçA  para  vencer  qualquer  difficuldade  :  ellas  Dão 
seriam  inúteis,  porque  o  Cabo-Prio  e  o  Rio-Grande,  em 
eujo  intermédio  existem  as  terras  do  que  se  trata,  tém  sa- 
linas naluraes,  o  que  procede  mais  da  qualidade  particu- 
lar do  terreno  ou  do  fundo  próprio  dVlle,  do  que  das  cir- 
cumslancias  do  clima.  E'  nesta  operação  que  a  arte  faz  o 
que  nSo  fez  a  natureza. 

Mas  quando  a  natureza  se  recusasse,  pelas  circumstancias 


(2)  Oraças  à  Providencia!  Já  S.  A.  R.  o  príncipe  regeole  etiíDBUlu 
esla   enorane    impmlf^o    pelo    lírcrdo   de    U   de  Maio    de  1821. 


Dictzedby  Google 


—  19  — 

particulares  do  clima,  á  cryslalUsação  perfeita  das  aguas 
salgadas  em  pleno  ar,  e  nos  (aboleiros,  destinados  á  ope- 
ração, DÃO  seria  mui  fácil  fazer -se  a  mesma  operação  por 
meio  de  fogo  e  da  fervura,  em  um  paiz  tão  superiormeote 
prolifico  em  combustíveis,  e  do  qual,  com  pouco  trabalho, 
nenhuma  oulra  despeza,  se  podem  obter  grandes  e  supw- 
abandantes  quantidades?  Seria  esta  operação  muito  eco- 
nómica, de  grande  proveito,  e  o  melhor  substituto  das  sali- 
nas naturaes. 

NAo  tem  a  França  as  mesmas  proporções ;  e  com  tudo 
das  fontes  salgadas  da  cidade  de  Salins  eitrahe  todos  os 
anoos  100,000  quintaes  do  sal,  fazendo  evaporar  pela  fer- 
vura em  caldeiras,  no  fundo  das  quaes  se  acha  opportuna- 
mento  o  sal  crystallisado,  as  aguas  de  maior  saturação,  con- 
tendo umas  8,  outras  12  e  algumas  15  libras  de  sal  sobre  100 
libras  d'^ua ;  e  as  inferiores,  que  não  contam  mais  de  3  a 
4  grios  s6menle,  são  conduzidas  por  canaes  de  madeiras, 
pelo  considerável  espaço  de  dez  mil  toezas,  até  a  salina  de 
Cbauz,  construida  em  1775,  e  a  proximidade  do  bosque 
d''aquella  povoação :  e  sendo  evaporadas  e  concentradas  ao 
ar,  náosem  muito  trabalho,  até  adquirirem  11  a  12  gráos 
de  saturação,  para  poupar-so  a  lenha,  são  fervidas  em  cal- 
deiras pelo  mesmo  methodo  praticado  em  Salins.  D'esta 
maneira  se  fabricam  40,000  quintaes,  pouco  mais  ou  me- 
'  DOS,  de  sal,  para  supprímento  da  Suissa.  Pucchet  Georg. 
Comerc.  artig.  Salines.  A  liberdade  e  instrucçâo  fariam 
prodígios  n^este  ramo  de  industria ;  sendo  prohibidas  as 
caldeiras  de  cobre,  pelos  mios  resultados  que  occorreriam 
contra  a  saúde  publica,  e  fazendo-se  uso  das  de  ferro,  assen- 
tadas sobre  fornalhas  económicas,  para  o  co.iimercio,  e  de 
qtiaesquer  vasos  de  barro,  para  o  uso  domestico  dos  pobres. 

As  aguas  do  mar  não  c<nitêm  menos  de  seis  ou  oito  gráos 
"de  saturação,  seguodo  os  cálculos  de  Beume. 


Dictzedby  Google 


Aproveilcoi-se',  e  lico  certo  da  nossa  independência  a 
esle  respeito  ;  c  também  posso  seguramente  aSirmar,  q«e 
ainda  o  sal  de  Lisboa,  Setúbal,  e  do  Cabo  Verde,  não  en- 
trará em  coDcurrencia  do  preço  com  o  nosso ;  posto  quo 
fabricado  artiticialniente,  como  fica  ponderado. 

A  calcinação  da  pedra  calcaria  é  finalmente  outra  origem 
de  bastante  riqueza  para  as  terras  de  que  fsllo.  Ella  pro- 
duziria um  bem  de  grande  valor,  ainda  em  outras  partes, 
principalmente  aqui  no  Rio  de  Janeiro :  a  saber,  a  econo- 
mia de  muitos  braços  que  se  ocuupam  em  ajuntar,  não  sem 
yrande  risco  de  vida,  excessivo  trabalho  e  perda  de  saúdo, 
as  cascas  de  mariscos,  pard'a  cal  inferior,  de  que  n  neces- 
sidade  faz  agora  o  uso  absolutamente  necessário,  com  pre- 
juízo 6  menos  solidez  dos  prédios  urbanos  e  mais  obras  do 
pedreiro,  assim  como  das  lenbas,  que,  consumidas  em 
grande  parte  nas  caeiras,  se  fazem  todos  os  dias  mais  caras 
nVsta  cidade,  podendo  os  ditos  braços,  melhor  dirigidos, 
empregar-seem  cousas  mais  utois  e  menos  arriscadas;  assim 
como  a  necessidade  de  transportar  a  cal  necessária  (Kir 
toda  a  extensão  maratime  d'esta  e  d'aquella  capiUinia,  c 
por  onde  mais  convier  nos  tempos  futuros,  augmenlaria 
proporcional menl<i  as  embarcações  costeiras  eosmarinhei- 
ros  ;  e  pôde  seguramente  aílirmar-se  que  serviria  de  ori- 
gem a  outras  espécies  de  commercio,  que  o  tempo  e  os 
conhecimentos  ainda  não  adquiridos  hão  du  crear  nas  épo- 
cas futuras. 

CAPITULO  V 

d'oUTROS  objectos   de    SEMELHASTi;   E   GR.^KDE   IMPORTANCIi 

Tenho  tratado  de  quatro  ramos  de  industria,  cada  um 
dos' quaes,  c  com  muita  particularidade  os  Ires  primeiros, 
podem  servir  de  origem  certíssima  A  fortuna  c  prospari- 


Dictzedby  Google 


—  21  — 

dad«  de  um  grande  paiz.  Elles  se  apresentam  destmbtra- 
(Ados  dos  trabalhos  e  riscos  de  uma  cultura  incerta  e  de 
especulações  arriscadas,  comprehendendo  os  meios  bem 
proporcionados  áa  aproveitar  as  dadivas,  que  a  natureza 
nos  ofTerece  com  pródiga  e  bemfeitora  mão,  e  que  senão 
semearam. 

Pede  agora  a  ordem  das  idéas  expendidas  no  principio 
r)'esta  Memoria  que  eu  trate  particularmente  de  algumas 
producções  verdadeiramente  agrarias,  indigitadas  pela  na- 
tureza, c  porella  mais  particularmente  favorecidas,  que  por 
isso  mesmo  convêm  muito  ao  terreno,  que  desejo  ver  apro- 
veitado, e  cuja  cultura  é  mui  fácil,  mui  lucrosa,  eamaiti 
própria  para  auxiliar  povos  destituídos  de  industria  o  fal- 
tos de  meios. 

A  cultura,  pois,  d<i  baunilha,  de  que  temos  espontânea 
abundância,  principalmente  nas  praias  e  matos  da  Con- 
ceição de  Ilanhaem,  cujo  valor  é  bem  conhecido,  apar  da 
outra  de  gerumbeba,  ou  cato  de  coxonilha,  que  por  toda 
n  parte  se  apresenta  e  forma  uma  das  bases  da  maior  ri- 
queza do  gran-Je  reino  do  México,  tem  clamado  inutilmente 
até  agora  e  mendigado  protecção,  para  logo  recompensar 
com  largas  usuras  os  cuidados  do  governo,  e  os  trabalhos, 
posto  que  bem  suaves,  do  cultivador,  '' 

Semelhante  fortuna  devemos,  com  razão,  esperar  da  bem 
legulada  cultura  do  Píquií,  amendoeira,  assaz  recommenda- 
vel  pela  grande  quantidade  e  particular  excellencia  dos  seus 
bellos  fruclos,  assim  como  da  sapucaeira  e  dos  coqueiros, 
que  com  muitas  outras  arvores  de  azeites  e  óleos  precio- 
sos, parece  ter  creado  a  provida  natureza  por  todas  as  cos- 
ias, nio  menos  que  pelo  interior  do  Brasil,  para  supprir  de 
uma  maneira  mais  vantajosa  ainda  as  oliveiras  da  Europa. 
Augmeular  as  operações  da  mesma  natureza,  re<luzit-as  a 
certos  e  determinados  lugares,  facilitar  a  colheita  dos  fruc- 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


tos  e  sfferfeiçAar  as  dilTeretites  espécies  de  azeites,  pela 
manufactura  própria  u  bem  entendida,  é  quanto  se  deve 
uiígír  da  industria  nacional,  para  a  acquisiç^o  das  prometlí  • 
das  riquezas. 

Por  que  dura  fatalidade  não  vemos  vegetar  e  crescer  mui- 
tos milhares  dos  coqueiros  da  índia  nas  costas  do  Ubatuba, 
S.  Sebastião,  Santos  e  S.  Vicente,  como  om  Pernambuco 
'  o  na  Bahia,  quando  os  poucos  existentes  mostram  a  pro- 
(triedado  do  local  para  a  plantação  d'elles  ?  E  talvez  acon- 
teceria o  mesmo  por  toda  a  costa  até  Paranaguá  !  Resta  a 
(experiência.  Elb  mesma  convenceria  aos  cultivadores  da  fa- 
cilidade de  plantarem  as  pimenteiras  da  índia,  e  as  bau- 
nilhas em  terras  apropriadas  junlo  aos  ditos  coqueiros; 
porque,  sendo  plantas  da  classe  das  trepadeiras,  lhes  fica- 
riam servindo  de  excellente  arrimo  os  mesmos  coqueiros, 
e  participando  do  melhor  tratamento,  que  ellas  precisam, 
se  fariam  mais  robustos.  Com  uma  só  cultura  se  recolhe- 
riam fructos  preciosos  das  lies  espécies,  [Ima  família,  que 
cultivasse  d^sla  forma  mil  coqueiros,  viveria  com  muít» 
abundância  e  Dão  pouca  riqueza ;  em  pequeno  c  mui 
aprazível  terreno  ;  porque  é  lacil  de  observar  que  para  a 
plantação  de  mil  coqueiros,  na  distancia  de  vinte  palmos 
uns  dos  outros,  é  bastante  a  superfície  desembaraçada  de 
cincoenla  braças  quadradas,  com  largas  sobras  para  a  casa 
e  habita^'ão  do  plantador  e  sua  família,  e  a  necessária  cerca 
ou  tapagem  do  prédio,  ficando  esle  no  todo  disposto  e 
accommodado  á  cultura  de  muitos  e  variados  fructos  hor- 
tenses,  ou  á  bem  regular  plantação  do  café  o  do  cacáo,  e 
aindadocravodalndia,  nos  espaços  lambemde  vinte  pal- 
mos,que  Scariam  mediando  eniream  e  outro  coqueiro;o  que 
lAo  prejudicaria  a  pruducção  da  pimenta  e  da  baunilha,  que 
crescem  á  sombra.  Quem  fdr  menos  curioso,  ou  não  quizer 
adoptar  este  plano,  pôde  entre  um  e  outro  plantara  caba- 


Dictzedby  Google 


—  M  - 

cein,  arvore  de  reoooheciíla  ulilidade,  para  arrimo  das  pi- 
meatoiras  e  baunilhas,  não  sem  grande  lucro,  ou,  emfim, 
cultiTar,  como  fór  do  seu  prazer,  o  terreno  plantado  de  co- 
queiros. 

De  azeites  não  comiveis  também  poderíamos  tergrandes 
quaalidades,  superiores,  sem  duvida,  a  todos  os  pedidos 
do  commercio,  ofTertados  pelo  castor,  ou  ricino,  vulgar- 
mente, carrapateiro,  pelo  algodoeiro,  pelo  andaguaçú,  pelo 
pinheiro  da  cerca  (assim  chamado,  porque  se  deslina  á 
(apagam  das  fazendas),  pela  andiróba,  e  outras  arvores  es- 
pontâneas da  terra,  ou  anleí  importunas,  das  quaes  as  duas 
primeiras  se  aperfeiçoam  em  menos  de  um  anno,  as  mats 
em  (r^s  regularmente,  e  são  conhecidas  como  verdadeira-, 
mente  prolíficas  e  da  mais  copiosa  producção.  Pois  que 
fatio  de  azeites,  não  devo  esquecer  a  inleressaiilissima  cul- 
tura do  amendoim,  ou  mendobí,  sementeira  riquíssima, 
porque  é  o  seu  óleo  o  melhor  do  lodos  os  azeites,  pela 
particular  o  privativa  qualidade,  que  lho  é  inberente,  de 
nunca  se  fazer  rancido,  como  attestam  os  mais  recentes 
agrónomos  da  França  e  da  Hespanha,  tendo-se  por  isso 
mesmo reoommendado,  n'os1esutlÍmos  tempos,  aculluraem 
grande  nos  lugares  próprios  d'aquelles  estados.  As  terras 
aréentas  nas  margens  das  praias  vizinhas  ao  mar  são  as  mais 
próprias  d'esla  cultora. 

A.  larangeira,  cujo  fnicto  se  perdo  em  grande  parte,  assim 
nas  terras  da  marinha,  como  nas  centraes  de  S.  Paulo,  por 
não  achar  comprador  no  mercado  publico,  principia  a  des-. 
envolver  entre  oúsos  seus  mysteríose  riqueza.  Já  ninguém 
ignora  que  da  laranja  se  faz  excellenle  vinho,  e  pôde  ser 
mais  saudável,  s^undo  as  experiências  chimicas  que  tenho 
visto,  do  que  o  das  uvas,  seiído  os  seus  principios  sacca- 
rinos  mais  abundantes,  e  com  menor  porção  de  larlaro,  do 
que  conléia  este  ullimo  fracto. 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  st  — 

Do  vinho,  pois,  da  laranja,  das  aguardentes  mui  bellas, 
que  elle  produz,  e  dos  licores,  assim  como  de  seu  caldo 
reduzido  a  larope  com  a  consistência  do  nosso  melado  or- 
dinário, e  que  agora  geralmente  se  recommenda  como  ad- 
mirável anliescorbutico  para  o  uso  da  navegação,  ou  dos 
navegantes,  e  dos  caroços.  emRm,  dos  quaes  so  extrahe 
exrellente  óleo  com  saudáveis  applic^ções  na  medicina,  se 
pôde  e  deve  estabelecer  um  novo  ramo  de  commercio  de 
muilo  valor  e  riqueza  ;  o  em  nenhuma  parle  melhor  do 
que  nos  lugares  de  que  se  trata  ,  porque  as  laranjas  de  S. 
Sebastião,  Santos  e  seus  adjacentes  territórios  até  Santa 
Catharina,  passam  por  mui  particularmente  boas,  e  das  la- 
rangeiras  triplicada  mente  maiores  e  na  mesma  proporção 
mais  productoras  do  que  as  do  Rio  de  Janeiro.  Póde-se 
dizer  que  esta  cultura  se  acha  feita,  precisando  apenas  de 
uma  certa  impulsão,  yaia  produzir  os  bens  que  se  dese- 
jam. 

A  plantação  do  cacaoeiro,  da  pimenteira  da  índia  e  do 
cafezeiro.  Ires  producções  de  indubitável  prosperidade 
n'estes  climas,  deveria  aperfeiçoar  o  bcllo  quadro  da 
cultura  arbórea  nos  sitios  mais  convenientes  da  nossa  ca- 
pitania. 

Na  verdade,  que  para  a  acquisição  de  grandes  riquezas, 
nada  mais  é  preciso  além  da  cultura  das  terras  de  que  se 
irota.  Qual,  porém,  deverá  ser  o  seu  estedo  de  prosperidade, 
se  a  tentos  manancíaes  perennes  do  fortuna  publica  e  par- 
ticular ajuntarmos  a  sementeira  do  arroz,  grão  o  mais  pro- 
lífico e  por  isso  mesmo  o  mais  ulit  á  pupulaçio,  e  seu 
grande  augmonto  ;  e  em  que  parte  do  mundo  cresce  elie 
com  mais  vantegem  ou  vem  de  melhor  qualidade  ? 

Que  deveremos,  emllm,  esperar?  Se  a  este  ultima  cul- 
tura accrescerem  as  outras  do  nssurar,  do  tiibaro,  do  algo- 


Dictzedby  Google 


—  «(  — 

dSo,  dos  legiunes,  mandiocas,  milho  e  mais  grSos  fnmeií- 
Urios,  como  a  dos  gados. 

E  que  direi  emGm  da  bananeira  (musa),  esta  dadiva  a 
mais  preciosa  da  natureza  ?  Duas  espécies  principaes,  sem 
coalar  algumas  variedades,  são  geralmente  conhecidas  em 
S.  Paulo,  assim  como  em  quasi  Ioda  a  eitenaão  do  Brasil. 
Qoal  seja  mais  útil,  difficultoso  é  decidir.  Ambas  se  plan- 
tam e  collívam  da  mesma  maneira ;  ambas  multiplicam 
pelas  suas  respectivas  raizes,  e  produzem  os  seus  cachos 
entre  oove  e  dez  mezes,  e  sSo  subslituidas  por  um  pim- 
polho que  em  três  mezes  apresenta  o  seu  fructo  particular, 
capaz  de  ser  colhido,  e  assim  successivamente,  de  maneira 
-que,  dispostas  as  primeiras  plantas,  em  pouco  tempo  se 
forma  um  eicellente  bananal,  sem  ez^r  outro  trabalho, 
que  Dão  seja  o  de  o  conservar  limpo  por  meio  de  uma 
saxa  annual. 

As  terras  que  melhor  convêm  a  esta  plantação  e  cultura 
são  as  grossas,  quentes,  húmidas  e  abrigadas  do  insulto  dos 
ventos  rijos.  Os  lucros  e  utilidades  que  procedem  da  cul- 
tura das  bananeiras  são  quasi  incalculáveis ;  não  entro  m 
enumeração  doestes  objectos,  que  seria  desviar-me  dos  cur- 
tos limites  doesta  Memoria ;  notarei  comtudo  o  que  me 
pareceu  mais  interessante  na  matéria,  para  persuadir  aoS 
nossos  lavradores  que  de  um  bananal  podem  elle»  tirar 
com  facilidade  superabundante  alimento  para  as  suas  famí- 
lias, e  os  capitães  necessários  para  outros  estabelecimentos, 
augmenlando-se  lodos  os  dias  a  potencia  producliva  do 
trabalho  nacional. 

Eu  duvido  (diz  O  sábio  Humboldl,  Esiai  politique  tur  U 
royaume  de  la  NouveUe  Espagne,  tom.  3'  cap.  4')  que 
exista  no  globo  outra  planta  que  em  um  pequeno  espaço  de 
terreno  possa  produzir  uma  massa  de  substancia  nutriente 
tão  considerável.  £,  comparando  a  nossa  cultun  com  a  do 

TOMO  XXXI,  P.  1.  V 


Digitizedby  Google 


—  ae  — 

trigo  e  dli3  batatas,  demonstra  que  o  prodoeto  da  bananas 
é>  a  respeito  do  trigo,  cotno  de  133:  1,  e  pelo  que  respeita  ás 
batatas,  como  44: 1.  Seria  difficultoso  (continua  o  mes- 
mo autor)  descrever  as  numerosas  preparações  pelas  quaes 
os  americanos  tornam  o  fructo  do  musa  (bananeira),  sej  a 
aoles  ou  depois  da  sua  maturidade,  uma  comida  sã  e  agra- 
dável. Temos  visto,  accresceota  ainda  Humboldt,  que  a 
mesma  eileasão  de  terreno  em  um  dima  favorável  pôde 
produzir  106,000  kilt^rammos  (i)  de  bananas,  ã,4(K>  kilo- 
grammos  de  raízes  luberosas  e  800  kilogrammos  de  trigo;  e 
conclue  que  uma  geira  de  terra  da  maior  fertilidade,  plan- 
tada de  bananeiras  da  grande  espécie  (plátano  arton)  de- 
nominada banana  da  terra,  pôde  sustentar  mais  de  clncoen- 
ta  individues,  entre  tanto  que  na  Europa  a  mesma  geira 
não  daria  por  anno  (suppondo-se  a  producçSo  dê  8  gr8os) 
poi  mais  que  576  kilogrammos  de  farinha  de  trigo,  quanti- 
dade que  não  é  sufficiento  para  a  subsistência  de  dois  in- 
divíduos. Este  calculo  é  exacto ;  porque  100  kilogrammos  de 
trigo  produzem  73  kilogrammos  de  farinha,  e  16  kilogram- 
mos de  farinha  se  convertem  em  21  kilogrammos  de  pão. O 
sustento  de  um  individuo  é  co  atado  em  razão  de  647  ki- 
logrammos de  pão  por  anno,  ou  libras  1,083 1/2.  Sabe-se 
que  as  bananas  verdes  de  qualquer  espécie,  descascadas, 
cortadas  em  pedaços,  seccas  ao  sol  e  pisados  em  pilões  se 
reduzem  com  maior  facilidade  em  preciosa  farinha,  e  que 
esta  se  pôde  destinar  a  todos  os  usos  próprios  da  farinha 
de  milho  e  arroz,  e  também  de  trigo.  Depois  de  maduras, 
e  seccas  ao  sol  na  própria  casca,  se  conservam  como  os  Ggos 
passados,  e  formam  um  artigo  importante  de  alimento  mui 
saudável,  nutriente  e  agradável,  e  por  isso  mesmo  de  lu- 
croso  commercio,  e  tal  como  se  faz  em  Meekoacan. 

(3)   UmUtagrammoé  Igusl  admalibna. 


Dictzedby  Google 


•      -  tr- 

Acerasceatarei  comtudo  ao  que  fies  tefleelido':  1."  Qu« 
psra  a  plantação  de  que  se  trata  nio  se  deve  fazar  uso  áe» 
próprias  bansDeiras  grandes  ou  pequenas,  mas  sim  dos 
olhos.  GOriando-se  a  batata,  ou  nabo.  em  tantas  partos 
quantos  forem  os  mesmos  olhos.  Mostra  a  experiaocia,- 
como  cada  um  pôde  observar,  que  a  plantação  assim  feita 
produz  melhores  bananeiras,  mais  fortes  e  vigorosas  e  de 
maior  e  mais  breve  producção.  S."  Que  é  muito  conve- 
niente, em  lugar  de  alimpar  as  bananeiras  das  folhas  ve- 
lhas,  eortar  pelo  meio  o  tronco  do  pimpolho,  de  que  se  es- 
pera o  cacho,  porque  engrossa  mais,',e  se  toroa  mais  vigoro- 
so para  sustentar  o  mesmo  cacho,  ainda  que  maior,  sem 
depeodencía  de  espeques,  e  Bcando  meoos  alto  resisto 
melhor  ao  ímpeto  dos  ventos.  Esta  operação  não  tem  lagar 
quando  a  bananeira  tem  jã  principiado  a  sua  producção,  ou 
desenvolvido  o  fructo.  o  que  é  fácil  observar.  3.*  Final- 
mente ,  que  do  tronco  das  bananeiras  se  exlrahe  muito 
linho,  que  pôde  destinar-se  aos  usos  communs,  e  serviria  de 
excellente  meteria  ás  fabricas  de  papel,  formando  interes- 
santíssimo objecto  de  industria  fabricante  e  de  mui  rico  « 
lucroso  commercio.  Para  que  é  dizer  mais !  I  Pensam  um 
pouco  os  nossos  lavradores,  e  esta  cultura  será  elevada  á 
maior  grandeza.  Nas  ainda  é  preciso  reflectir  que  esta 
plantação  augioentaria  muito  a  povoação,  sendo  os  escra- 
vos soccorridos  pela  abundância  de  um  fructo  tão  saudá- 
vel e  tão  Dutrienie,  e  alliviados  os  brancos  da  necessidade 
da  outro  páo.  Em  Secríuaa,  onde  os  escravos  fasem  tra- 
balhos mil  vezes  mais  peniveis  do  que  geralmente  em  ou- 
tro parte  da  America,  abrindo  no  lodo  do  mar  lai^s  e  pro< 
fundas  valias,  slo  sustentados  unicamente  com  bananas,  e 
desprezam  as  batatas  indígenas  do  paiz  e  das  quaes  abunda 
por  extremo.  E  não  seria  muito  útil,  e  mesmo  oecessario, 
que  DOS  engenhos  de  assuoar  do  Brasil  fossem  compelUdos 


Dictzedby  Google 


-  2«  -        • 

os  proprietários  s  plantar  e  conservar  um  bananal  propor- 
cionado  ao  sustento  dos  pobres  escravos,  sem  que  com- 
ludo  se  lhes  negasse  a  ração  ordinária?  Doesta  doce  vio- 
lência resultariam  aos  mesmos  proprietários  incalculáveis 
benalicios,  que  não  é  necessário  enumerar. 

CAPITULO  Vi 

DOS  OFnCIOS  QUE  DEVE   PRESTAR  O    GOVERNO 

Tudo  isto  é  certo,  e  é  incontestável  o  que  acabo  de  es- 
crever; mas,  se  o  governo  não  proporcionar  os  meios,  con- 
teniar-nos-hemos,  como  até  agora,  de  conhecer  o  que 
podíamos  ter  (nem  eu  revelo  segredos,  ou  verdades  desco- 
nhecidas) e  nunca  desfrutaremos  as  riquezas  da  natureza. 
Como  sem  plantar  poderemos  colher?  E  de  que  maneira, 
destituídos  inteiramente  dos  princípios  da  chimíca  mo- 
derna, pretenderemos  a  perfeição  dos  fructos,  que,  ou 
achamos  nos  campos,  matos,  nos  mares  e  rios,  ou  culti- 
vamos e  colhemos  efb  todas  estas  partes?  Como,  absoio- 
laroente  fallo  de  mestres  e  de  preceitos,  e  de  instrumentos 
aratorios,  de  machinas  e  moinhos,  ousamos  aspirar  á  for- 
tuna das  nações  industriosas  ?  Necessitam  as  arvores  e  ar- 
bustos a  cultura  em  geral ;  e  a  creação  dos  gados,  em  qual- 
quer situação  do  globo,  aquella  mesma  protecção  que  em 
Atbenas  acharam  as  oliveiras  do  Pedion.  Elias  se  estendiam 
por  três  léguas,  pouco  mais  ou  menos,  e  formavam  um 
bosque  immenso:  os  possuidores  d'esta  vasta  plantação 
passavam  pelos  mais  ricos  e  ao  mesmo  tempo  pelos  mais 
espirituosos  dos  atheníenses.  Em  differentes  aldêas  d'esta 
famosa  campanha  nasceram  homens  tão  celebres,  como 
Sócrates,  Sophoclea,  Tkticidides,  Platão  o  Epiciro:  em 
nenhuma  parte  do  mondo,  reconhccom  lodos  os  hístnria- 


Dictzedby  Google 


—  a»  — 

dores.  «  TÍgilaacia  ria  administração  foi  elevada  a  maior 
(Cr<o  de  actividade. 

Os  areopagitas  examinavana  pessoalmente  o  estado  dos 
bosques  e  contavam  as  oliveiras  plantadas  ao  longo  das 
estradas,  conservavam  cuidadosamente  o  registo  d'estas 
arvores  consagradas  a  Minerva ;  e  quando  alguma  pessoa 
era  comprehendida  no  facto  criminoso  de  destruir  um  só 
tronco,  elles  a  castigavam  com  todo  o  rigor  (3).  E  não  de- 
vemos imitar,  exemplos 'que  por  velhos  serão  sempre  mui 
respeitáveis  f  I 

Mas  isto  não  basta ;  quando  um  povo  tem  desmaiado  na 
carreira  da  industria,  vendo  desgraçadamente  destruida 
a  sua  agricultura,  aniquilado  o  seu  commercio  e  muito 
reduzido  o  numero  dos  seus  individues  por  causas  pb}- 
sicas  ou  moraes,  a  que  elle  não  podia  resistir,  como  se 
veríGcou  a  respeito  da  capitania  de  S.  Vicente,  é  neces- 
sário que  uma  mão  hábil  o  conduza,  e  lhe  mostre  o  antigo 
caminho  da  sua  gloria,  com  os  meios  ofTerecidos  pela 
Datureza,  para  se  remediarem  os  males  occasionados  por 
circumstancias  particulares.   ' 

Acostumado  á  vida  solitária,  ou  limitado  no  pequeno 
circulo  da  sociedade  domestica,  sempre  destituído  da  útil 
e  muitas  vezes  do  necessário,  este  povo  nio  conhece 
prazeres,  e  tem  horror  ao  trabalho. 

E*  preciso  instrui-lo  e  mostrar-lhe  um  lucro  facíl,  e  que 
para  o  adquirir  consuma  pouco  tempo,  sem  muita  fadiga, 
e  foniecer-lbe  para  isso  mesmo  os  meios  necessários, 
porque  sem  anticipação  de  capitães  não  sa  devem  espe- 
rar rendimentos  certos. 

De  tudo  quanto  se  vè  D'e8te  mundo,  elle  só  foi  a  obra 
da  vontade  e  da  palavra,  sem  anticipação  de  outros  meios 

^3)  Ceui:bel.  Intrud.  á  Geugrar.  Comuicrciíiiit. 


Dictzedby  Google 


e  capitães,  mas  a  vontade  e  a  palavra  do  Todo  Poderoso 
foram  os  agonies  mais  adequados,  ou  antes  privativos,  que 
se  podiam  empregar  em  uma  obra  que  d'outra  maneira 
se  nSo  podia  fabricar.  E'  fioalmeute  oecessario  tomar 
esse  mesmo  povo  social  e  infundir-lhe  o  desejo  de  novos 
prazeres;  porque  estes  se  multiplicam  l(^o,  ioseosivel- 
mente  produzem  a  necessidade,  e  o  amor  do  tiabalho, 
sem  o  qual  se  nlo  podem  desfroctar.  Eis-aqui  a  origem 
da  industria  e  de  todas  as  virtudes  sociaes,  que  consti- 
tuem e  formam  um  povo  enérgico,  rico,  vigoroso,  sábio, 
e  por  todos  os  modos  respeitável. 

CAPITULO  VII 

OBSERVAÇÃO  PRIMEIRA 

Sobre  o  carte  das  madeiras 

A  simples  inspecção  dos  mappas  chorographicos  d'esla 
costa  marítima  basta  para  se  conhecer  que  a  ella  baixam 
duzentos  rios,  pouco  mais  ou  menos,  calculados  os  seus. 
difTereotos  braços,  os  quaes  occupam  espaços  immeasos> 
sendo  quasi  todos  navegáveis  por  laicas  distancias  e  mui 
piscosos;  as  suas  margens  eas  terras  adjacentes,  repre- 
sentando ainda  o  estado  primitivo  da  natureza,  cobertas 
de  riquíssimos  arvoredos  da  mais  variada  qualidade,  e 
abundantissimas  de  muitas  e  differenles  producções  de 
grande  préstimo  e  valor,  merecem  particular  eiame  e  as 
mais  apropriadas  reflexões. 

Muitos  dos  mesmos  nos  se  acham  reservados  para  o 
eórte  privativo  em  beneficio  da  armada  real.  Os  que 
porém  existem  livres  e  franqueados  ao  uso  particular  dos 
povos  são  mais  que  sufficientes  para  entreter  o  riquíssimo, 
(acil  e  nâo  interrompido  commercio  d'aquella  extensão 


Dictzedby  Google 


—  31  — 

e  variedade  que  Cca  acima  notada,  O  interesse  publico 
exif^  da  maneira  mais  positiva  que  as  arvores  fructiferas, 
que  se  forem  encontrando,  Bquem  salvas  do  iosuUo  dos 
machados,  e  que  o  córle  dVIas  seja  um  facto  rigorosa- 
mente punivel. 

Um  regulamento  a  este  respeito  me  parece  de  maior 
imporlaacla:  elle  é  por  sua  natureza  compreheasívo  de 
lodo  o  oontinente  que  habitamos.  Também  na  exportação 
do  assocar  em  caixas  diviso  eu  uma  perda  excessivamente 
grande  e  com  trato  successivo.  Devia  antes  fazer-se  em 
barricas,  como  se  pratica  na  Jamaica  e  nas  West  índias 
geralmente,  assim  como  na  Índia.  Madeiras  inferiores,  de 
qualquer  qualidade  e  grossura,  se  apresentam  em  toda 
a  parte  para  aduelas,  bem  proporcionadas  ao  intento. 
E'  fácil  de  comprehender  que  os  mesmos  braços  destinados 
á  fabrica  d'uma  caixa  de  40  arrobas  podiam  fazer  no 
mesmo  tempo,  e  com  mais  suavidade,  três  barricas  de  20 
a  S5  arrobas,  bem  pro  porcionadas  à  facilidade  do  embar- 
que e  desembarque :  e  as  madeiras  agora  empregadas  nas 
caixas,  cujo  valor  se  perde  por  dois  terços,  ao  menos, 
na  Europa,  serviriam  d'um  ramo  privativo  de  grande  com- 
mercio. 

CAPITULO  Vlll 

OBSBRVAÇXO    SEGUNDA 

Acerca  dos  ancoradouros  mais  notáveis  e  de  algumas 
propriedades  partiatlares  de  cada  um  dos  concelhos 
(feita  costa,  e  entradas  dos  prindpaes  rios  do  limite 
septentrional  até  o  austral. 

!(a  ilha  dos  Porcos  do  Sul,  na  enseada  dos  Flamengos, 
agora  dita  dos  Tubarões,'  quasi  em  frente  da  sua  extremi- 


DictzedbyCoOgle 


dade  meiidioiu)  aa  terra  firme,  ha  excellentas  ancora- 
douros. Por  uma  tradição  constantíssima  se  diz  que  n'e5ta 
ultima  parte  ancoraram  mais  de  40  vasos  de  guerra  dos 
hollandezes  no  meio  do  século  declmo-sexlo ;  sendo  tam- 
bém de  grande  proveito  ao  commercio  e  a  Ioda  a  qua- 
lidade de  importação  e  exportaçioa  enseada  Ubatumirim, 
o  sacGO  doeste  nome,  e  outros  de  Ubatuba  na  ponta  do 
Alegre.  Todos  estes  ancoradouros  fazem  independente 
de  alheia  nav^ação  o  coDcdho  inteiro,  de  que  é  cabeça 
a  pequena  vílla  de  Ubatuba,  a  mais  septentrional  da  refe- 
rida costa.  São  bem  conhecidos  por  grandes  e  seguros  os 
ancoradouros  entre  a  ilha  de  S.  Sebastião  e  a  sua  terra 
firme,  e  servem  de  muito  proveito  aos  povos  d'este  con- 
celho, immediato  ao  de  Ubatuba.  Em  uma  e  outra  parte 
é  fertilissima  a  terra  para  todo  o  género  de  cultura.  No- 
ta-se  principalmente  em  S.  Sebastião  (talvez  porque  alii 
se  acha  mais  apurada  a  industria)  que  o  assucar  é  da 
melhor  qualidade,  admirável  o  tabaco  e  o  gado  vaccum 
de  extraordinária  grandeza,  chegando  as  rezes  pelo  com- 
mum  a  35  e  -26  arrobas,  muitas  a  30  e  algumas  a  4-0. 
O  leite  é  o  mais  bello,  e  as  vaccas  o  produzem  em 
quantidade  incomparável  A  ordinária  das  outras  partes- 
Attribuem  os  bons  conhecedores  estas  particulares  ex- 
celleocias  ao  capim  nobre,  ou  feno  riquíssimo,  e  pri- 
vativo da  terra  E'  pois  evidente  que  n'estes  dois  conce- 
lhos se  podia  levar  a  ímportantissima  creação  do  gado 
vaccum  a  um  ponto  de  perfeição,  ou  muito  raro,  ou  sempre 
admirável,  logo  que  se  iotroduzissem  gados  de  escolhida 
raça,  e  as  regras  pastoraes  se  estabelecossem  na  devida 
forma,  assim  como  a  oãicina  regular  dos  queijos  e  man- 
teiga. 

Esta  villa  pôde  subir  a  um  ponto  vantajoso  de  riquezas, 
logo  que  um  caminho  dirigido  a  ella  da  de  Taubaté  se  con-. 


Dictzedby  Google 


_  33  — 

duza,  cujo  projecto  não  foi  adiante  por  motivos  particulares 
e  dignos  somente  de  desprezo ;  mas  as  paixões  e  os  des- 
piques sempre  se  manifestam  em  desfavor  dos  povos  e  do 
serviço  publico. 

Se  em  lodo  o  costão  da  grande  enseada  do  rio  Juqui- 
ricaré,  na  do  Caratatuba,  e  nas  mediações  dos  outros  bem 
conhecidos,  h  saber,  do  Encantado,  Verde,  Pardo,  Claro, 
e  das  Antas,  que  desaguam  no  primeiro,  e  lodos  notavel- 
mente despovoados,  se  formassem  estabelecimentos,  ao 
menos  para  cem  casaes  industriosos,  com  os  precisos 
soG«oiTOs  inseparáveis  doesta  sorte  de  especulações,  e  com 
obrigaçlo  de  seguirem  um  plano  económico  sobra  a  maté- 
ria proposta,  em  pouco  tempo  se  desfructariam  os  mais 
lisongeiros  resultados. 

Os  dois  concelhos,  que  se  seguem  das  víllas  de  Santps 
e  S.  Vicente,  abrangem  um  território  extensíssimo,  e 
com  a  singularidade  da  correspondência  reciproca  de  22 
rios  d'uma  desembaraçada  navegação,  de  cujo  encontro  e 
união  resultam  três  barras  ao  mar;  a  grande,  denomi- 
nada de  Santo  Amaro,  a  da  Bertioga  e  a  de  S.  Vrcenle. 
Pela  primeira  entram  as  maiores  nãos,  a  segunda  prestasse 
a  grandes  brigues  e  escunas,  a  terceira  serve  para  lanchas, 
c  canoas. 

Os  soccorros  d'es(es,  e  por  consequeaoia  o  encadea- 
mento de  tantas  aguas,  o  lluxo  e  refluxo  que  sofTrem, 
cl'uma  maneira  admirável,  enchendo  uns  quando  outros 
vasam,  em  consequência  mesmo  das  tros  barras,  entre  si 
apartadas  e  oppostas,  concorrem  muito  a  bem  da  sua  fer- 
tilidade, assaz  provada,  e  com  particularidade  singularna 
producção  e  belleza  do  arroz,  café  e  cação. 

O  grande  porto  de  Santos  forma  um  ponto  quasi  central, 

aonde  pela  combinação  das  circumstancias  expendidas  se 

ha  de  naturalmente  estabelecer  o  assento  do  commercio 

TOHO  XXII,  p.   1  5 


Dictzedby  Google 


gatai  da  capíiAnia  de  S.  Paulo,  e  das  auaa  mais  proxiotas 
B<tjaceQles. 

Em  oeahuBia  outra  parto  que  eu  saiba  se  pôde  crear  um 
arsenal  tio  importanlfi  e  de  tanta  economia  ao  mesmo 
lempo.  Os  rios,  que  foram  reservados  para  o  corto  dos 
madeiras  destinadas  ao  serviço  da  armada  real,  serão 
abundantes  nas  épocas  mais  remotas  d'esta  riquíssima  pro- 
ducção.  Nos  interiores  de  uma  e  outra  vílla,  por  toda  a 
extensão  da  costa  mais  austral  e  fias  terras  de  serra  acima 
(coíbo  notarei,  quando  d'ellas  fallar  em  particular),  riquíssi- 
mas colheitas  de  cânhamo  e  linhos  hão  de  necessariamente 
auxiliar  o  projectado  e  necessário  estabelecimento ;  prin- 
cipalmente se  as  providencias  do  governo  se  estenderem  a 
formar  uma  cordoaria  com  macbinas  a  propósito,  movidas 
p9T  aguas,  aproveitaodo-se  para  este  fim  as  cachoeiras  des- 
penhadas das  muitas  alturas  que  ficam  em  torno  das  mes- 
mas víllas  e  em  lugares  muito  próprios  ao  intento. 

Aa  excellentes  resinas  e  o  pez,  que  possuímos  na  maior 
abaadaocia  e  podemos  exlrahir  com  mais  particularidade 
dos  nossos  pinhaes,  seguram  ainda  melhor  a  fortuna  do 
mesmo  arsenal,  cuja  independência  e  perfeição  absoluta 
lhe  deveria  emfim  resultar  de  uma  completa  ferraria,  para 
a  qual  se^prestam  com  a  maior  liberalidade  e  excellentes  pro- 
porções as  ricas  e  bem  conhecidas  minas  de  liuiraçoísba, 
da  Parnahíba  sobre  as  margens  do  rio  Tietê,  e  de  Santo 
Amaro  nas  immediaçAes  do  rio  dos  Pinheiros. 

Estabelecimeotos  á  semelhança  dos  da  Suécia,  Dina- 
marca e  Rússia,  da  França,  e  dos  maís  recentes  o  menos 
dispendiosos  de  todos,  da  America  Septen trienal,  fornece- 
riam todo  o  ferro  necessário  para  a  nossa  armada  real  e 
meroantil,  as  ancoras  competentes  e  toda  a  artilheria  naval 
e  de  terra  com  o  armamento  preciso  aos  exércitos  nacio- 
naes :  sendo  muito  digno  de  reflecljr-se  que  o  ferro  das 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  M  — 

ditas  mioas  se  pôde  conduzir  ao  porto  do  Santos,  oa  por 
terra  ou  em  grande  parte  pelos  ditos  rios  Tietê,  Pinheiros 
grande  e  pequeno,  sempre  navegável  até  a  distancia  de 
quatro  léguas  d'aquelle  porto,  no  qual  emliin  a  mão  de 
obra  aâo  prometle  grande  augmento  para  a  futuro,  porque 
os  alimentos  necessários  aos  obreiros  serão  sempre  ven- 
didos de  S.  Paulo  por  preços  mui  accommodados,  ao  que 
se  divisa  ainda  a  utilidade  da  marinha  re^. 

A  barra  da  villa  da  Coucei^  de  Itanbaem,  immediala 
é  de  K.  Vicente,  é  pequena  e  sn-ve  pan  lanchas  e  canâas 
de  voga  ;  mais  próprias  d'este  e  d'outr08  portos  semelfaaBtas 
seriam  embarcações  mais  rasas,  largas  e  de  fundo  de  prato. 
Dista  esta  b^rra  da  outra  de  Santo  Amaro  doze  laguas,  e 
Isnto  t£m  de  extensSo  as  suas  praias ;  i  capaz  da  bom 
cominercio,  pela  abundância  de  farinhas  de  mandioca, 
^elas  madeiras  as  mais  ahas  e  oirpuleotas  de  toda  a  oo^, 
pela  cultura  da  baunilha  (géneros  estes  de  qoe  podia  Uztt 
largas  exportações),  e  bem  assim  pela  oriaçio  dos  gados; 
sendo  além  d*Í3to  de  grande  extensão  o  terreno,  qae  borda 
as  ditas  praias,  e  accommodados  para  a  produoção  de  todos 
os  fruclos  análogos  ás  terras  marítimas  do  Bra«l. 

É  muito  provável  que  Doestes  lugares  viessem  ooqa  mui* 
to  proveito  os  coqueiros  da  índia,  que  chamamos  da  Ba- 
hia ;  e  n2o  ha  duvida  que  os  outros  já  lembrados,  coaM 
das  espécies  particulares  dendé  e  macauba,  ro(|«ÍssÍB0s 
em  azeite  e  o  ultimo  em  linho,  predoso  igualments,  faifaa 
alli  grandes  progressos  e  tornariam  com  muito  pouco  (ra- 
balho  areaes  incultos  em  prédios  estimáveis  e  de  avultados 
rendimentos. 

No  meio  da  praia  existe  a  aldâa  de  S.  João  de  Peroibe, 
habitada  pelos  indíos,  restos  dos  antigos  moradores  do  paiz, 
que  s3o  dotados  de  mui  particular  habilidade  e  industria 
para  o  trabalho  do  mar  e  eiercicios  das  pescarias,  mers- 


Dictzedby  Google 


-  in- 
cendo por  isso  mesmo  toda  a  protecção  e  cuidado,  A  seme- 
lhança d'esta  se  deveriam  formar  algumas  aldéas  pela  ex- 
lensáo  e  no  longo  d'esta  cosia  na  direcção  do  sul,  e  assim 
teriamos  em  tempo  opportuao  muitos  pescadores  excellen- 
tes  marinheiros. 

A  villa  de  Iguape,  que  se  avizinha  &  da  Conceição,  tem 
um  dístriclo  considerável,  mas  a  sua  barra  própria  é  ioca- 
paz  de  nav^ação.  Servem-se  ds  de  Canaoéa,  por  onde 
entram  sumacase  corvetas;  além  d'isto  servem  muito  bem  a 
da  Ribeira  e  a  de  Una,  por  onde  entram  lanchas  aos  mo- 
radores d'esta  parte.  Este  território  é  fecundissimo  para 
toda  a  qualidade  de  cultura :  abunda  em  beUas  matas, 
que  ma^eam  o  dito  rio  Una,  o  do  Prelado  e  da  Ribeira, 
UkIos  três  mui  piscosas,  e  o  ultimo  racoromendavel  ainda 
pela  pedra  calcarea,  de  que  igualmente  são  formados  os 
montes  de  Cananéa,  como  fica  notado,  e  pelo  muito  ouro 
que  se  pôde  extrahir  na  sua  continuação  e  vertentes.  Por 
ssle  rio,  ou  ribeira  de  Iguape,  que  é  desembaraçado  de 
cachoeiras,  se  pôde  exportar  privativamente  e  com  muita 
facilidade  todo  o  ferro  que  se  fabricar  em  Guiraçoiaba,  cu- 
jas forjas  existem  na  distancia  de  oito  léguas  do  dito  rio  e 
lugar  do  embarque,  e  também  por  elle  se  podem  navegar 
todos  os  géneros  dos  districtos  inteiros  das  villas  de  Soro- 
caba, Apiaby  e  Paranãpanema,  com  grande  augmento  da 
agricultura  e  do  commercio  marítimo. 

É  muito  insignificante  agora  a  villa  de  Cananéa,  que  se 
divisa  mais  avantOt  tendo  comtudo  as  proporções  que  lhe 
ofTerece  um  terreno  fecundo,  paia  enriquecer  pelo  meio  da 
agricultura  e  do  commercio.  Ella  pôde  conservar,  pela 
abundância  e  sobras  de  madeiras  para  a  construcção  na- 
val, um  estaleiro  que  jã  possue,  e  no  qual  se  fabricam  na- 
vios grandes  e  eloval-o  á  devida  importância ;   pois  que  a 


Dictzedby  Google 


—  37  — 

sua  barra  permítle  fadl  eatrada  e  sabida  aos  vasos  d^esle 
porto,  sendo  alliviados  da  maior  carga. 

Paranaguá  é  uma  grande  villa  cabeça  da  comarca  d'esle 
nome,  e  tem  Iodas  as  proporções  para  cidade  mui  rica  e 
poderosa.  A  sua  barra  é  larguíssima  e  do  centro  de  uma 
notável  e  formosa  babía.  A  natureza  lhe  negou  o  fundo 
necessário  para  a  entrada  de  embarcações  maiores ;  nSo  se 
recusa  porém  a  brigues  e  sumacas,  que  bastam  para  todo  o 
género  de  importação  e  exportaçfio.  A  juncção  de  qua- 
renta rios,  com  esgoto  á  barra,  dão  lodo  o  merecimento  ao 
paiz,  cujas  alturas  são  formadas  pelos  soberbos  e  fertilissi- 
mos  campos  da  Curitiba,  na  distancia  de  quinze  léguas  ao 
mar :  os  seus  preciosos  effeilos  podem  ser  navegados  por 
differentes  canaes,  entre  os  quaes  se  faz  mui  recommendavel 
o  da  vitla  de  Antonina,  cujos  progressos  rápidos  Ibe 
seguram  os  foros  de  grande  e  populosa  cidade  em  poucos 
annos. 

Em  Paranaguá  deve  estabelecer-se  umn  cordoaria,  ou 
adiantar-se  a  que  já  existe  :  em  poucos  annos  chegará  a 
muita  perfeição,  porque  no  seu  território  o  cânhamo  e  os 
linhos  de  variadas  espécies  sSo  dotados  do  mui  superior 
qualidade.  Deve  ainda  considerar-se  a  mesma  vitla  como 
o  assento  natural  de  ricas  pescarias,  de  importantes  sali- 
nas, e  bem  proporcionada  para  o  commercio  de  madeiras 
e  resinas,  assim  como  para  toda  a  sorte  de  lanílicios  e 
manufacturas  de  linho;  podendo  d'eslas  duas  producções 
receber  dos  Campos  Geraes,  em  supprimento  das  que  lhe 
faltarem,  todas  as  qualidades  necessárias  para  fabricar  e 
fazer  d'ãllas  vantajosa  exportação. 

Finalmente,  as  barras  dos  dois  grandes-rios  Guaratuba  e 
S.  Fraocisco  dão  entrada  segura  a  bergantins,  sumacas  e 
corvetas.  Os  seus  habitantes,  poucos  e  pobres,  vivem 
principalmente  de  pequenas  pescarias,  no  seio  da  maior 


D,c,t,zedb*G00gIe 


—  ti  — 

abundância  de  muilos  e  diffweatex  peixes,  entra  os  quaes 
é  roais  vulgar  a  pescada  e  a  miraguaia,  cuja  salga  se  faz 
com  perfeiçio  segundo  os  princípios  da  arte,  e  com  mais 
particularidade  ainda  no  segundo  dos  ditos  rios,  ou  uo 
concelho  da  S.  Francisco  do  goverao  de  Santa  Catliarina. 
Estes  dislrictos  são  muito  extensos,  dotados  de  grande  fer- 
tilidade e  em  nada  inferiores  aos  que  Ticam  descriptos: 
bio  de  consarrar-se  porém  na  miséria,  e  quasi  de  todo 
incultos,  emquaotoa  sabedoria  do  governo  não  estender 
sobre  fllles  a  sua  benéfica  e  paternal  providencia. 

CAPITULO  IX 

UBSERVAÇiO  TERCEIRA    E   ULTIUA 

Sobre  as  pescarias  e  lugares  em  qxie  ornais  convém 
esU^lecerem-se 

Kas  duas  ilhasdos  Porcos,  na  dos  Alcatrazes,  do  Monto  do 
trigo,  da  Queimada,  e  outras,  que  por  menores  não  refiro, 
se  podem  formar  sociedades  piscatórias  de  grande  impor- 
tância, logo  que  este  ramo  de  industria  chegue  a  sua  devi- 
da perfeição  e  se  exercite  da  maneira  mais  própria  a  artç 
das  salgas.  Para  este  fim  necessSrio  é  que  se  facilite  o 
sal  por  um  preço  módico,  conformo  as  idóas  que  Picam 
expendidas,  e  com  os  mesmos  meios  em  Ubatuba  o  suas 
enseadas  subjacentes,  era  S.  Sebastião  e  seus  dístrictos, 
nas  barras  de  Una  e  du  ribeira  de  Iguape,  nos  recôncavos 
de  Paranaguá,  Guaratíba  e  S.  Francisco,  devem  as  pesca- 
rias, pelas  razOes,  que  já  lembrei,  chogar  a  um  commer- 
cio  riquissimo,  e  tal  como  lenho  augurado  e  cordialmente 
desejo. 

FIH   Dí  PRIMEIRA  PARTE 


Dictzedby  Google 


—  8»  — 

PARTE  II 

CAPITULO  I 

DO  QUB  SE  DEVE  PftRSENTEHENTE  FAZER  NAS  TERRAS  CENTRAES 
DA  CAPITANIA  BE  S.  PAULO 

Tratarei  agora  da  outra  parle  contrai  da  capitania  de  S. 
Paulo,  queé,  como  Pica  dito,  não  menos  interessante  do 
que  a  marítima;  c  apontarei  os  meios  necessários  para  o 
estabelecimento  da  sua  agricultura,  Tabricas,  commercio  e 
povoação. 

A  criação  dos  gados  é  da  primeira  necessidado  em  todos 
os  paizes,  para  ferlilisar  as  terras  por  meio  de  estrumes  que 
ella  procura  e  para  ajudar  o  homem  nos  seus  trabalhos 
agrários.  E,  seado  mui  lucrosa  em  quasi  todas  as  situações 
do  globo,  produz  fruclos  ubérrimos  nos  rlimas  temperados, 
como  o  de  que  so  trata. 

Ê  pois  necessária  a  criação  das  bestas  cavallares  e  mua- 
res em  toda  a  extensão  dos  campos  do  interior,  na  dttvida 
proporção  ao  serviço  publico  e  ás  commodidades  dos  po- 
vos ;  ella  teria  feito  grandes  progressos  nos  lugares  designa- 
dos e  produzido  consideráveis  riquezas,  se  o  favor  conce- 
dido ao  Hio-Grande  de  S.  Pedro  e  as  imposições  fiscaes  a 
não  prohibisse  em  todas  as  terras  áquem  do  rio  Iguaçu  : 
criação  que  a  respeito  dos  cavallos  se  tolerou  de  alguns 
annos  a  esla  parte,  como  acanhada  e  feiLa  pnr  assim  dizer 
és  escondidas  ;  introduziu  do -se  nas  Minas-Geraes  a  outra 
das  bestas  muares  pehi  industria  do  capitão  António  de 
Abreu  Guimarães,  que  fez  passar  a  este  Hm  para  aquello 
paizepolo  iaterposto  de  Lisboa  eicellentes  jumentos  da  me- 
lhor Ta!;a  de  Hespanha.     Agora  porém  que  as  idéas  do  go- 


Dictzedby  Google 


—  40  — 

vemo  são  Armadas  nos  principios  sábios  da  liberdade  e  in- 
dustria civil,  póde-se  estabelecer  uma  e  outra  criação  nos 
sobreditos  campos,  melhorando-se  muílo,  e  tornaado-se 
mais  proveitoso  a  dos  cavallos,  com  o  encnizamento  das 
raças  pela  particular  do  Cbile,  uma  das  melhores  do  mundo; 
pois  sSo  os  cavallos  d'aquelle  reino  mais  formosos  e  mais 
fortes  do  que  os  de  Andaluzia,  dos  quaes  descendem;  edas 
bestas  muares,  estabelecendo-se  nas  nossas  terras  a  edu- 
cação dos  jumoatos  do  Paraguay,  o  que  é  muito  Cacil  e 
pouco  dispendioso. 

Esta  operação  é  necessária  e  deveria  pâr-se  em  pratica, 
apezar  de  qualquer  difliculdode  ou  despeza;  seado  certo 
que  o  notado  privilegio  contém  o  mais  duro  monopólio, 
torna  muitas  provindas  do  Estado  escravas  de  uma  só, 
ataca  os  fundamentos  da  grande  agricultura  e  a  liberdade 
dl)  commercio,  perturba  os  direitos  do  cidadão  e  faz  que 
o  mesmo  Estado  nas  terríveis  circumstancias  da  guerra, 
que  a  Providencia  quererá  desviar  para  sempre  dos  nossos 
climas,  mande  conduzir,  se  lhe  fôr  possível,  á  custa  de 
muitas  despezas,  perigos  e  trabalhos,  e  por  trezentas  léguas 
de  distancia,  os  cavallos  e  as  bestas  necessárias  para  o  seu 
serviço. 

Igual  protecção  e  cuidado  exige  a  criação  dos  camelos  e 
dromedários.  Sabe-se  que  em  todos  os  districlos  da  Ásia 
e  da  Africa  em  que  os  desertos  se  16m  multiplicado  ha 
muitos  camelos.  Estes  paizes  lhes  são  próprios  e  eUes  não 
procuram  estender-se  mais  longe,  temendo  igualmente  o 
excesso  do  frio  e  do  calor  ;  comtudo  o  diligencia  e  o  tra- 
balho os  acciimalisou  sté  na  Saxonia,  aonde  prestam  para 
muito,  e  não  achariam  dilTiculdade  alguma  para  muUipli- 
rar  bem  no  paiz  de  que  se  trata,  e  com  muita  particulari- 
dade nos  campos  de  Mugyguaçú,  nos  quaes  nSo  ha  neves 
'  doslruidoras;  o  frio  não  faz  grande  impressão,  sendo  pelo 


Dictzedby  Google 


ntesnio  modo  mui  supportaveis  as  calmas.  Este  animal 
sóbrio,  forçoso  e  dócil,  vulgarmente  chamado  o  navio  do 
deserto,  faria  entre  nós  grandes  serviços  por  toda  a  exten- 
são do  Brasil  no  transporte  das  difTorentes  mercadorias,  e 
pouparia  a  falta  dos  canaes,  de  qiie  o  commercio  muito 
precisa  para  as  suas  differentes  operações  ;  tornsr-se-iam 
estas  mais  fáceis  e  menos  dispendiosas,  porque  um  ca- 
melo equivale  a  seis  ou  sete  bestas  muares,  calculada  a  sua 
carga,  presteza,  alimento,  trato  e  ferragem,  e  os  povos  do 
interior  ficariam  assim  libertados  do  tributo  indirecto,  que 
pagam  pela  maior  carestia  dos  géneros  que  devem  consumir, 
podendo  ao  mesmo  tempo  metter  em  comroercio  com  mui- 
ta commodídade  as  matarias  e  fructos,  que  ou  não  culti- 
vam ou  Acam  inúteis  nos  lugares  da  sua  origem  e  nasci- 
mento. Pelo  interposto  de  Gibraltar,  e  em  direitura  dos 
portos  da  Barbaria,  das  ilhas  Canárias  e  melhor  ainda  de 
Cacheu  e  Bissau,  podíamos  com  facilidade  e  a  bom  preço 
fazer  esta  preciosa  acquisiçSo. 

A  criação  do  gado  vaccum  pôde  e  devo  estendeixe  a 
todas  as  terras  de  S.  Paulo,  assim  da  marinha  como  do  in- 
terior, e  ainda  Dão  lembrados  os  campos  geraes  da  Curiti- 
ba, com  os  outros  acima  referidos,  que  conservamos  na 
mais  perfeita  inutilidade,  podíamos  ter  tão  grande  numero 
deboíse  vaccas  que  nada  restasse  a  desejar  sobre  uma  ma- 
téria tão  importante :  comtudo,  as  raças  aqui  conhecidas, 
posto  que  boas  e  merecedoras  do  mais  cuidadoso  melhora- 
mento, acham-se  em  muitos  lugares  notavelmente  degene- 
radas e  não  bastam  para  todos  os  usos  e  conveniências  que  se 
podiam  fazer  e  desfruclar;ellas  não  produzem  aquella  abun- 
dância de  leite  que  se  admira  em  outras  partes,  principal- 
mente na  Iriandia  e  na  Hollanda.  N'este  ultimo  paiz  as 
rafas  da  índia  fizeram  prodígios;  e  apezar  dos  curtos 
limites  da  terra  pretendiam  os  hoUandezes  ter  maior  quan- 
TOJIO  XUl,  P.  1,  6 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  u  — 

'tidadedeleitedo  que  de  vinho  produzido  nas  grandes  vinhas 

da  França  ;  o  que  é  superior  o  toda  a  cogitação. 

Hoje  poréDi.que  a  pobreza  e  a  miséria  são  o  patrimó- 
nio da  antiga  republica  da  Hollanda,  também  este  ramo  de 
industria  nacional  ha  de  ter  soíTrido  a  sorte  das  fabricas, 
pescarias  e  commercio,  e  nÍo  ousarão  os  hollandezes  pro- 
ferir a  meamá  proposição.  Também  no  Chile  é  mais  bello 
emeihor  do  que  na  Hespanba  o  gado  vaccum  que,  á 
semelhança  do  cavallar,  se  aperfeiçoou  n'aquella  parte  da 
America,  acontecendo  o  mesmo  ás  outras  aspecies  dos 
gados  cornigeros.  EÍ3-&qui  um  dos  lugares  d^onde  pode- 
mos adquirir,  sem  diOiculdade,  os  indivíduos  necessários 
para  reformar  de  todo  os  nossos  gados.  {Alcedo,  Dictiontar. 
Geogr.  art.  Chiii.)  Ain<)a  que  já  reflecti  sobre  a  particular 
excellencia  do  gado  vaccum  de  S.  Sebastião,  lembrarei 
agora  que  o  do  nosso  dístricto  das  Caldas  goza  com  razão 
de  muita  celebridade,  respectivamente  á  sua  grandeza  e  cor- 
pulência. Qualfosse  o  commercio  d'aqueUa  republica  pro- 
duzido pelo  leite,  todos  sabem.  E  porque  não  imitaremos 
os  industriosos  hollandezes,  quando  a  criação  de  uma  vacca, 
eulre  elles,  é  mais  custosa  do  que  entre  nós  a  de  trinta  pelo 
menos?  Éprecisofazeroqueellesíizeram;  os  nossos  traba- 
lhos serão  muito  mais  pequenos,  muito  mais  fáceis  e  muito 
menos  dispendiosos,  devendo  os  lucros  e  as  conveniências 
avantajar-se  muitas  vezes  mais.  A  prosperidade  dos  gados 
procede  muito  principalmente  da  bondade  dos  pastos  :  uma 
dada  porção  de  terreno  pôde  apenas  criar  duas  vaccas, 
produzindo  bem  pouco  leite,  e  este  de  inferior  qualidade, 
se  não  cultivar.  Pôde  pelo  contrario  sustentar  com  abun- 
dância o  triplo  e  quádruplo,  produzindo  as  rezes  muito 
e  bello  leite,  logo  que  .a  industria  dos  pastos  artiticiaes 
fdr  exercitada  como  convém,  fazendo-se  uso  das  hervas 
que  em  <lifferentes  paizes  se  reputam  melhores ;  nenhuma 


Dictzedby  Google 


—  48  — 

pareça  lâo  -  vaúlajoaa  como  a  denomioada  capim  de 
Angola. 

Um  campo  o  mais  estéril  e  (por  me  explicar  assim)  de 
nenhum  valor  pôde  em  dois  ou  tros  anoos  formar  excel- 
lente  prado,  oapaz  de  sostentar  com  fartura  e  abundaooia 
muitos animaes,  sendo  semeado  de  giesta,  o  que  se  pôde  fazer 
com  muita  facilidade,  sendo  bastante  queimar-se  o  campo 
e  lançar^bea  semente,  e  melhor  ainda  sendo  lavrado,  posto 
que  superficialmente;  e  a  giesta,  que  nasce  em  terrenos 
muito  estéreis,  em  pouco  tempo  cubriria  o  campo  inútil, 
offwlando  aos  gados  bom  alimento  nas  suas  folhas  e  reno- 
los,  assim  como  no  grSo  que  produz,  e  nas  muitas  hervas 
que  se  criam  á  sua  sombra.  Haverá  um  meio  tão  facitde 
multiplicar  pastos  ou  prados  artificiaes?  Estes  mesmos 
giastaes,  passados  três,  quatro  ou  cinco  anãos,  sendo  roça- 
dos a  queimados,  produzem  qualquer  sementeira  como  os 
matos  virgens  ou  capoeiras  velhas,  e  d'esta  maneira  se  cul- 
'  Mtariam  as  folhas,  e,  com  muito  proveíto,vastissímos  terre- 
nos agora  despreudos. 

Sendo  o  búfalo,  uma  espécie  de  boi,  maior  porém,  mais 
forte,  ainda  quede  carnemenos  saborosa,  servindo  aos  mes- 
mos usos  e  a  femaa  mais  abundante  de  leite;  quando  se  txata 
daeducacãodogadovaccum.demelhoraredoTaríaraa  raças, 
o  mesmo  se  deve  dizer  a  respeito  dos  búfalos  :  da  índia,  da 
Africa,  também  da  Europa,  com  mais  facilidade  do  que  de 
ilgumas  partes  da  America,  podem  vir  as  rezes  necessárias 
para  o  primeiro  estabelecimento.  Criar  ovelhas  e  carnei- 
ros em  um  paiz  apropriado  ao  intento  pela  sua  amenidade, 
eiteosão  o  abundância  natural  dos  pastos  apropriados,  ope- 
ração é  mui  pouco  trabalhosa,  que  promette  incalculáveis 
riquezas  e  muitas  commodidades.  A  ella  devem  os  ingle- 
les  o  seu  primitivo  e  mais  rico  estabelecimento. 

Ainda  antes  de  conhecerem  e  poderem  exercitar    a  arte 


Dictzedby  Google 


—  *4  — 

interessantíssima  dos  lanificios,  creada  por  Henrique 
e  quasi  aperfeiçoada  pela  grande  Isabel,  desfructavaa  < 
Bretanha  as  muitas  riquezas  que  Ibe  produziam  as  t 
lãs;  com  os  lanificios  cresceu  a  sua  fortuna,  e  seelov< 
prosperidade  que  todos  agora  invejam  e  a  que  nenh< 
nação  tem  podido  chegar,  nem  chegará  provavelmente 
Europa. 

As  lãs  inglezas  valiam  ha  trinta  annos,  segundo  os  es 
los  bem  reflectidos  do  ssblo  Arlhur  Wong,  S,600,00 
bras  esterlinas.  E,  ainda  que  o  favor  injustamente  libe 
sado,  na  opinião  do  mesmo  Wong,  pelo  governo  em  bi 
ficio  dus fabricantes, lenha  reduizdoesta  somma  a  3,400 
libras  esterlinas,  assim  mesmo  é  de  um  valor  excessivam 
grande  esta  ultima  quantia.  EUa  porém  excede  muii 
primeiro  calculo,  contemplando-se  a  importância  e 
das  carnes,  das  pelles,  do  leite,  do  sebo  e  dos  estrura< 
que  a  agricultura  em  geral  recebo  inexbauriveis  riqueza 

Para  se  estabelecer  nas  terras  centraes  de  S.  Paulo  a 
cação  do  gado  ovelhnm,  como  convém  e  se  deseja, 
é  preciso  o  trabalho,  nem  o  tempo  n'Í3to  consumido 
hotlandezes ;  acclimatísando  na  sua  terra  áspera  e  desa' 
as  raças  da  índia,  que  todavia  multiplicaram  entre 
com  largas  conveniências  e  de  uma  maneira  admirável, 
gando  as  ovelhas  a  produzir  regularmente  quatro  cord 
cada  anno,  e  de  dez  até  dezeseís  arráteis  de  lã  comp 
fina  e  tão  bella  que  muitos  as  vendem  com  o  nome  < 
de  Inglaterra.  Melhor  ainda  se  tornou  esta  descobet 
Flandres,  aonde  a  raça  dos  carneiros  indianos  adq 
maior  fertilidade  e  tal  perfeição  nas  vizinhanças  de  L 
de  Warneton,  que  toda  a  espécie  lomou  o  nome  de  es 
ros  do  Flandres.  São  da  mesma  forma  escusados  o: 
balhos  e  a  industria  bem  dispendiosa  da  Suécia  e  de  '. 
em  naturalisar  as  ovelhas  da  Barbaria,  nem  mais  os  n 


DictzedbyGQOgle 


—  48  — 

ciosos'ragola[nmto3  da  GrS-BrelaDha,  e  qun  se  conservam 
em  vigor  k  custa  de  grandes  sommas  e  do  raais  assíduo 
cuidado  do  govcioo. 

Pelo  contrario,  na  Curitiba  ha  mui  bellas  ovelbas,  que 
produzem  mais  de  seis  e  oito  arráteis  de  excellente  \i. 
Ho  Paraguay  e  no  Uruguay  eiislera  as  raças  de  Hespanha 
mui  bem  conservadas ;  da  Africa  inteira  e  da  Ásia  nlo  é 
difficulloso  obter  as  mais  variedades  que  se  desejarem. 

Nola-se  com  particularidade  que  as  cabras  o  ovelbas  do 
reino  de  Fulis,  subindo  o  Níger,  ou  Senegal,  sâo  excel- 
lentes  e  de  muita  conveniência.  EmRm,  não  nos  faltaria 
cousa  alguma  no  art^o  importantíssimo  das  lãs,  se  se 
mandassem  conduzir  das  serras  do  Peru  para  as  nossas  as 
TÍguaias,  os  lamas,  os  paços  e  guanacos,  que  a  industria 
européa  não  tem  podido  naturalisar  nos  Mus  climas. 

As  cabras  aqui  são  pequenas,  de  má  qualidade  c  com 
pello  de  boi.  Em  S.  Paulo  existem  algumas  da  raça  de 
Portugal,  que  também  não  é  boa.  Com  facilidade  pode- 
mos mandar  vir  cabras  de  Cabo  Verde,  e  melhor  ainda  das 
ilhas  Canárias,  as  melhores,  mais  fortes  e  mais  abundantes 
de  leite  e  pello  que  eu  tenho  visto;  e  não  será  difBcultoso 
obter,  por  via  de  Gibraltar,  algamas  da  raça  particular  e 
singularissima  de  Angora,  que,apezardofrio,  setêmacclí- 
matísado  na  França  e  ainda  mesmo  na  Sueeía,  cuja  propa- 
gação faria  prodígios  nas  nossas  terras  da  marinha,  e  fica' 
riamos  por  esta  maneira  sócios  no  commeroío  privativo  e 
rauí  lacroso  qne  do  seu  preciso  pello,  assim  como  da  lã  do 
camelo,  fazem  os  turcos.  Merece  emfim  particular  pro- 
tecção e  cuidado  a  criação  dos  porcos  nas  terras  cenlraes 
deS.  Paulo,  onde  teria  crescido  muito  este  ramo  de  intlus- 
Iria,  se  o  excessivo  preço  do  sal^  aagmentado  ainda  com 
o  gravoso  direito  de  um  cruzado  por  alqueire,  como  fica 
acima  notada,  o  não  tolhesse  do  uma  maneira  eitraordina- 


;dby  Google 


'-  M  — 

ria,  assim  como  é  notoriamente  piejadicia)  á  omçJo  de 
todos  03  outros  gados,e  impede  o  aproveitamento  de  muitas 
produoçdes  do  reino  animal.  Este  embaraço  já  felizmente 
se  acba  removido. 

As  grandes  matas  de  pinheiros  de  que  abunda  aquette 
paiz,  e  que  se  devem  multiplicar  pelos  montes  e  terras  in- 
feriores, podem  criar  muitos  milhares  de  porcos,  sem  tra- 
balho e  com  mais  faoilidade  do  que  se  observa  no  Alem- 
tejo  oom  as  asinbeiras,  cujo  fnicto  é  para  o  intento  muito  in- 
ferior aos  nossos  pinhões,  dos  quaes  as  carnes  recebem  me- 
lhor sabore  mais  consistência.  Lembrarei  mais,  porque  con- 
vém saber-se,  que  entre  as  muitas  producções  que  se  podem 
destinar  á  ceva  dos  porcos  nenhuma  é  mais  fácil  de  culUvar- 
se,  nem  nais  prolitica  e  proveitosa  do  que  a  junca,  cujas 
bolotas  assucaradas  uma  vez  semeadas  em  terras  húmidas, 
oude  vargens,  multiplicam-se  da  maneira  mais  extraordiná- 
ria, á  semelhança  da  gingibre.  e  com  ellas  os  porcos,  de- 
signados á  chacina,  engordam  perfeitamente  em  poucos 
dias,  soltos  Qo  juncal  que  em  breve  tempo  se  renova,  sem 
embargo  do  estrago  que  com  sua  ávida  foça  lhe  fazem 
estes  aoimaes  vorazes. 

Também  as  raças  necessitam  de  reforma.  Nas  ilhas  do 
Cabo  Verde  existe  uma  particular  e  maior  que  eu  tenho 
visto;  é  verdadeiramente  proveitoso  e  muito  fácil  o  passaL-a 
para  o  Brasil,  assim  como  a  <lo  Cabo  da  Bua  Esperança  e 
também  da  America  Septentrional,  cujos  indivíduos  che- 
gam ao  peso  de  dezoito  e  vinte  arrobas. 

Tses  são  os  animaes  cuja  criação  e  educação  muito  de- 
sejava ea  ver  estabelecida  na  capitania  de  S.  Paulo,  de 
uma  maneira  porém  regular  e  própria,  e  não  ao  acaso  e  sem 
arte,  como  tudo  se  tem  até  agora  feito  e  praticado  no  Bra- 
sil. Esta  ramo  de  industria,  ou  cultura,  basla  e  é  muito 
snlDcieute  para  enriquecer  qualquer  paiz  a  para  felicitar  os 


Dictzedby  Google 


-  w  — 

MUS  babilaotes,  1<^  que  o  conamercio  auxilie  os  seus 
tnbalbos,  coosuma  e  dê  um  preço  racigoavel  As  suas 
producfiões,  apenas  capazes  de  eutrar  do  mercado  pu- 
blioo,  exonerado  das  imposições,  taxas  e  alcavalas  que 
destroem  e  sullocam  qualquer  producção  na  sua  origeiú  e 
nascimeoto. 

O  governo,  a  quem  dirijo  os  mais  humildes  votos,  é  sev 
duvida  o  arbitro  dos  trabalhos  campestres,  assim  como  de 
todas  as  espécies  de  industria.  Debaixo  de  seu  abrigo  tu- 
telar fertilisam  os  campos,  nasce  o  commercio  e  multipli- 
cam as  manufaclucas.  Se  elle  qutzer  (sua  vontade  me  é 
bem  conhecida),  mandando  o  escolhendo  executores  intel- 
ligentes  e  dominados  pelo  amor  da  pátria  e  do  bem  publi- 
00,  tudo  será  feito,  e  uma  grande  provinda  sempre  honra- 
da 6  capaz  de  encarragai^e  da  defesa  do  tbrono  sahirá  do 
ouior  abatimento,  para  fazer  a  mais  brilhante  Bgura. 

CAPITULO  11 

DA   CULTURA   ARBÓREA  E    CERCAL 

Da  cultura  pecuária  e  da  educação  dos  gados  deveria  eu 
passar  á  arbórea  e  cercal:  mas  peto  que  respeita  d  primeira 
espécie,  bastará  reflectir  que  em  quasi  tudas  as  situações 
se  podem  cultivar  no  interior  da  capitania  todas  as  arvores 
earbustos  que  parecem  peculiares  da  parte  maritima,  e  de 
que  tenho  feito  particular  memoria  ;  assim  como  de  todas 
as  fructiíeras  queeecultivsm  aã  Europa,  ou  sejam  indigenas 
d'aque)lB  paiz  ou  n'elle  acciimatisadas,  como  o  castanheiro, 
a  nogueira,  a  pereira  e  a  oliveira. 

Não  devo,  comtudo,  passar  em  silencio  que  a  cultura  dos 
pinhaes,  para  a  qual  se  prestam  de  boa  vootade  as  terras 
mais  inferiores  e  os  montes  escabrosos,  fúrma  um  objecto 


D,:„i,;cdtv  Google 


-  48  - 

assaz  recommendaTel,  sendo  o  nosso  pinheiro  uma  arvore 
de  reconhecida  utilidade  e  das  mais  ricas  do  Brasil,  por- 
que ella  fornece  no  seu  copioso  fructo  mui  saboroso  ali- 
mento, sâo  e  nutriente  ao  homem  e  a  quasi  todas  as  espé- 
cies de  quadrúpedes,  e  de  uso  mais  variado  do  que  a  cas- 
tanha, fazendo  com  o  trigo  e  milho  excellente  mistura  e 
muilo  hora  pão.  Pôde  seguramente  dizer-se,  que  é  impos- 
sível haver  fome  em  um  paiz  abundante  de  pinhões  da  es- 
pécie paKicular  que  a  natureza  produziu  nos  nossos  climas 
frios  ou  temperados  do  interior.  Do  tronco  alto  e  corpulento 
doesta  excellente  arvore,  que  chega  algumas  vezes  a  cin- 
coenta  e  mais  palmos  de  círcumferencia,  tiramos  mui  boas 
madeiras,  muita  rezína  e  vernizes  estimáveis. 

Não  esquecerei  igualmente  a  cultura  das  vinhas  origina- 
rias da  Ásia  e  da  America,  que  ua  Europa  acharam  a  sua 
verdadeira  pátria  por  meio  de  uma  cultura  regular  e  bem 
aperfeiçoada;  pois  nas  terras  de  que  se  trata  existem  situa- 
ções pioprias  para  a  sua  grande  prosperidade.Osjesuitas  cul- 
tivaram vinhas  na  sua  bem  conhecida  fazenda  da  Arasseri- 
guama,  distante  dez  léguas  da  cidade  de  S.  Paulo,  e  faziam 
bou)  vinho.  Esta  cultura  é  para  nós  da  primeira  neoessi- 
dade,  e  tudo  quanto  se  páde  objectar  a  este  respeito  fica 
desprezível  á  vista  do  que  escreveram  o  abbade  Rosier  e  o 
grande  chimico  Chaplal,  e  dos  methodos  por  elles  mesmos 
prescriptos,  para  se  fazer  bom  vinho  de  uvas  imperfeitas  e 
não  bem  sazonadas. 

Quem  sabe  que  cousa  seja  a  uva  na  província  do  Minho 
em  Portugal,  fructo  de  vinhas  bravias,plantadasem  terrenos 
conslanteroonte  encharcados,  levantadas  sobre  carvalhos 
e  castanheiros,  participando  diariamente  dos  demasiados 
ácidos  de  que  abundem  estas  arvores,  a  com  particularir 
dade  quando  estão  em  ceva,  não  duvidará  entregar-se  à 
bem  regulada  cultura  das  vinhas  em  S.  Paulo,  ainda  antes 


Dictzedby  Google 


—  49  — 

de  calculara  quantidade  e  a  qualidade  dos  vinhos  d^aquella 
famosa  proriíicia  ;  a  melhoria  de  que  são  susceptíveis,  e 
immeDsa  riqueza  que  elles  produzem  apozar  do  seu  ínãmo 
preço. 

Mas  dizem  que  esta  cultura  não  pôde  aproveitar  em 
S.  Paulo,  porque  a  vindima  seria  feita  nos  mezes  de  De- 
zembro e  Janeiro,  estação  chuvosa  e  destruidora  das  uvas ; 
e  eu  digo  que  a  espécie  bem  conhecida  com  o  nome  de 
terrantez  resiste  perfeilameate  As  chuvas  mais  copiosas, 
e  que  cultivando-se  esta  espécie,  que  pôde  vir  do  alto  Dou- 
ro, desapparecia  a  objecção.  O  mesmo  se  páde  dizer  do 
verdelho,  a  que  na  ilha  da  Madeira  chamam  de  carapuço,  e 
se  cultiva  bas  alturas  do  norte  e  particularmente  na  Achada 
do  iudeu  da  villa  de  S.  Vicente,  fazendo-se  a  vindima  «m 
Novembro,  apezar  do  frio  e  chuvas  excessivas  e  sendo 
além  d'isto  criadas  as  uvas  sempre  debaixo  do  mais  es  • 
pesso  e  continuo  nevoeiro. 

Se  cultivarmos  pois  vinhas  de  pé,  de  copa  e  latada,  para 
o  que  são  perfeitamente  boas  os  montes  expostos  ao 
nascente  e  meio-dia,  e  abrigados  dos  ventos  frios,  teremos 
muito  bons  vinhos,  ainda  que  não  cheguem  á  perfeição 
dos  melhores  da  Madeira  e  Douro.  Se  os  cultivarmos  sobre 
arvores,  a  que  chamam  vinhos  de  baleeira  e  de  enforcado, 
desfructaremos  uma  copiosa  abundância  de  vinhosmelhoros 
todavia  do  que  os  da  provincia  do  Minho;  uma  e  oulra  cultu- 
ra nos  convém;  mas  para  a  segunda  deque  arvores  nosdeve- 
riamor  servirf.Das  amoreiras,  sem  duvida,  sejam  ellas  em- 
bora pretas,  ou  brancas,  a  que  chamam  rosas  do  Piemonte, 
ou  pardas,  emãm,  da  Hespanha,  eque  foram  transplantadas 
da  Sicilia;  porque  é  preciso  confessar,  que  nenhuma  arvore 
se  tem  achado  até  agora  tão  proveitosa  para  a  criação  das 
vidas  e  perfeição  da  uva  como  a  amoreira. 
No  bello  paiz  que  banha  o  Obío,  e  em  muitas  outras 

TOHO  XX\1    P.    I  7 


Dictzedby  Google 


—  50  — 

TJztDhinças  do  Mississipi,  dilatados  e  vastíssimos  tertenos 
so  offerecem  á  vista  de  todos,  cobertos  de  amoreiris  brancas, 
e  com  filias  enlaçadas  «s  vides,  vegetaodo  d' uma  maneira 
admirável,  e  no  mais  doce  consorcio,  como  producções  de 
mui perfeils analogia. (CuííuraAinericana,  tom.  l''paf.259)- 
Imitaram  os  píemonlezes  a  natureza,  que  até  dos  sertões 
da  America  iostrue  aos  homens ;  aprenderam  as  suas  lições> 
observaram  as  suas  leis,  cultivaram  vinhas  sobre  amoreiras 
brancas,  e  fazendo  passar  com  admirável  artificio  as  vides 
dMmas  para  outras  arvores  reduziram  cada  um  dos  seu^ 
campos  a  uma  espécie  de  jardim,  ornado  de  pirâmides 
e  grinaldas ;  e  d'esta  maneira,  sem  muita  despeza,  e  com 
pouco  trabalho,  melhoraram  prodigiosamente  o  estado  das 
suas  searas :  t6m  muito  bello  vinho  e  fazem  com  facilidade 
a  vindima ;  conseguiram  enriquecer  o  seu  paiz  com  o  excel~ 
lenie  commercio  da  mais  preciosa  seda  da  producção 
européa,  e  que  tanto  invejam  as  outras  nações.  E'  em 
tudo  semelhante  á  cultura  dos  milanezes.  E  não  poderemos 
nós  fazer  o  mesmo,  imitando  a  quem  imitou  a  natureza? 
Merecem  para  este  fim  muito  particular  exame  os  bichos  de 
seda  nascidos  na  America  Septentrional,  dos  quaes  se  alBr- 
ma,  que  produzem  tão  beila  seda  como  a  melhor  e  mais 
afamada  do  Oriente ;  que  n&o  ha  insectos  d'esta  espécie 
tão  fáceis  de  criar;  que  elles  nSo  temem  nevoeiros,  relâm- 
pagos, nem  trovões,  que  em  toda  a  parte  os  destroem ;  e  que 
emfim  cada  um  dos  seus  casulos  pesa  tanto  como  quatro 
de  outra  qualquer  parte.  {Peueliet).  Pôde  ser  que  as  mesmas 
qualidades,  ou  semelhantes,  se  encontrem  nos  bichos  de 
seda  naluraes  do  Brasil,  que  nascem,  crescem  e  fazem 
todo  o  trabalho,  a  que  a  natureza  os  destinou,  indepen- 
dentes da  mào  e  cuidados  do  homem.  Por  que  dura  fa- 
talidade os  nossos  naturalistas  não  tém  examinado  esta 
e  outras  matérias  de  semelhante  importância  ? 


DictizedbyGoOJ^IC 


_  SI   — 

Existem,  por  exemplo,  por  Ioda  a  parte  central  da 
capitaniB  deS.  Pauto,  bosques  immensos  de  jaboticabetras: 
do  seu  bello  e  copioso  fruclo  podíamos  aproreitar,  cada 
amo,  muitas  mil  pipas  de  excellentes  vinhos,  e  aguas- 
ardeDles,  como  a  expeneocia,  ainda  que  nSo  bem  calcu- 
lida,  tem  feito  ver;  e  os  nossos  philosophos  guardam  a  este 
respeito  ornais  profundo  silencio!  Que  independência  de 
commereio  esb'anbo  nos  nio  offereoe  este  simples  artigo ! 
Qoanto  pouparíamos  e  quanto  ganharíamos  na  expor- 
laçiol 

Quanto  a  cultura  cercal,  é  bdl  de  comprehrader,  que 
tniimos  nas  terras  centraes  da  capitania  toda  a  quaniidada 
dos  differenles  grlos,  legumes,  batatas,  e  mais  producções 
tuberosas  que  se  conhecem,  e  que  a  vontade  a  mais  e  ávidg 
pedesse  desejar,  assim  como  dos  fruetos  bortenses :  logo  que 
se  removessem  os  embaraços  que  tém  retardado  a  agricul- 
tara  d^aquelle  paíz  ;  logo  que  o  commereio  livre  se  encar- 
regasse de  consumir  por  preços  racionáveis  as  prodnofõe 
agrarias;  e  li^oemfim,  que  a  mesma  agricultura  se  fixasse 
nos  campos  e  lugares  próprios,  e  se  fizesse  dirigida  pelos  ver 
dideiros  princípios  da  arte,  e  por  meio  dos  instrumentos 
que  a  muito  custo  se  intentaram,  e  nos  paizes  policiados 
servem  para  snpprír  a  falta  de  braços  e  a  fraqueza  natural 
do  homem,  empregada  a  força  dos  animaes  brutos,  princi- 
palmeole  do  cavallo  e  do  boi,  assim  como  dos  elementos, 
entre  os  quaes  é  mais  apreciável  a  agua,  para  tornar 
próprios  do  uso  particular  e  do  commercip  muitos  fruetos, 
que,  depois  de  colhidos,  necessitam  do  uma  certa  manu- 
factura, e  que,  faltando  ella,  ou  valem  pouco,  ou  ficam 
de  todo  desprezíveis. 

Comtudo,  como  o  meu  intenlo  nSo  seja  desenvolver 
quanto  se  pôde  cultivar,  se  nio  o  que  mais  convém  no 
primápío,  e  mais  lucros  carece  á  industria  agraria,  lem- 


Dictzedby  Google 


—  5t  — 

brufli  que  a  cultura  do  liabo  e  cânhamo  é.  absoluUm 
necessária.  Ella  só  produziria  abuadanlissiaus  riqu 
em  S.  Paulo.  Para  ella  se  prestam  com  decidida  vanla 
as  extensas  otargeos  do  rio  Pinheiros,  que  dista  do 
de  Santos  cinco  legius,  as  do  Tamandatay,  e  Tietê, ' 
as  do  Hugy  das  Cruzes,  seis,  as  do  Jundiay,  quinze,  e 
fim  as  do  Paraíba,  ooie.  Doestes  lugares  unicameote, 
fallar  d^oulras  muitas  sítuafõea  accommodadas  ao  ÍDt( 
nem  lembradas  as  terras  da  marinha  e  da  Curitiba,  de 
já  fiz  menção,  todas  em  geral  capazes  da  projectada 
lura,  podiamos  tirar  anntialmente  abuudantissimas  colh 
de  linho  e  cânhamo  para  as  nossas  fabricas,  com  se 
para  mui  rico  e  importante  commercio :  pois  além 
outros  paizes  da  Europa,  que  precisam  d'este  género 
não  podem  haver  das  próprias  terras,  a  Grã-Bretanh^ 
menle,  que  todos  os  annos  paga  por  elle  i  Rússia  | 
cipalmente,  4,000,000  de  Libras  esterlinas,  nos  cOmp 
de  muito  boa  vontade  todo  o  resultado  da  nossa  cul 
por  isso  mesmo  que  a  navegação  do  Brasil  lhe  será  se 
mais  lucrosa  que  a  da  Rússia,  e  ao  mesmo  tempo 
fácil  e  menos  perigosa.  Tem-se  favorecido  (e  nSo 
grande  despeza  da  real  fazenda)  esia  espécie  de  cu 
no  Rio-Grande  de  S.  Pedro  do  Sul ;  e  desgraçadan 
se  roallogrou  a  empreza.  Se  ella  se  Qzosse  em  S.  P 
outros  seriam  os  resultados.  O  Rio  Grande  é  muito 
paiz;  quando  porém  fosse  mais  fértil  de  que  a  Guri 
o  que  na  minba  opinião  passa  pelo  contrario,  verifícam 
o  mesmo  a  respeito  d'outras  muitas  terras  da  capit 
sempre  o  commercio  ha  de  achar  mais  diOiculdade 
aquelle  porto  do  que  para  o  de  Ubatubs,  S.  Scbi 
Santos,  Conceição  de  Ilanhaem,  Cananéa,  Igudpe  e 
Q^iguá,  que  todos  existem  ua  latitude  austral  do  23 
slé  20",  com  suJIicienlcs  caminhos  para  o  iulorior. 


Dictzedby  Google 


—  S3  - 

cootrario,  o  Rio-Gramle  fica  a  33* ;  a  stia  barra  é  pesráua, 
mais  ásperos  os  mar^s  e  mui  tormsjitoso  o  rÍo,  cuja 
navegai^o  de  sessenta  léguas  alé  Porto-Àl^^  eonsome 
não  poucas  vezes  quarenta,  cincoenta  6  mais  dias  de  assí- 
duo e  pesado  Irabalho ;  é  força  que  se  faça  em  pequenas 
embarcações,  que  exigem  grandes  fretes,  de  maneira  que 
os  géneros  navegados  para  a  Europa  são  absorvidos  em 
não  pequena  parte  pelos  dilos  fretes,  e  mais  gastos  insepa- 
ráveis das  escalas,  se  o  commercio  se  fizer  por  meio 
de  interpostos.  Eis-aqui  a  razão  por  que  a  dita  cultura 
prometie  maiores  vantagens  nas  (erras  de  S.  Paulo,  onde 
entraremos  logo  em  concurrencia  com  a  Rússia,  e  depois 
de  bem  regulada  a  nossa  cultura  nos  faremos  muito  su- 
periores ;  e  tanto,  quanto  o  nosso  paiz  é  mais  productor 
do  que  podem  ser,  apezar  de  qualquer  industria,  aquelles 
terrenos  amortecidos  pelas  neves  e  ventos  frios. 

Não  trato  da  cultura  d'outras  espécies  de  linho,  que 
se  conhecem  no  Brasil,  como,  por  exemplo,  o  produzido 
pela  palmoira  ticum,  e  polo  coqueiro  macauba,  cujos  cdcos 
produzem  muitos  e  excellonles  azeites  para  a  mesa  ;  por- 
que, feita  a  devida  reflexão,  se  achard  que  esles  linhos 
procedem  das  folhas,  e  que  estas  plantas  privadas  d'um 
dos  principaes  orgSos  da  sua  vegetação,  não  sei  se  em 
pouco  tempo  se  (ornarão  inúteis  e  incapazes  de  produzir 
folhas  e  fructo,  ou  linbo  e  cucos;  são  artigos  curiosos, 
e  como  taes  se  devem  tratar,  emquaato  não  forem  bem 
calculados. 

Passo  em  silencio,  da  mesma  forma,  a  cultura  d'outras 
producções  e  fructos,  posto  que  muito  recommeodaveis, 
como  o  café  e  algodão,  que  nas  terras  quentes  da  capitania 
são  de  superior  qualidade ;  o  anil,  que  por  si  mesmo 
se  ropruduz  annualmcnio  om  muitos  lugares,  e  quasi  gu* 
ralmcnte  pur  toda  a  partu  ;  as  diversas  o  finíssimas  painas. 


Dictzedby  Google 


—  54  — 

de  qcM  podisinoa  tirar  largss  ooDTeniencías ;  finitme 
do  tabaco,  assnear,  podiamos  tirar  muita  riqueza  ;  se 
certo  qt»  a  cuUnra  do  assuor  em  nenhuma  outra  [ 
se  faz  com  maia  vanlaisem  do  que  em  Itú,  nas  Campi 
6  em  Jundiay,  lugares  dos  qaaes  uma  dada  porçãc 
caoaaa  de  igual  peso  produz  o  dobro  do  assucar  qut 
pôde  fabricar  nos  eogenhos  d'esta  capital,  e  nasce  na 
tade  do  terreno  que  para  isso  6  aqui  destinado. 

Todas  estas  culturas,  e  outras,  ou  já  conhecidas. 
ainda  nâo  experimentadas  e  estranhas,  por  isso  me; 
do  nosso  commercio,  hèo  de  prosperar  com  o  tempo 
sombra  das  primeiras,  logo  que  a  sua  utilidada  fAr 
conhecida,  e  a  agricultura  entro  nós  achar  aquella 
mação  qae  lhe  prestavam  os  antigos,  que  a  reputt 
como  uma  dadiva  celeste,  a  primeira  das  artes  e  a 
interessante  de  todas,  ou  como  se  exprime  Cicero.  — 
ntum  rerum,  ex  qtiibtis  altquid  acquiritur,  nihil  est  i 
GUÍfura  utiliuí,  nihil  liberiua,  nihil  homine  libero  digi 


DiS  CAUSAS  QUE  TEM  RETARDADO  O  PROGRESSO  DA  AGRICUl 
EH  8.  PAULO 

Mas  como  se  poderá  comprehender,  dirá  alguém, 
um  paiz  dotado  de  tanta  fertilidade,  d'uro  clima  tão  ai 
e  saudável,  cujos  habitantes  e  naturaes  são  fortes  e 
rosos,  e  amigos  do  trabalho,  não  tenha  podido  fazer  a 
prc^resso  memorável  na  carreira  da  fortuna,  que  lhe 
mettia  a  sua  agricultura?  Primeiramente  nSo  pôde  1 
tar-se  pela  agricultura  aquelle  paiz  que  ainda  no  berço  ] 
todos  os  dÍBS  uma  grande  parte  da  sua  povoação 


Dictzedby  Google 


guerras  destruidoras  em  lugares  remotos  e  desertos,  e  por 
iQultiplicadas  coloniss,  que,  sem  calculo,  envia  todos  os 
ânuos  i  grandes  distaacias,  e  sem  relação  co  m  a  mâi  pátria. 
Depois,  o  comtnercio  acanhado  e  mesquinho  áis  frotas^ 
que  fioalisou  em  1765,  conhecia  apenas  os  portos  de 
Pernambuco,  da  Bahia  e  do  Rio  de  Janoiro :  não  tíoba 
narios  bastantes  para  o  transporte  de  lodos  os  géneros 
que  se  cultivavam  nas  difTereates  capilauías  d'este  vasto 
coolinente:  faltava  aos  mesmos  navios  o  tempo  necessário 
para  se  desligarem  do  chefe  que  os  comraandava,  para 
fazerem  as  suas  especulações  mercantis  em  outros  lugares 
mais  longínquos,  e  para  voltarem  opportunamente  aos  por- 
tos, dos  quaes  deviam  ser  comboiados  para  Europa:  todas 
estas  circomstancias  toraavam  necessariamente  inúteis  os 
trabalhos  agrários,  superiores  ao  gasto  e  consumo  do  pró- 
prio paiz  nativo  ou  productor,  em  beneficio  particular 
d'aqueltes  portos  privilegiados. 

A  abertura  da  estrada  de  Minas-Geraes,  de  &oyaz  e  de 
Nato-Grosso  pela  serra  dos  Órgãos,  a  suspensão  do  governo 
geral  d'aquella  capitania,  a  vontade  cega  de  Godlea  Freire 
de  Andrade,  depois  primeiro  conde  de  fiobadella,  que 
a  govetnava,  ou  antes  maltratava  de  longe,  e  queria  por 
todos  os  modos  augmentaro  Rio  de  Janeiro;  o  espirito 
do  monopólio,  emfim,  que,  sendo  mortal  inimigo  do  com- 
mercio,  é  a  jóia  mais  ambicionada  pola  maior  parle  dos  conu 
merciantes,  e  havia  estabelecido  o  seu  funestíssimo  throno 
n^esta  capital,  acabaram  de  destruir  ledas  as  relações  mer- 
cantis da  referida  capitania  com  a  metrópole,  e  por  con- 
soqueocia  as  bases  da  sua  agricultura  e  prosperidades. 

Õual  outro  paiz  poderia  resistir  a  tantos  males?  Pois 
ainda  se  accumularam  nâo  poucos  mais,  que  é  preciso 
referir  em  parte,  e  que  parece  foram  de  propósito  calcu- 
lados para  destruir  inteiramente,  não  digo  povos  ainda 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  Se- 
na inraneia  dos  primemos  estabelecimentos,  mas  encai 
eidos  na  prudência  do  governo  e  na  mais  perfeita  inilust 
de  todas  as  artes. 

O  cMDmercio  libertado  do  monopólio  das  frotas, 
morte  de  Bobadella  e  o  restabelecimento  do  governo  g 
são  três  acontecimentos  muilo  memoráveis  na  bislõrit 
capitania  de  S.  Paulo,  verilicados  quasi  ao  mesmo  len 
e  dos  quaes  deveria  ella  esperar  grandes  mudanças  na 
fortuna :  os  males,  porém,  que  a  tinham  opprímido  ne( 
silavam  remédios  mais  efiicazes,  isto  é,  melhores  e  ir 
sábios  administradores. 

Ho  já  designado  anuo  de  176S  appareceu  em  S.  Pa 
o  morgado  de  Mathcus,  D.  Luiz  António  de  Sousa,  rev 
tido  do  cargo  de  governador  e  capilâo-general.  Em  cot 
quencia  das  sabias  instrucções  que  lhe  dera  o  marq 
de  Pombal,  mandou  elle  examinar  a  confluência  e  ni 
gação  dos  dois  rios  da  Curitiba,  o  Iguaçu  e  o  Ivay, 
ao  depois  90  chamou  de  D.  Luiz,  e  bem  assim  do  Igati 
em  cuja  margem  septenlrional,  e  na  distancia  de  sess< 
léguas  de  apartamento  do  famigerado  sitio  das  Sete  Quéi 
a  rumo  de  Oeste,  se  eregiu  a  praça  de  Nossa  Senhora 
Prazeres,  em  um  lugar  vantajoso,  e  agradável,  pela  bel! 
dos  seus  matos  pelas  costas,  ferlilissimos  e  exlensissii 
campos  pela  frente. 

Olhava-se  para  esta  praça  como  origem  certíssima 
grande  commercio  e  prosperidade,  nem  d'outra  sorte 
divisavam  as  duas  mais,  para  cuja  edificação  se  hav 
tomado  medidas  praticas  e  bem  dispendiosas ;  e  o  dito 
vernador,  desenvolvendo  grandes  vistas  politicas  e  mil 
ro9,  intentava  levantar  a  primeira,  na  margem  meridit 
do  Ivay,  e  no  mesmo  sítio  onde  existira  Vitia  Rica, 
os  nossos  destruíram,  para  reivindicar  o  paiz  de  m 
paçío  bespanhola,  e  a  segunda  na  entrada  dos  cam 


Dictzedby  Google 


—  67  — 

de  6afa{Kiav«,  «Booatando-se  á  maif«n  septentrioDnl  do 
Iguaçu. 

Seguravam  eslas  praças  as  nossas  antigas  possessões  até 
á  Assumpção  do  Paraguay,  s  em  repugnância  do  Tratado 
de  limites  de  1700^  fechavam  aos  hespanbóes  três  porias 
francas  para  entrarem  muito  a  seu  salvo  nas  capitanias 
de  S.  Paulo,  Gojaz  e  Minas-tieraes,  e  só  faltavam  ao  nosso 
socego  e  perfeita  segurança  semelhantes  providencias  a 
respeito  da  navegação  do  rio  Paranãpanema,  e  da  pas- 
sagem dos  morros  do  imbotetyu,  situados  na  vizinhança 
do  preaidio  da  Nova  Coimbra:  outras  duas  portas,  qno 
com  u  tempo  e  a  exemplo  das  primeiras  emprezas  se 
devwiam  ler  ha  muito  fechado,  ao  menos  com  a  povoação 
do  imporlantissimo  sitio  de  Capuãn  e  da  bem  propor- 
ãúnada  e  necessária  guarnição  d'elle. 

Com  eSeito,  do  estabelecimento  das  ditas  praças  n'8- 
quellas  lugares  ermos  e  remotos  teria  certamente  resul- 
tado a  creaçAo  d'oalras  tantas  povoações,  ao  menos  de 
moltípUcadas  estancias  para  a  educação  dos  gados,  <iue 
nos  teriam  ha  muito  offartado  largas  conveniências  e  meios 
b«o  proporcionados  para  a  domesticidade  dos  Índios  que 
habitam  aqueltes  sertões,  e  que  com  brandura,  tralocivíl 
e  ameaças  a  pnpoeito  teríamos  attrahido  em  grande  parte 
ao  noBso  partido  e  amizade ;  e  Qnalnwnte  para  o  com- 
mercio,  que  podíamos  ter  introduzido  no  Paraguay,  no 
UrDguay,  e  grande  parte  do  Peru,  até  ás  minas  do  Potosi, 
que  táes  eram  indubitavelmente  as  vistas  do  grande  e 
íUusirisBÍmo  Pombal. 

Mas  este  grande  projecto,  assim  bem  oi^nisado  e  bem 
prínàpiado,  por  uma  desgraça  incomprehensivel  se  trans- 
tornou em  fura  perda  fla  infeliz  capitania  de  S.  Paak>; 
porque,  suecedeodo  no  seu  gpverno  em  177S  Marlim  Lopes 
Lobo  de  SaldaiAa,  vaidoso  e  inimigo  do  antecessor,  des- 
TOMO  XXXI,   P.   I.  8 


Dictzedby  Google 


tntraqaaDtoeUehanaprincipisdo.  Foi  s  ^ça  dos  Pnzares. 
por  falta  de  soccorros,  como  da  propósito  entregue  aos 
hespanhóes,  e  desfeita  a  povoação,  que  já  contava  qnasi 
dei  annos,  perecendo  uma  parte  dos  colonos  á  fome, 
oa  Tolta  para  a  pátria  e  reduzida  a  outra  á  maior  e  total 
indigeocia :  ficaram  impunidos  estes  factos,  porque  são 
mui  poucos  03  qae  se  não  podem  revestir  de  formosos 
ornatos  e  enganosas  c6res. 

Dormiram  os  outros  gOTM-uadores  até  agon  sobre  pontos 
tão  'essenciaes  da  sua  mais  particular  obrigação,  nem  corri- 
giram o  mal  lercivet  e  de  péssimas  fionsequeocías,  feito 
pelo  dito  Martim  Lopes,  ou  pela  junta  da  fazenda,  debaixo 
da  sua  direcção,  e  presidência,  estancando  a  navegação 
iivre  do  rio  Cubatão  para  a  villa  de  Santos,  pelo  ostabe- 
cimento,  sem  lei  e  sem  ordem,  do  mais  absurdo  contrato 
real,  compellindo  os  lavradores  e  commerciantes  a  nave- 
garem os  seus  géneros  e  elTeitos  nos  poucos  barcos  que 
se  fecharam  D'aqueUe  porto,  cada  vez  mais  insufficwutes  ao 
lim  proposto :  de  sorte  que  muitas  vezes,  por-  espaço  de 
oito  dias,  são  retidos  os  comboieiros  com  as  suas  bestas 
mortas  á  fome,  e  prejuízo  das  mercadorias  expostas  ao 
tempo,  esperando  pela  occasião  do  seu  respectivo  em- 
barque, impacientes  por  não  poderem  reo^er  os  retornos 
para  o  seu  penoso  trafico.  E'  claro  que  n' estas  circum- 
stanciasa  agricultura  e  o  commercio  nSo  podiam  crescer 
além  da  regra  ou  da  quantidade  da  exportação. 

Tornou-se  mais  gravoso  ainda,  e  peior  o  mal  pelas  impo- 
sições feitas  no  tempo  d'outro  governador,  subindo  cada 
arroba  de  qualquer  género  á  pensão  de  oitenta  réis,  não 
augmentados  os  meios  necessários  para  mais  ampla  expor- 
tação. Muitos  dos  ditos  govwnadUres  até  agora,  m^lw- 
do-se  a  dirigir  por  minuciosos  regulamentos,  estranhos  da 
sua  jurisdicção,  e  absolutamente  contrários  ao  systema  do 


Dictzedby  Google 


eemmeroio,  que  uão  floresce  jamais  sendo  destitaido  da 
pleaa  liberdade,  que  exigem  as  suas  differeates  opera{ões, 
puzersm  tantos  e  taes  impedimentos  ã  agricultura  e  ao 
commercio,  que  uma  e  oulra  cousa  se  teriam  de  todo 
aniquilado  se  a  fertilidade  e  mais  àrcumstancías  particu- 
lares da  terra  não  podessem  resistir  a  tantos  e  tamanhos 
males. 

A  todos  estes  males  moraes  accrescem  ainda.outros  muitos 
da  mesma  natureza,  e  que  não  deveriam  ter  existido 
jamais,  assim  como  alguns  da  ordem  physica  de  não  diffi- 
cultoso  remédio,  que  nuuca  porém  mereceram  a  mais 
ligeira  reflexão  da  parte  dos  empregados  públicos ;  antes 
os  primeiros  se  tem  aggrarado  todos  os  dias,  polo  mais 
duro  e  tyrannico  despotismo,  cuja  enumeração  particular 
seria  entadonha.  Os  principaes  s&o:  1*,  a  faUa  da  de- 
vida atlenção  ás  mais  justas  representações  dos  pobres^ 
quando  d<zflm  respeito  aos  ricos  e  poderosos;  3*,  a  usur- 
pação da  jurisdicç&o  dos  juizes  pelos  goreroadores,  ta- 
(Hfiies-móres  e  commandantes,  os  quaes,  fatendo  me- 
noscabo das  pessoas  dos  julgadores,  nada  ambicionam 
tanto  como  o  exercicio  tumultuarío  das  funcções,  que 
lhes  não  compelem  e  se  acham  pela  sabedoria  das  leis  con- 
fiadas privativamente  aos  ditos  juizes,  sujeitos  aos  compe- 
taotes  recursos;  3°,  os  casamentos  violentos,  origem  fu- 
nestíssima de  mates  ÍDcaiculaveis,  que  todavia  se  tãm 
multiplicado  por  falsas  idéas,  assim  como  por  um  contraste 
bem  admirável,  tem  sido  constantemente  repellidos  da 
associação  conjugal  muitos  pobres,  por  não  terem  meios 
de  pagar  as  gravosas  dispensas  ecolesiaslicas,  que  augnieQ<- 
tam  e  crescem  por  qualquer  motivo,  e  que  se  deveriam 
fazer  pelo  officio  dos  parochos  de  graça;  4*,  a  violência, 
que  se  (az  aos  milicianos  pobres  de  se  fardarrau  ã  sna 
custa,  não  tendo  meios  nem  proporções  para  o  fazerem. 


Dictzedby  Google 


e  seodo  de  cATallaria  tanto  peior.  E'  iDsis  iiuapwt 
ainda  a  oulra  violência  de  os  obrigarem  a  comparecei 
cidade,  aio  só  para  mostras,  e  exercícios,  que  se  de 
fazer  nas  próprias  freguezías  e  concelho,  mas  para  gusi 
cerem  as  roas  na  procissão  de  Corpo  de  Deus,  e  faiei 
sem  necessidade,  o  serviço  próprio  do  exeroilo  da  prim 
linha,  compellidos  a  jornadas  de  cincoenla  e  sess 
léguas  por  ida  e  volta,  deixando  ao  desamparo  suas  c 
e  famílias,  perdendo  muitos  dias  de  trabalho,  obrigi 
a  despesas  extraordinárias  e  sujeitando-se  muitos  a 
préstimos  e  dividas,  que  ao  depois  não  podem  pagar 
custosos  sacrificios.  Uma  func^jão  d'estas,  ou  uma 
ctssão  loroa-seem  tributo  de  capitação,  posto  qae  dasi 
e  vexatório ;  e  pôde  alfirmar-se  que,  calculada  a  deAcie 
do  trabalho  e  a  despeza  extraordinária  na  iosignifíc 
quantia  de  800  rs.  por  dia,  sobe  a  mesma  capitação  er 
(lias  a  2&:000{j[000  suppondo,  que  a  violência  se 
estende  a  mais  de  2,000  homens,  perda  irreparável. 

E  quem  diria  que  a  fatalidade  inseparável  dos  negt 
de  S.  Paulodeviaaccenderos  fachos  da  guerra  uocontii) 
do  sul,  e  que  a  brava  legião  d'aqaella  cidade  seria  obi 
da  a  desamparar  os  seus  lares,  para  a  defesa  da  pátria 
raslmdo  a  Qdr  da  mocidade  e  os  capitães  mais  liquide 
a  moeda  do  paiz,  para  ser  tudo  consumido  em  outra  p 
com  grande  numero  de  seus  habitantes  e  perda  irrepai 
da  povoação,  agricultura,  commeroio  e  industria  ? 

Queira  a  Providencia  que  este  mal  desappareça  em  pi 
tempo  !  E  que  n'est8  epocha  de  luzes  se  trate  mui  cu 
dosamente  de  remover  ainda  outros  males  gravíssimos, 
atacam  a  povoação  e  a  agricultura  e  dependem  uaicsmi 
das  providencias  do  governo  ou  de  legislação  propr 
aecommodada  ao  intento  i  Consistem  os  ditos  males : 
Na  f«lta  de  professores  de  cirurgia  e  medicioa  pratic 


Dictzedby  Google 


—  «1  — 

^na  necassariameate  se  devem  crear  e  estabelecer  em  cada 
um  dos  concelhos  da  capitania,  para  que  ato  aconteça 
mais  perecerem,  por  falta  de  curativo,  muitas  pessoas  «n- 
tr^ues  a  curandeiros  e  empíricos,  qne,  sendo  devidamente 
tratados,  viveriam  por  muilo  tempo  além  do  termo  fatal 
que  todos  os  dias  lhes  prescreve  a  ignorância.  Esta  provi- 
dencia é  (ão  necessária  que  parece  inseparável  da  toda  a 
associação  civil,  assim  como  a  outra  de  um  hospital  para 
asylo  dos  pobres.  Como,  na  verdade,  sem  estes  meios 
podwão  viver  os  pobres,  a  quem  ludo  falta  t  2."  Ha  outra 
falta  tio  fácil  de  remediar-se,  do  uso  e  administração  da 
vacciíu,  objecto  de  simples  curiosidade  e  {{ue  devia  servir 
de  meio  efficaz  para  atacar  a  terrível  enfermidade  das  be- 
xigas, que  tem  causado  o  maior  terror  aos  nossos  paulistas, 
devorando  grande  parle  da  povoação.  Aos  parochos  e 
dois  homens  principaes  do  cada  uma  freguezia  se  deveria 
incumbir  o  trabalho  de  vaccinar  todos  os  domingos  os 
crianças  necessitadas  d'este  quasi  divino  soccorro,  sendo 
dirigidos  por  um  pequeno  regulamento  e  sendo  obrigados 
lodos  os  pais  de  família  a  fazerem  vaccinar  seus  filhos,  de- 
baixo de  certas  penas  pecuniárias :  pôde  ser  que  fosse  mais 
conveniente  (mas  deixo  isto  ao  pensar  dos  ptofessords  de 
madicina]  que  na  oceasifto  do  baptismo  se  administrasse  a 
vaccina.  3."  Ha  um  outro  mal,  talvez  mais  funesto  do  que 
o  das  bexigas,  que  devora  grande  parle  da  povoação  do 
Brasil  e  com  mais  particularidade  nos  paizes  frios,  como 
S.  Paulo,  e  tal  é  o  sarampo,  a  cujo  respeito  só  me  é  licito 
ponderar  a  necessidade  de  serem  convidados  os  professores 
de  medicina  a  formarem  algum  directório  circumstanciado 
para  o  competente  curativo:  elle  seria  de  muito  proveito  em 
um  paiz  que  por  muitos  annos  ha  de  carecer  de  medieos  e 
cirurgiões  sufficientes  em  numero,  e  recommen  dáveis  peta 
instntcijão.     Existe  ainda  uma    4'  cousa  de  enfermidades 


Dictzedby  Google 


—  C3  — 

variadas  e  de  díffereotes  espécies  em  lodos  os  paizes,  é  das 
quae^  não  eslá  de  todo  livre  a  capitania  de  S.  Paulo,  a 
saber,  as  provoníeDles  dos  eStuvios  pestíleaciaes  dos  lagos 
e  immediações  dos  nossos  rios. 

É  preciso  que  a  sã  politica  faça  pouco  a  pouco  desappa- 
recer  esta  origem  de  inoommodos,  molestías  e  mortalidade, 
por  exemplo,  a  várzea  do  Carmo,  inferior  á  cidade,  cobriu- 
do-sedas  aguas  do  Tamandalay.que  podiam.segundo  penso, 
correr  livremente  pnra  o  Tietê,  seudodeseccada  por  meio  de 
dilTerentes  valias,  não  atacaria  para  o  futuro  a  dita  cidade 
com  nevoeiros  importunos,  humidades, defluxos  e  rheuma- 
tismo;  os  seus  habilaates  desfructariana  a  mais  perfeita 
saúde  e  a  mesma  várzea  lhes  subminislraria  muitos  e  excel- 
lentes  prédios  de  lavoura,  que  melhorariam  ainda  o  clima 
V  que,  sendo  vendidos  ou  aforados  em  proveilo  do  conce- 
lho, bem  podiam  ser  origem  de  outras  bemfeitorias  pro- 
veitosas. 

Darei  fim  a  este  importaniissimo  capitulo  faltando  das 
formigas.  Este  insecto  voracíssimo  nos  faz  em  toda  a  ei- 
tensio  do  Brasil  a  mais  cruel  e  desapiedada  guerra,  e  são  as 
terras  de  S.  Paulo  feridas  doesta  inexorável  praga.  Exige  o 
bem  geral  da  agricultura  que  se  remova  tão  prejudicial 
impedimento  ao  seu  feliz  progrosso.  É  preciso  que  postu- 
ras geraes  declarem  os  povos  sujeitos  ao  trabalho  da  eitinc- 
çno  das  formigas,  que  não  haja  privilegio  a  este  respeito, 
que  os  ricos  e  pobres,  á  proporção  dos  seus  haveres,  tra- 
balhem para  este  importaniissimo  âm,  concorrendo  para 
elle  com  dinheiro,  o  trabalho  pQssoal  dos  escravos,  ou  jor- 
naleiros ;  que  entre  os  mezes  de  iulho  e  Agosto,  os  mais 
livres  do  peso  da  lovoura,  o  quando  as  formigas  ainda  se 
conservam  nas  suas  panellas,  para  enxamearem  com  as  pri- 
meiras aguas,  se  designe  o  espaço  de  20  dias,  pelo  menos, 
para  o  trabalho  que  a  todos  deve  ulilisar ;  que  se  d 


Dictzedby  Google 


10  mesmo  tempo  inspectores  TÍgila  ates  para  a  direcção  dos 
trabalhos,  e  que  estes  prÍDCípiem  á  roda  das  povoações,  e 
continuem,  sem  internipção.  por  todas  as  terras  do  cada 
um  dos  concelhos,  especificando-se  as  mais  circuinstancias 
que  se  acharem  próprias  de  matéria  táo  ponderosa.  Re- 
moTÍdos  assim  todos  os  embaraços  impeditivos  da  agricul- 
tura e  povoação,  crescerá  a  passos  laicos  uma  e  oub'a  cousa, 
eS.  Paulo  seri  feliz. 

É  para  admirar  que  a  agricultura  assim  vexada  e  oppri- 
mida  produzisse  no  anno  de  1607,  ao  qual  respeita  o  ul- 
timo calculo  que  pude  ver,  aexportaçSo  de  496;i09jí4â0, 
regulados  os  effeitos  pelos  seus  preços  originários  e 
exportados  em  95  embarcações,  que  sabiram  do  porto  de 
Santos.  Talvez  que  a  somma  da  exporlaçio  integral  ex- 
cedesse o  dobro  do  valor  calculado,  se  nVUe  se  meDcionasse 
a  importância  doouro,dos  diamantes  e  mais  pedras  preciosas 
que  gyram  no  commercio  legal  e  clandestino,  observando-se 
que  o  quinto.do  ouro  produziu  em  1806  a  quantia  de 
2:3698783,  e  que  os  rendímeatos  teaes  chegaram  no  mesmo 
anno  a  lâa:710|910. 

Pertence  agora  á  equitavel  prudência  e  imparcial  sabe- 
doria do  governo  de  Sua  Alteza  Real  a  não  pequena  gloria 
de  curar  os  mesmos  males,  fazendo-os  arrancar  pela  raiz, 
para  que  não  produzam  mais  os  seus  perniciosos  elTeitos ; 
neoD  para  outro  fim  os  teria  eu  referido,  pois  que  a  minha 
intençio  não  foi  jamais  molestar  pessoa  alguma. 

CAPITULO  IV 

DAS  PROVIDENCIAS  NECESSÁRIAS  PARA    A  DEFESA   DA    CAPITA- 
NIA,  TANTO    POR   MAR  COMO   PQIl    TERRA 

Itão  basta  extirpar  erros  e  destruir  abusos,  restituindo  a 
agricultora  e  o  commercio  á  sua  nativa  dignidade  e  natural 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  M  — 

É  necessário  ainda  que  o  goTemo  fafs  ostros 
beoa,  rinaaodo  primeiro  em  solidas  bases  a  sua  segwança 
exleraa,  e  promovendo  por  todos  os  meios  a  commodaeiis- 
tencia,  a  industria  e  as  virtudes  dos  povos. 

A  defesa  das  costas  maritimas  e  dos  portos  da  capitania 
depende  do  plano  geral,  comprebensivo  de  todo  o  Brasil, 
e  n'elle  entra  sem  duvida  o  necessário  estabeloeimento  da 
marinha  real,  com  o  dos  fortes,  praças  e  fortalezas  nos  lu- 
gares proimos  e  cooTenientes :  operações  difficultosas,  que 
exigem  ^andes  cabedaes  e  que  só  o  tempo  e  a  industria 
nacioiía)  poderSo  formar  potico  a  pouco. 

Outro  é  o  systema  que  respeita  ao  interior  e  ás  nossas 
fronteiras  limitrophes  com  os  hespanhoes,  os  quaes  por 
toda  a  parte  nos  cercam,  avizinhando  com  as  nossas  me- 
Hiores  provincias,  por  nSo  dizer  com  todas,  como  nos  acon- 
tece na  Europa.  Se  as  nossas  vastas  possessões  se  acham 
pela  maior  parte  ermas  e  despovoadas,  isto  mesmo  se  veri- 
fica a  respeito  d'elles,  e,  ainda  que  superiores  em  forças, 
hão  de  succumbir  sempre  nos  seus  planos  de  ataque,  logo 
que,  mais  industriosos,  formos  estabelecendo  BS.basesefun- 
dameotos  da  nossa  defesa  petos  sítios  jà  lembrados,  e  se- 
gurarmos os  nossos  limites  do  llruguaj*  e  Paraguay,  já 
em  muitos  lugares  torpemente  violados,  e  franqueando  ao 
mesmo  tempo  a  navegação  dos  sobreditos  rios,  por  cujas 
margens  se  deveriam  estabelecer  -pequenas  aldéas  com  a 
competente  artilheria  e  armamentos  necessários,  contra  as 
tentativas  da  naçfto  confinante  e  invasão  dos  selvagens,  que 
hão  de  necessariamente  receber  mais  docilidade  e  alguma 
industria  dos  bons  engenhos  dos  seus  novos  e  melhores 
vizinhos. 

Estas  operações  são  de  absoluta  e  indispensável  necessi- 
dade, e  ellas  mesmas  nos  subministraríam  meios  fáceis  para 
estender  os  nossos  limites  e  co)local-os  em  toda  a  extensão 


D,:,ll,;cdtv  Google 


—  65  — 

na  msi^enu  oríaotal  do  Paragusy,  cuja  navegação  é  natural- 
mente cominum  a  ambas  as  nações.  Seria  para  desejar 
que  o  mesmo  se  permitlisse  aos  hespanhoes  a  respeito  do 
Amazonas;  assim  a  utitidade  da  navegação  franca  d'e3tes 
dois  rios,  os  maiores  do  muado,  se  tornaria  mui  provei- 
tosa ás  duas  nações.  Presta-se  de  uma  maneira  excellente 
a  esta  idéa  o  famoso  Tietê,  ou  Ánhamby,  cujas  margens, 
de  um  e  outro  lado,  so  estendem  por  quatrocentas  léguas, 
formando  um  paiz  sempre  bello  e  mui  saudável  pelo  cen- 
tro do  cApítania  desde  a  sua  origem  nas  Serras  do  Mar,  ao 
norte  de  Mugy  das  Cruzes,  latitude  austral  de  23"  e  lon- 
gitude 340*  e  53",  até  que  se  vai  confundir  com  aguas  do 
Paraná,  tendo  corrido  para  o  occidente,  curvando-se  sem- 
pre ao  norte,  e  segurando  aos  novos  colonos,  olém  da 
abundância  de  todo  o  género  de  alimentos,  o  meio  muito 
fácil  de  se  enriquecerem  pelo  commercío  do  mel  e  cera, 
dos  bálsamos,  resinas  e  óleos,  outras  tantas  producções 
espontâneas,  abundantes  d^aquelles  sítios,  assim  como  aos 
mármores  e  ágatas  de  variadas  cáres,  e  dos  gados  de  Iodas 
as  espécies,  que  se  podem  crear  na  maior  abundância. 

Nem  as  aguas  d'este  grande  rio  cedem  á  fertilidade  da 
terra,  pois  é  admirável  a  quantidade  dos  peixes  que  n^el- 
las  se  criam,  e  taes  são  entre  os  de  pelle  e  de  espécie  par- 
ticular dos  bagres,  os  jaús,  os  piracambucos  e  os  surubis 
(lie  Ires  qualidades),  todos  grandes,  ou  antes  monstruosos, 
excedendo  muito  ao  peso  de  três  ou  quatro  arrobas ;  dos  es- 
camosos são  mais  notáveis  os  dourados,  piracanjubas  e  pa- 
cupevas.  O  commercio  limitado  que  d'este3  peiíes  se  faz  ha 
muito  tempo  pelo  pequeno  povo  de  Araritaguába,  ou  Porto 
Feliz,  pôde  com  facilidade  proporcion&r-se  ao  maior  con- 
sumo e  produzir  muita  riqueza,  ainda  não  calculados  os 
lucros  semelhantes  que  devem  produzir  as  muitas  espécies 
da  outros  mais  pequenos  de  que  abundam  por  extremo  as 
Tono  XXXI,  p.  I.  9 


Dictzedby  Google 


—  60  — 

ditas  aguas.  É  bem  conhecida  em  Porto  Feliz  a  arte  das 
sa^as  e  methodo  de  seccar  todos  estes  peixes  ao  veato. 
Em  que  parte  do  mundo  se  encontram  meios  tào  super- 
sbundantesede  semelhante  importância  e  facilidade  para  o 
estabelecimento  de  colónias  ou  novas  povoações? 

CAPITULO  V 

DAS  FADRICAS   E   UA>'UFACT(JHAS   EH   GERAL 

Fiigem  05  trabalhos  ararios  o  favor  e  auxilio  da  indus- 
tria fabricante.  Em  quaesquer  circumstancias  pois  em  que 
se  ache  a  sociedade  civil,  o  seja  qual  Íòt  o  estado  da  sua 
agricultura  e  povoação  é  necessário  conceder,  que  os  homens 
tôm  direito  aos  alimentos,  ao  vestuário  e  habitação;  e  este 
direito,  que  procede  immediatamenie  da  necessidade  de  uma 
existência  commoda,  não  admitlo  espaço  nem  pôde  supprir- 
se  pela  simples  esperança  da  abundância  das  commodidadcs 
do  fausto  e  riqueza  das  gerai^õos  futuras. 
:  A  falta  de  povoação  não  pôde  remediar-se  em  um  mo- 
mento ;  éa  obra  dos  tempos  e  das  circumstancias  bem  di- 
rigidas ;  se  a  agricultura  augmenta  a  povoação  c  lhe  dá  uma 
doce  e  agradável  existência,  não  pôde  negar-se  que  as  artes 
e  as  manufacturas  sejam  dotadas  de  semelhante  força  o 
poder ;  todo  o  ponto  consiste  em  que  o  lavrador  e  o  artista 
achem  cousumidores  aos  fructos  da  sua  particular  indus- 
tria por  um  preço  que  recompense  os  seus  respectivos  tra- 
balhos e  lhe  oflereça  vantajosas  commodidades. 

Estas  commodidades  são  procuradas  pelo  commercio.logo 
que  elle  com  mão  liberei  e  bemfeilora  oíTereça  aos  artistas 
e  fabricantes  os  fructos  variados  da  agricultura  e  as  maté- 
rias brutas,  a  que  elles  vãodar  nova  existência  e  multi- 
plicados valores,  e  aos  lavradores,  as  producções  da  arte. 


Dictzedby  Google 


—  67  — 

que  não  podem  adquirir  da  própria  industria  e  que  seriam 
obrigados  a  mendigar  do  estrangeiro,  muilas  vezes  de  inferior 
qualidade  e  pouca  duração,  e  quasi  sempre  por  preços  des- 
medidos e  tendentes  a  absorver  os  seus  mais  rudes  trabalhos; 
sendo  por  isso  mesmo  constrangidos  a  viver  como  exulados 
e  oa  mais  austerapobreza. 

O  autor  do  elogio  de  Colbert  tinha  pois  muita  razão 
quando  disse  que  a  agricultura,  as  manufacturas  e  o  com- 
mercio  pareciam  formar  umacadda  de  benefícios,  e  unir-se 
para  estender  a  povoação  e  as  commodidades  :  Que  Vagri- 
ctUture,  les  manufacivres  et  le  commerce  semblent  former 
une  chaine  de  bienfaiís,  et  3'unir  pour  élendre  la  popula- 
lion  et  kíjouissances.  D'esles  principies  sediriva,  como  da 
sua  mais  pura  fonte,  a  deliberação  que  tomou  o  nosso 
augusto  soberano,  permiltindo  entre  nós  o  livre  estabeleci- 
mento de  (odas  as  fabricas  que  exigem  preferencia  e  de- 
vem logo  eslabelecer-se  na  capitania  de  S.  Paulo,  e  por  toda 
a  extensão  Jo  nosso  Brosil. 

Se  eu  disser  que  na  vastíssima  extensão  doeste  grande  paiz 
não  ha  cHma  mais  próprio  para  o  feliz  estabelecimento  de 
Iodas  as  fabricas  o  manufacturas,  que  se  acham  espailhadas 
peto  mundo,  não  merecerei  por  isso  a  mais  leve  reprehonsSo 
da  parte  dos  bons  conhecedores,  porquanto  elles  não  podem 
ignorar  que  são  impróprias  dos  paizes  demasiadamente 
frios  e  intemperados  aquellas  manufacturas  que  exigem  o  ar 
livre  ;  e  que  não  podem  afTazer-se  aos  climas  quentes  todas 
as  outras  que.  necessitam  de  mais  vigoroso  e  aturado  tra- 
balho, ou  devem  manobrar-se  mediante  um  fogo  vivo.  Es- 
tes inconvenientes  não  se  encontram  nos  paizes  temperados 
e  amenos  ;  e  são  elles  tanto  mais  vantajosos  ás  manufactu- 
ras quando  a  abundância  dos  viveres,  das  matérias  primas, 
das  aguas  e  combustíveis  se  apresentam  com  as  commodi- 
dades que  se  não  podem  negar  ás  terras  de  S.  Paulo. 


Dictzedby  Google 


DAS    FORJAS    E    FERRARIAS 

São  bem  conhecidas  entre  nós  as  ricas  minas  de  ferro 
de  Guiraçoyába  (que  desde  os  tempos  de  D.  Francisco 
de  Sousa,  sétimo  governador  geral  do  Brasil,  tãm  feito 
muita  bulba,  sem  neobum  proveito) ;  descobertas  por  AÍFonso 
Sardlnba,  que  a'ellas  estabeleceu  uma  forja  regular  de  mui 
boa  conveniência,  foram  tomadas  para  a  fazenda  real  e  com- 
mettídas  á  admiaistração  d'aquelle  fidalgo,  que,  bavendo-se 
retirado  para  Lisboa  no  fim  do  seu  governo  em  1603, 
voltou  a  S.  Paulo  em  1609  com  o  cargo  de  governador 
e  administrador  geral  de  todas  as  minas  descobertas  e  por 
descobrir  nas  três  capitanias,  do  Espirito-Santo,  Rio  de 
Janeiro  e  S.  Vicente,  e  promessa  do  titulo  de  raarquez 
das  Minas  (que  alcançou  o  neto  do  mesmo  nome)  e  outros 
despacbos,  que  se  deviam  verificar  depois  de  cinco  annos 
de  trabdlbo  com  a  qualidade  de  juro  e  berdade:  fallecendo 
porém  em  1611,  tudo  se  perdeu,  e  pelo  regimento  de  8 
de  Agosto  de  1618  se  entregaram  com  aquellas  todas  as 
outras  minas  á  industria  dos  povos;  mas  opprimidos  com 
o  enormíssimo  tributo  do  quinto.  U'aqueile  tempo  em 
diante  apenas  se  trabalharam  as  minas  de  ouro  e  nenbuma 
pessoa  se  applicou  ao  sproveitameoío  dos  outros  metaes 
inferiores,  porque  não  podiam  supportar,  sobre  as  des- 
pezas  da  exploração  e  subsequente  manufactura,  o  peso 
d^aquella  Imposiçio. 

E'  preciso,  que  se  revogue  o  dito  regimento  n'este  ponto, 
menos  pelo  que  respeita  ao  quinto  do  ouro  (sobre  o  que  não 
faço  alguma  reflexão).  Poderão  assim  trabalhar-se  aquellas 
minas  com  a  de  Santo  Amaro  e  Pamabyba,  menos  conhe- 
cidas, e  quaesquer  outras  que  se  descubram.  Seodo  certo 
que  diurna  boa  ferraria,  elevada  pela  ('urúa  à  devida  per- 


Dictzedby  Google 


feiçSo,  e  das  dilTerentes  forjas,  que  podem  erigir  quaesqaer 
empreheadedores  conforme  os  metbodos  estabelecidos  pela 
administração  publica,  se  derem  esperar,  além  dos  bene- 
ficios  já  acima  augurados,  semelhanles  conveniências  ás 
que  percebe  a  Suécia  das  56  forjas,  que  se  acbam  esta- 
belecidas DO  seu  território,  e  cbega  annuatmeDle  o  seu  ren- 
dimento a  13,000,000  de  lib.  tom.  no  art^o  simples 
de  ferro  em  barra,  ou  trabalhado.  (Vid.  Peuchet  Art. 
Suécia.)  E'  superior  a  esta  grande  somma  a  outra  do  aço 
da  artilheria,  balas,  etc.  Por  si  mesmo  se  recommenda 
este  ramo  de  industria  fabricante,  e  que  só  depois  de  aper- 
feiçoado poderá  supportar  os  regulamentos  fiscaes  propor- 
cionados aos  da  mesma  Suécia,  sendo  ainda  para  reflectir 
que  as  minas  de  Guiraçoyába  se  fazem  particularmente 
recommendaveis  pela  sua  situação  local  nas  serranias  im- 
medíatas  aos  rios  Iguape  e  Sorocaba :  por  aquelle  podiamos 
navegar  o  ferro,  e  muitos  effeítos  agrários,  por  todas  as 
costas  do  Brasil,  como  fica  notado ;  e  por  este  e  pelos  con- 
fluentes do  Tietê,  Paraná  e  Paraguay  se  pôde  navegar  o 
mesmo  ferro  excedente  dos  nossos  usos  a  todas  as  posses- 
sões bespanbolas,  com  as  convenienáas  que  cada  um  pôde 
fscilmente  conceber. 

A  cidade  de  Calbeiinemburg,  na  Sibéria,  edificada  por 
Pedro  I  e  acabada  peia  imperatriz  Catharina,  sua  mulber, 
será  em  todos  os  tempos  um  modelo  perfeilissimo  d'esta 
espécie  de  industria,  e  a  demonstração  mais  authenlica  da 
sua  força,  para  tirar  da  miséria  uma  província  desgraçada 
e  elevada  á  grande  prosperidade. 


Dictzedby  Google 


-  70  — 
CAPITULO  Vil 

DAS  FABRICAS  PHOPIUAS  DOS  LAVRADORES 

Depois  d'e9ta  fabrica,  que  é  da  maior  importância, 
exigem  particular  cuidado  e  decidida  preferencia  as  quo 
sio  como  inseparáveis  dos  campos,  o  devem  ser  tratadas 
pelos  mesmos  agricultores  e  suas  famílias;  a  saber,  a  ma- 
nufactura do  queijo  e  da  manteiga,  na  melhor  perfeição  ; 
a  da  salgo  das  carnes  e  presuntos  o  decortimeato  das  pelles ; 
sendo  igualmente  recommendavel  p  mui  necessária  a  con- 
strucção  de  toda  a  qualidade  de  moinhos,  para  a  maoofa- 
clura  das  farinhas,  de  que  fazemos  ou  podemos  fazer  uso ; 
dos  azeites,  maceração  dos  linhos  (Vj  a  outras :  após  estas 
se  seguem  os  lilatorios  e  teares  ordinários  de  lã,  de  linho 
e  de  algodão,  e  finalmente  as  de  refinar  assucar  e  restiiar 
aguas  ardentes. 

Estas  duas  ultimas  fabricas  são  importaolissimas  e  do- 
brariam, pelo  menos  em  S.  Paulo,  o  valor  do  assucar  o 
das  aguardentes,  calculado  o  seu  maior  preço  intrínseco, 
e  contemplada  a  diminuição  dos  gastos  feitos  nas  conduc- 
ções  por  torra,  e  fretes  marítimos,  logo  que  se  exportasse 
o  assucar  puro  e  aguardente  do  mais  subido  quilate  e  ele- 
vada  á  perfeição  da  denominada  —  Três  Seis —  e  do  álcool, 
sobre  o  que  dissertou  muito  bem  João  Manso  Pereira  no 
seu  folheto  Memoria  sobre  o  metkodo  económico.  Todas 
as  outras  fabricas  e  manufacturas,  sendo  mais  próprias 
das  cidades,  facilmente  acharão  emprchendedores  logo  que 
se  llies  proporcionem  os  lucros,  e  não  têm  necessidade 
de  tão  particular  vigilância  da  administração  publica. 

(A)  E'  agora  bem  conliecída  a  iDscliíaa  de  Mr.  Clirbleia  para  o 
preparo  do  iinlio,  e  d'eUa  se  deve  lazer  uso. 


Dictzedby  Google 


—  íl  - 

CAPTTULO  Vm 

DO   COHHERCIO  GERAL  DA  CAPITANÍA 

Do  cniDiiiercio,  sobre  as  reflexões  já  feitas,  direi  em 
poucas  palavras  o  que  mais  convém.  E'  preciso  que  as 
leis  da  sua  regulação  sejam,  como  exige  a  razão  em  Ioda 
a  parte,  dirigidas  a  dois  pontos  unícameate,  isto  é,  a  man- 
ter a  boa  fé  das  transacções  e  a  constttuil-o  na  maior  segu- 
rança e  roais  perfeita  liberdade.  Tudo  o  mais  pertence  por 
sua  natureza  á  industria  dos  especuladores,  «empre  dignos 
da  protecção  do  governo,  emquanto  por  meios  honestos 
concorrem  para  a  fortuna  da  sua  pátria.  Criminosos  e 
necessariamente  puníveis,  logo  que  predominados  da  sór- 
dida avareza  intentam  lucros  oppressivos,  fazem  contra- 
bandos escandalosos,  formam  monopólios  (yrannicos,  re- 
tardam  sem  causa  alheios  cabedaes,  ou  se  levantam  com  a 
fazenda  que  se  lhes  confiou. 

Os  direitos  da  sabida  sejam  nenhuns,  ou  sempre  mo- 
derados. Isto  basta,  e  nãoé,  regularmente  faltando,  neces- 
sário que  a  exportação  cresça  e  se.augmente  por  força 
dos  prémios  para  isso  liberalisados  pelo  governo,  como 
na  Grã'Brctanba  se  pratica  sem  necessidade  sobre  muitos 
artigos.  Os  da  entrada  são  mais  arbitrários  do  seu  estabe- 
lecimento e  devem  formar  objectos  sérios  de  mui  severa 
especulação:  fallo  do  commercio  estrangeiro,  ou  não  com- 
prehendido  no  de  cabotagem  dentro  d'esle  paiz,  que  para 
se  ai^^enlar,  e  para  prestar  o  devido  auxilio  aos  trabalhos 
agrários,  necessita  ser  absolutamente  livre  de  todos  os  direi- 
tos de  importação  e  exportação.  Exige  comtudo  a  imparcial 
razão  e  quer  absolutamente  a  justiça  que  os  direitos  de  im- 
porução  exclusiva  da  cabotagem  sejam  pagos  por  uma  só  vez 
e  oáo  rresçam  á  proporção  da  extensão  dos  caminhos  e  das 


DictizedbyGoOJ^IC 


passagens  dos  rios,  ou  serras,  pelo  interior  do  paiz;  porque 
n^isso  desapparece  a  igualdade,  que  a  lei  deve  sempre  guar- 
dar eolre  os  cidadãos.  Não  basta  que  o  panno,  por  exemplo, 
de  que  um  homem  morador  ao  Cuyabá,  ou  uo  Mato-Grosso, 
ba  de  faser  o  seu  vestido,  se  veuda  por  preço  dobrado  do 
que  custa  ua  Babia,  ou  aqui  ao  Rio  de  Jaaeíro,  om  razão 
mesmo  das  tiaasacçóes  mercantis,  gastos  de  cooducções, 
riscos  e  juros,  com  que  vai  sobrecarregado.  Esta  desgraça, 
occasionada  pelo  lugar  e  sitio  da  habitação  em  que  vítb 
o  consumidor,  aâo  deve  tornar-se  ainda  mais  dura  pelas 
imposições  liscaes  de  10,  12  ou  30  */.,  sobre  os  quaes  não 
esquece  ao  mercador  o  calculo  dos  seus  lucros,  pois  que 
em  seu  beneficio  devem  produzir  os  avanços  anlicipados 
no  pagamento  dos  impostos  direitos. 

Os  fructos  produzidos  no  interior  do  paiz  merecem  mais 
favor  á  proporção  da  distancia  d'oode  se  conduzem  ; 
porque  d^ouUa  forma  não  poderão  enurar  em  coocurrencia 
com  aquelles  que  se  cultivam  na  beíra-mar  e  em  lugares 
mais  vizinhos.  Elles  se  tomarão  inúteis  logo  que  desappa- 
recer  a  dita  concurrencia,  proceda  isso  de  causas  phj^sicas, 
ou  puramente  moraes.  Por  tanto,  imposições  taes,  como 
a  do  Gubatão  de  Santos,  serão  sempre  destruidoras  do 
commercio  externo  o  da  agricultura  do  interior;  muito 
principalmeute  ditficultando-se  os  Uansporles  pela  raridade 
e  insuÚiciente  numero  dos  barcos  em  que  se  costuma 
fazer,  e  que  se  não  podem  proporcionar  aos  interesses  par- 
ticulares, acbando-se  r^^lados  pelas  leis  do  moDOpolio. 

Não  é  diíQcultoso  e  seria  muito  conveniente  a  intro- 
ducção  e  estabelecimento  do  commercio,  tanto  do  ferro 
como  de  quaesquer  mercadorias  nacionaes  e  estrangei- 
ras, pelos  nossos  rios,  em  diversas  partes  das  índias  de 
Hespanha,  até  o  centro  do  Peru.  Este  commercio  pôde 
fazer-se  para  os  hespanhoes  com  mais  commodidade  do 


Dictzedby  Google 


—  T8  — 

que  por  otilrn  qualquer  parle,  e  para  nós  com  la^s  ron- 
veDíencías. 

Logo  que  fossem  estabelecidos  mercados,  lojas,  ou  ar- 
mazéns em  Camapuãn,  Forte  Albuquerque  e  ViUa  Maria, 
e  se  exonerassem  de  direitos  uas  alfandegas  d'este  reino 
as  fazendas  para  cllc  destinadas,  ao  menos  dos  primeiros 
annos,  diminuiria,  sem  duvida,  o  commercio  de  Buenos- 
Aj^res  para  a  cidade  da  Assumpção  do  Paraguai,  não  po- 
dendo entrar  em  concurrencia  com  o  nosso,  pelo  eicesso 
dti  mais  de  40  ou  50  por  100,  com  que  se  acharia  onerado. 
Em  tempos  menos  cultos  e  com  bem  acanhados  conheci- 
mentos do  rommercio,  abundava  a  cidade  de  S.  Paulo  de 
praia  estrahida  das  minas  do  Potosi.  E  porque  havemos 
agora  perder  ume  especulação  de  tanto  proveito? 

Também  por  muitos  dos  mesmos  rios  e  pelo  Paraguay, 
que  não  tem  cachoeira  alguma,  podíamos  navegar  em  barcos 
c  jangadas  grandes  e  avultadissimas  quantidades  de  excel- 
lentes  madeiras,  até  Buenos-Aj^res  e  Montevideo,  e  d^alli 
para  onde  mais  convier,  fazendo  assim  riquíssimo  commer- 
cio de  cousas  até  agora  inúteis ;  e  d'elle  procederão  outros 
bens  e  commodidades. 

Nada  mais  seria  preciso  dizer-se  a  respeito  do  commer- 
cio: comtudo  devo  ainda  reflectir  que  o  particular  de 
S.  Paulo  tem,  por  causa  da  posiç&o  geographíca  d'aquelle 
paiz,  natural  tendência  para  as  especulações  do  Rio-Gi«nde, 
e  melhor  ainda  para  Montevideo,  Buenos-Ajres,  Mesdonça 
e  Vai  de  Paraiso,  por  serem  portos  entre  si  os  mais  vizi- 
nhos e  carecerem  os  últimos  dos  géneros  de  que  em 
S.  Paulo exísie  sufficiente  abundância,  nâo  podendo  alguma 
outra  capitania  do  Brasil  concorrer  para  o  mesmo  com- 
mercio com  igual  vantagem. 

E  taes  são  u  assucar,  a  aguardente,  o  (umo,  o  café, 
o  cacáo,  a  baunilha,  a  pimenta  da  índia,  as  carnes  de 

TOMO  XIXI,  P.    1  10 


Dictzedby  Google 


—  74  — 

porco,  o  arroz,  a  farinha  de  mandioca,  u  algodão  eui  rama 
e  (ecidd,  moveis,  para  o  serviço,  ornato  das  casas  e  madei- 
ras de  construcç&o.  A  industria  mercantil  pôde  tornar  pri- 
ratiTos  da  nossa  capitania  quasi  todos  estes  objectos  de 
comroercio,  com  muita  conveniência  e  grande  prosperi- 
dadâ,  até  porque  o  saldo  se  faria  sempre  em  prata,  cuja 
distribuição  daria  á  agricultura  e  aates  a  necessária  energia 
e  augmento  de  que  precisa. 

CAPITULO  n 

DA    POVOAÇÃO   E    COMO    8E    PÔDE    ELT.A    INTRODUZIR    DE    FORA 
E  HAVER    DO' PRÓPRIO  PAIZ 

Nas  circumstancias  actuaes  em  que  se  acha  a  Europa, 
devastada  por  uma  guerra  fatol  e  exterminadora,  e  os  povos 
suspirando  pelo  momento  feliz  de  abandonar  os  pátrios 
lares,  nenhuma  cousa  tio  utíl  se  páde  propilr  d  sabia  con- 
templação do  governo  de  S.  A.  R.  como  o  estabelecimenlo 
d'um  corto  fundo,  ou  de  rendimentos  annuaes  para  paga- 
mento e  gastos  de  passagem  e  estabelecimento  aqui  a  lodos 
03  Lavradores,  artistas  e  mais  homens  de  préstimo,  que  do 
nosso  Portugal,  das  ilhas  adjacentes  de  toda  3  extensão  das 
Mespaohas,  ou  da  poninsula  inteira  da  Itália  e  mais  paizes  da 
Europa  quizessem  passar  ao  Brasil ;  o  mesmo  se  deveria  pra- 
ticar a  respeito  da  índia,  Malaca  e  China.  D' esta  maneira 
apressiriamos  a  passagem  dos  impérios  para  a  America,  o 
que  já  parece  inevitável;  assim  como  evidente  que  esta  parla 
do  mundo  vai  ser  a  principal  e  da  maior  preponderância, 
ou  a  dominante  agora. 

Qualquer  que  fosse  a  despeza  doesta  excellcnte  especu- 
lação e  que  devera  elevar-se,  apezar  de  custosos  sacriJicios, 
ao  maior  ponto  de  grandeza  possível,  ella  não  poderia  ser 


Dictzedby  Google 


—  Y5  — 

olhada  pelos  bons  politicos  como  de  alguma  maneira  pre- 
judicial. Pelo  contrario,  sobre  o  progressivo  augmento  das 
forças  physicas  e  moraes,  coiii  que  nos  veríamos  enrique- 
cidos, e  todos  os  dias  com  melhores  proporç(5es  para  a  nossa 
eiterna  segurança,  os  capitães  despendidos  produziriam 
com  largas  usuras  a  favor  do  erário  régio,  augmentando 
sempre  as  riquezas  e  commodidades  individuaes.  A  adoii- 
DÍstração  dos  fundos  e  todos  os  trabalhos  da  proposta  espe- 
calação  deveriam  conSar-se  ao  zelo  e  cuidados  de  so- 
ciedades patrióticas,  formadas  pelo  governo  e  compostas 
de  homons  que  respeitassem  por  único  pagamento  a  gloria 
de  bem  servir  a  sua  pátria.  A  Grã-Bretanha  ofTerece 
a  este  respeito  modelos  admiráveis  e  dignos,  sem  duvida, 
da  mais  titteral  imitação,  ainda  que  estranhos  d'esta  ma- 
téria. Eu  me  faço  cargo  de  dizer  adiante  o  que  melhor 
convém  a  este  respeito  sobre  a  povoação  de  S.  Paulo  em 
particular,  porque  as  idées  que  acabo  de  expender  são  ge- 
raes  e  comprehensivas  de  todo  o  paíz  que  habitamos ;  e  bem 
poderá  o  meu  plano  particular  applicar-se  a  todas  as  capita- 
nias, como  permitlirem  as  suas  particulares  circumstancias. 

Esta  qualidade  de  povoação,  regulada,  não  só  pelo  acci- 
dente  das  cores,  ou  em  tudo  conforme,  ou  sempre  mais 
análoga  i  nossa,  mas  pelo  essencial  da  liberdade  e  bons 
costumes,  é  a  que  nos  convém;  assim  como  a  dos  ín- 
dios, ou  naturaes  da  terra,  que  a  industria  e  o  trabalho 
devem  pouco  a  pouco  arrancar  dos  bosques,  onde  vivem 
de^açadamentc,  ou  antes  vegetam  da  maneira  mais  es- 
U^nha  da  condição  da  raça  humana, para  se  tomarem  úteis 
a  si  mesmo,  á  religião  e  ao  Estado. 

Os  negros  braços  dos  selvagens  africanos,  que  nos  cus- 
tam importantes  sommas,  cuja  vida  se  estende  na  Ame- 
rica ao  curto  espaço  de  oito  a  dez  aniios  (segundo  os  cál- 
culos bem  reBectidos  dos  melhores  economistas),  que  re- 


Dictzedby  Google 


—  76  — 

eusam  constaatemeDie  o  trabalho,  e  só  conduiidos  pe) 
força,  sem  outro  algum  estimulo  mais,  preenchem 
tarefa  que  ihes  é  imposta  com  a  maior  imperfeição 
de  uma  maneira  incompleta ,  serão  em  qualquer  époc 
fuiura,  o  em  todos  os  tempos,  e  lugares,  meios  despropoi 
cionaHos  para  o  estabelccimoato  da  verdadeira  agricul 
(ura,  das  artes  e  manufacturas  mais  preciosas.  Como,  n 
verdade,  estas  protissões,  dignas  somente  do  bomem  livn 
sendo  tratadas  por  mãos  escravas,  produzirão  a  civilidade 
as  sciencias,  os  bons  costumes  e  o  amor  da  pátria 
Estas  virtudes,  por  certo,  não  cabem  no  curto  e  limí 
tado  património  da  acanhada  e  indigente  escravidão. 

As  republicas  da  Grécia  e  Roma,  lutando  perpelU' 
mente  com  os  seus  escravos,  melhores  todavia  do  qi 
os  nossos,  não  poderam  achar  entre  eltes  s^urança  algi 
ma.  Eiercilaram  crueldades  espantosas,  e  sempre  ini 
teis,  para  dar  á  escravidão  qualidades  que  lhe  não  coi 
vinham,  isto  é,  tidelidade,  industria  o  amor  do  trab 
lho;  e  apezar  de  todos  os  esforços  mendigaram  nos  se 
melhores  dias  por  toda  a  extensão  da  Índia  as  riquissim 
producí^ões  da  engenhosa  liberdade.  São  mui  dignos  i 
particular  reflexão  os  casos  tristes  e  mais  recentes  da  J 
maica,  de  Suriorão  e  de  S.  Dominas. 

Conserve-se  embora  (se  é  honesto  o  conforme  a  razi 
o  commercio  dos  escravos  da  costa  d'Africa,  e  mui 
mais  nos  termos  era  que  mereceu  [com  verdade,  ou  aíTt 
tacão,  não  sei)  charaar-su  de  resgate;  esta  causa  foi  1( 
gamente  discutida,  e  obteve  a  mais  completa  victoria,  p 
meíro  em  Portugal,  que  em  todos  os  tempos  ofTerecei 
Europa  eiemplos  originaes  das  melhores  virtudes,  e  o  ■ 
minho  seguro,  ainda  que  muito  trabalhoso,  de  adqu 
a  verdadeira  gloria  e  chegar  ao  templo  da  immortalidfli: 
e  logo  em  algumas  parles  d' America  do  Norle,  depois  si 


Dictzedby  Google 


-  77  — 

oessiTamenle  na  França,  oa  Dioamarca,  e  einfim  na  Grã- 
Bretanhs.  Porque  razão  pois  me  alo  será  permtttido  dese- 
jar ao  menos  que  no  Brasil  nasçam  livres  os  filhos  dos 
escraros,  e  que  a  escravidão  seja  puramente  pessoal,  ou  o 
triste  premio  d'aquellesque  eita  libertou  da  morte?  A  huma-  . 
nidade,  os  bons  costumes,  a  industria,  a  segurança  interna 
e  a  defesa  exterior  ganhariam  muito  n'esla  feliz  alteraçSo. 

Já  o  Brasil  não  é  uma  colónia ;  serve  agora  de  assento 
«o  m^sloso  throna  do  nosso  grande  monarcha.  Obsec- 
re-se  pois  entre  nós  o  sempre  respeitável  alvará  de  16 
de  Janeiro  de  1%S'1,  em  uma  das  suas  mais  importan- 
tes determinações.  Conviria  talvez  (e  eu  o  creio}  que  os  fi- 
lhos dos  escravos  uascidos  no  seio  da  liberdade  se  con- 
servassem nas  casas  onde  viram  a  luz  do  dia  aXé  a  idade 
de  25  aonos,  recebendo  a  competente  educação,  e  pres- 
tando os  devidos  e  racion  aveis  serviços  que  d'elles  se 
exigissem,  sendo  tratados  como  libertos  úu  orphãos.e  apren- 
dendo um  officio  ou  profissão,  de  que  podessêm  viver 
ao  depois;  o  mesmo  se  deve  dizer  das  libertas  fêmeas,  com 
as  distincções  próprias  do  seu  soio. 

A  mais  exacta  policia  se  deveria  observar  a  este  respeito, 
debaixo  de  um  regulamento  especial:  e  em  tempo  op- 
porluno  teríamos  abundância  de  officiaes  mecânicos,  de 
costureiras,  de  serviçaes,  etc.  E  porque  razão  ainda  não 
será  permittido  ao  escravo,  que  otterece  o  preço  da  sua 
pessoa,  regulado  polo  juízo  publico  dos  avaliadores  dos 
concelhos  e  autboridade  dos  magistrados  territoriaes,  ob- 
ter a  liberdade,  que  lhe  nega  absolutamente  a  huma- 
nidade de  um  senhor  cruel,  ou  muito  difficulta  a  ava- 
reza de  outro,  exigindo  por  ella  o  preço  mais  excessivo? 
Se  a  lei  das  laias,  com  a  designação  do  maximum,  pôde 
admittir-se  em  alguns  casos,  o  de  que  so  trata  certamente 
se  diria  bem  próprio  d'ella. 


DictzedbyGoOgle 


-  7S  - 

Esta  eicepçio  ás  regras  geraes  do  domínio  seria  sempre 
justa,  como  exigida  pelos  mais  sólidos  princípios  de  di- 
reito natural  e  das  gentes,  assim  como  peta  utilidade  pu- 
blica da  sociedade  civil.  Um  exemplo  celebre  nos  vai  con- 
vencer da  justiça  de  uma  e  outra  lei,  e  da  necessidade 
de  se  franquearem  aos  escravos  os  meios  de  que  muito 
precisam  para  obter  a  Uberdade;  este  bem  inapreciável, 
que  fórmn  a  parte  mais  essencial  do  homem  moral,  esem  o 
qual  não  ba  virtude  e  desapparecem  todos  os  princípios  da 
industria. 

£m  um  terreno  da  extensão  de  100,000  acres,  conce- 
dido pelo  governo  britannico  a  M.  Turnbull,  associado 
com  lord  Temple  e  outros,  nas  margens  da  ribeira  de 
Kilbsborough  na  Florida,  se  estabeleceu  em  1767  uma 
colónia,  cujas  despczas  chegaram  apenas  a  30,000  libras 
esterlinas.  Transportou  M.  Turnbull  para  o  lugar  da  sua 
plantação,  quasi  ao  mesmo  tempo,  o  em  oito  navios  gran- 
des, dilTerontes  famílias  grrgas,  com  algumas  italianas 
e  outras  atlemãs,  as  quaes  todas  formavam  o  numero  de 
1,314  pessoas.  Na  passagem,  que  foi  penosíssima,  morre- 
ram muitas;  sendo  porém  mais  os  nascimentos,  na  occesíão 
do  desembarque  contaram-se  cinco  pessoas  sobre  o  nu- 
mero das  embarcadas. 

Estes  colonos  acharam  no  lugar  da  sua  nova  babítação 
boas  casas,  instrumentos  de  lavoura,  a  quanto  era  neces- 
sário para  o  estabelecimento  agrário,  a  que  se  destinavam. 
Elles  deviam  pagar  em  trabalho,  até  a  devida  concurrencia, 
todas  as  despezas  feitas  em  seu  beneRcio,  para  ao  depois 
se  conslituirem  rendeiros  dos  proprietários,  á  meias.  Esta 
pequena  povoação  não  teve  já  mais  escravos,  vivia  em  paz 
apeznr  da  diversidade  das  línguas  e  das  religiões,  gozava 
dos  fructos  da  sua  cultura  e  vendia  desde  os  primeiros 
anãos  9,000  libras  de  anil.  A  outra  parte  do  estabeloci- 


Dictzedby  Google 


—  79  — 

ineiilo  in^ez  na  vizinhança  do  mesmo  lugar,  cultivada  por 
negros,  custou  90,000  libras  esterlinas,  três  vezes  mais  do 
que  importara  a  colónia  de  Hilbsborough  :  o  seu  resultado 
foi  quasi  aullo.  V.is  aqui  justificados  os  cálculos  do  rendei' 
ro  da  Pennsjlvania  e  os  de  Duponl  a  respeito  da  vanta- 
gem da  cultura  por  brancos. 

Peuchet,  que  transcreveu  este  paragrapho  de  uma  me- 
moria do  tempo  ou  coeva  à  colónia  de  que  se  trata,  ac- 
crescenta  do  artigo  Florida  do  seu  Diccionarío  o  seguinte: 
•A  pequena  povoação  recebeu  do  seu  fundador  institui- 
ções que  ella  mesma  approvou  e  que  se  observam.  Em 
o  1*  de  Janeiro  de  1776  eita  tinha  já  cultivado  2,300 
acres  de  um  terreno  fcrtilissimo :  possuia  bastantes  ani- 
mães  para  o  seu  sustento  e  para  o  seu  trabalho :  as  suas 
colheitas  bastavam  para  as  suas  consumações,  e  ven- 
diu  67,500  libras  dennil.  Da  outra  colónia  não  se  trata, 
porque,  não  tendo  sido  renovada  por  casamentos  desgraça- 
dos, como  são  os  dos  escravos,  ou  pela  substituição  do 
outros,  comprados  a  peso  de  ouro,  ha  muito  não  deve  exis- 
tir, pois  já  fíca  reflectido  que  a  vida  dos  negros  se  pro- 
longa na  America  pelo  espaço  de  oito  a  dez  annos.i 

O  exemplo  referido  prova  quanto  eu  tinha  em  vista  e 
quanto  convém  fazer-se:  d'elle  cíim  eíTeilo  se  vi  que  a 
metade  das  67,500  libras  de  anil  ficava  por  direito  pertvn- 
cendo  aos  proprietários ;  e  o  calculo  dos  IHIOOO  por  libra, 
tanto  mais  moderado,  quando  com  elle  se  não  contem- 
plam os  outros  artigos  da  producção  da  colónia,  e  de  cuja 
metade  é  que  deviam  viver  os  colonos,  demonstra  muito  bem 
o  rendimento  aanual,  sempre  em  progressivo  augmento, 
de  33:750||[000  quasi  um  terço  das  30,000  libras,  ou 
108:000|000  capital  desembolçado,  e  que  já  nos  nove  an- 
ãos anteriores  tinha  necessariamente  revertido  para  a  bolça, 
que  o  despendera  com  os  seus  competentes  juros,  o  que  é 


Dictzedby  Google 


-  80- 

racil  de  comprehender,  suppondo  os  rendimenlos  dos  qua- 
tro annos  últimos,  aiacta  que  inferiores,  proporcionados 
ao  de  1775. 

Àccresce  que  os  colonos  se  tinham  obrigado  a  pagar 
em  trabalho  o  capital  desembolçado;  e  se  esta  forma  de 
pagamento,  refluindo  apenas  sobre  -2,300  acres,  mostrava 
tão  vantajosos  rendimentos,  que  se  deveria  esperar  para  o 
futuro,  desenvolvendo  os  colonos  parciarios  toda  n  sua 
força  e  vigor,  sobre  um  terreno  de  100,000  acres?  ii 
no  aano  de  1776  se  não  podia  duvidar  que  o  valor  da 
colónia  excedia  mais'  de  vinte  vezes  ao  do  seu  primeiro 
custo;  e  nenhum  capitalista  da  Grã-Bretauha  duvidaria 
compral-a  por  600,000  libras  esterlinas,  suppondo  que 
os  rendimenlos  respectivos  aos  primeiros  annos,  e  sem- 
pre roais  diminutos,  por  mil  embaraços  náo  cogitados, 
promettiam  para  o  futuro  lucros  permanentes,  e  supe- 
riores a  SO  7>;  principalmente  passados  mais  quinze  annos, 
e  tendo  a  povoação  dobrado,  peia  regra  dos  vinte  e  cinco, 
em  um  paiz  ameno,  fértil  e  saudável. 

Eu  vi  milagres  da  colónia  parciaria,  i  meias,  na  ilha 
da  Madeira,  aonde  terrenos  de  mui  pequeno  vator  e  des- 
prezados, entregues  i  industria  de  pobres  caseiros,  se  ele- 
vavam bem  depressa  á  importância  de  muitos  mil  cruzados, 
logo  que  o  senhor  lhes  fornecia  os  meios  necessários  para 
a  subsistência  dos  dois  primeiros  annos,  obrigando-se 
elles  ao  pagamento  pelos  fructos  da  sua  meiação;  e  ha  muito 
twnpo  que  estou  persuadido  da  utilidade  da  cultura  à 
iueias,  terço,  quarto,  ou  outra  qualquer  ração  moís  equita- 
vel  ainda  a  favor  do  colono. 

Doesta  sorte  de  estabelecimentos  conhecidos  nos  enge- 
nhos de  assucar  d'esta  capita),  sendo  a  regulação  porém 
arbitraria  e  muito  mal  dirigida,  tirariam  os  pobres  mui 
largas  convontencias  ;  elles,  que,  ainda  tendo  abundância 


-DiCtzedby  Google 


de  terras,  aio  po4eni  com  as  despezas  oi^inarias  da  uma 
planlação,  receberiam  os  propríetarios  roaitos  rendimentos, 
a  povoação,  e  o  Estado  novas  forças  e  riquezas. 

Com  a  despeza  de  um  milbSo  de  cruzados  em  otda  un 
aaoo  (bem  íasigoifícante  na  verdade  aos  olhos  de  quem 
observa  o  Brasil,  e  divisa  n^elLe  por  toda  a  parte  maoain- 
ciaes  pereanes  da  mais  abundante  riqueza]  podemos  adquirir 
uma  excellenie  povoaç&o  de  fóra,  e  com  ella  a  industria  e  . 
força,  que  não  devemos  jamais  esperar  dos  negros,  posto 
qne  o  preço  da  acquisiçSo  d'elles  seja  muitas  vezes  maior, 
excedendo  á  enorme  quantia  de  doze  milhões,  como  é 
facit  de  observar. 

Examioemos  mais  a  fundo  esta  matéria,  porque  é  inte- 
ressantissima ;  e  sirva  de  fundamento  ás  nossas  reflexões 
a  nota  de  um  americano  no  art.  1*  da  constituição  da  re- 
publica de  Hassachossetls.  Muitos  dos  emigrantes  da  Ingla- 
terra, da  Irlanda,  da  Allemanha,  etc.  (diz  o  autor),  que 
passam  para  a  America  do  Norte,  não  teudo  meios  para  pa- 
gar passagem,  convencionam  com  os  capitães  dos  navios 
de  os  servir,  e  a  quaesquer  peaioas,  a  quem  elles  cederem 
os  seus  direitos,  por  um,  dois,  três,  ou  quatro  aaoos,  mais 
ou  menoB,  em  lugar  de  dinheiro  :  a  extensão  do  contrato 
regola-se  á  proporção  da  idade  e  dos  talentos  do  criado : 
os  obreiros  mestres  não  contratam  senão  por  mui  limitado 
tempo. 

Os  capitães,  chegando  á  America,  cedem  estas  conven- 
ções de  serviço  aos  habitantes,  que  tém  necessidade  de 
oiados ;  mas  é  necessário '  que  a  cessão  sa  faça  na  presença 
de  um  magistrado,  qne  regula  a  convenção  coaforme  a 
razão  e  a  justiça,  e  que  obrigue  os  amM  ^r  termo  afôíg- 
nado,  que  durante  o  tempo  da  cíuveação  o  criado  será 
bem  e  devidamente  sustentado  e  vestido,  com  habitação 
proporcionada,  ete.  Que  se  lhe  ensinará  a  br,  escrever  ■ 
TOHO  XXXI,  p.  I.  ti 


tvCooj^lc 


—  w  — 

oODtBr,  «  ujna  profissão,  que  possa  procniaE-lhe  parao Tu- 
turo  meios  de  subsislencia :  e  que  emãm,  terminado  o 
tenapo  do  ajuste,  será  o  dito  criado  posto  em  liberdade,  e 
reoeberi,  deixando  o  seu  amo,  um  vestido  doto  e  com- 
pleto, Entrega-se  ao  criado  umo  cópia  da  convenção,  e  fica 
outra  DO  registro  do  juízo  ou  do  magisbado,  a  quem  o 
criado  pôde  em  todo  o  tempo  recorrer,  se  o  amo  o  maltrata 
ou  não  cumpre  exactamente  a  obrigação  a  que  se  sub- 
metteu. 

Este  feliz  costume  facilita  ás  colónias  a  acquísigfto  de 
noTos  habitantes,  e  fornece  aos  pobres  da  Europa  o  meio 
de  se  transportarem  para  um  paiz,  no  qual  aprendem  a  in- 
dustria, que  lhes  segura  para  o  futuro  uma  honesta  subsis- 
tência. Seria  muito  para  desejar  que  o  mesmo  se  prati- 
casse no  Brasil,  ou  ao  menos  em  S.  Paulo  emais  capitanias 
do  sul,  por  serem  mais  análogas  aos  climas  da  Europa,  e 
semelhante  a  cultura  arbórea  e  cercal,  com  a  criação  dos 
gados.  Isto  não  seria  diíHculloso,  logo  que  os  capitães  de 
navios  fossem  convidados  com  um  premio,  além  do  prí- 
oâtiro  ajuste  da  passagem,  rerbi  gratia  de  6^400  pagos  pelo 
Estado  por  cada  individuo  que  desembarcasse  nos  nossos 
portos  em  boa  saúde  e  na  idade  de  7  até  40  annos.  Era 
porém  necessário  que  a  todos  os  protestantes  fossem  con- 
'  cedidos  os  mesmos  direitos  e  privilégios  outorgados  aos 
inglezes  a  respeito  do  culto  e  liberdade  de  consciência 
pelo  art  13  do  tratado  de  commercio  de  19  de  Fevereiro 
do  ODDO  de  1810.  D'este  principio  não  nos  pôde  resultar 
prejuízo  a^cum,  «ntes  muito  proveito,  além  da  gloria  que 
reoeberi»  o  governo,  ostentando-se  verdadeiro  imitador  do 
Divino  Mestre  ^sus  Christo,  que  tudo  soETrea,  menos  o 
fingimento  e  hipocrisia  dos  pharíséos;  e  que  pela  sua  to- 
lerância principalmente  é  por  todos  os  sábios  respeitado 
pelo  mais  completo  modelo  dos  legisladores. 


Dictzedby  Google 


—  83- 

Resullaria  sem  duvida  d'esta  justa  medida,  que  a  emí- 
paçio  dos  pobres  da  Europa  se  faria  aates  para  o  BrasU 
doqoe  para  as  proTÍncias  unidas  da  America  Septeotrional, 
vista  a  decidida  vanlagem  que  tem  este  paiz  sobre  aqnellei 
ou  se  contemple  a  melhor  salubridade  do  ar  e  s  vida  mais 
prolongada  do  bomem,  ou  a  maior  variedade  das  pro- 
ducçOes  análogas  ao  clima,  ou  finalmente  a  sua  maior  fer- 
tilidade. 

Os  pobres  da  Europa  emigram  para  o  norte  da  America 
por  Torça  de  imitação,  o  porque  Ibes  não  è  permitUdo 
amigar  para  o  Brasil.  Se  lhes  íòt  concedido  o  direito  de 
escolha,  elles  de  boa  vontade  virão  desfructar  as  delicias  e 
as  commodidades  que  não  poderão  achar  em  outra  parte, 
o  que  comtudo  desprezariam  na  presença  da  liberdade,  se- 
garaaça  e  propriedade,  que  n'aquelle  paiz  não  sofi^m  o 
mais  leve  attentado,  e  que  se  lhes  deve  offertar  aquí.  Estão 
os  capitães  se  tomariam  nossos  procuradores,  convidados 
ptAo  maior  e  certo  lucro,  desviando  a  emjgraçio  do  norte 
para  o  sul. 

Apenas  se  poderia  perguntar  se  os  nossos  lavradores 
queriam  lavrar  as  suas  terras  antes  com  jornaleiros  do 
que  com  escravos !  Mas,  por  uma  parle  a  falta  de  escra- 
vatura, cuja  exiincçBO  se  acha  estipulada  no  art.  10  do 
sobredito  tratado,  e  por  outra  a  doce  persuasão  que  se  deve 
haver  por  bem  calculada,  que  o  trabalho  do  homem  livre, 
conduzido  pelo  interesse,  é  três  e  quatro  vezes  mais  pro- 
duclor  do  que  o  do  miserável  escravo,  rude  e  forçado;  toma- 
riam a  questão  ociosa,  ou  a  sua  resolução  pela  afirmativa, 
ainda  não  contemplados  os  maiores  capitaes  despendidos 
na  compra  dos  escravos,  e  os  riscos  de  vida,  que  não  en- 
tram na  lavoura  dos  jornaleiros  com  a  mesma  proporção,  a 
são  muito  inferiores. 

Como  porém  se  podem  e  devem  empregar  os  pobres 


DictzedbyGoÒgle 


—  w  — 

ludonaes,  e  também  os  esimtgeirDB,  finalinvlo  o  tompo 
das  cnai  coaTeacõM  servis  ?  O  decreto  de  a&  de  Novembro 
da  f  808  igualou,  é  verdade,  os  estrangeiros  resideotes  do 
Bnsil  aos  rassallos  portugoexes,  ooocadendo-lhes  sesma- 
rias oaoonformidtde  daaraaea  ordeos,  e  sem  differenca 
alguma. 

Este  aabio  decreto  ha  de  produzir  mui  bellas  coosequeo- 
cias,  priocipalmeate  i  vista  do  alvará  de  3&  de  Janeiro  de 
1809,  que  segura  a  cada  um  dos  sesmeiros  a  propriedade 
adquirida  da  maneira  mais  firme  e  superior  a  contendas 
faturaa.  Comtudo  do  beneficio  d'estas  leis  só  os  ricos  na- 
cionaes  e  estrangeiros  podem  gozar ;  isto  é,  aqueltes  que 
I6m  meios  sofficientes  para  as  despezas,  sem  as  quaes  se 
uáo  podem  obter  os  ditas  sesmarias,  e  de  outras  necessárias 
e  mui  quantiosas  á  rotea^So,  amanho  e  cuUura  regulai  de 
um  terreno  de  meia  légua  quadrada  pelo  menos. 

Os  pobres  poràn  nacionaes  e  estrangeiros,  que  intentam 
adjudicer-se  á  industria  agraria  na  qualidade  particular  de 
proprietários,  nSo  acham  protecção  nas  leis  existentes,  e 
Dão'podem  por  isso  mesmo  p&asar  da  classe  de  colonos 
parciarios,  rendeiros  e  partidistas  ;  obstáculo  terrivel  ao 
progresso  da  agricultura  e  povoação  ! !  Este  mal  necessita 
o  mais  prompto  e  effieaz  remédio,  e  conforme  as  idéas  já 
lembradas,  parece  que  consiste  precisamente  na  distribui- 
ção gratuita  das  terras  desoccupadas,  e  que  se  acham  á  dis- 
posição da  corda  e  com  a  devida  proporção  ás  suas  poucas 
forças. 

Reparlam-se  pois  as  ditas  ten-as,  a  saber,  na  beira-mar, 
d'e8de  Ubatuba  até  Paranaguá,  em  lotes  de  50  a  60  braças 
quadradas,  como  eiigir  a  sua  particular  situação  e  especifica 
qualidade ;  e  de  serra  acima  de  100  a  120,  sem  interrupção, 
quanto  fàr  possível,  e  sem  prejuízo  das  competentes  servi- 
dões que  devem  ser  francas ;  seja  a  repartição  incumbida  ao 


Dictzedby  Google 


-f«5  — 

offido  dâs  respectivas  camans  e  da  dois  a^imensores  por 

etia devidaniMiIe eleitos  epagosá  custa  dos  bens  dos  conce- 
lhos :  lambem  derem  ser  os  lotes  demarcados  com  a  precisa 
iadividuação  e  clareza  oo  livro  para  isso  particular  ou  priva- 
tivamuite  designado;  e  recebendo  o  cunho  de  autheaticida- 
d04as  competentes  assignaturas  dos  vereadores  e  agrimen- 
sores entregue-se  ao  novo  sesmeiro  o  titulo  sellado  com  as 
armas  do  concelho,  para  a  posse  Judicial  da  qual,  assim 
como  do  mesmo  titulo,  deve  o  sesmeiro  pagar  os  compe- 
tentes  salários  ao  escrivSo  da  camará  e  officiaes  que  o  em- 
possarem. Seja  emiim  o  titulo  de  que  se  trata  firme  e  va- 
lioso, sem  dependência  de  outra  dguma  solemnidade,  á 
maneira  dos  que  se  mandaram  dar  aos  iltiéos  na  capitania 
de  S.  Pedro  do  RtO-Grande  do  Sul ;  e  os  pobre*  receberSo 
o  melhor  soccorro  para  o  seu  estabelecimento,  entrando, 
tomo  os  ricos,  na  distribuição  das  terras,  o  que  oiige  a 
raz&o  e  quer  a  mais  imparcial  jostiça.  Esta  providencia 
convém  perfeitamente  a  todas  as  outras  capitanias  de  que 
se  compõe  o  territorio  do  Brasil. 

Tém  os  homens  ricos  na  bolça  e  credito  meios  suQicientes. 
para  realiatrem  os  seus  projectos  racionáveis  :  não  acontece 
o  mesmo  aos  pobres,  e  assim  ditBcullosemento  se  entregam 
ao  trabalho,  que  nâo  fruclifica  diariamente.  A  cultura  de 
uma  terra  bruta  exige  por  sua  natureia ,  ainda  que  peque- 
na seja,  uma  casa,  que  para  o  pobre  serA  a  triste  cabana ; 
são  precisas  as  sementes,  os  instrumentos  indispensáveis 
da  lavoura,  e  os  trabalhos  da  cultura  e  tapumes  necessá- 
rios á  defesa  da  mesma  cultura ;  o  que  tudo,  sobre  dispendio- 
so, necessita  soccorro  extorrto,  ou  associação  estranha,  se  o 
pobre  colono  não  acha  na  própria  família,  ou  não  tom. 

É  pois  necessário  que  uma  mão  poderosa  e  bemfeitora 
appareça  em  todos  os  lugares  o  tompo  em  favor  dos  neces- 
sitados }  o  qual  pôde  ella  ser  senão  a  do  Estado,  cujos  recur- 


Dictzedby  Google 


—  M  — 

SOS  são  ÍDeihaurÍTeis !  E  não  Tão  eUes  sempre  em  preces- 
sifo  augmento  a  par  da  cultura,  povoação  e  industria  po- 
pular? Seria  portanto  uma  lei  muito  sabia  e  a  mais  econó- 
mica aquella  que,  depois  de  liberalisar  terras  aos  pobres, 
os  soccorresse  com  o  empréstimo  gratuito  de  lOOJOOO, 
pelo  espaço  de  seis  annos,  a  pagar  dos  quatro  seguinte^  i 
razão  de  35|  em  cada  um,  a  quantia  mutuada,  dispensa- 
dos ao  mesmo  tempo  os  pobres  colonos  de  todas  as  impo- 
sições territoriaes  e  até  do  próprio  dizimo  por  dez  annos,  e 
recebendo  as  sementes  necessárias,  para  serem  pagas  com 
os  fructos  da  primeira  colbeita.  Quem  assim  protegido 
não  quereria  adjudicar-se  á  cultura  das  terras,  ou  recusaria 
vir  estabelecer-se  no  Brasil  t  Em  concurrencia,  os  casados 
deveriam  obter  decidida  preferencia  a  respeito  dos  solteiros ; 
deveriam  hsbilitar-se  comtudouns  eoulros,  para  os  propos- 
tos beneíicios,  pela  prova  exacta  de  saúde  regular,  probidade* 
e  bons  costumes.  Esta  lei  deve  ser  olbada  como  a  base  mais 
principal  da  nossa  agricultura  e  povoação ;  e  ella  receberia 
o  cunbo  da  perfeição,  sendo  auxiliada  pelo  espirito  de  as- 
sociação o  mutuo  auxilio,  que  os  lavradores  por' própria 
conveniência  devem  prestar  uns  aos  outros,  e  qae  o  gover- 
no deve,  ou  introduzir,  ou  fomentar,  pelo  oflicio  prudente 
dos  empregados  públicos.  Esle  espirito  de  associação  e 
auxilio  mutuo  é  felizmente  conhecido  nas  terras  centraes 
de  S.  Paulo  desde  o  principio,  nas  derrubadas  de  matos, 
colheitas  e  fiação  de  algodão,  com  o  nome  de  Muxiron. 
Esta  industria  jã  se  acba  felizmente  em  pratica  nas  viUas 
de  S.  João  do  Príncipe  e  de  Rezende,  originaria  colónia  de 
S.  Paulo;  é  preciso  que  cresça  e  se  estabeleça  na  beira-mar, 
e  logo  os  pobres  auxiliando-se  reciprocamenle  não  pode- 
rão dizer  —  ai  de  quem  vive  solitário  ! !  vts  soli !  !  —  e 
farão  prodígios  de  trabalbos,  como  acontece  na  província 
do  Minho  em  Portugal,  principalmente  nas  esiwdelladas  e 


Dictzedby  Google 


^  «r  — 

6a(ão  do  linho,  mattuidas  áos  milhos  e  rogadas  de  car- 
ros, etc. 

Coma  quantia  permanente,  ou  rendimento  fixo  de  100,000 
cruzados,  boa  e  regular  inspecç&D,  porque  emfim  a  agri- 
cultura deve  ser  dirigida  e  iDspeccÍ0Dada,8e  poderiam  esta- 
belecer pelo  methodo  ponderado  400  casaes  ou  colonos  em 
S.  Paulo,  a  saber,  260  na  boira-mar  e  SOO  no  interior,  lodos 
os  annos.  Que  eslas  providencias  sejam  muito  úteis  e  dig- 
nas de  se  estenderem  a  Iodas  as  capitanias  do  Brasil  ninguém 
quererá  negar :  discorram  outros,  se  Ibes  agradar,  sobre  as 
meios  pecuniários  para  a  eiecução  doeste  projecto ;  eu, 
qve  escrevo  mais  particularmente  acerca  da  capitania  do 
meu  nascimento,  já  indiquei  na  primeira  parle  d'esta  jlfe- 
moria,  e  hei  de  dizer  adiante,  como  se  podem  fazer  as  des- 
pezas^ecessarias  ao  intento,  sem  tortura  do  erário  e  dos 
povos  ;  antes  com  proveito  e  decidida  conveniência  publica 
e  particular,  reflectindo  desde  já  que,  passados  os  seis  pri- 
meiros annos  do  empréstimo,  teremos  no  7*  o  accrescimo 
de  25,000  cruzados  para  o  estabelecimento  mais  de  100 
fazanias  ou  colonos  ;  no  8°,  de  200  ;  no  9',  de  300 ;  no 
i<y,  de  outros  400,  e  assim  successivamente  até  completar 
se  o  numero  de  1000  em  cada  anno,  que  é  quanto  basta 
para  se  obter  o  fim  desejado. 

Pôde  ser  que  a  cobrança  não  seja  inteira,  e  que  h^ 
algumas  falhas ;  isto  porém  nada  intlue  contra  o  meu  pro- 
jecto, posto  que  diminua  em  parte  o  seu  progresso.  E  qual 
é  o  projecto  de  todo  isento  de  perdas  e  falbas  ?  Seja  porém 
o  que  íòi,  o  certo  é  que  do  rendimento  fixo  de  um  milhão 
derivaria  a  despeza  de  100,000  cruzados  em  beneficio  de 
cada  uma  das  nossas  províncias  ^maiores,  e  a  possibilidade 
de  se  estabelecerem  400  colonos  todos  os  annos,  em 
cada  uma  d'ellas,  sendo  a  .despeza  respectiva  de  lOOifOOO 
por  casal,  ou  ainda  por  cabeça,  misturados  sempre  os  na- 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  88  — 

cioases  com  os  estrangeiros.  Os  fnictos  qno  com  razio  se 
podem  e  devem  esperar  d^fiel  e  judiciosa  execaçao  d>5le 
projecto  melbor  se  comprebendem  do  que  se  podem  expli- 
car. Direi  comtiido  qae  temos  muíla  terra,  abundância  de 
metaes  preciosos  e  de  variadas  producções  de  grande  valor 
e  préstimo,  que,  destituídos  da  necessária  povoação,  vtvire- 
mos  pobres  no  meio  das  riquezas,  podendo  ser  insultados 
a  cada  momento  por  quem  vier  de  fora  com  animo  hostil. 
E  que  direi  da  povoação,  que  podemos  adquirir  dentro 
do  mesmo  paiz  que  habitamos  t  Não  é  licito  ignorar,  por- 
que a  historia  o  publica,  que  os  índios  do  Brasil,  persegni- 
dos  sem  causa  pelos  nossos,  atropeltados  em  dura  guerra "O 
opprimidos  com  a  mais  injusta  escravidão,  acharam  a  sua 
defesa  na  fugida,  e  algumas  vezes  na  traição,  anna  própria 
e  inseparável  da  fraqueza  dos  selvagens,  e  que  deseftando 
dabeira-mar  e  suas  vizinhanças,  i  proporção  que  iamos 
occupando  uma  e  outra  cousa,  foram  habitar  matos  espes- 
sos, campos  exulados  e  as  margens  dos  rios  mais  remotos, 
ou  concentrados  nos  desertos,  aonde  conservaram  até  agora, 
pelo  meio  da  mais  austera  tradição,  mui  fresca  a  meAo- 
ria  dos  males  sofTridos  pelos  seus  passados  e  da  nossa  posi- 
tiva má  fé,  dizem  elles. 

^0  celebre  Piyé,  am  dos  principaes  e  mais  affamados  ca- 
ciques dos  Nheemgaibes  da  ilha  que  hoje  chamamos  de 
Joannes,  quando  no  festivo  Triumpho  da  Religião,  tão  digna- 
mente representado  á  Magestade  do  Senhor  Rei  D.  Pedro  IT, 
peto  padre  António  Vieira(5),  foi  chamado  para  firmar  com 
juramento  as  suas  promessas  e  fidelidade  á  corda  de  Portu- 
gal ;  respondeu  com  admirável  intrepidez  que  isso  não  ju- 
rava etie,  nem  deviam  jurar  os  seus;  e  era  força  o  fizessem 


Dictzedby  Google 


ús  portuguezes,  que  sempre  quebravam  a  té-  dada,  a  que 
elles  D80  sabiam  faltar. 

Emqunnto  os  índios  vivereai  imbuídos  Doestes  principias 
bão  de  fugir  de  dós,  e  bnu  de  boslilisar-aos,  porque  a  ídéa 
da  escravidão  os  conserva  a  eiles  n^aquella  mesma  aversSo 
e  ódio  que  nós  sustentamos,  apezar  da  nossa  civilidade  e 
moral,  contra  a  perfídia  das  nações  barbarescas,  que  vi- 
vem do  corso  e  tornam  escravos  os  cbristãos  que  desgraça- 
damente cabem  no  seu  poder.  O  peíor  foi  que  as .  ídéas  e 
as  expressões  do  Piyé  se  jusliricaram  pelo  successo;  porque 
feita  a  paz  cahíu  o  seu  poder,  acabou  etle,  pereceram  os 
seus  o  a  ilha  Qcou  em  pouco  tempo  desbabitada;  ella,  que 
em  um  só  dia  oíTereceu  ao  baptismo  mais  de  100,ODt)  pes- 
soas. 

E  pois  necessário  que  os  selvagens  so  persuadam,  sem 
que  lhes  reste  duvida  alguma  que  as  suas  idéas  são  falsas 
agora,  e  que  da  nossa  parte  não  tém  a  receiar  o  meoor 
damno,  antes  receberiam  os  effeitos  da  mais  cordial  fraterni- 
dade. N^este  empenbo  desejava  eu  que  entrassem  de  cora- 
ção os  nossos  bispos,  as  ordens  religiosas  eo  clero  secu- 
lar. Eis-aqui  a  vinba  do  Senhor,  em  que  elles  deviam 
trabalhar  de  dia  e  de  noite  com  a  maior  constância.  Mis- 
sionários, se  não  da  tempera  fioissima  dos  Las  Casas  e  dos 
Anchielas,  dominados  pelo  desejo  de  utilisar  a  religião  e  o 
Estado,  tomariam  o  trabalho  de  aprender  a  língua  geral,  ou 
guarani,  e  iriam  defendidos  pela  força  publica,  á  maneira 
dos  jesuítas  em  outro  tempo,  fallar  a  homens,  não  incré- 
dulos, mas  desconfiados.  A  primeira  conquista  seria  talvez 
difficuttosa ;  seguir-se-hia  a  segunda,  mais  fácil ;  e  a  expe- 
riência própria  dos  selvagens  tomaria  o  lugar  do  mais 
bello  pregador,  e  faria  emfim  quanto  podemos  desejar. 

De  que  importância  não  seria  ainda  que  entre  os  mis- 
sionários se  divisassem  alguns  da  raça  originaria  dos  mes- 
TOHO  XXXI,  P.  I  12 


ídbyGoOJ^IC 


—  w  — 

hios  selvagens  ?  Se  elles  nuvissom  nos  da  sua  própria  casla 
as  suas  sem  razões,  e  as  nossas  virtudes,  não  leriam  mais 
facilidade  para  «crença?  Que  triste  idéa  1  Tudo  se  deve 
fazer,  e  nada  está  feito.  Nunca  se  cuidou  entre  nós  na  edu- 
cação dos  pobres  iadios  de  uma  maneira  própria.  Nenhum 
sõcollegio  se  tem  estabelecido  a  favor  d'elles.  Nenhum 
Índio  lem  obtido,  talvez,  a  fortuna  de  entrar  como  alumno, 
nos  seminários  episcopaes  do  Brasil,  de  professar  religio- 
samente ou  de  ch^ar  ao  sacerdócio  (6) ;  tudo  tem  sido  des- 
prezo, e  esle  terrível  agente  da  soberba  tem  devorado  mi- 
lhares de  Índios  entre  nós ;  ao  mesmo  tempo  que  no  Peru  e 
no  Mbxíco  se  t6m  feito  cousas  admiráveis  a  este  rospeito,  e 
os  Índios  téra  livre  accesso  is  honras  civis  e  militares,  assim 
como  is  dignidades  ecclesiasticas,  até  o  episcopado  mesmo ; 
o  que  bem  prova  o  exemplo  de  D.  Nicoláo  dei  Puerto,  na- 
tural de  um  dos  povos  de  Mixteco,  que  foi  bispo  de  Oaxaca. 
(Alcedo  Diecion.  Geog.  tom.  3',pag.  21T.) 

D'esla  maneira,  e  com  bem  pouca  despeza  (sem  desprezo 
comtudo  dos  meios  trístes,  que  autorisa  o  direito  da  guer- 
ra, muitas  vezes  dSo  só  justos,  mas  necessaríos  ainda,  que 
por  isso  os  mandou  exercitar  agora  o  nosso  immortal  sobe- 
rano, apezar  dos  votos  bem  contrários  do  seu  humaníssi- 
mo coração]  poderemos  em  poucos  annos  arrancar  dos  bos- 
ques, e  tornar  sociáveis  muitos  milhares  de  Índios,  que 
habitam  o  interior  das  capitanias  do  Rio  de  Janeiro,  S.  Paulo, 
Mioas-Geraes,  Goyaz,Mato-Grosso,  Maranhão  e  Pará.  Então 
a  educação  publica,  esta  alma  feliz  dos  Estados,  estendida 

(6)  Dois  moços  iodios  da  víUa  de  5  José  d'El-Rei  foram  edocados 
DO  semloario  de  s.  Joaquim  d'e8U  cidade  de  Rio  de  Janeiro,  gover- 
Daodo-a  o  marquez  de  Lavradio ;  ambos  aproveitaram  e  foram  ordena- 
doa  de  presbylcro.  E^le  exemplo  singular  prova  o  que  acabo  de  es- 
crever, e  a  enormíssima  perda  que  nos  resulta  da  falia  de  educação 
dos  pobres  iodios. 


Dictzedby  Google 


-  91   - 

sobre  todas  as  classes  da  sociedade,  elevará  bem  de- 
pressa a  nasceDte  monarchie  do  Brasil  áquelle  gráo  da 
grandeza  e  prosperidade  que  se  lhe  pôde  augurar.    ' 

CAPITULO  X 

DOS  XEiOS   NECeSSAJtlOS    PARA    A   EXIXUÇilO    DOS    PLANOS 
PROPOSTOS 

Dois  são  os  meios  que  a  reDexâo  e  a  industria  devem 
ofTertar  ao  governo  para  a  feliz  execução  de  tantos,  tão  im- 
portADles  e  necessários  estabelecimentos.  l.*A  creação 
dos  fundos  proporcioDados  á  empreza.  2.*  A  eleição  de 
homens  sábios,  desinteressados  e  dominados  do  amor  do 
soberano  e  da  palria,  aos  quaes  seguramente  se  possa  e 
deva  encarregar  o  importantíssimo  e  muito  honroso  Ira- 
balbo  de  promover  a  fortuna  publica.  A  creação  dos  fun- 
dos não  tem  difliculdade,  ainda  que  d'elle3  se  não  devam 
esperar  no  momento  todos  os  effeitos  desejados. 

Estabeleceu  o  alvará  de  15  de  Julho  de  1809  avultados 
rendimentos  para  o  bem  geral  da  agricultura,  fabricas  e  ou- 
tras cousas  interessantes  ao  Estado,  commetiendo  a  arreca- 
dação e  administração  d'elles  á  real  junta  do  commercio. 
Tem  a  capitania  de  S.  Paulo  o  mesmo  direito  que  compete 
proporcionalmenteás  outras,  para  o  melhoramento  quethe 
póderesultar  do  bom  emprego  dos  ditos  rendimentos.  Sepa- 
rando-se  pois  d^elles  para  sempre  a  quantia  que  elta  mesma 
paga,  e  me  persuado  não  ser  inferior  a  2:0008000,  auxiliada, 
além  d^isso,  com  a  doação  de  outros  2:000j|000  á  custa  da 
dita  imposição,  pelo  espaço  de  dez  annos,  o  que  importa  o 
mesmo  que  determinar-seá  real  junta  a  execução  de  um 
projecto  ulil  com  preferencia  a  outros,  ficaria  a  mesma 
capitania  com  um  fundo  sufGciente,  com  o  qual  poderia. 


Dictzedby  Google 


_  92  _ 

ou  antes  devaha  crear  outros  permanentes  e  bem  propor- 
cionados ao  fim  proposto.  A  h^polbeca  de  4:0000000 
annuaes  ao  banco  do  Brasil  facilitaria  sem  duvida  o  em- 
préstimo das  quantias  necessárias  para  a  roais  prompta 
etecu^tío  dos  projectados  estabelecimentos,  indispensáveis 
a  S.  Paulo  e  úteis  ao  Brasil  em  toda  a  sua  extensão.  E  taes 
sSo :  1°,  o  estabelecimento  dos  moinhos  e  serras  de 
agua  e  de  vapor,  fixas  e  amovíveis,  na  costa  marítima  e  nas 
margens  dos  rios  do  interior,  com  a  navegação  franca  ao 
mar,  como  por  exemplo  o  rio  Juqueriquere  em  S.  Sebas- 
tião, o  do  Cubatão  em.Santos,  e  com  a  devida  proporção 
ao  lucro,  pelo  monos  de  50:000$000,  o  que  não  é  diflícul- 
toso  pelas  razões  acima  expendidas,  e  outras  que  se  ofTe- 
recém  á  reilexão  dos  conhecedores  ;  assim  como  é  fácil  de 
compreheoder  que  os  rendimentos  dos  primeiros  devem 
facilitaroestabclecimento  de  quantos  se  quizerem  estabe- 
lecer. Esta  especulação  exige  por  sua  natureza  a  industria, 
trabaíboeboafédosadministradores,  qualidades  que  se  não 
podem  jamais  separar  sem  evidenle  ruine  de  qualquer 
manufactura  ou  estabelecimento.  2°,  o  outro,  muito  pouco 
dispendioso  o  do  mais  fácil  administração  ainda,  dos  fornos 
de  cal  na  ribeira  de  Iguape  e  cosias  da  Cananéa.  D'«sta  fa- 
brica resultaria  muito  proveito,  porque  os  seus  lucros  ten- 
dem a  benefícios  públicos  de  grande  valor.  A  venda  de  5,000' 
moios  de  cal  unicamente  a  9(600  medida  doesta  cdrte, 
nos  armazéns  das  fabricas,  forniaría  um  rendimento  aanuo 
p^manenle  e  disponível  de  48:8000000,  pagas  todas  as 
despezas  de  manufactura.  Estes  dois  projectos  podem  re- 
alizar-se  em  pouco  tempo ;  fructificar  no  mesmo  anno 
com  grande  proveito  dos  pobres,  auxiliados  por  jornaes 
bem  pagos,  além  dos  outros  beneficios  augurados  na  pri- 
meira parte  d' esta  Memoria,  sobre  os  quaes  devo  ainda  re- 
flectir que,  valendo  um  moio  de  cal  de  pedra,  dois,  pelo 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  93  — 

meoos,  da  outra  cal  de  mariscos,  e  vendeodo  -se  esla  agora 
a  ãOJIOOO  e  a  L'4V000,  bem  podiam  os  eiporladores  vender 
a  de  pedra  pelo  mesmo  preço,  com  laicas  coDveaiencias  ,e 
por  isso  não  fatiaria  quem  se  adjudicasse  a  este  commercio. 

Auxiliada  assim  a  povoação  o  a  agricultura,  afto  esque- 
cidos os  hospttaes  e  outros  trabalhos  públicos  de  maior  ne- 
cessidade e  urgência,  deveria  ainda  a  administração  publica 
da  capitania  promover  o  fácil  e  intoressantissímo  estabo- 
lecimeoto  de  uma  fabrica  de  papel,  na  maior  ettensão 
possivet,  bem  junto  A  cidade;  prescindindo  da  idéa  de 
magairicencia  e  sumptuosidade  dos  edifícios,  que  tem 
constantemente  servido  de  irresistivel  impedimoDto  ao  pro- 
gresso das  fabricas  em  Portugal,  por  se  empregarem  nos 
ditos  edifícios  quantiosos  capitães,  superiores  ás  forças  dos 
emprehendedores,  e  sem  proporção  com  os  proveitos  da 
manufactura,  ató  para  o  pagamento  dos  juros  de  S%  a 
respeito  dos  mesmos  capitães. 

Para  um  estabelecimento  d'esla  natureza,  além  das  ma- 
chinas  precisas,  pobres  telheiros,  feitos  com  a  devida  se- 
gurança, são  bastantes;  eraquanio  não  se  poderem  aug- 
mentar  com  o  tempo,  e  a  medida  dos  materiaes,  que  se 
devem  guardar,  e  da  crescente  manufactura. 

Tem  a  dita  cidade  todas  as  proporções  necessárias,  e 
ateis  ao  intento;  porque,  além  da  commodidade  reconhe- 
cida de  mão  de  obra,  e  sendo  n  combuslivel  mui  barato, 
por  todas  as  partes  se  divisam  mananciaes  abuodaotissimos 
de  aguas  porennes,  despenhadas  de  competentes  alturas 
para  o  gyro  dos  moinhos,  e  qualquer  trabalho  em  grande  ; 
e,  o  que  mais  importa,  superabundância  de  matérias  papi- 
raceas,  que  bem  podem  supprir  a  falta  de  trapos  e  farra- 
pos de  linho,  que  com  razão  obtém  o  primeiro  lugar  entre 
as  ditas  matérias,  porquo,  tendo  passado  por  muitas  e  dif- 
ft^rentes  macerações,   não  contém  partes    heterogéneas ; 


Dictzedby  Google 


—  94  — 

porém  isto  mesmo  se  verifica  a  respeito  dos  trapos  de  al- 
godão; e  é  d'esla  matéria,  abundantissima  eaa  8.  Paulo, 
que  nos  vendera  aqui  os  inglezes  grandes  quantidades  do 
papel,  ou  quasi  lodo  o  que  gastamos  ;  sendo  quasi  desco- 
Dhecida  na  America  do  Norte  outra  espécie  de  papel.  Não 
trato  de  outros  artigos  de  que  nos  deveríamos  aproveitar 
para  esta  manufactura,  por  tantos  princípios  recommen- 
davel,  por  não  ignorar  o  quo  a  respeito  de  muitos  têm  dilo 
os  mais  celebres  escriptores,  ponderando  as  difficuldades  de 
separar  d^elles  a  parte  lenhosa,  tornando-se  por  isso  ou  po- 
bres de  linho,  ou  muito  caros.  Comtudo  julguei  nocossft- 
rio  recommendar  o  linho  da  bananeira,  como  mui  apro- 
priado ao  intento,  parecendo-me  que  a  operação  de  o  pu- 
rificar das  partes  heterogéneas  é  de  toda  a  facilidade,  fi- 
candu  a  raateria  papíracoa  elevada  á  devida  perfeição,  e 
mui  barata,  principalmente  calculado  o  preço  do  papel 
entre  nós,  e  ainda  sem  referencia  a  esta  círcumstancia. 

Mas,  quando  este  vegetal  se  tornasse  pela  competente  ma- 
ceração um  pouco  mais  caro  do  que  se  poderia  desejar, 
para  a  perfeição  da  papel,  &  superior  a  toda  duvida  que 
d'âlle  em  estado  imperfeito,  assim  como  das  folhas  da  ma- 
çaroca do  milho,  da  piteira,  dos  quiabos,  das  ortigas,  da 
guaxima,ananazesbravos,e  muitos  outros  vegetaes  filamen- 
tosos, se  podiam  com  bem  pouco  trabalho  fabricar  grandes 
quantidades  de  papel  pardo,  ou  de  embrulhar,  de  papel 
destinado  a  pinturas,  para  ornato  das  casas,  e  lambem  de 
p']pelão;  o  que  tudo  concorreria  muito  para  o  fim  proposto, 
formando  novos  artigos  de  trabalho  popular,  e  mui  próprios 
de  uma  cidade  sobrecarregada  de  mulheres  pobres,  que 
se  deveriam  empregar,  senão  no  lodo,  em  muitos  ramos 
doesta  excellente  fabrica,  a  quem  assciencias  sáo  devedoras 
do  seu  mais  rápido  augmenlo  e  mais  admiráveis  progres- 
sos. Com  este  a  uxiltu  somente  poderia  ella  viver  superior 


ty  Google 


—  9S  — 

i  pobreza  que  a  vexa  e  oppríine.  Quem  nSo  t6  pois,  que, 
produzindo  as  lies  fabricas  de  que  (eofío  feito  particular 
memoria,  e  sem  muitos  esforços,  a  quantia  de  800,000 
cruzados  por  anno,  que  com  ella,  bem  adm  intstrada, 
se  deveria  elevar  a  industria  de  S.  Paulo  a  um  ponto  de 
grande  perfeição  em  Iodos  os  ramos! 

Emfím,  outro  meio  se  offerece  em  benefício  geral  do 
Brasil,  e  por  isso  nSo  parecerá  alheio  d' esta  Memoria,  nem 
estranha  na  capitania  de  S.  Paulo  a  descripçio  d'el]e. 
Consiste  no  commercio  da  Chins,  que  bem  o  podemos  fazer 
sem  moeda  especifica,  ou  daslruição  do  nosso  numerário, 
oomo  até  agora  praticamos,  mas  com  muitos  géneros  da 
nossa  própria  lavra  e  principalmente  com  o  tabaco.  Tra- 
tarei doeste  grande  agente  d»  prosperidade  publica  e  in- 
dividual. 

Sabe-se  a  historia  d'este  commercio  em  Mscáo;  como 
cresceu  e  promettia  laicas  conveniências,  e  como  final- 
menle  ò  monopólio  e  a  péssima  administração  publica  no 
principio,  e  a  dos  contratadores  ao  depois,  dirigida  unica- 
mente pelo  desejo  immoderado  de  muitos  ganhos  em  pouco 
tempo,  exigindo  para  isso  no  curlo  espaço  dos  três  annog 
das  suas  arremataçõt^s  preços  verdadeiramente  exorbilao- 
lantes,  e  lesivos  na  venda,  diminuiu  o  numero  dos  com- 
pradores na  China  e  reduziu  o  mesmo  commercio  a  lermoS 
bem  insignificantes. 

Os  erros  passados  podem  corrigir-se facilmente,  ou  pelo 
meio  d'uma  adminislração  publica  bem  regulada,  c«mo 
eiigem  imperiosamente  as  circumstaaoias  dos  tempos  que 
correm,  e  as  idéas  liberaes  do  trafico  e  mercancia  geral; 
ainda  mesmo  conservando-se  o  exclusivo  a  favor  do  Istadoí 
ou,  o  que  me  parece  mais  proveitoso  á  causa  publica 
e  particular,  vendendo  a  r^al  fazenda  no  Brasil  os  tabacos 
manufacturados  em  pó  e  por  sua  conta  a  negociantes  par- 


Dictzedby  Google 


—  9«  — 

tieulires,  pan  eUes  os  fazerem  gyrar  a  seu  proTeito  por 
toda  a  exteosio  da  China  e  por  onde  mais  Ibes  convier. 

l'ra  e  ontro  arbitrio  parece  exigir  o  estabelecimento  de 
duas  fabricas  reaes  do  tabaco  n^este  paiz,  a  saber,  d'amos- 
tra,  de  cidade,  de  simonle,  e  do  chamado  do  Porto,  que 
são  as  quatro  qualidades  especificas  que  gyram  no  com- 
mercio  da  Cbina.  k  primeira  das-  ditas  fabricas  tem  o 
seu  assento  natural  e  próprio  na  Bahia :  a  segunda  em 
S.  Sebastião,  cujos  tabacos  são,  como  é  vulgarmeole  sabido, 
tia  mais  superior  qualidade ;  sendo  a  manufactura,  em  caso 
de  necessidade,  ou  maior  utilidade,  compreheosiva  de 
quaesquer  outros  das  capitanias  de  S.  Paulo  e  das  Miaas- 
Geraes,  que  para  o  fim  proposto  merecerem  a  imparcial 
approvação  dos  peritos.  O  mais  sssiduo  cuidado  se  deveria 
emproar  para  a  conservação  das  sobreditas  qualidades  no 
gráo  mais  superior.  Talvez  seria  necessário  quo  de  Lisboa 
e  do  Porto  viessem  os  methodos  privativos,  ou  ainda  os 
mestres  próprios,  para  a  perfeita  manipulação  d:  cada  uma 
qualidade  em  particular. 

Em  a  primeira  das  referidas  fabricas  no  principio,  e  ao 
depois  em  ambas,  se  venderiam  os  tabacos  sorteados, 
i  vontade  dos  compradores,  em  latas  de  folha  do  Flandres, 
soldadas  a  estanho,  de  meio  arrátel  e  quarta  ;  tendo  cada 
uma  gravada  na  mesma  folha  as  armas  reaes  e  juntamente 
a  qualidade  do  tabaco;  assim  como  o  preço  inalterável  da 
venda  em  Macào  e  mais  portos  do  império  ;  sendo  demais 
as  latas  bem  acondicionadas  em  caixas  de  quatro  arrobas 
líquidas  de  tabaco,  as  quaes,  da  mesma  forma  marcadas 
com  as  armas  reaes,  correriam  livres  de  quaesquer  direitos, 
alcavalas  e  emolumentos,  por  exportação  e  impociaçAo  nos 
uossos  portos;  e  com  o  respeito  aos  direitos  nos  estranhos 
da  nossa  administração.  Os  greços  d'estes  tabacos  em 
Portugal,  vendidos  por  grosso,  ou  por  arrátel,  são,  na  forma 


Dictzedby  Google 


-9Í  - 

do  regimento  do  1*  de  Janeiro  de  1722,  os  seguintes. 
amostra  2|000,  cidade  10600,  simonte  e  do  Porto  10200. 
Estes  pre{os  porém  se  reputaram  excessivos  para  a  expor- 
tação; e  por  isso  determinou  o  decreto  de  19  de  Janeiro 
de  1784  ({ue  os  contratadores,  pelo  que  toca  ao  contrato 
de  Macáo,  Tossem  obrigados  a  deisar  aos  que  lhes  succe- 
derem  a  quantidade  de  2000  arráteis  de  tabaco,  a  saber, 
de  simonte  1,000  arráteis,  de  cidade  560,  de  amostra 
360  e  do  Porto  80 ;  sendo  pago  cada  arrátel,  sem  distincGão 
de  qualidade,  a  7S0  rs. 

Ainda  se  podem  reduzir  mais  estes  preços,  pondera- 
das as  circurnstancias  que  a  este  respeito  occorrem  entre 
Portugal  e  Brasil,  sendo  substituídos,  quanto  ao  simonte 
e  do  Porto,  pelo  de  600  rs.,  o  da  cidade  pelo  de  700  rs., 
e  o  de  amostra  emfim  pelo  de  800  rs.,  incluído  nos 
mesmos  preços  o  valor  das  latas  e  caixas. 

Todos  os  ditos  tabacos  seriara  vendidos  nas  fabricas 
reaw,  a  credito,  com  as  competentes  e  necessárias  Ganças, 
para  serem  pagos  Ires  mezes  depois  de  chegarem  aos 
portos  do  destino  os  navios  em  que  fossem  exportados, 
correndo  o  risco  por  conta  dos  compradores.  Os  preços 
da  venda  em  Macáo  comprehenderíam  o  ganbo  certo, 
inalterável  e  permanente  de  300  rs.  por  arrátel,  sem  dis- 
tincçAo  de  qualidade ;  e  assim  deveria  correr  o  simonte,  e 
o  do  Porto  aSOOrs.,  o  da  cidade  a  900  rs.,  e  o  de  amostra 
a  IfOOO  ;  e  são  estes  os  preços  que  se  deveriam  gravar,  ou 
inscrever  nas  latas,  para  serem  notórios  a  lodos,  e  evitar-se 
ã  este  respeito  qualquer  fraude  e  engano. 

As  consequências  d' este  projecto  seriam  :  1*,  substiluír-se 
o  tabaco  ao  ouro  e  á  prata,  resultando  dn  perda  d'estes 
metaes  enormíssimo  prejuízo,  que  nos  devora.  2",  lucrar 
a  real  fazenda  cento  por  cento,  ao  menos,  na  manufactura 
e  venda  dos  tabacos,  fornecendo  ao  mesmo  tempo  mão 
Tono  XXXI,  ,p.  I  13 


Dictzedby  Google 


d'obra  no  paiz.  3*,  promptUicar  fundos  i  um  commt 
dâ  nova  e  utilíssima  especulação.  4",  augmeDtar  os  re 
mentos  dss  Dossas  alfandegas,  pelo  pagacneato  dosdin 
que  D'eUas  se  arrecadam  sobre  as  mercadorias  da  Ct 
5*.  proteger  a  agricultura  em  um  ramo  ioteressaotiss; 
6%  emfira  animar  os  commerciantas  da  maneira  mai 
voravel,  para  que  os  povos  também  se  possam  vestir 
fazendas  accommodadas  ao  clima  e  a  menos  custo,  qi 
allivial-os  de  não  pequeno  tributo. 

Ora,  que  tudo  isto  deva  acontecer  e  verificar-  se,  f 
mente  se  comprehende;  porque  no  tabaco  amostra,  q 
de  todos  o  mais  caro,  menos  lucroso,  e  que  n'es(e  c 
mercio  entra  com  bem  pouca  proporção  aos  mais  e 
particularidade  ao  simonie,  ganha  o  exportador  2S  */ 
preço,  não  tendo  que  deduzir  senão  fretes,  comm 
e  seguro:  poupa  além  d' este  ganho  30  7»  ^^^  ^^' 
pagar  do  dinheiro  destinado  ao  seu  commercio,  e 
evidente  que  da  proposta  especulação  resulta  a  favoi 
emprebendedores  o  lucro  certo  de  mais  de  45  */,.  E' 
necessário  que  uma  especulação  de  tanta  importancia 
posta  em  pratica  e  mui  protegida ;  porque  além  dos 
eros,  que  ficam  apontados,  nos  servirá,  como  acima 
semos,  do  meio  mais  bem  proporcionado  para  o  augn: 
progressivo  da  povoação  e  supprimento  abundantissimi 
despezas  necessárias  ao  mais  útil  de  todos  os  proje 
qual  o  da  povoação,  deduzindo-se  para  as  despezas  c 
a  quantia  necessária,  e  que  dissemos  ser  de  um  mitbã 
Com  estas  condições,  e  com  o  favor  que  se  po< 
alcan^r  do  governo  chinez,  e  que  muito  importa 
iitar  por  todos  os  meios  possíveis,  em  pouco  tempo  s 
rá  este  commercio  a  mais  de  2,000,000  ou  3,000,0C 
arráteis ;  suppondo  a  povoação  da  China  unicamoni 
100,000,000    como  é  opinião  de  alguns    autores,  e 


Dictzedby  Google 


—  99  — 

waóo  sobre  arílbmetica  politica,  e  não  de  200,000,000, 
calculo  mais  geralmeate  seguido;  alada  que  Rayaal  affirma 
qao  no  ultimo  Dumerainento  linha  a  China  59,79B,36i  ho- 
mens capazes  da  milícia  annada  ;  e  nSo  parece  discordar 
doesta  opinião  o  que  diz  o  compendio  do  anno  de  1807, 
elevando  a  povoação  de  todas  as  provindas  do  império  a 
350,000,000.  Labbé  Paw,  que,  sempre  fiel  ao  seu  espi- 
rito de  partido,  não  pôde  divisar  na  China  as  excelleates 
iosUtuiçdes,  as  bellezas,  saber  e  industria  que  escripto- 
res  da  primeira  nota  lhe  atlríbuem  com  muito  respeito  e 
veoeração,  teve  o  ineiplicavel  conlenlamento  de  suspei- 
tar qae  a  povoação  dMquelle  vastíssimo  paíz  n&o  chegava 
a  30,000,000. 

E  para  admirar  que  um  escriptor  como  Pouchel  se  te- 
nha decidido  por  uma  opinião  tão  absurda  e  convencida 
por  elle  mesmo,  apresentando  a  relação  das  províncias  e  ci- 
dade3,além  das  mais  povoações  com  seus  parallelos  na  Fran- 
ça ;  e  da  qual  se  conclue  precisaraenle  o  contrario  do  que 
ella  inculca. 

Ainda  que  os  chinezes  cultivam  o  tabaco  em  todas  as  pro- 
víncias do  império  o  o  vendam  por  preços  mui  commodos, 
o  do  Japão  é  mais  estimado  entre  elles  e  melhor  ainda  o 
nosso,  pela  particular  exceileacia  da  sua  qualidade  e  ma- 
nufactura, como  bem  provam  os  excessivos  preços  do  seu 
coDSumo.  O  que  âca  dito  a  respeito  d'es(e  commercio  dos 
tabacos  na  China  é  applicavel  á  índia  em  quasi  toda  a  sua 
vastíssima  extensão. 

Muito  é  o  que  além  d^islo  devemos  esperar  com  o  tem- 
po, o  em  uma  época  mais  distante  do  commercio  d' esta 
droga,  e  de  muitos  outros  géneros  da  nossa  particular  cul- 
tura ;  por  cujos  roeios  bem  podemos  haver  as  mercadorias 
e  preciosidades  da  Ásia,  e  com  superior  vantagem  a  Iodas 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  100  — 

IS  m^ões  qua  fr«qaaalam  a  marcaam  d^aqoella  pvte  do 
mundo. 

Muitas  embarca(ões  nos  seriam  em  pouco  tempo  neces- 
sárias para  o  projectado  oommercio,  e  o'eUas  mesmas 
(por  preços  moderados,  estabelecida  a  devida  ecoaomia 
se  podiam  transportar  outras  tantas  pessoas,  pouco  mais 
ou  meaoSfquaatas  fossem  as  da  tripolação  própria  de  cada 
uma.  Os  artistas  deveriam  ser  procurados  com  preferencia; 
a  passagem  d'elles  mereceria  demais  a  recompensa  de  um 
premio  particular  aos  capitães,  quando  n'iâ30  houvessem 
ioQuido.  Mas,  pelo  que  respeita  a  simples  trabalhadores, 
parece  muito  acertado  que  viessem  unicamente  pessoas  em 
idade,  na  qual  os  principios  de  religião  do  paíz  não 
tivessem  ainda  occupado  os  seus  tenros  cérebros,  porque 
com  mais  proveito  os  educaríamos  segundo  os  nossos  mui- 
to justos  e  acordados. 

CAPITULO  XI 

COHO  SE  DEVE  REGULAR  E  DISTRIBUIR    k   POVOAÇXo    NO  BRASIL 

Ainda  que  muito  convém  ao  Estado  multiplicar  o  nume- 
ro das  cidades,  villas,  lugares  e  aldéas,  e  augmentar  quanto 
í6t  possível,  segundo  as  circumslancias  do  paíz,  a  povoa- 
ção em  geral,  porque  d'eila  procede  a  industria  e  força  da 
naçáú;  não  -  será  jamais  conveniente,  antes  sobremaneira 
prejudicial,  que  cada  uma  das  cidades  e  villas  adquira  tal 
grandeza  0  tamanha  extensão,  que  as  commodidades  so- 
ciaes,  em  vez  de  crescerem,  fujam  para  sempre  do  seio 
d'ellas. 

Com  efTeito,  as  povoações  demasiadamente  grandes  são 
umas  massas  enormes  e  contrarias  A  natureza,  que  ella 
procura  por  isso  destruir  a  cada  momento  o  de  mil  manei- 


Dictzedby  Google 


ns  dififereaies.  Os  males  physieos  uaBifeslADdo-sfl  par 

enfermidades  extraordinárias,  ooraplicadcs  e  absolaUmente 
desconhecidas  nos  pequenos  povos,  as  atormentam  eom 
iaexplicavel  rancor ;  e  os  moraes,  de  um  caracter  muito 
niais  acre,  rdsistem,  como  de  propósito,  á  força  o  autori- 
dade das  leis,  exigindo  todos  os  dias  novos  e  sem[we  Inefi- 
cazes remédios :  —  Ponaaía  la  lege,  petuata  la  malixia. 

Oa  união  d'estes  males  resulta,  sem  duvida,  a  oeoeasida- 
de  de  manter  a  povoaçfto  das  graúdos  cidades  com  habi- 
tantes estranhos  da  sua  natural  produoção  e  oianifeato  pre- 
juízo dos  eampos,  como  ae  verificara  em  Lisboa,  onde  duas 
terças  parles  do  povo  perleaciam  ás  provinoias.  Do  mesmo 
principio  deriva  ainda  a  outra  necessidade  mui  funesta  de 
novos  estabelecimentos,  a  multiplicidade  de  agentes,  e  ad- 
mioistradores  públicos  ;  a  dureza  da  policia,  o  augmeolo 
das  contribuições  o  invenções  engenhosas  de  novos  tribu- 
tos, de  que  o  Estado  nau  tira  o  mais  leve  proveito ;  e  a  com- 
plicação, emfim,  da  madiina  destinada  a  reger  a  naçèo. 
Estes  nules  são  inevitaveb,  nem  se  podem  remediar  ealre 
povos  ant^s  o  ha  muito  estabelecidos  em  certos  o  determi- 
nados lugares.  Como  na  verdade  se  poderiam  restringir 
limites  e  prescrever  regras  á  povoação  de  Londres  ou  de 
Taiís  ?  E^  porém  muito  possível  acautelar  as  suas  funestís- 
simas consequeacias,  quando  uma  nação  se  vai  foraiar. 

Para  esta  importantíssima  operação  é  preciso  que  a  car- 
te se  não  fixe  em  algum  porto  marítimo,  principalmente 
se  elle  fõr  grande  e  com  boas  proporções  para  o  commer- 
cio;  pois  que  a  concurrencía  de  muitos  negociantes  e  das 
pessoas  da  curte  bem  depressa  formaria  uma  povoação 
lai  como  as  que  ficam  descriptas,  e  todos  os  dias  maia  per- 
turbadas pelo  luxo  e  excessiva  carestia  dos  víveres,  que 
os  cortesãos  o  funccionaiios  públicos,  que  vivem  dos  ali- 
mraitos  do  Estado,  não  podem  supportar  ou  pagar  sem  no  ~ 


Dictzedby  Google 


—  102  — 

(oiio  detrimento',  e  os  menos  austeros  adquirem  com  per- 
da do  próprio  decoro  e  prejuízo  da  causa  publica.  Deve  a 
cdrie  viv^cor  um  lugar,  a  agricultura,  o  commercio  e  as 
arles,  todos  aquelles  por  onde  a  sua  influencia  tòt  sabia- 
mente distribuída  pelo  governo. 

Escolher  a  síluaçío  mais  conveniente  para  o  estabeleci- 
mento da  cArto  e  residência  do  soberano,  é  pois  uma  ope- 
ração bem  delicada,  e  que  se  não  deve  deixar  ao  acaso  e  ao 
concurso  das  circumatancias,  para  que  não  aconteça  que 
todas  as  fortunas  se  accumulem  na  cdrte  ;  não  lenba  elía 
proporções  com  as  províncias,  e  fiquem  eslas  as  indigentes 
tributarias  de  uma  capital,  que  as  despreze  com  o  mais  al- 
tivo e  insuportável  orgulho  ;  exigindo  imperiosamente  dos 
campos  os  braços  necessários  á  agricultura  e  ãs  arles,  para 
todos  os  dias  se  ostentar  mais  bella  na  apparencia  e  mais 
prejudicial  na  realidade  á  população  do  Estado,  á  sua  força 
intrinseca  e  á  pureza  da  moral  dos  povos. 

Se  o  commercio  porém  e  as  artes  não  devem  concen- 
Uar-se  na  cArle,  espalhando-se  pelas  províncias,  concor- 
rem para  a  feliz  distribuição  das  riquezas  e  para  augmento 
da  povoaçto  de  uma  maneira  conveniente;  pelo  contrario, 
os  estudos  mais  graves,  as  escolas  mais  difficultosas  e  as 
universidades  emRm,  parece  que  tôm  nas  cortes,  o  seu  as- 
sento principal.  As  sciencias  dão  ds  cartes  um  certo  lustre 
que  d'ellas  não  se  deve  jamais  separar,  e  a  mocidade  estu- 
diosa, destinada  aos  empregos  públicos,  adquire  na  pre- 
sença do  soberano  um  certo  gráo  de  civilidade,  quo  a  torna 
mui  recommendavel  e  a  mais  própria  para  tratar  os  povos 
como  convém,  e  para  os  tornar  todos  os  dias  mais  civis  e 
urbanos.  E'  pois  por  esta  razSo  ainda,  sem  lembrar  outras 
muitas,  que  a  capital  do  Império  se  deve  fixar  em  um  lu- 
razivel  e  isento  do  confuso  tropel  de 
anto  accumuladas,  e  unde  a  educação 


Dictzedby  Google 


—  103  — 

puUica  acbe  o  seu  verdadeiro  asseato,  recebendo  do  sobe- 
rano aquella  protecção  sem  a  qual  não  poderá  jamais 
produzir  os  fructos  que  llies  são  naturaes.  Deve  pesaroso 
bem  esta  matéria,  quando  se  trata  dos  meios  de  povoar 
uma  ou  mais  províncias  do  Estado;  porque  é  inleressaaiis* 
simae  talvez  amais  importaote  de  todas. 

UPITULO  XII 

DA  ADHINISTRAÇÀO  PUBLICA 

A.  eiecução  dos  ditTerentes  planos  que  se  contém  n'esla 
Memoria  e  de  outros  que  necessariamente  se  devem  formar 
sobre  estradas,  melhoramento  de  navegação  pelos  rios, 
abertura  de  canaes,  e  outras  cousas  tendentes  ao  bem  geral 
dos  povos,  deveria  corametter-se  aos  tobalhos,  meditações 
e  cuidados  d'uma  junta,  no  principio  composta  de  ciiiro 
membros,  ou  deputados,  e  cujo  numero  ao  depois  se  po- 
deria augmentar,  como  exigissem  a  necessidade  e  o  inte- 
resse publico. 

O  seu  titulo  seria—  Junta  da  direcção  e  administração 
geral  da  província  de  S.  Paulo. —  Eitincta  a  denominação 
de  capilaaia,  com  o  cat^o  de  governador  e  capítão-general 
d'ella,  cujos  princípios  militares  não  convém  mais  ao  Brasil, 
e  são  contrários  aos  da  nossa  constituição,  deve  necessa- 
riamente substituir-se  este  officio  pelo  estabelecimento  das 
comarcas,  em  territórios  mais  pequenos  e  na  devida  pro- 
porção; assim  como  pelas  juntas  administrativas,  separado 
inteiramente  o  governo  civil,  como  acontece  a  respeito 
do  eccclesiastico,  da  influencia  das  armas,  concentrados 
os  cUefes  militares  nos  limites  que  lhes  prescrevem  os  seus 
respectivos  regimentos,  ou  forem  regulados  por  aquelles 
que  de  novo  se  ordenarem. 


Dictzedby  Google 


—  !•*  - 

Com  estes  princípios  se  formoa  a  mçio  portngueza,  co 
flUes  cresceu  e  chegou  á  mais  robusta  virilidade;  com  ell 
demuos  TÍYer  aqui,  suffocada  para  sempre,  pela  justa  si 
psração  e  necessária  independência  das  autoridades  suba 
temas,  aconteçam,  e  o  choque  das  jurísdicç6es,  cousa 
mais  funesta,  e  da  qual  a  causa  publica  e  o  interesse  d 
poTos  se  resente  sobremaneira. 

E  que  outra  forma  de  administração  se  deveria  co 
effeito  propor  f  Um  bomem  s6,  quem  quer  que  elle  sej 
é  insufficiente  para  a  execução  de  planos  tão  vastos  \ 
torpeza  seria  desviar-mc  eu  do  sjstema  bem  calculado  d 
senhcffes  reis  d'es(es  reinos,  manifestado  constanlemei 
•  por  mui  lai^s  tempos  a  favor  das  juntas,  já  para 
administração  das  rendas  publicas  em  todas  as  reparliçõi 
j  para  regulação  do  commercio  e  das  fabricas  em  ge 
e  em  particular,  já  para  a  direcção  de  quaesquer  estsbe 
cimentos  mais  interessantes,  e  já  igualmente  para  a  snbí 
tuição  temporária  dos  governadores ;  no  que  sem  duv 
lém  sido  bem  palpáveis  as  conveiiiencias  do  Estado. 

Dos  cinco  deputados,  um  deveria  ser  mililar,  (irado 
tropa  da  Unha,  versado  nos  estudos  da  mathemalica 
com  bastaotes  conhecimentos  da  geographia  do  paiz  o 
scúeocia  de  forliíicar,  ornado  com  a  patente  de  coror 
pelo  menos,  a  quem  se  daria  o  titulo    e  carta  de  conse 

Outro  deputado  seria  um  desembargador  da  casa 
supplicaçãú,  passando  logo  a  effectivo  de  qualquer 
dois  grandes  tribunaes  do  desembargo  do  paço,  ou  < 
'  selho  da  fazenda ;  e  elle  mesmo  deveria  occupar  o  c 
de  presidente  da  junta  da  real  fazenda,  que  me  pa 
D&o  deveria  commetter-se  aos  Roveroadores  das  ar 
Além  da  sciencia  das  leis,  que  se  presume,  os  so 
conhecimentos  da  economia  publica,  do  local  da  prov 
e  das  suas  privativas  circumstancias,  deveriam   on 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  10»  — 

pessoa  d'este  msgislrsdo.  Os  demais  deputados,  exigem 
as  mesmas  razões  do  estabelecimento,  que  fossem  um 
philosopho  acompanhado,  de  bons  conhecimentos  chími- 
cos,  um  lavrador  e  um  commercíante  e  fabricante  ao 
mesmo  tempo,  sendo  possível ;  e  todos  três  de  notória 
probidade,  honra  e  intelligéncia  dos  seus  respectivos  em- 
pregos. 

Dos  10,000  cruzados  que  percebem  agora  os  gover- 
nadores, se  dariam  dois  a  cada  um  dos  deputados  das 
juntas  a  titulo  de  ajuda  de  custo.  O  secretario  ficaria  sendo 
o  raesmo  do  actua!  e  presente  governo,  çom  o  ordenado 
que  percebe  e  emolumentos  que  Ibe  respeitassem,  consti- 
tuída a  secretaria  pelos  mesmos  oQiciaes  eiislentes,  e  crean- 
ilo-se  para  o  governo  das  armas  outra  secretaria  militar, 
que  é  própria  e  lhe  convém. 

As  funcçdes  de  presidente  seriam  exercitadas  conforme 
as  r^ras,  que  a  este  respeito  se  observam  nos  ditTerentes 
Iribuoaes  do  leino.  A  junta  se  formaria  duas  vezes  impre- 
terifelmento  cada  semana,  ôs  terças  e  sei  tas- feiras,  substi- 
tuídos os  dias  seguintes  aos  ordinários,  lendo  sido  feriados. 
O  seu  tratamento  seria  o  dos  primeiros  deputados  e  as 
sessões  seriam  feitas  na  satã  da  camará,  com  o  mesmo 
porteiro  e  continuo,  tendo  de  mais  um  meirinho,  com  o 
ordenado  annuo  de  2005000;  compensar-se-hia  ao  porteiro 
e  contínuo  o  maior  trabalho  com  a  quantia  de  lOOjfOOO 
a  cada  um,  e  todos  seriam  pagos  pola  caixa  da  adminis- 
tração dos  rendimentos  públicos  da  província,  assim  como 
o  ihesoureiro  e  mais  offíciaes,  que  se  julgassem  neces- 
sários, e  sobre  o  quo  deveria  a  junta  interpor  os  seus 
officios,  logo  que  se  achasse  formada. 

A  jurisdicçâo  da  junta  deveria  ser  comprehensiva  da 
policia  iateraa,  civil  e  rural  da  província  toda,  n&o  excluída 
a  (irdÍDaría  de  quaesquer  magistrados  civfs,  ou  crimínaos  ; 

TOMO  XXli,  P.   1  14 


Dictzedby  Google 


e  bem  assim  de  todos  os  ramos  de  industria  e  economia 
publica.e  com  a  necessária  faculdade  para  fazer  empréstimos 
e  dar  prémios,  até  á  quanUa  de  aOOíMMM)  em  dinheiro, 
ou  medalhas,  á  cusia  dos  fundos  públicos,  confiados  á 
sua  administração,  afio  excedendo  todos  i  importância 
de  4:0001)000  em  cada  um  anno.  EUa  mesma  exercitaria 
o  offlcio  de  sesmeiro-mór  na  forma  que  o  servem  os  gover- 
nadores; e  quanto  ás  outras  funcçdes,  sem  responsabilidade 
do  mais,  do  que  ao  nosso  augusto  soberano,  pela  secretaria 
d'Estado  dos  negócios  da  fazenda,  pondo  na  sua  real  presença 
lodos  os  annos,  no  raez  de  Janeiro,  a  conta  exacta  da 
sua  administração  e  demonstração  fiel  dos  progressos  da 
provincia  (7). 

Taes  são  as  idéas  que  me  pareceram  mais  próprias  de  so 
proporem  á  sabia  e  prudentissima  contemplação  do  governo 
de  S.  A.  R.  sobre  o  melhoramento  da  capitania  de  S.Paulo. 
Se  ellas  forem  approvadas  e  da  sua  execução  resultar  o 
bem,  que  eu  tenho  om  vista,  d'eile  mesmo  receberei  n 
melhor  satisfação  e  a  nio  pequena  gloria  de  haver  servido 
utilmente  ao  meu  soberano,  ao  Estado  e  á  minha  pátria. 


FIM  DA  SEGUNDA  E  ULTIMA  PARTE 


(7)  E'  bem  semelhante  ao  dobto  antigo  sygtema  o  governo  que 
agnni  8C  principiíi  .i  eslaliflec^r  em  cad.i  uma  das  nossas  pruvincins. 
E.-luu  pt^isiiudjilo  e  já  '.lidos  geralmeiíle  rallaiido  acreditam  que,  Beado 
bfm  organizada,  produzirá  a  ge^iuranca,  |ii'ofippríilade  e  foriuna  publica 
e  iodividual  de  iodo  esie  vastíssimo  império.  F^rtence  á  nossa  assem- 
bléa  geral  a  uUima  decísílo  em  maieria  de  tanta  importância  que  nós 
■gora  Dão  discutimos,  e  oin  permitliram  as  circums landas  dos  tempos 
em  que  escrevemos  que  déssemos  á  mesma  matéria  inteiro  desenvoU 
vim  ento,  para  que  as  nossas  idéas  não  foesem  de  todo  despreiadas. 


Dictzedby  Google 


ABEBTORA  DE  COMMUNICAÇÂO  COMMERCIÂL 
INTII  •  DISTIICTO  BE  GDVABA'  E  A  CIDADE  DO  PAIA' 

POR  MEIO  DA  NAVEGAÇÃO  DOS  RIOS  ABINOS  E  TAPAJffS 

EMPREBENDIDA  EH  SETEMBRO  DE  1813 

E  RKAUSADA  BH  1813 

P«lo  regrwso  dai  pessoas  qat  n'essa  diligeocía  mandou  o  govenndor 
e  ctpitio-general  da  capitania  de  Ualo-tirouo. 

(Copiado  do  Archivo  Publico) 


DIÁRIO 

Da  viagem  que  por  ordem  do  [llm.*  e  Eim.*  Sor.  Joio  Carlos  Augusto 
d'Oefiihausen  Grevemburg,  goveroador  e  capitão  general  da  capi- 
tania de  Halo-GroBSO,  nomeado  para  a  do  Pará,  fizeram  m  caplties 
M^uel  Joio  de  Castro  e  António  Tbomé  de  França,  pe  lo  rio  Arinos 
noannode  181  3. 

Embai*cámos  no  rio  Preto,  5  léguas  distante  do  arraial 
do  Paraguay  Diamantino,  no  dia  14  de  Setembro  de  1812» 
com  as  canAas  a  meia  cargs,  e  pelos  muitos  baixos  e  tran- 
queiras do  rio  não  se  p4de  chegar  ao  Arínos  senão  no 
dia  18,  ás  5  horas  da  tarda.  (5  dias  de  viagem.) 

No  dia  19  de  Setembro  voltaram  as  candas  a  buscar  a 
gente  e  cargas  que  haviam  ficado  no  porto  do  rio  Prelo,  e 
no  dia  31  pelas  6  horas  da  tarde  se  reuuiu  toda  a  tropa, 
onde  se  achavam  os  ditos  capitães. 

Constava  a  expedição  de  1  canAa  grande  e  7  batelitest 
em  que  se  embarcaram  73  pessoas,  sendo  8  brancas  entre 
patrões  e  passageiros,  57  camaradas  de  serviço  e  7  escravos. 

No  dia  23  se  repararam  as  candas  que  estavam  damni- 


Dictzedby  Google 


—  108  — 

ficadas  e  apenas  podemos  partir  ès  4  horas  da  tarde, 
e  ds  5  1/3  Rzemos  pouso. 

Sabímos  a  23  pelas  6  horas  da  manhã;  ás  6  1/3  pas- 
sámos um  ribeirão  do  lado  esquerdo;  ás  II  oulro  do 
direito  na  cabeceira  d'uma  correnteza;  ás  II  i/2  oulro 
do  esquerdo,  e  ás  4  da  tarde  outro  á  direita.  A's  5  1/2 
fizemos  pouso.  (6  dias  de  viagem  ) 

Passamos  n'este  dia  muitas  correntezas  e  baixos,  toas 
sempre  com  bons  canaes.  O  rio  não  corre  a  rumo  cerlo, 
pois  em  poucas  horas  se  volta  para  todos  os  lados,  lendo 
sempre  maior  propensão  para  o  poente  e  norte. 

Partimos  no  dia  24  ás  5  3/4  horas ;  ás  6  e  40  passámos 
um  ribeirão  á  esquerda;  ás  8  1/2  oulro  maior  do  mesmo 
lado ;  ás  9  passámos  do  direito  um  alto  e  comprido  paredão 
de  cõr  vermelha  e  amarella ;  ás  10  1/4  deixámos  um 
ribeirão  do  esquerdo,  e  ás  4  da  tarde  outro  do  direito. 
A's  5  e  30  fizemos  pouso.  Passámos  D'este  dia  mais  baixos 
e  correntezas  que  no  antecedente.  (7  dias  do  viagem.) 

Fizemos  viagem  no  dia  25  pelas  5  1/4  horas;  is  6  e  20 
passámos  uma  grande  correnteza,  elogo  abaixo  d'elta  uma 
ilha  e  pouco  abaixo  oulra. 

A's  7  3/4  horas  passámos  a  barra  d'um  riacho  com  10 
ou  12  braças  de  boca  o  bastante  fundo,  o  qual  fiue  na 
margem  ilireita,  e  o  denominámos  rio  de  S.  José,  e  sahe 
de  frente  uma  pequena  ilha.  A's  9  3/4  passámos  um 
ribeirão  do  lado  esquerdo,  e  ás  12  um  córrego  do  mesmo  lado 
pouco  acima  do  porto  do  Arraial  Velho,  antigamente  cha- 
mado Minas  de  Santa  Isabel. 

A's  2  horas  da  tarde  passámos  um  ribeiro  á  direita> 
e  ás  5  3/4  fizemos  pouso.  (8  dias  de  viagem.) 

Passámos  n'este  dia  muitas  ilhas  e  correntezas.  Temos 
visto  muitos  vestígios  dos  indíos  habitantes  nas  círcumvi- 


Dictzedby  Google 


—  Í09  — 

uahaiiç«i  do  rio,  e  por  toda  a  tarde  lançaram  muitos  fogos 
d'um  e  oulro  lado,  e  alguns  quasi  nas  margens. 

Sahimos  ao  dia  26  pelas  5  3/i  ;  logo  abaixo  passámos 
uma  grande  correnteui  no  braço  direito  d'uma  ilha;  ás  6  1/4 
chegámos  á  barra  do  rio  Sumidouro,  que  flue  do  lado 
esquerdo  e  depois  de  unido  com  o  Arioos  ficam  ambos 
da  mesma  largura  do  rio  Cuyabá.  O  ArJnos  até  aqui, 
como  já  adverti,  não  se  dirige  a  rumo  certo :  da  confluência 
do  Sumidouro  para  baixo  tera  mais  aturada  direcção  para 
o  norte.  A's  7  l/i  passámos  um  ribeiro  á  direita;  ás  8 
uma  groode  correnteza,  e  1/4  depois  duas  pequenas  ca- 
choeiras com  bons  canaas;  a  primeira  pelo  lado  esquerdo 
e  a  segunda  pelo  direito.  A's  8  e  30  passámos  um  ribeirão 
á  esquerda,  e  1/2  depois  outro  á  direita.  Continuou  a 
navegação  d'este  dia  com  muitas  correntezas.  TAm  conti- 
Quado  09  vestígios  dos  índios;  achando-se  vários  portos, 
ranchos  u  outros  signaes;  fizemos  pouso  ás  5  l/â.  (9  dias 
de  viagem.) 

Partimos  no  dia  37  pelas  5  1/4,  e  depois  de  passar 
alguns  campestres,  paredões  e  ilhas  deixámos  ás  7  3/4 
um  ribeiro,  que  flue  do  lado  esquerdo,  de  6  ou  7  braças 
de  largura,  e  o  chamámos  Rio  dos  Pareciz.  A's  9  pas~ 
sámos  outro  maior  do  lado  direito,  que  na  confluência 
ha  de  ter  li  braças  de  largura  e  competente  fundo,  e  o 
denominámos  rio  de  S.  Cosme  e  Damião.  A's  9  3/4  pas- 
sámos um  ribeirão  á  direita;  ás  12  outro  do  mesmo  lado, 
e  ás  4  e20  outro-,  ás  5  passámos  um  sangradouro  do  lado 
esquerdo  defronte  d'uma  ilha.  Fizemos  pouso  ás  S  e  40. 
Tem  o  rio  alargado  bastante  e  com  pouca  correnteza. 
(10  dias  de  viagem.) 

Seguimos  viagem  no  dia  38  as  5  1/3;  logo  abaixo  pas- 
sámos um  pequeno  córrego  á  direita,  eás  G  1/3  um  ribeirão 
do  mesmo  lado;  ás  7  1/4  passámos  outro  ;  ás  8  outro, 


Dictzedby  Google 


—  110  — 

ambos  do  Isdo  esquerdo.  A^s  4  da  isrde  passámos  a  boca 
d'um  riacho  com  13  ou  14  braças  de  laigura,  que  desagua 
á  direita,  e  o  chamámos  Rio  de  S.  WencesMo.  A's  5  1/4 
passámos  um  ribeiro  do  mesmo  lado.  no  qual  estava  um 
cerco  de  páos  e  taquaras,  que  os  índios  tinham  feito 
para  pescar ;  e  logo  abaixo  d  elle  Hzemos  pouso.  (11  dias 
de  Tiagom.) 

Sabimos  QO  dia  29  ás  5  1/4  horas,  ás  6  e  20  deixámos 
um  ribeiro  á  esquerda ;  és  9  outro  do  mesmo  lado :  ás  9  1/4 
outro  á  direita ;  ás  10  1/2  passámos  do  mesmo  lado  um 
riacho  de  10  ou  12  braças  de  largura,  e  o  chamámos  rio 
de  S.  Miguel.  A's  11  passámos  á  esquerda  um  ribei- 
rão e  ás  12  oulro;  logo  abaixo  outro,  e  ás  2  da  tarde 
outro;  ás  2  3/4  passámos  á  direita  um  maior ;  pouco 
abaixo  deixámos  á  esquerda  três  pequeuos  nbeíros  pouco 
distantes  entre  si ;  ás  4  e  20  passámos  um  pequeno  riacho 
á  direita,  e  oa  boca  estava  uma  grande  rancharia  de  Índios, 
que  havia  pouco  lempo  alli  tinham  estado.  A's  5  c  20 
fizemos  pouso,  pouco  abaixo  de  dois  pequenos  ribeiros, 
que  estavam  quasi  fronteiros  d'um  e  oulro  lado  do  rio. 
(12  dias  de  viagem.) 

Portimos  no  dia  30ás  5  1/4  boras.  Passamos  um  córrego 
á  esquerda  e  alguns  á  direita  pouco  notáveis.  A's  11  1/4 
passamos  um  ribeirão  á  esquerda.  A's  11  3/4  outro  a  di- 
reita. Passámos  d'um  e  outro  lado  alguns  pequenos  cór- 
regos. A^s  5  da  tarde  fizemos  pouso.  (13  dias  de  viagem.) 

No  dia  r  de  Outubro  seguimos  viagem  ás  6  da  ma- 
nhã ;  ás  8  1/2  passámos  um  ribeirão  á  direita  pouco  acima 
de  uma  grande  ilba.  A's  9  e  25  um  ribeirão  á  esquerda  ; 
ás  10  1/2  entrámos  por  correntezas,  baixos  e  alguns  rebo- 
jos,  mas  sempre  achámos  bons  canaes  ao  lado  direito,  e 
assim  continuou  o  rio  por  entre  rochedos,  que  não  emba- 
raçam a  viagem  ;  logo  depois  seguiu-se  uma  cachoeira  com 


Dictzedby  Google 


-  111  — 

bom  canal  á  direita,  e  até  a  sahída  faz  três  boqueirões 
fundos,  mas  com  alguma  tortura.  Continuaram  depois  cor- 
reolezas,  e  reductos  de  pedras  que  formam  alguns  canaes 
pouco  consideráveis,  o  assim  prmeguíu  a  navegaçfio  pelo 
decurso  da  tarde  por  entre  muitos  penhascos  e  multiplica- 
das ilhas;  ás  5  e  10  ctiegámosa  uma  cachoeira,  na  cabe- 
ceira da  qual  fizemos  pouso,  (li  dias  de  viagem.) 

Partimos  no  dia  2  pelas  6  da  manhjl.  Examinando-se  os 
canaes  da    dita  cachoeira,    que  chamámos    Das  muitas 
'ilhas,  achámos  ser  preciso  descarregar-se  a  canda  grande 
de  meia  cai^a  para  passar  por  um  canal  do  lado  esquerdo, 
e  os  batelões  vieram  carregados  por  um   pequeno  do  di- 
reito ;  ás  8  seguimos  viagem,  e  logo  abaixo  passámos  outra 
pequena  cachoeira  com  canal  largo,  porém  baixo,  e  prose- 
guimos  a  navegaçAo  por  entre  ilhas  com  algumas  corren- 
tezas. Seguiu-se  um  curto  espaço  de  rio  morto,  e  depois 
formam-se  alguns  boqueirões  fundos  do  lado  direito,  e  no 
fim  d'elles  uma  cachoeira,   pela  testo  da  qual  passámos 
para  o  lado  esquerdo,  onde  tem  um  caminho  franco  por 
entre  ilhas,  e  torna  a  buscar  o  lado  direito  para  a  sabida, 
que  é  por  entre  reductos  de  pedras  coAi  alguns  rebojos.  A 
estes  boqueirões  e  pequenas  cachoeiras,  chamámos  Esca- 
ramuça Grande  ;  abaixo  seguiu-se  um  comprido  estirão  de 
rio  morto  e  depois  umas  pequenas  cachoeiras  por  entre 
ilhas,    que  deicamos  á  direita,  e  a    chamámos  Escara- 
muça Pequena.  Seguiram-se  depois  de  algum  espaço  de 
rio  morto  algumas  pequenas  cachoeiras,  e  compridos  bo- 
queirões com  alguns  rebojos,  e  sempre  com  bons  canaes  ; 
logo  abaixo  passámos  á  direita  um  pequeno  ribeiro,  em 
que  estava  um  cerco  já  Telho,  que  os  Índios  fizeram  para 
as  suas  pescarias,  e  pouco  depois  s^uiu-se  um  espaço  de 
rio  morto,  e  nu  fim  uma  pequena  cachoeira  com  bom  canal 
pelo  meio,  e  d'ella  se  v£  uma  grande  ilha,  a  que  chamámos 


Dictzedby  Google 


—  112  — 

de  S.  Sebaslião  ;  e  ÍD(lo-Ee  procuraiida  porto  n'ellH 
se  íizer  pouso,  percebeu-se  na  term  firme  do  larlo  dii 
uma  caada  de  casca,  de  que  usam  os  índios,  e  foge 
terra.  Foi-se  reconhecer  uma  e  outra  cousa,  e  se  fii 
um  raucbú  novo  com  7  redes  armadas,  rcuitas  pan< 
cuias,  caba{88,  peneiras,  vários  saccos  tecidos  e  cheio 
farinha  de  mandioca,  a  algumas  raizes  da  mesma  ;  m 
peneiras  cheias  de  castanhas,  e  outras  bugigangas.  0) 
vamos  que  as  redes  eram  de  lio  de  algodão,  umas  de  tn 
e  outras  de  panno,  tecidas  eo  nosso  modo  com  ISTorc: 
riosos..  Doeste  porto  seguia-se  um  largo  caminho  para  < 
terior,  e  indicava  que  os  Índios  moravam  para  denlt 
vinham  ao  rio  só  para  monlariar.  Mandamos  duas  ca 
armadas  reconhecer  a  ilha  em  que  estava  de  pouso, 
chegarem  ao  fim  d'ella  viram  muitos  indio^  na  terra  I 
do  lado  esquerdo,  os  quaes  tanto  que  viram  as  csn 
gente  que  haviam  ido  reconhecer  a  ilha  levantaram 
grande  e  confusa  gritaria,  a  qual  continuéram  toda  a 
com  muitos  toques  de  tambores,  roncos,  e  outros  in 
mentos  bárbaros. 

Partimos  no  dia  3  da  ilha  de  S.  Sebastiio,  em  que 
vamos  de  pouso,  pela  6  da  manhã :  ao  tempo  da  s. 
avistámos  uma  canoa  em  que  vinham  oito  Índios,  os  ■ 
tanto  que  perceberam  a  nossa  tropa  voltaram  com  t( 
velocidade,  e  foram  parar  na  terra  firme  do  lado  esqu 
onde  por  toda  a  mai^em  do  rio,  quanto  a  vista  alcan 
estavam  inaumeraveis  índios,  e  Jilguns  passos  adian 
cbusma  se  divisavam  alguns  de  espaço  em  espaçr 
mostravam  superioridade,  os  quaes  tinham  na  cabei 
alto  penoacho  branco,  que  circulava  de  uma  a  outra  f 
00  pescoço  traziam  um  grande  collarbranco  e  lustros( 
depois  de  averiguado  se  achou  ser  de  conchas.  Eltes, 
que  as  nossas  caudas  se  avizinharam,  começaram  a 


Dictzedby  Google 


nauito  com  diversas  acgões ;  or»-mefie«ndo  e  muslrando-iioft 
n  arco  e  Hecbas,  .ora  cltamando-tios  imperiosaoiente  paios 
aceoos  que  faziam,  para  que  embicas»  vsin. 

Mandámos  fallar-llies  pela  língua  geral  i  tom 

de  paz  e  amizade.  Responderam  ;  ma  oalas  ■ 

não  eram  perceptíveis  ;  porém  depois  illou, 

moderaram  oa  que  mostravam  serem  d  >o  em 

que  tinham  principiado,  e  comegou  ei  todn 

a  fallar  com  uma  confusa  gritaria.  Quando  os  primeiros 
viram  que  as  canoas  desciam,  e  elles  ficavam,  puzeram-so 
a  correr  pi^la  margem  quanto  as  canoas  pelo  rio,  e  onde 
era  lajedo  au  praia  sabiam  todos  a  peito  descobwlo  com 
saitos,  dansas  e  outros  muitos  gestos,  sem  nunca  arroja- 
rem flectia  alguma,  apezar  de  obVigar  o  canal  do  rio  que  as 
canoas  se  avizinhassem  é  margem  onde  elles  estavam ;  bd- 
tes  observámos  que  elles  tinham  os  arcos  desarmados. 
D'esle  modo  vÍeram-DOS  seguindo  mais  de  duas  horas,  em 
que  passámos  muitos  portos  delles,  onde  ficavam  uns,  o 
acompanhavam  outros  de  novo,  e  assim  vieram  até  que  em 
uma  grande  lage  ficaram  assentados,  e  não  se  retiraram: 
emquanto  não  perderam  as  canoas  de  vista.  N'e5le  espaço 
lemos  passado  por  muitas  ilhas,  Teduclos,  coirentezas  e 
pequenas  cachoeiras  com  bons  canaes,  e  também  alguns 
córregos  c  ribeiros  pouco  notáveis.  A-'s  3  da  tarde  avistá- 
mos uma  serra  que  corria  de  norte  a  sul,  e  a  denominámos 
Serra  dos  Apiacaz.  Por  lodo  o  dia  temos  passado  mui- 
tos portos  d'elles  de  um  e  outro  lado  do  rio,  e  lambem  ca- 
poeiras, ranchos  e  outros  signaes,  que  demonstram  !4rcm 
habitantes  d'aquelle  terrilorio.  A^s  4  da  tardo  lizeuios 
pouso  em  uma  ilha.  (16  dias  de  viagem). 

iVo  dia  4  fízumos  viagem  ás  7  l/â  da  manhã  por  causa 
lie  uma  grande  cerraç&o. 

Pouco  abaiio  passámos  dois  pequenos  ribeiros  á  direita. 
TOMO  XXXI,   P.   1  15 


Dictzedby  Google 


—  It*  — 

e  foi  contíniuuQdo  o  rio  por  entre  gnodes  penedos,  e  com 
■Igunias  correntezas  DOS  braços  das  ioDumeraveis  ilbas  que 
tíiib  o  d'ella5  deixámos  dois  pequenos 

moDi  depois  s^uiram-se  alguns  estirões 

de  rii  tvistámos  mais   vizinha  8  serra  dos 

Apiíi  livisado  ao  Longe  no  dia  antecedente. 

A*s  !  )3  á  barra  de  um  rio  de  40  braças 

deb  ]  menos,  o  qual  flue  na  ma^em  di- 

reita ;erra  ;  e  no  estirão  da  sua  confluen- 

da  .      ^  divisa  bem  da  foz,  a  qual  está  por 

cima  de  um  alto  cordão  de  pedras. 

Ao  dito  rio  puzemos  o  nome  rio  de  S.  Francisco  de 
Assis.  A's  3  1/2  chegámos  a  uma  grande  ilha  que  gas- 
támos 1  1/4  hora  a  pa*s$at-B  ;  abaixo  d'ella  está  a 
serra  mais  próxima  ao  rio.  A's  5  1/2  lizemos  pouso  em 
uma  ilha.  Passámos  n'e8te  dia  vários  portos  de  Índios,  o 
também  o  sitio  em  que  diz  Manoel  Gomes  no  seu  Roteiro 
que  elles  habitavam,  e  onde  o  atacaram,  cujo  lugar  está 
desorto,  e  o  terreno  já  com  maio  assaz  crescido,  que  mal 
se  percebe  ler  sido  alojamento ;  do  que  inferi  que  os  Índios 
que  alli  moravam  eram  os  mesmos  que  encontrámos  no 
dia  anlecedenle,  e  se  mudaram  para  cima.  (17  dias  do 
viagem.) 

Passámos  n'este  -dia  muito  boas  matarias  e  principal- 
mente nas  circumvizinbanças  das  serras  ;  qualidades  que 
se  dSo  observou  nas  que  temos  deixado,  e  principalmente 
da  barra  do  Sumidouro  para  cima,  onde  todos  os  matos  das 
marglns  do  rio  denotam  serem  alagadiços,  epela  maior 
parte  só  vimos  cerrados  e  campos  bravios. 

No  dia  &  partimos  pelas  6  horas,  e  ás  7  chegámos  a 
uma  cachoeira  dividida  em  ires  cordões  interpolados: 
DO  do  meio  foi  preciso  descarregarem- se  de  meia  carga  as 
canoas  para  passarem   o  canal.  |ior  causa  des  rndas  v  rr- 


Dictzedby  Google 


-  115  — 

bojos,  e  as  denominámos,  As  Três  Irmás.  Abaixo  togo 
ds  segunda  Que  do  lado  direito  um  ribeiro  de  bastante 
largura.  N^aste  tugar  a  serra  do  lado  esquerdo  está  chegada 
ao  rio,  e  este  é  retalhado  por  varias  ilhas,  e  no  Hm  d^ellas 
está  uma  pequena  cachoeira  com  canal  grande  e  fundo.  A's 
9  Vi  passámos  um  riacho  á  esquerda,  e  o  denominámos 
rio  Sararé.  A''s  11  chegámos  a  uma  cachoeira  caudalosa, 
mas  com  bom  canal  á  esquerda,  e  a  denominámos  Re- 
cife Pequeno.  Por  estes  lugares  vem  o  rio  entre  duas  serras. 

A's  13  chegámos  a  uma  cachoeira  maior  que.  as  antece- 
dentes e  a  denominámos  Recife  Grande.  Para  passal-a 
foi  preciso  descarregaiem-se  as  candas  sendo  o  descarre- 
gador e  canal  do  lado  esquerdo.  A^s  3  da  tarde  seguimos  via- 
gem: ás  4 1/2  passámos  um  córrego  á  direita,  onde  estavam 
atadas  duas  canoas  de  Índios,  e  ao  pé  d'ellas  dois  pequenos 
ranchos  com  vários  trastes  de  seu  uso  ;  e  por  se  ter  conhe- 
cido que  elles  haviam  mudado  do  systema  hostil  que  pra- 
ticaram na  expedirão  que  desceu  em  180S,  deiíamos 
n^aquellê  porto  um  machado,  S  facões,  alguns  maços  de 
rais$angas,  facas  e  espelhos.  A's  5  l/â  fizemos  pouso  em 
uma  ilha  defronte  á  qual  do  lado  esquerdo  fine  um-pe- 
queno  rio  de  8  ou  10  braças  de  largura. 

Partimos  no  dia  6  ás  6  l/i  da  manhã.  Logo  abaixo  da 
ilha  em  que  pousámos  seguiu-se  outra  maior,  que  dei- 
xámos i  esquerda.  A^s  7  passámos  á  direita  3  ribeirões 
interpolados.  A^s  8  chegámos  ao  6m  da  ilha  em  que  en- 
trámos logo  que  sahimos  do  pouso,  e  a  denominámos 
nba  da  Madeira.  Do  fim  d'ella  se  divisa  á  esquerda  a 
barra  do  rio  Jeruena,  o  qual  é  mais  largo  e  a  agua  mais 
clara  que  o  Arínos. 

Para  dentro  da  bana  tem  duas  ilhas,  que  fazem  sahir  o 
rio  por  trez  bocas, .«  em  curta  distancia  da  foz  se  diyisa 
uma  serra,  qoe  pareoe  atravessal-o.    Elte  demonstra   vir 


Dictzedby  Google 


—  <1S  — 

parallelo  ao  Arinos,  e  trazer  a  mesma  direcção,  e  a  que 
mais  aluradamente  seguem  depois  de  unidos,  que  é  de  sul 
a  Dortfl. 

Mandámos  reconhecer  a  ponla  de  terra  que  divide  am- 
bos os  rios,  e  n'eUa  so  achou  o  páo  lavrado,  que  Manoel 
Gomes  diz  no  seu  Roteiro  ter  alli  posto  para  servir  da 
padrão. 

Uuasi  defronte  da  barra  encontrámos  quatro  canoas  de 
Índios,  em  que  vinham  27,  os  quaes  embicaram  om  unins 
pedras,  logo  que  perceberam  a  nossa  tropa,  c  entraram 
a  faliar  do  mesmo  modo  que  os  primeiros  que  encontrámos. 
Das  nossas  canoas  so  lhes  respondia  com  a0abilidade,  e 
elles  não  pegaram  nas  suas  armas.  Embicámos  em  uma 
ilha  frunleira  c  d'cllu  nos  embarcámos  com  14  pessoas  e 
fomos  onde  elles  estavam:  receberam-nos  com  alegria  mis^ 
turada  com  temor,  que  logo  perderam,  vendo  o  agasalho 
que  se  lhes  fazia,  dando-lbes  machados,  facões,  facas, 
espelhos,  missangas,  aozoes,  fumo  e  algumas  roupas,  que 
tudo  aceitaram  mui  gostosos,  e  corresponderam  Tiom  pe- 
daços de  porcos  moutezes,  farinha  de  mandioca  e  alguns 
arcos  e  Hèchas. 

Convidámo-os  que  viessem  &  ilha  onde  eslava  a  nossa 
tropa,  o  clies  responderam  que  sim  ;  porém  significaram, 
miiis  por  acenos  que  por  palavras,  que  iam  primeiramente 
descarregar  as  suas  caudas,  o  depois  voltariam;  e  embar- 
caudo-se  n'eilas  subiram  para  cima.  Ksperámo-os  mais 
de  duas  horas,  e  por  vermos  que  não  appareciam  resolverao- 
nos  a  seguir  viagem :  e  nWo  tempo  sppsreceu  do  lado 
esquerdo  outra  canoa,  em  que  vinham  sid>indo  8  Ín- 
dios, e  embicaram  e  melteram-se  ao  mato  logo  que  per- 
ceberam a  nossa  tropa,  sem  quererem  apparecer  por  mais 
quo  se  chamou. 

Deiíámo-lhes  oa  camb  alguns  tuimos,  n  seguiinus  via- 


Dictzedby  Google 


—  «7  — 

gem.  Estes  Índios  sadam  totalmeoto  diís  e  cobertos  rigo- 
rosaDiente  da  tiole  chamada  urucú,  e  ioãrímos  aer  o 
uso  d'ella  para  se  livrarem  da  enfadonha  praga  dos  bor- 
rachudos, e  outros  insectos  perseguidores,  d«  que  abon- 
dam  as  ma^ens  do  rio.  Elles  tâm  as  orelhas  furadas  na 
parte  iarerior  e  trazem  nos  furos  deales  de  porcos  mon- 
tezes,  e  ao  pescoço  uma  graade  enUada,  que  dá  varias  vol- 
tas, de  dentes  de  cotias  e  outros  animalejos,  e  alguns  d'el- 
ies  cingem  o  corpo  com  varias  voltas  da  mesma  enfiada. 
Os  que  se  denominam  chefes  trazem  demais,  como  já  referi, 
o  penuacho  e  o  collar  de  conchas.  Muito$  d'eUes  tdm  os  pei- 
tos, ventre  e  braços  pintados  curiosamente  de  linta  preta. 
(>s  rapazes  ttazem  os  buios  dos  braços  apertados  rigorosa- 
mente com  uma  ciata  ou  liga  de  mais  de  quatro  dedos  de 
tai^ra,  que  pela  continuação  vem  adelgaçar  os  braços  n^a~ 
quelle  lugar. 

Todos  os  que  vimos  eram  de  mediana  estatura,  porém 
muito  bem  proporcionados. 

Proseguimos  a  viagem  ás  11  horas  por  entre  innume- 
raveis  ilhas,  umas  maiores  e  outras  menores,  ficando  o 
rio  com  extraordinária  largura,  formando  nos  difTerentes 
braços  das  ilhas  umas  correntezas  o  pequenas  cachoeiras. 

A's  4  i/i  da  tarde  encontrámos  três  canoas  de  casca, 
em  que  vinham  subindo  22  Índios,  os  quaes  tanio  que  perce- 
beram a  tropa  pozeram-se  em  retirada  com  toda  a  força,  e 
poi  mais  que  se  chamou  não  quízeram  chegar  nem  esjie- 
rar,  e  passaram-se  para  o  lado  esquerdo,  d'ondc  deram  al- 
guns gritos.  Passámos  n'esta  tarde  dois  pequenos  ribeiros 
ao  lado  direito,  que  é  a  ma^em  que  iamos  seguiudo ;  e  ds 
esquerda  nada  temos  observado,  pois  que  a  muita  lai^ra 
do  rio  e  multiplicidade  de  ilhas  impossibilita  poder-se  ao 
mesmo  tempo  observar  um  e  oulro  lado.  A's  5  3/4  fizemos 
pouso  em  uma  ilha.  (19  dias  de  viagem  ) 


Dictzedby  Google 


—  Il«  — 

Seguimos  viageai  no  dia  7  pelas  6  da  manliã,  costean- 
do sempre  a  margem  oriental.  A's  7  passámos  um  ribei- 
Fio,  e  ás  8  e  10  uma  babla.  A's  9  avistámos  ao  norte  uma 
pequena  serra  que  logo  passámos,  um  riacho  de  10,  ou  13 
braças  de  latira.  Pouco  abaixo  outro  menor,  e  logo  de- 
pois outro  maior  que  os  antecedentes,  e  a  todos  denomi- 
namos, Os  Três  Irmáos.  A^s  12  chegámos  á  rabeceira 
de  uma  cachoeira,  e  examioando-se,  o  canal  se  achou  su- 
ficiente psra  canAa  grande,  descarregada  porém  de  meia 
cai^a :  as  menores  vieram  á  sirga  por  um  canal  encostado 
á  mai^m.  A  esta  cachoeira  obamámos  das,  Lages  Grandes- 
Seguimos  viagem  ás  3  1/4.  A^s  4  3/4  passámos  dois  peque- 
nos sangradoaros,  e  logo  abaixo  um  ribeiro  gran^de.  A's  K  3/4 
fizemos  pouso  em  uma  grande  ilha,  e  a  denominámos  com 
todas  as  que  estáo  da  barra  do  Jeruena  para  baixo.  Ilhas 
do  Archipelago.  (20  dtas  de  viagem.) 

No  dia  8  seguimos  viagem  ás  6  1/4,  e  1/4  depois  passámos 
um  ribeirão  grande,  e  depois  entrámos  a  passar  por  muitas 
pedras  atlas,  reductos  9  pequenas  cachoeiras,  que  não  im- 
pediam a  viagem.  A's  9  chegámos  a  uma  mais  caudalosa, 
mas  com  bom  canal,  e  a  denominámos  das,  Lages  Pe- 
quenas. A's  10  1/2  passámos  um  ribeirão;  ás  3  da  (arde 
outro,  ás  3  3/4  outro,  e  ás  4  1/2  outro. 

Todas  estas  vertentes  fluem  na  mai^em  oriental,  ou  di- 
reila,  que  é  a  que  viemos  sempre  seguindo.  A^s  5  1/2  fi- 
zemos pouso  em  uma  ilha.  (21  dias  de  viagem.) 

No  dia  9  partimos  ás  K  3/4.  A's  6  passámos  um  ribeirão, 
e  pouco  abaixo  outro  menor.  A's  T  1/2  passámos  um  ria- 
cho de  12  ou  14  braças  de  largura,  e  o  chamámos  de.  Santa 
Anna.  Seguíram-se  depois  mais  outros  ribeiros  menores  com 
pouca  distancia  uns  dos  outros.  A's  3  da  tarde  entrámos 
a  passar  algumas  pequenas  cachoeiras,  correntezas  e  bo- 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  119—  _ 

qoffrões.  As  6  1/4  fizemos  pouso  em  terra  firme.  (22  dias 
de  viagem.) 

Partimos  no  dia  10  ás  6  1/4  por  causa  de  uma  grossa 
cerração.  Continuámos  a  navegar  da  mesma  fórma  como 
□a  tarde  antecedente.  A's  6  chegámos  á  duas  cachoeiras  com 
bons  canaes.  A's  9  chegámos  a  uma  maior,  em  que  foi 
preciso  descarrc^rem-se  as  canoas  de  meia  carga  para  pas- 
sarem á  sirga  por  um  pequeno  canal  encostado  á  margem 
direita.  A  esta  cachoeira  chamámos  de,  S.  Luiz.  A's  11 
seguimos  viagrai  com  mais  amiudadas  correntezas,  boquei- 
rões e  pequenas  cachoeiras,  e  assim  continuou  a  na- 
vegação por  Ioda  a  tarde,  vindo  o  rio  por  entre  peque- 
nos montes,  pelo  que  chamámos  as  referidas  cachoeiras 
dos,  Morrinhos.  A's  5  chegamos  a  uma  assaz  grande,  com 
canal  largo.e  fundo,  porém,  muito  furioso,  com  ondas  e 
rebojos,  e  chamámos  a  esta  cachoeira  de,  S.  Germano  da 
Bocaiua.  N'ella  pousámos  com  as  cargas  e  maior  parte  das 
canoas  para  baiio.  (23  dias  de  viagem.) 

No  dia  11  pelas  7  da  manhã  seguimos  viagem  por  entre 
boqueirões  e  rebojos,  e  logo  ás  7  1/4  chegámos  á  coniluen- 
cia  de  um  rio  de  30  braças  pouco  mais  ou  menos  de  boca, 
e  o  denominámos,  Rio  de  S.  João,  o  qual  desagua  na 
testa  de  dois  grandes  boqueirões,  que  formam  uma  ca- 
choeira maior  que  todas  as  antecedentes.  Para  passal-a 
foi  necessário  descarregarem-se  as  canoas  duas  vezes,  em 
duas  distinctas  ilhas  ou  montes,  que  estão  no  meio  do  rio, 
sendo  a  entrada  por  um  canal  á  direita,  e  a  sabida  por 
outro  á  esquerda ;  ainda  que  depois  se  especulou  que  na 
terra  Srme  do  lado  oriental  tem  bom  descarre^dor,  que 
com  prebende  ambos  os  boqueirões  doesta  cachoeira,  a  que 
denominámos  de,  S.  João  da  Barra.  D'ella  partimos  pela  1 
da  tarde  ;  ás  2  passámos  duas  pequenas  cachoeiras  co  m 
bons  canaes,  e  algumas  conenlezas  intermédias,  e  logo 


Dictzedby  Google 


—  IW  — 

depois  ohoginos  á  ealiaceira  d'outra  a^ar  gipnde  e  fiaud»- 
losa,  com  muitas  ondas  e  rebojos,  e  Toi  necessário  ries- 
carregarem-sQ  inleiranieole  as  caoftas  para  passal-as,  indo 
a  maior  p<M  um  caaal  eacostado  á  margem  direita,  e  os  ba- 
telões por  outro  maoor  da  esquerda,  pelo  qual  também  se 
observou  que  secia  mais  favorável  a  subida  doesta  cachoeira, 
a  que  cbamAmos  de,  S.  €arlos.  D'ella  partimos  ás  5  J/i,  e 
\(ig/o  abaiio  avistámos  um  espesso  nevoeiro  que  subia  de 
um  grande  salto,  cujos  bramidos  já  de  loage  se  faziam  ou- 
vir e  temer.  A^s  5  1/2  embicámos  na  ealrada  do  varadouro, 
que  é  na  mesma  margem  oriental.  Tem  este  salto  90  »u 
100  palmos  de  altura,  dividido  em  2  degráos,  e  por  ser 
este  o  passo  mais  notável  que  temos  encontrado,  e  nos 
persuadimos  encontraremos  n^esta  navegação,  com  aceita- 
ção e  applauso  geral  dos  nossos  companheiros,. o  denomi- 
námos. Salto  Augusto,  em  reconhecimento  e  meíDoria  do 
Itlm.  e  Exm.  Sr.  João  Carlos  Augusto  d'Oeynhausen  Gre- 
venbui^,  acluai  governador  e  capit&o  general  da  capitania 
de  Mato-Grosso,  e  nomeado  para  a  do  Pará,  que  tío  pode- 
rosamente favoreceu  esta  expedição,  para  se  es]^ular  e 
pAr  em  pratica  esta,  até  agora  quasi  desconhecida  navega- 
ção. (24  dias  de  viagem.) 

No  dia  12  se  preparou  o  caminho,  e  é  o  mesmo  por 
onde  passaram  o  sargento-mór  João  de  Sousa  e  o  forriel 
Manoel  Gomes,  segundo  diz  este  no  seu  Boieiro  Tem  o 
varadouro  966  braças,  e  quasi  todo  por  bom  terreno,  mas 
da  parte  de  baixo  ao  chegar  ao  rio  tem  um  inevitável  monte 
muito  íngreme,  que  faz  ser  a  varação  perigosa  para  os  que 
descerem,  o  muito  trabalhosa  para  os  que  subirem ;  e  só 
com  grande  força  de  gente,  e  pouca  pressa  se  conseguiria, 
com  não  pequeno  trabalho  ahrir  um  caminho  menos  ás- 
pero, ou  rasgando  o  mesmo  que  existe  até  fazél-o  mais 
commodo,  ou  abrindo  outro  em  lugar  mais  praticável,  po- 


D,:„i,;cdtv  Google 


-  tlt  - 

rém  rai  qnalqoer  dos  casos  seria  necessário  em  algiunas 

parles  arrebeatar  e  arredar  grandes  penedos,  e  em  OQtras 
fner  teruplano.  (2K  dias  de  viagem.) 

No  dia  l.t  se  puzeram  iodas  as  cargas  para  baixo  e  se 
Tararam  os  batelões;  e  a  canda  graade  ficou  no  cume  da 
referida  montanha.  [36  dias  de  viagem.) 

No  dia  li  concluiu-se  a  varação  ás  6  da  tarde,  cora  gran- 
des desmanchos  nos  concertos  antigos,  e  algumas  novas 
quebraduras,  damao  que  também  (ivcrsm  as  outras  candas. 
37  dias  de  viagem.) 

No  dia  15  SQ  concertaram  as  canúas  desmanchadas,  e  fi- 
caram promplas  para  seguir  viagem.  (iS.  dias  de  viagem.) 

Partimos  jio  dia  16  pelas  8 1/2  da  manhã  com  boa  nave- 
gação, tendo  sempre  em  vista  a  serra  que  )i  os  dias  antece- 
dentes vem  acompanhando  o  rio,  não  só  de  um  lado  como 
de  ambos,  e  a  denominámos  Serra  Morena.  A's  13  chega- 
mos A  uma  cachoeira  com  bastante  queda,  muitas  ondas  e 
rebojos,  e  foi  necessário  descarregarem-se  as  candas  do 
lado  esquerdo,  e  a  denominemos  do  Tucarizal.  A's  3  se- 
guimos viagem,  e  logo  abaiio  lornánios  a  parar  para  se 
concertarem  dois  batelões  que  faziam  muita  agua,  e  quast 
se  alagaram.  Àlli  falhámos  o  resto  do  dia.  (29  dias  de 
viagem.) 

CoDtinuou-se  a  17  o  concerto  das  canoas,  até  ás  10  1/^ 
da  manbi  em  que  seguimos  viagem.  A'5  13  chegámos  a 
uma  grande  cachoeira  que  fas  um  furioso  e  temivel  canal 
entre  penedos  com  muitos  rebojos  e  ondas,  e  a  chamámos 
de  Santa  Edoviges  das  Furnas.  Descarregaram-se  as  canAas 
na  margem  oriental :  a  grande  desceu  por  um  canal  encos- 
tado ao  mesmo  lado,  e  os  batelões  por  um  menor  do 
Occidental,  pelo  qual  se  especulou  que  (eri  melhor  subida. 
A's  S  1/3  seguimos  viagem,  e  ás  5  passámos  3  cachoeiras 

TOMO  XXXI,  P.  I.  16 


Dictzedby  Google 


-  I»  — 

pouco  distantes  ama  das  outras.  A's  &  3/4  fitemos 
fim  uma  ilba.  (30  dias  de  viagem, ) 

Seguimos  viagem  do  dia  18  ás  6  1/4  da  roanhã, 
passámos  duas  cachoeiras  com  bons  cauaes  eocosla 
lado  direito.  A's6e  35  passámos  outra  com  canal  pelo 
A's  7  chegámos  a  um  lugar  em  que  se  acha  o  rio  c< 
da  reductos  de  pedras  e  pequenas  ilhas,  e  se  divide 
canaes,  os  quaes  depois  de  especulados  se  achou 
canoa  grande  só  podia  descer  por  um  boqueirão  sej 
do  lado  direito,  e  os  batelões  pelo  esquerdo,  pel 
dizem  os  pilolos  ser  mais  praticável  a  subida  dV 
choeira,  que  chamámos  das  Ondas  Grandes.  DVIIa  pari 
esiá  a  serra  encostada  nu  lado  occidenlal,  e  se  djvisan 
algumas  pequenas  campinas.  A's  10  1/2  chegámos 
grande  cachoeira  em  que  foi  preciso  descarrega 
ínteiramenie  as  canoas,  que  vieram  à  sirga  pelo  dl 
esquerdo,  esóse  puderam  nVste  dia  passar  C,  fit 
para  cima  da  cachoeira,  que  denominámos  de  S. 
Erangelísta. 

Passaram-se  no  dia  19  os  dois  balelões  que 
fíeado  para  cima,  e  por  um  d'elles  eslar  muito  <1 
lelado,  e  não  admillir  mais  concerto  foi  preciso  A 
6  lizemos  adiantar  sele  pessoas  para  que  abai 
cachoeiras  grandes,  que  ainda  tinham  de  passar  f 
uma  canoa  que  supprisse  a  faltada  deiíada.  A's 
seguimos  viagem  e  logo  abaixo  vai  o  rio  po] 
penhascos  com  alguns  rebojos.  A'$  10  l/â  pass 
barra  de  um  rebeirão  grande,  que  desagua  na  : 
oriental.  A^s  11  chegámos  a  uma  cachoeira  po 
muitos  reductos  e  pequenas  ilhas:  achou-se  ui 
sufBciente  para  a  canoa  maior,  que  desceu  carr 
sahiu  felizmente,  apezar  das  grandes  ondas  e  reb 
menores  vieram  por  enlie  ilhas  por  um  canal  ci 


Dictzedby  Google 


—  123  — 

ao  lado  direito.  A  esta  cactoeíra  chamámos  de  S.  Gabriel 
A'5  3  da  tarde  seguimos  viagem  tendo  em  vista  a  Sena 
Moreoa,  que  alli  parece  atravessar  o  rio,  e  estando  ainda  no 
mesmo  estirão  da  passada  cachoeira  chegámos  á  testa  de 
outra  ainda  maior,  dividido  alli  o  rio  por  mil  regatos, 
entre  ínnumeraveis  ilhas  com  perigosos  saltos,  quasí  todos 
os  braços,  que  ellas  formavam.  Depois  de  trabalhosas 
especulações  achou-se  um  pequeno  braço  quasiaolado 
oriental  para  n^elle  se  sirgarem  as  canoas,  as  quaes  ficaram 
descarregadas  no  lado  occidental  onde  pousámos.  ( 3-2  dias 
de  viagem.) 

No  dia  20  ás  10  da  manhã,  estiveram  todas  «s  canoas 
para  baixo  d'esta  grande  cachoeira  que  denominámos  de 
S.  Raphael.  A^s  10  1/2  seguimos  viagem,  e  não  lendo  bem 
passado  um  quarto  de  hora,  chegámos  a  outra  temivel 
cachoeira  com  três  boqueirões  ou  saltos,  com  terríveis  rebojos 
e  grandes  ondas.  Quasi  encostado  ao  lado  direito,  se 
achou  um  pequeno  canal,  pelo  qual  se  passaram  os  batelões, 
e  a  canAa  grande  se  aventurou  por  um  canal  que  pareceu 
mais  moderado  entre  os  furiosos,  que  alli  havia,  esahiu 
felizmente,  bem  que  cheio  d'Rgu.i,  não  obstante  estar  de 
Indo  descflrr^ada.  A  esta  cachoeira  chamámos  de  Santa 
Iria  das  Três  Quedas.  A's  i  da  tarde  estiveram  canoas  e  car- 
gas para  baixo  d^ells,  e  fizemos  pouso  na  cabeceira  de 
outra  ainda  mais  terrivel,  da  qual  pouco  distava,  a  qual 
pelo  muito  declive,  e  estreiteza  do  boqueirão  por  onde 
pn-^sa  lodo  o  rio,  faz  um  turbilhão  horrivel,  assaz  com- 
prido, que  ameaça  submei^ir  qualquer  canoa  que  quízer 
passar  o  canal.  (  33  dias  de  viagem,  j 

No  dia  21  descarrega ram-se  as  canftas  no  lado  oriental, 
e  passaram-n'8s  para  o  occidental  para  se  especular,  se  por 
alli  se  poderia  sirgar,  e  por  se  reconhecer  depois  sor  a 
sirga   impraticável  se  assentou  em  abrir  varadouro,  que 


Dictzedby  Google 


-  1S4  — 

n'e»ti  m»smo  dia  esteve  prompto.  A  eslagraode  cachoeira 
ctuiMiaioa  de  &.  Úrsula.  [  34  dias  de  viagem  j, 

{>M*M  principio  A  varação  ao  dia  22,  e  pur  cau&a  das 
chuvas  e  as|>weEa  do  camiobo  pouco  se  adiantou;  e  o 
mesmo  aroDieceu  dos  dias  23,  24  e  25,  em  quQ  mal  se 
pdde  concluir,  ficando  a  caa^a  grande  maito  maltratada, 
eobatelão  maior  totalmente  ínulil.  (36  dias  de  viagem). 

Partimos  no  dia  26  pelas  11  e  40  da  manhã.  Logo  abaixo 
passámos  um  pequeno  libeirSo  que  desagua  na  margem 
oecídenlal.  (  36  dias  de  viagem). 

A'  1  da  tardo  chegámos  a  uma  cachoeira  em  que  íoi 
preciso  descarregarem- se  as  camVs  de  meia  caiga,  e  passa- 
p«m  felizmente.  A  esta  cachoeira  chamámos  da  Misericórdia. 
N'ella  diz  Manoel  Gomes  nu  seu  Roteiro  haver  naufragado 
uma  das  suas  canoas.  A^s  3  seguimos  viagem,  e  3/4  depois 
chegámos  a  uma  cachoeira  de  pouca  queda, porém  bastante- 
mente  comprida  com  bom  canal  á  esquerda;  e  pouco 
abaixo  passámos  outra  com  canal  á  direita.  A's  %  t/4  che- 
gámos a  uma  assaz  grande,  com  queda  alta  furiosa,  rebojus 
e  ondas. 

Embicámos  do  lado  occídental,  onde  mostrou  (er  mais 
praticável  passagem,  e  alii  fizemos  pouso.  (37  dias  de  via- 
gem). 

Passáram-se  no  dia  27  as  cargas  ecanfias  pelo  lado  es- 
querdo d'esla  cachoeira,  que  chamámos  de  S.  Florêncio  ; 
ficando  o'esle  dia  tudo  promplo  para  a  parte  de  baixo.  (38 
dias  de  viagem. ) 

Seguimos  viagem  ao  dia  28ás  7  da  manhã;  ás  9 entrámos 
em  uma  comprida  cachoeira  de  pouca  queda,  mas  com 
vários  boqueirões  e  caiiaos,  uns  á  direita,  outros  oo  ineio, 
e  outros  á  esquerda,  e  em  todos  muitas  ondas  e  rebojos,  e 
a  chamámos  do  Labyriutho.  A^s  12  chegámos  a  um  salto  de 
40  palatos  pouco  mais  ou  menos  d«  altura^  formado  em 


D,:„l,;cdtv  Google 


-1»- 

uiD  logir,  em  que  ee  acha  o  rio  apertado  eatredius  serras : 
embioou-se  pelaparta  esquerda,  eespecultds  a  passagaiQ, 
depois  de  trabalhosas  indagações,  se  observou  ser  impra- 
ticável a  passagem,  assim  por  agua  como  por  terra,  e  por 
isso  voltou~se  8  tomar  pelo  bra^o  de  uma  ilha  ao  lado 
oriaotal.  Á.  este  salto  chamámos  de  S.  Simão  de  Gibraltar. 
Este  é  um  dos  maia  trabalhosos  passos  que  temos  eocoo- 
teado  ii'esta  viagem,  pois  que,  não  só  náo  admítte  nav^a- 
çio,  como  Dem  aiada  varação,  por  serem  as  margens 
formadas  só  de  altos  e  descarnados  penedos,  com  varias 
passagoDs,  em  que  é  preciso  vater-se  também  das  mãos 
para  se  oão  cabtr.  Depois  de  bem  especulados  todos  os 
lugares,  por  onde  se  poderia  passar,  achou-se  que  encos- 
tado á  ilha,  em  cujo  braço  estávamos,  se  poderia  formar  um 
praticável  varadouro,  abrindo-se  o  «miobo  por  entre  os 
penhascos,  arredaiido-se  uns,  e  ígualaado-se  outros  cora 
estivas.  (39  dias  de  viagem). 

Preparou-se  o  varadouro  Do  dia  29,  e  deu-se  principio  a 
varaçáo,  e  só  ficaram  varados  3  batelões.  (40  dias  de  via- 
gem.} 

Proseguiu-se  no  dia  30  a  varaçío  das  mais  canoas,  e 
ficaram  todas  para  a  parle  de  baiio.  Concertou-se  no  dia  31 
a  caoAa  grande,  que  ficou  muito  maltratada,  e  se  foi  varar 
uma  Dova,  que  pouco  abaito  d'este  salto  Unham  feito  as  7 
pessoas  qae  ae  haviam  adiantado  para  este  Aro,  como  fica 
raArido.  (41  dias  de  viagem). 

Partimos  do  1*  de  Novembro  ás  O  i/i  da  manhã  em 
boa  navegação;  ás  1 1  chegámos  a  uma  comprida  caohoeira 
com  vários  boqueirões,  ondas,  e  rebojos,  mas  sempre  com 
bons  canaes,  sendo  a  entrada  pelo  lado  occidental  e  sabida 
pelo  oriental.  A  esta  cachoeira  chamámos  de  Todos  os  San- 
tos. No  fim  d^ella  fiue  do  mesmo  lado  oriental  um  rio  de  30, 
uu  35  braças  de  largura,  froateiro  a  mua  grande  praia^  e  a 


Dictzedby  Google 


chamamos  rio  de  SSo  Thomé.  As  4  da  tarde  paasá 
bocea  de  outro  menor,  que  desopis  do  lado  occtdenti 
chamamos  de  S.  Martinho.  As  B3/i  fizemos  pou 
uma  ilha.  (42  dtas  de  viagem }. 

Seguiu-se  viagem  no  dia  3  ás  5 1/4  com  boa  navei 
e  fnmns  passando  muitas  ilhas,  grandes  praias,  e 
pequenos  montes  do  lado  esquerdo.  As  S  da  tardo  pas 
a  conflucncia  de  um  riacho,  que  Rue  na  mai^em  dir 
o  chamámos  rio  das  Almas.  Logo  abaixo  da  foz  vi 
sertão  alé  o  rio  uma  ponta  de  serra.  As  6  Tizemos  ] 
(43  dias  de  viagem). 

Partimos  no  dia  3  ás  5  1/2  horas ;  ás  6  3/4  pass^ 
direita  um  ribeiro  que  flue  defronlo  uma  ilha  o  di 
duetos  de  pedras ;  ás  8  chegámos  a  harra  d'um  grane 
a  que  Manoel  Gomes  no  seu  Roteiro  chama  de  S.  M. 
elle  tem  a  mesma  largura  do  Jeruena  e  a  mesma  dir 
Na  poDta'  de  terra  que  divide  ambos  os  rios  se  ac 
padráo  que  alli  pdz  o  dito  Manoel  Gomes.  A  conflueti 
dito  rio  é  na  margem  oriental.  Por  cima  d'ella  em 
distancia  iluem  no  Jeruena  três  sangradouros,  ('si 
o  mesmo  a  que  os  uaturaes  chamam  Tapajoz,  cujo 
conserva  até  desaguar  no  Amazonas,  do  qual  é  um  do 
consideráveis  braços.  Proseguindo  a  viagiim,  encon 
ás  10  horas  embicadas  em  uma  ilha  três  çanOas  de 
Mundurucáz,  e  alli  se  achavam  23  homens  e  5  mulh 
tanio  estas  como  aquelles  totalmente  nus.  Embicou 
tropa  onde  eiies  estavam,  e  Ticiram  algum  tanto  so 
tados.  Entre  a  sua,conrusa  linguagem  se  percebiam  a 
palavras  do  idioma  geral  di)s  índios,  e  significaram  <] 
davam  á  montaria  c  habitavam  para  cima  d'aquellc 
e  entendeu  -se  ser  a  sua  morada  no  rio  de  S.  Manoel , 
mais  se  podo  pon-eb  er. 

Deu-se-jhes  vanos  mimos,  que  aceitaram  mui  con 


Dictzedby  Google 


-  t«r  — 

EJIk  tiobam  alguns  trinchetes  e  facões  pequBD  ;  e  as 
mulheres  e  crianças  contas  brancas  e  <l'oatras  <  es,  que 
davam  certeza  de  terem  elles  mais  ou  menos  mmuDi- 
cação  com  gente  civilisada;  porém  em  Indo  o  ais  nos 
pareceram  tão  bárbaros  e  ainda  mais  pobres  -  j  que  os 
Apiacaz,  puis  que  até  as  suas  redes  eram  de  embiras,  e  nada 
tinham  de  algodão. 

Os  homens  quasi  todos  tém  a  cara  tinta  de  preto,  e  as 
mulheres  pela  maior  parte  tingem  somente  parle  do  rosto, 
e  todos  elles  lêm  as  orelhas  furadas  superiormente.  Pouco 
abaixo  do  lugar  em  que  os  encontrámos  passámos  no  lado 
oriental  uma  grande  praia,  e  no  fim  d'ella  desagua  um  rio 
de  40  braças  com  pouca  difTorsnça,  bastentemente  fundo, 
e  corrente  com  a  agua  preta,  que  denotava  virem  de  alguns 
pântanos.  Na  barra  acharam-se  páos  cortados  e  armadores 
de  rede,  pelo  que  o  denominámos  río  dos  Bons  Signaes. 
Continuámos  a  viagem  por  entre  innumeraveis  ilhas,  e 
eitensas  praias.  A^s  6  da  larde  fizemos  pouso.  (44  dias 
de  viagem.)  ^ 

Partimos  no  dia  4  ás  5  3/4  horas  da  maobfi,  lendo  em 
TÍsta  altas  montanhas  d'um  e  d'oulro  lado  do  rio;  is  7  pas- 
sámos uma  correnteza,  e  ás  10  outra  mais  comprida,  con- 
tinuando o  rio  com  extraordinária  tai^ra :  ás  S  da  tarde 
chegámos  ao  fim  d'um  comprido  estirão,  e  logo  entrámos 
a  passar  correntezas  e  baixos  de  lagedos,  e  assim  continuou 
por  grande  espaço.  N'este  lugar  tem  a  serra  do  lado  Occi- 
dental algumas  campinas,  e  defronte  desagua  na  margem 
oriental  um  ribeiro  caudaloso. 

A'5  C  1/4  fizemos  pouso  na  testa  d'uma  cachoeira  maior 
que  as  que  temos  passodo  na  tarde  antecedente.  (45  dias 
de  viagem.) 

No  dia  5  se  especularam  os  canaes  de  referida  vachoeira, 
fl  pariimos  ás  8  da  manhã  costeando  os  canaes  encostados 


Dictzedby  Google 


ao  laâo  dlnito,  que  eram  bons,  e  por  entre  os  bnços 
ã'algnmas  ilhas. 

Em  meio  da  cachoeira  eslava  uma  roça  velha,  e  haveria 
um  anno  que  os  índios  tiobam  alli  plantado.  A's  9  sahimos 
da  sobredita  cachoeira,  e  proseguimos  com  boa  navegação 
até  ás  3  da  tarde,  em  que  chegámos  a  uma  cachoeira,  com 
caDaes  muito  baixos,  e  em  parte  se  passou  á  sirga  pelo 
braço  d'uma  ilha  ao  lado  occidental,  e  defronte  a  mesma 
ilha  flue  um  riacho.  A.'s  4  chegámos  a  outra  cachoeira,  e 
por  se  oío  achar  boa  passagem  para  aquelle  lado  se  passou 
para  o  occidental,  e  se  desceram  alguns  cordões  da  referida 
cachoeira,  e  na  cabeceira  d'um  mais  caudaloso  se  fez  pouso 
ás  4  3/i.  N'esle  lugar  assim  como  em  outros  vários  que 
temos  portado  tém-se  visto  muitos  ranchos  velhos,  páos 
cortados  e  outros  vestigios  que  denotam  haver  alli  frequên- 
cia de  passageiros.  (46  dias  de  viagem.) 

No  dia  6  se  descarregaram  as  canAas  e  passaram  a  refe- 
rida cachoeira.  A's  8  horas  dn  manhã  seguimos  viagem  pelo 
braço  d'uma  ilha  encostada  á  margem  esquerda,  e  fomos 
passando  muitos  cordões,  com  os  canaes  baslaniemente 
baixos,  e  em  quasi  todos  era  preciso  irem  as  canoas  á 
sirga,  e  assim  continuou  a  navegação  por  entre  correntezas 
e  baixos.  Ã's  11  chegámos  a  uma  cachoeira  msis  caudalosa 
que  as  antecedentes,  e  para  passal-s  se  tornaram  a  descar- 
regar as  caudas  de  meia  carga.  A  estas  ditas  cachoeiras 
chamámos,  Sem  Canaes.  Pela  1  da  tarde  seguimos  viagem, 
iodo  o  rio  por  entre  serras  e  do  mesmo  modo  apar- 
cellado  como  antes.  A's  5  ficou  na  sua  costumada  largura 
e  com  melhor  Dav^ção.  A^s  5  1/2  fizemos  pouso  á  di- 
reita. (47  dias  de  viagem.) 

Partimos  no  dia  7  ás  6  da  manbã  ;  ás  10  passámos  um 
sangradouro  é  esquerda,  e  ás  5  ds  larde  outro  maior  á  di- 


Dictzedby  Google 


-  120  — 

raiUi  defronto  de  urtia  ilba;  ki  8  faiemos  pouso.  [46  dias  dp 
viagem.) 

No  dia  8  seguimos  vú^em  ás  5  da  manbá  com  boa  nave- 
gsçSo  ;  is  7  paRSámos  um  sangradouro  do  lado  direilo  ;  is 
10  entrámos  a  passar  muitas  pedras  altas  por  todo  o  rio,  e 
assim  continuou  um  grande  espaço,  sem  oointudo  fazer 
correntezas.  A's  S  da  larde  fizemos  pouso.  (49  dias  de 
viagem.)        f 

Fizemos  viagem  no  dia  9  ás  6  da  manhx ;  ás  7  1/2  en- 
trámos em  uma  comprida'  cachoeira  pouco  alterosa.  Depois 
segaimoB  viagem  por  entre  ilhas  e  reduclos  de  pedras  com 
algumas  correntezas  e  baixos,  ás  6  fizemos  pouso.  (50  dias 
de  viagem.) 

Partimos  do  dia  10  ás  5  3/4,  e  logo  entrámos  em  umas 
correatezas  que  em  partes  faziam  pequenas  cachoeiras. 
Das  8  em  diaole  proseguimos  com  boa  navegação  até  ás 
h  1/4,  em  que.  fizemos  pouso  abaixo  de  um  rio  de  2S  a  30 
braças  de  largura,  a  que  os  naluraes  chamam  Crepurí,  e 
desagua  na  margem  oriental,  e  porella  adentro  tem  aloja- 
mentos de  Mundurucuz.  (51  dias  de  viagem.) 

Seguimos  viagem  do  dia  11  ás  fi  da  manhã  por  entre 
ilhas,  e  o  rio  bastantemente  aparcellado.  A.'s  5  da  tarde  di- 
visámos em  cima  da  serra  de  um  e  outro  lado  do  rio  alguns 
campestres,  defronte  dos  quaes  fizemos  pouso.  (52  dias  de 
viagem.) 

Proseguimos  do  dia  12  ás  6  da  manhã,  e  logo  entrámos 
a  passar  muitas  correntezas,  baixos,  u  depois  uma  ca- 
choeira oom  bom  canal  á  esquerda  ;  ás  9  1/2  entrámos  em 
outra  mais  comprida  com  innumeraveis  boqueirões,  ondas 
e  rebojos,  e  assim  foi  coaiinuundo  até  ás  11 1/2. 

A  estas  cachoeiras  chamam  os  naturaes,  das  Mangabeiras. 
Proseguimos  depois  com  boa  navegação  até  ás  6  da  larde 
em  que  fizemos  pouso.  (K3  dias  de  viagem.) 

TOHO  XXXI,   f.  I  17 


Dictzedby  Google 


—  ISO  — 

Fizemos  viagem  no  dia  13  As  6  1/4  ;  logo  abaixo  chegá- 
mos a  uma  grande  cachoeira  na  qual  sa  acha  um  canal  suf- 
ficieate  para  as  candas  maiores  encostado  á  mar^m  orien- 
tal ;  as  pequenas  vieram  A  sirga  pelo  mesmo  lado.  Esta 
cachoeira  tem  em  meio  um  alto  monte  por  detrás  do 
qual  passa  um  grande  braço  do  rio.  Os  naluraes  chamam-a 
Acaraitú ,  e  nós  a  denominámos  da  Montanha.  D^ella 
para  baixo  seguimos  por  entre  algumas  correntezas  e  re- 
bojos,  Vs  10  chegámos  a  um  lugar  em  que  fica  o  rio  assaz 
estreito,  e  tem  uma  cachoeira  com  canal  largo  e  franco  ao 
mesmo  lado  oriental.  Oâ  natura  es  a  chamam  Urubutú,  e 
DÓS  a  denominamos  dos  Feíxos.  Continuámos  depois  a 
viagem  com  boa  navegação  até  ás  41/2  da  (arde,  em  que 
fizemos  pouso  por  causa  dos  ventos.    (54  dias  de  viagem.) 

Partimos  no  dia  14  ás  S  da  man  hS  com  boa  navegação  ; 
ás  8  passámos  a  barra  de  um  caudaloso  rio  a  que  os  oatu- 
raes  chamam  Jaguaim,  e  desaba  na  margem  direita.  A^s  10 
passámos  duas  pequenas  cachoeiras  com  pouca  distancia 
uma  da  outra.  A's  2  da  tarde  entrámos  em  outras  muito 
compridas  com  vários  cordões,  e  alguns  caudalosos  boquei- 
rões, e  sempre  se  acharam  bons  canaes,  e  toda  a  tarde  na- 
vegámos por  uma  continuada  cachoeira,  e  fizemos  pouso 
na  tesl^  d'outra,  que  indicava  ser  maior  que  as  anteceden- 
tes. (55  dias  de  viagem.) 

Seguimos  viagem  no  dia  15  ás  8  1/2  por  causa  de  chu- 
vas, logo  passámos  á  canal  um  caudaloso  cordão  de  ca- 
c  hoeiras,  e  pouco  abaixo  foi  preciso  descarregar  e  sirgar 
em  outro  maior.  A's  3  da  (arde  partimos ;  e  por  ser  impra- 
ticável a  descida  pelo  lado  esquerdo,  que  temos  seguido, 
atravessámos  para  o  direito  por  entre  diversos  cordões,  e 
por  cima  de  um  assaz  furioso,  pousámos.  A  estas  referidas 
cachoeiras  chamam  os  naluraes,  do  Pacoval.  Pouco  abaixo 
d'ellas  divide-se  o  rio  por  muitos  braços  entre  montes, 


Dictzedby  Google 


—  131  — 

formaudo  em  todos  temíveis  cachoeiras  e  saltos.  {K6  dias 
de  rí^em.) 

No  dia  16  logo  de  manhã  se  descarr^aram  as  canl^as,  e 
passaram  o  caoal  por  um  estreito  braço  a  que  os  naturaes 
chamam  das  Frecheíras.  Seguindo  viagem  por  um  pequeno 
espaço  por  entre  boqueirões  e  rebojos,  logo  foi  preciso  tor- 
nar a  descarregar  as  caudas  por  se  subdividir  o  rio  por 
oode  temos  vindo  em  mil  pequenos  regatos ;  e  para  pas- 
sarmos abriu-se  um  quasi  secco,  e  em  parles  varando  e 
em  parles  sirgando,  estiveram  no  &m  do  dia  por  baixo 
todas  as  canAas,  (endo  logo  em  vista  outras  cachoeiras 
muito  grandes  e  caudalosas.  (57  dias  de  viagem.} 

A  17  se  carregaram  as  caudas  e  s^uimos  viagem  ás  8  da 
manhã,  por  espaço  de  6  minutos,  e  Ic^  embicámos  na 
lesta  da  referida  cachoeira,  ou  quasi  salto.  As  caudas  maio- 
res vieram  &  sirga,  e  as  menores  se  vararam  por  uma  ponta 
de  lage.  A's  12  esteve  tudo  para  baixo,  e  s^uimos  por 
eofre  boqueirões  com  ondas  e  rebojos.  Pela  1  da  tarde 
passámos  outra  cachoeira  grande,  mas  com  canal  franco 
pelo  lado  Occidental.  A  esta  e  ás  duas  antecedentes  chamam 
os  do  paiz  cachoeiras  do  Maranhão.  Seguimos  quasi  uma 
hora  por  um  estirão  de  rio  morto,  e  depois  chegámos  a 
uma  cachoeira  assaz  grande,  roas  cora  canaes  laicos  e  fun- 
dos, se  bem  que  com  muitas  ondas  e  rebojos.  Por  ciroa 
d^ella  escoa  um  riacho  de  mais  de  20  braças  de  boca,  a 
que  chamam  os  naturaes  Tracoá.  £  o  mesmo  nome  tem  a 
dita  cachoeira.  Logo  abaixo  d'ella  se  reúnem  os  differen- 
les  braços  de  rio  que  se  haviam  separado  por  entre  os  mon- 
tes, e  fica  na  sua  costumada  e  extraordinária  la^ura  e  com 
boa  nav^ção.  A's  5  1/2  azemos  pouso  defronte  de  um 
sangradouro  que  flue  na  mai^em  esquerda.  (58  dias  de 
viagem.) 

Partimos  no  dia  18  ás  5  da  manhã,  e  logo  abaixo  cbegá- 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  138  — 

mos  a  uma  praia  oode  estavam  de  moalaria  alguns  índios 
das  povoações  do  Pará  ;  e  um  d^elles,  quefallava  soffmel- 
meute  porluguez,  uoticiou-me  a  vizinhança  em  que  já  es- 
tava dos  primeiros  moradores,  e  por  astaram  já  de  viagem, 
de  compaubia  comoosco  seguiram  para  baixo,  costeando 
o  lado  oriental.  A^s  40  encontrámos  ama  igaríté  grande  que 
vinba  subindo  com  muitos  indíos  que  não  quizeram  che- 
gar á  Talla.  Á^s  12  passámos  a  boca  de  um  riacho,  a  qa« 
chamam  Tapaeorá,  e  desagua  na  mai^m  direita.  A's  5  da 
tarde  passámos  dois  sítios  quasí  fronteiros  de  um  e  outro 
lado  do  rio,  sendo  o  do  oriental  de  índios  Jfundurucuz,  e 
do  Occidental  de  Magúet.  Á's  6  chegámos  a  um  estabeleci- 
mento maior  das  mesmas  nações,  e  por  seu  principal  e 
director  um  homem  branco  moria^anúta  de  nome  José  An- 
tónio de  Castilho,  em  cuja  casa  fizemos  pouso.  (59  dias  de 
viagem.) 

Seguimos  viagem  no  día  19  ás  5  da  manhã,  e  logo  fomos 
encontrando  verias  canoas,  e  passando  muitas  situações, 
algumas  de  pessoas  civílisadas,  ea  maior  parte  de  índios. 
A's  6  fizemos  pous<>.  (60  dias  de  viagem.) 

Sahimos  no  dia  20  ás  3  da  madrugada  costeando  sem- 
pre a  margem  oriental,  e  fui  continuando  a  passar  muitas 
situações  de  um  e  outro  lado ;  e  na  seguinte  madrugada 
chegámos  ao  lugar  de  Aveiro,  que  tem  vigário  e  juiz  vínte- 
nario.  Falhámos  n^aquelle  lugar  no  día  21  por  estará  espe- 
ra de  uma  das  canoas,  que,  tendo  vindo  pelo  lado  esquerdo, 
parou  em  Villa-Nova  de  Santa  Cruz,  que  está  quasi  defronte 
a  Aveiro,  e  por  causa  dos  ventos  oáo  fòàe  passar  o  rio 
senão  já  alta  noite.  (61  dias  de  viagem.) 

Seguimos  viagem  oo  día  32  ás  9  l/*2  da  manhã,  e  fize- 
mos pouso  ás  5  da  tarde  defronte  da  villa  de  S.  José  de 
Pinhot,  a  qual  pela  eicessíva  largura  do  rio  se  não  divisa 
distinctamente.  (62  dias  de  viagem.) 


Dictzedby  Google 


No  dia  23  seguimos' viagern  ás  âda  madragadii.  A's  11 
da  luai^  passámos  defronte  a  Villa-Boioi.  kh  5  fizemos 
pouso.  (63  dias  de  viagem.) 

Sahimos  oo  dia  3i  is  3  da  madrugada,  e  viajámos  até 
is  6  da  tarde  sem  novidade.  (64  dias  de  viagem.) 

Partimos  no  dia  35  ás  í  1/2  da  manhã.  A'a  3  da  tarde 
chegámos  á  villa  de  Alter  do  Cbâo,  situada  ao  lado  direito 
em  uma  ^nde  enseada.  Aili  parámos  o  resto  do  dia,  e 
pousámos.  Esta  villa  assim  como  as  que  já  ficam  nomeadas 
sáD  pequenas  povoações  de  400  a  500  almas.  As  casas 
todas  e  as  mesmas  igrejas  sio  cobertas  de  palha.  Os  mo- 
radores são  pela  maior  parte  iadios,  doe  quaes  mui  poucos 
sabem  a  língua  portogueza,  usando  todos,  e  alé  as  mesmas 
pessoas  brancas  que  entre  elles  moram,  do  idioma  a  que 
chamam  língua  geral.  Defronte  a  esla  villa  do  Alter  do 
Chão  está  na  mar^m  Occidental  Villa-Franca,  povoatjão  de 
méis  de  1 ,000  almas,  e  eota  moradores  mais  bem  estabeleci- 
dos. (65  dias  de  viagem.) 

Seguimos  viagem  no  día  S6  ás  8  da  manhã.  A's  10  pa- 
rámos por  causa  de  uma  grande  tempestade,  e  prosegnindo 
ás  3  da  tarde  fomos  pousar  oas  viziobanfas  da  villa  de 
Santarém,  na  qual  aportámos  ás  8  da  manhã  oo  dia  27. 
Esta  viUa  é  a  maior  do  sertão,  do  qual  é  considerada  como 
capital.  N'ella  tem  muitos  hooieas  estabelecidos  com  bas- 
tante escravatura,  que  empregam  oa  plantação  do  cacáo, 
principal  género  de  oommercio  da  capitania.  Ha  também 
muitos  negociantes,  uns  que  estão  arranohados  com  loja,  e 
outros  a  que  chamam  volantes,  que  commerciam  oas  suas 
canòis,  nas  quaes  andem  contiauamente  gyrando  da  um 
paia  outro  lugar.  (66  dias  de  viagem.) 

Partimos  d'es(a  vílla  de  Santarém  para  a  cidade  no  dia  t6 
de  Deiembro  era  duas  igarités,  por  ser  impraticável  a  conli- 
Duaçlo  da  viagem  nas  canâas  em  que  até  alli  tinha  vindo. 


Dictzedby  Google 


—  134  — 

Pouco  abaiio  d'esla  villa,  e  ainda  á  vista  <l'eUa,  entra  o 
corpulento  rio  Tapajoz  no  grande  rio  Amazonas,  pelo  qual 
proseguimos  com  muitas  paradas  por  causa  das  tempesta- 
des. Ao  norte  d^elle  desaba  o  rio  Surubiú,  e  ao  sol  o  do 
Coroa.  25  léguas  de  Santarém  está  ao  norte  a  vjlla  de 
Moate-Al^re,  e  abaixo  d^ella  desagua  o  rio  Curapatuba, 
que  dizem  descer  de  uns  dilatados  pântanos,  que  se  re- 
putam pela  longitude  de  mais  de  80  legaas.  Mais  abaixo  atra- 
vessámos a  boca  do  rio  Urubuquara,  e  pooco  distante  a  do 
Mapaco.  Pelo  mesmo  lado  avistámos  as  elevadas  serras  do 
Parei,  nas  quaes  conceberam  os  naturaes  por  antiquíssi- 
mas tradições  haver  preciosos  (besouros. 

D*este  sitio  busca  o  Amazonas  o  oceano,  e  n^elle  des- 
emboca pelo  cabo  do  Norte,  introduzindo  as  suas  aguas 
pela  distancia  de  40  léguas,  sem  mudança  na  doçura,  se- 
.  guodo  affirmam  os  náuticos.  Apartada  a  nossa  nav^açáo 
do  Amazonas,  a  continuámos  pela  banda  do  sul ;  e  por  um 
estreito  que  formara  duas  ilhas  entrámos  no  volumoso  rio 
IVingú  ou  Xingu,  conforme  dizem  os  naturaes. 

Este  rio  é  povoado  de  varies  lugarejos,  a  que  chamam 
villas  de  Souzet,  Pombal,  Porto  de  Moz,  Villarinho,  Carra- 
zedo e  outras. 

Navegando  um  dia  de  viagem  por  elle  abaixo  chegámos 
a  33  á  villa  e  registro  de  Santo  António  do  Gurupá,  onda 
nos  detivemos  até  o  dia  27.  (73  dias  de  viagem.) 

Proseguindo  pelo  mesmo  rio  Xingu,  a  pouca  distancia  o 
laigámos  embocando  o  estreito  de  Tanagepurú,  e  doeste  nos 
passámos  ao  de  Paraitaes. 

Ao  sul  da  nossa  navegação  deixámos  as  villas  de  Ar- 
raiolos, Portel,  Melgaço,  Oeiras  e  outras  povoações.  Atra- 
vessámos depois  a  Bahia  de  Haruarú,  deixando  ao  norte 
a  grande  ilha  de  Joanes,  que  os  nacionaes  chamam  Marajó. 

Costeando  depois  um  estreito  do  mesmo  nome  da  no- 


Dictzedby  Google 


—  136  — 

meada  bahia,  chegámos  á  grande  e  famosa  chamaita  do 
Limoeiro,  formada  pela  espaçosa  boca  do  rio  TocantiDs,  e 
igualmente  a  do  Marapalé,  que  ambas  feliimeate  atraves- 
sámos DO  dia  3  de  Janeiro,  e  conduziado-nos  por  um  es- 
treito, a  que  dão  o  nome  de  Igarapé-merim,  entrámos  no 
tio  Majú,  em  cujas  margens  estão  ediScados  muitos  enge- 
nhos de  fabricar  assucar  e  aguas  ardentes;  e  tendo  aav^ado 
por  elle  roeío-dia  de  viagem  passámos  a  boca  do  rio  Acarú, 
que  escoa  na  margem  direita,  e  pouco  abaixo  entraram 
ambos  no  Guamã,  e  na  juncção  dosditos  três  rios  se  fónua 
a  bahia  da  cidade  de  Belém  do  Gráo  Pará,  onde  chiamos 
ás  6  1/2  da  tarde  do  dia  5  de  Janeiro  d'este  corrente  anão 
de  1813.  (92  dias  de  viagem.) 


REGRESSO 


Partimos  da  cidade  de  Belém  do  Gião  Pará  no  dia  8  de 
Março  com  6  boles  e  1  igaríté. 

A  11  atravessámos  a  bahia  de  Marapatá  e  a  12  a  do 
Limoeiro. 

A  35  chegámos  á  villa  e  registro  do  tiunipá,  d'onde  par- 
timos a  31 . 

A  12  de  Abril  chegámos  á  villa  de  Santarém,  onde  tios 
detivemos  por  falta  de  equipagem  até  12  de  Maio. 

A  13  chegámos  á  villa  de  Aller  do  Cháo. 

A  16  passámos  Villa-Boim  ;  a  18  Piohol,  e  a  19  o  lugar 
de  Aveiro,  e  pousámos  em  Villa-Nova  de  Santa-Cniz. 

A  23  passámos  o  lugar  denominado  Curi,  habitação  de 
Índios  Munduruoaz. 

A  24  chegámos  ao  sitio  d'um  morador  de  nome  Jeronymo 
João,  onde  parámos  para  fabricar  algumas  candaâ  que  nos 
eram  necessárias. 


D,:„i,;cdtv  Google 


-  186  — 

N'aste  lagar  demorJno-nos  atá  IS  de  Julho. 

A  19  parUmos  com  S  boles,  2  igerilés  grandes,  3 
pequenas,  1  caDda  graode,  2  batelões,  1  bote  pequt 
2  CBDoinhafi  para  monlariar,  e  n'eUaB  se  embarearat 
pessoas,  send.o  d'esta8  73  de  trabalho. 

Ro  dia  20  passámos  pelo  nlllmo  morador,  José  An 
de  Castilbo,  e  viemos  pousar  no  sertão. 

A  21  pequena  viagem  fizemos  por  parar  a  maior 
do  dia  para  fabricar  cordas  de  sirga,  as  quaes  se  acab 
de  apromptar  no  dia  22. 

A  23  prosc^imos  viagem,  e  passámos  a  barra  d 
Tapacorá  e  viemos  pousar  por  baiio  da  cachoeir 
Tracoi. 

A  24  se  passaram  os  primeiros  cordões  da  dita  cache 
Em  meio  d'ella  naufragou  uma  das  igarités,  e  foi  ao  f 
com  toda  a  carga  que  trazia,  das  quaes  poucas  se  t 
veitaram. 

A  25  se  descarregaram  as  canoas  de  meia  carga 
passar  o  ultimo  boqueirão.  A's  2  horas  da  tarde  segu 
d'esta  cachoeira  para  cima,  e  viemos  pousar  por  baixi 
do  Maranhão.  lí^esta  noite  nos  fugiram  8  Índios. 

A  26  descarregaram- se  as  canoas  de  mua  carga, 
passaram  algumas  para  cima. 

A  27  se  passaram  as  canoas  que  faltavam,  e  segu 
uma  pequena  viagem,  e  logo  chegámos  a  outros  coi 
da  mesma  cachoeira  em  que  também  era  preciso  de: 
regarem-se  as  canoas,  ao  que  n'este  dia  oâo  se  pòàe 
principio  por  oausa  de  chuvas. 

A  28  descarregaram-se  2  canoas,  e  se  passaram 
cima  ;  a  29  se  proseguiu  na  descarga  e  sirga  das  oulr 
se  continuou  do  dia  30.  N'e&le  dia  fi^iram  mais  3  ím 
por  cuja  causa  nos  vimos  precisados  a  deixar  D'aqi 
ti^ar  2  botei;  com  as  cargas  que   traziam,  pois  que 


Dictzedby  Google 


_  tlt  - 

foHa  de  eqaipagHin  Alo  podia  eonlinasr  a  viagem  ooro 
(Mes. 

A  31  se  fez  o  rancho,  em  que  tinham  de  fiear  agasalhadas 
as  cargas  dos  dois  bdtés  que  deixávamos. 

No  dia  1*  de  Agosto  se  accommodaram  as  ditas  caibas,  e 
pelas  4  horas  da  larde  s^uimos  viagem  por  um  curto  es- 
paço. No  dia  S  1(^0  de  manhã  chegámos  a  outros  boquei- 
rões, DOS  quaes  sa  sirgaram  as  canoas,  e  fomos  pousar  na 
hoca  d'um  pequeno  braço,  a  que  os  nacionaes  chamam 
do  Apohi,  pelo  qual  tinha  de  subir  por  ser  mais  favorável, 
se  bem  que  era  preciso  descarregarem-se  as  caudas  dê  toda 
a  carga. 

No  dia  3  se  deu  principio  á  descarga,  e  se  continuou  jun- 
tamente com  a  sirga  das  candes  nos  dias  i  e  S. 

No  dia  6  pelas  k  horas  da  tarde  esteve  tudo  para  cima,  e 
fizemos  uma  pequena  viagem  até  outra  cachoeira,  em  que 
também  era  preciso  descarregarem-se  as  candas. 

A  7  se  passaram  para  cima  caibas  e  caudas,  e  Acaram 
promptas  e  em  termos  de  seguir  viagem. 

No  dia  6  quando  amanheceu,  Mboa-se  que  tinham  fugido 
lodos  03  índios  Mundttnusttz,  que  vinham  na  tropa  com  os 
seus  respectivos  capatazes,  sendo  ao  todo  37  pessoas,  p^ 
que  nos  foi  forçoso  fazer  novo  rancho  para  deitar  todas  as 
cargas  que  não  podesse  conduzir  com  a  pouca  gente  que 
nos  restava. 

Na  noite  seguinte,  que  foi  de  8  para  9,  fugiram  mais  7  pes- 
soas, e  ficámos  reduzidos  somente  a  30  pessoas  de  trabalho. 
R'aqnelle  lugar  deixámos  2  igarités  grandes  e  1  bote  pe- 
quefto,  e  170  car^s  de  negocio. 

No  dia  10  sa  carregaram  as  canftas  com  que  tinha  de  se- 
guir viagem,  e  <s  segaimos  no  dia  11  emn  i  canAa  grande, 
2  baielões,  2  igarités  e  2  montarias,  sendo  a  navegaQSo  per 
entre  correniwas  e  baixos. 

TOMO  XXXI,  P.  I.  18 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


—  lí«  - 

A  19  prosegoimos  da  mesma  forma,  e  fomos  poiuar  por 
baixo  d'uma  cachoeira  alterosa,  em  que  era  preciso  descar- 
regar«m-se  as  candas  de  meia  carga. 

A  13  peto  meio-dia  estiveram  para  cima  as  canâas  e 
cargas,  e  seguimos  viagem  ainda  por  baixos  e  correntezas, 

A  li  continuou  a  navegação  com  o  rio  da  mesios  forma 
aparcellado.  A's  2  boras  da  larde  sahimos  em  rio  morto, 
e  assim  proseguimos  o  resto  do  dia.  Estas  referidas  ca- 
choeiras são  as  que  constam  do  Diário  da  descida,  termos 
passado  oos  dias  14, 15,  16  e  17  de  Novembro. 

A  15  seguimos  com  boa  navegarão.  A's  8  horas  d« 
manhã  passámos  a  barra  do  rio  Jaguaim,  e  seguimos  alé 
o  fim  do  dia  sem  novidade. 

A  16  continuámos  da  mesma  forma  até  ás  4  horas  da 
larde,  em  que  parámos  por  causa  d'uma  furiosa  tempestade. 

No  dia  17  logo  de  manhã  chegámos  á  cachoeira  dos 
Peixos,  que  a  passámos,  e  fomos  pousar  debaixo  da  da  Mon- 
tanha, ambas  notados  na  descida  no  dia  13  de  Novembro. 

A  18  descarregaram  as  canoas  de  meia  carga,  e  se  pas- 
saram para  cima  da  dita  cachoeira. 

A  19  pequena  viagem  fizemos  por  causa  de  um  baixo 
que  está  logo  na  testa  da  dita  cachoeira,  e  foi  necessário 
alliviarem-se  as  caDÕas  maiores  para  passat-a,  e  se  condu> 
ziram  as  cargas  nas  pequenas. 

A  20  seguimos  boa  navegação,  e  pousámos  por  baixo  da 
cachoeira  das  Mangabeiras,  notadas  a  12  de  Novembro. 

A  31  passaram-se  alguns  caaaes  das  ditas  cachoeiras. 
Em  um  d'elles  que  eslava  mais  alteroso  se  descarregaram 
as  canflas  de  meia  carga.  Do  meio-dia  para  tarde  não  via- 
jámos por  causa  de  chuvas. 
.  ,  A  23  seguimos  viagem  por  um  pequeno  espado,  e  toga 
eliegámos  a  um  boqueirão,  em  que  se  descarregaram  as 
cai)6as  de  meia  carga,  e  o  mesmo  se  praticou  em  o  outro, 


Dictzedby  Google 


—  189- 

qae  eslava  logo  acima,  no  qual  se  Dão  poderam  passar  todas 
as  canoas  ateste  dia,  ficando  duas  para  baixo. 

A  33  pelas  8  da  manhi  se  reuniram  todas  as  canoas,  e 
seguimos  viagem  por  entre  baixos  e  boqueirçes.  A's  3  da 
tarde  chegámos  a  um  mais  furioso,  em  que  foi  preciso  des- 
carr^arem-se  as  canoas,  e  só  se  puderam  passar  três. 

A  24  até  ás  9  da  manhã  se  concluiu  a  passagem  das  ca- 
noas que  faltavam,  e  viajando  um  pequeno  espaço  logo 
chegámos  a  outro  boqueirão,  no  qual  também  se  descarre- 
garam as  canoas.  A's  2  da  tarde  proseguimos  por  entre 
pequenas  cachoeiras. 

A  35  logo  de  manbã  se  passou  o  ultimo  cordão  das  re- 
feridas cachoeiras  das  Mangabeiras ;  por  cima  d^elle  flue  um 
riacho,  que  na  descida  não  observou-se,  assim  como  outros 
mais,  por  estarem  cobertos  em  uma  ilha.  Proseguimos  de- 
pois a  viagem  com  boa  navegação  até  ás  3  da  tarde,  em 
que  pousámos  por  causa  de  uma  grande  tempestade. 

A  26  continuámos  com  boa  navegação,  e  alé  o  fim  do 
dia  sem  novidade  ;  e  da  mesma  forma  no  dia  27. 

A  28  seguimos  do  mesmo  modo.  Ao  mesmo  dia  passá- 
mos a  barra  do  rio  Creporé,  notado  na  descida  a  10  de  No- 
vembro. 

A  29  seguimos  com  boa  navegação.  De  tarde  passámos 
alguns  baixos  e  correntezas  notadas  no  dito  dia  10  de  No- 
vembro. 

A  30  acabámos  de  passar  os  ditos  baixos,  e  entrámos  em 
outros  notados  no  dia  9. 

A  31  acabámos  de  passar  as  sobreditas  correntezas.  De 
tarde  não  podemos  viajar  por  causa  de  uma  grande  tem- 
pestade. 

No  1°  de  Setembro  de  manhã  fugiram  2  camaradas,  e 
mandando  gente  após,  voltaram  de  tarde  sem  os  ter  ai- 
can<;ado.  Fizemos  no  resto  do  dia  uma  pequena  viagem. 


Dictzedby  Google 


-  140* 

A  2  proseguinuM  oom  boa  jiavegaçio.  A's  9  -da  msnhi 
passámos  a  boca  <le  luo  riacho  graade  a  assaz  corraote, 
deairo  do  qual  tem  alojameaio  de  Jfundurucuz. 

A  3  Seguimos  do  mesmo  modo,  e  passámos  mais  dois 
ríacbos.  À'8  &  da  tarde  foi  ao  fuodo  ama  das  ij[arités  com 
toda  a  carga  por  causa  de  um  furioso  eocontro  que  deu  em 
um  neine,  que  a  varou  para  dentro,  e  logo  se  encheu  d'agua 
e  foi  a  pique,  ficando  presa  pela  prda. 

No  dia  &  falhámos  para  se  (irar  o  que  se  pudesse  da  ca- 
noa naufragada,  e  só  sa  aproveitaram  as  ferragens,  e  o  mais 
ludo  se  perdeu. 

Á  S  seguimos  viagem  por  todo  o  dia  com  boa  nave- 
gação. 

A.  6  pelo  meio-dia  chegámos  ás  primeiras  correntezas  e 
pequenas  cachoeiras  notadas  a  6  de  Novembro,  e  de  tarde 
palmos  alguns  cordões, 

A  7  proseguimos  por  entre  as  ditas  cachoeiras.  A's  3  da 
tarde  atravessámos  o  rio  para  o  lado  occidental,por  ser 
mui  difficil  a  passagem  pelo  orieatal,  que  temos  seguido 
desde  que  entrámos  no  sertão,  e  logo  chegámos  a  um  cor- 
dio  mais  caudaloso,  em  que  se  descarregaram  as  canoas  de 
meia  carga. 

A  8  seguimos  viagem  por  pequenos  passos,  e  logo  che- 
gámos a  outro  cordão  alio  e  furioso,  em  que  também  se 
descarr^aram  as  canAas,  e  se  gastou  quasi  todo  o  dia  em 
passar  cargas  e  can6as.  A^s  i  1/2  da  tarde  seguimos  uma 
pequena  viagem  e  l(^o  chiámos  a  outro  cordão  igual- 
mente caudaloso. 

A  9  se  descarregaram  as  canAas.  E  o  mesmo  aconteceu 
nos  dias  10  e  11,  e  n^este  viemos  pousar  no  mesmo  lugar, 
em  que  pousámos  na  descida  no  dia  5  de  Novembro. 

A  12  seguimos  viagem  ainda  por  entre  cachoeiras,  ^ 
tornámos  a  passar  o  rio  para  o  lado  oriental.  Ao  meio-dia 


Dictzedby  Google 


coQcIuiiBos  a  passagem  das  cachoeiras  sem  canal,  notadas 
DO  Diário  da  descida,  oa  tarde  do  dia  K,  e  no  dia  6  de  No- 
TQDiíbro.  De  (arde  não  se  viajou  poc  causa  dos  ventos. 

A 13  de  manhã  chegimos  á  entrada  das  cachoeiras  das 
Capoeiras.  Passáram-se  alguns  cordões  á  siq^,  e  comaseaz 
trabalho  por  estarem  os  canaas  muíto  baixos. 

A.  14  prosegaimos  por  entre  as  mesmas  cadtoeiras.  Da 
tarde  náo  viajámos  por  causa  de  chuvas,  que  igualmeolo 
impediram  lodo  o  dia  I K. 

A  f6logodemanhft  chegámos  a  um  cordão  maisfuriosoi 
no  qual  se  descarregaram  as  caudas,  e  o  mesmo  aconteceu 
em  outro  pouco  acima  doeste,  e  se  nSo  pAde  concluir  a 
passagem d'ellen'estedia,e  se  continuou  alT  atóao  mmo- 
dia.em  que  se  acabaram  as  CBchoeiras'ds8  Capoeiras,  que  são 
as  indicadas  na  descida  na  tarde  do  dia  i  e  na  manhS  do 
dia  5  de  Novembro. 

A  18  proseguimos  viagem  com  boa  navegação,  e  ora 
por  muitos  baixos  e  correntezas.  A^s  2  da  tarde  fomos  al- 
cançados por  alguns  Índios  Munduruais  que  vinham  em 
uma  pequena  caoda,  os  quaes  disseram  que  moravam  do 
lado  do  oecidente  e  perto  do  rio,  e  que  no  seu  alojamento 
tiobam  farinha  e  outros  legumes  para  venderem,  pelo  que 
nos  resolvemos  a  mandar  comprar  alguns  comestiveis,  e  pa- 
rámos no  mesmo  lugar  onde  fomos  alcançados. 

A  19,  estando  de  falha  á  espera  da  gente  que  tinha  ido 
com  os  Índios,  veiu  uma  furiosa  tempestade,  que  em  pouco 
espaço,  e  antes  quo  podessemos  acudir  ás  candas,  alagou 
um  batelão,  que  foi  ao  fundo  com  toda  a  cai^a,perdendo-s« 
o  sal  e  mantimentos  que  n'elle  vinham:  e  no  acudir -se  ás 
cargas  quebraram-se  frasqueiras  e  caixões  de  vinho,  de  vi- 
dros e  de  louça  ;  e  houve  mais  outros  damnos  inevitáveis 
em  laes  desastres. 


Dictzedby  Google 


A  30  por  todo  o  dia  não  appareceo  a  nossa  gente  qae  li- 
nha ido  ao  alojamento. 

No  dia  31,  vendo  tanta  demora,  mandámos  algumas  pes- 
soas a  saber  se  ha?ia  alguma  novidade.  De  tarde  chega- 
ram com  a  maior  parte  dos  que  tinham  ido,  e  referiram 
que  os  índios  nío  moravam  tão  perto  do  rio  como  haviam 
■  dito,  pois  que  o  seu  alojamento  estava  pelo  menos  S  léguas 
pela  terra  dentro,  e  que  tinham  sido  obsequiados  com 
abundância  de  legumes,  e  estavam  apromptando  forinha 
para  trazerem. 

A'  espera  d'elles  se  passou  o  dia  23,  e  chegaram  a 
33  já  por  tarde,  e  eom  efTeito  trouteram  16  alqueires  de 
farinha  pouco  mais  ou  menos,  muitas  bananas,  carás  e 
algum  tabaco ,  que  tudo  comprámos  por  machados , 
fouces,  cavadeiras,  facas,  tesouras,  cuias,  e  outras  miude- 
zas, de  que  ficaram  muito  satisfeitos;  e  lanio  que  um  prin- 
cipal e  mais  seis  indivíduos  se  ofTèreceram  a  acompanhar- 
nos,  e  trabalharem  o  que  fosse  preciso  na  viagem,  e  dar- 
mos-Ihes  em  pagamento  quatro  machados  e  duas  fouces  ou 
cavadeiras  a  cada  um.  O  bom  comportamento  que  estes  Ín- 
dios mostraram  para  comnosco  n'esla  occasíào,  fez-nos  mu- 
dar do  conceito  que  a  respeito  d'elles  tínhamos  formado 
quando  na  descida  os  encontrámos,  como  fica  referido,  no 
dia  3  deWovembro. 

A  2*  se  carregaram  as  canoas,  que  por  causa  das  tempes- 
tades se  haviam  descarregado,  e  ficou  tudo  prompto. 

A  25  ao  tempo  da  sabida  se  achou  falta  em  um  camara- 
da que  tinha  fugido.  Mandou-se  logo  fazer  diligencia  por 
elle,  mas  não  foi  possível  achar-se,  e  por  este  motivo  se 
fez  viagem  ris  11  horas,  e  proseguimos  ttté  ao  fim  do  dia 
sem  novidade. 

A  26  amanheceu  chovendo,  o  assim  continuou  até  de 
tarde,  em  que  fizemos  uma  pequena  jornada. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  143  — 

A  97  I<^  da  manhã  passámos  a  barra  do  rio  dos  Bons 
Sigoaes,  e  de  tarde  a  de  S.  Manoel  de  Tapajoz,  notados  no 
mesmo  diaSde Novembro,  e  mais  sangradouros  adjacentes. 

A.  28  passámos  pelo  Jeniena,  e  pequena  viagem  fizemos 
por  causa  das  chuvas.  Passámos  n'e5te  dia  a  barra  do  rio 
das  Almas,  notado  na  descida  a  2  de  Novembro. 

~A  39  amanheceu  chovendo,  e  assim  continuou  até  ás  3 
da  tarde,  em  que  fizemos  uma  pequena  viagem. 

A  30  seguimos  até  ás  11  da  manhã,  em  que  chegámos  a 
uma  praia  na  qual  passámos  o  resto  do  dia  para  se  lavar  e 
eniugat  o  falo,  que  estava  (odo  molhauo  das  grandes  chu- 
vas antecedentes. 

No  l*de  Outubro  seguimos  por  todo  o  dia  sem  novidade, 
e  da  mesma  forma  no  dia  2 :  na  tarde  d'esle  passámos  a 
boca  do  rio  de  S.  Martinho,  notado  no  1*  de  Novembro. 

A  3  passámos  ás  9  da  manha  a  barra  do  rio  de  S.  Tho- 
mé,  e  entrámos  na  cachoeira  de  Todos  os  Santos,  igual- 
mente indicada  no  dito  dia  1°  de  Novembro.  Passáram-se 
as  candas  á  sirga,  os  primeiros  cordões,  e  nos  últimos 
se  descarregaram  duas  vezes.em  cujo  trabalho  se  emproou 
lambem  o  di&  4,'em  que  tudo  ficou  para  cima. 

No  dia  5  proseguimos  com  boa  navegação  alé  ás  11  da 
manhã,  em  que  chegámos  ao  salto  de  S.  Simão  de  Gibraltar, 
descripto  na  descida  a  28  de  Novembro.  As  muitas  chuvas 
e  tempestades  que  sobrevieram,  occasionaram  passarem-se 
as  cargas  e  canoas  com  muita  lentidão;  e  n'este  trabalho 
se  empregaram  os  dias  6,  7,  8,  9  e  10,  em  que  ficaram  para 
cima,  porém  com  grandes  desmanchos,  em  cujo  reparo 
se  gastou  o  dia  11,  na  tarde  do  qual  se  deu  principio  a 
carregar. 

A  12  de  manhã  se  concluiu  o  carregar  das  canoas,  e 
partimos  ás  9  A  pouco  espaço  foi  preciso  tornar  a  descarregar 
de  meia  carga,  por  causa  de  uma  pequena  cachoeira,  que 


;dby  Google 


está  no  mesmo  braço  da  ilha  por  oode  víeraos,  e  é  cabe- 
ceira do  dito  salto.  A*sll  t/3  s^uimos  d'ella  para  cima. 
A^s  3  da  tarde  chegámos  á  cachoeira  do  Labyriotho,  notada 
no  mesmo  dia  28  de  Outubro.  Passaram-se  á  sii^  alguns 
cordões  e  em  meio  d'etta  fizemos  pouso. 

A  1 3  se  concluiu  a  passagem  com  navegação  bastante- 
menle  trabalhosa,  por  estar  o  rio  D'este  lugar  apertado  an- 
tre  serras,  e  consequentemente  muito  fundo  e  alcantilado. 
Das  10  até  ás  3  da  tarde  não  podemos  viajar  por  causa  das 
chuvas.  A's  S  chegámos  á  cachoeira  de  S.  Plorencio,  notada 
a  26  de  Outubro. 

A  14  se  deu  principio  á  descarga  ao  mesmo  lado  Occi- 
dental onde  descarregámos  na  descida ;  mas  a  passagem 
das  candas  se  fez  pelo  oriental  pelo  braço  de  uma  ilha. 
N^este  trabalho  se  empregaram  lambemos  dias  15,  et6, 
com  bastantes  intervalios  por  causa  das  muitas  chuvas. 

No  dia  17  seguimos  doesta  cachoeira  para  cima,  e  passá- 
mos as  compridas  cachoeiras  notadas  no  dito  dia  W  de 
Outubro. 

A  18  logo  de  manhã  chegámos  á  cachoeira  da  Misericór- 
dia, notada  no  sobredito  dia.  Para  passal-a  descarregaram- 
se  as  candas  de  meia  carga  no  lado  oriental,  e  por  ser  alli 
impraticável  a  siiga,  se  passaram  para  o  occidental  on- 
de se  sirgaram.  Pelas  2  da  tarde  seguimos  vissem  d'ella 
para  cima  com  navegação  muito  trabalhosa,  e  viemos  pou- 
sar ao  pé  da  cachoeira  de  Santa  Úrsula  (a  qual  os  camaradas 
da  equipagem  denominaram  Canal  do  Inferno.pelo  seu  hor- 
rível turbilhão),  descripta  na  descida  do  dia  20  de  Outubro. 
A  19  se  especularam  todos  os  lugares  por  onde  se  pode- 
ria passar,  visto  que  por  estar  o  rio  mais  caudaloso  do  que 
na  descida,  era  impraticável  aproveitar-se  o  varadouro  que 
então  se  abriu  no  lado  occidental,  e  se  assentou  passar 
cargas  e  canoas  pelo  braço  de  uma  ilha,  que  em  partes  ti- 


Dictzedby  Google 


—  us  — 

Dha  a%uma  afíua,  >e  bem  que  a  varação  por  aqui  era  assaz 
Cumprida  e  difficillina  por  causa  dos  escabrosos  peohas- 
cos,  pelos  quaes  era  ínevitaTel  passar-se.  Na  passagent  d'es- 
ta  gnnde  cachoeira  se  occuparam  os  dias  30,  21,  HS  e  38, 
e  se  coDcluiu  tudo  a  2i,  ficaado  as  canda»  cairegadus  e  «m 
tennos  de  seguir  TíagenOi 

No  dia  35  ás  6  da  noaobi  chegámos  á  cachoeira  de  Saola 
Iria  das  l^esQuédas,  notadas  no  mesmo  dia  20  de  Outubro. 
Desoarr^ram-se  as  canoas,  e  por  estar  o  rio  com  alguma 
encheele  se  facilitou  a  passagem  d'ellas  por  um  canal  co- 
lateral no  braço  de  uma  ilha  quasi  encostada  á  mai^gom 
oriental.  A'$  6  da  tarde  esteve  tudo  para  cima  e  se  pousou 
já  oom  os  caudas  carregadas,  e  em  termos  de  seguir 
nagem. 

Pelas  9  da  maahá  do  dia  36  diegámos  á  cachoeira  de  • 
S.  Raphael  descripta  a  19  de  Outubro.  Descarregaram-se  as 
candas,  e  se  passaram  pelo  mesmo  canal  da  descida:  ii'es- 
ta  trabalho  se  empregou  também  o  dia  27. 

A  38  carregaram-se  as  candas  e  seguimos  viagem  ás  10, 
e  ás  1 1  chegAmos  á  cachoeira  de  S.  Gabriel,  notada  do  dito 
dia  19  de  Outubro,  Por  estarem  muito  alterosos  os  canaes 
do  lado  direito  se  passou  para  o  esquerdo,  oude  se  achou 
favorável  passagem,  descarregando-se  porém  as  canoas  de 
meia  carga.  A^s  3  da  tarde  seguimos  viagem,  e  pousámos 
acima  do  nbeirão  notado  do  sobredito  dia  19. 

A  29  pelas  S  da  manhã  ch^mos  i  cachoeira  de  S.  La- 
cas Evangelista,  notada  a  18  de  Outubro.  Deo-se  principio 
k  descarga  com  pouco  adiantamento  pela  aspereza  do  ca- 
minho, e  se  concluiu  no  dia  30. 

No  dia  31  pasBaram-se  as  candas  e  se  carregaram.  A's  3 
da  tarde  fizemos  viagem  oom  boa  naregaçAo  pelo  reslo- 
do  dia. 

No  i*  de  Novembro  continuámos  a  viagem,  e  logo  cha- 
TOHO  XUI>  t.  1  19 


Dictzedby  Google 


—  f 46  — 

gamos  á'  cachoeira  das  Ondas  Grandes,  notada  no  referido 
dia  18  de  Ouiubro.  Subiu-se  por  um  canat  cotiateralda 
margem  occideatal  cora  as  canoas  à  sirga,  e  43  3  da  tarde 
estiveiam  para  cima,  e  pousámos  por  baixo  das  cachoeiras 
notadas  na  maobS  do  mesmo  diá. 

No  dia  3  descarregaram-se  as  canoas  de  meia  carga  era 
2  cord6es  das  referidas  cachoeiras:  ao  meio-día  estivemos 
acima  d'ellas,  e  passando  o  rio  para  o  lado  do  oriente  pro- 
seguimos  a  viagem,  e  viemos  pousar  ao  pé  das  cachoeiras 
notadas  na  tarde  do  dia  17  de  Outubro. 

A.  3  se  sirgaram  as  canâas,  e  pelas  9  da  maahS  seguimos 
viagem.  A's  11  chegámos  á  cachoeira  das  Furnas,  notada 
no  dia  17  de  Outubro,  e  se  assentou  passar  pelo  braço  de 
uma  ilha  onde  era  mais  favorável,  e  aiti  se  dividia  a  ca- 
choeira em  dois  cordões,  e  em  ambos  se  descarregaram  as 
canAas,  em  ciyo  trabalho  também  se  occupou  o  dia  i. 

No  dia  ft  ás  8  da  manhã  esteve  tudo  prompto  para  seguir ; 
mas  sobreveiu  uma  grande  tempestade  gue  durou  até 
ás  3  l/S  da  tarde,  e  apenas  podemos  chegar  á  cachoeira 
do  Tucarizai,  notada  a  16  de  Outubro.  A's  6  se  descarre- 
garam as  canoas,  e  se  sirgaram  pelo  lado  oriental.  A's  3 
da  tarde  seguimos  viagem  pelo  mesmo  lado  com  boa  nave- 
gação o  resto  do  dia. 

Amanheceu  chovendo  o  dia  7,  e  nsaim  continuou  até 
ás  3  horas  da  tarde,  em  que  partimos  e  chegámos  ao  Salto 
Augusto,  descripto  no  Diário  da  descida  a  11  de  Outubro. 

A  8  se  descarregaram  as  canAas,  depositaodo-se  as  car- 
gas na  testa  do  morro,  e  ao  mesmo  tempo  se  especularam 
todos  09  lugares  por  onde  se  poderia  abrir  um  praticável 
varadouro  ;  e  com  effeito  achou-se  um  que,  supposto  era 
mais  comprido  do  que  o  antigo  (pelo  qual.  se  reconheceu 
ser  a  varação  de  absoluta  impossibilidade),  comtudo  ofTo- 
recia  melh  or  commodidade. 


D,:„l,;cdtv  Google 


^  itír  — 

Nos  dias  9  e  10  se  pre|iarou  o  varadoaro,  e  se  fizeram 
moitões. 

À  11  se  dea  principio  á  varação  com  muito  va^r,  já 
pela  aspereza  do  caminho,  já  por  causa  das  muitas  chuvas, 
e  finalmeote  por  ser  preciso  fazerem-se  cordas  aoTSs,  risto 
lerem-se  arrebentado  os  cabos  que  trazia,  e  a  muito  custo 
e  maior  trabalho  se  conseguiu  lançarem-se  ao  rio  da  parte 
de  cima  do  salto  as  ires  candas  maiores  no  dia  15.  ' 

A  16  se  vararam  as  caudas  pequenas,  e  se  deu  principio 
i  conducção  das  caibas,  e  ao  concerto  das  canâas  que 
sahiram  maltratadas  da  varação. 

N.  B.  Como  esle  Roteiro  foi  enviado  do  Salto  Augusto 
ao  lUm.  e  Exm.  Sr.  general,  pelo  capitão  António  Thomé 
de  França,  que  ficou  alli  tratando  do  arranjo  de  sua 
viagem ;  continua  agora  a  viagem  do  capitão  Miguel  João 
de  Castro,  e  de  Joaquim  Barbosa,  conductores  do  mesmo 
Botwv,  por  ordem  do  mesmo  Exm.  Sr.,  cujos  conducto- 
res por  se  terem  apartado  do  dito  capitão  António  Thomé 
sabiram  d'este  salto  a  12  de  Setwnbro  do  mesmo  anoo. 

Aos  13  de  -Semstm)'  '^guimos  i  esquerda ;  logo  acima 
está  uma  cachoeira  grande  com  bastante  queda ;  passa-se 
para  a  direita  pelas  muitas  lages,  quando  vão  acabando  as 
ondas  tem  um  bracinho  que  procura  a  terra  pela  parle  di- 
reita ;  entra-se  por  detris  da  ilha,  e  tem  bom  caminho  para 
sii^  a  meia  cai^a,  e  estando  cheio  passará  carga  inteira. 
Logo  acima  da  cachoeira  l«n>uma  ilha,  e  depois  duas  ca- 
choeiras pequenas ;  deve-se  passar  á  esquerda,  que  tem 
melhor  caminho  para  subir  a  carga  inteira.  Ao  meio-dia 
chegámos  a  uma  cachoeira  que  tem  um  travessão  de  pedras, 
com  malas,  que  atravessa  o  rio ;  esta  chama-se  cachoeira 
da  Barra  do  Rio  de  S.  JoSo,  qne  flue  na  cabeceira  da  dita 
cachoeira,  a  qual  tem  dois  boqueirões  apertados  com  muita 
faria. 


Dictzedby  Google 


-ia- 

Descarrega-se  á  esquerda,  e  as  canúas  pasaan-«  ao 
boqueirão  da  direita,  sirga  de  corda,  encostado  á  esquerda ; 
.  passaodo  este  primuiro  boqueirão  sabe  um  rio  mansa,  e 
para  cima  estA  outro  travessão  de  pedras,  com  ilbas  de 
matas,  que  faz  duas  bocas  com  cachoaras  melhores,  e 
DO  meio  d'este  travessão  tem  um  pequeno  braciabo,  que 
á&  boa  sirga,  e  passando  is  2  carregam-w  as  candaa  na 
barra  do  Rio  de  S.  João,  na  qual  gastámos  dia  e  meio  paca 
abrir  caminho,  e  arredando  pedras  no  dito  bracinho,  que 
ficou  dando  bom  caminho. 

Aos  13á  esquerda,  logo  acima,  esta  outra  cachoeira;  tem 
duas  ilhas,  três  boqueirões,  toma  se  pelo  braço  da  esquerda 
acostado  á  terra,  que  descairega-se  em  oima  das  pedras,  e 
pousámos. 

Aos  14  falhimos  meio  dia  por  causa  das  chuvas,  passA- 
mos  á  sirga  a  meia  carga  ;  seguimos  viagem  á  esquerda  e 
por  bom  rio,  e  pousámos. 

Aos  16  seguimos  viagem,  e  á  esquerda  tem  varias  ilaupa- 
vas,  passa-se  á  esquerda ;  ès  9  buras  chegámos  a  uma 
immensidade  de  pedras  por  todo  o  rio,  e  muitas  ilhas  ;  faz 
muitas  cachoeiras  e  correntezas ;  entra-se  polo  braço 
acostado  á  terra  á  esquerda,  em  todo  o  dia  encontrámos 
muitas  pedras,  correntezas  e  ilaupavas,  cachoeiras,  ilhas ; 
sem  fazer  embaraço,  porque  deu  bom  caminho. 

Aos  16  seguimos  pelo  mesmo  lado,  logo  acima  tem  uma 
cachoeira,  na  qual  passa-se  á  direita  pelo  meio  do  rio,  tem 
um  braço  limpo  sem  cachoeira,  passando  a  dita  passa-se 
para  a  esquerda,  pw  lodo  o  dia  se  v6  muitas  difficuldades, 
mas  não  é  causa  da  embaraço. 

Aos  17  seguimos  pelo  mesmo  lado,  cootinuuido  o  mesmo 
numero  de  pedras ;  do  meío-dia  para  a  tarde  encontrei  rio 
bom. 

Aos  18  seguimos  pelo  mesmo  lado :  pouco  acima  esld 


Dictzedby  Google 


uma  cacboeirA  que  H  bom  caminho,  e  logo  tciíDa  eslá  um 
grande  estirão  que  faz  grande  resacada  á  esquerda :  to~ 
ma-se  pelo  braço  do  eslirio,  que  do  outro  dá  muita  volta, 
e  do  meio  endireita. 

Aos  19  seguimos  pelo  mesmo  lado,  bom  rio:  pouco 
acima  avistei  dois  morreles  redondos  i  direita,  ao  pó  um  do 
outro ;  aoima  d'estes  morros  está  uma  cachoeira  não  pe- 
quena :  pnssa-se  á  direita  ao  pé  d'uma  ilba,  que  Dão  faz 
cacboeira.mas  só  correnteza,  passando  á  esquerda,  passa-se 
algumas  ilaupavas  pequenas  sem  fazer  embaraços. 

Aos  20  s^uímos  peio  mesmo  lado;  ao  raeio-dia  che- 
gámos a  uma  cachoeira,  que  passámos  A  sirga,  acostado 
a  umas  lages,  porém  boa  sirga  ;  muitas  ilhas. 

Aos  31  seguimos  pelo  mesmo  lado ;  ás  9  botas  passámos 
por  três  barras  umas  ao  pá  d'oatra5,  a  do  meio  tinha  um 
cerco  feito  ptio  gentio  para  apanhar  peixe,  com  covos. 
Temos  encontrado  muitos  vestígios  dos  ditos  índios  ^ptacoz, 
que  pensamos  ser  morada  d'elles,  porque  quando  des- 
cemos já  n'este  lugar  os  encontrámos  em  três  candas,  e  fu- 
giram de  nós  sem  nos  quererem  faiiar,  deram  grilos  espan- 
tosos, e  puxaram  pelos  remos :  achámos  um  alojamento 
velho  com  capoeiras  e  esteio  velho ;  muitas  ilaupavas  pelo 
rio  sera  fazer  embaraço. 

Aos  33  seguimos  pelo  mesmo  lado,  oto  achámos  cousa 
que  nos  embarace. 

Aos  S^  chf^mos  á  barra  do  rio  Jeraena,  ondo  falhámos 
meio  dia  por  causa  do  vento,  e  largura  que  faz  na  barra  des- 
tes dois  rios,  levantando  muitas  ondas.  S^iiimos  viagem 
pelo  rio  Arinos  pelo  lado  esquerdo ;  chegámos  de  tarde 
a  cachoeira  e  pousámos. 

Aos  24  descarregámos  em  cima  das  pedras  do  lado  es- 
querdo, e  é  muito  curto  o  descarregador,  e  passam-se  as 
canâas  da  parte  direita «icostado  á  terra;  passámos  a  meia 


Dictzedby  Google 


csrgá  por  eutie  pedias:  o  rio  esteado  mais  cheio  pôde 
passar  a  carga  inteira,  e  depois  seguimos  pelo  lado  direiío : 
por  cÍoiad'esta  esU  uma  pequena  cachoeira;  passa-se  pelo 
lado  direito  á  vara,  carregado,  e  logo  acima  está  uma 
itaopava  muito  baixa  ;  deve-se  passar  á  esquerda  na  ilha 
do  meio,  que  nío  lem  impocilbo:  acima  estA  outra  que 
tem  duas  ilhas  por  cima,  passa-se  pelo  meio,  e  por  cima 
d'e)las  passa-se  &  direita  :  logo  acima  estáo  três,  a  Ao  meio 
faz  grande  rebojo  e  bastante  correnteza  ;  passa-se  á  sirga 
coiD  corda  na  próe. 

A.OS  25  seguimos  pelo  mesmo  lado ;  logo  acima  está  uma 
grande  ilha, esóbe-se  acostado  aella.deixando-apelolado 
direito:  este  rio  vem  do  lado  esquerdo  e  é  abundante  de 
peixe  :  temos  encontrado  muitos  signaes  de  gentios,  ran- 
chos e  flechas  rodando,  e  portos  d'elies:  defronte  d'esta 
barra,  detrás  de  uma  ilha,  eslâo  dois  portos  d'elles,  em 
um  dos  quaes  se  achavam  três  canoas :  Azemos  pouso. 

Aos  26  seguimos  por  bom  rio  com  algumas  pedras  sem 
fazer  embaraço  algum :  ao  meio-dia  chegámos  a  um  porto 
já  deixado  dos  índios ;  fomos  por  elle,  e  chegámos  ao 
alojamento,  que  mostrava  ter  sido  muito  grande  pelos 
muitos  esteios  que  existiam  ;  eram  casas  grandes  e  muito 
altas,  muitas  capoeiras,  e  estava  retirado  do  río :  em  todo 
o  dia  encontrámos  muitos  vestígios  d'elles :  tem  varias 
correntezas,  mas  o  mesmo  rio  ensina,  conforme  as  voltas 
que  dá,  o  melhor  caminho,  que  para  baixo  do  lado  es- 
querdo 6  melhor.  Ã'  tarde  chegámos  ao  alojamento,  onde 
Manoel  Gomes  foi  atacado  pelogentio,  os  quaes  se  mudaram 
dois  dias  de  viagem  para  cima. 

Aos  27  seguimos  na  mesma  forma  antecedente;  ao  meio  dia 
chegámos  ao  districto  do  gentio  Apiacaz,  e  por  não  chegar 
a  ooite,  e  ser  preciso  chegar  muito  perto  d'e)les,  falhámos 
meio-dia  em  uma  ilha  que  está  por  baixo  d'uma  itaupava. 


Dictzedby  Google 


—  161  — 

Aos  28  s^uíiuós,  e  logo  acima,  oode  esláo  duas  illiis  por 
baiso  ^'uma  itaupava,  da  esquerda  para  cima,  prin  npiara 
os  portos  dos  gentios :  quem  subir  deve  ir  com  grande  cau- 
tela ;  As  9  horas  poaco  mais  ou  menos  chegámos  ao  graode 
alojamento  d'elles,  e  avistámos  uma  canoa  com  (res  Índios, 
que  sahiram  da  terra  para  o  lai^ ;  mandámos  tocar  a 
bosina,  e  assim  que  nos  viram  remaram  com  força ;  d'ahi 
a  pouco  espaço  acudiram  tantos  que  cobriram  aquellas 
pedras  e  barrancos,  e  começou  um  d'ellos  a  dar  horrendos 
gritos;  fallara,  mas  não  percebíamos:  marchámos  para  elles, 
e  elles  embarcaram-se  quatro,  e  vieram  á  canfta  encontrar 
comnosco,  e  togo  por  acenos  mandando-nos  que  fossemos 
para  seu  porto.  Encontrámos  com  elles  no  meio  do  rio, 
e  eram  os  que  quando  rodámos  linha-se-lbes  dado  umas 
ferramentas  e  uma  bosina  de  chifre,  e  se  Ibes  disse  que 
qusntio  voltássemos  baviamos  tocar  outra  como  aquella, 
para  que  elles  nos  conhecessem,  e  viessem  para  se  lhes  dar 
muitas  ferramentas  ;  e  por  isso  no  encontro  conhece- 
ram-nos,  e  trouxeram  a  bosina  que  se  lhes  tinha  dado 
moslrando-a,  e  se  lhes  tornou  a  dar  n'aquelle  mesmo  lugar, 
e  também  muitos  machados,  facas  e  fouces,  e  ficaram  muítA 
contentes,  abraçaram-nos,  e  embarcaram  nas  nossas  canâas, 
e  deixando  as  suas  amarra  das  emum  páo,  marcharam  com- 
nosco  para  o  seu  porto.  Logo  veiu  uma  caada  com  18 
índios  a  encoutrar  comnosco,  e  ofTertando-nos  suas  pa- 
nellas  de  bebidas  de  caxerí  bebemos  todos,  para  os  nJo 
descontentar;  embicámos  no  porto  d'elles  sobre  umas  la- 
ges,  onde  acudiram  muitos  a  oncontrar-nos,  tirando-nos  da 
canoa  pelas  mãos ;  alli  deu-se-Ihes  muitas  facas,  facões, 
machados,  fouces,  missangas,  e  mais  cousas  e  roupas : 
eram  500  almas  mais  ou  menos  ;  sio  h  omens  capazes  de 
pegar  em  suas  Sechas,  e  d'estes  eram  mais  de  350,  e  depois 
d'isto  um  d'elles  offertou-nos  uma  rede  em  sua  casa :  mos- 


Dictzedby  Google 


-  «a  - 

tranin-nos  ts  suas  mulheres  e  filhos ;  offertaram-nos  seus 
legumes  que  alli  tiobam,  carAs,  tagi,  mioduim,  e  d&  tudo 
se  lhes  aceitou  um  pouco,  e  demos  missangas  ás  suas 
mulheres  e  filhas  pequenas.  As  suas  casas  são  muito  gran- 
des, altas  e  compridas,  bam  feitas,  cercadas  de  páos  de  pa- 
cbivar;  as  portas  são  da  casca  de  gatoba;  tinham  muita 
mantimenlo,  farinha  de  mandioca,  milho,  carás,  tajaiz, 
fegão  raenduim,  algodão,  muitas  redes  do  mesmo  algodão, 
bem  feitas  com  seus  lavores,  muita  fio  já  fiado,  algumas 
redes  um  lear,  e  todos  estes  mantimentos  deram  aos  cama- 
radas; deram  muitos  pennachos  a  todos  os  camaradas. 
Só  chegamos  a  uma  casa  ;  não  fomos  as  outras,  e  só 
esta  nos  causou  admiração  ver  que  aquelles  brutos,  sem 
terem  ferros,  tâm  as  suus  casas  tão  bem  feitas,  e  tanto 
mautimeoto ;  suas  casas  muito  limpas  a  roda,  um  grande 
terreiro  carpido  e  limpo :  as  casas  são  de  tacanissa  co- 
berta de  palha  de  ubim:  tem  uma  pra^a  vazia  limpa, 
sem  cousa  alguma,  com  porias  nas  duas  pontas,  além 
d'outras  que  tinha  em  roda:  tinha  de  comprido  trinta  e 
taolos  lanhos  :  as  vivendas  d'elles  são  pelos  lados,  e  tudo 
bem  dividido:  tanto  trem  tinha  para  baixo  como  para 
cima :  os  corpos  dos  que  morrem  são  moquiados,  e  peo  du- 
rados pelos  caibros  da  mesma  casa  pelas  suas  rddes;  é  gente 
muito  luzida,  e  entre  elles  ha  alguns  bem  avançados  em 
idade,  onde  estava  uma  muilo  velha  que  mostrava  não  ser 
Jragra.  Esta  nsçâo  tem  a  boca  preta;  alguns  d'elles  com  a 
barriga  pintada,  e  as  orelhas  furadas  com  grossos  passois 
de  Qechas.  enfeitados  com  peonas  mettidas  pelo  nariz,  e 
orelhas  que  também  eram  furadas,  e  com  um  pãozinho 
atravessado  no  bra^^ :  sâo  bu^s  muito  agudos  e  cortezes ; 
suas  canoas  são  de  casca  do  jatubã  ;  os  remos  de  taquara 
proasa  partida. 


Dictzedby  Google 


-  líl- 

Itífú  falhjwos  nwio-diB  n'«stas  prttieAs  e  amindes  efua 
elles. 

Elies  tinham  o  seu  anonaieaio  mettido  pelo  mato  ao  pA 
do  porto,  e  o  despedirmo-DOs  d'ellas  abraçamol-os,  e  de- 
pois nos  puzemos  ao  largo  ;  vímos  então  aquella  multidão 
que  alli  se  achava,  e  conhecemos  o  perigo  em  que  estive- 
mos meltidoa,  entre  aquelles  bárbaros  que  cobriam  todo  o 
bamnco,.  e  gnodes  lages  de  pedra,  que  podiam  tomar 
conia  das  nossas  canoas  e  do  armamento ;  porém  foi  Deus 
servido  que  uada  succedeu.  Seguimos  viagem  já  sobre  a 
tarde,  e  pouco  acima  Azemos  alto  para  jantar;  a  este  tempo 
appareceram  duas  canoas  cheias  de  gente,  vinham-  n'ellB$ 
38  com  23,  que  nos  fez  embarcar  á  pressa  e  seguir  via  ■ 
gem,  e  logo  passámos  por  outra  cheia  d'elles  ;  e  como  nos 
alcançavam  parámos  a  esperar  por  elles,  e  vér  o  que 
queriam  :  eram  alguns  que  não  estiveram  juntos  quando 
repartimos  as  ferramentas,  e  vinham  pedir  algumas,  e  por 
isso  Ibes  demos  foices.  Outra  canoa  d'eUes  encontrou  com 
estes,  os  quaes  nos  vieram  avisar  qne  subíssemos  á  es- 
querda, porque  n'aquella  parte  direita  tinba  uma  aaçSo  de 
gentios,  que  costumavam  a  matar  a  porrete ;  porém  re- 
ceando, que  fosse  n'elles  alguma  mangaçSo,  do  que  real- 
mente conhecemos  que  nos  quizessem  dar  de  noite,  e  por 
isso  DOS  davam  borda  certa  para  subir,  despedimos  a  cfles, 
e  sendo  muito  tarde  marchámos  parte  da  noite,  e  fizemos 
pooso  em  uma  Ilha  para  o  lado  direito,  e  nlo  para  o  lado 
que  elles  disseram,  com  sentinellas  toda  a  noite,  e  nSo 
bodve  novidade  alguma.  N'esta  paragem  t«m  sido  boa  a  Aa- 
vegiçio. 

A  SB  seguimos  riagem  por  eatre  muitas  ilbafe,  pedns, 

eorrmtezas,  ele,  e  assim  navegámos  todo  o  dia,  ela  paft» 

tomava  todo  o  rio,  porém  por  entre  elta»  dflva  bom  wmi- 

nho,  e  fitemos  pouso  em  oma  Ubi  onde  fàz  e  ri*  qwUo 

TOMO  XXII,  p.  1.  20 


Dictzedby  Google 


—  184  — 

bocas,  doas  que  d«s«Mi  para  baixo*  duas  que  sobem  para 
cima.  Sóbe-se  á  direita  por  um  braço  que  fai  muito  re- 
bojo,  e  o  outro  dío  di  passagem. 

k  30  seguimos  a  outra  paragem ;  na  mesma  forma  sóbe- 
se  direito  por  um  braço  pequeoo  e  manso,  «  logo  se  sabe 
em  rio  manso  e  timpo  de  pedras,  e  no  fim  do  estirão  tor- 
nam-se  a  ajuntar  muitas  pedras,  e  no  meio  d*eUas  está  uma 
cacboeira  que  tora  uma  iiba  de  pedras  e  de  matos ;  bem 
encostado  á  ilba  do  lado  direito  tem  um  vão  entre  as  pedras, 
que  dá  uma  boa  passagem,  da  qual  é  bom  o  rio  para  cima: 
no  fim  do  estirão  está  outra  cacboeira  com  uma  ilha  para 
baixo ;  sóbo-se  pelo  braço  da  esquerda  encostado  á  terra 
onde  está  uma  itaupava  e  uma  ilba,  e  passa-se  &  esquerda, 
e  abi  pousámos. 

No  1*  de  Outubro  seguimos  viagem  até  o  meio-dia ;  pas- 
sámos Tárías  ítaupavas  e  correntezas,  porém  bom  caminho. 
Do  meio-dia  para  a  tarde marcbamos  por  rio  limpo,  e  osdois 
dias  seguintes  também  seguimos  viagem  por  bom  rio;  acima 
está  uma  resacada,  e  um  ribeirSo  pelo  mesmo  lado,  e  de- 
fronte d'este5  está  um  porto  de  gontio  onde  se  acharam  três 
caudas  varadas  em  terra ;  julgámos  serem  de  outra  nação, 
porque  as  canâas  estavam  feitas  por  outro  modo;  mais 
acima  está  uma  ilha  grande  no  meio  do  rio.mais  acima  estão 
duas  ilhas  a  par,  e  por  isso  faz  o  rio  três  bocas  :  passámos 
dois  córregos  á  direita,  e  n'esld  dia  tem  sido  boro  o  rio,  e 
fizemos  pouso  por  baixo  de  uma  grande  ilha. 

Aos  3  passámos  ama  ilha  pequena  no  maio  do  rio  ; 
mais  acima  passámos  outra  i  esquerda,  e  alguns  córregos 
pequenos  de  ambos  os  lados;  mats  acima  duas  ilhas  a  par, 
eá  direita  a  mais  pequena,  e  mais  por  oima,e  por  baixo  do 
mesmo  lado  dii^to,  um  ribeirio ;  mais  acima  uma  ilha 
racMlada  ao  lado  esquerdo ;  mais  acima  um  pequeno  rí- 


Dictzedby  Google 


.  ]56  _ 

búro  i  esquerda,  e  o  rio  muito  favorável,  e  pomAmos  em 
um  estiráo  áe  um  m<»TO  yermelhoe  dedMrrasaado. 

Aos  4  seguimos  viagem  por  bom  rio,  e  possAmos  por 
qoBlro  ribeiros  de  cada  lado,  e  alé  á  toide  foi  o  rio  bom,  e 
fizemos  pouso  em  uma  resacada  á  direita. 

Aos  S  seguimos  por  bom  rio;  passámos  por  dois  ribeiros 
um  ao  pé  do  ouiro;  ao  lado  esquwdo  defronte  pouco  acimi 
está  outro  maior,  bem  corrente :  ao  lado  dirúto  mais  acima 
eeti  outro ;  ao  esquerdo  outro,  e  outro  mais  adma  pelo  di- 
reito, onde  estavam  uns  covos  de  gentios  para  apanhar 
peixe ;  e  do  lado  esquerdo  estava  outro ;  e  o  rio  muito  bom 
onde  pousámos,  e  observámos  qae  do  ledo  direito  defronte 
eslava  um  riacho. 

Aos  6  falhámos  por  causa  das  chuvas,  aos  7  l<^o  aeime 
achámos  um  ribeiro  ã  esquerda  com  covo  de  gentio  para 
cunhar  peixe;  acima  do  dito  e  á  direita  outro  ;  e  depois 
outro  também  do  mesmo  lado,  cercado  de  covos,  onde 
estava  muito  fresco  o  trilho  d'elles  ;  mais  acima  está  uma 
ilha  grande  por  baixo  da  qual  tem  uma  pequeua  ilha ; 
mais  acima  estão  dois  cwrr^os  i  direita,  e  mais  acima  um 
dito  á  esquerda  ;  pousámos  defronte  ao  outro  grande,  tam- 
bém á  esquerda . 

Aos  8  seguimos  viagem,  e  passámos  dois  ribeiros  á  es^ 
querda ;  mais  acima  está  uma  ilha  ^ue  faz  um  braço  á 
esquerda ;  acima  um  córrego  á  esquerda ;  acima  pousámos 
ao  pé  de  orna  iltia  de  pedra,  onde  o  rio  é  muito  favorável. 

Aos  9  passamos  uma  ilha  ;  mais  acima  passamos  nm 
ríbeirio  á  esquerda,  outro  á  direita,  e  uma  ilha,  e  outro 
que  faz  nm  pequeno  braço  á  direita  por  cima  de  um  san- 
gradonro,  e  por  baixo  outra  ilha  comprida. 

Aos  10  passámos  um  ribnrão  á  esquerda;  uma  ilha  lam- 
bem á  esquerda;  um  braço  da  mesma  defronte  de  um  ri- 
beiro, oulro  dito  á  diceita;  ao  meio-itia  passámos  outro  di- 


Dictzedby  Google 


to  i  «MíDMPda»  una  ilha  acostada  4  direita;  e  mau  acima  um 
ríbeirio  ã  MqaanU,  rnuito  vasto,  a  laiwho  de  i^atio ;  poa- 
soi  eon  páos  eortados,  faots  e  machados  de  pedia;  e  o  rio 
DMiito  faYOnrel.  Nós  ramos  escrerendo  os  ribeiros,  porque 
poderemos  eDcoDtrar  algupaa  ceusa  de  noTidade,  que  seja 
[H«eiso  notar  desde  a  oidade  para  oá,  para  saber  a  aliara  em 
que  vimos  por  esta  paragem,  ao  qual  Já  se  vé  muilo  casca- 
lho paio  JMtrramM  do  rio  e  p^os  córregos. 

Aos  il  seguimos  e  logo  acima  passámos  uma  ilha,  e  um 
rio  pequeno  A  esquerda,  um  ribeiro  grand^i  direita;  pas- 
sámos mais  dois  córregos  grandes  á  esquerda  :  n^este  dia 
tawn  flBcontrado  muitos  vastigioa  de  gentios.  Ao  meio-dia 
passánios  um  córrego  á  direita  e  uma  ilha;  passámos  ou- 
ka  da  direita  oom  um  pequeno  braço  í  direita,  encontran- 
do algumas  correntezas. 

Aos  13  s^uimos  e  encontrámos  acima  um  ribeiro  á  es> 
qnerda,  e  outro  acima  A  direita;  mais  acima  uma  cachoei- 
ta,"  e  S4^ba-M  á  esquerda :  ao  meio-dia  passámos  outro  ri- 
beiro A  esquerda  e  algumas  correntraas  pequenas;  ás  3 
boras  passámos  o  rio  Sumidor,  que  vem.  do  lado  direito,  o 
qual  é  muito  corrente,  e  acima  d'elle  está  uma  ilha;  mais 
acima  uma  itaupava;  sóbe-se  pelo  lado  esquerdo,  e  depois 
passámos  outra  ilha  pequena  e  pousámos. 

Aos  14  logo  acima  está  uma  itlia  acostada  á  esquerda,  e 
om  pequeno  braço  que  entra  para  o  centro,  pelo  qual  se 
siábe  por  causa  de  umas  correntezas:  acima  está  outra  ilha 
A  direita  ;  e  acima  uma  grande  resacada  ;  sóbe-se  pela  es- 
querda; mais  acima  está  uma  ilha  grande,  sóbe-se  á  esquw- 
da  por  causa  âo&  baixos  que  tem;  uma  grande  ilha  que  tem 
duas  pequenas  por  cima;  maisaàma  está  um  córrego  pe- 
-queno  á  ^uerda;  acima  está  uma  pequena  ilha,  e  os  cam- 
bos qurànados  de  uaia  parte  e  outra  pelo  geolio;  ás  4  ho- 
ras pÃasáBMa  pelo  arraial  velho,  e  acima  um  com^  pe- 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  IIT  — 

queno  á  direita,  e  noflm  do  estirão  tres  ilhas  jaalas,  duas 
grandes  a  par,  e  uma  pequena  do  meio  por  cima  das  duas; 
n^esta  dia  lemos  passado  bastantes  conentezas,  porim  sem 
faier  eslorre  algum,  e  fizemos  pouso  per  cima  doestas  ilhas. 

Aos  15  passámos  uma  ilha  e  una  c<»t^o  á  «squerda, 
e  depois  dois  córregos  juntos,  e  duas  ilbas  que  passámos 
ao  meio-dia  ;  cbagásaos  a  um  ríbeirAo  que  defroate  da 
barra  tem  uma  ilha  pequena;  mais  acioxa  está  oulc»,  e  mais 
acima  mais  duas  ilhas  e  algumas  itaupavas :  D'este  dia  tem 
sido  o  rio  favorável,  o  fizemos  pouso  acíma  de  uma  cor- 
renteza comprida. 

Aos  16  seguimos  viagem,  passámos  um  ribeiro  grande  á 
esquerda,  muitas  correntezas,  baixios  e  pedregulhos,  e 
mais  duas  ilhas,  e  algumas  correntezas  pequenas.    . 

Aos  17  seguimos  viagem,  e  passamos  dois  ribeiros  á  di- 
reita, dois  grandes  á  esquerda;  passámos  varias  correntezas 
e  pedregulhos,  sem  empecilho  algum. 

Aos  18  seguimos  viagem  por  bom  rÍo;  passámos  por  dois 
córregos  á  direita. 

Aos  19  seguimos  viagem  por  bom  rio,  e  ao  meio-dia 
chegámos  á  barra  do  Hio-Preto  ;  entrando  por  elle  chegá- 
mos no  dia  20  ao  porto  aonde  embarcámos  quando  des- 
cAmos. 

Aos  23  descarregámos. 

Aos  33  marchámos  para  o  arraial  do  DUmantioo. 

Aos  24  pelas  7  horas  da  manbã  entrámos  pelo  dito 
arraial. 

Todos  os  senhores  qne  quizerem  frequentar  esta  nave- 
gaçSo  devem  partir  da  villa  de  Santarém  em  priacipios  de 
Maio,  em  razão  de  passar  as  cachoeiras  e  bailios  da  entrada 
com  o  rio  ainda  cheio,  o  passarão  com  suavidade,  e  para 
cima  acharão  o  rio  baíio,  que  é  muito  melhor.  Este  é  o 
meu  parecer. 


Dictzedby  Google 


—  1S8  — 
RESUMO  ANALTnCO 

DOS  LOG&RZS  HAIS  NOTÁVEIS  NOMEADOS  NO  DIÁRIO  SUMIA,  E 
CALCHLO  DE  APPXOXUIAÇIO  DA  DISTANOA  QUE  PENSAMOS  TBK 
DESDBO  POETO  DE  NOSSO  EMBARQUE  ATfi  A  CIDADE    DO  PARÁ 

Do  porto  do  Rio-Preto,  onde  dos  embarcámos,  até  a  foz 
do  mesmo  no  Arinos  consideramos  ter  cinco  teguss. 

Da  barra  do  Bio  Preto  no  Arinos,  até  a  confluência  do 
rio  Samidonro  consideramos  ter  vinte  e  cinco  léguas.  Os 
lagares  mais  notáveis  que  existem  n'este  espaço  são :  o  rio 
de  S.  José  na  margem  oriental,  e  o  porto  do  Arraial  Velho 
das  ant^as  minas  de  Santa  Isabel  no  occídental. 

Da  foz  do  Sumidouro  alé  a  do  Jeruena  consideramos  ter 
setenta  léguas.  São  os  lugares  mais  notáveis  doeste  inter- 
vallo:  os  rios  de  S.  Cosmee  DamiSo,  de  S.  Wcncesláo.  de 
S.  Miguel  e  de  S.  Francisco,  na  margem  oriental ;  e  os  rios 
dos  Pariciz,  Sararé  e  Alegre, na  Occidental;  as  cachoeiras 
das  Muitas  Ilhas,  Três  Irmãs,  Escaramuça  Grande,  Recife 
Pequeao  e  Recife  Grande  ;  as  ilhas  de  S.  Sebastião  e  da 
Madeira ;  a  serra  dos  índios  Àpiacax,  e  o  terreno  onde  elles 
habitam. 

Da  confluência  do  rio  Jeruena  ao  Salto  Augusto  consi- 
deramos ler  quarenta  léguas.  Sfto  mais  notáveis  n'este  es- 
paço os  rios  Três  Irmãos,  de  SanfAana,  S.  Joaquim  e  de 
S.  João,  na  margem  oriental ;  os  canaes  das  Lages  Grandes, 
Lages  Pequenas  de  S.  LuLz,dos  Morrinhos,  de  S.  Germano, 
da  Bocaina,  de  S.  João  da  Barra  e  de  S.  Carlos,  e  as  ilbas 
do  Arcbipelago. 

Do  Salto  Augusto  ao  de  S.  Simão  de  Gibraltar  conside- 
ramos ter  quinze  léguas.  N^este  iutervallo,  em  que  o  rio 
Jeruena  corre  sempre  por  entre  a  Serra  Morena,  estão  as 


Dictzedby  Google 


—  !«»  — 

grandes  cachoeiras  do  Tucarízal.  de  Santa  Edaviges  das 
Famas,  das  Ondas  Grandes,  de  S.  Lucas  Evaogelistq,  de 
S.  Gabriel,  de  S.  Rafael,  de  Santa  Iria,  das  Três  Quedas  de 
Santa  Úrsula  da  Misericórdia,  de  S.  Florêncio  e  do  Laby- 
rintho. 

Do  Salto  de  S.  Simão  de  Gibraltar,  i  barra  do  rio  Tapa- 
joz  consideramos  ter  vinte  léguas.  SSo  os  lugares  mais 
DOtaTeis  n'este  espaço  a  cachoeira  de  Todos  os  Santos,  os 
rios  de  S.  Tbomé  e  dos  Almas  no  lado  oriental,  e  de 
S.  Martinho  no  occidenlal. 

Oa  juncção  do  rio  Tapajoz  aos  primeiros  moradores  da 
capilama  do  Pare  consideramos  ter  norenta  e  cinco  léguas. 
São  mais  notáveis  n'este  iolervallo  os  rios  dos  Bons  Sígnaes, 
Creporé,  Jaguai  e  Tapacorá  na  mai^em  oriental,  e  o  Tracoá 
ns  Occidental. 

As  cachoeiras  das  Capoeiras,  Cem  Canaes,  das  Mangabei- 
ras,  da  Montanha,  dos  Feixos,  do  Pacoval,  das  Freicheíras 
do  Maranhão  e  do  Tracoá.  E'  também  digno  de  nolar*se 
n'este  espaço  que,  sendo  n*elle  o  rio  assaz  corpulento,  sejam 
as  ditas  cachoeiras,  além  de  muito  compridas,  de  canaes 
muito  baixos,  que  incommodarão  hastantemente  a  quem 
subir  na  eslaçio  das  seccas  com  candas  carregadas. 

Dos  ditos  primeiros  moradores  i  villa  de  Santarém  contam 
elles  sessenta  e  cinco  léguas.  N'este  espaço  estão  o  lugar  de 
Aveiro  e  a  villa  de  Alter  do  Chão,  no  lado  oriental ;  o  lugar 
da  Cori,  Villa  Nova  de  Santa  Ouz,  villa  de  Pinhel,  Villa 
Boim  e  Vitia  Franca,  no  occidental. 

Da  villa  de  Santarém  á  cidade  do  Pari  contam  os  nacio- 
naes  cento  e  cincoenta  léguas.  Os  lugares  mais  notáveis 
n'Qste  espaço  já  acima  ficam  indicados. 


Dictzedby  Google 


—  IflO  — 
TOTAL   DA   NATSÁAÇlo. 

Eate  espaço  de  465  lagoas  andácnos  em  114  diaa,  que 
(■□tos  vão  de  14  de  Setembro  de  1813  em  que  nos  embar- 
cámos a  5  de  Janeiro  de  1813  em  que  chegámos  á  cidade 
do  Paxá,  a  saber  : 

Dias  de  viagem 83    . 

Dias  de  falha 33 

Confere    .     .     .     .    114 


Dictizedby  Google 


—  Ml  — 

DOCUMENTOS 

Sobre  a  oolonla  do  S»ox*amonto 

'Copi«dos  cio  Arehivo  Publico) 

Cópia  u.  iO.—  Ulm.  eEx.  Sr.  —  1.  Foram  presentes  a 
Sua  Magestade  oa  oflicios  de  V.  Ex.  com  dala  de  12  e  13  de 
Dezembro  do  anoo  próximo  precedente  de  1773,  e  (odos  os 
mais  papeis  que  os  acompanharam.  D'elles  consta  acbar-s^ 
o  governador  de  Buenos-Ayres  é  testa  de  todas  as  forças, 
que  pôde  ajuntar  ;  ler  já  passado  o  Rio  da  Praia,  para  a  parte 
da  Colónia  do  Sacramento;  dÍrÍgÍn<to-se  em  plena  marcha 
para  Hoalevidéo,  e  de  lá  para  o  Rio-Grande  de  S.  Pedro  ;  e 
com  a  resolução,  segundo  todas  as  apparenciaa,  de  nos  atacar 
naquelles  importantíssimos  dominiosd'esla corda;  depois  d« 
lerem  os  officiaes  castelhanos  cournettido  nos  mesmos  do> 
miníos,  e  de  continuarem  a  comtnetler  n'elles  as  mais  into- 
lerafeís  hostilidades ;  respondendo,  além  d'Í8to,  com  a  maior 
altivez  e  arrogância,  aos  repelidos,  incessantes  e  ao  mesmo 
lempo  inúteis  proleslos,  que  lhes  temos  feito  ;  os  quaes,  em 
lugar  de  conterem  aquella  soberba  nação,  só  lhes  tèm  ser- 
vido de  assumpto  para  os  insultos  e  ultrajes,  com  que  nos 
lém  tratado  e  continuem  a  tratar. 

2.~V.  Ex.  representa  a  consternação  em  que  se  acha, 
em  taes  circamstancias  ;  vendo  os  armazéns  d'e5sa  capitania 
desprovidos  ;  as  tropas  d^essa  guarnição  faltas  de  genle;o 
governador  de  S.  Paulo  sem  dar  execução  ás  ordens  de  Sua 
Hagestade,  relativas  aos  soccorros  que  o  mesmo  senhor  lhe 
mandou  ter  promplos  para  passar  ao  Rio-Grande.  E  sendo 
emfim  muito  para  receiar  que,  determinando-se  os  caste- 
lhanos a  atacarem  á  cara  descoberta  o  dito  Rio-Grande,  com 
o  seu  generala  testa,  se  lenha  disposto  na  Europa  alguma 
esquadra  para  atacar  ao  mesmo  tempo  essa  capital. 
TOMO  XXXI,  P.  I.  31 


Dictzedby  Google 


—  ieft~ 

3.— Nos  mesmos  oScios  refin-e  V.  Ex.  que,  A  vista  de  tio 
evideole  risco  e  conhecido  aperto,  tomara  a  resolução  de 
mandar  pdr  promplo  o  resto  do  regimenlo,  de  que  j6  havia 
quatro  companhias  em  S.  Paulo ;  que  da  mesma  sorte 
mandara  augmentar  de  quarenta  homens,  cada  uma  das 
duas  companhias  de  cavatlaria  da  guarda  do  vice-rei' 
ficando  ambas  de  cem  homens  ;  e  que  dérs  o  commanda- 
roenio  d'eslo  esquadrão  ao  seu  ajudante  de  ordens  Gaspar 
José  de  Mattos,  conferindo-lhe  a  graduação  de  sai^ento-mór 
por  commissão,  durante  o  serviço  a  que  era  destinado. 

4. — Que  além  d^islo  tinha  V.  Ex.  luiindado  formar  um 
corpo  de  olGciaes,  officiaes  inferiores,  e  soldados  Tolunta- 
rios,  que  se  oferecessem  dos  regimentos  d'es3a  guarnição  ; 
e  que  nomeara  ao  teneulc-coronel  Sebastião  José  da  Veiga 
Cabral  para  passar  com  o  referido  50ccurro  ao  Bío-Grande  ; 
conferindo-lhe  V.  Kx.  a  graduação  de  coronel,  lambem  por 
commissão,  doraote  o  mencionado  serviço. 

5. —Que,  achando-se  V.  Ex.  sem  meios  para  as  despesas 
d'estcs  preparos  e  expedição  d'elles,  que  nlío  admiltem  de- 
mora, estava  na  resolução,  não  havendo  outro  remédio,  de 
se  valer  do  rendimento  do  subsidio  voluntário. 

6. — Propõe  V.  Ex.  utlimamenle  :  que,  sendo  esta  occa- 
síàode  tanto  risco,  e  de  tanta  importância,  e  devendo  con- 
fiar-se  a  um  oflicial  de  distinclo  merecimento,  e  de  conhe- 
cida experiência,  lhe  lembrava  mandar  a  dia  o  tenente- 
general  João  Henrique  de  Bobm ;  nào  se  determinando, 
porém,  fsxèl-o  sem  ordem  d'el-rei  nosso  senhor. 

7. — Isto  é  em  substancia  tudo  o  que  contém  os  ofEcíos 
de  V.  Ex.,  a  que  seja  preciso  dar  prompla  resposta :  dei- 
xando as  outras  particularidades,  qoe  n'elles  se  encontram, 
para  occasião  mais  oppurtuna ;  e  que  inste  menos  brevidado 
que  a  presente. 

8.— Quanto  ao  receio,  em  que  V.  Ex.  se  acha,  de  poder 


Dictzedby  Google 


ser  «lacado  por  uma  esquadra  casteLhsaa,  que  se  mande 
da  Europa  a  essa  capital,  devo  dizer  a  V.  Ex.  que,  ainda 
que  seja  um  principio  inlubilavel,  o  uma  máxima  demoas- 
Iralivamente  cerla,  que  oeobuma  sorle  de  inimigos  se  deve 
desprezar,  e  que  alé  com  os  mesmos  que  parecem  meuos 
formidáveis,  e  menos  perigosos,  é  não  só  prudente,  mas 
indispensavelinente  necessário  lomar  as  possíveis  cautelas  e 
prevenções  ;  não  é  com  tudo  menos  certo,  nem  menos  in- 
dubitável, que  no  conceito  de  todas  as  nações  da  Europa,  6 
a  castelhana  a  que  pôde  causar  menos,  ou  nenhum  cui- 
dado ;  e  que  eutre  Iodas  as  ditas  nações  é  sõ  a  portugueza, 
ou  para  melbor  dizer  uma  parle  dos  indivíduos  d'ella,  a 
quem  a  dita  nacâo  castelhana  pôde  causar  susto  ;  por  não 
se  saber  distinguir  alé  agora  entre  nós  as  vãs  apparencias, 
as  oHtentações  vaidosas,  os  termos  pomposos,  e  as  hipér- 
boles do  real  e  effeclivo  poder  d'aquella  nação. 

9. — N'esta  inlellígencia  é  preciso  que  V.  Ex.  considere, 
que  uma  esquadra  armada  na  Europa  com  sulGcientes  forças 
para  atacarem  essa  capital,  é  objecto,  que  nem  a  cõrle  de 
Hadrid  pôde,  nem  jamais  se  ha  de  atrever  a  emprebender 
por  sí  só.  E  u'esta  certeza  (enaquanto  d'esla  cArte  não  tiver 
T.  Ex.  avisos  em  contrario)  sirva-lhe  de  regra,  para  poder 
fazer  mais  livremente  as  suas  disposições,  o  que  ji  lhe  referi 
de  ordem  de  Sua  Mageslade  nQ  §  5*  da  carta  que  lhe 
dirigi  com  data  de  20  de  Novembro  de  1772,  concebida  nos 
termos  seguintes : 

10.—  «  N'esta  intelligencia,  e  á  vista  da  desconfiança  que 
«  V.  Ex.  refere  de  ser  atacada  no  dito  Bio-Graode,  o  que 
«  unicamente  lhe  resta  a  fazer  é  preparar-se  para  a  defensa  : 
«  lendo  a  certeza  de  que  achando-se  esta  cõrle  em  perfeita 
«  iolelligencía  com  a  de  Londres,  e  não  lendo  cousa  alguma 
«  que  receiar  da  de  Versalhes,  a  única  nação  que  presen- 
«  temeste  o  pôde  ioquielar  é  a  castelhana ;  e  esta  (bem 


;dby  Google 


-  164  — 

«  considerada  a  sua  silaação  e  circumstancias)  em  nenhoma 
«  outra  parle,  que  nos  àé  cuidado,  senão  no  Rio-Granrie 
4  de  S.  Pedro  e  seus  districlos.  » 

11. — Também  V.  Ex.  deve  ter  por  principio  indobitawi, 
que  o  motivo  porque  a  mesma  nação  nos  (em  sido  tão  in- 
commo<)8,  tão  pesada,  e  tão  fatal  n'aqDelles  dominios  porlu- 
guezes,  não  é  por  conta  das  suas  forças,  nem  do  seu  poder, 
mas  por  causa  da  nossa  frouxidão,  da  nossa  pusillanímídade, 
e  do  servil  abatimento  com  que  sempre  sofTremos  as  suas 
arrogâncias  e  os  seus  insultos;  e  igualmente  por  nâo  (ermos 
tomado  com  aniicipação  as  medidas  necessárias,  próprias 
e  elBcazes  para  lhes  resistir. 

12.— Fundado  n'esteâ  princípios,  logo  que  chegou  a  cs(a 
cftrte  o  carta  de  V.  Ex.  com  data  de  5  de  Haio  de  i772,  que 
começa  petas  palavras— O  governador  e  capitão  general — , 
na  qual  V.  Ex .  referia  o  receio  em  que  ficava  de  ser  atacado, 
e  as  disposições  militares  que  linha  feito:  houve  Sua  Ma- 
gestade  por  bem  approval-as  todas,  accrescenlando  a  ellasas 
mais,  que  constam  da  sobredita  carta  de  20  de  Novembro. 

13. — Presentemente  approva  o  mesmo  senhor  as  que 
constam  dos  §§  3°  e  j*,  acima  referidos  ;  e  igualmente  <\m 
V.  Ex.  se  sirva  do  subsídio  para  as  despezas  de  todos  estes 
serviços. 

14  —Ao  governador  e  capitão  general  da  capitania  de 
S.  Puuio,  e  ao  brigadeiro  José  Custodio  de  Sá  e  Faria,  houve 
Sua  Magestade  por  bem  que  eu  escrevesse  as  duas  cartas  de 
oHicío,  de  que  ajunto  aqui  as  cópias,  para  que  V.  Ei.  fique 
entendendo  quaes  são  as  ordens  ulteriores,  que  o  mesmo 
senhor  mandou  dirigir áquella  capitania,  com  as  quaes  ces- 
sariam as  duvidas  e  contestações,  que  alli  se  lèm  suscitado, 
relativas  aos  soccorros  com  que  ella  deve  assistir  a  Viamão  e 
Bio-Grande. 
15.— .4' vista  d'eslas  disposições  militares  conslaráõ  as 


Dictzedby  Google 


—  1«6  — 

forças  d'8<iuetles  donainios,  perlenceDies  ao  pratmo  pau  • 
de  am  regimgnto  de  dragôos,  que  no  seu  estado  completo 
moota  em  quatrocentos  cavsUos ;  de  quatro  companhias  de 
iropa  ligeira  auxiliar,  de  cíncoenla  homens  cada  uma,  duas 
de  pé  e  duas  de  cavallo,  Tazendo  as  quatro  dozentos  benaenat 
e  de  qualrocentos  homens  de  infantaria,  com  exercicio  de 
arlilheria :  montando  estas  forças  pertencentes  ao  próprio 
paiz  de  ViamSo  e  Rio-Grandede  S.  Pedro,  segundo  as  re- 
lações  de  V.  Ex-,  em  mí)  homens  de  carallaría  e  qui- 
nhentos de  infamaria.  Por  todos  mil  e  quinhentos  homens. 
16. — Os  soccorros  com  que  aquelles  dominios  porli^ue- 
zes  devem  ser  auxiliados  segundo  as  mesmas  relações,  e  as 
ordens  ulteriores,  que  se  expedem  »  S.  Paulo,  consislírSo  : 
em  um  regimento  de  ínfonlaiia  do  guarnição  d'easa  capital, 
de  que  já  se  acham  qunlro  companhias  em  S.  Paulo  e  três  no 
Rio-Grande.  Montando  o  dito  regimento  completo  em  sete- 
centos e  treze  homens  ;  em  duas  companhias  de  cavallsria 
da  guarda  de  V.  Et.  augmentadas  de  quarenta  homens, 
montando  ambas  em  cem  homens  ;  em  nma  companhia  de 
arlilheria  do  Rio  de  Janeiro  e  Ires  de  infantaria  de  Sanl»- 
Gatharina,  tnontando  as  quatro  em  quatrocentos  homeoa  ; 
em  sele  companhias  da  praça  de  Santoa.decincoenta  homens 
cada  uma,  e  montando  Iodas  em  trezenloe  e  ciocoenla  ;  em 
duas  divisões  de  paulistas,  aventurei ros  e  caçadores,  metade 
de  pé  e  metade  de  cavallo,  montando  ambas  em  mil  homens ; 
e  lodos  05  sobreditos  soccorros  em  mil  novecentos  e  setenta 
e  Ires  homens  de  pé  e  seiscentos  de  cavallaria,  os  quaes 
juntos  á  Iropa  nacional  de  Viamão  e  Rio-Grande  fazem  dois 
mil  quatrocentos  e  sessenta  e  ires  homens  d?  pé,  o  mit  e  seis  - 
centos  de  cavallo;  e  ambos  quatro  mil  e  sessenta  e  Ires 
combatentes. 

17. — Para  que  estas  íirças  sejam  formidáveis,  oponham 
em  perfeita  tranqnillidadeo  s^urança,  nSo  ló  a  parte  aeri- 


Dictzedby  Google 


dMMÍdi  Amenea  PortugMflM.  ma»  aiMcapilale  Iwtft  o  Bw- 
sil,  épreoísodar-lhfla  um  chefe  ;  eeste ordena  Sua  Magmlads 
q«e''Be3a  e  teneste  general  João  Henrique  de  Bobs,  o 
qiul  deve  pasMr  logo  a  Viamáo  para  examioar  e  reconhecer 
l«dos  squelles  distrútot;  e  depoia  de  ver  e  observar  D'etles  os 
logaree,  peslos  e  paasagenB  mais  importantes;  eacolber  um 
sitio  vanlajoao  e  forte,  eoi  que  possa  unir  as  sobreditas  for- 
ças; formando  d'ellaa  um  pi' de  eiercilo,  e  eosinando-as  a 
se  formarem  em  batalha,  e  a  todos  oe  outros  movimentos  e 
manobras  da  gaerra  :  dirigindo  d'alli  oa  postos  avançados  e 
todo  o  mais  serviço  militar,  que  se  deve  praticaf  n'aqiKltes 
diatrietos ;  observando  os  movimentos  dos  castelhanos  ;  e 
vendo,  se  com  a  presençA  das  nossas  tropas  se  abstém  de 
commetler  as  hostilidades,  que  até  agora  t£m  praticado. 

18. — No  caso  de  as  continuarem  ou  de  íazerum  disposi- 
Ções,  por  onde  se  veja  que  persistem  na  resolução  de  nos 
atacar ;  e  depob  de  exbauridos  todos  os  meios  suaves  de 
novos  e  reiwtidos  protestos  ;  e  depois  de  desenganada  o  dito 
general,  de  que  elles  nfio  produzem  algum  effttilo :  em  tal 
G«so,  não  havendo  outro  recufio  mais  que  o  da  força,  e  con- 
sistindo n'elU  a  natural  defensa  de  um  iryusfo  aggressor, 
prooorarA  o  mesuio  general  de  prevenir  o  seu  ioimigo,  ala- 
Gando<o  por  tode  a  parte  onde  o  encontrar,  e  bzendo  as  pos- 
síveis diligencias  pefo  desbaratar  e  destruir. 

19.— De  sorte  que,aiileB  de  se  recorrer  ao  extremo  reme* 
dio  das  armas,  é  indispensavelmente  necessário  buscar 
aqnetles  meios  suaves  que  a  prudenria  e  a  moderação  ins- 
pira ,  pata  que  os  castelhanos  desistam  dos  seus  insuportáveis 
procedimentos  e  injustas  pretenções ;  mas  se  equella  so- 
berba, vaidosa,  e  de  nenhuma  sorte  reductavel  nagão  persis- 
tir D'ellas  ao  ponto  de  nos  vermos  na  forçosa  necessidade 
de  tirar  a  espada,  é  preciso  que  ella  Dão  «olte  á  bainha,  em- 
quBlo  boNver  cuteíbanos  nos  dislríotos  d^equella  fronteira. 


Dictzedby  Google 


—  MT  - 

E  M  •  Pranéfloda  abugotr  a  joitiça  da  DOMa  oauu.  com 
um  golpe  deósifo,  poâeiemos  levar  aa  Douaa  ariMs  vieto- 
rnus  até  &  mai^m  MptenlrioosL  do  Rio  da  Prata  e  Gelooia 
do  Sacramento. 

20.— Para  acoupaobar  o  sobredito  general  são  iadispea- 
savelmeDte  necessários  pelo  ateoos  dois  engeobeiros,  e  um 
delles  deve  ser  o  brigadeiro  FunUs,  que  tem  grande  conhe- 
ciaoeDlo  do  trabalho  de  reduclos,  de  relrancbameolos,  e  de 
outras  obras,  com  que  em  rasa  canapaDha  se  fortiScam  a« 
tropas  1108  seus  acampaioenlos,  ou  dos  portos  e  passos  im- 
portantes, que  ó  preciso  guardar  e  defender. 

21 .  —  Alóm  d'eate  serviço,  é  preciso  que  o  dilo  brigadeiro, 
loge  que  cbegar  áquelles  districtos,  passe  i  fortaleza  do 
oorte  do  Rio-Grande,  e  tire  uma  planta  d'olls,  com  todea  a^ 
eiplicações  da  sua  forço  e  do  estado  era  que  se  acha  ;  indi- 
cando ne  mesma  as  obras  de  que  poderi  precisar,  com  um 
orçamento  da  sua  importância. 

22.— Que  ao  mesmo  tempo  faça  outra  planta  de  uma  nova 
fortificação  accommodada  á  capacidade  do  terreno,  e  i  defesa 
do  porto,  coro  o  orçamento  do  seu  custo  :  e  logo  que  as  ditas 
plantas  estiverem  concluidas,  V.  Ex.  as  remetterá  a  esta  se- 
cretaria d'Eslado,   para  serem  prosenles  a  Sua  Magestade. 

23.— Em  ncnbum  caso  deve  V.  Ex.  permiltir,  nem  lole- 
rnr  que  os  castelhanos  nos  fechem  a  entrada  d'aquelle  porlo, 
nem  que  visitem  n'elle  as  embarcações  porluguezas.  ou  em- 
baracem a  sua  livre  navegação  ;  mondando  V.  Ex.  guarne- 
c£l-u  com  um  sulGcienle  numero  de  peças  de  arlilheria  de 
grosso  calibre,  para  proteger  as  ditas  embarcações,  e  repellír 
a  força  com  a  força  ;  usando  olém  d'islo  de  represálias  e  de 
lodos  os  mais  expedientes,  que  alli  se  praticarem  contra  elles. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 
22  de  Abril  de  ITJU.—Martiuho  de  Mello  ;  Castro.Si. 
Marquez  do  Lavradio. 


Dictzedby  Google 


-  M8  - 

Cóf)ia,fertent>ea9offkio  aãman.ÉO.—VwMa  presMiesa 
Sm  Hageslsde  as  relações  de  V.S.  com  datas  de  8  e  A  de  De- 
MoAro  de  1772  em  respostas  das  cartas  que  Ibe  dirigi  com 
data  do  1*  de  Outubro  de  177t-  E  igualmente  viu  o  mesmo 
seobor  as  oalras  relações  de  V.  S.  com  dala  de  U  de  Abril 
de  1778;  e  o  papel  intitulado  Notas,  em  resposta  da  carta, 
qae  também  lhe  escrevi  com  data  da  20  de  Novembro  de 
1772.  E  reservando  para  ootra  occasião  dicer  a  V.  S.  o  juixo 
que  aqui  se  fez  sobre  os  extensíssimos,  dispendiosos  e  impra* 
ticaveis  serviços  de  que  (ratam  as  ditas  relações,  lhe  vou 
tâo  somente  participar  as  positivas  ordens  de  Sua  Magestade 
que  V.  S.  achará  no  papel  junio  assignado  da  minha  letra. 

Deos  GuardeaV.  S.  —  Palscio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 
era  21  de  Abril  de  177á — Maninho  de  Me)lo  e  Castro. — 
Sr.  D.  Luiz  António  de  Sousa  Bothelho  Mourão. 

Cóina,  perfencri  ao  mesmo  officio  n.  10-  —  1.  — Em  pri- 
meiro lugar  reprova  Sua  Magestade  o  projecto  de  se  intentar 
a  defensa  de  Viamão,  e  do  Bio-Grande  do  S.  Pedro,  por 
meio  de  uma  poderosa  diversão  feita  aos  castelhanos  pelo 
sertão  de  Igualemy:  e  n'este  inlelligencia  prohibe  o  mesmo 
senhor  a  V.  S.  de  mandar  áquelle  sertão  tropas  regulares, 
nem  outras  fbrçss  que  não  sejam  as  que  vão  determinadas  na 
carta,  que  acabo  de  escrever  ao  brigadeiro  José  Gostodio  de 
Sá  e  Faria,  de  qne  abaixo  se  fará  men^Jo. 

2.— Em  segundo  logar  defende  Sua  Magestade  a  V.  S.  de 
mandar  executar  cousa  alguma,  das  que  se  acham  compre- 
hendidas  e  disposlns  no  papel  intitulado  —  Plano  —  e  nos 
que  vem  juntos  a  elle,  um  intitulado  —  hitrotlvcção  Prévia  — 
assignado  por  V.  S  ,  outro  marcado  com  a  letra  €  assignado 
pelo  dito  brigadeiro  José  Custodio  de  H  e  Faria :  lendo 
V.  S.  entendido  que  a  nenhum  d<is  estebelec-imentos,  ou 
serviços  projectados  nos  ditos  papeis,  se  deve  dor  principio, 
nem  fozer  para  elles  alguma  disposição  ;  ainda  que  pareça 


Dictzedby  Google 


—  199  — 

ulil,  MD  pMcederem  ordens  expressas  e  positivas  do  mesmo 
seiriíor. 

3. — Em  terceiro  tugar :  ordena  Sua  Mageslade  que  V.  S. 
oão  proaiga  nas  expedições,  e  descobrimentos  dos  sertões 
do  Ivay  e  Tibagy,  sem  maadar  provdvelmeote  a  esta  secre- 
taria d'E8tado  relações  exactas  da  despexa  que  faz  cada  uma 
das  ditas  expedições,  e  o  numero  de  gente  que  se  occupa 
em  cada  uma  d'eUas.  E  sem  que  V.  S.  mande  tirar  as  mais 
•uetase  rigorosas  ioformações  do  comportamento  dos  des- 
cobridores com  os  índios;  e  se  n''estas  entradas  se  \éta  obser- 
vado religiosamente  as  leis  e  ordens  de  Sua  Mageslade  rela- 
tivas ao  systema  de  bumanidade,  brandura  e  mansidão, 
coffl  que  os  mesmos  Índios  devem  ser  tratados.  Remeltendo 
V.  S.  ígoolmeute  as  ditas  informações  a  esta  secretaria  d'Es- 
lado,  para  o  mesmo  senhor  resolver  sobre  ellas  o  que  fAr 
servido  ;  sem  que  V.  &.  disponha,  ou  adiante  mais  cousa  a 
respeito  dos  ditos  descobrimentes,  emquanto  não  receber  as 
reaes  ordens  para  os  proteguír. 

i. — Em  quarto  lugar:  que  V.  S.  não  promova,  nem  dis- 
ponhi,  nem  intente  por  sgura  outro  algum  serviço  n'e8sa 
capitania,  que  não  seja :  primeiro,  o  da  conservação  do 
domínio,  e  posse,  em  que  nos  achamos  no  dislriclo  e  sertão 
de  Igualem; ;  segando,  o  dos  soccorros  para  Viamão  e  Bio- 
Grande  de  S.  Pedro,  regulaado-se  em  um  e  outro  serviço  na 
forma  seguinte : 

5. — Quanto  i  conservação  do  dislriclo,  e  sertão  do  Igua- 
íeiay :  que  V.  S.  mande  vir  á  sna  presença  o  brigadeiro  José 
Custodio  de  Si  e  Faria,  e  lhe  estranhe  no  real  nome  de  Sua 
Hageslade  o  seu  reprovado  comportamento,  em  se  dilatar  até 
o  presente  n'e6sa  capital  contra  as  expressas  e  positivas 
ordens  do  mesmo  senhor  :  f«zendo-o  V.  S.  partir  immedia- 
lamente  paia  o  lugar  do  seu  destino,  o  que  Q''elle  execute  o 
que  se  lhe  determina  na  earta  que  acabo  de  lhe  escrever, 

TONO  XXXI,   P.  I  22 


Dictzedby  Google 


—  no  — 

de  que  junto  sqoi  a  cópia ;  e  igaalmenie  o  q«e  referi  s  T.  S. 
nos  parBgraphos  accusados  aa  mosma  carta :  fazendo  o  d»to 
Jobé  Custodio  relações  exactas  de  todas  as  soas  obsnvafOes 
e  disposições,  no  referido  sítio ;  a«  quaes  V.  S.  mandará  a 
esta  secretaria  d^Eslado,  nos  preprioa  originaea,  para  seren 
presentes  a  Sna  Hagestode,  e  para  o  mesmo  se^r  resolver 
sobre  ellas  o  que  f&r  mais  conforme  ao  seu  real  serviço. 

6. — Quanto  aos  soccorros  para  VíamSo,  e  Bio-Grande  de 
S.  Pedro;  pareceram  a  el-reí  nosso  senhor  muito  justas  aa 
reflexões  de  V.  S.  sobre  os  inconveaienles  de  se  mandarem 
marchar  dois,  ou  três  r^mentos  de  a  uxilíares  par»  fora 
d'essa  capitania,  visto  serem  os  ditos  regimentos  na  maior 
parte  formados  das  príncipaes  cabeças  das  familias,  e  de 
homens  casados  e  estabelecidos  :  sendo  certo  que  esta  qua- 
iidade  de  tropa  só  é  boa  e  útil  para  se  e  mpregar  no  próprio 
paiz,  guarnecendo  os  postos  e  lugares  d'elte,  onde  nSo  só 
defendem  os  mesmos  postos  e  lugares,  mas  também  aa  suas 
casas  e  familias,  que  é  o  maior  estimulo,  para  se  compor- 
tarem como  devem:  e  n'esta  oortsideroçSo  ordena  Sua  Hages- 
tadeqaeos  referidos  corpos  sejam  unicamente  destinados  a 
este  serviço. 

7.  —  Para  os  soccorros,  que  hâo  de  paasar  a  Tiamão  e 
Rio-Graode  de  S.  PedrO,  éa  mesiao  senhor  servido;  Que 
V.  S.  mande  recrutar,  completar  e  juotar  as  sete  compa- 
nhias de  infantaria  da  praça  de  Santos ;  suppríade  eon  aoxt- 
liarM  09  postos  que  se  acharem  guarnecidos  com  destaca- 
mentos da  dita  infantaria. 

8. —  Qne  estas  companhias  assiro  juntas  e  completas  vio 
(ornar  o  seu  quartel  no  mesrai>  sitio  em  que  se  achar  o  corpo 
de  tropa  da  guarnição  do  Kio  de  Janeiro ;  e  que  depoú  de 
se  TOsUrem  e  armarem,  com  os  oniformese  armamento,  que 
até  agora  dío  tinham,  e  que  já  se  remelloram  «essa  capi- 
tania com  este  mesmo  âm.  sqam  as  refwidas  companhias 


Dictzedby  Google 


-  irt  — 

ezerciUdas  «  diaeiplioadas  {«los  offidMs  do  Duncúnadcf 
corpo  ds  goaraição  do  Bio  de  Janeiro ;  e  que  eete  e  aquellas 
se  maadem  prover  de  todo  o  necessário,  e  se  ponham  promp- 
las  para  paasareui  a  Viamão  ou  ao  Bio-Grande,  logo  que 
forem  requeridas  pelo  coaomaadanUi  eu  chefe  d'aquQlIes 
districtos. 

9.—  Além  da  sobredila  iropa  regular,  sendo  presenles  a 
el-rei  nosso  senhor  as  relações  que  V.  S.  reraetleu  a  esta 
secretaria  d'Eslado  com  data  de  9  de  Dezeoabro  de  1772, 
do  numero  de  habilaafes  dessa  capitania;  e  vendo-se  n'ellas 
que  a  classe  dos  homens  livres  monta  eu  trinta  e  seis  mil 
e  seiscentos  e  oitenta  e  seis  ;  e  que  a  dos  escravos  monta  em 
vinte  e  um  mil  novecentos  noventa  e  dois,  fazendo  ambas 
o  Dumero  de  ciacoenta  e  oilo  mil  seiscentos  setenta  e  oito 
homens,  sem  contar  mulheres  livres  e  escravas.  Entendendo. 
Soa  Mageslade  que,  sem  algum  inconveniente  nem  prejuízo 
da  cullura  ou  das  Tanailiasase  podem  tirar  da  primeira  classe 
mil  homens  de'  armas,  forlet  e  robustos,  metade  de  pé  e  me- 
tade de  cavallo,  que  seja  o  maior  numero  d'elles  que  fór 
possível- 

10. —  Estes  mil  homens  se  dividirão  em  dois  corpos 
iguaesíumque  se  deveimmediatamentepdrprompto,  armado, 
e  provido  de  todo  o  necessário,  para  lambem  marchara, 
Viamão  ou  ao  Bio-Grande  de  S.  Pedro,  logo  que  íòr  reque- 
rido pelo  commandante  em  chefe  d'aquelles  districtos ;  outro 
que  deve  estar  alistado  de  sorte  que  se  possa  ajuntar  no  pre- 
ciso (ermo  de  oilo  dias,  o  mais  tarde,  tomando-se  de  antemão 
as  providencias  necessárias  para  que  lambem  este  corpo 
marche  logo  que  fâr  requerido  na  forma  ecima  indioada. 

11.—  K  indispensavelmente  necessário,  que  para  os  re- 
feridos dois  corpos  escolha  Y.  S.  entre  os  paulistas  alguns 
mogos  mais  desembaraçados,  das  familias  mais  dislinctas,  e 
de   cMwbecida  fidelidade,  dando  a  cada  umocommanda- 


D,:„l,;ccttvG00gIC 


—  1T5  — 

mento  de  cento  e  ciocoenta  ou  duzentos  boroens ;  qoe-elles 
escolham,  por  esta  vez  somente,  os  seus  officiaes,  e  que  se 
encarreguem  igualmente  da  da  tropa,  qne  quízerem  ou  po- 
derem levantar ;  suppríndo  V.  S.  com  recrutas  a  gente  que 
lhes  fàUn  para  o  referido  numero. 

12. — Os  ditos  mil  homens  de  pé  e  de  cavallo  devem  ser 
annados  na  fórmn  que  elles  mesmos  quízerem,  segundo  o 
seu  uso  e  costume,  deitando-ihes  igualmeate  livre  a  forma  e 
melhodo  particular  qoe  tém  de  fazer  a  guerra  de  surprezas, 
de  emboscadas  e  incursões  no  paiz  inimigo ;  assegurando- 
Ihes  V.  S-,  no  real  nome  de  Sua  Magestade,  que  tudo  quanto 
pilharem  no  dito  paiz  inimigo  será  seu  ;  que  ainda  as  armas 
lhes  serâo  compradas  pelo  seu  justo  raior;  e  que  pelos  tro> 
phéos  que  lambem  tomarem  se  lhes  darSo  compensações 
proporcionadas  i  qualidade  d^elles;  além  dos  prémios  com 
que  serão  remuneradas  as  emprezas  difficeis  e  a  intrepidez  dos 
que  mais  se  distinguirem  n^ellas.  * 

13.— Este  corpo,  porém,  pars  se  tirar  d'elle  toda  a  van- 
tagem do  seu  mesmo  methodo  e  uso  de  combater,  precisa  ter 
alguma  luz  das  principaes  manobras  com  que  as  tropas  ir- 
regulares se  fazem  redutaveis  aos  inimigos,  assim  em  dia  de 
acção»  como  na  pequena  guerra  ;  e  lendo  o  marquez  de  La- 
vradio exercitado  as  duas  companhias  da  sua  guarda  a  esta 
qualidade  de  serviço,  e  acbando-se  no  Rio  de  Janeiro  o  tc- 
nente-general  JoSo  Henrique  de  Bohm.  que  conhece  per- 
feilamenle.  assim  pela  sciencia  como  pela  pratica  de  muitos 
annos  de  viva  guerra,  todo  o  partido  que  se  pôde  lirar  de 
semelhante  Iropa,  deve  V.  S.,  sem  alguma  perda  de  tempo, 
ajustar  com  o  dito  marquez  o  modo  de  a  disciplinar  na  forma 
acima  indicada,  ou  mandando  elle  alguns  olGciaes  a  esse 
capitania,  para  o  referido  eiteito  ;  ou  fazendo  V.  S.  passar 
ao  Rio  de  Janeiro,  com  o  mesmo  fim,  alguns  paulistas,  que 
liver  destinado  para  commandantes,  ou  por  outro  qualquer 


Dictzedby  Google 


—  173  — 

arranjamcato  qtw  parecer  fiais  prompto,  brera  «oppor- 
tuno. 

14. — Os  dois  corpos  de  iolaDlaría  do  Bio  de  JaDeiro  e  da 
praça  de  Santos,  e  a  prímeira  divisio  dos  quinhentos  pau- 
listas, que  hão  de  estar  promptos  a  marchar  ao  primeiro 
sfiso,  se  devem  juntar  nos  lugares  que  parecerem  melhor 
situados,  e  quedftm  mais  facilidade  á  tropa  para  chegar  com 
3  possível  brevidade  ao  campo  ou  aos  postos  que  lhes  forem 
destinados. 

!&.— O  porto  de  Santos  parece  o  lugar  mais  próprio  para 
se  jantarem  os  dois  corpos  de  infonlaria  acima  indicados; 
não  só  porque  n'etlo  se  podetn  embarcar  com  Ioda  a  facili- 
dade e  segurança,  mas  porque  com  a  mesma  podem  levar 
a  orUlhería,  munições  do  guerra  e  bagagem,  e  transportada 
a  Santa-Catharina  ou  villa  Ha  Laguna,  que  dista  de  Víamão 
dez  dias  de  marcha  unicamente,  sendo  alam  d'islo  lodo  o 
caminho  entre  Laguna  o  Viamão  excellente,  e  de  praias 
limpas,  como  refere  o  brigadeiro  José  Custodio. 

16.— A  vitia  das  Lages,  que  dista  vinte  léguas  de  Santa 
Catharina,  e  quarenta  de  Viamão.  como  refere  o  engenheiro 
Montanha,  também  parece  iadispulavelmente  a  mais  própria 
para  alli  se  juntar  a  primeira  divisão  dos  paulistas  :  sendo 
certo  que  estas  expedições,  feitas  ao  mesmo  tempo  por  mar 
e  terra,  são  mais  breves  e  mais  commodas,  principalmente 
havendo  arlilheria  a  transportar,  e  podendo  o  commandanie 
em  cbefe  de  Viamão  e  Rio-Grande  fazel-s  conduzir  da  refe- 
rida villa  da  Laguna,  por  bois  e  cavallos,  de  que  abundam 
aqueltes  dislrictos,  r  dar  ao  mesmo  tempo  as  necessárias 
providencias  para  a  marcha  da  tropa  aquartelada  nas 
Lages. 

17.— Descobrindo-se,  porém,  outros  lugares  mais  hem 
situados  que  os  referidos,  e  que  correspondam  melhor  ao 
ãm  que  se  procura,  esles  se  devem  preferir;  comtanto,  po- 


Dictzedby  Google 


—  «r*  — 

rto,  que  «ia  saowlkaala  oMleria  não  luja  roais  duvidis, 

neoa  questões,  e  se  assente  de  uma  vez  no  que  fôr  mais  útil 
e  vantajoso  ao  real  serviço. 

18.— Para  a  escolha  do  mellMr  sitio  em  que  as  tn^s  se 
junlMB,  BÃo  deve  servir  de  embaraço  o  reprovado  e  mal  en- 
leadido  rsoeio  do  ciúme,  que  a  proximidade  d'ellas  poderá 
causar  aos  oastelbauos,  porque  nem  Sua  Hageatade  leta 
que  dar  aatisEações  do  que  manda  praticar  nos  seus  domiaios, 
nem  ba  outro  remédio  senão  o  da  força,  que  se  possa  oppAr 
ás  violências,  depredações  e  hostilidades  que  os  dilos  caste- 
IbmoB  estio  praticando  no  Bio -Grande,  depois  dt  exbanri* 
dea  da  aoasa  parte  todos  os  meios  suaves  e  pacificoa,  que 
até  agora  se  lhes  lém  epplicado,  de  repetidos,  inoessaotes  e 
multiplicados  protestos,  que  não  teta  servido  de  outra  cousa 
senão  do  aos  provocarem,  e  ultrajarem  cada  vez  mais  com  as 
suas  iaaultoiítas  respoMas.  acompanhadas  de  repetidas  e  ma- 
nifestas hosliiidadeB,  que  visivelmente  se  dirigem  a  nos  lan- 
çar fora  d'aqueUes  importanlissimoí  domiaios  da  coroa  de 
Portugal. 

19. — Estas  eão  emtia)  as  ordens  que  el-rei  nosso  se- 
nhor é  servido  que  V.  S.  execute,  sem  duvida,  réplica  ou 
contestação  qualquer  que  ella  seja,  e  sem  a  menor  perda  de 
tempo:  avisando  V.  S.  ao  marquez  do  Lavradio,  vice-rei 
do  Brasil,  de  tudo  o  que  obrar,  para  elle  combinar  as  dis- 
posições feitas  n'essa  capitania,  com  o  serviço  e  operações 
militares  que  deve  mandar  praticar  em  Viamão  e  Rio-Grande  - 
de  S.  Pedro. 

20.—  Ultimamenlo  devo  prevenir  a  V.  S.,  para  seu  go- 
verno, que  no  plano  de  defensa  d'aquelles  domínios  portu- 
guezcs,  approvado  e  mandado  executar  por  Sua  Magestade, 
entram  como  porte  a  mais  essencial  os  soccorros  de  tropas 
do  caçadores  e  de  homens  do  atmas  que  de  presente  se  em- 
pregam, o  do  futuro  Sti  hão  de  empregar  d'essa  capitania,  a 


DictizedbyGoOJ^IC 


-  1T5  — 

qual  ba  de  fornecer  a  gente ;  e  a  real  bEenda  iMíaltr^Ih* 
com  os  meios,  na  Mraia  que  em  outra  oceasião  Ibe  puéct- 
parei  mais  cireamstanciadameote.  E  D'esta  diligencia  date 
V.  S.  ter  entendido,  para  que  se  acabem  de  uma  vez  as  du- 
vidas e  contestações  que  até  agora  se  tém  agitado  em  gravia- 
stmo  prejuízo  do  real  serviço,  e  com  maoifesla  tranigressã» 
das  reaes  ordens. 

Si  .—Em  primeiro  lugar,  que  Sua  Hagastade  esUma  muito 
mais  a  perda  de  uma  só  légua  de  terreno  na  parte  meridio- 
nal da  America  Portugueza,  que  cincoenta  léguas  de  sertão 
descobertas  no  interior  d'ells. 

23. — Em  segundo  lugar,  que,  ainda  que  os  ditos  descobri- 
mentos do  sertão  fossem  de  um  inestimável  valor,  a  todo  o 
tempo  se  podiam  e  pitdem  proseguir  ;  e  que  a  parte  meridio- 
nal da  America  Portugueza  uma  vez  perdida  nunca  mais  se 
poderá  recuperar. 

23  — Gm  terceiro  e  ultimo  lugar,  que  n'e^  certeza  não 
deve  V.  S.,  sem  expressas  ordens  de  Sua  Usgestade,  divertir 
por  agora  os  rendimentos  e  foculdsdes  d'essa  capilaaia,  oem 
empregar  os  seus  habitantes  em  outro  algum  serviço,  que 
não  seja  por  uma  parte  o  da  conservação  do  Yguatemy, 
na  forma  que  se  acha  disposto  do  §  5*  acima  referido : 
e  por  outra  parte  no  da  defensa,  preservação  e  aegurança 
de  ViamSo  e  Rio-Grande  de  S.  Pedro,  pelos  meios  e  modos 
que  ficam  acima  indicados,  desde  o  §  7  até  o  IS  inclosíva- 
mente ;  e  pelos  que  depois  d'elles  se  irSocoamiuiiicando  a 
V.  S.,  segundo  a  ezigencifl  dos  casos  e  á  proporão  que  as 
pircumstanciss  o  pedirem. 

Deua guarde  a  V.  S.—  Palácio  de  Nos»  Senhora  d' Aju- 
da, em  21  de  Abril  de  177A. —  Jfar(i«Jií>  de  Mello  e  Ceitro. 
Sr.  D.  Luiz  António  de  Sonsa  Botelho  Mouião. 

C(J}wi,  jifi-leiíee  •>  offião  achno  n.  /0.— Para  José  Custodie 
de  Sé  e  Faria,   em  2t  de  Abril  de  1772.— Em  caelt  do  1* 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  170  — 

de  Oatobro  de  1771  parliúpei  a  Tm.:  Que  el-rei  oosso 
senhor  eraserfido,  queVm>  passasse  ácapiunia  de  S.  Paulo, 
onde  o  goTernador  e  capitão-general  D.  Luiz  Aulonio  de 
Sousa  Moaráo  Ibe  commuaicsría  as  ordens  de  Sua  Hoges- 
lade,  para  que  Vm.  as  executasse,  sem  alguma  perda  de 
tempo,  ^mmediatameole  depois  da  sua  chegada  áquella  ca- 
pitania. 

Não  ignora  Vm.,  que  as  ordens,  que  o  referido  gover- 
nador lhe  participou,  como  detia  participar,  nas  diíTerentos 
conferencias  que  com  elle  teve,  consistiram  e  consistem :  em 
que  logo  que  Vm.  chegasse  á  cidade  de  S.  Paulo,  sem  se 
.  dilatar  n'ella  mais,  que  o  brevíssimo  tempo  que  lhe  fossein- 
dispensavelmenle  necessário,  para  ajustar  com  o  mesmo  go- 
vernador os  meios  mais  commodos  e  promptos  de  se  concluir 
a  fortificação  do  pequeno  forte  chamado  dos  Praseres,  no 
caso  de  parecer  útil  a  continuação  d'esla  obra,  partisse  Vm. 
immedialamente  depois  psra  o  sitio  de  Ygualemy,  e,  tomando 
commandamente  de  todo  aquelle  dislricto,  o  defendesse  até 
a  ultima  extremidade,  se  n'elle  fosse  atacado:  pondo-se 
Vm.  psra  este  effeíto  A  testa  de  um  corpo  de  paulistas  ser- 
tanejos e  homens  de  armas  escolhidos,  dirigiodo-os  com  a 
sua  experieocís,  e  animando-osoom  o  seu  exemplo,  a  se  op- 
p6rem  com  firmeza  e  resoluçSo  a  todas  as  incursões,  que  os 
castelhanos  intentassem  fazer  por  aquella  pnrte,  rebatendo-os 
por  meio  de  emboscadas,  de  ataques  e  defensas  nos  passos 
estreitos,  e  passagens  de  rios  ;  de  incursões  no  paiz  ini- 
migo, e  por  todos  os  outros  modos  e  artiflcios,  com  que  se 
costuma  fazer  vantajosamente  uma  guerra  de  posto  e  de  chi- 
cana, para  s  qual  (em  um  paiz  de  sertão,  como  o  de  que  se 
trata)  são  os  paulistas  os  mais  fortes,  os  mais  destros,  os  mais 
infatigáveis  e  os  únicos  e  melhores  combatentes,  priocipal- 
menle  sendo  bem  conduzidos  e  bem  commandados ;  e  para 
que  além  do  referido  serviço  executasse  Vm.  tudo  o  mais 


Dictzedby  Google 


—  177  — 

qoa  lhe  kA  determinado  nos  ^  16.  26,  27,  28,  29,  SI ,  82, 
33  e  34  da  carta  dir^da  ao  goTarnador  e  capilio-geaeral  de 
S.  Paulo,  com  data  do  1*  de  Outubro  de  1771,  debaiio  do 
n,  S*. 

Não  só  pelas  sobreditas  cortas  e  paragraphos  lhe  foram  a 
Vm.  intimadas  as  positivas  ordens  de  Sua  Uagestade,  para 
logo  passar  ao  sitio  do  Yguelem;  immedialaoieDle  depois  (ja 
sua  chegada  a  S.  Paulo,  mas  estas  mesmas  ordens  lhe  foram 
muito  circumslanciadamente  repetidas  na  outra  carta  ins- 
truclÍTa  com  data  de  20  de  Novembro  de  1772,  dirigida  ao 
sobredito  governador,  e  que  eite  tnmbem  participou,  como 
devia  participar,  a  Vm. 

Carta  na  qual  depois  de  se  Iralar  desde  o  §1*  olé  o  §7* 
da  serra  do  Haracajú,  e  do  qae  Vm.  ollí  devia  praticar, 
continua  na  oilavb  regra  do  §  8*,  e  depois  d'e)ta  nos  §§  9, 
11,  12  e  13  na  maneira  seguinte: 

«  E  n'esla  intcltigencia  ordena  Sua  Magestade,  que  V.  S. 
depois  de  ter  conferido  com  José  Cuatodio  de  Sá  e  Faria  na 
fúrmfí  qiie  já  lhe  foi  determinado,  o  faça  partir  jwrn  o  Ygtta- 
ifint),  acompanhado  de  um  snflícienle  corpo  auxiliar  de 
paulistas,  que  oile  mesmo  escolher;  e  que  em  elli  chegando, 
faça  na  serra  do  Msracajú  os  exames  que  ficam  acima  indi- 
cados. » 

«  Que  examine  igualmente  o  estado  em  que  se  acba  a 
praça  dos  Prazeres,  assim  pelo  que  respeita  á  sua  fortifica- 
ção, como  ao  sitio  em  que  está  construída  ;  que  utilidade 
podeoQos  tirar  da  dilo  praça  no  mencionado  siiio.  e  se  será 
equivalente  á  despeza  quo  já  temos  feito  e  que  ainda  fsre- 
mos,  assim  com  a  sua  construcção,  como  com  b  tropa,  arti- 
Ibéria,  munições  e  petrechos  de  guerrj,  com  que  a  havemos 
de  guarnecer.  E  se  esta  fortaleza  nos  pdde  facilitar  a  com- 
municação  com  o  Paragcay  (pelos  rios  YpBDemin;,  Ypane- 
guassú  ou  outro  qualquer  que  desflgue  no  dito  Paraguay.  » 
TOMO  XXXI,  P.  I.  23 


Dictzedby  Google 


—  178  - 

«  Serú  miiis  ulil.  em  lugar  ds  meaoioDada  pnçt  Mbra  a 
rio  Ygaatemy,  de  dos  reconceotrar-aM  mais  para  a  parle  do 
Paraná,  e  fortiScaroM»  a  niargem  esquerda  deste  rio,  eua 
parte  livre  de  doenças,  cobríado  assim  inelbor  os  sertões  do 
Uty  e  Tibagy.  » 

«  Estas  «  outras  semelhanles  observações  são  iadispeii- 
savelmente  necessárias,  anles  que  entremos  no  empenho  de 
fortificar  um  sitio  distante  mais  de  duzentas  l^uas  da  capi- 
tania deS.  Paulo,  de  difficit  occesso  e  de  grande  despesa, 
sem  sabermos    a   utilidade  que  d'elle  nos  pôde  resultar.  » 

«  Os  exploradores  que  V.  S.  mandou  Aquellas  paragens 
Dão  tiabam  nem  podiam  ter  o  conbeciutento  necessário  para 
faierem  os  sobreditos  exames ;  e  por  este  motivo  é  que  José 
Custodio  foi  mandado  a  ellas.  » 

«Logo  que  o  mesico  José  Custodio  tiver  concluído  as 
suas  relações  sobre  cada  um  dos  objectos  acima  indicados,  as 
deve  V.  S.  sem  alguma  perda  de  tempo  remelier  a  esta  se- 
cretaria  d'Eslado  ;  e  sem  adiantar  nem  fazer  cousa  alguma 
sobre  a  serra,  ou  passo  do  Maracajá  [excepto  no  caso  de 
um  ataque  na  forma  acima  referida),  esperar  as  determina- 
Çõcs  de  Sua  Magestade  a  respeito  doeste  importante  e  deli- 
cado artigo.  » 

Estas  são  as  ordens  que  em  1771  e  em  1772  seremellé- 
ram  a  Vm.  e  ao  governador  e  capitáo-general  da  capitania  de 
S.  Paulo,  relativas  á  prompta  e  instantânea  partida  de  Vm. 
para  o  sítio  de  Yguatemj';  e  quando  Sua  Uagestade  esperava 
a  exactíssima  observância  das  ditas  ordens,  e  as  relações  do 
que  Vm.  tivesse  executado  no  referido  sítio,  em  virtude 
d'eUas,  appareceram  a'eáta  cdrte  successivos  avisos  d'essa 
capitania,  dos  quaes  consta  que  Vm.  não  só  não  tem  execu- 
tado até  o  presente  cousa  alguma  do  que  Ibe  foi  incumbida, 
mas  que,  lendo  cb^do  i  cidade  de  S.  Paulo  em  12  de  Ju- 


Dictzedby  Google 


-  *7ft  — 

Ibode  1772,  ainda  »  achava  na  masma  cidade  em  os  fias 
de  Dezembro  da  1773- 

Este  iaesperado  e  reprohensivel  comportamento,  e  os  sog- 
geridos  e  affeclados  e  temerários  pretextos,  com  qae  até  o 
prosenle  se  lem  ílludido  as  positivas  ordens  d'el- rei  nosso 
senhor,  lhe  manda  Sua  Magestade  estranhar  muito  severa- 
mente: devendo  Vm.  ler  entendido  que,  ainda  que  en 
lugar  dos  ditos  pretextos  assistissem  a  Vm.  as  mais  solidas 
razões,  nenhuma  o  poderia  escusar  da  indispensável  obri- 
gação de  partir  immed latamente  para  o  sitio  que  Sua  Hages- 
tade  lhe  destinou,  e  de  requerer  de  lá  o  que  tivesse  de 
representar. 

N'esta  inlelIígeDcia  é  o  mesmo  senhor  servido,  que  ímme* 
diatamente  depois  da  chegada  d'esta  carta  a  esM  capitania, 
parta  Vm.  sem  a  menor  perda  de  tempo  para  o  referido 
sítio  de  Yguatemy.  levando  na  sua  companhia  os  dois  alfe- 
res com  que  sabiu  do  Rio  de  Janeiro,  para  o  ajudarem,  e 
alguns  olGciaes  ou  pessoas  que  abi  se  acham,  e  que  tdm 
príncipios  da  geographia,  como  se  vè  das  cartas  lopographi- 
cas  que  o  governador  e  capilão-general  tem  remettido  a  esta 
cArte. 

Que  igualmente  leve  um  pequeno  corpo  de  paulistas  ser- 
tanejos escolhidos  por  Vm.,  e  de  nenhuma  sorte  tropa 
regolar,  que  Soa  Hagestade  tem  destinado  a  outro  servido, 
excepto  alguns  artilheiros  (jue  sirvam  para  ensinar  aos  ditos 
pbutistas  o  uso  e  pratica  da  artilheria- 

Que  com  este  pequeno  corpo  emfim  junto  aos  destacamen- 
tos que  por  differenies  vezes  se  tém  mandado  áquella  fron- 
teira, e  com  cento  e  tantos  homens  de  armas,  que  ultima- 
roenle  passaram  a  ella  commandados  pelo  capitão  Jos4  Gomes 
de  Goovéa,  paulista  desembaraçado  e  inlelligente,  como 
refere  o  governador  e  capitão-general ,  execute  Vm.  as 
ordens  de  Sua  Hagestade  na  forma   que  acima   lhe  vio 


Dictzedby  Google 


—  180  — 

b-anscríptas,  sena  accrescenUr,  dimíauir  ou  nlterar  cousa 
alguma  d'el1ns;  emquaalo  o  mesmo  senhor  á  visla  das  rela- 
ções e  mappas  que  Vm.  deve  remetter,  na  conformidade 
dos  mesmas  ordeus,  não  determinar  o  que  lhe  parecer  mais 
coDieDÍenle  ao  seu  real  serviço. 

Escuso  de  <líier  a  Vm.  que  um  dos  objeclos  mais  im- 
portanie,  e  que  mais  pôde  contribuir  fiara  a  defensa,  e  se- 
gurança dos  domínios  de  Sua  Mageslade,  que  Vm.  vai 
commandar,  é  o  de  procurar  espias  seguras  no  {míz  inimigo, 
e  que  os  parochos,  curas  e  frades  castelhanos,  sempre  forim 
os  mais  aptos,  e  os  mais  promplos  para  o  exercício  doeste 
ministério,  logo  quo  sentem  algumn  conveniência.  E  n'esta 
intelligencia  deve  Vm.  fazer  as  possíveis  diligencias  por 
conseguir  esta  grande  vantagem  ;  ua  certeza  de  que  se  lhe 
abonará  qualquer  despeza,  que  Ihefór  preciso  fazer  com  ella. 

Deus  guarde  a  Vm. — Palácio  de  Nossa  Senhora  d'Ajuda, 
em  21  de  \bril  de  1774. — Martinho  de  Mello  e  Castro. 

COPIA .  —  Carta  régia,  qu»  contém  o  pltno  poder  e  ampla 
faculdade  para  o  Illm.  e  Exm  Sr.  marquez  do  Lavradio 
repellir  e  propulsar  no  seu  próprio  nome  Ioda»  as  vÍo- 
Ifficias  do  goiemador  de  Buenos-Àyret,  e  executar  tudo 
o  mait  fjue  lhe  vai  ordtnado  pelas  instrucções  expedidas 
r-  astignadas pelo  Illm.  eExm.  Sr.  marquei  de  Pombal. 
Duas  cartas  de  instrucções  ifue  contém  o  espirito  da  so- 
bredita carta  régia,  estabelecendo  lodo  o  syslema  da  exe- 
cução d'ella,  e  da  defesa  e  restauração  dos  dominios  do 
sul ;  e  approvando  tudo  o  que  até  agora  se  ttm  determi- 
nado. 

Cópia  n.  tS  —  Honrado  marque/  do  Lavradio,  vice-rei  e 
capiíao-general  do  mar  e  terra  do  Flslado  do  Brasil.— Amigo. 
Eu  el-rei  vos  envio  muito  saudar  como   aquelle  que  prezo. 


Dictzedby  Google 


-  181    - 

Teodo  esla  minha  carta  por  priacipal  assumpto  a  cunãrmatâo 
dai  seis  ioslrucçOes,  que  com  ella  serão,  e  que  no  mesmo  dia 
do  hoje  VG3  mandiíi  etpedir  pelo  marquez  de  Pombal,  do  mau 
conselho  <l'Cstado;  piraquu.  nlo  obslaDle  quaesquer  luis, 
regimentos,  alvarás,  proviiões,  ou  ordoos  em  contrario,  sqam 
por  v6j  tio  eiactamenle  compridas,  citmo  se  fossem  pela  minha 
pmpría  mSo  assignadas,  en'ella3escr>plas  as  mais  exuberantes 
dausulas  ilerogatorias  du  todas  as  sobreditas  disposições.  E 
nio  permitlindo  já  a  iiiAxorave)  e  incorrigivel  obslinaçèo  do 
despotismo,  com  (]\i'i  o  ca  pila' «general  de  Buenos^Ayros,  per 
si  s  seus  oSiciíes  militares,  lem  ncuumulado  pela  sua  particu- 
lar e  pessoal  8ulorid.ide  altentados  á  atlenlados,  insultos  á 
insoltos,  e  usurpações  á  asurpaçães, dentro  dos  meus  incontes- 
iBTeis  (lominiiis  e  territórios  d'elles,  de  cuja  consenaçèo,  pro- 
teeçio  o  defesa  vos  lenho  encarregado  ;  que  ao  mesmo  tempo 
no  qual  elles,  gpaeral  hespsnhol  e  seus  officiaes,  oEfuadem 
com  táo  desmedida  e  insólita  liberdade,  se  acba  a  defesa  na- 
tural com  que  03  deveis  repelltr  ;  limitada  e  reetricta  a  pouco 
mais  que  protestos,  e  ouiros  actos  verbaes,  que  as  ultimas  ins- 
IrucçOes  dadas  pelos  sobreditos  em  trinta  do  Outubro  do  aono 
próximo  precedente  ao  capítío  D.  António  Gomes ,  gover- 
nador dos  jiovoE  do  Uruguay,  fizeram  claramente  vér  que  niu 
slo  já  de  efleito  algum  :  me  pareceu  autorisar-Tos,  como  por 
ell.i  vos  BUtoriso,  com  todo  o  pleno  poder  e  com  todas  as 
amplas  faculdades  necessárias,  para  que  i  mesma  imitaçáu  do 
que  se  tem  praticado  com  o  vice-rei  da  Indis  Oiienlal  a  res- 
peito dos  régulos  confinsnles,  hajais  de  obrar  e  fazer  executar 
debaixo  do  vosso  próprio  nome  tudo  o  que  julgareis  que  ó  con- 
veniente para  repeliires  a  força  contra  os  insultos  com  que  os 
referidos  general  de  Boenos-Ayres  e  seus  officíaes  têm  rom- 
pido a  paz  e  usurpado  os  meus  domínios  do  sul ;  itó  que,  na 
conformidade  dos  artigos  vinte  e  ume  vinte  e  três  do  tratado 
da  paz,  celebrado  em  Pjrix  a  dez  de  Fevereiro  de  mil  setecvntos 


Dictzedby  Google 


—  182  — 

■  e  Ires;  «Mn  execuçiò  do  decreto  firnudo  em  nova  de 
Junho  do  mesmo  inno  por  eUrei  calbolico  meu  bom  irmSo  e 
cunhado ,  sejam  os  meus  dilos  doraiaios  repostos  no  mesmo 
esUdo  em  que  se  achavam  antes  das  hostilidades  que  n'elles 
cummetlaram  (u  haspanbóes  com  a  occasiAn  da  ultima  guerra, 
qie  osssoa  pelo  sobredito  tratado  o  consequente  decreto  que 
a  elle  se  seguiu.  E  nSo  cabendo,  nem  na  credulidade,  que  da 
religífto  da  carte  de  Madrid  pudessem  sahir  ordens  que  des- 
sem motivos  aos  bárbaros  insultos  e  aleivosas  usurpações  dos 
sobreditos  general  de  Buenos-Ayreseseus  officiaes  ;  nem  no 
decoro  do  meu  caracler  r^o,  que  no  meu  real  nome  se  con- 
tenda com  uns  meros  particulares,  quaes  sèo  todos  os  sobredi- 
tos ;  ao  mesmo  tempo  em  que  o  preito  e  homenagem  que 
jurasleis  nas  minhas  reaes  mios,  e  a  indispensável  necbssidade 
na  natural  defesa,  sáo  títulos  bastantes  para  legitimareâ  todos 
oa  factos  concernentes  á  conservação  dos  teirtlorios,  e  á  paz 
publica  dos  vassallos  d'elles,  que  oonRei  ao  vosso  governo  a 
prolecçfto.  Farei  expedir,  debaixo  do  vosso  mesmo  nome, 
todas  as  ordens  que  necessárias  forem  para  os  ditos  efteitos  em 
todas  as  ocoasiões  em  que  (orem  precisas :  confiando  esta 
somente  ao  governador  àn  S.  Paulo,  ao  tenenle-goneral  Joíio 
Henrique  de  Buhm,  e  aos  márechaes  de  campo,  com  a  ordem 
de  a  conservarem  no  mesmo  inviolável  segredo  com  que  a  de- 
veis gaardar  DO  vosso  gabinete. 

Escripta  do  palácio  de  Nossa  Senhora  d' Ajuda,  em  nove  de 
Julho  de  mil  setecentos  setenta  e  quatro.  —  REI. —  Para  o 
honrwlo  marquei  do  Lavradio. 

Cópia  n.  19. — Bonrado  marqucz  do  Lavradio,  vice-rei  e 
ca|HtÍo-general  de  mar  e  terra  do  Estado  do  Brasil. — Amigo. 
Eu  el-rei  vos  envio  muito  saudar  como  aquelte  qud  prezo. 
Para  consolidar  o  plano  militar  que  mandei  juntar  d»  vossas  ' 
instrnccões  debaixo  do  numero  1°,  fiz  expedir  por  uma  parle 
a»  capitão  de  mar  o  guerra  Guilherme  Mack  Duel  a  provisão 


Dictzedby  Google 


cajá  oApia  ír<  n'e9U  carta  inctasa,  qae  contém  a  oomminio 
que  lhe  oonferi  de  commBndante  e  chefe  da  esquatlra,  qae 
vai  descrípta  na  quarta  parle  do  sobredito  plano,  E  fiz  expe- 
dir pela  outra  parle  as  DomeaçÕes  dos  novos  cepities-teneati» 
e  officiaei  declarados  nos  decretos  cujas  cópias  vos  serAo  tam* 
bem  coio  esta  remeltidis ;  para  lerem  nhi,  como  ordeno 
que  lenham,  ioda  a  soa  devida  exeeuçXo  ,  que  lhes  farei 
dar,  como  se  os  sobreditos  nomeados  apresentassem  as  paten- 
tes por  mim  assignadas,  qae  agora  nfio  achei  conveniente  que 
elles  extrabissem,  mas  sim  que  alé  seganda  ordem  minha 
ficassem  no  segredo  deste  gabinete  os  sobreditos  decretos,  de 
qoe  ellas  deviam  omsnar.  O  referid»  chefe  de  esquadra  len 
aqui  mostrado  eoostanlemente  ser  muito  babil,  muito  zeloso  do 
meu  real  serTiiGO,  muito  próprio  para  crear  escellentes  offieiaes 
de  marinha.  Tem  bastantes  experieDcia;  adquiridas  nas  ulti- 
mas guerras  de  Inglaterra  cora  Hespanha  e  França. 

Aoor«sce  conheça-  .bem  os  préstimos  e  os  merecimantos  de 
todos  e  cada  ura  doa  officiaes  da  marinha,  .que  podem  ser 
mais  idóneos  para  d'elles  se  conKarem  os  primeiros,  segundos 
e  terceiros  postos  das  náos  e  fragatas  da  sobredita  esqua- 
dra. Sobre  esta  certeza  confiando  ao  mesmo  ebefe  de  esquadra 
todos  os  objectos  do  armamento  d'ella  ;  conferindo  com  elle 
secrelissimamenle  as  nomeações  d'aqueUes  dos  referidos  offi' 
ctaes  que  se  devem  destinar  para  todas,  e  cada  uma  das 
níos  e  fragatas  da  sobredita  esquadra  ;  obrando  coro  o  dito 
chefe  d'ella  (com  o  mesmo  iopeoetravel  segredo)  da  uniforme 
accordo  ;  e  fazendo  ahi  publicar  os  sobreditos  decretos,  e  pro- 
moções n'elles  conteúdas.  Logo  que  receberdes  esta  passareis 
t  nomear  opportuna monte  os  capitães  de  mar  e  gotirre,  capi- 
ties-leaentes  e  olliciaes  que  forem  destinados  para  cada  oéo, 
ou  fragata  :  nomeações  que  devereis  fazer  em  portarias  vossas, 
que  principiem  dizendo : 

«  Que,  porquanto  ea  em  carta  régia  da  data  d'eata  vos  coo- 


Dictzedby  Google 


—  184  — 

o»di  (oomoafledtifioieotocoDcedo)  htdas  u  ficuldades  necesu- 
rias  para  que,  tíé  segunda  ordem  rainha,  cessando  as  commis- 
s6es  que  Leiaretn  d'eglA  c6rta  os  capíties  de  mar  e  guerra  que 
ultimamente  !iahiramd'«ste  porto,  logo  que  a  esse  chegassem,  e 
formando  dis  respecli?aB  nim  o  fragatas  por  elles  commanda- 
das  e  guarnecidas  uma  esqnndra  naval,  de  que  fosse  com- 
mandante  geral  e  chefe  Guilherme  MacL  Duel,  encarregueis 
de  governar  e  guarnecer  lodos,  it  cada  um  dos  navios  d'e)ld 
os  cspláes  de  mar  e  guerra,  capitâtís-lenentes  e  officiaes  que 
achásseis  mais  próprios  ao  tempo  em  que  ella  se  formar : 
haveis  por  serviço  meu  nomear  para  capitão  de  mareguerra 
da  náoN.  a  N,,  para  segundo  cspilfio  de  mar  e  guerra  a  N.  N: 
para  capities-lenentes  a  N.  N.  ;  para  tenentes  a  N.  N. :  para 
sargentos  de  mar  o  guerra  a  N.  N. ;  ele.  Ordenando  so  sobre' 
dito  chefe  de  esquadra  Guilherme  Msck  Duel,  que  por  taos 
reconheço  os  ofiRcíaes  que  Curem  por  vós  nomeados  na  sobre- 
dita fóraiB.  E  continuando  era  fazer  as  referidas  nomeações  dos 
postos  que  succeder  vagarem  até  cessarem  as  necessidades  da 
guerra,  que  n'essa  parte  nos  lâm  declarado  os  castelhanos  com 
os  factos,  ao  mesmo  tempo  em  que  Apregoam  pazes  com  os  seus 
escriplos.  O  que  tudo  assim  observareis,  e  fareis  exerular  nflo 
obstante  quaesqaer  leis,  regimentos,  alvarás,  resoluções  ou 
ordens,  que  sejam  em  contrario.  * 

«  Escripla  no  palácio  de  Nossa  Senhora  d' Ajuda  em  nove 
de  Julho  de  mil  setecentos  e  setenta  e  quatro. —  REI —  Para  o 
honrado  raarquez  do  Lavradio,  n 

Cópia  n.  20.— lllm.  e  Exm.  Sr.— 1.  Depois  dos  últimos 
despachos,  que  pelo  expediente  do  Sr.  Martinho  de  Mello 
e  Cflstro  se  dirigiram  a  V.  V.x.,  a  do  que  a  elles  nccres- 
centei  na  minha  carta  familiar  do  dia  próximo  seguinte  3â 
de  Abril  d'6ste  presente  anno,  tem  occorrido  uma  notável 
mudança  no  estado  das  cousas. 

2.— Por  informações  hnvid.is  do  Portodo  Ferrol  soube- 


Dictzedby  Google 


—  185  — 

mos  que  n'eile  se  armava  a  expedição  de  navios  e  tropas, 
qae  V.  Ex,  verá  pela  Primeira  Parte  do  papel  inUtulado — 
Plano  m^lar  da  guerra  defensiva,  com  que  devemos  re- 
ptUir  a  alevoosa  invasão  que  os  castelhanos  vão  fazer  em 
toda  a  parte  do  sul  do  Brasil  por  elles  já  aleivosammío  oo- 
eupada. 

3. — A  noticia  que  o  governador  de  Buenos-Ayres  tinha 
doeste  armamente ,  se  vè  agora  que  por  uma  parte  foi  a  que 
o  animou  a  ajuntar  todas  as  forças,  com  que  ullimamente 
atacoo  03  rios  Pardo  e  de  S.  Pedro,  pnra  prevenir  vanglo- 
riosamente  com  os  seus  imaginados  progressos  a  dila  expe- 
dição, contando  sobre  a  desigualdade  das  nossas  forças 
n'aqueUas  fronteiras.  E  se  v6  pela  outra  parle,  que  tam- 
bém foi  o  aleivoso  motivo  com  que  depois  se  retirou  tão 
cortezmente  a  ganhar  o  tempo  necessário,  para  chegar  a 
dita  eipedição,  e  para  vir  oulra  vez  atacar-nos  com  força» 
superiores. 

4.  Sendo-me  participada  a  informação  do  referido  ar- 
mamento do  Ferrol  por  Roberto  Watpole,  enviado  extraor- 
dinário e  plenipotenciário  de  S.  M.  Britaonica  n'esta  cfirte, 
antes  de  tudo,  tratei  logojmmediatamenie  de  o  instruir, 
pelo  que  pertencia  a  desmascarar  as  iniquidades  hespa- 
nholas,  com  os  dois  papeis  que  já  foram  presentes  a  V.  Ex., 
um  d' elles  intilolado  — Desmomíroíion  du  Pays  apparte- 
nant  à  ta  couroriTte  de  Portugal,  qui  fait  le  bornage  mé- 
riiiawxl  du  Brésil  par  le  cote  du,  sud;  et  des  engagemenís 
que  garantissent  k  dit  bornage  à  la  même  couronne.— 
Outro  intitulado — Deducção,  em  qite  se  demonstram  os  no- 
tórios objectos  das  perniciosas  transgressões  do  lUlimo 
tratado,  com  que  a  corte  de  Madrid  se  acha  levantada  com 
o  Rio  da  Prata  e  com  toda  a  parte  do  sul  do  Estado  do 
Brasil. 

5.  Assim  âz  comprehender  cabalmente  ao  dito  ministro 

TOMO  XXXI,  P.  I.  34 


;dby  Google 


—  186  — 

brltaaioo  o  clarissímo  direito  de  Sua  Magesiade  em  toda  a 
parte  meridioDal  do  Brasil  ató  coaduar  com  o  Rio  da  Prata. 
£  passei  siiccessiYameate  a  commaaicar-lbe,  e  ccoferir 
com  elle  o  Compendio,  que  acompanliará  ests,  debaixo  do 
N.  II,  a  do  titulo  —  Préois  d«a  iraultes  commiaet  par  Us 
etpagnolí  dam  le  md  du  Bréail,  et  demiènment  por  lot 
faits  contemu  dam  ks  deux  letlres,  que  Pon  vient  de  réce- 
voir  de  Mr.  le  marguia  de  Lavradio  daítéeí  du  22"  et  28"* 
Fevrier  de  ceile  annie  de  1774  par  une  fragate  de  guerre 
et  par  un  vaiíseau  marchani,  arrivét  ky*  dece  móis  de 
Juin  du  Rio  de  Janeiro. 

6. — Sobre  todas  estas  prévias  noções  e  demonstrações, 
dirigi  ao  mesmo  ministro  britannicono  dia  de  sabbado  18 
de  Junho  a  significante  carta  de  officio  que  vai  compillada 
debaixo  do  n.  III.  A  qual  elle  fez  logo  passar  á  sua  corte 
com  os  três  papeis  que  a  acompanharam  pelo  paquet-bool 
que  partiu  no  dia  de  domingo  próximo  seguinte,  que  se 
contaram  19  do  referido  mez. 

7.— Se  pôde  haver  certeza  nos  juízos  que  se  formam  a 
respeito  dos  negócios  d'Eslado  (depois  de  haverem  mos- 
trado tantas  experiências  que  nos  maiores  d'elles  padecem 
grandes  embaraços  os  mais  consideráveis  interesses  públi- 
cos, pelos  incomprebensiveís  encoutros  de  pequenas  utili- 
dades particulares),  muito  podemos  esperar  da  cArte  de 
Londres  em  efTeito  do  referido  offlcio. 

8.— Primeiramente  :  porque  nenhum  ministro  do  gabt> 
uete  britânico  poderá  vér  formar  uma  marinha  franceza, 
ou  castelhana,  da  quai  hajam  de  sabir  expedições,  como 
a  de  qae  agora  se  trata,  sem  a  elU  se  oppõr  até  a  destruir 
com  a  desmedida  supwioridade  das  forças  navaes  da  GrS- 
Bretanha,  a  menos  que  se  não  queira  expor  olé  saltar  a 
cabeça  fora  dos  hombros  sobre  um  cadafalso. 

9.— Em  segundo  lugar;  porque  ho pouco  vimos  no  anno 


Dictzedby  Google 


-  187  — 

proxÍDKi  preeedenia :  por  uma  parte,  que,  logo  qae  França 
preparou  no  porto  de  Toulon  uma  esquadra  para  sahir 
d*elle  ao  mar  mediterrâneo,  fazendo  Inglateira  immedia- 
•lamenle  atmar  um  dobrado  numero  de  náos  de  linha  e 
de  fragatas  de  guerra,  obrigou  a  mesma  França  a  desarmar 
logo  por  força  as  suas  com  uma  publica  retraclaçáo  e  in- 
decência :  e  vimos  pela  outra  parte  succeder  o  mesmo 
identicamente  a  Castella,  a  respeito  da  sua  ruidosa  expe- 
dição marítima  preparada  com  o  declarado  objecto  de  ir 
sustentar  o  arrogante  e  soberbo  atlentado,  que  tinha  com- 
metlido  contra  uns  poucos  e  desarmados  ingleses  nas  Ilhas 
SfalTÍnas, 

10.— Em  terceiro  e  ultimo  lugar:  porque  os  referidos 
estimulos,  que  picam  na  parle  mais  seosive)  á  altivez  de  uma 
nação  dominante,  como  6  a  britanniça,  que  ha  tantos  annos 
senhoréa  os  mares,  se  uniram  os  outros  motivos  de  inte- 
resse e  de  cubica,  que  lhe  demonstrei  no  papel  acima  in- 
dicado, e  inlitulado — Depleção,  em  que  se  demonstram  os 
notórios  objectos  das  perniciosas  truTisgressões  do  ulivtno 
tratado,  com  que  a  c6rte  tle  Madrid  se  acha  levantada  com 
o  Rio  da  Prata,  e  com  toda  a  parte  do  sul  do  Estado,  do 
Brasil. 

li. — Motivos,  digo,  tão  fortes  e  pungentes,  que  consis- 
tem na  data  demonstração  de  que,  se  Hespanba  uma  vez 
chiasse  a  fechar-nos  o  Rio  da  Prata,  e  a  usurpar  e  pos- 
suir toda  a  costa  e  sertões  meridionaes  do  Brasil ,  nem  os 
inglezes  poderiam  mais  navegar  para  o  mar  do  sul,  nem 
poderiam  conservar  as  grandes  utilidades  que  lhes  resultam 
do  commercío,  que  por  este  reino  fazem  com  o  mesmo 
Brasil ;  utilidades  que  se  estendem  a  lodo  o  poderosíssimo 
corpo  dos  negociantes  e  mercadores  da  bolsa  de  Londres ; 
os  quaes  em  tal  caso  amotinariam  todos  os  povos  de  Ingla- 
terra a  pedir  justiça  contra  o  ministério,   que  pelos  seua 


D,:„l,;cdtv  Google 


-  188  — 

particulares  ialerestes  deixasse  arruinar  aquellas  suas  g^aa- 
des  utilidades  publicas,  e  communs  a  todos  os  ditos  oego- 
ciautei  e  mercadores,  e  a  cada  um  d'elles  do  seu  particular. 
.  13. — Sobre  todos  os  ditos  Ires  fundamentos  se  estabele- 
ceu prudentemente  uma  provável  esperança,  de  que  a  cdrte 
de  Loodres  ba  de  constituir  a  de  Madrid  entre  duas  extre- 
midades taes,  como  seião :  uma  suspender,  e  fazer  des- 
apparelhar  os  navios  da  sobredita  expedição,  que  arma  no 
FeiTol ;  outra  obstinar-se  a  mesma  corte  de  Madrid  com 
o  espirito  de  inflexibilidade  e  altivez  que  n^ella  domina ; 
e  com  a  enganosa  vaidade  com  que  a  lisongeam  ;  fazendo- 
Ihe  crer  que  as  suas  forças  navaes  se  acbam  já  formidáveis 
A  mesma  Inglaterra  ;  para  insistir  em  fazer  sabir  ao  mar 
uma  grande  armada  castelhana,  chamando-lhe  Invencível, 
como  a  que  el-rei  D.  Filippe  II  mandou  perecer  com  a 
mesma  denominação  nas  costas  de  Inglaterra. 

13. — No  primeiro  dos  ditos  dois  casos  teremos  o  que  nos 
basta  para  destruirmos  os  nossos  pérfidos  inimigos.  Por- 
que,  sendo  os  navios  do  Ferrol  fechados  pelos  ingtezes 
n'aqueUe  porto,  e  não  podendo  por  isso  mandar  ao  Rio 
da  Prata  mais  do  que  alguns  furtivos  destacamentos,  ó 
cousa  evidente  que  com  as  forças  e  meios  que  el-reí  meu 
senhor  mandou  estabelecer  na  segunda  parte  do  dilo  papel 
marcado  com  o  n.  I ,  e  intitulado  —  Plano  militar  da 
guerra  defensiva,  ete. ,  haverá  muito  com  que  arruinar  as 
forças  e  medrosas  tropas  castelhanas,  que  estão  usurpando 
esses  domínios  de  Sua  Magestade,  e  com  que  as  proseguir 
e  rechassar  até  serem  obrigadas  a  passar  o  Bio  da  Prata 
para  a  parte  do  sul. 

li. — No  segundo  dos  referidos  casos  podemos  esperar, 
que  d'eUes  se  nos  sigam  as  maiores  vantagens ;  de  vermos 
inteiramente  derrotada  e  destruída  a  marinha  castelhana; 
de  vermos  toda  a  vangloriosa  arrogância  d'aquella  nação 


DictzedbyGaOgle 


precipitada  no  desaleoto  e  ao  abatimento,  a  que  a  costu- 
mam reduzir  quaesqner  adversidades ;  de  restaurarmos 
d'essas  partes  o  que  é  nosso  mais  desassombradamente  ao 
favor  de  uma  tão  vigorosa  diversão ;  e  de  nos  acharmos  no 
fim  da  guerra,  senhores  da  margem  septentrional  do  Rio 
da  Praia,  e  fortificados  aa  coloaia  Monte-Video  e  Maldo- 
nado, com  boas  guarnições  de  tropas  e  navios  nas  referi- 
das praças  eporlos  d^ellas ;  de  sorte  que  em  muitos  annos 
não  passe  pelo  pensamealo  aos  governadores  de  Buenos- 
Ajrres  virem  inquietar-nos  com  impotentes  jalbos  e  desoo- 
medidas  ameaças. 

Guerra,  digo,  a  qual  no  caso  de  passar  do  Brasil  a  Por- 
togai  Dão  nos  Irará  cousa  alguma  de  novo,  que  dos  cause 
cuidados,  porque  nos  não  acbará  no  estado,  em  que  no 
anno  de  1762  nos  víti  a  cArte  de  Madrid  para  nos  atacar 
Ião  confiadamente,  quando  entendeu  que  nos  achava  in- 
defesos. 

15. — Havendo  comtudo  ponderado  a  consummada  e  in- 
comparável prudência  de  Sua  Magestade  sobre  tudo  o  que 
deixo  eiposlo:  por  uma  parte,  que  o  evento  de  ambos  os 
casos  acima  referidos  depende  do  ponto  essencial  o  único, 
de  tomar  ou  não  tomar  a  corte  de  Londres  prompta  e  op- 
portunamente  as  justas  resoluções  que  d'ella  se  esperam; 
ou  para  conter  a  sobredita  expedição  castelhana,  ou  para 
des(ruil-a,  se  ella  se  obstinar:  por  outra  parte  que  não 
permittirja  a  mesma  prudência,  que  se  deixasse  entregue 
á  dependência  de  futuros  contingentes  um  negocio,  que 
envolve  em  si,  com  o  decoro,  com  a  alta  reputação  e  com 
a  gloria  do  augusto  nome  do  dito  senhor,  o  mais  impor- 
tante e  ponderoso  interesse  que  hoje  tem  a  sua  real 
coroa.  Tomou  Sua  Magoslade  a  resolução  de  se  precaver 
para  todo  e  qualquer  acontecimento  que  o  tempo  futuro  ibe 
venha  apresentar. 


;dby  Google 


—  190  — 

16. — Isloé:  servindo-se  das  suas  próprias  forças,  que 
sempre  erJo  cartas  e  seguras ;  reduzindo-se  a  esperars  s6- 
menle  dos  seus  Seis  e  valorosos  vassailos.  que  dentro  nos 
limites  dos  suas  reaes  ordens  façam  das  mesmas  forças 
todo  aquelle  bom  uso,  que  as  circumstancias  do  tempo  e 
as  conjuncturas  d^elle  puderem  permiltir-lhes ;  pondo  toda 
a  sus  r^ia  confiança  na  prudência,  actividade,  zelo  e 
acerto  com  que  V.  Ex.  conduziu  até  agora  o  mesmo  gra- 
víssimo negocio ;  tendo  por  certo  que  V.  Ex.  o  proseguirá 
alé  Ibe  pdr  o  fim  mais  glorioso  para  as  armas  da  sua  dita 
Magestade,  roais  interessante  para  a  sua  coroa,  o  mais  utit 
para  todos  os  vassallos  d'eUa :  e  mandando  com  estes 
objectos  participar  8  V.  Ex.  secretíssimamente  as  iostmc- 
ç6es  sc^iutes : 

PRIMEIRA   IHSmUCÇXO 

17.— Considerou  el-reimeu  senbor,  que,  sendo  o  di- 
nheiro destinado  ao  pagamento  e  sustentação  das  tropas  a 
base  fundamental  de  toda  a  guerra  :  o  sendo  sempre  entre 
duas  potencias  beiiigeraotes  a  vencedora  aquella,  que  pôde 
sustentar  a  campanha  por  mais  tempo,  assistida  dos  meios 
necessários  para  manter  e  pagar  o  seu  exercito ;  era  preciso 
que  a  subsistência  do  que  devemos  oppõr  aos  nossos  ini- 
migos fizesse  o  primeiro  objecto  da  real  allenção  de  Snu 
Magestade.  E  mandou  expedir  á  junta  da  fazenda  d'essa 
capital  do  Rio  de  Janeiro  as  secretíssimas  ordens,  que 
acompanharam  esta:  para  se  remelter  aos  cofres  do  seu 
eierrito  do  Rio-Grande  de  S.  Pedro  e  do  Rio  Pardo,  e  para 
d^elle  se  appiicarem  ás  despezas  do  mesmo  exercito,  a 
saber: 

Os  taes,  ou  quaes  rendimentos  da  provedoria  da  fazenda 
de  S.  Paulo,  sem  excepção  alguma. 


Dictzedby  Google 


—  »1  — 

IteiQ,  as  rendas  da  administriçÃo  d'essa  junta  da  fazenda 
do  Rio  da  Jaaeiro,  com  tudo  o  que  por  ella  se  arrecada, 
sem  oatra  excepção  que  não  seja  a  dos  quintos  das  Hinas- 
Geraes  e  de  Goyaz,  que  t£m  applicações  iadispeassieis 
n^esta  cdrte. 

Item,  o  subsidio  voluntário,  que  se  costuma  remetter 
para  a  reedificação  da  cidade  de  Lisboa,  como  já  tinba 
aTÍsodo  a  y.  Ez. 

Item,  o  outro  subsidio  lilterario  ultimamente  estabele- 
cido ;  em  ludo  o  que  exceder  o  pagamento  dos  mestres, 
que  estiverem  actualmente  ensinando,  e  os  rendimentos 
dos  bens  confiscados. 

Item,  os  productos  das  rendas  reaes  de  Angola,  que  da 
cidade  de  S.  Paulo  da  Assumpção  se  costumam  remetter  a 
essa  do  Rio  de  Janeiro,  e  as  da  Bahia  e  Pernambuco. 

Item,  as  importâncias  dos  soldos  e  munições  dos  dois 
regimentos,  que.  hão  de  ser  transportados  da  Bahia  ;  indo 
agora  ordenado  ajunta  da  fazenda  d'aqueUa  cidade,  que 
faça  passar  a  essa  em  quartéis  adiantados  os  sobreditos 
vencimentos,  que  n'ella  hão  de  cessar  pelo  transporte  dos 
ditos  regimenlos. 

Item,  duzentos  mil  cruzados  com  pouca  dilferença,  que 
ua  mesma  cidade  da  Babia  sabemos  que  estão  recolbidos 
nos  cofres  da  fazenda  real. 

Item,  oalros  duzentos  mil  cruzados  com  que  Sua  Mages- 
tade  manda  lambem  agora  que  a  mesma  junta  da  Bahia 
soccorra  anoualmeute  essa  dtf  Rio  de  Janeiro,  emquanto 
durarem  as  hostilidades  dos  castelhanos,  e  se  não  retirar  o 
exercito  com  que  o  dito  senhor  os  m&nda  rechassar. 

18.— Rendimentos  e  subsídios,  os  quaes  considerou  Sua 
Hageslade  que  serão  competentes  para  se  manter  o  refe- 
rido exercito,  não  só  na  guerra  defensiva  que  agora  se 


Dictzedby  Google 


—  1»  — 

apresenta,  mes  também  no  caso  em  que  esta  venha  a  serof- 
fensiva  nas  suas  consequências. 

19.~Pois  que :  por  uma  parle  se  não  (az  nos  países,  que 
hlo  âe  ser  o  Iheatro  da  referida  guerra,  despeza  alguma  com 
as  forragens  ds  cavallaria,  que  na  Europa  são  de  Ião  dispen- 
diosa importância  ;  o  pela  oulra  parte  devemos  contender 
eom  tropas  eastelbanas  Ifto  deslítuidas  de  meios  para  se 
sustentarem  na  campanha,  que  n'este  gabinete  se  viu  em 
cartas  escriptasácdr  te  de  Madrid  pelo  seo  general  i>.  Jo- 
teph  Andonaigui :  Que  em  Buenot'Ayrea  a  Corrimtes  não 
havia  dinheiro  aigum  com  que  se  pagassem  t  veslwem  as 
ir&pas  :  que  ifío  provinha  de  irem  todas  as  rendas  reaes  do 
Peru  6  do  Chile  nos  cofres  da  fazenda  de  el-rei  catholico 
em  via  recta  dos  portot  d'aquelles  duis  dominios  remetlidas 
a  Cadix  :  que  por  isso  as  Iropoi  porluguezas  commandadas 
por  Gomes  Freire  de  Andrada  se  achavam  brilhantes,  e  as 
d'eUe  (Andonaigui)  descalças  e  despidas :  e  que  d'aqiii  vinha 
a  $eguir'se  a  facilidade  com  que  desertavam,  fugindo  das 
injurias  do  tempo  edo  grande  pejo,  a  que  se  viam  sem  rems- 
dio  expostas. 

20. — E'  muito  verosimil  que  agora  succederá  o  mesmo; 
assim  porque  aquella  nação  em  nada  se  costuma  adiantar, 
para  emendar  em  uma  vez  o  que  errou  na  outra ;  e  não  só 
porque  se  acha  habituada  ao  natural  desmazelo  com  que 
procura  todos  os  tins  a  que  a  dirige  uma  insaciável  cubica, 
sem  a  prudência  de  applicar  a  elles  os  competentes  meios  . 
mas  também  porque  é  (ai  e  tão  devassa  a  cubiçosa  preva- 
ricação dos  seus  ol&ciaes  da  fazenda  e  guerra,  que  quaes- 
quer  sommas  que  se  lhes  remctterem  para  os  pagamentos 
e  munições  das  tropas  serão  por  elles  absorvidas  ;  de  sorte 
que  pouco  ou  nada  chegue  aos  soldados ;  como  bem  o  fez 
aqui  na  guerra  do  anno  de  1762  a  enormíssima  deserção 
das  tropas  castelhanas  com  aquellasiu  juriusas  causas. 


D,:„l,;cdtv  Google 


SEGUnDA   INSTRUCÇXO 

21. — Ainda  que  Sua  Hagestade  conhece,  que  na  honra  e 
fidelidade  dos  seus  officiaes  de  guerra  e  fazenda  se  não  po- 
deriam nunca  receíar  as  sobreditas  prevaricações  castelha- 
nas; lembrando-se  comtudo  de  que  as  confusfies  e  desor- 
dens, com  que  os  sessenta  annos  de  sujeição  em  que  esti- 
vemos ao  governo  hespanbol  infeccionaram  todas  as  repap* 
tições  da  fazenda  real,  e  de  que  nem  ainda  no  continente 
d*este  reino  se  puderam  inteiramente  extirpar  até  agora ; 
vendo  as  grandes  utilidades  que  ás  suas  rendas  reaes  e  ás  suas 
tropas  se  lâm  seguido  quotidianamente  dos  novos  methodos, 
estabelecidos  pelo  mesmo  senhor,  assim  para  a  arreca- 
dação da  sua  fazenda,  como  para  o  pagamento  dos  soldos, 
fardamentos,  fornecimentos  de  munições  e  forragens  do  sen 
exercito  d'este  reino  ;  querendo  que  o  que  se  vai  formar  no 
Rio-Gradde  de  S.  Pedro  e  campanhas  a  elle  adjacentes, 
gozando  dos  mesmos  beneficios ;  constitua  na  regularidade 
do  methodo,  que  se  pratica  n'este  reino,  uma  força  intrín- 
seca que  per  si  somente  seja  capaz  de  destruir  o  referido 
desmazelo  hespanbol,  e  as  prevaricações  que  elle  traz  com- 
sigo ;  o  tomando  por  exemplo  o  mesmo  que  se  está  aqui 
praticando  aos  ditos  respeitos :  manda  estabelecer  n^aquella 
parte  uma  junta  de  fazenda,  para  administrar  e  regalar,  na 
mesma  forma  que  se  está  aqui  observando,  os  pagamentos 
dos  soldos,  os  fornecimentos  e  tudo  o  mais  pertencente  á 
gCODomia  do  referido  exercito,  com  subordinação  somente  a 
essa  jimla  da  real  fazenda  do  Bio  de  Janeiro,  a  que  V.  Ex. 
preside. 

22. — Para  escrivão  e  principal  director  d'eUa  passa  da 
Bahia  a  essa  cidade  ohabil,  zeloso  e  experimentado  Sebas- 
tião Francisco  Beltamio,  mandado  agora  por  tresanooscom 
os  pretextos  de  ir  fundar  a  junta  da  fazenda  da  capitania  de 

TOMO  XXII,  P.   I  25 


;dby  Google 


S.  Paulo;  e  derazerussârn^ellaosdistadtiosqueresaltaniD 
das  discórdias  eotre  D.  Luiz  Anlooio  de  Sousa  eoprovedor 
José  HoDOrio  de  Valtadsres.  Com  o  mesmo  pretexto  irão 
d^aqui  os  dois  ou  três  escripturaríos  babeis,  que  se  hão  de 
apresentar  a  T.  Ex.  com  esta  commissão ;  para  a  de  estabe- 
lecerem a  regularidade  do  pagamento  das  tropas  (debaixo 
da  direcção  da  referida  juota  de  3.  Paulo) :  v3o  mais  dois 
Gomm  issarios  dos  que  assistem  aos  thesoureiros  geraes  d*este 
exercito;  também  mandados  com  o  disfarce  de  que  vão  esta- 
belecer o  raetbodo  doeste  reiao  em  todas  as  tropas  d'esst>  Es- 
tado, DBS  quaes  até  agora  não  havia  podido  ser  estabelecido 
pelas  respectivas  provedorias  da  fazeoda  real. 

23.— Á  aníão  de  todas  as  referidas  juntas  de  fazetida 
d*esse  Estado  em  cansa  commum  com  essa  do  Rio  de  Ja- 
neiro, da  outra  união  dos  referidos  ofiSciaes  de  fazenda  e  de 
economia,  constituirão,  pois,  na  segunda  delias,  uma  corpo- 
ração acreditada  com  os  meios  necessários,  para  que  oscom- 
niandantes  do  exercito  do  Rio  de  S.  Pedro  possam  ordenar 
desassombradamente  as  operações  das  suas  tropas,  sem 
serem  distrabidos  pelos  cuidados  na  subsistência  d'ellas. . 

TERCEIRA  INSTRUCÇiLO 

24.— Rendo  os  génios,  ouescriptos  communs  dos  inimi- 
gos e  dos  nacionaes  aquelles,  que  devem  fazer  os  primei- 
ros objectos  da  atteoção  de  um  adfertido  general,  para 
sobre  o  conbecimento  d'elles  por  uma  parte  estabelecer  o 
provável  juizo  do  que  pede  temer  ou  esperar  ;  e  pela  outra 
parte  dirigir  as  suas  operações  milílarescom  toda  a  s^u- 
rança,  que  pôde  caber  na  variedade  das  contingências  da 
guerra :  bem  verá  V.  Ex.,  logo  que  fizer  esta  combinação,  a 
vantajosa  differença  que  está  da  parte  das  armas  de  el-rei 
meu  senhor. 


Dictzedby  Google 


SS. — Potaijae  peto  outro  papel,  qae  também  acompa- 
ufaaré  esta  cartay  marcado  com  o  n.  IV,  e  ÍDlitulado— Com- 
pendio  histórico  do»  faeíoi  político*  e  Mçõe$  militarea,  com 
que  os  cattdhanos  manifestaram  o  seu  caracUrnas  negocia- 
ções e  nas  guerras  com  Portugal  ri^estes  uUimos  tempos,  ou 
iesdéoannodeílSOaté  o  fim  áoproKÍmo passado  dê  1773; 
e  pelo  que  ji  deixo  acima  ponderado  nos  g  §  19  e  30  doesta 
carto,  verá  lambem  V.  Ei.  com  igual  clareza  :  quanto  aos 
eastelhanos,  que  dbo  ha  inimigos  que  sejam,  oem  maísarro- 
gaotos,  ferozes  e  cruéis,  nem  menos  formidáveis;  porque  em 
se  Ibos  desconcertando  a  imaginação  escaldada,  que  sempre 
os  iaflamma,  fazendo-lbes  representar  quo  serAo  invenciveis, 
logo  d'eUa  mesma  se  precipitam  no  mais  vil  e  abatido  desa- 
lento. E  quanto  aos  porluguezes :  queem  nenbum  exercito 
bouTO,  nem  officiaes,  nem  soldados,  que  fossem  mais  aman- 
tes do  seu  rei,  mais  6eís  i  sua  pátria,  mais  soffredores  de 
Irabalbos  e  mais  constantes  nos  seus  successos  felizes  e 
adversos ;  do  que  elles  se  tem  manifestado  em  todas  as  bis- 
torias,  e  do  que  os  manifestaram  ainda  ultimamente  os  factos 
que  se  contém  no  dito  papei  junto  com  o  titulo  de— Compen- 
dio acima  indicado.  Nem  houve  outra  alguma  nai^o  cujos 
exércitos  vencessem  com  poucos  combatentes  tantos  inimi- 
gos, muitas  vezes  superiores  em  numero. 

36, — Nãebastaráõ,  porém,  nem  todas  as  referidas  com- 
binações, nem  as  reflexões  sobre  ellas  feitas,  para  quo  a 
mesma  incomparável  prudência  e  exuberanlissima  provi- 
dencia de  Sua  Magestade :  ponderando  sabiamente  por  uma 
parte  a  regra  que  dícta,  que  nenhuns  inimigos, por  pequenos 
que  sejam,  se  devem  desprezar ;  e  precavendo  pela  outra 
parte  o  caso  de  que,alcaDçando  os  castelhanos  qualquer  van- 
tagem por  algum  d'aquelles  inopinados  BCcidentes,  que  ne- 
nhum discurso  humano  pôde  prever  ainda  demais  perto; 
se  fariam  muito  mais  insolentes,  mais  cruéis  o  mais  insap- 


;dby  Google 


portáveis ;  depois  de  haver  o  mesmo  seohor  feít  o  as  maú 
sérias  raOexões  a  estes  dois  respeitos:  mandou  que  todas  as 
suas  tropas  d'esse  continente  do  Brasil  fizessem  outra  causa 
commum  de  forças  mililaies  com  essa  capital,  e  com  o  dito 
exercito  do  Rio-Grande  de  S.  Pedro ;  assim  como  havia  de- 
terminado a  outra  igual  uoíSo  de  meios  pecuniários  acima 
referida. 

27.— ConsequentemCQte  manda  agorao  dito  senhortrans- 
portaro regimento  de  infentaria  paga,  que  seacba  nailha  Ter- 
ceira.e  os  dois  r^mentos  igualmente  pagos  da  guarnição  da 
Bahiaa  essa  cidade  do  Rio  de  Janeiro:  paraque.sem  sedimi- 
ouiro  DUmero  dos  seis  regimentos  da  actual  guarnição  d*elia, 
haja  V.  Ex.  de  fazer  passar  immediatamente  para  o  referido 
exercito  do  Rio-Grande  de  S.  Pedro,  os  outros  três  regi- 
mentos de  Bragança,  Moura  eEstremoz,  na  forma  indicada 
na  terceira  parte  do  referido  Plano  que  vai  marcado  com  o 
D.  I. :  E  manda  passar  com  os  ditos  regimentos  o  tenente- 
general  Joio  Henrique  de  Bohra  para  commandar  o  referido 
exercito;  eobrigadeiro  JacquesFunk  para  commandante  da 
arlilheiiae  director  das  operações,que com  ellasehouverem 
de  fazer,  graduaado-o  com  a  patente  de  marechal  de  campo. 

38. — Exercito,  digo,  o  qual  sendo  formado  com  o  numero 
de  sete  mil  trezentos  eooventa  e  cinco  combatentes  na  con- 
formidade do  dito  Plano  n,  I,  constituirá  uma  força  Dão  s6 
igual  á  com  que  os  castelhanos  podem  vir  atacsr-nos,  mas 
também  o  maior  corpo  regular  que  até  agora  viram  esses 
paizes,  que  hão  de  ser  os  theatros  da  guerra. 

29. — Pois  que  havendo  sido  o  mais  numeroso  exercito 
de  tropas  pagas  e  disciplinadas,  que  D'elles  appareceu, 
aquelle  com  que  o  general  Gomes  Freire  de  Andrada  pas- 
sou ao  dito  Rio-Grande  de  S.  Pedro  no  anuo  de  1752,  não 
excedendo  aquelle  corpo  regular  de  mil  e  duzentos  homens; 
não  havendo  sido  em  cousa  alguma  auxiliado  pelogeneral 


Dictzedby  Google 


—  197  - 

caslelhano  Andonaigui ;  mas  aates  havendo  sempre  esto 
fugido  de  entrar  nos  combates,  e  metlido  o  dito  general 
portuguez  em  lugares  pantanosos  e  máos  passos,  d'onde  nio 
podesse  facilmente  sahir ;  e  havendo  achado  os  índios  não 
só  possuídos  por  um  frenético  fanatismo  contra  os  portu- 
gueses, mas  também  providos  de  muitas  armas,  e  entrin- 
cheirados nsa  passagens  dos  rios  e  alturas  dos  montes  por 
engenheiros  europãos ;  ainda  assim,  apezar  de  tudo  o  re- 
ferido, e  sem  embargo  de  achar  os  referidos  índios  tantas 
vezes  superiores  em  numero;  atacando-os  nas  suas  mesmas 
trincheiras,  foram  por  elle  inteiramente  derrotados  na  ba- 
talha que  lhes  deu  em  10  de  Fevereiro  de  1756,  deixando 
no  campo,  d^onde  fugiram,  mil  e  duzentos  mortos.  Succes- 
sivamento  passou  a  occupar,  e  metter  debaiio  da  obediên- 
cia das  armas  das  duas  cordas  todas  as  missões  do  Uruguay, 
que  antos  se  jactavam  de  que  seriam  sempre  inaccessiveís 
e  sempre  incoaquislaveis. 

30.  —  Os  factos  públicos  e  notórios  que  vão  substancia- 
dos no  sobredito  compendio  n.  IV,  e  ultimamente  os  ou- 
tros factos  da  acção  do  bom  capitão  Raphael  Pinto  Ban- 
deira no  dia  3  de  Janeiro  próximo  passado  junto  do  Rio 
Piqmri;  e  da  consequente  meticulosa  carta  que  o  general 
castelhano  í).  João  Joseph  de  Vertiz  e  Salzedo  escreveu 
logodepois  no  dia  dezeseis  do  dito  mez  de  Janeiro  ao  digno 
coronel  governador  José  Marcellino  de  Figueiredo:  são  factos 
que  estabelecem  o  mais  provável  juízo,  do  que  podemos 
ter  e  esperar. 

31.  — Pois  que  por  uma  parte  fazem  claramente  ver,  que 
o  exercito  ordenado  no  referido  Plano  mUiiar  marcado  com 
o  D.  1  não  nos  deixará  muito  que  receíar  das  fastosas  os- 
tentações das  forças  castelhanas  :  e  fazem  ver  pela  outra 
parte  com  a  mesma  clareza  que,  sustentando-se  o  nosso 
exercito  nas  vantajosas  posições  que  vão  apontadas  na 


Dictzedby  Google 


—  fl8  — 

qnuH  iwlruc$lo;  08  iHtaraes  «ffeilos  d»  Indo  o  referido 
tvtÊo :  que  on  os  castelhanos  hão  de  fazM  retrogradar  o 
seo  exercito,  abandonaodo-noa  as  suas  chamadas  oouqaislas 
desde  o  Rio-Grande  de  S,  Pedro  até  o  rio  de  Chuy  e  forte  de 
S.  Nigael;  fionheoendo  que  se  os  batermos  era  tio  grande 
distancia  do  Rio  da  Prata  e  Buenos-A^res,  ficarão  inteirar 
mente  perdidas  todas  as  suas  tropas,  o  as  suas  missões  do 
{Jrilguny  ioteiramente  sacrificadas  debaixo  da  aajeição  do 
exercito  portuguez  «encedor ;  quando  aliás  esto  aoaso  exer- 
cito sempre  teria  em  qualquer  accidonte  funesto  para  se 
retirar  (com  a  retaguarda  nos  seus  próprios  paizes,  dos 
quaes  se  fosse  todos  os  dias  reforçado  com  tropas  que  bai- 
xassem de  S.  Paulo),  pelo  lado  oriental  o  estreito  terrílorío 
que  jax  desde  o  Rio  de  S.  Pedro  até  Viamão  t  defendido  oa 
exinmidade  oriental  com  o  mar,  na  õatra  extremidade 
Occidental  com  a  LagAa  dos  Patos ;  e  peU  oalra  parta  do 
occidenie  com  as  moDtsohas  que  jazem  entre  os  rios  Jacuhy 
e  Rio  Pardo ;  e  entre  este  segundo  dos  ditos  rios  e  o  outro 
rio  Tibiqaary. 

33.— Porém  para  miis  consolidar  e  sustentar  com  o 
maior  vigor  o  referido  exercito;  e  os  projectos  d'elle  era  todas 
as  suas  operações  defensivas  e  olTensivas,  que  se  apresen- 
tarem nas  diversas  circumslaDcias  dos  casos  oc«onreDtes  ; 
vai  d'aqui  prevenido  o  novo  governador  e  capitio-general 
de  S.  Paulo  Martim  Lopes  Lobo  de  Saldanha,  na  mesma 
conformidade  d'eslas  instrucções,  levando  as  ordens  se- 
guintes : 

Primeira.  De  conferir  com  V.  Ex.  h)go  que  cbegar  a  essa 
cidade  sobre  tudo  o  referido. 

Segunda.  De  emendar  o  que  errou  o  seu  antecessor. 

Terceira.  De  ter  por  certo  que  qualquer  das  duas  poten- 
cias couHnantes,  que  fôr  senhora  das  costas  do  mar,  o  ha 
de  ser  por  necessária  consequência  de  todos  os  sertões. 


Dictzedby  Google 


QoArta.  D«  valerem  por  isso  cineoeuta  legtus  d«  sertio 
muito  menos  do  que  ama  só  légua  nas  referidas  cosias. 

Quinta.  De  que,  Ic^  que  houvermos  lançado  os  caste- 
Ibaoos  fora  das  costas,  e  lhes  houvermos  assim  impedido 
lodos  os  soccòrros  para  animarem  os  setlões,  virão  estes 
eonsequeulemente  a  cahir  nas  nossas  mios,  e  os  indios 
d'elles  (animados  contra  a  tyrannia  do  governo  hespanhol, 
com  as  honras,  liberdades  e  conveniências  com  que  Sua 
Magestade  os  manda  alliclar),  virAo  a  ser  outros  tantos  vas- 
sallos  do  dito  senhor. 

Sexta.  De  ler  o  mesmo  governador  de  accordo  com  V.  Ex. 
por  um  principio  demonslrativamenle  cerlo,  que,  nÍo 
podendo  o  pequeno  contiaenle  de  Portugal  fornecer  o  ex- 
iraordÍDario  numero  de  tropas  regulares,  que  se  fazem  pre- 
ósas  para  a  defesa  e  manutençSo  das  mil  e  duzentas  le- 
goas  que  se  contam  na  extensão  das  costas  do  Brasil  eni- 
Ire  os  dons  grandes  rios  das  Amazonas  e  da  Prata ;  é  in- 
dispensavelmente  necessário  que  os  auxiliares,  ordenan- 
ças, caçadoros  e  aventureiros  do  Brasil  defendam  o  Bra- 
sil: sendo  este  claro  conhecimento  um  forçoso  estimulo 
para  os  generaes  doesse  Estado  procurar  efficassissimamente 
animar,  unir  e  ler  sempre  contentas  e  promptos  aqnelles 
corpos  irregulares;  os  quaes  fazem,  e  farão  sempre  melhor 
serviço  do  que  as  tropas  pagas,  em  um  paiz  tfio  montuoso. 
pantanoso  e  fechado  de  impenetráveis  bosques,  de  cujos 
veios  e  veredas,  só  os  respectivos  habitantes  e  práticos 
,naturaes  tém  as  uleis  noticias,  de  que  se  podem  tirar  as 
maiores  vantagens. 

Selima.  De  principiar  a  dar  forma  e  consistência  aos 
referidos  corpos  irregulares,  desde  o  mesmo  dia  e  hora 
em  qoe  chegar  a  S.  Paulo. 

Oitava.  De  estabelecer  entre  a  capital  do  seu  governo 
ou  entre  o  lugar  d'eUe,  em  que  se  achar)  e  o  tenenle-gene- 


;dby  Google 


—  aoo  — 

ral  João  Henrique  de  Bohrn  uma  regalar  e  successiva 
correspondência  pola  via-de  Viamão,  ou  por  aquelle  cami- 
nho que  se  acbar  mais  breve  e  seguro,  conforme  o  indi- 
carem as  diversas  circumstancias  dos  tempos  e  conjectu- 
ras d'elles. 

Nona.  De  fazer  baixar  aquetlas  porções  dos  sobreditos  cor- 
pos irregulares  que  Ibe  indicar  o  tenente-general,  ou  ain- 
da (no  caso  de  ser  precisamente  necessário]  de  baisar  o 
mesmo  governador  pessoalmente  com  todos  elles  em  soc- 
corro  ao  nosso  eiercilo,  para  os  certos  e  determinados 
lugares  que  o  mesmo  tenente-general  Ibe  apontar. 

Decima.  De  ficar  is  ordens  do  mesmo  tenente-general, 
desde  que  se  fizer  a  jancção  do  referido  corpo  auxiliar  ao 
dito  exercito  principal  no  sobredito  caso  de  haver  urgência 
Ião  instante,  que  o  obrigue  a  sahir  da  sua  capital;  como  no 
anno  de  1713  baixou  o  governador  das  Mlnas-Geraes  An- 
tónio d'Albuquerque  Coelho  de  Carvalho  £om  todos  os 
brancos  e  negros  armados  d'aquellas  comarcas  contra  a 
invasão  que  os  francezes  haviam  feito  no  Rio  de  Janeiro. 

Undécima.  K  de  estabelecerem  e  frequentarem  (assim  o 
dito  tenente-general  João  Henrique  de  Bohm,  como  elle 
Martim  Lopes  Lobo  de  Saldanha)  com  V.  Ex.  outra  regular, 
e  successiva  correspondência,  pela  qual  o  vão  opportuna- 
mente  informando  sempre  de  tudo  o  que  occorrer,  para 
executarem  as  ordens  que  V.  Ei.  lhes  mandar  nos  casos 
occorrentes,  que  assim  o  permitiam  sem  prejuízo  do  servi- 
ço de  Sua  Magestade. 

QUARTA  INSTRUCÇZO 

33.  —  E'  na  arte  da  guerra  um  principio  certo,  e  um 
conhecido  axioma,  que  entre  dnas potencias  belligeranlea, 
aquella  que  primeiro  põe  o  seu  exercito  prompto  na  cam- 


Dictzedby  Google 


ponha  é  a  que  com  elle  faz,  antes  de  $er  impedida  pelo  seu 
inimigo,  ospossiveis  progressos,  e  a  que  põe  da  maparl^ 
a  forta/na  da  guerra. 

34. — No  espirito  doeste  sábio  diclame,  diclado  pela  razão, 
e  confirmado  por  muitas  experiências ;  para  que  nos  Irans, 
portes  dos  dois  generaes,  dos  ofíiciaes  da  junta  da  fazenda 
dos  sobreditos  regimentos,  se  consiga  a  maior  brevidade 
que  couber  no  possível,  empregará  V.  Ex.  n'elles  a  fragata 
de  quarenta  peças  Nossa  Senhora  de  Nasareth,  cujo  hábil  e 
experimentado  capitão  de  mar  e  guerra  será  o  portador 
d'esla;  o  galeão,  que  ahi  chegará  quasi  ao  mesmo  tempo, 
e  que,  devendo  ser  logo  por  V.  Ex,  mandado  armarem  guer- 
ra n'esse  porto,  foi  já  ao  Rio  da  Praia  com  trinta  e  oito  pe- 
ças montadas;  a  náo  de  sessenta  e  quatro  peças  Nossa  Se- 
nhora d" Ajuda,  que  sabirá  d'aqui  dentro  em  poucos  dias 
debaixo  do  pretexto  de  transportar  o  governador  de  S.  Pau- 
lo, e  os  navios  e  embarcações  mercantes,  que  transpor- 
tarem a  essa  capital  os  dois  regimentos  da  Bahia;  os  quar 
tro  navios  da  companhia  geral  de  Pernambuco,  que  tam- 
bém chegarão  a  essa  cidade  com  o  outro  regimento  da  de  An- 
gra, ou  da  Ilha  Terceira,  fretando  e  embargando  V.  Ex,  {se 
necessário  fôr)  lodos  os  mais  navios  o  embarcações  mer- 
cantes, que  a  brevidade  dos  sobreditos  transportes  preci- 
sar nos  casos  occorrentes,  além  dos  que  deixo  acima 
indicados- 

35. — Logo  que  o  dito  exercito  de  Sua  Mageslade  se  achar 
formado,  fornecido,  e  prompto  a  marchar  e  combater,  re- 
gulará o  tenente-general  João  Henrique  de  Bohm  as  ope- 
rações do  mesmo  exercito  na  maneira  seguinte: 

36.  —  Antes  de  tudo  procurará  o  dito  general  guarnecer 
e  segurar  todos  os  passos  dos  rios  e  das  montanhas  por  on- 
de os  castelhanos  podem  vir,  ou  atacar  os  nossos  actuaes 
estabelecimentos,  ou  soccorrer  a  sua  fortaleza  da  margem 
TOHO  XXXI,  P.  1-  .36 


Dictzedby  Google 


meridional  da  barra  do  Rio-Granik  i«,  S.  PedrOf  com  a 
qual  DOS  Mm  pretendido  (ectutr  a  entrada  da  mesma  bana; 
fezendo-a  a  s«u  faror  própria  e  exclusiva:  para  oecorrer 
aos  sobreditos  passos  d'aqueUes  rios  e  d'aquellas  moata- 
obas,  quando  a  necessidade  o  pedir;  isto  é,  quando  lentia 
certa  iurormação  de  que  o  general  castelhano  o  vem  atacai 
com  forgas  superiores,  e  souber  os  caminhos  por  onde  elle 
dirigir  as  suas  marchas,  afim  de  lhe  sahii  ao  encontro 
com  toda  a  vantagem  possível. 

37.  —  Em  segundo  lugar.  Depois  de  se  haver  acautela- 
do e  segurado  o  mesmo  general  na  sobredita  forma,  apre- 
sentando-se  diante  da  referida  fortaleza  do  lado  meridional 
do  lUo-Grande  de  S.  Pedro;  e  levando  em  tropas,  em  trem 
e  artithería,  e  em  morteiros  e  bombas  o  que  lhe  fdr  neces- 
sário para  a  eipugnar,  mandará  copiar  e  entregar  por  um 
boletim  ao  arrogante  governador  bespanhol  d'aquella  for- 
taleza a  carta  de  notificação,  e  o  compendio  substancial, 
cujas  minutas  irão  n'estas  instmcções  inclusas  debaixo 
dos  ns.  V.  e  VI. 

38.  —  No  caso  em  que  o  governador  castelhano  ceda  logo 
á  dita  notificação,  por  ver,  que  não  é  só  verbal,  como  as 
que  se  lhe  fizeram  até  agora,  mas  sím  armada  com  forças 
capazes  de  abaterem  lodo  o  seu  orgulho:  nio  se  fari  re- 
presália na  guarnição  militar  que  n^ella  estiver,  mas  sim  nas 
embarcações  castelhanas  que  se  acharem  no  porto,  e  n'e]le 
devem  ser  antes  de  tudo  embargadas  pela  força  da  nossa 
arlilhería  :  remeltendo-se  os  officiaes  e  soldados  castelha- 
nos  para  as  suas  terras,  e  as  embarcações  a  esse  porto  do 
Rio  de  Janeiro:  para  assim  qos  compensarmos  dos  nossos 
soldados  e  embarcações  que  o  referido  commandante  nos 
hostilisou,  matou  e  aprezou  com  a  força  d^aquella  usurpada 
fortaleza. 

39.  -^No  outro  caso,  em  que  o  dito  commandante  hespa* 


Dictzedby  Google 


—  «»  — 

hol  aspara  o  ataque,  sa  Ibe  dare  fazer  oom  o  mais  TÍforoto 
fego  de  artilberia  e  bombas,  que  coubec  no  possífel,  afim 
de  que  seja  rendida  antei  que  possa  receber  pela  via  do  mir 
algum  QOcturao  soccorro,  que  esoape  á  vigilância  da  bateria 
qae  se  dera  levantar  sobre  o  dito  porto,  afim  de  que  a 
entrada  d'ella  Ibe.  fiqoe  impedida  quanto  a  possibilidade  o 
poder  perroiltir. 

40.  —  Caso,  digo,  DO  qual  reodendo-se  em  tempo  babíl 
a  dita  fortaleza  por  capitulação,  em  que  o  commaadaute 
haspanhol  com  a  sua  guaroiç&o  fiquem  prisiaoeiros,  e  as 
embarea^õeg  armadas  em  guerra  se  (ornem  por  perdidas, 
ae  pralíoará  a  remessa  d'eUes  e  d'ella3  para  o  Rio  de  Ja- 
neiro na  mesma  forma  acima  declarada:  porém  no  outro 
CBSO,  de  esperar  o  mesmo  governador  hespanhol,  qaea  dita 
fortaleza  seja  tomada  por  assalto,  se  praticará  a  respeito 
das  pessoas  o  que  as  leis  da  guerra  estabelecem;  e  a  res- 
peito  dos  despojos  o  que  vai  agora  ordenado  pela  carta  ré- 
pa,  em  que  Sua  Magestade  os  manda  dividir  pelos  seus 
<^ciaes  e  soldados  com  boa  e  justa  proporção. 

M.  —  Em  twceiro  lugar.  Ordena  Sua  Magestade,  que, 
desde  qoe  a  sobredita  fortaleza  for  uma  vez  evaeuada,  e 
restituída  ao  seu  real  dominio,  a  que  é  perteaceote,  se 
hajam  de  suspeuder  até  ao  Israpo  abaixo  declarado  fodas 
e  quaesquer  outras  oparaçães  de  guerra  ou  de  conquista: 
havendo  considerado  o  mesmo  senhor  para  ordenar  «sta 
suspenslo  motivos  tão  grandes  como  são  os  seguintes: 

i2.  — Primeiro  motivo:  Porque  assim  se  mostrará,  quan- 
do formar  queixas  contra  nós  a  cérte  de  Madrid,  que 
s6  tratamos  de  defender  o  nosso  da  iníqua  e  insul- 
tanta  vizinhança  dos  seus  officiaas,  sem  intenção  alguma 
de  íwtiw fitar  conquistas. 

43.  — Segundo  motivo:  Porque  emqoanto  a  soberba  do 
capitão-genwal  de  Bueaos-Àyres  se  preparar  para  a  vingin- 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  ao4  —  . 

ça  d'aqueUa  eipugnação,  e  marchar  para  vir  atacar-nos, 
teremos  dós  todo  o  tem[>o  aecessario  para  bem  fortificar,  e  . 
guarnecer  os  passos  que  o  advertido  e  valoroso  coronel  Jo- 
sé Marcelliao  de  Figueiredo  acautelou  com  grande  e  uUl 
proTÍdeocia  ;  na  forma  por  elle  referida  pela  carta  que  di~ 
rigiu  a  V.  Ex.  desde  o  Rio  Pardo,  em  30  de  Dezembro  do  ' 
aQDO  próximo  pretérito,  nos  §  §  2°  e  3°,  cujo  teor  é  o  se- 
guinte: 

Parugrapho  ^^"Tenho  acautelado  compartídasde  auxi- 
liares, e  alguns  pagos,  os  difficullosos  passos  de  Camor- 
cttam,  que  sâo  cinco,  e  tenbo  guarnecido  os  principaes  e 
fortiâcado-os;  como  são  parte  ulterior  d' este  rio  o  de  Guay- 
ba,  o  de  Piquiri,  o  de  Iruy,  o  de  Tabalinguay  e  doeste  lado 
o  de  Joúh/m/,  com  duas  peças  d'artilheriB;  e  o  de  Butuca- 
ray,  com  outras  duas;  os  de  S.  Lowenço,  Fiuna,  Faiuían- 
go,  Romão,  Pederneiras,  etc. ,  oom  menos  gente  de  )»vaUa  - 
ria  e  dragões/' 

Paragrapho  3* :  u  ESte  do  Rio  Pardo  com  artilheiia  do 
seis  e  Ires,  que  mandei  vir  de  Tacttry,  e  com  um  morteiro 
de  seis  pollegadas,  que  fiz  montar  em  forma  de  obuz,  que 
é  como  nos  pôde  servir.  ■ 

44. —  Terceiro  motivo  :  Porque  d'esta  sorte  conseguire. 
mos  duas  vantagens  tão  grandes,  como  são  :  uma,  ba  de  vir 
o  dito  general  hespanhol  de  tio  longe  cohi  as  suas  tropas 
enfraquecidas  pelas  marchas  atacar  a  peito  descoberto  as 
nossas,  que  ha  de  achar  nos  seus  quartéis  frescas,  descan- 
sadas e  absolutas  senhoras,  não  só  dos  passos  fortificados 
e  guarnecidos  que  o  dito  coronel  José  Marcelliao  de  Piguei' 
redo  indicou  nos  dois  paragraphos  acima  copiados,  e  nos 
mais  que  se  achar,  que  serio  dilQceis  de  forçar ;  mas  tam- 
bém dos  gados,  cavalgaduras  e  mantimentos  de  Iodas  as 
campanhas  adjacentes. 

i5.-~  Quarto  motivo:    Porque  se  proseguissemos    na 


Dictzedby  Google 


—  30»  — 

coDqnista  de  tudo  o  que  vai  desde  o  Rio-Grande  de 
S.  Ptáro  até  Chuy :  por  uma  parte  nos  iríamos  pondo  cada 
dia  mais  distantes  d^aquelles  postos  onde  é  eerlo  que 
deremos  cooseivir  unidas  todas  as  nossas  forças :  por 
outra  parte  dos  avizinharíamos  e  iríamos  metter  debaixo 
do  peso  de  todas  as  tropas,  que  os  castelhanos  tém  no  Rio 
da  Prata ;  e  pela  outra  parte  nos  exporíamos  a  ser  cortados 
e  balidos  longe  da  nossa  casa,  sem  possibilidade  partt  aos 
retirarmos. 

i6. —  Em  terceiro  lugar:  Chegando  a  veríficar-«e  dois 
casos  laes  como  serfio :  primeiro,  o  que  acabo  de  figurar 
acima,  isto  é,  de  vir  o  general  castelhano  a  atacar  o  nosso 
exercito  com  todas  as  forças  que  tem  no  Rio  da  Prata  uni- 
das em  um  corpo :  segundo,  o  de  ser  o  tal  exercito  castelhano 
batido  pelo  nosso,  como  é  de  esperar  quo  ha  de  sMceder, 
abalroando  a  mSo  omnipotente  do  Senhor  Supremo  dos 
exércitos  a  justíssima  causa  da  nossa  defesa  natural: 
cbegaado,  digo,  a  veríficar-se  um  e  outro  dos  referidos 
dois  casos :  manda  Sua  Magestade  prevenir  e  ordenar  a 
V.  Ex.  que,  desde  que  ambos  os  mesmos  casos  juntos 
forem  verificados,  se  mude  inteiramente  o  plano  do  seu* 
exereito  entáo  victoriaso,  passando  a  ser  activa  e  offensiva 
a  guerra,  que  até  a  verificação  e  uniio  dos  sobreditos  dois 
casos  deve  ser  meramente  passiva  e  defensiva,  na  forma 
acima  declarada. 

47. —  Isto  é  ;  Que,  ficando  ambos  os  lados  da  entrada 
da  barra  do  Rio-Grande  de  S.  Pedro  fortificados  com  boas 
plataformas  de  terra  e  fachina,  onde  nSo  houver  as  de 
pedra  e  cal,  com  bastante  e  grossa  artilheria  ;  e  com  uma 
forte  guarnição  de  infanleria,  de  aventureiros  e  de  arti- 
lheiros, para  defenderem  as  ditas  fortalezas ;  e  de  cavaltaría 
para  impedir  qaaesquer  desembarques,  que  pela  costa  do 
mar  procoiem  fazer  os  caatelbanos,  ficando  assim  segura  o 


ídbyGoogk 


—  M6  — 

rdagiurda  do  nosso  exercito :  prosiga  esU  sempre  unido  e 

setn  perder  a  fórms  os  passos  dos  inimigos  derrotados  até 
os  dissipar  e  destruir  inteira  e  absolutameate ;  assim  em 
tropas,  oamo  em  bagagens,  munições  de  guerra  e  boca ; 
sem  lhes  admittir  capitulação  uu  trégua  alguma,  que  não 
seja  a  de  se  renderem  prisioneiros  de  guerra  com  a  entrega' 
das  armas  e  tudo  o  mais  que  acabo  de  referir  acima :  ou 
isto  suflceda  em  choques  particulares,  ou  em  acQões  gsraes 
com  todo  o  eorpo  junto  em  forma  de  batalha. 

4S. —  Para  os  casos  em  que  Deus  Nosso  Senhor  nos 
ajude  de  sorte  que  assim  venba  a  succeder ;  manda  Sda 
Magestade  prevenir  a  V.  Ex. : 

Primo  :  Que-  todos  os  officiaes  e  soldados  castelhanos, 
que  o  seu  exercito  fizer  prisioneiros,  devem  ser  imme- 
diataoNote  remettidos  ao  Rio-Grande  de  S.  Pedro,  e  d'elle 
transportados  a  essa  cidade  para  serem  reclusos  no  preúdio 
da  Ilha  das  Cobras,  na  mesma  forma  acima  declarada  \  com 
uma  indispensável  e  absoluta  reclusão,  de  sorte  que  a  nin- 
guém possam  fallar ;  e  com  a  raçáo  diária,  que  se  costuma 
dar  a  cada  soldado  para  o  seu  sustento ;  lomando-se  coutas 
dts  despezas,  que  com  elles  fizer  a  fazeuda  real,  para 
serem  pagas  ao  tempo  em  que  os  ditos  prisioneiros  hou- 
verem de  ser  restiluidos. 

Secundo :  Que  aos  índios  naturaes  das  missOes  e  terri- 
tórios d'eUas,  que  se  prisionarem  nas  acções  com  os  sobre- 
ditos-  castelhanos,  se  lhes  faça  todo  o  bom  tratamento  ; 
se  lhes  ddm  gratuitos  passapc^les  para  se  recolherem  ás 
Guas  (erras ;  e  se  lhes  segure  que  (logo  qtte  a  guerra  cauorj 
ficarão  nai  auos  casos  em  plena  liberdade  debaixo  da  pro~ 
íeccão  de  Sua  Magwtade  FideHsntna,  para  não  panmUir, 
nem  <ju»  eUes  eom  aa  suat  pestoas,  cavalgadMras  e  gados 
façam  algtim  lervifo,  que  lhes  não  eeja  immediatttmmía 
pago» ;  nem  qw  iw  sua$  fazenda»  e  ttkmtia»  ihes  a^am 


Dictzedby  Google 


—  907  — 

Ujiyrpadat,  ou  psloi  catláhanee,  ou  pelo»  portvguext» ; 
obiervandose-lhes  htdtí  isto  reUgioaamente :  o  que  setta- 
leade  comtado  logo  qae,  ou  cessar  a  guerra,  eomo  acima 
digo,  que  faz  iadispeosaTOlaieDle  necessário  tirar  aos  ini- 
migos toilos  os  beos  e  meios  de  offenderem,  ou  elles 
índios  se  unirem  declaradamente  a  nós  contra  os  caste- 
lhanos, seus  craeis  oppressores. 

Tercio :  Que  os  despojos  dos  castelhanos  vencidos  se 
repartam  pelos  officiaes  da  marinha  e  soldados  das  tropas 
regalares,  das  ligeiras  e  dos  aTentureiros  vencedores ;  sem 
diíTerenca  alguma,  com  a  proporção  que  vai  estabelecida 
na  minata  do  baado,  que  o  dito  senhcff  manda  expedir  para 
esle  effeilo,  e  V.  Ex.  receberá  oom  esta  debaixo  do  n.  7. 

QOINTA  INSTRUCÇtO 

49. —  A  conservação  da  ilha  de  Santa  Cathariaa  é  da 
summa  importância,  que  V.  Ex.  conhece  perfeitamente, 
porque  do  tempo  da  paz  nos  defende  a  costa  do  sul  dos 
contrabandos,  qoe  sem  ella  seriam  sempre  inevitáveis; 
e  no  tempo  da  guerra ;  e  por  uma  parte  priva  os  inimigos 
dos  únicos  portos  que  ha  na  mesma  costa  com  o  fundo 
e  espaço  neccMarios  para  n'elles  entrarem  e  conservarem 
os  dites  inimigos,  oom  segurança,  náos.  que  sejam  de 
força;  pela  outra  parte  nos  dá  a  faculdade,  não  só  para  alli 
(ermos  ancoradas  as  náos  de  Sua  Magestade,  mas  lambem 
para  introduzirmos  tropas  e  munições  de  guerra,  e  de  booa 
D'aqQeUe  continente  do  sul  em  casos  taes,  como  este,  que 
agoTa  se  presente ;  ocmtineate  que  não  poderíamos  conser* 
var  faòUnenle  se  uma  vez  lhe  faltasse  a  referida  ilha. 

50. —  D'aqni  residta,  que  a  defesa  e  manutenção  d'ella, 
constituindo  um  dos  grandes  objectos  da  attençio  de  el-ref 
meu  smhor  nas  eirournstaBÓas  da  preaenle  ooqjnnetura : 


D,:„l,;cdT;v  Google 


—  soe  — 

manda  Sun  Mageslade  orãensr  aos  ditos  respeitos  o  sa- 
goiote: 

•SI. —  Quer  o  mesmo  senhor:  Que  a  fortaleza  principal 
e  fortes  da  referida  ilha  sejam  armados  com  Ioda  a  arti- 
Iheria,  carretame,  palamenta,  pólvora,  bala  e  petrechos 
possíveis  para  fazerem  uma  vigorosa  defesa  nos  casos  de 
surpresas  ou  de  ataques. 

53.—  Quer:  Que  a  guarnição  paga  da  mesma  ilha  seja 
logo  reforçada  com  um  dos  seis  regimentos  d'es5a  cidade, 
de  cujos  officiaes  V.  Ex.  fizer  melhor  conceito-,  viado  no 
lugar  d'elle  o  outro  regimento,  que  manda  transportar  de 
Pernambuco  para  essa  cidade ;  posto  que  contra  ella  não 
ha  appareaeia  de  que  se  animem  os  castelhanos  a  intentar 
por  agora  alguma  invasão. 

53.—  Quer:  Que  todas  as  milícias,  os  corpos  irregu- 
lares da  mesma  ilha  sejam  sem  perda  de  tempo  armados, 
exercitados  em  atirarem  ao  alvo,  e  animados  com  o  exem- 
plo dos  r^imeutos  pagos  a  resistirem  aos  inimigos  em 
defesa  das  suas  próprias  casas  e  famílias. 

54. —  E  quer:  Que  o  brigadeiro  António  Furtado  de 
Mendonça  (a  quem  manda  a  patente  de  marechal  de  campo), 
baixando  logo  das  Minas  a  essa  capital,  passe  á  referida 
ilha,  encarregado  da  guarda  e  defesa  d'ella  em  observância  . 
da  carta  régia,  que  lhe  vai  expedida  para  exercitar  a  dita 
commissão,  até  que  venha  (como  esperamos  brevemente 
ha  de  vir)  a  cessar  a  necessidade,  que  faz  tão  prudentes, 
como  preciosos  os  acluaes  esforços. 

55. —  E  considerando  ultimamente  o  dito  senhor,  que 
assim  a  defesa  da  referida  ilha,  como  as  acções  das  suas 
reaes  tropas  no  continente  do  sul,  se  não  poderiam  bem 
consolidar  sem  serem  assistidas  peta  via  das  costas  e  do 
mar  por  um  competente  numero  de  oáos  e  fragatas  de  guer- 
ra :  usando  dos  pretextos  acima  indioados  e  d' outros  se- 


Dictzedby  Google 


—  209  — 

melbantes:  mandou  preparar  e  dirigir  a  esse  porto  do  Rio 
de  JsDeiro  ás  ordens  de  V.  Ex.  a  esquadra  de  três  Qáos  de 
linha  e  quatro  fragatas  de  guerra,  que  vão  descriptas  na 
qaarta  parte  do  sobredito  plano,  que  leva  o  n.  I,  E  man- 
dou que,  para  a  referida  esquadra  ficar  logo  ahi  eipedila 
e  prompta,  fosse  feita  a  nomeaçio  do  comoiandaute  d'ella 
8  dos  respectivos  capitães  de  mar  e  guerra,  e  seus  officiaes ; 
e  pela  outra  carta  régia,  que  lambem  acompaabarã  esta, 
■fim  de  que  V.  Ex.  a  faça  publicar,  e  dar  logo  a  sua  devida 
execução.  Declarando  o  commandante  o  cbefe  da  dita  es- 
quadra ;  e  fazendo  entregar  as  referidas  náos  e  fragatas  aos 
capitães  e  officiaes,  que  lhes  vão  destinados  na  carta  régia, 
provisão  e  decretos,  cujas  cópias  serão  com  esta  debaixo 

do  D.  VllI. 

56.  —  A  referida  esquadra  pareceu  que  seria  bastante 
por  agora,  em  razão  das  vantagens  que  ella  ha  de  ter 
ii'es3es  mares  sobre  quaesquer  outras  castelhanas,  posto 
qoe  sejam  superiores  em  numero;  em  razão  de  que  a 
nossa  dita  esquadra,  e  os  navios  d'ella,  poderão  sustanlar- 
se  no  mar  em  lodo  o  (empo,  lendo  a  seu  favor  os  portos 
i'9Bsa  capital,  os  da  Ilha  de  Santa-Catharinay  e  o  do  Jlto- 
Grande  de  S.  Pedro  (depois  de  haver  sido  expugnado,  como 
esperamos),  para  n'elles  acharem  abrigo  e  as^lo  em  qual- 
quer accidente;  quando  as  suas  esquadras,  e  oáos  terão 
por  inimiga  Ioda  a  costa  do  Brasil,  que  decorre  desde  essa 
do  Aio  de  Janeiro  até  o  tormeoloso  Rio  da  Prata,  sem 
acharem  fora  d'elle  onde  se  possam  recolher,  o  sem  que 
por  isso  possam  evitar  virem  cahir  nas  nossas  mãos  debaixo 
de  um  sequestro,  nos  oasos  em  que  sejam  u^nlemeote 
GonstrangidoB  pelas  tormentas  e  próximos  naufrágios  a 
irem  refogiar-se  aos  nossos  portos  para  salvar  as  vidas. 


TOMO  XXXI,  p.  I. 


;dby  Google 


SEXTA  E  ULTIMA  IMSTRCCÇAO 

ST.  —  E^cousa  verosimil  que  o  goveroadorde  Buenos- 
Aytes,  vendo  perdida  a  fortaleza  do  lado  meridíoDalda 
barra  do  fíio-Grande  d»  S.  Pedro,  que  está  chaoiando  sua, 
haja  dfl  ir  desbravar-se  contra  a  Colónia  do  Sacramento, 
que  é  cerlamenle  nossa.  E  para  este  caso  se  faz  preciso, 
que  V.  Ex. ;  ou  previna  o  governador  actual  d'aqueUa  for- 
taleza, acbando  que  é  capaz  de  bem  executar  as  suas 
ordens,  ou  mande  no  seu  lugar  outro,  que  seja  hábil,  e 
do  qual  possa  confiar,  que  execute  as  instrucções  seguintes. 

58.  —  A  primeira  deve  ser  a  de  fazei  o  dito  governador, 
sobro  a  citação  que  o  general  castelhano  lhe  fizer  para 
render  a  praça,  a  resposta  que  vai  minutada  para  este  eSeito. 
( N.  IX. ) 

69.  —  A  segunda  deve  ser  a  que  se  contém  na  outra 
resposta,  que  lambem  vai  minutada,  para  o  caso  em  que 
o  dito  general  castelhano  insista  em  querer,  que  a  referida 
praça  se  haja  de  render  ás  suas  geniaes,  e  costumadas 
ameaças.  ( X. ) 

60.  —  A  terceira  deve  ser  a  de  se  defender  o  dílo 
governador  até  a  ultima  extremidade  de  ver  aberta  uma 
brecha  tal,  que  já  não  seja  possível,  nem  reparai^-se  com. 
corladuras,  nem  evitar-se  por  ella  o  assalto. 

61.  —Espera  Sua  Magestade,  que  V.  Ex.  ao  mesmo 
tempo  ha  de  prevenir  para  aquelle  caso  três  cousas  tão 
próprias  d^elle,  como  são  a  s^uintes. 

62.  —  A  primeira  é  o  grande  cuidado  em  pagar,  «  ter 
espias,  que  exactamente  o  informe  de  todos  os  movimentos 
que  os  castelhanos  fizerem  contra  a  dita  praça  ;  de  sorte 
que  saiba  quando  elles  a  principiarem  atacar  á  cara  desco- 
berta. 

63.  —  A  segunda  cousa  é,  que  l(^o  que  se  verificar  o 


Dictzedby  Google 


—  2U  — 

dito  insulto  comoiettido  contra  aquella  praça,  mande 
V.  £x.  por  uma  parte  arrebanhar  e  fazer  passar  para  as 
nossas  terras  todas  as  cavalgaduras  e  gados  das  estancias 
dos  castelhanos,  a  qne  sem  perigo  se  poderem  estender  as 
incursões  das  tropas  ligeiras,  e  dos  aventureiros  e  caça- 
dores, etc.  Pela  outra  parte  mande  invadir,  e  saquear 
todas  as  suas  aldéas  que  o  poderem  ser  com  segurança 
das  referidas  tropas:  por  outra  parte  mande  prisionari 
e  trazer  em  presença  do  general  em  reféns  aos  ministros, 
officiaes  e  pessoas  notáveis  das  ditas  aldéas,  para  se  envia- 
rem immediatamente  para  a  Ilha  das  Cobras :  e  pela  outra 
parte  lhes  faça  inlimar  ao  mesmo  general,  que  pelo  direito 
de  represália  se  executarão  a  respeito  d'eUes  com  justiça 
lodos  os  rigores,  que  o  general  de  fiuenos-Ayres  houver 
praticado  com  crueldade  a  respeito  da  guarnição,  e  habi- 
tantes da  Colónia  :  dando-se-lhes  os  meios  de  avisarem  ao 
dito  general  castelhano  esta  intimaçSo  logo  que  lhes  fdr  ' 
feita. 

64.  — '  A  terceira  cousa  é  que,  usando  V.  £x.  das 
certas,  e  prévias  informações,  que  deve  ter  das  forças 
navaes,  que  os  ditos  castelhanos  tiverem  no  Rio  da  Prata  : 
e  vendo  que  ellas  lhe  permittem,  que  possa  soccorrer 
por  mar  a  referida  praça  da  Coionia,  a  mande  auxiliar 
com  aquelle,  ou  aquelles  dos  navios  da  esquadra  do 
chefe  Mack  Duel,  que  forem  competentes,  e  que  sem  teme- 
ridade poderem  expedir-se,  de  sorte  que  não  corram  pe- 
rigo de  perder'se. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  —  Palácio  de  Nossa  Senhora 
d'Ajuda  em  9  de  Julho  do  1714. — Marqties  de  Pombal. — 
Senbor  marquez  do  Lavradio. 


RIO  DE  JANEIRO—  TIP.  DtPINHtIIIO&  C.,Mk  SBTB  DS  SBTUfBR0n.lS9 


Dictzedby  Google 


Do.icdt,  Google 


r 


REVISTA  TRIMENSAL 

DO 

INSTITUTO   HISTÓRICO 

GEOGRÁPmCO,  £  ETHMOGRAPHICO  DO  BRASIL 


i'  TRIMESTRE  DE  1868 


PBRNAMBUCO 

REVOLUÇlO  DE  1817     ; 

INTERROr.ATORIOS  MAIS  IMPORTANTES  DOS  RÉOS 
(extrahidos  do  archivo  pdbuco] 

PERGUNTAS  A  LUIZ  FRANCISCO  DE  PAULA 
CAVALCANTI  E  ALBUQUERQUE 


SEGUNDAS  PEBCniíTAS 

Adqo  do  nasciíqeato  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cbristo  de 
mil  oito  centos  e  dezoito,  aos  viate  e  dois  dias  do  mez  de 
Outubro,  nas  casas  da  cadéa  d'esta  cidade  da  Bahia,  oade 
Teiu  o  Dr.  Bernardo  Tuíxeira  Coutinho  Alvares  de  Carva- 
lho, desembargador  do  pa{0  e  juiz  da  alçada,  commigo  es- 
mvio  abaixo  nomeado,  e  o  escrivão  assistente  o  desem- 
bargador José  Caetano  de  Paiva  Pereira,  ahi  elle  ministro 
mandou  vir  á  sua  presença  o  preso  Luiz  Francisco  de  Pau- 
la Cavalcanti  e  Albuquerque,  que  posto  em  sua  natural  li- 
berdade lhe  fez  as  perguntas  seguintes : 

Perguntado  seu  nome,  naturalidade,  morada,  estado, 
idade  e  occupação. 

Respondeu  que  se  chamava  Luiz  Francisco  de  Paula 
Cavalcanti  e  Albuquerque,  natural  da  fireguezia  de  Sanio 

TOHO  XXXI.  P.  I.  as 


Dictzedby  Google 


-  214  - 

Amaro  de  J^ihoalão,  termo  de  Oliada.morador  no  seu  enge- 
nho de  Souij  André,  termo  do  Recife,  solteiro,  de  quarenta 
e  seis  annos,  coroutíl  de  milícias  de  Olinda  e  agricultor. 

Perguntado  se  ratificava  quanto  havia  respondido  nas 
perguntas  que  se  lhe  fizeram  no  Recife,  ou  se  tinha  que 
accrescentar,  diminuir  ou  declarar  alguma  cousa. 

Repoudeu  que  ratificava  tudo  quanto  havia  respondido, 
e  somente  declarava  que  elle  não  viu  portaria  ou  carta  de 
nomeação  de  conselheiro,  do  deão  Bernardo  Luiz  Ferreira 
Portugal,  ainda  qge  o  viu  algumas  vezes  nas  sessões  dos 
conselheiros,  e  ouviu  dizer  que  ers  conselheiro.  E  tinha  a 
accrescenlar  em  sua  defesa,  como  tinha  dito,  que  quando 
elle  e  seu  irmão  Francisco  de  Pauia  tinham  entrado  no 
Recife  no  dito  dia  sete  de  Março  de  manhã,  para  saberem 
oque  se  linha  passada  e  para  que  fím  era  aquelle  harulho, 
depois  de  conhecerem  o  que  era,  convencionaram  entre 
si  de  se  sujeitarem  ás  circumstancias ;  mas  de'  trabalha- 
'  rem  de  commum,  para  ou  se  escaparem,  ou  fazerem  uma 
contra  revolução  se  a  podessem  fazer ;  que  elle  responden- 
te fez  o  que  tem  dito,  e  que  seu  irmão  fez  o  que  elle  tam- 
bém fez  para  o  dito  Bm;  que,  recolhendo-se  elle  respon- 
dente do  sobredito  engenho  de  Merinos  ao  Recife  no  dia 
dezesete  de  Maio  á  noite,  no  dia  dezoito  de  manhã,  vendo 
que  os  rebeldes  estavam  em  acto  de  resistência,  e  que 
queriam  ir  com  toda  a  sua  força  atacar  o  marechal  no  lu- 
gar em  que  o  encontrassem,  os  procurou  e  lhes  exagerou 
quanto  pAde  as  forças  do  mesmo  marechal,  afim  de  que 
elles  tomassem  antes  o  partido  de  fugirem,  e  o  dito  seu 
irmão  o  ajudou  a  isto  mesmo ;  em  consequência  d'esta 
conversa  fizeram  elles  um  conselho,  em  que  votaram  os 
chefes  de  tropa,  não  obstante  ser  Dooiingos  Theotonio  o 
único  que  então  governava,  e  no  conselho  foi  elle  respon- 
dente e  seu  irmão  vencidos  em  votos ;  porém  elle  e  seu 


Dictzedby  Google 


irmio  oSo  desistiram  oCesta  preleoç&o,  e  foram  repetir  a. 
mescDa  exageração  ao  padre  Pedro  de  Sousa  Tenório,  e  the 
eDlregaram  uma  carta  fingida  como  vioda  do  Cabo,  em  que 
pozeram  por  escripto  a  mesma  exageração ;  este  a  foi  mos- 
trar a  Domingos  Theotouio  Jorge,  o  qual  persuadindo- se 
eolão  se  resolveu  e  tomou  a  deliberação  de  se  retirar  ;  e 
declarou  que  esta  operação  somente  foi  feita  por  elle  e  seu 
irmão,  a  que  é  verdade  que  ambos  a  communicaram  a 
José  Carlos  Mairíok,  mas  foi  somente  a  elle,  e  depois  ds  a 
terem  executado,  e  lhe  parece  que  foi  no  dia  dezenove  de 
manhã  ;  o  qual  a  epprovou  e  prometteu  auxiliar  quanto 
podasse.  Em  consequência  de  ficar  persuadido  o  dito  Do- 
mingos Theotonjo,  deu  ordem  para  todas  as  tropas  se  ajun- 
tarem no  dia  19  de  Maio  de  manhã,  parte  na  Soledade, 
e  parle  no  Campo  doHospital,e  juntar  ellas;  appareceu  elle 
e  leu  uma  prodamaçãd,  em  que  dizia  que  tinha  tentado 
capitular  com  o  commandante  do  bloqueio;  que  este  se 
tinha  negado  a  etla,  e  dito  que  as  tropas  haviam  de  ser 
quinftdas,  que  por  este  motivo  tinha  resolvido  relirar-se 
com  ellas  para  o  norte,  para  ahi  se  fazer  forte,  e  esperar 
auxílios  que  esperava  para  depois  defender-se  melhor,  e 
deu  ordem  que  de  tarde  pelas  ires  horas  haviam  de  partir. 
E  em  particular  disse  a  alguns,  como  foi  a  elle  respondente 
e  seu  irmão,  que  ia  destruir  as  fortalezas,  encravar  a  ar- 
tilberia,  inutilisar  tudo,  e  tudo  destruir,  para  que  não  ser^  ^ 
visse  aos  reul^tas  ;  e  que  também  queria  arruinar  o  matar 
varfas  pessoas  de  quem  desconGaTa.  Vendo  isto  elle  res- 
pondente e  o  dito  seu  irmão,  se  lhe  offereceram  logo  am- 
bos, etie  respondente  para  ficar  com  o  commando  das  for- 
talezas, promettendo-lhe  executar  os  seus  projectos  (Veja 
o  juramento  de  José  Peres  Campello),  e  o  dito  seu  irmão 
y)  ufforecou  para  ficar  com  o  commando  da  villa  do  Recife 
e  Saa\o  António,  fazendo  a  mesma  promessa,  e  elle  aceitou 


Dictzedby  Google 


—  216  — 

estes  offerecímenlos,  e  deu  as  ordens  necessárias  ;  e  assim 
conseguiram  Dão  se  executar  os  seus  projectos  como  pre- 
tenderam pelas  suas  promessas.  E  elle  respondente  logo 
que  recebeu  a  ordem  de  ficar  com  as  fortalezas  foi  &  do 
Brum,  que  commandava  seu  sobrinho  Francisco  de  Paula, 
elbe  commuoicou  o  seu  segredo,  e  o  põz  de  acoordo  para 
no  outro  dia  de  manhã  se  levantar  as  bandeiras  reaes,  e 
foi  também  á  do  Buraco,  que  estava  commandsda  por  Pe- 
dro António,  e  sem  lhe  communicar  o  segredo  lhe  disse, 
que  não  executasse  quaesquer  ordens  que  tivesse  sem  or- 
dem sua  especial,  porque  agora  tinha  o  commando  para 
assim  se  executar,  e  o  mesmo  mandou  diiter  aos  comman- 
danles  das  outras  fortalezas  ;  e  se  recolheu  á  fortaleza  das 
Cinco  Pontas, tendo  communicaJo  isto  que  fez  ao  dito  seu 
irmão  Francisco  de  Paula,  para  obrarem  deaccordo,  e  não 
o  communicou  a  mais  alguém  por  causa  do  segredo.  De- 
pois de  estar  na  dila  fortaleza  das  Cinco  Pontas,  e  ter  a 
certoia  de  ter  Domingos  Theotonio  com  a  tropa  evacuado 
o  Recife,  o  que  so  effectuou  ao  anoitecer,  mandou  frechar 
as  portas  da  fortaleza  para  não  sabir  alguém,  e  mandou 
abrir  a  prisão  em  que  estava  José  Ignacio  Boi^s  e  condu- 
zil-o  ao  seu  quarto  ;  ahi  lhe  communicou  lodo  o  segredo, 
e  lhe  disse  que  o  aconselhasse  no  mais  que  queria  fazer, 
a  saber,  se  havia  soltar  os  presos  logo,  e  se  havia  de  le- 
*  vanlar  bandeira  real  pela  manhã  ao  toque  de  alvorada,  e 
elle  respondeu  que  não  soltasse  preso  algum 'para  que  nio 
chegasse  a  noticia  aos  rebeldes,  e  que  só  fizesse  de  manhã 
e  já  tarde  depois  dé  poderem  cnnjei;lurar  dVlles  estarem 
mais  longe,  e  que  no  mesmo  levantasse  também  as  ban- 
deiras. Depoi?  de  terem  assentado  n^slo  passado  algum 
tempo  bateram  á  fortaleza,  e  dizendo-se-lhe  que  ora' José 
Carlos  Mairink,  o  mandou  conduzir  ao  seu  quarto,  o  es- 
tando todos  três,  lhe  communicou  o  que  tinha  tratado  com 


Dictzedby  Google 


-  217   - 

José  Iguacio  Borges,e  Ibe  dissesse  que  lhe  procurasse  uma 
tuDiieira,  porque  a  não  tiaba  na  fortaleza  ;  coacordaado 
elle  em  tudo,  sabíu  e  lhe  mandou  um  bilhete  escripto  por 
Gervásio  Pires  I''crreira  para  um  seu  capitão  <Ie  navio  Ibo 
mandar  ama  bandeira,  o  qual  cam  elTeito  lb'a  mandou 
n'e5sa  mesma  noite;  e  no  dia  vinte  pelas  sete  horas  da 
manhã,  o  mandou  levantar  e  dizer  ás^ulras  fortalezas  que 
fizessem  o  mesmo,  e  também  mandou  soltar  n^uquella  for- 
taleza e  nas  outras;  c  o  dito  José  Ignaeio  Borges,  ficando 
solto  ás  ditas  horas,  se  ofTereceu  para  ir  dar  parte  ao  com- 
mandanle  do  bloqueio,  e  foi ;  c  depois  d^elle  appareccu  José 
Carlos  Mairink  com  uma  carta  já  feita  cm  que  dava  parte  ao 
dilo  commandante  do  bloqueio,  e  elle  respondente  mandou 
apromptar  um  jangadeiro  para  a  levar,  como  levou.  Depois 
d'isto  veiu  um  official  de  parínha  mandado  por  Rodrigo 
Lobo,  para  verificaras  notícias  que  lhe  tinham  dado ;  viu 
as  outras  fortalezas,  c  veiu  ler  á  em  que  elle  respondente 
estava;  e  ahi  determinou  os  commandantes  que  haviam  ir 
para  os  fortalezas,  e  depois  fez  os  seus  signaes,  tendo-lbe 
elle  respondente  communicado  o  que  linha  feito ;  e  man- 
dou que  nas  Cinco  Pontas  licasse  Gonçalo  Marinho :  na 
tarde  do  mesmo  dia  veiu  o  commandante  do  bloqueio 
depois  dos  ditos  signaes,  e  tomou  conta  do  governo.  E  que 
sahindo  ia  fortaleza  des  Cinco  Pontas  o  dito  official  do 
marinha  sabiu  elle  respondente  com  elle,  de  tarde  foi  espe- 
rar o  dito  commandante  Lobo,  no  dia  21  foi  comprimen- 
lal-o  com  a  oQicialidade  do  seu  regimento,  e  se  reco- 
lheu á  casa  em  que  morava  no  bairro  de  Santo  António,  que 
l(^  largou,  e  foi  o  sitio  que  t3m  na  ilha,  que  é  immedialo  : 
n^esse  dia  mandou  odito  commandante  prender  ao  dito  seu 
irroio,  e  elle  respondente  esteve  no  seu  sitio  comroandando 
nseu  regimento  vários  dias;  depois  dos  quaos  soube,  que  n 
dito  commandante  o  mandara  prender,  o  os  executores  o 


Dictzedby  Google 


foram  buscar  no  eugenbo  de  Santo  André,  distante  quatro 
léguas,  sendo  publico  e  notório  que  elle  estava  no  dito 
sitio,  e  que  estava  commandando,  e  despachando  para  o 
seu  regimento  publicamenle.  E  vendo  elle  respondente  que 
se  procedia  assim,  e  julgando-se  innocenle,  Se  escondeu 
até  cbegar  novo  governador ;  e  quando  clIe  chegou,  tendo 
noticia  que  elle  se  informava  mais  de  quem  era  culpado, 
no  dia  23  de  Julho  se  lhe  foi  apresentar,  e  o  mandou  reco- 
lher á  fortaleza  das  Cíuco  Pofllas,  como  dito  tem,  onde 
licou  preso  ;  c  que  não  somente  fez  o  que  tem  dito  a  favor 
de  Sua  Magestade,  mas  que  também  no  mesmo  tempo  dos 
rebeldes  aconselhou  a  muitas  pessoas  que  os  não  seguissem 
não  só  no  Recif»,  mas  nos  mais  lugares,  onde  esteve,  e 
passou  :  que  isto  era  o  que  tinha  a  allegv  em  sua  defesa. 

E  sendo-lhe  apresentadas  as  suas'  assígaaturas,  que 
estão  na  carta  folhas  64,  e  proclamação  folhas  65  do 
appenso  P,  e  perguntado  se  as  reconhecia  como  suas. 

Respondeu  que  os  reconhecia  como  suas  próprias,  e 
eram  aquellas  carta  e  proclamação  de  que  fallou  nas  suas 
primeiras  perguntas  e  respostas  que  então  dea,  que  lhe 
foram  mandadas  já  escriptas  pelo  governo  rebelde,  e  que 
elle  se  viu  obrigado  a  assignar  como  então  disse. 

£  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguu- 
tas  por  acabadas,  e  lhe  deferiu  juramento  a^  Santos 
Evangelhos,  pelo  que  tocava  á  terceiro,  e  por  elle  recebido 
disse  que  ratificava  tudo  quanto  Unha  dito  pelo  que  tocava 
á  terceiras  pessoas;  e  lidas  a  elle  respondente  estas  pergun- 
tas, pelas  achar  conformes  ao  que  havia  respondido  assi- 
goou  com  elle  juiz  da  alçada,  escrivão  assistente,  e  eu  João 
Osório  de  Castro  Sousa  Falcão,  escrivão  da  mesma  Alçada 
que  o  escrevi  e  assignei.  —  Luiz  Francisco  de  Pátda 
Cavalcanti-  —  José  CaetaJio  ilc  Paiva  Pereira.  —  Jaiw 
Osório  de  Castro  Sousa  Falcão. 


D,:„l,;cdtvG00gIC 


—  ai9  — 

TEItCEtRiS  PERGUNTAS 

Aiino'do  oasciroento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo 
de  dail  oitocentos  e  dezoito,  aos  vinte  e  dois  dias  do  mez 
de  Oalobro,  nas  casas  da  cadfta  doesta  cidade  da  Babn, 
aonde  veiu  o  dito  desembargador  do  paço  e  juiz  da  al- 
çada, commigo  escrÍTão  e  escrivSo  assistente  abaixo  assig- 
oados,  abi  pelo  dito  ministro  foi  maadado  vír  á  sua  pre- 
sença  o  mesmo  réo  acima  referido  Luiz  Francisco  de  Taula 
Cavalcanti,  e  lhe  fez  as  perguntas  seguintes  : 

Perguntado  seu  nome,  naturalidade,  morada,  estado, 
idade  eoccupação. 

Respondeu  cbamar-se  Luiz  Francisco  de  Paula  Cavalcanli 
e  Albuquerque,  natural  da  freguezia  de  Santo  Amaro  de 
Jaboatão,  morador  no  seu  engenbo  de  Santo  André,  sol- 
teiro, de  51  annos  incompletos,  coronel  de  milícias  e 
agricullor. 

Pei^nlado  se  ratiSeava  todo  quanto  havia  respondido 
nas  perguntas  antecedentes,  e  se  (inba  que  declarar,  accres- 
centar  ou  diminuir  ajguma  cousa,  sendo-lhe  lidas  as  ditas 
perguntas. 

Respondeu  que  ratificava  tudo  quanto  havia  respon- 
dido, e  que  nada  mais  tinha  a  dizer. 

Perguntado  que,  visto  ter  feito  o  plano  sobredito  de 
fnpr,  ou  fazer  contrarevolução,  e  mais  o  dito  seu  irmão, 
dissesse  quem  eram  esses  homens  contra  quem  queria 
fazer  essa  contrarevotução. 

Respondeu  que  era  contra  aquelles  que  se  tinham  apo- 
derado do  governo  contra  Sua  Magestade,  e  vinham  a  ser 
os  membros  do  governo  insurgente,  que  eram  cinco  bem 
conhecidos,  que  pôde  ser  que  alguns  d^entre  estes  no  seu 
coraçfto  fosse  a  favor  de  Sua  Magestade,  porém  que  elle 
respondente  só  se  regulava  pelo  seu  exterior,  e  pelo  qua 


Dictzedby  Google 


—  no  - 

saostravam ;  e  que  lambem  eram  os  commaodaQtes  de 
Iropa  de  linha,  que  lodos  via  anidos  a  elles,  como  eram 
José  de  Barros  Lima,  Pedroso  commandaDte  do  regimeolo 
de  ínfaolaria,  e  os  cbefes  dos  batalhões  de  pardos  e  prelos, 
e  d'estes  eram  Joaquim  Ramos  de  Almeida  e  Tbomaz 
Ferreira  Tilla-Nova,  e  dos  pardos  um  Fu£o  Dornelas,  e 
outro  lhe  dôo  sabe  o  oome,  e  outros  mais  cujos  uomes  lhe 
não  lembrara,  tanto  da  tropa  como  fora  d'ella,  que  todos 
via  onidos,  e  não  sabe  o  seu  interior  se  alguns  d'eUes 
leriam  outros  sentimentos. 

E  instou  que  dissesse  a  verdade,  porque  constava  dos 
autos  que  os  rebeldes  no  dia  6  de  Março  á  noite  es- 
creveram varias  cartas  a  todos  os  seus  amigos,  e  que 
duas  d'eUas  haviam  de  ser  uma  para  elle  respondente, 
e  oalra*para  o  dito  seu  irmfto,  porque  constava  dos  mes- 
mos autos  que  ambos  frequentavam  os  adjuntos  noctur- 
nos e  diurnos  que  se  fizeram  para  este  levantammto  em 
casa  de  Domingos  José  Martins,  em  casa  do  Obogá,  em 
casa  de  Gervásio  Pires  Ferreira,  em  casa  do  padre  João 
Ribeiro  e  em  casa  do  cirurgião  Vicente  Ferreira  Peixoto  ; 
e  até  constava  que  jã  de  muitos  annos  ambos  cuidavam  de 
revolução,  porque  já  foram  denunciados  em  1801  e  outro 
seu  irmão  José  Francisco  de  Paula,  e  que  se  então  não 
appareceu  prova  feila  contra  elles,  que  a  falu  de  prova  não 
tirava  a  verdade,  e  que  os  indícios  e  a  fama  sempre  íicou 
contra  elles  entre  o  povo ;  e  que,  tendo  elles  esta  reputação 
e  fama,  não  podiam  os  outros  rebeldes  de  os  tratar  por 
seus  sócios,  e  muito  mais  frequentando  elles  os  seus 
adjuntos  como  âca  dito. 

Respondeu  que  depois  que  chegou  ao  Recife  com  o 
dito  seu  irmão,  quando  vieram  vôr  o  que  se  passava* 
soube  e  foi  publico  que  elles  tinham  escripto  na  noite  do 
^ii  6  muitas  cartas  a  muitas  pesadas,  porém  elle  res- 


Dictzedby  Google 


—  291  — 

poodeale  não  recebeu  carta  alguma,  nem  lhe  c(Hi9la  que 
seu  irmio  a  recebesse;  que  nunca  foi  aos  subredítos  ajun- 
ttmenles,  neco  também  aos  ditos  donos  das  cases  em  que 
elles  se  faziam,  nem  com  elles  lioba  relação  de  amizade, 
e  qae  somente  o  dito  padre  JoSo  Ribeiro  ia  algumas  vezes 
procurar  a  elle  respondente  á  sua  casa ;  e  que  tanto  os  nÍo 
rrequentava  que  tiavia  nove  mezes  que  não  ia  ao  Recife 
>(é  que  elles  fizeram  o  levantameuto:  que  na  sobredita 
denuncia  que  dizem  fizeram  contra  elle,  na  verdade  a  não 
fizeram  contra  elle  respondente,  e  sim  contra  os  ditos  seus 
irmãos ;  que  era  verdade  fdra  preso,  mas  foi  por  suspeita 
em  razão  de  viver  com  seu  irmão  Francisco  de  Paula; 
qna  apresentou  as  cartas  que  lhe  pediram;  que  se  seu 
irmSo  não  apresentou  alguma  não  sabe  a  razão-,  e  que 
a  denuncia  se  mostrou  falsa,  porque  elle  e  seu  irmão  foram 
soltos,  e  depois  fizeram  a  elle  respondente  coronel  do  seu 
regimento,  sendo  só  capitão.   - 

Instou  mais,  que  dissesse  a  verdade,  porque  quando 
chegou  e  mais  seu  {{"mio  ao  sitio  dos  Afogados,  e  achou 
um  destacamento  por  parte  dos  rebeldes,  como  acima 
disse;  traziam  um  maior  numero  de  gente  comsigo,'  e 
tinham  mandado  avisar  mais,  como  acima  disse,  e  por  isso 
nio  tinham  que  temer  d'e3te  corpo  que  acharam,  e  podiam 
quando  temer  sem  ir  para  o  Recife  por  ahí  haver  maior 
numero  de  gente,  voltarem  para  se  ajuntar  a  gente  que 
tinham  avisado,  e  fazer  uma  diversão  aos  rebeldes,  ou 
)l-os  atacar;  porque  n'e33e  tempo  elles  ainda  tinham  pe- 
queno partido,  e  havia,  muita  gente  por  parte  de  Sua 
Jfagestade,  que  se  lhe  unisse  e  defendesse  a  sua  causa. 
coroo  a  experiência  mostrou  depois,  e  nunca  deviam  entrar 
no  Recife  a  engrossar  suas  forças  como  engrossaram. 

Respondeu,  que  a  gente  que  traziam  comsigo  eram  de  or* 
deoanças,  que  afio  (ínham  armas  suSlcientes,  porque  a 

TONO  SXXI.  P.  I,  29 


Dictzedby  Google 


maior  parte  (l'elles  traziam  páos  e  chuços,  e  que  a  gente 
que  estava  avizada  era  d'esta  mesma  qualidade,  e  que  não 
tiaha  outras  armas,  e  pelo  oontrario  os  rebeldes  estavam 
senhores  de  todas  as  armas  e  munições  que  havia  oa  praça, 
porque  se  tinham  senhoreado  d'e]las,  e  fora  da  praça  oio 
havia  deposito  algum,  e  por  isso  não  podiam  atacar  cem 
Tacer  diversão.  E  com  effeito  entrou  no  Recife,  e  então  soube 
o  caso  como  havia  sido  antecedentemente  por  lhe  dizerem 
e  informarem,  que  antes  da  revolução  se  tinha  formado 
um  grande  partido  e  rixa  entre  brasileiros  e  européos;  que 
á  testa  do  partido  d'esles  se  pozeram  Alexandre  Thomaz, 
Manoel  Joaquim  Barbosa  de  Castro,  Luiz  António  Salasar 
Moscoso.  e  outros  que  lhe  não  lembram,  e  á  testa  do 
partido  brasileiro  o  padre  João  Ribeiro,  Domingos  José 
Martins,  Domingos  Theotonio  e  outros,  e  estes  partidos 
ohegaFara  a  dizer  dichotes  uns  aos  outros,  e  fazerem  pape- 
letas de  parte  a  parte,  e  isto  azedou  com  um  papd  que  fez 
o  DeSo  Bernardo  Luiz  Ferreira  Portugal,  defendendo  a 
liberdade  d'uma  escrava  contra  um  europèo,  em  que  lem- 
brou factos  antigos  d'es(es  contra  aquelles,  e  chegou  o  caso 
a  tanto  que  houveram  denuncias  ao  general,  feitas  pelos 
europftos,  os  quaes  metteram  a'ostas  denuncias  o  desem- 
bai^ador  José  da  Cruz  Ferreira,  e  a  consequência  d'isto  foi 
fazer  o  governador  um  conselho  dos  officíaes  generaes,  e  os 
priocipaes  do  partido  européo  eram  vogaes,  e  decidiram 
qae  se  prendessem  os  que  elles  disseram ;  José  Roberto  foi 
incumbido  de  prender  os  paisanos;  o  Salassr  os  que  eram 
officiaes  do  seu  remonto,  e  o  dito  Manoel  Joaquim 
Barbosa  os  do  seu  regimento  de  artílhería ;  e  para  exesutar 
íslo  os  mandou  ir  aos  quarteís  no  mesmo  dia  ás'  duas 
horas,  e  ahi  principiou  por  uma  falia  em  que  os  descom- 
puaha;  mondou  conduzirá  fortaleza  Domingos  TbeotODÍo, 
«  sofaindo  este  deu  a  voz  de  preso  a  José  de  Barros  Lima, 


Dictzedby  Google 


com  quem  linha  grandes  intrigas  por  causa  d'u[na  prMe- 
riçâo,  e  este  pucboa  da  espada,  e  lhe  deu  unia  estocada, 
e  outros  lhe  deram  mais  até  que  o  mataram ;  chegando  » 
oalicia  d'ísto  ao  palácio,  sahiu  Alexandre  Thomaz  só,  e. 
partia  só  sem  patrulha  a  acudir  a  desordem,  chega  aos 
quartéis  mandou  armar  alguns  soldados  de  infantaria  qne 
Tm ;  mas  a  esse  tempo  os  que  tinham  feito  a  morte  tinham 
desddo  para  baixo,  e  mandado  armar  alguns  soldados, 
e  a  estes  mandatam  dar  f(%o,  e  matar  o  dito  Alexandre 
Thomaz ;  quando  chegou  a  noticia  a  palácio  o  governador 
fugiu  com  osofflciaes  que  tinha  comsigo,  levando  comsigo 
8  guarda ;  aquellesque  se  viram  perdidos  (limidos)  locaraoh 
rebate,  juntaram  gente  e  engrossaram  suas  forças ;  e  tendo 
notícia  que  José  Roberto  eslava  no  campo  do  Irario  com 
muitos  auxiliares, Pedro  da  Silva  Pedroso  partiu  para  lico» 
uma  patrulha  njo  grande,  e  José  Roberto  o  nAo  ataca,  o 
commandante  da  guarda  do  erário  com  os  poucos  soldados 
que  tinha  se  pâz  em  armas,  o  Pedroso  mandou  preparai 
para  dar  fogo,  ocommandante  da  guarda  fez  o  mesmo  oem 
os  poucos  soldados  que  tinha ;  o  Pedroso  tendo  medo 
volta  e  se  retira,  e  porque  José  Roberto  não  o  per- 
seguiu, foi  ter  ã  cadéa,  soltou  os  presos  entre  oi  quaes 
estava  Domingos  Josó  Martins,  repartiu-lhes  srrmas  nos 
quartéis,  e  todos  se  armaram,  e  com  a  gente  que  foram 
ajuntando  fizeram  a  desordem  d'aque]!e  dia,  no  fira  te 
qual  foram  outra  vez  ao  campo  do  Erário,  onde  estava 
José  Roberto,  este  lhe  faz  entrega  e  parte  para  o  Bruia,  e 
riles  se  apoderaram  de  tudo,  assim  como  também  tomainm 
a  cidade  de  Olinda ;  e  depois  s«  s^fuiu  tudo  o  maia  da 
revolução. 

E  doesta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas  pw 
findas,  que  Hdas  ao  respondente  disse  estarrai  conformH; 
de  que  damos  fé,  e  assignou  cora  dte  miniitro,  esMivi» 


Dictzedby  Google 


_  32i  — 

assistente,  e  eu  João  Osório  de  Castro  Sousa  Faleãu, 
escrivão  ds  alçada,  que  o  escrevi  e  assignel ;  e  declaro  que 
os  segunda  regra  d'esta  pagiaa  a  palavra  —  perdidos  —  se 
deve  ter—  timidos— porque  assim  o  disse  elle  respondeale ; 
e  porque  assim  o  declarou,  assigoou  com  os  sobreditos, 
e  eu  João  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão,  que  o  escrevi 
e  assignei. —  Luix  Francisco  de  Paula  Cavalcanti.  —  Joté 
Caetano  de  Paiva  Pereira.  —  João  Osório  de  Castro  Sotua 
Fakão. 


QUARTAS  PERGUNTAS 

•  Adbo  do  nascimento  de  Nosso  Senbor  Jesus  Cbriski 
de  mil  oitocentos  e  dezoito,  aos  vinte  e  três  dias  do  mez 
de  Outubro,  nas  casas  da  cadéa  d'esta  cidade  da  Bahis, 
■onde  veiu  o  desembatgador  do  paço  e  juiz  da  alçada 
o  Dr.  Bernardo  Teixeira  Coutinho  Alvares  de  Carvalho, 
oommtgo  escrivão  e  escrivão  assistente  abaixo  nssignados, 
fthi  mandou  vir  á  sua  presença  a  Luiz  Francisco  de  Paula 
Cavalcanti  e  Albuquerque,  ao  qual  fez  as  pei^untas  pela 
fónna  seguinte,  em  ratificação  das  antecedentes,  e  conti- 
nuação de  outras. 

■  Perganlado  se  ratificava  tudo  quanto  bavia  respondido 
nas  perguntas  antecedentes,  que  D'este  acto  lhe  foram  lidas, 
ou  se  tioba  que  accrescentar,  diminuir  ou  declarar  alguma 
eoosa. 

Bespondeu  que  ratiitcava  tudo  quanto  bavia  respon- 
dido, e  nada  mais  tinha  que  declarar. 

Instou  mais  que  declarasse  a  verdade,  porque  constava 
dos  autos,  e  era  publico  e  notório  que  a  emulação,  que  fez 
partidos  enire  europtos  e  brasileiros,  não  era  privativa 
ia  Nroambucú,  mas  sim  gerul  ao  Brasil,  u  quo  eita  mesma 


Dictzedby  Google 


—  iiS  — 

s«via  d'um  bem,  que  vinba  a  ser  de  trabalbarem  todos 
para  querer  distinguir-se  no  bem  publico  e  comroam,  e 
de  nenhum  se  entregarem  á  preguiça,  e  de  apurarem  todos 
nas  sctenoias  e  nas  artes ;  que  também  era  publico  e  notó- 
rio que  05  insolentes  se  serviram  d'esta  emulação  para 
eocobrirem  os  seus  projectos,  e  responderem,  quando 
houvesse  alguma  denuncia,  que  os  adjuntos  que  faziam  era 
por  causa  d'esta  emulação  e  se  defenderem  dos  européos, 
eque  assim  o  fizeram  em  Pernambuco,  enganando  d'esta 
maneira  o  governador,  para  elle  náo  dar  as  providencias 
necessárias  a  este  respeito,  como  se  vê  da  sua  proclamação 
e  ordem  do  dia  dos  dias  quatro  e  cinco  de  Marco ;  o  que 
lambem  se  vA  dos  autos,  que  se  trabalhava  ao  projecto  da 
revolução  em- Pernambuco  ha  muitos  aonos,  nSo  só  por- 
que a  maior  parfe  dos  rebeldes  o  dâclararem,  e  se  gabavam 
publicamente  de  que  ella  tinha  sido  o  fruclo,  uns  de  sete, 
outros  de  nove,  outros  de  quinze,  outros  de  vinte  aonos; 
que  Pbilippe  Neri  e  seu  irmão  se  foram  estabelecer  no 
Rio-Grande  a  pretexto  de  negociar,  aSm  de  lá  formar  par- 
tidos e  espalhar  idéas  revolucionarias ;  Domingos  Theotooio 
foi  ao  Rio  de  Janeiro  ao  mesmo  lim  a  pretexto  de  des- 
pachos, e  que  de  lá  veiu  estar  na  Bahia  para  o  mesmo 
projecto;  que  o  irmão  d'elle  testemunha  foi  ao  Aracaty  com 
o  cíniTgiSo  Serpa  já  fallecido,  e  de  lá  veiu  pelo  Rio-Grande 
e  Parahjbd,  formando  gente  ao  seu  partido;  que  isto  é 
tão  publico,  que  os  mesmos  rebeldes  em  seus  conselhos, 
a  que  elle  mesmo  respondente  assistiu,  e  em  suas  procla- 
mações o  declararam ;  e  até  mesmo  quando  Domingos 
Theotonio  se  retirou  para  o  uorte  declarou  que  ia  lá 
buscar  os  auxilies  que  tinha,  comodle  mesmo  respondente 
disse  acima ;  que  é  verdade  que  o  rompimento  foi  repen- 
linOf  mas  foi  porque  as  denuncias  dadas  ao  general  e.as 
unlens  d'osta  o  fez  abreviar   e  sahír   antes  do  dia  [HV- 


D,:„l,;cdtv  Google 


jMtado,  que  «ra  o  dia  seis  ile  Abril,  dis  d«  acelameçSo 
de  Soa  MagQstade;  qae  tanto  os  rebeldes  estavam  s^uros 
dos  ditos  Irabaihos  qua  tinham  feito  para  formar  partidos, 
qae,  quando  mandaram  o  governador  Caetano  Pialo  para  o 
Rio  de  Janeiro,  mandanoi  com  pena  de  morte  ao  capitão 
e  mais  olHcíalidode  da  embarcação,  que  fossem  com  ban- 
deira parlamentaria  e  com  ella  entrassem  na  barra  do  Rio 
de  Janeiro;  o  quede  certo  nâo  fariam  seahi  não  enten- 
dessem ter  partido,  porque  d'outra  maneira  era  ir  metler 
estes  homens  a  pena  de  morte,  que  Ibe  competia  pela  lei 
por  serem  unidos  aos  rebeldes  e  sujeitar-se  a  perder  a 
embarcação,  que  pela  mesma  lei  devia  ser  confiscada ;  qnc 
05  mesmos  rebeldes  no  seu  conselho,  a  que  assistiu  elle 
respondeste  e  seu  irmão,  autorisaram  a  Domingos  José 
Martins,  por  um  decreto  feito  perante  todos,  para  ir  fretar 
uma  embarcação  pelo  dinheiro  que  podesse  ajustar,  para 
ir  a  Moçambique  buscar  e  tnzer  ao  irmão  d*^e  respon- 
dente José  Franúsco  de  Poula ;  que  com  effeito  o  dito 
ajustou  a  embarcação  e  foi  por  oito  contos  de  réis,  dando 
logo  cinco  á  vista,  e  Ires  na  volla ;  o  que  se  não  p6de  con- 
siderar que  se  fizesse  sem  ter  ajustado  com  elle  de  vir 
unir-se  á  rovoluçáo,  e  vir  fazer  a  sua  força  por  ser  militar 
muito  faabil;  que,  supposto  elle  não  veiu  oa  dita  embar- 
cação, foi  por  ter  noticias  por  outra  embarcação  que  do 
Rio  de  Janeiro  tinha  chiado  antes,  e  contado  as  forças 
que  por  maré  terra  se  tinham  mandado  eonln  Tenambuco, 
pelos  quaes  via  não  podia  entrar  n'aqaella  embarcação 
sem  forças  maiores  que  d3o  tinha. 

Respondeu  que  elle  não  sabe  se  em  PernSrabuco  e  no 
mais  Brasil  havia  de  antigo  emulação  entre  europèos  e 
bnsileiros,  porque  vivia  em  sua  casa  e  não  costumava 
frequentar  as  casas  dos  outros ;  que  6  verdade  que  esta 
emulação  levada   pelos  seus  devidos  lermos  pôde  ser  um 


Dictzedby  Google 


-  ái7  — 

bem,  mas  que  levada  ao  ponto  de  fazer  rixas,  como  aeou- 
leceu  em  Peroambaco,  é  um  mal ;  qae  nio  sabe  se  os 
rebeldes  se  serviram  d'elta  para  pretexto  paia  encobrir  os 
seus  projectos ;  mas  qae  tanto  se  podiam  servir  d'islo  os 
eorepdos  como  os  brasileiros,  e  que  lhe  consta  que  os 
européos  faziam  parte  dos  ajunlameotos,  e  que  elUi 
respondente  nunca  foi  aos  ajuntamentos  dos  brasileiros, 
nem  sabe  qae  os  fizessem  ;  e  ouvia  dizer  que  os  européos 
se  ajuntavam  em  casa  de  um  Manoel  Caetano,  logista,  que 
não  conhece ;  e  que  elle  não  sabia  se  os  rebeldes  se  ser- 
viram d'este  pretexto  para  enganar  o  g;ovemador;que  é  rer- 
dadt)  que  este  sabiu  com  a  dita  proclamação  e  ordem  do 
dia,  em  que  racommendava  que  não  houvessem  partidos 
entre  brasileiros  e  européos,  que  fossem  todos  unidos  e 
amigos;  porém  com  isto  augmentou  o  mal,  porque  fez 
saber  ao  povo  o  que  elle  gorava,  e  é  certo  que  o  povo, 
dando-se-tbe  idéas  de  que  p6de  alguma  cousa,  se  enche 
de  soberba  e  se  faz  peior,  o  que  aconteceu  entio  em  fet- 
narobuco ;  porque  disseram  então  a  elle  respondente  que, 
quando  os  soldados  ouviram  ler  a  dita  ordem  do  dia  e  pro- 
clamação, houve  enhre  elles  um  grande  sussurro ;  e  disse 
mais  que  é  verdade  que  os  rebeldes  em  seus  conselhos, 
e  principalmente  Domingos  José  Martins  e  Domingos 
Theotonio,  se  gabavam  e  faziam  publicar  em  suas  pro- 
clamações que  eram  do  seu  partido  as  mais  capitanias  do 
Brasil  e  alguns  reinos  estrangeiros ;  e  o  dilo  Domingos 
José  Martins  até  disse  tinha  gasto  mais  de  vinte  contos  de 
r^s  do  seu  dinheiro  para  esta  revolução  :  porém  elle  res~ 
pondenle  examinou  que  tudo  isto  era  falso,  e  que  elles 
espalhavam  estas  notícias  para  unir  o  povo  a  elles,  e  o 
fazerem  cuidar  que  a  revolução  se  sustentava :  que  não 
sabe  se  Phílippe  Neri  e  dilo  seu  irmão  foram  para  o  Rio 
Grande  fazer  partido  de  revolução,  antes  presume  qae  não, 


Dictzedby  Google 


porqoe  eram  mui  rapazes  enião,  e  aio  tiobam  meios  Mm 
instracçlo  para  isso ;  e  que  seu  pai  os  Eoandíra  pira  lá 
para  evitar-lbes  algumas  travessuras  de  rapazes  que  em 
Pernambuco  faziam,  e  os  pdz  debaixo  da  vigia  e  direcç&o 
de  seus  correspoodeutes ;  que  seu  irmão  é  verdade  que 
fdra  fazer  a  dita  viagem,  mas  foi  em  razão  da  queixa  de 
peito  que  lem,  pelo  assim  determioarem  os  médicos  em 
janta,  e  levou  comsigo  o  dito  cirurgião  Serpa,  já  defunto, 
e  para  o  curar  nos  incidentes  que  houvesse,  e  que  de  facto 
melhorou  no  sertão,  posto  que  quando  chegou  a  Pernam- 
buco a  queixa  voltou  ao  mesmo;  e  que  na  volta  doAracaty 
não  Toiu  pelo  Rio-Grande,  mas  veiu  pela  Parahyba  para 
vér  soa  fílba  casada  com  José  Castor  Barbosa  Cordeiro  ; 
e  tanlo  não  foi  pare  seduzir  que  nem  este  seduzia,  porque 
sempre  foi  realista  e  nSo  entrou  na  revolução  da  Parabyba. 
E  que  Domingos  Tbeotonio,  ouviu  dizer,  que  fora  ao  Rio 
de  Janeiro  a  seus  despachos,  e  que  voltara  por  falia  de 
dinheiro  para  ohi  se  conservar  mais  tempo,  o  que  viera 
pela  Bahia,  por  d'ahi  ser  a  embarcação  que  acboa  mais 
prompta  ;  que  nio  sabe  que  oUes  estivessem  preparados 
e  para  fazer  revolução  no  dia  seis  de  abril.nem  soube  n^a- 
qnelle  tempo;  que  nfto  assistira  á  deliberação  que  os 
rebeldes  tomaram  a  respeito  da  ida  de  Caetano  Pinto  para 
o  Aio  de  Janeiro  e  navio  que  o  levou,  e  só  soube  d'esta 
ida  no  dia  em  que  elle  embarcou;  igualmente  não  sabe  das 
ordens  que  deram  ao  mestre  da  embarcação  e  mais  officiaes. 
E  disse  que  não  assistiu  á  deliberação  que  os  rebeldes  to- 
maram de  mandar  vir  seu  irmão  José  Francisco  de  Pauta  ; 
que  somente  soube  d'ella  depois  de  tomada ;  que  instou 
contra  ella,  expondo  os  sentimento  de  seu  irmão ;  e  decla- 
rando lhes  que  elle  não  havia  deixsro  certo  pelo  duvidoso, 
que  estava  bem  e  se  não  havia  de  arriscar  a  ficar  mal ;  e 
que  elles  mesmos  rebeldes  não  tinham  a  dar-lbe  mais  do 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  a«9  — 

quB  ell«  já  tÍDba ;  porém  «iles,  nfto  obstante  as  repetidas 
iostancias  que  lhes  fez,  insistiram  no  seu  projecto  de  man- 
dar B  embarcação;  mas  que  eile  não  sabe  quem  foi  o 
mestre,  nem  quem  fez  o  ajuste,  nem  n^isso  ioterreiui 
Inslon  que  dissesse  a  verdade,  porque  os  rebeldes, 
quando  elle  vindo  de  sua  caça  para  o  Recife  para  exami- 
nar o  que  se  passava  como  dito  tem,  antes  de  chorem,  e 
saberem  que  tinha  chiado,  o  nomearam  governador  da 
fortaleça  das  Cinco  Pontas,  porque  quando  elle  respon- 
dente alli  ch^ou  já  ahi  estava  um  portador  a  espersl-o 
com  a  dita  nomeação,  a  qual  elle  respondente  aceitou  ahi 
mesmo  sem  ter  ido  saber  o  que  se  passava,  signal  de  que 
j<t  o  sabia,  e  os  reputava  com  autoridade  capaz  para  o  no- 
mearem ;  porque  aliás  se  desculparia,  e  diria  que  lhes 
queria  ir  fallar  primeiro,  para  saber  o  partido  que  havia  de 
tomar,  se  pró  ou  contra. 

hespondeu  que  os  rebeldes  já  sabiam  que  elle  respon- 
dente vinha,  porque  quando  chegou  com  seu  irmão  aos 
Afogados  mandou  dois  offlciaes  dos  que  trazínm,  a.  saber 
onde  estava  o  governador  e  se  Ibe  podiam  fallar,  e  por 
onde  podiam  entrar  para  isso ;  que  estes  trouxeram  a  res- 
posta, que  o  general  tinha  entregue  o  governo  aos  rebeldes, 
o  que  os  que  estavam  á  testa  d'elle  lhe  mandavam  dizer 
que  eUes   mandavam  que   entrassem,  que  viessem   sem 
medo,  mas  que  sem  falta  viessem ;  e  que  vindo  e  cbegando 
ás  Cinco  Pontas  ahi  encontrou  uma  patrulha  de   trinta  a 
quarenta   homens,   cujo  commandante  lhe  intimou   que 
elles  lhe  mandavam  que  elle  tomasse  conta  da  fortaleza,  e 
que  desculpando-se,  dizendo  que  queria  fallar-lhes  pri- 
meiro, mas  que  elle  não  admiltiu  desculpa,  e  que  por  isso 
aceitou ;  mas  depois  de  entrar  na  fortaleza  a  entregou  aos 
mesmos,  dizendu-lbes  que  ia  fallar  aos  ditos  representantes 
como  foi,  e  que  elles  o  não  nomearam  porque  entre  elle 
TOMO  xxxt,  p.  1  30 


Dictzedby  Google 


respondente  e  elles  hoaVesse  dguma  correspondência  aa- 
tenor;  e  que  pensa  súmenle  o  nomearam  por  elle  ser 
pessoa  de  representação,  para  assim  impor  ao  povo  e  fazer 
crer  que  tinham  pessoas  de  representaj^o  no  seu  partido. 
Instou  mais  que  dissesse  a  verdade,  que  a  imposição 
ao  povo  de  o  fazer  crer  que  tinham  pessoas  de  represen- 
tação a  seu  favor,  elles  não  eram  loucos,  que  o  fizessem 
com  perigo  seu  próprio  cnmo  era  n'este  caso  de  entregar 
a  fortaleza  a  um  homoiu  que  não  conhecessem,  e  de  cujos 
sentimentos  não  estivessem  certos ;  porque  podia  a  mesmo 
fortaleza  batél-os,  fazer-lhe  destruição,  e  formar  partido 
a  seu  favor,  porque  a  gente  que  fosse  realista,  como  era 
muita,  e  a  experiência  mostrou,  podia  recolher-se  á  forta- 
leza, e  ahi  fazer-se  forte ;  e  que  nem  elle  respondente  se 
pôde  valer  de  querer  dizer  que  na  mesma  fortaleza  não 
havia  força,  e  que  ella  ora  insignificante  para  os  bater  e 
fazer  resistência,  porque  se  o  fosse  não  Cariam  caso  d'ella, 
nem  lhe  poriam  commandanie  escolhido  por  elles  mesmos. 
Respondeu  que  a  fortaleza  das  Cinco  Pontas,  que  entre- 
garam a  elle  respondente,  era  para  elles  um  ponto  insigoi- 
Ucaníe,  de  maneira  que  cuidaram  em  se  apoderar  das 
outras  anles  d'esla;  que  elle  respondente  não  viu  esperan- 
ças de  fazer  n'ella  alguma  cousa  contra  elles ;  que  n'ella 
não   viu  munições  de  guerra,  nem  de  boca  j  que  a  guar-r 
niçâo  que  ahi  achou,  toda  ora  do  partido  d^elles,  e  também 
nada  podiam  por  falta  de  munições ;  e  que  o  povo  mesmo 
quando  foi  entrando  era  lodos  gritarem  a  favor  d'el)es, 
sem  dar  a  menor  mostra  de  realista,  sem  que  elle  respon- 
dente podesse  saber  os  seus  corações ;  e  que  tanto  elles 
reputavam  esta  fortaleza  insignificante,  que  somente  a 
armaram  quando  para  ella  passaram  os  presos  que  tinham 
Qà  fortaleza  do  Brum,  o  que  fizeram  vários  dias  depois  de 
lh'a  entregarem. 


Dictzedby  Google 


—  9$1  — 

ioBlou  mais  que  dissesse  a  vardade,  quaodo  entregou  « 
fortaleza  é  dita  guaraição  e  sahiu  não  foi,  como  cODSla  dos 
autos,  em  direilurs  aos  rebeldes,  e  ioformar-se  com  elles, 
mas  entrou  primeiro  na  casa  do  coU^io,  residência  dos 
governadores,  e  ahi  esteve  muito  tempo  antes  de  ir  faltar 
com  elles,  o  que  mostra  que  elle  nealium  interesse  tinha  em 
fallar-ihes,  e  tudo  o  que  tem  mostrado  é  dito  arbitra- 
riameote. 

Respondeu  que  não  entrara  no  dito  collegio,  nem  o 
susto  com  que  entrou  deu  lugar  a  desvíar-se  do  caminho 
mais  perto  de  chegar  aos  rebeldes,  porque  pelo  caminho 
foi  vendo,  sempre  veudo  patrulhas  armadas  e  tumulto  de 
que  se  receiou,  e  n^esse  tempo  não  soube  que  estivesse 
pessoa  alguma  no  dito  collegio,  e  somente  depois  que  fallou 
com  os  rebeldes  no  campo  do  Erário  ouviu  dizer  que  lá 
estava  Domingos  Theotoiíio  com  sua  guarda. 

Instou  mais  que  declarasse  a  verdade,  porque  não  era 
segundo  ella  o  que  acima  disse;  que  entrara  no  serviço 
dos  rebeldes  com  animo  de  fazer  contra-revolução  ou  de 
fugir,  porque  quando  aceitou  o  commando  do  mar  teve 
mna  occasião  opportuna  de  fugir  e  o  tiúo  fez ,  e  quando 
aceitou  o  commando  das  tropas  para  o  sul,  em  Porto 
de  Pedras,  teve  boa  occasião  de  se  unir  a  este  povo,  e 
augmentar  as  suas  forças,  e  o  não  fez ;  quando  d'abi  voltou 
para  o  Cabo  e  ahi  chegou,  podia  engrossar  o  partido  que 
ahi  se  formou  contra  os  rebeldes,  e  ajudal-os;  jii  então 
assim  como  em  Porto  de  Pedras  havia  o  grande  apoio  das 
Alagdas,  que  está  levantada  contra  os  rebeldes,  o  que  serviu 
de  apoio  aos  ditos  povos  e  ao  de  Porto  de  Pedras,  e  já 
estava  no  mar  o  bloqueio  da  Bahia,  que  serviu  de  apoio 
aos  ditos  povos,  e  lhes  dou  soccorros  que  lhes  foram  pedir ; 
o  podia  ir  augmentar  as  fon.'as  que  em  litinga  bateram 
muito  seu  irmão  Francisco  de  Paula,  o  u  lizeram  fugir;  que 


Dictzedby  Google 


—  as2  — 

faria  astrameoer  os  rebeldes,  veado  que  seus  geaenes  pría- 
eiptaTam  a  faltar,  o  que  tem  acontecido  em  todas  as  guerras 
onde  islo  lem  acouteeido ;  e  faria  que  o  dito  seu  irmão 
s^uisse  o  seu  esemplo,  e  eTílaria  b  etTusão  de  sangue,  que 
os  rebeldes  com  a  sua  resistência  fizeram  na  Utiaga  e  na 
Ipojuca,  DO  Páo  do  Albo  e  msis  partes  ;  que  podia  ainda 
em  Santo  Antão  sjunlar-se  00  capitão-mõr,  e  engrossar  as 
suas  forças;  que  se  não  pôde  desculpar,  que  se  guardava 
para  os  fazer  fugir  do  Recife,  e  evitar  a  eflusão  do  sangue, 
como  acima  disse,  porque  no  seu  quartel  dos  Morenos, 
quaado  de  lá  sahiu,  nto  podia  adivinhar  a  resolução  que 
elles  haviam  de  tomar;  que  emqusnto  mesmo  ao  que  diz, 
qne  no  Recife  resolveu  a  fiarem,  isso  é  arbitrariamente 
dito,  porque  elle  completou  esta  obra  como  diz  no  dia 
19  de  Maio  de  manhã,  e  os  rebeldes  já  antes  tanta  vontade 
de  fugir  tinham,  e  de  nfto  fazer  morte  e  violência  alguma 
mais  do  que  as  passadas  violências,  que  tinham  já  quei- 
mado lodos  os  papeis  de  que  constava  a  sua  culpa,  porque 
na  casa  do  governo  e  da  secretaria  nenhum  appareceu,  e 
andaram  buscando  todas  as  ordens  que  tinham  mandado 
para  as  diflerentes  estações  e  pessoas  do  Recife,  de  ma- 
neira que  até  mandaram  buscar  as  que  tinham  mandado 
para  o  inspector  de  milícias  José  Peres  Campello. 

Respondeu  que  não  pMe  fugir  para  o  mar  porque  os 
rehddes  antes  de  lhe  entregarem  embarcação  alguma  lha 
mudaram  o  destino,  nomeando  outro  para  o  mar,  e  no- 
meando-o  para  ir  por  leira  para  o  sul,  ajuntar  gente  em 
auxilio  de  José  Mariano :  que  se  não  uniu  aos  de  Porto 
de  Pedras  porque  não  podir  ir  senão  sé  a  sua  pessoa,  e 
não  podia  levar  gente  alguma  por  estar  debaixo  do  com- 
itaando  de  José  Mariano,  e  não  confiava  da  fidelidade 
d'essa  gente,  porque  de  toda  desconfiava  ;  que  não  pede  pas- 
ssfrse  para  o  povo  que  fez  a  contra-revolução  em  Seríohi 


DictzedbyGoOglC- 


0133  —      . 

(Serinham^  e  depois  foi  a  balalbs  de  Utinga,  p^a  mesma' 
razão  de  dSo  poder  ir  seoão  só,  como  foi  em  Porto  de 
Pedras,  e  assentar  que  fazia  maior  serviço  a  Sua  Magestade 
em  observar  de  perto  o  que  faziam  os  rebeldes  que  n'elle 
se  fiavam,  para  melbor  remover  os  seus  intentos  e  desfazer 
os  seus  projectos;  e  que  por  isso  mesmo  conseguiu  o 
mandarem-no  para  Santo  AnUo,  para  onde  se  uAo  fosse 
■isso  mandariam  outro  que  fizesse  estragos,  e  não  fizesse 
o  que  elle  fez;  que  até  de  lá  mandou  dizer  ao  capitão-mór 
do  Páo  do  Alho  que  ficasse  certo  que  a  sua  tropa  o  não 
ofTeadia,  e  que  até  Ibe  mandaria  munições  se  elle  as  qui- 
zesse.  E  que  os  rebeldes  somente  depois  de  se  acabarem 
dç  resolver,  de  passarem  as  sobreditas  ordens,  é  que  cui- 
daram em  ajuntar  e  queimar  esses  papeis  que  queimaram, 
e  que  antes  não  cuidaram  adisse ;  e  que  ouviu  dizer  que 
quem  os  moveu  a  queimar  os  ditos  papeis  foi  o  padre 
Miguel  Joaquim  de  Almeida  e  Castro,  que  o  fez  não 
obstante  oppAr-se  o  padre  Tenoria;  e  que,  emquaato  ao 
elles  lerem  desistido  de  fazer  mais,  elles  sabiram  com  a 
tenção  de  os  coDtiDuar,  e  elle  respondente  os  evitou  pela 
forma  que  fica  dito. 

Instou  mais  que  fallasse  a  verdade,  porque  pelo  que 
agora  dii  mesmo,  elle  podia  passar-se  pare  o  partido  dos 
realistas  com  a  gente  que  levava  comsigo ;  porque  diz  — 
que  escreveu  ao  capitão-mór  do  Páo  do  Albo,  dizeodo-lhe 
que  lhe  mandaria  munições  se  as  quizesse — ,  e  assim  como 
tinha  gente  fiel  para  levar  estas,  e  as  conduzir  sem  oppo- 
sição  dos  outros  que  abi  estavam,  ou  porque  não  po- 
dessem  oppdr-se-lhe,  ou  porque  não  soubessem  que  as  iam 
levar;  também  elle  respondente  podia  safair  com  elles,  ou 
para  Santo  Antão,  ou  para  Páo  do  Alho,  e  ir  engrossar  os 
realistas  e  fazer  tremer  os  rebeldes. 

Respondeu  que  para  mandar  as  ditas  munições  bastava 


Dictizedby  Google 


—  934  — 

pouca  gente,  qae  é  verdade  que  tinha  por  seus  fieis  os 
necessários  para  isto,  mas  qae  para  o  acompanharem  eram 
tão  poucos,  que  era  o  mesmo  qae  ir  só ;  e  que  sempre  as- 
sentou que  ficando  fazia  melhor  serviço  a  Sua  Magestade, 
porque  fazia-lbes  despender,  pedindo-as  conlinuamente 
as  munições  e  mantimentos  que  os  rebeldes  tinham,  e  os 
p6r  em  estado  de  não  fazer  cousa  alguma  ;  no  que  tinha 
toda  a  esperança,  porque  tinha  no  Recife  pessoas  que  lhe 
davam  parte  de  todos  os  movimentos  dos  rebeldes. 

E  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  acabadas,  que  lidas  a  elle  respondente  disse  estarem 
conformes ;  e  debaixo  do  juramento  dos  Santos  Evangelhos 
recebido  disse  ratificava  tudo  quanto  havia  dito  a  respeito 
de  terceiros,  do  que  tudo  damos  fé,  eassígoou  elle  respon- 
dente com  o  juiz  da  alçada,  escrivão  assistente,  o  desem- 
bargador José  Caetano  de  Paiva  Pereira  ;  e  eu  João  Osório 
de  Castro  Sousa  Falcão,  escrivão  da  mesma  alçada,  que 
o  escrevi  e  assignei. 

E  inston  mais  que  fatiasse  a  verdade,  do  que  fez  Domingos 
Theotonio  na  sobredita  ida  ao  Rio  de  Janeiro  c  Bahia, 
porque  assistindo  elle  respondente  ã  muitas  sessões  e 
conselhos  dos  rebeldes,  egabando-se  elles,  cada  um  do  que 
tinha  feito  a  favor  da  revolução,  como  fez  Domingos  José 
Martins  como  fica  acima  dito,  também  Domingos  Theoto- 
nio, se  havia  de  gabar  dos  seus  trabalhos,  e  do  que  tinha 
feilo,  o  que  elle  respondente  por  força  havia   de  ouvir. 

Respondeu  que  nas  sessões  e  conselhos  a  que  élle 
respondente  esteve,  e  votou,  o  dito  Domingos  Theotonio 
somente  disse  que  os  povos  do  Rio  de  Janeiro  e  Bahia 
estavam  dispostos  para  a  revolução,  porém  não  especificou 
pessoa  alguma,  nem  também  o  que  elle  fez  a  esse  respeito, 
ti  que  não  sabe  se  elle  n'ouUa  occasião  o  disse. 

E  por  este  modo  houve  elle  ministro  estas  perguntas 


Dictzedby  Google 


—  astí  — 

por  findas,  que  lidas  por  elle  respondente,  e  aohsndo-as 
conformes  ao  que  havia  respondido  assignou  com  elte  juiz 
da  alçada,  dito  escrivão  assistente ;  e  eu  João  Osório  de 
Castro  Sousa  Falcão,  que  o  escrevi  e  nssignei.  —  £u» 
Francisco  de  Paula  CavaicarUi.  —  Joté  Caetano  de  Paiva 
Pereira.  —  João  Osório  de  Ca*tro  Sousa  Falcão. 


RATIFlCAÇlO 


Anno  do  nascimeuto  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cliristo 
de  mil  oitocentos  e  dezoito,  aos  vinte  e  três  dias  do  mez 
de  Outubro,  nas  casas  da  cadõa  d'esta  cidade  da  Bahia, 
aonde  veiu  o  Dr.  Bernardo  Teixeira  Coutinho  Alvares  de 
Carvalho,  desembargador  do  paço  e  juiz  da  alçada,  cotn- 
migo  escrivão  abaixo  assignado,  e  o  escrivão  assistente 
também  abaixo  assignado  aonde  mandou  vir  á  sua  presença 
a  Luiz  Praucisco  de  Paula  Cavalcanti  e  Albuquerque,  para 
o  Sm  de  ratiQcar  as  perguntas  antecedentes,  pela  maneira 
seguinte: 

Perguntado  se  ratificava  o  que  havia  respondido  nas 
perguntas  antecedentes,  ou  se  tinha  a  accrescentar,  dimi- 
nuir, declarar  alguma  cousa,  e  se  tinha  mais  que  dizer  em 
seu  favor. 

Respondeu  que  ratificava  tudo  quanto  havia  respondido, 
e  nada  mais  linha  que  dizer  e  declarar. 

E  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  esta  ratificação 
de  perguntas  por  findas  e  acabadas,  que  lidas  a  elle  res- 
poadente  disse  estarem  conformes,  e  assignou  com  elle 
juiz  da  alçada,  de  que  tudo  damos  fé,  e  o  escrivão  assis- 
tente ;  e  eu  João  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão,  escrÍTâo 
da  alçada,  que  o  escrevi  e  assignei. —  Luix  Francisco 
de  Paula  Cavalcanti. —  José  Caetano  de  Paiva  Pereira,  — 
João  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão. 


Dictzedby  Google 


QUINTAl  PKItGOMTAS 

Addo  do  DMcimeDto  de  Nosso  Senhor  Jesus  Chrislo 
de  mil  oitoceotos  e  dezoito,  aos  vinte  e  sete  diis  do  mez 
de  Outubro,  nas  cadèas  doesta  ddade  da  Bahia,  aonde  veiu 
o  Dr.  Bernardo  Teíieira  Coutinho  Alvares  de  Carvalho, 
commigo  escrivão  abaixo  assignsdo,  e  escrivão  assistente 
José  Caetano  de  Paiva  Pereira,  ahi  mandou  vir  á  sua  pre- 
sença a  Luiz  Francisco  de  Paula  Cavalcanti  e  Albuquerque, 
e  lhe  fez  as  perguntas  seguintes : 

Perguntado  se  elle  reconhecia  a  assignatura  que  d'elle 
se  acha  no  papel  chamado —  Preciso—,  que  se  acha  a  fo- 
lhas oitenta  e  seis  verso  do  Appenso—  F  — 

Respondeu  que  sabe  que  o  dito  papel  foi  feito  por  José 
Luiz  de  Mendonça ;  e  que  a  letra  com  que  está  escripto  o 
nome  d'elle  respondente  é  em  alguma  cousa  semelhante 
i  sua  própria,  porém  realmente  não  é  sua  porque-  a  não. 
fez,  nem  tal  papel  assigaou. 

Pei^ntado  se  ratificava  as  perguntas  antecedentes,  ouse 
tinha  mais  que  accrescentar,  dimiauir  e  declarar  al- 
guma cousa. 

Respondeu  que  ratificava,  e  nada  mais  tinha  a  dizer. 

£  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  findas  e  acabadas,  e  lidas  a  elle  respondente  disse 
estarem  conformes,  de  que  damos  fé,  e  assígnou  com  elle 
juiz  da  alçada,  escrivão  assistente;  e  eu  João  Osório  de 
Castro  Sousa  Falcão,  escrivão  da  mesma  alçada,  que  o 
escrevi  e  ássignei.— /^is  Francisco  de  Paula  CávalcanU. — 
José  Caetano  de  Paiva  Pereira.  —  João  Osório  de  Castro 
Sousa  Falcão. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  237  — 

PBRGDNTAS    k  J020  DO   REGO   DANTAS 

Anão  do  oascimeQU)  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo  de 
mil  oítocealos  e  dezoito,  aos  doze  dias  do  mez  de  Novem- 
bro, na  cadéa  d'esta  cidade  da  Bahia,  aonde  veiu  o 
Dr.  Bernardo  Teiseira  Gouliaho  Alvares  de  Carvalho,  des- 
embargador do  paço  e  juiz  da  alçada,  coininigo  escrivão  da 
mesma  abaixo  assignado,  e  escrivão  assistente  o  desembar- 
gador José  Caetano  de  Paiva  Pereira,  ahi  mandou  vir  á 
soa  presença  o  preso  João  do  Rego  Dantas,  ao  qual,  posto 
em  sua  liberdade,  lhe  deferiu  juramento  aos  Santos  Evan- 
^Ihos,  pelo  que  tocasse  a  Areeiro,  e  por  elle  recebido, 
lhe  fez  as  pei^untas  seguintes  : 

Perguntado  seu  nome,  naturalidade,  morada,  estado, 
idade  e  occupaçâo. 

Respondeu  chamar-se  Joéo  do  Rego  Dantas  Monteiro, 
natural  e  morador  no  Recife  de  Pernambuco,  casado,  de 
quarenta  e  quatro  annos,  ajudante  do  refimenio  de  infan- 
taria do  Recife. 

Perguntado  quando  e  onde  foi  preso,  e  qual  foi  o 
molívo  da  sua  prbâo. 

Respondeu  que  foi  preso  no  dia  trinta  de  Maio  de  mil 
oitocentos  e  dezesele,  no  quartel  general  do  Recife,  e  que 
foi  em  consequência  da  revolução  succedida  em  Per- 
naníbaco. 

Peiguntado  que,  visto  ser  preso  em  consequência  da 
revolução  de  Pernambuco,  deve  declarar  que  lugares  teve 
n'ella  e  que  serviços  lhe  prestou. 

Respondeu  que  elle  serviu  sempre  no  dito  seu  regimento 
com  estimação  de  seus  superiores  e  até  mesmo  de  seu 
governador ;  que  em  Aggslo  de  mil  oitocentos  e  quinze 
foi  mandado  ir  em  segundo  official  do  destacamento 
qae  fçi  para  as  Alagdas,  e  que,  sendo  ahi  incumbido  de 

TOHO  XXXI,  P.  I  31 


zed^^^Ogle 


varias  dUigeucias  de  segredo  pdo  marechal  José  Bobeio  e 
governador,  as  execalou  «om  louvor  dos  mesmos ;  em 
Março  de  mil  oitocentos  e  dezeseis  veiu  com  licença  psra 
o  Recife,  e  ahi  veiu  a  ficar  em  consequência  d'ums  troca 
qae  fez  com  outro  oQicial  que  quiz  ir  para  as  Alagoas  s  o 
requereu ;  que  no  dia  seis  de  Março  de  mil  oitocentoft 
e  dezesete  o  brigadeiro  Salazar  o  mandou  prender  ao  se- 
gando ajudante  do  mesmo  regimealo  Manoel  de  Sousa 
Teixeira,  e  o  prendeu  ã  uma  hora  da  tarde,  segundo  a 
ordem  qae  lhe  foi  dada,  e  o  levou  á  fortaleza  d»  Cinco 
Pontas,  e  d'ahi  deu  parte  ao  mesmo  brigadeiro,  e  na  mes^ 
nu  fortaleza  ftOou  também  errando  pela  resposta;  e  logo 
que  sahia  com  a  dita  parte  o  official  inferior  tocou  a  re- 
bate na  igreja  de  S.  José,  que  fica  porto  da  fortaleza,  a 
d'ahi  a  pouco  appareceu  Domingos  Theotonio  conduzido 
preso  pelo  capitáo  António  José  Victoríano  ;  e  logo  4epois 
veiu  o  mesmo  capitão  buscal-o  por  ordem  de  José  de  Bar- 
ros Lima,  porém  <«  commandante  uSo  o  lai^ou,  dizendo 
elle  respondente  ao  dito  Victoríano  que  o  coromandania 
tinha  razão,  porque  elle  mesmo  o  tinha  trazido  preso  á 
ordem  do  general,  e  por  isso  mvmo  precisava  de  ordem 
do  general  para  o  levar;  e  se  foi  embora.  Depois d'Í3so. 
pelas  quatro  horas  da  tarde  poncc  mais  ou  menos,  appare- 
ceu Manoel  de  Azevedo  Nascimento,  capitão  do  regimento 
d*eUe  respondente,  e  disse  ao  commandaDte  da  fortaleza 
que  lhe  entregasse  o  capitão  Domingos  Theotonio  por 
ordem  do  general,  e  o  commandante  da  fortaleza  mandou 
soltar  80  dito  Domingos  Theotonio,  e  lh'o  entr^ou ;  e 
aqueHe  Azevedo  perguntou  a  elle  respondente  e  ao  outio 
ajOdante  dito  Manoel  de  Sousa  o  que  faziam  alli ;  e  lhe 
respondeu  elle  respondente  que  «stava  esperando  a  res- 
posta de  um  offioio  que  tinha  mandado  ao  seu  brigadeiro  ; 
e  então  o'  dito  Azevedo  disse  para  o  commandante :  -~  Os 


Dictzedby  Google 


—  aâa  — 

sealiores  tainbem  bão  de  ircomntigo— ;ejQsteUie  respon- 
deu que  alli  não  eram  precisos,  e  os  deixou  ir,  e  foram; 
e  ^e  respondente  antes  de  sahir  da  fortaleza,  e  aales 
mesmo  de  chegar  o  capitão  Azevedo,  quando  sahiu  o  dito 
Anlonio  José  Vicloriano,  disse  para  o  sobredito  Qpmman- 
danle  que  mandasse  municiar  a  sua  gente,  e  fechar  o  por- 
tio  da  fortaleza,  porque  sem  duvida  aquillo  era  desordem 
008  quartéis,  o  que  fez  o  dito  conunandanle.  Indo  elle 
respondente  com  o  dilo  Azevedo  na  forma  dita,  chega- 
ram aos  quartéis ;  abí  estava  José  de  Barros  Lima,  e  mui- 
ta gente,  soldados  e  paisanos,  dos  quaes  só  Ibe  lembra  o 
nome  do  padre  João  Ribeiro,  que  estava  de  batina,  e  os 
quartéis  guarnecidos  de  artilheria ;  e  quem  abí  dominava 
era  o  dito  José  de  Barros,  o  qual  armou  uma  patrulha,  e 
a  mandou  aom  elle  respondente.  Domingos  Tfaeotonle  e 
dito  Manoel  de  Sousa  Teixeira,  para  o  largo  da  cadèa, 
onde  acharam  Domingos  José  Martins  com  muita  tropa 
em  pelotões,  estendida  até  perto  do  campo  do  Erário ; 
e  este  pegou  pelo  braço  de  Domingos  Theotonio,  e  o 
ievou  para  a  parte  do  CoUegio,  e  disse  em  voz  alta, 
que  ouviu  elle  respondente  :  —  Este  é  o  homem 
que  ia  ser  sacrificado.  —  Depois  d*isto  perguntou 
elle  ..je^udente  aos  que  estavam  junto  d^elle :  —  Que 
é  isto?' — Respouderam-lhe  que  não  sabiam,  mas  que 
Ibes  parecia  ser  desordem  de  enropéos  com  brasileiros,  e 
qae  o  general  tinha  ido  para  o  Recife.  E  porque  elle 
respondente  tinha  ouvido  tiros  de  artilheria  quaqdo  sahia 
das  Cinco  Pontas  também  perguntou  que  tiros  foram;  ao 
que  lhe  responderam  que  suppunbam  ser  Antomo  Henri- 
qaes  que  tinha  marchado  para  lá  ;  e  estando  ahi  postado, 
is  seis  horas  pouco  mais  ou  menos,  correu  uma  voz,  que 
o  marechal  José  Roberto,  que  ahi  se  disse  estar  no  campo 
do  Erário,  entregara  este  campo,  e  a  gente  que  estava  com 


Dictzedby  Google 


—  2i0  — 

elle  se  unirn  á  •^eDte  de  Hartins,  e  iogo  immediatsmenie 
viu  elte  respondente  eDlrarem  os  pelotões  ds  vaogiurda 
para  deatro  do  campo ;  porém,  como  esteve  sempre  oa 
relagflarda,  não  viu  o  que  se  passou  no  campo,  nem  tam- 
bém se  Martins  foi  com  os  ditos  pelotões,  nem  quem  o 
acompanhou ;  o  depois  ouviu  que  José  Roberto  linha 
sido  mandado  para.o  Bnim  sem  lho  dizerem  quem  o  man- 
•dou;  depois  que  entrou  a  vanguarda  entrou  tanbem  a 
retaguarda,  e  então  foi  também  elle  respondente ;  o  depois 
que  cTu^u  viu  que  Domingos  Tbeotonio  entrou  a  deta- 
lhar a  gente  que  entrou  etn  pelotões,  e  a  guarnecer  o  mes- 
mo- carapo  com  artitheda ;  depois  reparou  e  viu  luz  no 
Erarip ;  e  a  Ioda  a  gente  gritando  :  —  Viva  o  rei  e  viva 
a  patiia  I  —  e  se  deu  ordem  pata  ninguém  sahir ;  e  toda  a 
noite  se  conservou  n'aqueUe  campo  até  o  outro  dia,  que 
o  deixaram  ir  jantar,  e  assim  Qcou  servindo  no  seu  posto 
até  o  dia  vinte  e  um  de  Março,  em  que  sahiu  uma  promo> 
çto  feita,  em  que  elte  respondente  sahia  capitSo  ;  depois 
d'isto  no  dia  treze  d'Ábril  foi  elle  respondente  nomeado 
para  levar  om  destacamento  por  mar  ao  Váo  de  Una  para 
entregar  ao  tenente-coronel  António  José  Victoriano,  que 
depois  soube  linha  fugido  das  Alagoas ;  porém,  chegando  o 
bloqueio  mandado  da  Babi#,  não  pdde  sahir,  ape- 
sar de  ji  estar  embarcado;  e  por  isso  o  mandaram  conduzir 
o  dito  destacamento  por  terra,  chegou  com  elte  a  villa  do 
Cabo,  e  ahí,  em  lugar  de  seguir  o  caminho  do  centro,  foi 
pela  praia,  e  chegou  á  barra  de  Serinhaem,  onde  mandou 
embarcor  a  gante  para  passar  para  o  outro  lado ;  aqui  teve 
noticia,  que  o  capitflo-mór  de  Serinhaem  tinha  arvorado  a 
bandeira  real  e  tinha  marchado  a  encontral-o  pelo  centro, 
por  onda  suppunha  que  elle  respondente  marchava;  gostou 
d'esla  noticia,  porém  como  não  tinha  pessoa  de  quem  se 
iinsse  para  se  communicar  com  o  capit^io-mór,  com  medo 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  241  — 

deserporellesurprehendido.retrocecteucoino  mesmo  des- 
aumento  para  o  porto  de  Gallinhas,  o  qual  destacamento 
era  de  cem  homens,  com  os  quaes  tinha  sabido  do  Recife ; 
chegando  aqui  escreveu  uma  carta  ao  dito  capitão-mór  de 
Serinhaem,  que  lhe  mandou  por  um  pardo  escravo  que 
disse  ser  do  um  fuão,  que  lhe  parece  ser  iccioli  de  Seri- 
nhãa  (Serinhaem),  o  qual  escravo  tinha  sahidocom  elle  res- 
poudente  e  o  destacamento  do'  Recife,  mandado  pelo 
governo  para  ser  um  dos  carregadeiros,  na  qual  carta  lhe 
dava  os  parabéns  de  ter  levantado  a  bandeira  real,  e  lhe 
dizia  que  não  ia  já  reunir-se  a  elle  pelo  suppdr  sem 
forças  para  resistir  ao  exercito  todo  dos  rebeldes,*  que 
estava  em  Una  commandado  por  José  Mariano,  e  de 
Ipojuca  para  o  norle  tudo  estará  pelos  rebeldes;  mas  que 
elle  respondente  ia  escrever  ao  goveroo  provisório  dando- 
Ihe  parte  do  estado  em  que  se  achava,  de  ter  levantado 
as  bandeiras  reaes  Serinhãa  [Serinhaem),  e  não  pod6r 
continuar  sua  marcha  por  não  ter  munições,  pois  que 
oão  tinha  senão  o  cartuxame  dos  soldados  e  as  armas 
todas  quebradas,  para  o  mesmo  governo  lhe  mandar  o 
soccorro  necessário,  afim  de  depois  de  o  tos  se  lhe  ir  unír  e 
segurarem  ambos  a  bandeira  real ;  e  lambem  lhe  dizia, 
que  escrevia  ao  coronel  Manoel  José  Pereira  de  Mesquita 
para  sondar  o  seu  animo,  e  segando  a  sua  resposta ,  se  fosse 
favorável,  resolver  os  seus  soldados  e  levantar  elle  mesmo 
fc  reaes  bandeiras;  pedindo-lhe  a  resposta  com  brevidade ; 
e  estando  ahi  três  dias,  e  não  tendo  ainda  resposta  de  Seri- 
nhaem, e  tendo  a  do  dito  coronel  Mesquita  em  que  lhe 
dizia  qee  lhe  agradecia  o  aviso  que  lhe  |déra  de  ter  Seri- 
nhãa (Serinhaem)  levantado  as  bandeiras  reaes,  que  pas- 
sava a  fortificar  as  entradas  da  parte  de  Serinhãa,  {Seri- 
nhaem) para  de  lá  não  vir  gente  conUa  a  pátria,  e  que 
por  não  estar  comraandando  o  seu  r^imenlo   lhe    não 


Dictzedby  Google 


—  242  — 

mandava  já  refori^  de  gente  para  o  ajudaj!  ;  mas  que 
dava  parle  ao  coronel  Igoacio  para  Ih^a  mandar ;  com 
cuja  resposta  eUa  respondente  ficou  desconBado  d'elle  ; 
e  também  ahi  recebeu  resposta  dos  commaDdantes  do 
porto  de  Gallioliss  e  do  0\  des  quaes  um  lhe  dizia 
que  no  outro  dia  viofaa  com  reforço,  e  outro  que  nio 
podia  vir  por  ter  mandado  a  sua  gente  para  Una,  onde 
estava  José  Marjano;  e  n'es&e  tempo  recebeu  uma  ordem  do 
governo  para  retroceder  para  o  Cabo,  e  quando  chegou  esta 
ordem  cliegou  também  uma  pouca  de  ordenança,  que  o 
mesmo  provisório  havia  mandado  ;  em  virtude  da  qual 
ordem  marchou  para  o  Cabo  com  a  gente  que  tinha,  e  foi 
ter  ao  engenho  aonde  achou  o  capitão-mór  de  Olinda, 
Franciscp  de  Paula,  com  um  corpo  de  tropa,  que  seria  de 
quinhentos  homens,  duzentos  de  linha,  e  o  resto  milícias 
e  udenan^as ;  e  ahi  Geou  elle  respondente  com  a  gente  que 
levava  és  ordens  do  dito  capitão-mór,  por  estar  nomeado 
o  commandante  geral  d'aquella  força,  o  qual  o  mandou 
vigiar  sobre  as  ordenanças  para  o  seu  pagamento  6  forma- 
tura. D'ahi  passaram  para  o  engenho  Garap'ú,  e  doeste 
depois  de  algun^  demora  para  o  engenho  da  Utinga,  e  aqui 
ou  no  dia  trinta  de  Abril  ou  primeiro  de  Maio  foram  ataca- 
dos pela  uma  hora  da  tarde  ;  mas  elle  respondente  então 
não  soube  quem  foram  os  eommaudantes  da  gente  que  os 
atacou,  e  o  ataque  durou  até  as  cinco  horas  e  meia  da  tarde, 
pouco  mais  ou  menos;  e  no  outro  dia  de  manhã  reUraraifr 
para  o  engenho  de  Garapú,  e  não  sabe  os  mortos  que 
ficaram,  nem  armas,  e  só  lhe  lembra  que  fícaram  alguns  ' 
carros  com  chuços,  clavinas  e  pólvora,  que  não  {Mderam 
levar  comsigo  para  o  engenho  ;  e  estando  n'este  engenho' 
chegou  Domingos  José  Martíns  no  outro  dia  de  manhâ,com 
um  corpo  de  gente,  que  andaria  por  trezentas  pessoas  ar- 
madas, o  cora  artilberia,  o  so  aquartelou  com  sua  gente 


Dictzedby  Google 


—  243  — 

s«para^inente ;  depois  d'Í3lo  mandou  o  dito  capit3o-Diór  a 
eUe  raspoodente  para  a  fortaleza  à»  Nazareth,  que  fica  na 
poDla  do  Cabo,  por  Ibe  terem  dado  parle  que  o  coinman- 
danle  d'e8ta  fortaleza ,  ínia  Couto,  tioba  retirado  a  sua 
goamição  e  palameata  para  a  fortaleza  do  Gaibú,  e  ordenou 
a  elle  rospondeate  que  eiaminasse  este  facto,  e  desse  parte 
e  tomasse  o  commaododa  dita  fortaleza  de  Nazaretb;  che- 
eaado  a  esta  fortaLesa,  acbou  que  o  dito  commandante,  a 
dita  guaniiçdo-  e  palamenta  para  o  Gaibú,  por  ordeni  que 
tiréra  do  governo  provisório,  e  por  isso  Ibe  dío  tirou  o 
commaDdo  da  fortaleza,  e  o  tratou  com  attenção  por  co- 
nhecer n'elle  espirito  de  realista  ;  e  conversando  com  o 
mesmo  sobiepAresta  fortaleza  em  defesa  a  favor  dos  rea- 
listas, acbaram  que  tioba  só  cinco  peças  com  as  carretas 
podres,  e  que  estavam  n'am  sítio  muito  baixo,  e  não  havia 
instrumeitfos  para  as  conduzir  para  cima ;  ahí  se  demorou 
dez  dias,  no  fim  dos  quaes  recebeu  ordem  do  governo  dos 
rebeldes,  a  quiMn  tinha  dado  parte  da  soa  situação  e  estado 
da  fortaleza,  na  qual  ordem  lhe  mandava  que  se  fosse  unir 
OQtra  rez  ao  dito  capitão-mór  de  Olinda ;  porém  nSo  execu- 
tou esta  ordem  e  partiu  pare  o  Recife,  e  foi  dizer  ao  governo 
que  a  nâo  podéra  executar  por  doente,  e  o  mandaram  para 
o  seu  quartel.  E  depois  d'isto,  observando  elle  respondente 
que  os  insu^entes  qaeriam  repartir  as  suas  forças,  man- 
dando parte  para  Olinda  e  parte  para  as  vizinhanças  do 
Recife,  convocou  vários  sujeitos  do  Recife,  enire  estes  a  João 
Duarte,  João  Botelho  Netto.o  cirargião  Costa,  e  outros  que 
conhecia  do  vista,  para  que  logo  que  oã  rebeldes  dividissem 
as  ditas  forças,  elles  com  a  gente  que  podessem  ajuntar, 
e  com  elte  respondente,  irem  tomar  a  fortaleza  das  Cinco 
Pontas ;  mas,  marchando  os  rebeldes  oa  tarde  do  dia  deze- 
DOTO  de  Maio  para  Olinda  com  todas  as  foiças  que  ahí 
tinham,  lembron-se  elle  respondente  ir  a  Olinda  tirar  a  sua 


Dictzedby  Google 


família  que  Unha  D'esta  cidade,  e  ti'essa  noite  entrou  eia 
Olinda  j)aia  esse  fim,  mas  não  a  pAde  tirar  por  causa  da 
muita  chuva;  de  manhã,  vendo  que  elles  se  retiravam  para 
o  norte,  e  que  deixavam  na  cidade  algumas  pe^as  encra- 
vadas, fez  juizo  de  que  elles  iam  fugidos,  deixou-os  ir,  e 
se  ficou  na  mesma  cidade,  e  ahi  fez  levantar  logo  n^essa 
manhã  a  bandeira  real,  e  acciamou  a  Sua  Mageslade,  c 
se  uniu  ao  capitão  António  de  Santiago,  que  também  a)U 
flcou  e  levantou  bandeira  real,  com  a  qual  vinha,  e  com  a 
gente  que  se  lhe  uniu  vieram  em  soccorro  do  Recife, 
aonde  já  os  realistas  tinham  salvado,  e  levantado  bandeira 
real,  tudo  na  mesma  manhã,  que  foi  a  de  vinte  de  Maio ; 
e  se  foi  apresentar  na  fortaleza  do  Brum  ao  brigadeiro 
Salazar,  que  a  estava  já  commandando  ;  e  depois  ao  mare- 
chal José  Roberto,  que  eslava  govemuido.no  Recife,  que 
o  mandou  para  o  seu  quartel,  e  que  alislajse  a  gente  que 
tinha  vindo  com  elle  respondente,  o  que  fez  até  a  tarde, 
em  que  chegou  o  capitão  Joio  Tavares,  que  ficou  de  estado- 
maior,  e  continuou  o  dito  alistamento,  e  elle  respondeole 
ficou  is  ordens  do  dito  marechal,  até  vir  o  Rodrigo  Lobo, 
a  cujas  ordeos  ficou  até  ser  pieso  como  dito  tem.  E  decla- 
rou que  no  terceiro  ou  quarto  dia  depois  do  dito  dia  seis 
de  Marçp  escreveu  uma  carta  a  João  Baptista  dos  Santos 
Pinto  Loiola,  morador  na  villa  das  Alagéas,  dizendo-the 
que  se  fosse  municiando  com  a^os  amigos,  que  elle  jul- 
gasse capazes,  juntando  armas;  pois  que  o  levantamento 
de  Pernambuco  não  podia  subsistir  por  muito  tempo,  e 
que,  bastava  a  fome  além  do  mais  para  devorar  aos 
levantados ;  que  elle  respondente  jião  podia  ir  já  por  causa 
das  moléstias  de  sua  família,  mas  que  logo  que  podasse 
havia  de  ir,  e  que  estivesse  prevenido  contra  qualquer 
ordem,  proclamações  e  mais  papeis  do  governo  provisó- 
rio,  porque  tudo  era  um  engano  para  ter  o  povo  a  seu 


D,:„l,;cdtv  Google 


_  S45  — 

■  íaTOi,  de  cuja  caris  recebeu  respo&la.  Depois  d'isto  cha- 
mou a  elle  respoodente  Domingos  Tbaotoaio,  e  lhe  disse 
escrevesse  aos  seus  amigos  das  AlagAas  e  lhes  dissesse 
que  a  revolução  nada  tinha  com  os  europAos,  que  estes 
estivesseAi  socegados,  que  se  lhes  não  fazia  mal ;  em  con- 
sequência d'iato  escreveu  ao  dito  João  Baptista  ootra  caila 
DO  erário  diante  do  mesmo  Domii^[os  Tbeoloaio,  segundo 
a  dita  sua  recommendação,  poróm  disse  ao  portador,  ao 
qual  alli  entregou  a  dita  caria,  que  fosse  por  sua  casa  para 
também  lhe  levar  outra ;  elle  foi,  e  eniáo  elle  respondente 
escreveu  uma  cartinha  ao  mesmo  seu  amigo,  em  que  lhe 
dizia  que  não  fizesse  o  que  elle  dizia  a'aquella  caria, 
mas  sim  o  que  já  lhe  tinha  dito  na  primeira,  e  depois 
Ifae  mandou  outra  carta  por  ontro  portador  a  reeom- 
mendar-lbe  o  mesmo.  E  declarou  mais  que  quando  o 
sobredito  António  José  Victoriaoo  foi  para  soltar  o  dito 
Domingos  Theotoaio  iorge  á  fortaleza  das  Cinco  Pontas,  e 
ocommaodante  o  não  soltou,  Domingos  Theolooio  cbamou 
a  elle  respondente  e  lhe  perguntou  :  —  que  era  isso,  que 
queria  o  dito  Anlonio  José  Víctoriano— ;  lespondeu-lhe  que 
vinha  buscal-o  por  ordem  de  José  de  Barros  Lima,  que  se 
etie  fosse  o  Sr.  Domii^s  Theotoaio  oSo  queria  ser  solto 
sem  ordem  do  general,  porque  não  tendo  culpa  nada  tinha 
que  temer  mais  que  algum  incommodo  de  prisão ;  que 
d'Í8to  seria  talvez,  o  que  depob  se  disse,— M]ue  elle  respon-  ■ 
dente  fâra  A  fortaleza  para  assassinar  a  elle  e  aos  mais  que 
para  lá  fossem  «,  cujo  boato  o  fez  andar  algum  tempo  as- 
sustado, e  que  obrassem  com  elle  algum  despotismo,  mas 
não  obraram  ;  por  isso,  e  outras  miudezas,  se  persuadiu 
que  os  rebeldes  sempre  o  tiveram  em  má  fé.  E  muito  mais 
por  nunca  ter  amizade  com  elles,  isto  é,  com  os  que  ligu- 
rarom  mais,  e  representarabi  na  revolução,  que  vôm  a  ser 
os  cinco  governadores  Domingos  José  Martins,  padre  João 

TOMO  XXXI,  f,  I.  32 


Dictzedby  Google 


—  ai6  — 

Ribeiro,  José  Luiz  de  Mendoni;.»,  Manoel  Corrêa  de  Araiijo, 
e  Domingos  Tbeotonio  Jorge,  com  José  de  Birros  Lima, 
seu  genro  José  Mariano  de  Albuquerque,  Pedro  da  Silva 
Pedroso  e  António  Henriques,  e  todos  os  mais  que  foram 
premiados  pelos  rebeldes  com  empregos  que  Ibes  deram. 

E  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  findas,  que  lidas  ao  respondente  disse  estarem  confor- 
mes, de  que  damos  fé,  e  assignou  com  elle  juiz  da  alçada, 
escrivão  assistente,  e  eu  João  Osório  de  Castro  Sousa 
Faleáo,  que  o  escrevi  e  assigoei.  — João  do  Rego  Dantat 
Montâro. — 3o»é  Cabano  de  Paiva  Pereira. —  João  Osório 
•*«  Castro  Souia  Falcão. 


SEGUNDAS   PERflrKTAS 

No  aono  do  nascimento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Chrísta 
de  mil  oitocentos  e  dezoito,  aos  quxilorze  dias  do  mez  de 
Novembro,  na  cadéa  d'esta  cidade  da  Bahia,  aonde  veia  o 
Dr.  Bernardo  Teiteíra  Coulinho  Alvares  de  Carvalho, 
desembai^ador  do  paço  e  juiz  da  alçada,  commigo  escrivio 
da  mesma  abaiio  nomeado,  e  escrivão  assistente  o  desem- 
bai^ador  da  supplicaçào  Caetano  de  Pnrva  Pereira,  ahi 
mandou  vir  i  sua  presença  ao  mesmo  João  do  Rego  Barros 
{Dantas),  e  Ibe  fez  qs  perguntas  seguintes. 

Perguntado  se  ratificava  o  que  havia  respondido  nas 
perguntas  antecedentes  n^este  acto  lidas,  ou  se  tinha  qnç 
accrescentar  ou  declarar  alguma  cousa. 

Respondeu  que  ratificava  o  que  havia  respondido,  e 
não  lhe  lembrava  mais  a  dizer,  e  somente  declarava  que 
os  rebeldes  desconHaram  sempre  do  regimento  d^elle  res- 
pondente, e  o  desarmaram   até  que  fiiceram  a  promoção  de 


Dictizeriby  Google 


—  2i7  — 

xitía  e  um  de  Matço,  occupanda-o  somente  até  aqui  eta 
algumas  roodas  do  costume. 

Instou  qae  declarasse  a  verdade,  porque  coostava  dos 
autos  que  tanto  o  regimento  de  artilhwia  como  o  de 
infanloria  d'elie  respondente  foram  os  quo  fizeram  a  força 
dos  iusui^Dtes  no  dia  seis  de  Março;  e  que  ambos  elles 
estarão  corrompidos  anteriormente,  pelos  ditos  insnr- 
geates,  sendo  o  principal  d'e$tes  Domingos  José  Martins, 
que  por  etles  tinha  repartido  muito  dinheiro,  que  tirava  das 
fazondas  a  elle  comraeltidas,  do  que  elle  mesmo  se  gabou 
publicamente  depois  do  dia  seis ;  e  isto  se  mostra  evidente- 
mente pelo  que  n'este  dia  aconteceu,  porque  assim  que  foi 
solto  da  cadéa  em  que  estava  toda  a  tropa  lhe  ficou  obede- 
cendo, eelle  o  principal  commandantena  entrada  e  tomada 
do  campo  do  Erário,  o  que  não  podia  acontecer  sem  a  tropa 
eslarcorrompidaantecedentemente.porque  nunca  aconteceu 
qufttropaalguma,  aínda  que  em  pequeno  corpo,  obedecesse 
e  tomasse  por  seu  superior  e  commandante  um  paisano, 
que  nunca  foi  militar,nem  reputação  jamais  leve  d'isso;  que 
nunca  foi  magistrado,  nem  teve  em  tempo  algum  autori- 
dade alguma  publica,  peta  qual  estivessem  acostumados  a 
re^ilal-o,  e  obedecer-lhe,  porque  nem  ainda  mesmo 
como  commercianie  tinba  respeito  e  reputação,  poeque  era 
publico  e  notório  que,  largando  de  caixeiro,  bavia  princi- 
piado a  negociar  em  Londres  por  industria  e  engano,  e  que 
logo  ahi  quebrara,  conhecido  o  mesmo  engano,  que  d^ahi 
fora  a  Lisboa,  e  não  podéra  ganhar  reputação  ;  de  lá  a  esta 
cidade  da  Bahia ,  onde  commetlendo  roubos  fingindo  letras 
de  outrem,  e  d'aqui  fugira  para  Pernambuco,  onde  obtivera 
dos  seus  amigos  semelhantes  commissões ;  mas  que  por 
nSo  satisfazer  a  ellas  estava  ji  quasi  a  quebrar. 

Respondeu  que  a  instancia  é  feita  debaixo  de  prinoi- 
pios,  o  é  bom  de  suppdr  o  que  n'ella  se  diz ;  mas  que  elle 


Dictzedby  Google 


—  2i8  — 

iespoadeDte,apezaT  de  ser  um  offiúalde  otdeas.como  aju- 
daole,  nuQca  pMe  perceber  essa  corrupção  nem  d'elU 
soabe  nada:  e  que  lhe  parece  que  o  seu  regtmeato  fAra 
engauado,  pelas  vozes  que  se  davam  de— Viva  el-rei,  viva  a 
pátria — a^aquelle  dia  sets.porque  depois  que  foi  publico  que 
os  iosurgeates  tomaram  o  goveroo,  ficaram  desconleates ;  e 
qae  por  isso  os  rebeldes  o  occuparam  só  oas  guardas,  que 
acima  disse ;  e  que  também  ouviu  dizer  que  se  levantara 
uma  TÓz,  que  o  regimento  de  iofantaria  se  queria  levantar 
contra  o  de  artilheria,  e  qua  para  evitar  isto  o  governo  pro- 
visório adiantara  a  promoção,  para  pAr  o  regimento  debaixo 
dos  ordens  do  cbefe  por  eiles  escolbido,  Pedro  da  Silva 
Pedroso,  que  da  arlilberia  para  U  mandaram. 

Instou  mais  que  a  promoçSo  não  era  bastante  para  ac- 
commodar  os  soldados  do  regimento.porque  a  promoção  só 
utiUsava  aos  officiaes,  e  a  utilidade  dos  oflSciaes  uao  podia 
satisfazer  aos  soldados,  que  a  não  recebiam ;  e  vinba  a  ser 
necessarÍo,que  houvesse  alguma  outra  cousa  que  lhes  pres- 
tasse utilidade,  e  esta  nSo  podia  ser  oatra  que  o  dito 
sobomo ;  e  que  o  nomear-lhe  para  coronel  o  dito  Poderoso 
{Pedroso)  capitão  de  artilheria  havia  de  desgostar  aos 
oQiciaes  que  pieteudessem  ser  coTnpeis,e  a  todos  os  outros, 
que  pela  piomoçSo  de  um  d'estes  haviam  de  subir  um  posto; 
e  que  assim  o  mandarem  ao  regimento  por  coronel  ao 
Poderoso,  (Pedroso)  em  lugar  de  accomoiodaT  o  dito  regi- 
mento, o  incendiaria  mais,  e  mais  depressa  lhe  faria 
fazer  o  dito  levantamento  contra  o  regimento  de  artilhe- 
ria, se  fosse  verdadeira  a  dita  voz  de  que  o  pretendia  fazer. 

Respondeu  que  se  mostrava  não  estar  corrompido  o 
regimento  de  infanteria,  pela  mesma  paga  de  soldos  que 
lhe  deram,  pois  que  a  cada  soldado  de  infanteria  deram 
cem  réis,  e  a  cada  soldado  dos  batalhões  de  caçadores» 
tirados  das  milícias,  couto  e  vinte  réis;  e  aos  de  artilheria 


Dictzedby  Google 


—  á49  — 

a  cento  e  quarenta  r^s,  e  aos  officiaes  á  proporção;  o  que 
fizeram  depois  do  dia  seis;  e  que  Poderoso  (Pedroso)  depois 
que  foi  coronel  fez  sabir  o  dito  tostão  a  seis  víotens;  e  que 
dle  respondente  com  cousa  alguoaa  d'estas  Geou  satisfeito, 
nem  modou  de  animo  de  servir  a  sua  magestade,  porque  o 
lagar  que  Ihederara  de  capitão  era  o  mesmo  que  elle  respon- 
dente esperava  de  Sua  Mageslade  por  ser  dos  tenentes  mais 
antigos,  e  o  esperara  na  primeira  promoção;  e  o  augmeato 
de  soldo  também  lhe  não  fazia  differeoça,  pelo  que  recebia 
como  ajudante,  e  ter  maior  descanso.  £  que  o  dito  Pedroso 
os  conteve  por  terem  medo  d'e)le,  em  razão  d'elle  ser  par- 
cial dos  do  governo  provisório,  e  um  dos  princípaes  insur- 
gentes. 

Instou  que  dissesse  a  verdade,  que  o  que  acima  res- 
pondeu, que  quando  foi  levar  á  fortaleza  das  Cinco  Pontas 
o  ajudante  Manoel  de  Sousa  Teixeira  dera  parte  ao  briga- 
deiro Salazar,  que  Ib^o  mandou  prender,e  que  ficara  ahi  es- 
perando pela  resposta  ;indica  que  elle  respondente  era  tam- 
bem  da  pareíalidade  dos  insui^entes.e  ficara  ahi,  para  sur- 
prebender  o  commandante  com  os  mais  presos  que  viessem, 
que  todos  eram  iosui^entes,o  com  os  officiaes  que  os  trou- 
xessem o  elle  conhecesse  como  taes ;  porque  com  entregar 
o  preso  que  Irouie  ao  commandante  tinha  satisfeito  a  sua 
commissão,  e  para  dar  parte  d'isto  podia  ir  para  sua 
casa  ou  para  onde  quizesse  e  de  lá  dar  pfrte,  e  lã  mesmo 
esperar  a  resposta  para  vêr  se  lhe  davam  nova  commts- 
são,  visto  que  aquella  estava  satisfeita. 

Respondeu  que,  quando  o  brigadeiro  lhe  mandou  pren- 
der ao  dito  Manoel  de  Soosa  Teiíeíra,  lhe  disse  qae  o 
levasse  is  Cinco  Pontas-,  que  havia  de  achar  ordem  para  o 
commandante  o  metter  no  segredo ;  e  checando  lá  não 
acbou  8  dita  ordera,o  o  commandante  dizendo  que  tal  ordem 
não  tinba,   fot-lhe  necessário  dar    parte  ao  brigadeiro. 


Dictzedby  Google 


—  250  - 

iDstou  qae  dissesse  a  verdade,  porque  era.  publico  e 
notório  que  em  Pernambaco  se  faziam  ajuatamentos 
antes  do  dia  seis  de  M  arco  diurnos  e  nocturnos,  e  que 
n'elles  se  tratava  de  concertai  o  revolu^-ão,  como  em  era 
casa  de  António  Gonçalves  da  Cruz,  o  Cabogá,  em  casa  do 
ctrurgiSo  Vicente  Teixeira  dos  Guimarães  Peixoto,  de  Do- 
mingos José  Martins,  de  núlippe  Neii  Ferreira,  do  padre 
João  Ribeiro,  do  padre  Miguelinbo,  de  Gervásio  Pires 
Ferreira,  do  vigário  de  Santo  António,  e  na  do  morgado  do 
Cabo  Francisco  Paes  Barreto,  e  que  a  estes  ajuntamentos 
revolucionários  os  que  depois  figuraram  na  revolução, 
os  ofliciaes  do  regimenlo  de  iofanlaria  e  artilheria,  e  tam- 
bém olle  respondeole;  que  estes  ajuntamentos  os  enco- 
briam com  o  pretexto  de  jogo  que  ahi  laziam  fora  das  bo- 
ras  em  que  tratavam  do  dito  concerto  revolucionário,  e 
que  se  confiavam  tonto  na  sua  força,quajáse  lhes  não  dftva 
que  se  [aliasse  em  revolução,  «orno  de  facto  se  fallava 
publicamente ;  e  chegou  isto  a  tanto  que  já  se  davam  jan- 
tares, em  que  se  faziam  saúdes  dizendo :  —  Vivam  os  bra- 
sileiros e  morram  os  marinheiros  t  —  Segundo  o  que  foi  a 
voz,  que  no  dia  seis  de  Março  logo  sahiu,  dizendo  as  pa- 
trulhas —  Morra  tudo  o  que  é  marinheiro  — ,  a  qual  voz  so- 
mente os  insu^enles  Qzeram  accommodar  pela  meia  noite 
d'esse  dia,  poaco  mais  ou  menos,  depois  que  tomaram  conta 
da  praça  e  a  guarneceram,  mandando  José  de  Barros  ir  aos 
quartéis  varias  pessoas  que  mandou  chamar,  e  dizendo- 
Ihes  que  estivessem  descansados,  que  nada  era  contra  os 
marinheiros,  e  sahindo  Domingos  José  Martins  e  Manoel 
Corrêa  d'Araujo  com  uma  grande  patrulha  pelas  ruas, 
dizendo  o  mesmo  :  —  que  não  tivessem  susto,  que  tudo 
eslava  socegado.  — 

Respondeu,  que   nunca  soube  de  taes  ajuntamentos, 
nem  a  oUes  foi  vez  alguma,  e  também  nlo  soube  que  se 


Dictzedby  Google 


-  254  — 

fallasse  em  revolução  antes  do  dia  seis,  nem  que  se  d 
jantares  e  se  fizessem  as  ditas  saúdes,  porque  elle  respoo- 
d«ite  sempre  jantou  em  sua  casa,  sem  ir  a  jantar  algum ; 
assim  eomo  não  soube  do  que  íet  José  do  Barros  Lima,  e 
da  patmlba  de  Martins  e  Manoel  CorrAa,  por  elle  respon- 
deole  não  ter  sabido  do  campo  do  Erário,  como  já  disse. 

Perguntado  se  reconhecia  a  assignatura  do  recibo  que  so 
acha  a  folba?  cento  e  dez  do  Appenso—  D  — ,  assim  como 
aqnella  que  se  acha  a  folhas  do  Appeoso — F —  folhas  cento 
e  oito  na  carta  escripta  aos  governadores  provisórios,  do 
lagar  de  Maracaipe  era  vinte  e  um  de  Abril. 

Respondeu,  que  reconhece  como  sua  própria  a  assigna- 
lura  do  recibo  a  folbas  cenio  e  dez  do  Appenso — D —  ;  e 
também  a  da  carta  aos  governadores  provisórios  a  folhas 
cenlocoita  do  Appenso — F— ,aqnal  lhes  escreveu  para  os 
enganar,  e  ató  Ibe  p6z  na  da^  o  lugar  de  Maracaipe, 
quando  realmente  a  esi;(fiveu  de  porto  de  Gallinhas,  e  é 
a  mesma  de  que  acima  fallou,  por  Ibe  ser  preciso  usar  de 
lodo.^  estes  enganos,  paro  encobrir  os  seus  sentimentos ;  e 
qu&nto  ao  recibo  que  passou  na  dita  prínieira  assigualura, 
como  elle  estava  empregado  n'aquella  occasião  na  reparti- 
ção das  rações  de  carne,  em  uma  casinha  proiima  a  oulra 
que  servia  de  armazém  para  as  armas  que  se  mandaram 
recolher,  e  não  baria  ahi  quem  passasse  recibo  d';iqueUa 
entrega  audito  Joáo  Manoel,  o  passou  elte  respondente, 
asúra  como  passou  outros. 

Instou  que  declarasse  a  verdade  ;  porque  não  é  segundo 
ella,qiiaiido  acima  respondeu.que  passando 'a  barra  de  Sorí- 
Dhãa(5erÍnAaam) soubera  ahique  o  cspitão-mõr  de  Serinhâa 
{Serinhaem)  tínba  levantado  abandeira  real.e  o  tinha  procu- 
rado paraenconlral-o  ;  e  que  lhe  não  escrevera  declaraudo- 
Ifae  que  era  do  seu  partido  por  não  ter  pessoa  de  quem  se 
confiasse  ;  porque  já  ahi  tinha  o  mesmo  mulato,  por  quem 


Dictzedby  Google 


—  ws  - 

.diz  lhe  escrevera  de  porlo  de  Galtinhas,  pois  diz  que  elle  o 
acompaobàra  do  Recife  ;  e  que  também  não  é  segundo  a 
verdade  o  ter-lbe  escripto  de  porto,  de  &allinlias,  porque 
dizendo  que  n^esta  carta  lhe  dissera  que  ia  escrever  ao 
governo  provisório  pedir-Uie  forças,  munições  egente,  e 
com  esla  gente,  chegando,  havia  levantar  com  elles  as  ban- 
deiras reaes,  cbegaado-lbe  depois  as  ordenanças,  qse  tam- 
bém disse  o  (^ovisorio  lhe  tuandára,  não  levantou  a  ban- 
deira real  como  prometleu,  antes  pelo  contrario  eiecu- 
tando  as  suas  ordens  foi  eugmenlar  as  forças  de  Francisco 
de  Paula  Cavalcanti,  na  villa  do  Gabo ;  e  esta  sua  marcha 
também  indica  que  não  escreveu  as  cartas  que  diz  escre- 
vera ao  amigo  das  Alagl^as  ;  porque  nunca  aproveitou  a 
occasião  de  se  virar  a  favor  de  Sua  Magestade,  antes  pelo 
contrario  executou  as  wdens  dos  provisórios,  como  está 
dito,  sem  jamais  fazer  algum  excesso  em  satisfaçSo  das 
promessas  que  diz  fizera  em  umas  e  outras  cartas. 

Respondeu  que  o  mulato  linha  ficado  da  parto  do  Recife, 
e  não  tinha  passado  a  barra,  e  só  se  pdde  «servir  d' elle 
quando  elle  respondente  tornou  a  passar  a  dita  barra,  e 
veia  para  o  sitio  onde  elle  tinha  ficado;  e  que  não  se  levan- 
tara por  ellea  bandeira  quando  lhe  cbegdram  as  ordenanças 
mandadas  pelo  governo  provisório,  porque  estas  eram  ses  - 
senta  homens  armados  do  chuços,  e  muito  poucas  clavinas, 
e  dSo  podiam  fazer  a  força  uecessaria  para  levantar  as  ban- 
deiras ;  estando  por  parte  dos  rebeldes  todos  os  commsn- 
danles  em  roda,  cotno  viu  das  respostas  das  cartas  que  etles 
lhes  mandaram  ;  e  que'  o  destacamento  que  tinha  comsigo, 
que  era  a  metade  brancos  e  a  metade  pretos  estavam  em 
desordem  entre  si,  e  jé  tinham  dado  um  tiro  oa  cabeça 
a  um  soldado,  e  que  por  isso  mais  não  podia  levantar  a 
bandeira  real;  e  que  pela  dita  razão  de  estarem  todos  os 
(.«mmandanles  ditos  por  parte  dos   rebeldes  continnoua 


Dictzedby  Google 


—  ãS3  — 

eieeutar  as  ordens  d'«lles  ;  e  que  o  escrever  ao  dito  seu 
amigo  das  Alagoas  é  tão  certo  que  tem  as  respostas  d'elle> 
que  protesta  ajuntar  a  seu   tempo. 

Instou  mais  que  declarasse  a  verdade,  porque  o  que 
acima  respondeu,  que  no  dia  dezeoove  de  Maio  nSo  acom- 
paohou  a  Domingos  Thcotonio  ao  seu  exercito  quando 
marchou  para  Olinda,  mas  que  n'essa  noite  fora  buscar  a 
sua  ramilia  que  ahi  estava,  e  que  nao  a  podendo  trazer  por 
causa  da  chuva,  marchando  para  o  norte  o  mesmo  Domin- 
gos Theotonio  com  o  seu  exercito  o  não  acompanhara, 
antes  assim  que  sahiram  levantara  a  bandeira  real,  e  feito 
isto  viera  apresentar-se  na  fortaleza  do  Brum  e  no  Recife, 
Gomo  fica  respondido ;  pois  pdo  contra  consta  dos  assentos 
que  fdra  até  ao  Paulista,  e  que  d'ahi  é  que  voltou  para  o 
Recife. 

Respondeu,  que  a  verdade  é  a  que  tem  dito  ;  e  que  é 
fa)so  que  ello  sahisse  da  cidade'  senão  para  o  Recife,  na 
Sónoa  já  respondida. 

E  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  findas,  as  quaes  sendo  lidas  ao  respondente,  disse 
estarem  conformes,  de  que  dnmos  fé,  e  assignou  com  elle 
juiz  da  alhada,  escrivão  assistente,  e  eu  JoSo  Osório  de 
Castro  Sousa  Falcão  escrivão  da  alçada  que  o  escrevi  e 
assignei. —  João  do  Rego  Dantas  Monteiro.  — José  Caetano 
de  Paiva  Pereira.  —  João  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão. 


PERGUNTAS   K  AGOSTINHO  BEZERRA 

Anão  do  nascimento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo 

Oe  mil  oitocentos  e  dezoito,  aos  dezoito  de  Dezembro,  n'esta 

cadOa   da  Bahia,   aonde  veíu  o   Dr.   Bernardo  Teixeira 

Coutinho  Alvares  de  Carvalho,   desembargador  do  paço 

TOMO  XIXI,  p.  1  33 


Dictzedby  Google 


c  juiz  Ja  alçada,  commigo  escrivão  abaixo  assignado,  e 
«scrÍTão  assistente  o  desenibartjaJor  José  Caetano  do  Paiva 
Pereira,  ahi  mandou  vir  á  sua  presença  an  preso  Agostinho 
Bezerra,  que,  posto  em  liberdade,  e  deferíndo-llie  jura- 
mento aos  Santos  Evangelhos,  pelo  que  tocasse  h  lurceiro. 
por  elle  recebido,  lhe  fez  as  perguntas  seguintes: 

Perguntado  seu  nome,  naturalidade,  mirada,  estado, 
idade  eoccupação. 

Respondeu  ihamar-se  Agostinho  Bezerra,  crioulo,  natu- 
ral e  morador  no  Recife,  viuvo,  de  trinta  annos,  alfaiate, 
tenente  de  Henriques. 

Perguntado  quando  e  onde  foi  preso,  e  qual  foi  ou 
suppõe  ser  o  motivo  de  sua  prisão. 

Respondeu  que  foi  preso  em  sua  casa  om  vinte  de  Maio 
do  1817;  c  que  ignara  o  motivo  de  sua  prisão,  mas  que 
suppôe  seria  por  ser  filho  de  Pernambuco,  e  achar-se  ahi 
quando  se  fez  uma  revolução. 

Perguntado  por  que  razão  suppõe  ser  preso  por  ser  na- 
tural de  Pernambuco  e  achar-se  alli  quando  se  fez  a  revo- 
lução, visto  que  muita  gente  lá  se  achou,  e  era  natural  de 
Pernambuco,  e  não  foi  presa. 

Respondeu  que  não  tem  outro  motivo  de  o  suppfir,  e  que 
os  dois  homens  que  o  prenderam  eram  seus  inira^s. 

Perguntado  se  no  tempo  da  revolucçío  serviu  só  no 
lugar  de  tenente,  ouse  passou  a  outro  posto,  e  qual  foi. 

Respondeu  que  quando  criaram  o  batalhão  de  caçado- 
reso  6zeram  capitão,  o  que  foi  passados  quiuzedias  mais  ou 
menos  depois  do  dia  da  revolução. 

Perguntado  que  serviço  fez  no  tempo  da  revolução  antes 
de  ser  capitão,  e  depois  de  o  ser. 

Respondeu  que  antes  de  ser  capitão  não  fez  serviços  da 
patente,mas  só  de  alguns  recados  que  lhe  mandavam  fazer, 
e  porque  se  fazia  escasso  e  não  acudia  a  tempo ;  e  depois 


Dictzedby  Google 


—  253  — 

de  capitão  esleve  aquartelado  com  todo  o  batalhão  ds  for- 
taleza do  BruiD,  e  ct'ella  Dão  sabiu  para  o  serviço  de  fora, 
poique  só  do  batalhão  sabiam  rondas,  queeramcoaanianda- 
das  por  officiaes  suballeroos. 

Instado  que  declarasss  a  verdade,  porque  constava  quo 
elle  fòra  acompanhar  a  Domingos  José  Martins  o  a  Francisco 
de  Paulo,  qii- ■■' j  estes  foram  para  o  sul  mandados  pelo 
governo  r<-btt.<l<;.  para  se  opporem  ás  tropas  realistas,  que 
vinham  da  Bahia,  acompanhando  primeiro  a  João  do  Rego 
Dantas,  na  tropa  que  este  levava  em  auxílio  de  José  Ma- 
riano. 

Respondeu  que  foi  nomeado  para  ir  no  destacamento 
que  levou  eomsigo  João  do  Rego  Dantas,  que  levava  ordem 
para  o  entregar  a  António  José  Victoriano  em  Porto  de  Pe- 
dras; que  foi,  mas  não  chegaram  U,  e  só  chegaram  á 
Barra  de  Serinhãa(5ertn/iaeffi},e  d^ahi  voltaram  parao  porto 
de  Gallinhas,  por  constar  ao  dito  João  do  Rogo  que  o 
capitão  mór  de  SeTÍahãa(5ertn/ui«m)  tinha  levantado  as  ban- 
deiras reaes,  e  ahi  teve  ordem  o  dito  João  do  Rego  do  go- 
verno provisório  para  ii  com  o  destacamento  para  o  En- 
geahO'Velho,  do  capitão-mór  do  Cabo,  aonde  estava 
Francisco' de  Paula,  capitão-mór  de  Olinda,  e  então  foi  elle 
respondente  também,  e  chegando  tá  entregou  o  dito  desta- 
camento ao  dito  capitão-mór,  e  ás  ordens  d'este  íicou  elle 
respiiadente,  o  qual  d'ahi  o  mandou  ao  Recife,  com  orden^ 
ouofficios  para  o  governo,  os  qqaes  foi  entregai ;  depoia 
ficou  na  Soledade,  sem  Ibe  consentirem  ir  á  sua  casa  por 
Ires  dias,  e  depois  o  mandaram  outra  vez  para  o  mesma 
destacamento  de  que  tinha  vindo,  e  foi  na  companhia  dfi 
Domingos  José  Martins,  que  n'es5a  occasião  foi  também 
em  diligencia  para  o  sul,  e  se  ajuntou  so  dito  Francisco 
de  Paula,  o  elle  respondente  ao  seu  destacamento ;  e  sepa- 
rando-se  depois  Domingos  José  Martins,  ficou  dle  respon- 


Dictzedby  Google 


dente  com  Francisco  de  Paula,  que  foi  para  a  Ipojuca,  e 
elle  respoodeote  também,  mas  não  assistia  á  batalha  qae  ' 
ahi  houve,  por  estar  na  occasião  d'ella  doente  na  enferma- 
ria, aonde  foi  avisado  na  noite  que  a  ella'se  seguiu  para  se 
retirar,  e  se  retirou,  e  veiu  para  o  Recife,  aonde  esteve  at^ 
ser  preso,  por  doente,  como  estava  quando  foi. 

Perguntado  se  emquanio  durou  a  revolui;ão  declamou 
contra  Sua  Magestade  como  os  rebeldes  faziam  publica- 
mente, se  insultava  os  presos  de  Estado  quo  oram  realistas 
e  os  que  desconfiava  serem  realistas,  e  eram  brancos,  os 
obrigava  a  pegar  em  luzes,  quando  a  natureza  o  obrigava 
a  irácommúa. 

Respondeu  que  nada  fez  do  que  se  diz  na  pergunta. 

Perguntado  se  antes  da  revolução  sabia  que  ella  se  daria 
de  fazer,  ou  d^ella  tivera  noticia. 

Respondeu  que  não  sabia,  nem  d'olla  tivera  nolicia. 

Instado  que  declarasse  a  verdade,  porque  constava  que 
elle  no  tempo  da  revolução  di/.ía  publicimenla  que  antes 
da  revolução  já  sabia  d^ella  por  ter  ido  a  um  jantar  que 
deu  António  tionçalvcs  da  Cruz  Cabogá  na  Instancia,  aonde 
se  tinha  tratado  da  revolução. 

Respondeu  que  não  foi  ao  dilo  jantar,  nem  tal  *djsso. 

E  por  esta  maneira  bouve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  findas,  que  lidas  ao  respondente  disse  estarem  con- 
formes, eassigooucom  elle  juiz  da  alçada,  e  escrivão  assis- 
tente, de  que  damos  fé:  e  eu  João  Osório  de  Castro  Sousa 
Falcão,  escrivão  da  mesma  alçada,  queoescrevi  e  assignei. 
—  Agostinho  Beserra.—Josá  Caetano  de  Paiva  Pereira. 
-~JoãQ  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão. 


Dictzedby  Google 


SEGUNDAS   PEKGUNTAS 

Anuo  do  nasciflienlo  de  Nosso  Senbor  iesus  Cbrísto  de 
mil  oítocdQlos  e  dezeoove,  aos  sele  dias  do  mez  de  Janeiro, 
n'esta  cadêa  da  cidade  da  Bahia,  onde  veíu  o  Dr.  Beroardo 
Teixeira  Coutinho  Alvares  de  Carvalho,  desembargador  do 
paço  e  juiz  da  alçada,  cominigo  escrivão  da  mesma  abaiio 
assigoado,  e  escrivão  assistente  o  desembargador  José  Cae- 
lano  de  Paiva  Pereira,  ahi  mandou  vir  ao  preso  Agostinho 
Bezerra,  e  posto  em  liberdade  lhe  fez  as  pei^untas  se- 
guintes : 

Pei^ualado  se  ratíticava  o  que  havia  respondido  nas 
perguntas,  que  sd  Ibe  fizeram,  e  agora  lhe  foram  lidas,  ou 
SC  tinha  que  acrescentar,  diminuir,  ou  declarar  alguma 
cousa. 

Respondeu,  que  ralilicava  quanto  havia  respondido,  o 
accrescentava  que  no  tempo  que  esteve  aquartelado  no 
Brom  metteu  uma  guarda  de  capitão  no  CoUegio  em  dia  de 
sabbado  de  Alleluiu,  e  n'essa  noite  foi  rondado  pelo  major 
do  dia,  o  qual  não  achou  a  guarda  completa  porelle  respoD- 
ilente  ter  dado  licença  a  alguns  soldados  para  irem  á  sua 
casa,  e  no  outro  dia  o  mandou  chamar  o  governador  das 
armas  Domingos  Theotonio,  o  o  reprehendeu,  e  mandou 
para  o  dito  aquartelamento  do  Bram,  e  não  obedecendo, 
mas  indo  para  sua  casa,  no  outro  dia  foi  mandado  prender 
e  remeller  ao  referido  aquartelamento,  e  o  tiveram  na  prisão 
ires  dias,  pela  falta  de  exacçâo  no  serviço  dos  rebeldes,  e 
peta  falta  de  respeito  que  lhes  tinha;  e  que  no  dia  seis  de 
Março  elle  respondente  fora  para  o  campo  do  Erário  quando 
tocou  i  rebate  para  o  defender  em  sferviço  de  Sua  Magestade, 
e  ahi  esteve,  o  antes  â'isto  mandou  o  dito  José  Roberto,  até 
esle  entregar  o  campo  e  a  tropa  que  ahi  estava,  e  antes 
d'isto   mandou  o  dito  José  Kobcrlo  a  ellc  respondente  t.' 


Dictzedby  Google 


_  258  — 

regituflDto  dos  Henriques  postarem-se  por  detrás  do  erário, 
com  ordem  de  fazer  desembarcar  agente  que  passava  em 
caaÕBs  do  Uecife  para  a  Boe-Vista,  e  ahi  estiveram  avesse 
serviço  até  o  marechal  os  mandar  chamar  para  fazer  a  dila 
entr^a,  que  foi  quasi  á  noite;  que  feita  a  dita  entrega  elle 
respondente  ahi  ficou  até  ás  sete  horas  da  manhã  do  dia 
seguiale,  que  foi  [>ara  sua  casa,  sem  licença,  onde  esteve  até 
que  foi  cbamado  o  seu  regimento  para  ir  a  uma  revista,  á 
qual  foi,e  lhe  pareceu  que  foi  feita  no  diaquatorze  de  Março, 
mas  não  está  bem  lembrado  se  foi  n'este  dia  ou  oâo  ;  e  na 
dita  revista  mandaram  que  elle  e  outros  ficassem  no  dito 
campo  do  Erário  para  recados  de  seu  serviço,  para  o  qual 
os  tiraram  do  seu  regimento,  mandando-os  ficar  Q'este  ser- 
viço,DO  que  ficou  com  a  patente  de  tenente  que  então  tioba. 

Perguntado  por  ordem  de  quem  deram  um  tiro  n'um 
soldado  que  não  quizéra  obedecer  ás  ordens  que  elle  Ibe 
dera  quando  foi  para  o  Engenho  da  Ipojuca,  onde  houve 
uma  batalha. 

Respondeu  que  tal  tiro  não  dera,  nem  mandara  dar,  nem 
lhe  mandaram  dar. 

Perguntado  se  recebeu  dois  mezes  de  soldos  adiantados 
quando  foi  para  as  ditas  expedições  do  sul. 

Uespondeu  que  não. 

E  por  esta  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  findas,  que  lidas  ao  respondente  disse  estarem  con- 
formes, e  assignou  com  elle  juiz  da  alçada,  escrivão  assis- 
tente, de  que  ludo  damos  fé:  e  eu  JoJo  Osório  de  Castro 
Sousa  Falcão,  escrivão  da  alçada,  que  o  escrevi  e  assiguei. 
— Agostinho  Bezerra. — José  Caetano  de  Paiva  Pereira. — 
João  Osório  de  Cas^o  Sousa  Falcão. 


Dictizedby  Google 


PERGUNTAS  A   BASÍLIO   QDARE3HA  TORREJO 

Anno  do  nascimento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cbrislo  de 
mil  oitocentus  e  dezenove,  aos  nove  dias  do  mez  de  Ja- 
neiro, n'esta  cadéa  da  Bahia,  aonde  veiu  o  Dr,  Bernardo 
Teixeira  Coutinho  Alvares  de  Carvalho,  desembargador  do 
paço  e  juiz  da  alçada,  cominígo  escrivão  abaixo  nomeado,  e 
escrivão  assistente  o  de^embai^ador  José  Caetano  de  l^aiva 
Pereira,  ahi  mandou  vir  á  sua  presença  ao  preso  Basilio 
Quaresma  Torreão,  e  posto  em  liberdade,  deferindo-lhe 
juramento  pelo  que  tocasse  a  terceiro,  lhe  fez  as  perguntas 
seguintes : 

Perguntado  seu  nome,  naturalidade,  morada,  estado, 
idade  e  ocupação. 

Respondeu  chamar-so  Basiiio  Quaresma  Torreão,  natu- 
ral e  morador  na  cidade  de  Olinda,  casado,  de  trinta  annos, 
tabellião  do  termo  da  dita  cidade. 

Perguntado  quando  e  em  que  lugar  foi  preso,  e  qual  foi 
ou  suppóe  ser  a  causa  da  sua  prisão. 

Respondeu  que  cm  doze  ou  Ireze  de  Julho  de  mil  oito- 
centos o  dezesete  se  apresentou  ao  governador  e  capitão- 
general  de  Pernambuco  por  uma  petição,  dizendo  n^slla 
que,  tendo  a  seu  pesar  acompanhado  aos  insui^entes  na 
fuga  que  fizeram,  teve  a  fortuna  de  escapar-se  d^elles,  e 
tendo  andado  escondido  pelos  matos,  temendo  o  tumulto, 
se  lhe  ia  apresentar,  e  elte  o  mandou  para  a  cadêa,  onde 
se  conservou  até  vir  para  esta  cidade,  e  este  foi  o  motivo 
da  sua  prisão. 

Perguntado  em  que  serviu  aos  rebeldes,  e  que  occupação 
lhe  deram . 

Respondeu  que  no  dia  vinte  e  três  de  Abril  do  dito  anno 
recebeu  uma  ordem  de  Domingos  Theolonio,  em  que  o 
chamava  para  tomar  conta  dos  mantimentos  da  tropa  com 


Dictzedby  Google 


—  260  — 

0  titulo  de  almoxarife,  e  linha  na  sua  admíuislração  a 
farinha  e  carne  ;  quiz  Qscusar-se  disto,  e  para  o  conseguir 
pediu  a  António  Carlos,  Ouvidor  de  Olinda,  que  ofHcissse 
por  elle  afim  de  não  sahír  do  officio  de  labellião  que  servis, 
e  também  para  cumprir  as  muitas  cousas  que  elb  Ouvidor 
lhe  havia  encarregado  ;  e  como  nada  conseguisse  serviu  a 
dita  occupação  até  que  Domingos  Theotonio  se  retirou  com 
a  tropa  para  Olinda  e  Norle,  e  elle  respondente  o  acompa- 
nhou, a  que  foi  obrigado  por  ir  debaixo  de  suas  vistas, 
(Ponde  não  podia  escapar. 

Perguntado  até  onde  o  acompanhou. 

Respondeu  que  até  o  Engenho  do  Paulista,  distante  de 
Olinda  três  léguas  pouco  mais  ou  menos. 

Perguntado  se  no  tempo  em  que  serviu  de  almoxarife 
foi  fora  a  alguma  expedição  que  os  rebeldes  mandassem, 
ou  se  serviu  sempre  no  Recife. 

Respondeu  que  serviu  sempre  no  Recife  no  quartel  da 
Soledade,  e  não  foi  fora  á  expedição  alguma. 

Instado  que  dissesse  a  verdade,  porque  dos  autos  cons- 
tava que  elle  fAra  ás  expedições  do  sul. 

Respondeu  que  não  foi,  como  tem  dito. 

1  Perguntado  que  serviços  fez  aos  rebeldes  para  lhe  darem 
o  dito  lugar  de  almoxarife,  que  é  um  lugar  de  interesse 
para  quem  o  serve. 

Respondeu  que  lhes  não  fez  serviços  alguns  antes  d'ísto 
aos  rebeldes,  e  que  o  nomearam  por  terem  notícia  da  sua 
probidade  e  da  sua  conducla,circumstaDCias  que  elles  re- 
queriam paia 'semelhantes  empregos. 

lostadi)  que  declarasse  a  verdade,  porque  constava  que 
elle  respondenle  no  dia  seis  de  Março,  em  que  se  fez  o  le- 
vanlumenlo,  servira  aos  rebeldes,  e  era  um  dos  que  iam  na 
patrulha  que  uintuu  o  ulferes  Madeira  no  bairro  da  Boa- 
vista, e  que  até  fora  um  dos  mais  contrários  a  elle  por  ser 


Dictzedby  Google 


—  íflj  — 

sen  derodor,  para  se  ver  livre  d'ellfl ;  o  que  se  faz  aioda 
mais  acreditarei,  por  ser  depois  premiado  com  o  dito  Ingar 
de  interesse. 

Respondeu  que  no  dia  seis  da  Março  aio  servira  aos 
rebeldes,  nem  foi  em  patrulha  alguma  d'elles;por  isso 
não  matou  nem  assistiu  quando  mataram  80  dito  alferes 
Hadeira ;  que  é  verdade  fdra  a'esse  dia  sois  de  Março  ao 
bairro  da  Boa-Vista  tomar  uma  querela,  mas  assim  que 
ouviu  o  barulho  dos  rebeldes  fugiu  d'elle,  e  se  foi  para  a 
casa  de  Thomaz  António  Maciel  Monteiro,  hoje  juiz  de  fora 
da  Parahfba,  e  retiraado-se  perto  da  noite  para  sua  casa 
por  um  portSo  d'el]e,  foi  preso  por  uma  patrulha  dos  re- 
beldes, que  eslava  na  Soledade,  a  qual  o  entr^ou  a 
Francisco  António  de  Sá  Barreto,  commandante  da  escolta 
da  Boa-Vista,  o  qual  ahi  o  deteve,  e  no  outro  dia  o  deixou 
ir  para  a  sua  casa  em  Olinda ;  e,  supposto  lhe  (leram  o  lugar 
de  almoxarife,  não  foi  por  serviço  algum  que  lhes  tivesse 
feito ;  e  que  se  lh'o  dessem  por  premio  o  nflo  demorariam 
até  o  dia  vinte  e  três  de  Abril. 

Perguntado  se  era  sua  própria  a  letra  do  recibo  e  assi- 
goatura  quese  acha  a  folhas  setenta  e  setedo  Appenso— D. 

Respondeu  que  reronhece  como  sua  própria  a  letra  do 
dito  recibo  e  a^signatura. 

Perguntado  se  antes  do  dito  seis  de  Março  da  revoluç&o 
linha  alguma  noticia  d'ella,  e  das  casas  onde  ella  se  concer- 
tava, e  se  sabe  quantas  eram  estas  casas,  e  quaes  eram. 

Respondeu  que  nunca  soubera  da  revolução,  nem  se 
havia  casas  em  que  ella  se  concertasse,  e  só  soube  d'etla 
no  dia  seis  de  Março  e  d'abi  por  diante. 

instado  que  declarasse  a  verdade,  porque  constava  que  ' 

elle  respondente  era  um  dos  que  frequentava  estas  casas 

em  que  se  faziam  os  ditos  adjuntos  do  concerto  da  revo- 

lurão,  a  saber  a  de  Domingos  Jo<ié  Martins,  do  padre  João 

TOMO   TXXI.  p.  I.  :i4 


Dictzedby  Google 


Ribeiro,  a  de  Anlooío  Gonçalves  dn  Cruz  Cabogá,  s  do 
TÍgario  de  Santo  António,  a  de  Pbilippe  Neri  Ferreira,  ade 
GwTasio  Pires  Ferreira,  e  a  do  padre  Miguelioho,  a  que 
priDcipalmenle  frequealava  a  de  Pbilippe  Neri  e  António 
Goncslras  da  Cmz  Cabogá . 

Respondeu  que  nunca  foi  á  casa  de  Pbilippe  Neri  Ferreira, 
e  que  algumas  rezes  ia  i  casa  de  António  Gonçalves  da 
Cruz  Cabogá,  por  motivos  de  interesse  por  ter  vai-ias  acções 
no  cartório  d^ella  respondente,  e  ser  um  homem  rico,  que 
lhe  pagava  bera,  e  qae  não  wa  costumado  ir  ás  ouUas  casas 
referidas,  e  que  não  lhe  consta  que  em  semelhantes  casas 
se  fizessem  semelhantes  concertos  de  revolução. 

E  por  esta  maneíni  houve  elle  ministro  estas  pe^untas 
por  findas,  que  lidas  ao  respondente  disse  estarem  confor- 
ntes,  de  que  damos  fé,  e  assignou  com  elle  juiz  da  alçada  e 
escrivio  assistente:  e  eu  Joáo  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão, 
escrivão  da  alçada,  que  o  escrevi  e  assignei.  — Basílio  Oua- 
raima  Tomão.  —  José  Caetano  de  Paiva  Pereira.^  João 
Osório  de  CatíroSotuaFalcào. 


SEGUNDAS   PERGUNTAS 

Anno  do  nascimento  de  Nosso  Senhor  Jesus  Cbristo  de 
mil  oitocentos  e  dezeoove,  aos  onze  dias  do  mez  de  Janeiro, 
n'esta  cadéa  da  Bahia,  onde  veiu  o  Dr.  Bernardo  Teixeira 
Coutinho  Alvares  de  Carvalho,  desembargador  do  paço  e 
fuizda  alçada,  commigo  escrivão  da  mesma  abaixo  asstgnado 
e  escrivão  assistente  o  desembargador  José  Caetano  de  Paiva 
Pereira,  ahi  mandou  vir  á  sua  presença  ao  preso  Basilio 
Quaresma  Torreão,  e  posto  em  liberdade  lhe  fez  as  per- 
guntas seguintes: 

Pei^untado  se  raliticava  o  que   havia   lespondido  nas 


Dictzedby  Google 


—  Í63  — 

perguntas  aotecedeotes  e  agora  lidas,  ou  se  lioba  a  accres- 
ceolar,  dímÍDuir  ou  declarar  alguma  cousa. 

Respoadeu  que  ratificava  o  que  havia  respondido,  e 
sómeote  declarava  que,  quando  disse  que  no  dia  sete  de 
Março  Prancbco  António  de  Sá  Barreto  o  deixara  ir  para 
sua  casa  devia  dizer  mais  que  o  dito  Francisco  António  de 
Sá  Barreto  ao  lugar  ds  Boa-Vista  o  mandou  com  uma  escolta 
ao  campo  do  Erário  apresentsUo  a  Domingos  Theotonio,  e 
a  esta  disse  que  elle  respondente  era  tabetlião  em  Olinda 
onde  tinha  a  sua  familia,  e*lbe  permittisse  ir  para  sua  casa; 
elle,  porém, o  deteve n^aquelle  campo  atéá  tarde.esó  então 
lhe  permiltiu  sabir  para  a  dita  sua  casa  e  cidade,  tendo-o 
mandado  armar ;  e  em  todo  o  tempo  que  esteve  no  dito 
campo  do  Erário  esteve  assim  armado. 

E  por  esla  maneira  houve  elle  ministro  estas  perguntas 
por  findas,  que  lidas  ao  respondente  disse  estarem  confor- 
mes, de  que  damos  fé,  e  assignou  coro  elle  juiz  da  alçada, 
escrivão  assistente:  e  eu  João  Osório  de  Castro  Sousa  Falcão> 
escrivão  da  mesma  alçada  que  o  escrevi  e  assignet. — Baai- 
Uo  Quaresma  Torreilo. —  Joaé  Caetano  de  Paiva  Pereira. — 
João  Osório  de  Catlro  Sotisa  Falcão. 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


DOCUMENTOS 
WNtO  KiO-fiUNOS  DSS.  riSOII»,  S."CtlHtKIU 

(EXTHAHIDOa  DO  ARCHIVU  PDBUCO) 


r.APITUL*(;AO  DA  COLÓNIA  PO  SACHANENTO 

Alguns  iirligos 

1762 

IlkD.  a  Exm.  Senhor.  —  Dizem  João  da  Cunha  Neves, 
Manoel  Alves  de  Araújo  e  outros  homeas  de  negocio  n'esta 
cidade,  como  lambem  em  nome  dos  de  quem  são  consti- 
tuidos  assistentes  na  Colónia  do  Santíssimo  SacramentOf 
que,  readendo-se  esta  ás  armaa  de  Sua  Hagestade  Catholica, 
conunandadas  por  I).  Pedro  de  Cevallos,  governador  e 
capítio-general  da  província  de  Buenos-Ãjres,  se  ajusta- 
ram pelas  capitulações  firmadas,  entra  elle  e  o  governador 
da  mesma  Colónia,  o  brigadeiro  Vicente  da  Silva  da  Fon- 
seca, vários  artigos  concM-nentes  á  evacuação  dos  mora- 
dores que  se  achavam  n'eUa,  com  negócios  de  fazendas 
ou  sem  elles;  os  quaes  ditos  artigos  levam  os  suppltcantes 
ao  diante  transcríptos  com  as  r^úxões  que  successiva- 
mente  a  elles  se  lhes  ofFerecem,  para  a  sua  formal  intelli- 
gencia. 

•  Art.  VIII.  Que  tante  o  governador,  como  os  officiaes 
e  soldados  de  toda  a  guarnição,    poderio  embarcar  livrc- 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  á«ti  — 

mento  todos  os  seus  beus,  moveis  e  escravos  que  liveiem, 
ou  veadei-os  ;  como  lambem  os  de  raízes,  para  o  que  se 
nomearão  louvados  de  uma  e  outra  parte. — Concedido 
y  por  lo  que  toca  a  esclavos,  ;  muebles  qaé  sean  pró- 
prios dei  senor  goberoailor,  oficiales,  y  soldados,  de 
la  guarnicion,  y  lambien  por  lo  que  mira  a  los  bienes 
raizes,  que  tuvíeren  dentro  de-  la  ptaza,  si  bailarem  quien 
se-los-compre  eo  el  termino  de  quatro  meses,  a  cuyo 
eíecto  los  duenos  podraa  deiar  sus  poderes  a  quien  les 
pariciere.   > 

«  Aht.  X.  Todos  os  moradores  doesta  pra^a  tanto  eccte- 
siasticos  como  seculares,  e  pretos  livres,  gozarão  a  liber- 
dade de  se  embarcarem  com  lodos  os  seus  bens,  moveis 
'  e  armas  que  tiverem  do  seu  uso,  vendendo  os  que  não  po- 
derem levar,  como  também  os  de  raiz.  —  Concedido,  pêro 
uo  se  entenderan  por  armas  de  su  uzo,  tas  que  se  hu- 
bieren  dado  a  los  vecioos,  y  moradores  de  la  plaza  de 
los  almazenes  delia,  y  por  lo  que  toca  a  los  bienes 
muebles,  y  raizes,  se  estará  a  )o  dicho  en  el  artica- 
lo  6.  * 

D'eslas  convenções  virtualmente  se  entende,  que  aos  pro- 
prietários dos  mencionados  bens  lhes  seria  licilo  dentro 
d*aquelle  peremptório  lapso,  que  se  lhes  prefixou  extrahi- 
rem  os  importes  dos  referidos  bens,  nos  effeilos  que  lhes 
fossem  permittidos;  porque  do  coatrario  se  justificaria, 
que  nas  dhas  convenções  havia  uma  fé  Ião  diametralmente 
opposta  ao  mesmo  que  se  concedia,  como  se  reconhece 
entre  o  sim  e  o  não. 

■  Art.  XI.  Qne  todos  os  commerciantes  que  se  acham 
n'esta  praça  se  poderão  retirar  com  os  effeitos  mercantis 
que  tiverem  de  seu  maneio,  ou  vendéi-os  nomeando-se 
para  isso  louvados  de  ambas  as  partes  >, — Los  mercadores 
que    quizieren   relirar-se  lo-podran  traer  libremenle,  lle- 


Dictzedby  Google 


—  867  — 

vaodo  lodos  sus  efeclos  de  comercio,  y  los  que  'quíiie- 
reo  quedsr-se  en  los  domiaíos  de  Su  Mageslad  prezea- 
lanin  un  inventario  exacto  de  los  geooros  que  tubiereo, 
para  que  el  tribunal  de  la  real  fazieuda  determine  lo  mas 
conrenieale,  sio  peijuicio  de  los  inleresados,  ni  de  los 
derechos  dei  rey. 

Não  se  regulando  o  tempo  em  que  esla  emigrsgáo  se 
havia  de  fazer  a  respeito  das  pessoas  que  na  alternativa  de 
se  retirarem  a  outros  domínios  de  el-rei  nosso  senbitr,  ou 
ficarem  na  dita  praça,  escolhessem  o  primeiro,  é  evidente, 
que  o  espaço  dos  referidos  quatro  mezes,  quese  estabe- 
leceu  por  prazo  fixo  e  improrogavel,  para  a  venda  dos  seus 
bens,  deve  também  ser  o  que  sirva  de  teimo  á  referida  reti- 
rada, com  o  mais  que  d'ellB  dependesse,  maiormente 
sendo  o  conteúdo  nos  citados  arts.  VIII,  X  e  II  um 
proseguimento  da  mesma  matéria. 

■  Art.  Xll.  A  oenhum  dos  referidos  se  poderj  consen- 
tir ficar  na  praça,  porque  devem  ir  dar  coutas  aos  ioleres 
sados  •. —  En  esto  se  procedera  coofortne  lo  diciar  la 
justicia. 

Nem  os  supplicanles  pretendem  exigir  outra  cou^a  que 
esia  mesma  integridade  de  conducla,  que  se  lhes  promelte, 
e  que  é  própria  dos  sentimentos  de  honra,  probidade  e  re- 
ligiio  de  um  cbefe. 

a  Art.  XUI.  Oue  a  lodos  os  moradores  e  bens  que 
houverem  de  ficar  por  náo  podél-os  vender,  nem  transpor- 
tar nas  embarcações  referidas,  lhes  será  permíltido  que 
venbam  outras  a  buscal-os,  ficando  debaixo  do  mando  de 
pessoa  que  os  governe,  o  serio  tratados  com  offabilidade  ». 
—  Los  que  quedarsen  com  bieoea,  o  sin  ellos  de  ben 
estar,  como  todos  los  demas  moradores  de  la  plaza,  subor- 
dinados alofficial,  quemaadare  en  ella,  y  seran  tratados 
dei  mtsmo  modo  que  los  espanoles. 


Dictzedby  Google 


—  26«  - 

A*  vista  d'e9te  soguro,  ssria  leiíiBriclkdtt  eiecnTelreoeiai-se 
da  parle  dos  mercadores  que  inleriDameate  Ikanm  w 
Colónia,  e  dos  que  se  reliraram  deiíaado  n'eUa  os  seus 
Imbs  recommeodados  a  seus  procuradores,  alteração  alguma 
relativa  aos  seus  particulares,  ou  íosiem  considerados  vas- 
salios  de  Sua  Mageslade  Fidelissima,  ou  do  Rei  Calbolico  ; 
porque,  assim  como  os  hespanhóas  nèo  seriam  confiscados 
(salvo  DOS  crimes  em  que  tem  lugar  esta  pena ),  da  mesma 
sorte  deveriam  ser  tratados  os  portugueies  por  força  da 
capitulação  que  a  favor  d'elles  se  conferiu,  ainda  que  os 
íoberanos  sa  lizessem  uma  guerra  mui  viva,  contanto  quu 
os  mesmos  capjtulaules  não  faltassem  em  observar  a  lei 
que  receberam. 

t  Art.  XVI.  Quese  depoisdf  partida  d«  todas  as  respec- 
tivas embarcações,  que  se  acham  ateste  porto  vierem  algu- 
mas de  qualquer  parte  do  Brasil,  oa  fé  de  que  a  praça  se 
conserva  na  obediência  de  Sua  Mageslade  Fidelíssima, 
■terão  tratados  com  toda  n  hospitalidade,  e  se  Ibes  darã 
liberdade  para  voltarem,  como  também  de  poderem  embar- 
car n'ellas  as  pessoas  que  se  não  poderem  transportar  nas 
presentes  ■.—Concedido  por  um  mes,  contado  desde  el  dia 
que  se  firmareo  estas  capitulaciones,  a  las  embareacíoaes 
portuguesas,  que  venieren  desarmadas. 

Pelo  que*se  võ  claramente,  que  o  que  os  contratantes 
acordaram  n'este  artigo  (oi  restrictamente  ã  cerca  d'aquel- 
las  embarcaç-õfls  que  ancorassem  no  molhe  da  sobredita 
Colónia,  não  sabedores  da  sua  conquista,  com  differentes 
íins  dos  que  estavam  prevenidos  no  supra  citado  artigo ;  e 
de  nenhuma  sorte  deveriam  Gear  depredadas  as  que  nave- 
gassem com  o  intento  que  rASuIla  das  mesmas  capitula- 
ç6es  ;  porquanto,  sendo  certo  que  na  Amaríca  está  pro- 
híbido  o  coramercio  entre  os  vassailos  dos  soberanos  que 
possuem  n'eMa  domínios,  assim  da  parte  «epleratrional  do. 


Dictzedby  Google 


EqoMlor,  cotDo  d'e»la  meridioD^l,  não  havia  outro  recurso 
{ura  se  eatr^arem  os  supplicantas  das  summas  em  qu« 
n  liqnjdssgem  os  seus  bens,  do  que  o  de  mandaram  ao 
Rio  da  Praia  wna  embarcação  que  os  houvesse  de  recebert 
commutados  nas  espécies,  de  cuja  eitracção  se  não  offe- 
recesse  a  difficuldade,  que  por  um  principio  de  policia  deria 
nascer  sobre  fazer-se  a  mesma  extracgão  em  |irata,  que 
por  ser  género  precioso  se  não  permitte  passar  a  outros 
reinos,  ainda  que  o  enrio  da  dita  embarcação  não  estivesse 
expressado  nas  mesmas  capitulações,  por  lhes  valer  aquetla 
máxima  inviolável :  Quid  dal  jus  ad  finem,  dal  jut  ad 
media ;  porém  quandoesperavam,  fundados  oa  fé  das  refe- 
ridas capitulações,  rocolher  os  seus  ioleresses,  despachan- 
do doeste  porto  para  esse  efíulo,  ao  da  sobredila  Colónia, 
com  o  passaporte  de  que  juntam  o  teor  por  certidão,  em 
vinte  e  quatro  de  Janeiro  do  presenteanno,  a  Galera  Nossa 
Senhora  da  Gloria,  de.que  era  capitão  Francisco  Barbosa 
Vianoa,  sem  mais  carga  que  a  de  mantimentos  e  aguada, 
tendo  chegado  ao  poiLo  da  mesma  Colónia  em  Fevereiro,' 
antes  de  se  complelarem  os  ditos  quatro  mezes  que  se  lhes 
facultaram  para  a  venda  dos  referidos  bens,  foi  confiscada 
1  mesma  galera,  e  arestada  a  sua  equipagem,  proceden- 
do-se  contra  lodos  os  respeitáveis  princípios  de  justiça: 
c  porque  na  conformidade  do  tratado  da  paz  ajustada  em 
Psríi,  em  dez  de  Fevereiro  do  presente  anno,  entre  os 
priacipesbelligeraotes,  se  restilue  a  esta  corAa  a  sobredita 
praça  da  Colónia  do  Santíssimo  Sacramento,  em  cuja  rein- 
tegração se  deve  tratar  do  mais  que  é  annexo  e  respectivo 
aella. 

fedem  a  V.  Ex.  lhes  faça  mercê  [sendo  servido)  dar 
as  instrucçdes  necessárias  d  pessoa  que  autorisar  pama 
eiecuçfto  do  referido  tratado,  a  respeito  da  dita  entrega, 
■fim  de  que  promova  os  offlcios  a  requerimentos  mais 

TOMO  XXXI,  P.  1  3S 


Dictzedby  Google 


—   270  — 

effectivos,  acerca  da  restituição  da  mencionada  galera,  com 
reparaçio  dos  prejuízos  emergentes,  que  os  suppUcantes 
tfim  experimentado  desde  a  indevida  occupação  e  retenção 


tem  experimentado  desde 
d'elb.  —  E.  R   " 


nim.  fl  Eira.  Senhor.— Dizem  os  homens  de  negocio 
d'osta  praça,  que  negociavam  paro  a  da  Colónia  do  Sacra- 
mento, que  eUes  requereram,  depois  do  óbito  do  Ilim.  e 
Exm.  conde  general  d'eslas  capitanias,  ao  governo  que  lhe 
succedeu,  lhes  concedesse  passaporte,  para  mandar  a 
galera  Nossa  Senhora  daGloria,  de  que  era  capitão  Fran- 
ciso  Barbosa  Vianna,  a  transportar  o  producto  dos  effeitos, 
ou  os  mesmos  acbando-se  ainda  em  ser,  o  nâo  poderam 
evacuar  por  falta  de  embarcações  ao  tempo  que  a  rende- 
ram as  armas  de  Sua  Magestadè  Catholica,  por  terem  a  seu 
favor  08  arts.  VIII,  X  e  XIII  das  capitulações  estipula- 
das enlre  o  governador  da  dita  praça  e  o  Sr.  tenente- 
general  D.  Pedro  de  Cevallos ;  e  como  Ibes  faz  a  bem  um 
traslado  authentico  do  dito  passaporte,  n'estes  termos  o 
nSo  podem  obter  sem  que  V.  £x.  o  ordene. 

P.  a  V.  Ex.  lhes  faça  mercê  ordenar  se  lhes  passe  na 
forma  requerida. —  E.  B.  M. 

P.  não  havendo  inconveniente.  Rio,  dois  de  Novembro 
de  1763. 

F.  196  V.  do  livro  16,  que  serve  n'esta  secretaria  Je 
Estado  do  registro  geral,  se  acha  lançado  o  passaporte  do 
teor  seguinte:— D.  Frei  António  do  Desterro,  bispo  do 
Rio  de  Janeiro,  do  conselho  de  Sua  Magestadè  Fidelíssi- 
ma; Jofto  Alberto  de  Casteibranco,  chanceller  com  o  gover- 
no da  relação  do  mesmo;  Jo$é  Fernandes  Pinto  Alpoim, 
brigadeiro  dos  reaes  exércitos  do  ditu  senhor,  e  lodos 
com  o  governo  das  capitanias  do  Rio  de  Janeiro,  e  Minas- 


Dictzedby  Google 


—  27i  — 

Geraes,  ele.  Porquaato  requerenclo-nos  os  homens  de 
D^ocío  â'esta  praça,  que  commercíavam  psra  o  da  Coló- 
nia do  Sacramento,  lhes  concedêssemos  passaporte  para 
poderem  navegar  para  a  mesma,  a  galera  ISossa  Senhora 
da  Gloria,  de  que  é  capitão  Fraucisco  Barbosa  Tia  una,  e 
Iransportaro  producto  dos  effeítos,  ou  os  mesmos  achan- 
dO'Se  ainda  em  ser,  e  não  poderam  evacuar  por  falta  de 
embarcações  ao  tempo  que  a  renderam  ás  armas  de  Sua 
Hageslade  Calholica,  teado  para  o  fazerem  a  seu  favor  os 
arts.  VIII,  \  e  XIII  das  capitulações  estipuladas  ealte 
o  governador  da  dita  praça  e  o  Sr.  teneolfl-general  D.  Pe- 
dro de  Cevallos,  Em  conformidade  das  quaes  concede- 
mos o  presente  passaporte,  para  que  possa-  navegar 
para  a  dita  praça  da  Colónia  a  referida  galera  Nosaa  Senho- 
ra da  Gloria,  de  que  é  capitão  Francisco  Barbosa  Víanoa, 
a  transportar  ludo  quanto  allegam  e  lhes  foi  concedido, 
persuadindo-nos  de  que  o  dito  Sr.  tenente-general  dos 
reaes  exércitos  de  Sua  Magestade  Calholica  D.  Pedro  de 
Cevallos  fará  cumprir  de  boa  fé  o  estipulado  nos  citados 
artigos,  uj  certeza  de  que  a  mesma  se  praticará  igualmente 
da  nossa  parte  com  os  vassatlos  de  Castella,  quando  haja 
necessidade  de  a  requererem  assim.  Dado  o'esla  cidade 
de  S.  Sebastião  do  Rio  de  Janeiro,  aos  vinte  e  três  de  Ja- 
neiro de  mil  setecentos  e  sessenta  e  três.  D.  Frei  António, 
bispo  do  Uio  de  Jaoeiro,  João  Alberto  de  Caslelbranco, 
José  Fernandes  Pinto  Alpoim,  munido  com  o  sinete  dos 
ditos  governadores,  António  da  Rocha  Machado.  E  não  se 
continha  mais  oo  dito  registro  a  que  me  reporto  ;  e  para 
constar  o  referido  6z  passar  a  presente  em  virtude  do  despa- 
cho retro  do  Illm.  e  Eim.  Sr.  conde  vice-rei  do  Estado  do 
Brasil.  Rio  de  Janeiro,  atresdeKovembro  de  1763.— Fran- 
cisco de  Almeida  Figuew-edo. 


Dictzedby  Google 


ACCORDO  COH  CBVILLOS  SOBRE  A  LINHA  DE  IIHITB 
DOS  DOIS  ACAMPAM B>irOS 

Cópia. —Na  carra  que  agora  recebo  do  gQDJrnl  D  Pedro 
de  Cevallos  me  pedeoflicía)  muDido  dos  meãs  poderes, 
com  quemcuafirao  estabelecimento  de  uma  boa  hariDonia 
e  cessão  de  hostilidades,  visto  estai,  '  i^  p.izfs  justas, 
emquanto  não  chegam  os  preliminares  co.n  -is  ordens  doS' 
soberanos,  para  o  que  da  parte  se  deve  o'''  .'.execução 
d'eUes  ;  e  como  toda  a  demora  n'esle  part.^^.^r  causa  um 
grande  prejuízo  ao  serviço  de  Sua  Mageslade,  e  a  expe- 
riência me  tem  mostrado  a  grande  actividade  e  zelo  com 
queVm.  se  porta  em  tudo  o  que  diz  respeito  ao  ser- 
viço do  mesmo  senhor,  e  o  grande  conhecimento  que  tem 
dos  negócios  e  estado  do  paiz  :  ordeno  a  Vm.  passe  logo 
á  villa  do  Rio-Grande  a  praticar  com  o  dito  general  sobre 
a  matéria,  sendo  os  pontos  príncipaes  os  que  eu  já  por 
carta  com  este  tratava,  como  verá  das  cópias  que  remetto. 

Espero  da  sua  grande  capacidade  obre  Vm.  em  tudo 
com  aquelle  costumado  acerto  de  que  tem  dado  tantas  pro- 
vas para  gosto  meu,  e  credito  da  sua  pessoa.  Deus  guarde. 
Capellade  Viamão,  em  22  de  Julho  de  1763  —  Ignudo 
Eloy  de  IHadureira. — Sr.  capitão  António  Pinto  Carneiro. 


OCCDKRE.^tCIAS  NO  RIO-CRANDE  DEPOIS  l)A  TOMADA  DA  COLÓNIA 
EH  1763 

Senhor.— Pomos  na  presença  de  Vossa  Magestade  o  que 
ha  occorrido-em  o  governo  do  Rio-tirande  de  S.  Pedro,  e 
mais  qoarleis  da  sua  dependência,  depois  que  os  bespa- 
nbóes  se  senhorearam  da  praça  Piova  Colónia  do  Santíssimo 
Sacramento. 

Entrada  esta  praça  pelo  general  D.  Pedro  Cevatlos,  con- 
tinuou este  nos  progressos  da  guerra.e  os  dirigiu  à  povoação 


Dictzedby  Google 


—  m  - 

do  Rio-Graade  de  S.  Pedrp,e,  goiqo  era  natural  que  t)'este 
eslabelecimeoto  descarregasse  o  golpe,  se  haviam  com 
aolecedeacia  prevenido  os  meios  de  defensa.para  a  qual  se 
adiantou  o  coronel  de  dragões  Tboiuaz  Laiz  Osório  com  a 
maior  parle  de  seu  regimento^  as  companhias  de  paisanos, 
e  outras  de  infaalsria,  que  ao  todo  passavam  de  mil  ho- 
mens, a  um  lugsr  pouco  avançado  da  raia,  chamado  Cas- 
liJbos  Pequenos,  onde  principiou  depois  de  declarada  a 
guerra  a  levantar  uma  fortaleza,  para  d^ella  embaraçar  a 
entrada  do  inimigo  n'Bquelle  estabelecimento. 

Em  16  de  Janeiro  do  presente  anno.reconbecendo  nós  a 
qualidade  do  paiz  por  ser  uma  campanha  aberta  e  desti- 
tuída de  sitios  a  propósito  para  f&zer  com  vantagem  op- 
po&ição  ao  inimigo,  dirigimos  ao  dito  coronel  e  ao  governa- 
dor do  Rio^Graode  Ignacío  Eloy  de  Madureira  as  instrucvóes 
do  que  deviam  obrar,  que  em  summa  eram,  que  o  dito  go- 
vernador passasse  com  antecedência  a  arlilheria,  muni- 
ções e  víveres  ao  lado  do  norte  do  dito  Río-Grande,  e  que 
a'elle  montasse  as  peças  que  pudesse,  e  se  cobrisse  com 
uma  trincheira  para  d'ella  disputar  ao  inimigo  o  passo 
d'aqueUe  largo  rio  e  o  Tizesse  de  sorte  que  dado  o  caso'  de 
entrar  este  a'aquella  villa,  não  achasse  cousa  alguma  de 
que  se  pudesse  utilisar,  nem  do  que  pertencia  ã  fazanda  de 
Vossa  Magestade,  nem  á  dos  seus  vassallos.  Ao  curouel  de 
dragões,  que,  prevendo  que  a  força  com  que  o  ioímigo 
o  vinba  atacar  era  muito  desproporcionada  á  com  que  se 
achava,  se  não  seguiria  utilidade  alguma  ao  serviço  de 
Vossa  Magestade  sacrificar-se  e  a  toda  a  tropa  do  seu  com- 
mando  deiíando-a  morta  ou  prisioneira,  antes  seria  útil, 
lazer  uma  retirada  com  bonra,  salvando  tudo  o  que  pu- 
desse até  se  vil  incorporar  com  o  governador  no  lado  do 
norte,  o  qual  se  devia  defender  com  maior  vigor,  pois 
cobria  os  caminhas   que  vão  a  Viamão,  Itio-Pardo,  ilha  d» 


Dictzedby  Google 


—  274  — 

Saata  Calharioa,  e  o  que  atravessando  a  serra  vai  para 
Minas  :  a  um  e  outro  se  apoatavam  os  meios  para  opera- 
rem a  tempo  próprio. 

Com  data  de  20  de  Abril  recebemos  aviso  dogovernador 
do  Rio-Graade  de  que  com  efTeilo  os  inimigos  estavam  á 
vista  da  sobredita  fortaleza  de  Caslilhos  Pequenos,  e  que  o 
dito  coronel  lhe  participava,  visto  o  estado  em  que  se 
achava,  não  teria  outro  remédio  que  sujeitar-se  ás  leis  da 
guerra,  o  que  fez  no  segundo  dia  em  que  os  bespauboes 
acamparam  á  vista  da  fortaleza,sem  que  estes  perdessem  um 
tiro  de  fuzil,  enlregando-se  prisioneiro  com  peito  de  sete- 
centas pessoas,  e  lodos  os  oflíiciaes  que  o  acompanharam. 

Nem  este  coronel,  nem  o  governador  do  Rio-Grande, 
deram  a  executo  ás  ordens  que  lhes  havíamos  remettido, 
do  que  procedeu  (logo  que  na  dita  villa  souberam  da  en- 
trega da  fortaleza)  ser  tal  a  confusão  no  governo  e  povo, 
que  com  maior  desordem  abandonando  os  seus  haveres, 
uns  passavam  ao  lado  do  norte,  e  outros  a  embarcai-se  em 
duas  embarcações  que  estavam  D'aquelle  porto,  que  nave- 
garam carregadas  de  gente  ao  d'esta  cidade. 

Ao  mesmo'  tempo  entraram  na  villa  duzentos  e  tantos 
dragões  que  se  retiraram  da  fortaleza,  fazendo  ainda  maio- 
res hostilidades  do  que  poderia  fazer  o  inimigo. 

E,  devendo  o  governador  ainda  a  este  tempo  conser- 
var-se  na  guarda  do  norte  para  d'ella  impedir  a  passagem 
ao  inimigo,  ajuntando  n'aquelle  lugar  o  povo,  deiíou  ao 
desamparo  posto  tão  importante  e  marchou  a  Viamão,  de 
donde  nos  deu  conta  do  succedido  :  sem  embargo  de  tudo 
sempre  continuámos  com  os  soccorros,  sendo  o  ultimo  de 
seis  embarcações  cobertas  pelo  corsário  de  guerra  inglez 
que  aqui  se  achava  ;  três  ani:.idas  também  em  guerra,  e 
Ires  de  transporte,  nas  quaes  embarcámos  trezentos  solda- 
dos em  fíujo  numero  so   incluíam   noventa  granadeiros,    c 


Dictzedby  Google 


—  2T5  ,- 

30  mesmo  tempo  remellAmos  dÍDheiro,  munições  e  vive- 
res, com  as  ordens  que  se  deviam  seguir  para  a  conlioua- 
ção  da  guerra. 

E  como  t\o  dilo  governador  Ignacio  Eloy  a  tropa  e  pai- 
sanos haviam  perdido  já  o  respeito,  por  causa  de  não  dar 
a  tempo  a  execução  ás  instrucções  que  lhe  havíamos  diri- 
gido, e  que  3  grande  moléstia  que  actualmente  padece  o 
impossibilitava  a  dar  os  promptos  expedientes  de  que  care- 
cia uma  guerra,  resolvamos  que  elle  se  retirasse  á  ilha  de 
Santa  Catharina,  a  cuidar  da  sua  saúde,  e  mandámos 
tomar  o  governo  do  que  ainda  estava  por  nÕs  ao  tenentc- 
coronel  de  dragões  Francisco  Barreto  Pereira  Pinlo,  quo 
se  achava  commandando  o  quartel  do  Rio-Pardo. 

Este  teneote-coronel  na  duração  da  guerra  teve  dua? 
occasíões  de  victoria,  a  primeira  mandando  atacar  nos 
campos  das  aldèas  do  Uruguay  ura  reducto  que  comman- 
dava  um  capitão  d'infanlaría  hespanhol  com  bastantes 
soldados  e  Índios,  e  não  só  os  desalojou,  como  lhes  ganhou 
a  Tronteiro,  munições  e  viveres,  uma  grande  porção  de 
gado  e  cavallos,  e  trouxe  prisioneiros  alguns  officíaes,  e 
um  padre  da  companhia  que  falleceu  de  uma  ferida  que 
recebeu  no  choque:  a  segunda  a  de  mandar  surprehender 
umaaldfia  das  do  mesmo  rio  Uruguay,  da  qual  se  condu- 
ziram sete  centos  e  tantos  índios,  bastante  eado  e  cavaKos, 
e  mais  cousas  que  n'ella  havia,  e  outro  padre  da  compa- 
obía  prisioneiro,  que  se  acha  no  mosteiro  de  S.  Bento 
d'esta  cidade. 

Com  a  ch^da  das  noticias  da  paz  resolvemos  mandar 
protestar  ao  general  hespanhol  suspendesse  por  esta  razão 
as  hostilidades  da  guerra;  epondo-se  por  obra  esta  diligencia 
chegou  aviso  do  dito  general  com  a  certeza  de  que  as  sus- 
pendia por  ter  ordons  da  sua  cArte  para  o  mesmo  lim  ;  e 
com  elTeito  pararam  de  uma  e  outra  parte ;  como  ainda  não 


Dictzedby  Google 


-  276  — 

recebamos  as  ultimas  ordens  de  Vossa  Hagestade  para  a  con- 
clasSo  do  estipulado  no  tratado  de  paz  preseotemente  con- 
cluido,a3  esperamos  para  sabermos  como  devemos  obrar. 

Peta  secretaria  d'Estado  damos  esta  mesma  conta  a  Tossa 
Magestade,  que  circurnstanciamos  com  documentos  e  um 
mappa  de  todo  o  paiz  para  maior  inlelligencia  dos  succes- 
sos,  e  das  ordens  que  distribuimos  ao  governador  e  com- 
mandan(esd'aquelle  continente. 

A  muito  alta  e  poderosa  pessoa  de  Vossa  Magesladegoar- 
de  Deus  os  ânuos  que  seus  vassallos  lhe  pedimos.  Rio  de 
Janeiro  30  de  Julbo  de  1763. 

N.  B. — Sem  assignatura  mas  parece  ser  oflicio  dirigido 
ao  governo  de  Lisboa,  pela  administração  que  succedeu  ao 
conde  de  Bobadetlo. 


CÓPIA  DEL  VANDO  QUB  HAMDÕ  PUBUCAR  D.  JOSEPB  NIETO  IM- 
PEDIENDO  EL  TltiTO,  COHUNICACION,  Y  NEGOCIO  COK  LOS 
PORTUGUESES. 

O.  Joseph  Nielo,  tenienle  de  infanteria  de  los  reáles 
ejercilos  de  Su  Magestad,  y  comandante  dcl  real  campo 
de  San  Carlos  y  sus  repartimienlos,  etc.  Habieado  se  en- 
tregado de  ofden  dei  Rey  la  plaza  de  la  Colónia  de)  Sacra- 
mento', manda  Su  Magnslad  que  se  lepongan  guardiãs 
capases  de  impedir  e)  comercio  ilícito  coo  que  esta  mis- 
ma  plaza  se  ha  sustenido  lanios  aAos  con  perjuicío  casi 
irreparable  de  los  inlereses  de  nuestra  monarquia  :  E  para 
que  esto  se  ejecule  con  efecto  que  Su  Magestad  desea, 
se  haze  sabem  toda  la  tropa,  así  dependienles,  ya  cuales 
quiera  oiros  vassallos  ao  E)-Rey  ;  por  el  preso;ile  vando 
que  desde  esta  misma  ora  se  defiende,  õ  prohibe  Ia  co- 
municacíoa  por  palabra,  6  porescríplo,  oon  todos  los  ha- 
bitantes, y  residentes  de  la  dicba  plaza,  sin  que   persoaa 


Dictzedby  Google 


alguoa  (ie  esta  jurisdicion  pueda  pasar  de  nuostras  cenli- 
nelas  ni  penetrar  por  elas  algun  individuo  de  la  expres- 
sada CuloDÍa,  saibo  en  el  caso  de  que  algua  desertor,  ò 
delinquente  venga  buscando  el  asíIo  de  nuestra  baadera. 
Sobre  todo  se  encarga  que  ninguno  se  atreva  a  introducir 
gaaado,  trigo,  carne,  ní  otra  alguna  espécie  de  bastimen- 
los.  d  viveres  coo  que  la  plaza  ò  algiin  particular  de  ellos 
pueda  ser  socorrido.  Y  en  una  palabra  no  pudera  intro- 
ducirse  cosa  alguna  de  cualquiera  naturaleza  que  ela  sèa, 
sin  que  el  conlraventor  deje  de  incorrir  inmediatameate 
en  Ia  pena  impue^tta  por  el  vandn  dei  ano  de  1737,  por 
el  cual  se  areglará  irreniisibteaiente  el  mas  severo  castigo 
para  el  que  abandonarse  su  honor  y  estimacion,  sin  cum- 
plir  con  su  obligscion,  y  se  entregue  a  cometer  los  exce- 
sos  que  con  tanto  perjuicio  de  nuestros  intereses  se  ha 
experimentado  en  otras  ocasiones  ;  debiendo  prevenir 
como  prevengo,  y  la  experiência  hard  ver  que,  en  un 
punto  de  tan  notable  entídad  nó  tendré  el  menor  disiniulo, 
en  este  género  de  delinquentes.  Y  como  nó  es  íacíl,  que 
los  particulares  lo  sean  sin  el  penníso,  i)  condescendên- 
cia de  los  oficiales,  se  encarga  a  estos  elmayor  cuidado  y 
vigilância  sobretudo  lo  dícho,  e  especialmente  sobre  nu 
permitir  por  motivo  ni  pretexto  algtino,  que  ningun  sol- 
dado que  de  nuestr»s  centinelas  pase-,  porque,  de  una  per- 
micion  tan  perjudicial  será  responsaWe  y  castigado  seve- 
ramente el  soldado,  A  persona  que  en  esto  faltase  a  su 
deber  :  quedando  unicamente  en  mi  la  faculdad  de  po- 
der permitirlo  con  arreglamíenlo  á  ex  particular,  y  instru- 
cion  dei  Exm.  Senor  geberoaSor,  y  capitan  general.  ¥  para 
que  DÍnguDO  alegue  ignorância,  mande  publicar  el  presente 
vaodo  en  et  campo  de  Santo  António  en  39  de  Decienibre 
de  f763  anos. 


TOMO   XXXI,    P.    1. 


DictzedbyGoOglC 


—  278  — 

COPIA  noBAxmt 

Ordenando  qiie  os  Uespankóes  sejam  iroíatíos  como  amp- 
;/oí  ((íidír  ao  caiitf)o  NEUTRAL,  e proliHindo  o  t7-aío  e  rotn- 
v)ercio  cmn  os  mesmos  al^m  do  dUo  campo. 

PF.nR»l  JOSÍ  SOARES  tiE  HCtEIREllO  SARMFNTO,  COBOKEI. 
liE  INFANTARIA  E  GOVERNADOR  DA  PRAÇA  DA  COLOKIA  DO 
SACRAMEMO  POR  SPA  MAfiP.STVDE  VIDEUSSIMA.  QUE  DEliS 
iIllARDE,  ETC. 

llaven-lo-se-niie  Teito  entrega  d'esla  praça  da  Colonin  do 
Sacramento,  pelo  governadoí'  e  capitão-general  das  pro- 
vinrias  do  Rio  da  Pralii,  D.  Pedro  de  Cevaltos,  por  cédula 
lie  Sua  Mageíttade  Catbolica,  que  para  o  referido  elTeito  da 
•inlrega  llie  foi  apresentada  pelos  fundamentos  sólidos  e 
Jirine  estabelecimento  do  tratado  definitivo  de  paz,  que  se 
■celebrou  na  cdrte  de  Paris  a  dez  de  Fevereiro  de  17Q3 
pelos  plenipotenciários  de  ?i\ia  Mageslade  Fidelíssima  e 
Sua  Magestade  Calholica,  protestando  no  artigo  primeiro 
do  dito  tratado  conservar  uma  paz  cbrístã,  universal  e 
perpetua,  tanto  por  mar  como  por  terra,  e  uma  amizade 
'«incera  e  constante,  entre  Suas  Magestades  e  os  vassallos 
das  suas  cordas,  e  outras  razões  fortissimas  com  que  esta- 
belecem e  confirmam  a  dita  paz :  Ordeno  a  todos  os  meus 
súbditos,  tanto  militares  como  paisanos,  que  sem  embargo 
dn  bando  que  por  Ordem  de  Sua  Magestade  Catbolica 
mandou  publicar  o  tonentf-coronel  D.  José  Neto  e  Botellio, 
cnramandante  do  campo  real  de  S.  Carlos,  a  vinte  e  nove 
de  Dezembro  de  1763,  com'  a  permiss&o  do  governador  e 
capitão-general  fí.  Pedro  de  Cevallos,  em  que  debaixo  de 
rigorosas  penas  se  probibe  totalmente  o  trato  com  os 
vassallos  de  Suo  Magestaile  Pidelissima,  tanto  de  palavra 
como  por  escripto,  como  declara  o  mesmo  bando :  que  em 


Dictzedby  Google 


—  279  — 

teda  a  occasião  qu«  tiverem  de  eomaiunicar  com  os  hes- 
paohoes  os  tratem  como  amigos,  conservando  oom  olles, 
reciprocamente  a  amizade  que  elles  ofTerecein,  entrando 
por  algum  iDCidente  ao  campo  a  que  chamam  neutral,  ou 
ainda  para  cá  das  guardas  pwtuguezas,  com  permissão 
minha;  porém  ptobibo  a  toda  a  pessoa  de  qualquer  quali- 
dade que  seja,  o  passar  do  campo  chamado  neutral  a  pe- 
netrar as  guardas  hespanbolas,  ainda  que  seja  com  com- 
seotimento  das  mesmas  guardas,  ou  do  commandante  do 
campo,  sem  por  mim  ser  maadadn,  ou  com  permissão 
minha,  só  viado  tempo  em  que  seja  franca  e  amigável  a 
commuDÍcação  pelos  commaodantes  agora  probibida, 
que  só  assim  se  dá  cumprimento  á  boa  correspondência 
que  Suas  Magestades  estabelecem  ao  ultimo  tratado  de 
paz ;  e  outrosim  prohibo  a  toda  a  pessoa  de  qualquer 
qualidade  que  seja,  se  atrevam  a  iutroduzir  nos  domioíos 
deUespanha,  pelos  portos  scccos  ou  molhados,  qualquer 
género  de  fazenda  de  commercio,  pela  probibiçào  que 
para  esse  effeito  se  estabelecesse  no  capitulo  sétimo 
do  tratado  de  Uirech,  o  qual  se  confirma  pelo  ultimo  tra- 
tado da  paz;  como  também  probibo  a  toda  a  pessoa  de 
qualquer  qualidade  que  seja  o  usar  do  armas  defesas, 
como  facas,  pistolas  e  oulras;  e  o  que  delinquir  na  mais 
minima  parte  d'esle  bando  será  irremimissivelmente  castiga- 
do com  as  penas  dalei,  que  Sua  Magoslade  Fidelíssima  man- 
dou promulgar  contra  os  delinquentes  doeste  género.  E  para 
quQ  nenhuma  pessoa  possa  allegar  ignorância,  mandei  á 
som  de  caixas  publicar  este  bando  pelas  partes  mais  publi- 
cas doesta  praça,  e  se  afiSxará  na  porta  do  corpo  da  guarda 
principal.  Colónia  do  Sacramenlo,  a  seis  de  Abril  de  1764. 
— Jo$i  Pereira  deSoiua,  secretario  do  goverao,  o  escreveu. 


Dictzedby  Google 


ItfVMJlO  DA  novUKU  DO    MO-GRANDE  DE    S.  PEDRO  PELOS 
USTBUUJfOS  EH   1?63 

Illm.  e  Exm.  Sr. —  Achaodo-se  esta  província  do  Rio- 
Grande  de  S.  Pedro  na  ultima  ruína,  pela  invasfio  que 
D'ella  fizeram  os  castelhanos  em  18  de  Abril  de  1763,  com 
a  maior  parte  dos  seus  moradores  dispersos  pelo  Rio 
de  Janeiro,  liba  de  Santa  Catbariiia  e  Laguna,  e  bavendo 
fallecido  o  governador  d'eUa,  o  coronel  Ignacio  Etoy  de 
Madureira,  e  tudo  na  maior  confusão  o  desordem,  me  or- 
denou o  lUm.  e  Ex.  Sr.  conde  de  Cunha,  antecessor 
de  V.  Ex.,  a  viesse  governar,  e  para  o  dito  efTeilo  sahi  do 
Rio  de  Janeiro,  d'onde  era  coronel  d^um  dos  regimentos 
de  infantaria,  em  7  de  Março  de  1768. 

Nas  instrucções  que  então  me  deu  o  dito  senhor  ponde- 
rava que  entre  as  importantes  dependências,  que  n  aquelte 
(empo  se  moviam  no  Estado  do  Brasil,  eram  as  de  maior 
difficnldade  as  do  Rio-Grande,  e  que  estas  só  as  fiava  da 
minha  conducta,  ordenando-mu  que  fosse  a  primeira  base 
do  meu  governo  a  diligencia  que  devia  fazer,  por  fazer  feli- 
zes e  abundantes  estes  afllictos  povos,  que  tantas  misérias 
haviam  padecido  por  causa  da  guerra,  e  pelos  descuidos  de 
quem  os  havia  governado ;  e  como  para  dar  conta  a  V.  Ex. 
do  estado  em  que  presentemente  ludo  se  acba  é  preciso 
repetir  as  ordens  que  o  mesmo  senhor  me  deu,  e  o  que 
tenho  obrado  a  este  respeito,  o  farei  com  a  brevidade 
possível . 

Achavam-se  n'es(a  provinda  ao  tempo  da  guerra  seiscen- 
tas famílias  de  Índios  vindos  das  missões  hespanholas,  nas 
quaes  ha  mais  de  (res  mil  almas,  e,  como  V.  Ex.  ignora  o 
modo  com  que  aqui  entraram,  o  exporei. 

Quando  o  nosso  exercito,  auxiliando  o  d'el-rei  catholico, 
marchou  a  pAr  em  obediência  os  sete  povos  SBblevados 


Dictzedby  Google 


—  381  - 

da  margem  oriental  do  rio  Urugoay,  para  o  tim  da  demar- 
cação de  limites,  e  da  eotrega  do  terreno  que  occupavam  os 
memiOB  pOTOS,  o  qual  devia  aiigmeolar  o  domínio  d'et-rei 
nosso  senhor  por  este  lado,  diurnos  aos  mesmos  povqe 
com  felieidadd,  sem  embaixo  das  opposições  dos  mesmos 
índios,  e  n'estas  aldèas  tomámos  quartéis,  a  tempo  que  já 
elles,  arrependidos  da  sua  repugnância,  nos  principiaram 
a  tratar,  e  TÍeram  no  eoabecimento  de  que  não  éramos  tão 
máos  como  lhes  faziam  crer  as  grandes  politicas  dos  par 
dres  jesaitas,que  sefuadaTamem  os  separar  de  toda  a  com- 
muDÍcação  não  só  dos  portugueses,  mas  alé  dos  próprios 
hespaobóes,  para  que  em  nenhum  tempo  os  índios  en- 
trassem no  conhedmento  da  sociedade  que  tém  entre  si 
as  Dações  polidas,  por  não  virem  a  sabir  da  escravidfio  em 
que  baviam  sempre  conservado  esla  miserável  gente,  que 
toda  concorria  para  as  suas  grandes  conveniências,  sem  ja- 
mais poderem  passar  do  seu  primitivo  estado ;  pois  a  con- 
Unuaçfio  dos  bddos,  os  seus  grandes  trabalhos  e  lavouras, 
fabricas  e  crias  de  auimaes,  jamais  para  elles  podia  augmen' 
tar  riqueza  alguma  a  cada  família  ;  pois  lhes  não  consen- 
tiam nem  ainda  aquellas  cousas  indispensáveis  a  qualquer 
pobre  e  miserável,  porque  as  suas  casas  se  Dão  distinguiam 
das  senzalas  dos  nossos  escravos. 

Cada  bmilia  occupava  uma  só  casa,  sem  outro  algum 
inovei  que  uma  rede  a  cada  pessoa  para  dormirem  ;  umas 
poucas  de  paoellas  de  barro  para  cozerem  a  carne,  sem 
msis  tempero,  e  a  cozinha,  ou  fogueira,  para  o  fazerem  no 
meio  da  mesma  casa,  que  (ambem  lhes  servia  de  luz,  e 
indecentemente  se  accommodavam  n^ella  os  maridos,  as 
mulheres,  os  filhos  e  fílbas,  uns  á  vista  dos  outros,  sem 
f!n(rar  n'eUes  aquelle  pudor  Uo  natural  em  quem  tinha 
conbecímeulo  a  reUgião  catholica,  e  ainda  sendo  dirigidos 
por  sacerdotes ;  em  ama  palavra,  todo  o  systema  d'estes 


Dictzedby  Google 


padns  era  o  de  os  cooseivar  sempre  pobres,  abatidos,  e 
que  de  sorte  alguma  podess^n  vir  a  passar  em  neaham 
tempo  do  estado  de  índios  a  vasseltos  do  seHSobwaoo; 
porque  n'esse  caso  o  deixariam  de  ser  dos  mesmos  padres, 
e  perderiam  o  graude  império  que  possuiam  em  trinta  e 
uma  aldAas  na  província  do  Para^uay. 

Experimentando  os  Índios  a  docilidade  com  que  os  tra- 
támos em  quanto  durou  aquelle  quartel,  e  atais  que  tudo 
por  se  aproveitarem  da  oecasião,  que  a  forbme  lhes  ofe- 
recia, de  sahirem  da  escravidão  em  que  se  achavam  ao 
tempo  em  que  marchávamos  dos  ditos  povos  para  o  Rio- 
Pardo,  nos  acompanhou  um  grande  numero  de  familias  ; 
e  advertindo  o  Illm.  e  Exm.  Sr.  conde  de  Bobadella  que 
o  general  espanhol  lhe  poderia  fazer  alguma  carga,  incul- 
cando que  eUe  lhe  desinquietava  os  índios  para  os  traiM' 
para  o  nosso  domínio,  escreveu  repelidas  cartas  áquelle 
general,  para  que  procurasse  evitar  esta  desordem,  nas 
quaes  o  dito  senhor  lhe  asseverava  Qão  haver  coacorrido 
para  tal ;  e  que  mandasse  pór  guardas  suas  nos  passos  para 
a  embaraçar,  o  que  o  dito  general  fez,  mas  sem  fructo ; 
porque  pela  outra  parle  a  tropa  lhe  dava  todo  o  auxílio 
para  passarem  s^uros,  por  comprebender  que  o  nosso  ge- 
neral assim  o  queria,  e  ouvia  sem  displicência  as  noticias 
de  irem  passando  sem  embaraço,  e  com  efTeilo  chegou 
ao  Rio-Pardo  um  grande  numero  de  famílias. 

N^este  quartel  sabendo  o  mesmo  general  hespanhol  a 
quantidade  dos  que  se^havíam  transportado  á  nossa  parte, 
escreveu  repetidas  cartas  ao  Sr.  conde  de  Bobadella,  para 
■que  lhe  restituísse  os*iadios ;  sempre  o  dito  senhor  se  mos- 
trou desinteressado  n^esta  parte,  e  empenhado  em  que  volr 
lassem  os  índios  para  as  suos  aldèas ;  (porém  isto  porque 
sabia  muito  bem  que  nada  os  faria  mover )  rospondeu-lhe 
por  varias  vezes,  que  mandasse  ofliciaes  seus  a  reduzil-os, 


D,:„l,;cdtv  Google 


._  2*1  - 

e  até  penoittia  que  viessem  pa<Iresa  esta  mesma  diligencia; 
porém  só  colheram  por  fruelo  das  grandes  (sic)  que 
fizenm  algumas  desattenções  dos  mesmos  Índios;  até  que 
ultimamente,  para  de  toda  a  sorte  mostrar  o  Sr.  conde  que 
os  Dão  queria,  prop6z  ao  general  hespanhol  se  convinha 
elle  que  mandasse  fazer  fogo  petas  tropas  aos  índios,  que 
fugidos  d'aquellas  alddas  quizessem  entrar  no  nosso  paiz, 
com  o  que  se  fizeram  as  inslandas  mais  moderadas,  desde 
aquelle  tempo ;  porém  aunea  o  general  hespanhol  se  es- 
quecea  do  grande  numero  de  índios  que  passou  á  nossa 
parte,  e  para  resarcír  aquelia  falta  procurou  no  tempo  da 
guerra,  que  as  famitias  do  Río-Grande  passassem  ao  domí- 
nio hespanhol,  fazendo-lbes  vários  partidos,  o  que  tem 
conseguido  de  um  grande  numero  d^etlas. 

Sei  que  de  tudo  deu  conta  o  dito  Sr.  conde  a  Sua  Ma- 
gestade  e  que  lhe  foi  approvado  tudo,  pois  lhe  devi  a  honra 
de  me  communicar  alguns  d^aquelles  particulares,  pela  ter 
de  ficar  por  seu  substituto,  e  com  todos  os  seus  poderes 
nas  dependências  da  demarcação,  quando  se  retirou  para 
o  Rio  de  Janeiro,  e  que  Sua  Magestade  estimou  haver  tira- 
do da  escraTidâoa  tantos  miseráveis,  e  quo  elles  eiperi- 
■oentassem  os  efTeitos  da  sua  real  piedade  e  benevolência  ; 
porque  sem  embargo  da  despeza  que  já  com  elles  se  fazia, 
pois  o  Sr,  cond(3  mandava  cobrir  a  muitos  que  chegavam 
quasi  nús,  sustentando-os  com  farinha  e  carne,  se  esten- 
deu a  muito  mais  areal  grandeza  d'«l-rei  nosso  senhor, 
maudando-lhes  uma  grande  porção  de  géneros  para  se  ves- 
tirem, que  segundo  o  nosso  orçamento  haviam  de  importar 
em  mais  de  setenta  mil  cruzados. 

.  Retirando-se  o  Sr.  cende  para  o  Rio  de  Janeiro  ficaram 
os  Índios  QO  quartel  do  Rio-Pardo  sem  se  arrumarem,  nem 
estabelecerem  em  forma;  porém  logo  que  houve  a  certexa 


Dictzedby  Google 


(la  guerra,  os  mandou  retirar  o  mesmo  senhor  para  o  inle- 
rior  da  província  pelos  não  expAr. 

Passaram  «lom  effeilo  para  os  campos  de  Víasaio,  d*oade 
se  acham  sem  formalidade  continuando  a  fazenda  real  em 
despender  com  alies  a  carne  precisa  para  seu  sustento  ; 
pois  sem  esta  seria  impossivel  á  sua  subsistência. 

Tem  gasto  a  real  fazenda  na  compra  das  reies  com  que 
tbes  assiste  mnítos  mil  crusados ;  lém-se  despovoado  de  ga- 
dos as  estancias  dos  moradores,  que  vivera  na  maior  deca- 
deocia,  por  se  lhes  não  pagarem,  cujo  mal  se  multiplica  com 
a  continuação  indispensável  do  sustento  com  que  se  soccor- 
rem.  Dirainurai-se  os  dizimes,  porque  se  debilitam  as  es- 
tancias ;  os  reaes  direitos  nos  registros  por  d'onde  passam 
os  animaes  para  Minas  rebaixam  em  grande  parte,  por  não 
terem  que  comprar  os  negociantes  que  baixam  a  serra  ;  e 
finalmente  com  a  infelicidade  da  perda  do  Rio-Grande,  cu- 
minba  esta  provincia  á  sua  lotai  ruina,  sendo  os  ditos  Ín- 
dios uma  das  principaes  causas  para  não  tornar  a  Dorecer. 
Muitas  e  reppetidas  vezes  representei  ao  Htm.  e  Exm.  Ar. 
condo  de  Cunha  todas  estascircumslancias,  pedindo-lhe  me 
desse  o  melbodo  para  a  arrumação  dos  mesmos  índios,  e 
depois  de  me  ouvir  em  papel  que  fiz  sobre  a  mesma  maté- 
ria me  respondeu,  ha  mais  de  um  anno,   que  breveiaente 
me  mandíiria  as  ordens  a  este  respeito,   pois  as  tinha  de 
Sua  Mogestade,  porém  até  o  presente  n&o  chegaram ;  sendo 
este  particular  de  tanta  consequência  e  de  tanta  pondera- 
ção, pois,  dese  não  tomarsobreelle  umaprompta  e  decisiva 
deliberação,   se  s^uira  o  arruinar-se   inteiramente  a  pro- 
vinda, que  já  não   pôde  soffrer  o  peio  que  lhe  fazem  os 
ditos  Índios,  e  dentro  em  breve   tempo  veremos  despovoa- 
das de  gados  as  grandes  fazendas  que  d'elles  havia,  pois 
se  gastam  com  os  mesmos  índios  por  anno  sete  mil  rezes, 
não  entrando  n'cste  numero  as  que  se  despendem  com  iis 


Dictzedby  Google 


—  288  — 

tropns,  qii« '"''fls  tPm  ra^flci  dn  c^rne,  e  já  p"S^pf|i  de -pí- 
annos  que  .>u  papani  as  rezes  que  se  loiuim  acis  niura- 
dores,  as  quaes  importam  em  grande  somma  de  cabedal ;  e 
é  esta  dependência  mui  digna  da  atteoçáo  de  V.  Ex.  pelas 
coDsequenúas  qun  envolvr*. 

Propuz  ao  mesmo  Sr.  conde  de  Cunha  que  estes  indios 
se  oecupavam  em  vários  trabalhos  do  real  serviço,  o  que 
tdra  feito  em  obras  de  fortificação  qae  tenho  erigido  para 
defensa  d  'esta  província,  e  em  tudo  o  mais  que  se  ofTerece, 
e  que  seria  bom  arbitrar-lhes  algum  jornal  para  ajuda  de  seu 
vestuarío  e  das  suas  famílias  ;  ordenou-me  apontasse  eu  o 
quanto  se  lhes  devia  dar,  o  que  fiz ;  porém  resultou  tornar 
a  ordenar-me  o  mesmo  senhor  se  lhes  não  desse  nada,  c 
mandasse  eu  dizer  os  géneros  que  precisavam  para  so  ves- 
tir, o  que  executei  em  dezoito  de  Julho  do  anno  próximo 
passado,  porém  não  tive  resposta,  do  que  se  tem  seguido 
estarem  todos  nús  por  se  lhe  haverem  consumido  os  ves- 
tuários que  Sua  Magestsda  lhes  mandou. 

Foi  o  Sr.  conde  de  Cunhn  servido  ordenar-me  arramaste 
eu  as  famílias  que  das  ilhas  havia  Sua  Magestade  man- 
dado conduzir  a  este  continente  para  o  povoarem,  as  quaes 
se  achavam  dispersas  sem  lhes  haverem  cumprido  as  pro- 
messas que  !-;i.i  Magestade  lhes  fez,  quando  os  mandou 
sahir  das  suas  terras,  e  que  para  eu  os  arrumar  em  povoa- 
ções tirasse  das  fazendas  cpie  se  tivessem  dado  de  sesma- 
ria as  porções  de  terreno  preciso  para  lhas  inteirar  as  suas 
datas. 

Logo  que  cheguei  a  este  governo  procurei  dar  cumpri- 
mento a  esta  importante  ordem,  seguindo  em  tudo  as  de 
Sua  Magestade  que  se  acham  n'esta  provedoria  a  respeito 
das  mesmas  famílias,  e  com  effeilo  fundei  a  primeira  po- 
voação junto  do  passodorio  Tebiquary,  em  situaçSo  que 
achei  própria  para  a^  utilidades  e  lavouras  dos  mesmos 

TOSCO  XIXI.  P.  [  37 


D,:„l,;cdtv  Google 


povoadores,  e  lb'a  fiz  corei  lodi  a  regularidade,  em  ruoR, 
casas  e  praça,  e  querendo  dar  principio  á  igreja  só  pude  con- 
seguir o  tirar  us  madeiras  para  ella  do  mato,  porém  não 
tive  meios  para  metter  mftos  á  obra:  pedi  ao  Sr.  conde  de 
Canha  me  mandasse  as  ferragens  precisas,  pregos,  e  os 
paVameDios  para  a  dita  igreja,  e  sá  me  mandou  a  imagem 
do  Senhor  S.  José,  cuja  vocação  Ibf  puz  em  memoria  do 
nome  de  nosso  augusto  suberano,  e  me  avisou  que  os  pa- 
rameatos  se  Scavam  fazendo,  os  quaes  não  hão  chegado, 
uem  o  mais,  havendo  passado  muito  móis  de  dois  annos. 

Idéei  outra  povoação  no  porto  dos  Casaes  ;  porém,  como 
oão  ha  meios,  tudo  se  acha  parado :  esta  baria  erigido  em 
nome  do  Seohor  Santo  AntonÍo,e  ainda  se  podem  fazer  mais, 
porque  ha  familias  para  ellas  e  situações  mui  próprias  era 
que  se  estabeleçam;  o  que  será  mui  útil  ao  real  serviço,  e 
serio  mui  importante  que  nVUos  se  estabelecessem  villas, 
porque,  como  esta  província  é  fronteira  com  os  hespanbóes, 
quanto  mais  povoada  estiver,  haverá  mais  meios  para  a 
defender;  espero  que  V.  Ex.  me  diga  se  hei  de  continuar 
com  estas  importantes  obras,  que  todas  podem  ser  feitas 
com  muita  moderação  nos  custos. 

Conserva  Sua  Hagestade  n'esta  provincia  perlo  de  qua- 
renta léguas  de  terreno  com  o  nome  de  estancias,  do  mes- 
mo senhor,  os  quaes  achei  na  maior  decadência;  e  que- 
rendo dar-lhe  alguma  forma  o  não  pude  conseguir  por  se 
achara  cria  de  gado  e  cavallos  tudo  alçado  (como  aqui 
dizem ),  que  é  o  mesmo  que  bravosj  de  sorte  que  para  se 
apanharem  alguns  potros  ou  rezes  é  com  immenso  tra- 
balho e  despeza,  ao  que  deram  causa  os  descuidos  de  quem 
manejou  antecedentemente  estas  fazendas,  e  sem  umagran- 
de  despeza  se  nSo  poderão  pôr  em  ordem ;  haverá  n'(Ala 
dez  ou  doze  mil  potros,  porém  sem  utilidade,  pois  se  não 
podem  apanhar  por  estorem  indomesticos :  o  gado  jé  ha 


Dictzedby  Google 


mui  pouco,  purque  liacÍDGOaaDosqueâetixU'alie(l'ellapara 
sustento  da  guaraição  do  Dorte,  em  que  tfim  exostido  mais 
de  seiscentas  praças  de  ração,  e  este  tem  sido  preciso  apa- 
nhal-«  a  laço. 

1'ropuz  ao  mesmo  Sr.  conde  de  Cunha  que  sgria  mais 
utU  a  Sua  Magestade  o  repartir  estes  terrenos  com  os  seus 
vassallos.  o  que  faria  povoarem-se  eslas  quarenta  léguas,  e 
orescero  rendimento  dos  dízimos  a  um  subido  ponto,  pois 
são  as  melhores  terras  que  ha  na  província,  para  lavouras 
e  para  criações  ;  e  as  datas  de  terreno  que  se  repartissom 
aos  inesmos  vassallos  podiam  ser  com  a  condição  de  darem 
era  cada  um  aono  a  Sua  Magestade  tantos  cavatlos  mansos, 
e  tantas  rezes,  em  attenção  i  se  lhe  repartirei^  os  bravos 
que  n'ella  existem,  cada  um  á  proporção  dos  que  se  lhes 
dessem  com  as  egoas. 

D'esta  sorte  teria  Sua  Magestade  sem  despeza  os  cavallos 
precisos  para  a  tropa,  e  a  carne  para  as  rações  que  se  lhes 
dá,  o  augmento  nos  dízimos,  a  província  povoada  e  rica,  e 
cresceriam  os  direitos  dos  anímaes  nos  registros  pdr  d'onde 
passam  para  Minas,  que  não  são  de  tão  pouca  consideração 
que  nio  pague  cada  besta  muar  dez  mil  e  tanto  réis,  e  cada 
potro  mais  de  nove  mit  réis,  quando  a  ellas  chegam,  pois 
em  todos  os  registros  pagara,  e  ístoseria  muito  mais  conve- 
niente do  que  o  é  o  manejarem-se  as  ditas  estancias  por 
conta  da  fezenda  real,  pois  nem  todos  us  governadores  e 
provedores  teriam  o  zelo  que  se  precisa,  nem  o  génio  para 
d^ellas  tirarem  utilidade,  e  as  administrarem  como  devem, 
pois  faltando  este,  só  servem  de  despeza  com  as  muitas  pes- 
soas de  serviço  que  necessitam,  sobre  o  que  V.  Ex.  me 
determinara  o  que  devo^obrar. 

No  correio  passado  puz  na  presença  de  V.  Ex,  o  miserá- 
vel estado  a  que  se  acba.reduzída  a  tropa  que  existe  n^esle 
continente,  pelo  grandu  alrHSu  que  tem  experimentado  nos 


Dictzedby  Google 


pagamentos,  e  das  relações  que  remetti  a  V.  Ex.  sa  vem  no 
oonbecimeato  dequal  elle  será,  pois  vivem  na  maior  cons- 
temagão;  a  mesma  falta  experimentam  no  fardamento,  e  a 
maior  parle  não  Cp  servido  [lor  estarem  nús:  seguro  a  V.  Ex. 
que  estairopa  não  merece  tanto  descuido,  porque  é  muito 
obediente,  e  sem  embargo  das  faltas  que  experimenta  serve 
com  gosto,  oàt>  sú  no  que  toca  ao  serviço  militar,  mas  em 
todas  as  obras  de  fortiltcações  e  quartéis  que  tenbo  feito,  em 
que  se  tem  occupado,  sem  que  com  elles  se  tenha  despen- 
dido cousa  alguma, pois  oSr.  conde  de  Cunba  sempre  appro- 
viva  as  representações  que  eu  lhe  fazia  para  as  ditas  im- 
portantes obras,  ordoaaado-me  as  fizesse  executar  logo, 
para  o  quene  mandaria  dinheiro,  que  nunca  chegou,  e  se 
nAo  foese  a  tropa  e  indios,  e  o  modo  com  que  n'isto  me 
lenho  havido,  nunca  se  concluiria  nada. 

No  pMso  do  rio  Tobíquary  liz  um  grande  forte  de  lerra 
batida  capaz  de  vinte  peças  de  arlilheria,  em  o  campaoiento 
de  S.  Caetano  de  Barrancas,  outro  capaz  de  dezeseis  peças, 
'  de  terra  e  faxina,  e  presentemente  dois  na  margem  do  norte 
do  iUo-Grande,  cujas  obras  foram  feitas  pelos  soldados  e 
Índios,  sem  despeza  alguma  com  trabalhadores;  o  que  lam- 
bem tem  feito  arruinar  mais  depressa  o  fardamento  da  tiopii . 
Espero  da  piedade  de  V.  Ex.  se  compadeça  d'ella,  pois  o 


Não  só  a  fazenda  real  dâveátrop<i,  peões  e  marinheiros, 
o  que  tenho  representado  a  V.  Ex.,  e  aos  moradores  o  gado 
e  cavallos  que  se  Ibes  tãm  tirado  ha  cinco  annos  ;  mas  é 
grande  a  importância  que  se  deve  aos  mestres  dos  olBcios 
que  se  tõm  empregado  uo  reaF  serviço,  t^mo  ferreiros,  car- 
pinteiros dú  trem,  selleiros,  armeiços,  e  conducções  dos  gé- 
neros e  farinha  de  guerra,  que  tudo  é  conduzido  por  terra 
da  Laguna  para  este  Viamão  nas  caretas  dos  moradores,  o 
que  tudo  faz  uma  importante  somma. 


Dictzedby  Google 


Mo  tempo  do  {{overnu  do  Sr.  conde  de  Bobadella,  além 
das  grandes  porçõBs  de  diaheiro  que  se  remeltiam  d'es8a 
capital  para  as  despezas  d'esla  provincia,  se  passavam 
d^aqui  letras  de  muitas  para  a  provedoria  do  Rio  de  Janeiro, 
por  d'onde  se  pagavam ;  porém,  desde  que  entrou  no 
governo  u  Sr.  conde  de  Cunha,  não  só  se  não  pagou  o 
grande  numero  d^ellas  que  se  haviam  remettído  do  tempo 
da  guerra,  o  paravam,  ou  em  seu  poder,  ou  na  provedoria, 
procedendo  algumas  de  dinheiro  que  os  moradores  em- 
prestaram para  pagamento  das  tropas  de  que  estão  por 
embolsar ;  mas  tive  ordem  expressa  do  mesmo  senhor  para 
não  passar  letra  alguma  sobre  aquella  provedoria,  o  que 
não  só  atrasou  os  pagamentos  aos  acredores,  mas  emba- 
raçou o  poderetD  satisfazer  com  as  mesmas  letras  aos  seus 
correspondentes,  o  que  tudo  originou  o  grande  empenho 
em  que  presentemente  se  acha  a  fazenda  real  d'esta 
provincia,  vivendo  os  moradores  d'ella  consternados  por 
se  lhes  tirarem  os  seus  bens,  sem  esperança  de  se  lhes 
satisfazerem ;  e  são  tantas,  tão  juslas  e  tão  repeUdas  as 
supptioas  que  me  fazem,  que  já  não  acho  palavras  com  que 
os  consolar ;  e  se  não  fora  a  docilidade  e  modo  com  que 
os  tratamt  jã  a  maior  parle  teria  despovoado  a  (erra,  como 
elles.mesmos  asseveram. 

Sirva  este  exemplo  de  Hgurar  a  V.  líx.  o  estado  doestes 
miseráveis.  Vai  um  d'estfls  moradores  com  duas  carretas 
á  villa  da  Lítguna  a  conduzir  farinhas  para  a  tropa ;  paga 
quatro  homens  que  vão  com  ellas,  que  cada  uma  leva  ao 
menos  quatro  juntas  de  bois,  e  outros  tantos  para  mudarem; 
paga  a  outro  hoiaem  que  cuida  em  os  pastorear,  quando 
descansam  :  morrem  d'e3tes  bois  alguns,  já  nos  passos  dos 
rios,  já  nos  mãos  camiobos  que  transitam,  chegam  a 
Viamão,  descarregam,  e  dÍo  se  lhes  paga  o  frete  por  não 
haver  com  que  :  como  ó  possivel  que  este  pobre  homem 


Dictzedby  Google 


—  290  — 

volte  oulra  vez  a  conduzir  mai!>,  não  teudo  com  que  pagar 
a  gente  que  levou,  nem  com  que  comprar  os  bois  que  lhe 
faltam?  Pois  isto  succede  a  todos  os  cooductores,  a  quem 
se  lhes  devem  muitas  viagens  ;  e  se  não  fora  os  carinhos 
que  lhes  faço,  seria  impossível  transportar  o  que  é  preciso, 
ainda  que  usasse  da  força. 

Ha  muitos  fazeodeiros  o  quem  se  deve  cinco,  e  seis  mil 
cruzados  de  gados  que  se  lhes  tèm  lomado :  precisa  este 
alguma  fazenda  para  remediar  a  sua  casa,  não  acha  quem 
lhe  d6  alguma  sobre  esta  divida,  nem  com  grande  rehate, 
pois  os  negociantes  conhecem  que  se  não  pagam  aqui, 
nem  se  passam  letras  para  se  pagarem  n'essa  cidade. 
Parece-me  que  o  que  tenho  exposto  é  bastante  para 
V.  Ex.  comprehender  o  estado  a  que  se  acha  reduzida  esta 
província,  que,  a  não  experimentar  esta  falta,  poderia  ser 
uma  das  mais  florescentes  do  Estado  ;  pois  só  em  trigos 
poderia  soccorrer  a  todo  ;  e  no  cotnmercio  de  couros, 
mulas  e  potros  dar  uma  grande  conveniência  á  real  fazenda, 
e  alé  cresceriam  em  muita  parte  os  direitos  da  alfandega 
do  Rio  de  Janeiro  com  o  consumo  das  fazendas  que  aqui 
se  poderiam  gastar. 

Logo  que  chegaram  as  ordens  de  Sua  Magestade  para  se 
regularem  as  tropas  auxiliares,  assim  de  cavallaria  como 
de  infanteria,  me  mandou  o  Sr.  conde  de  Cunha  remettesse 
eu  as  listas  que  formasse,  o  que  fiz,  eaté  o  presente  me  não 
respondeu  cousa  alguma  a  este  respeito. 

Aqui  se  podem  formar  dois  regimentos,  um  de  cavallaria, 
e  outro  de  infantaria,  muito  bons  e  muito  úteis;  o  de 
cavallaria,  poucos  poderão  haver  como  elle,  pois  tenho 
escolhido  os  melhores  cavalleírose  de  boa  idade,  e  formado 
nove  companhias  de  sesseuln  homens  cada  uma,  inclusos 
os  officiaes,  que  nomeei  interinamente  dos  mais  capazes, 
<;  lodos  andam  fardados  ;  e,  como  talvez  se  nèo  achem  as 


Dictzedby  Google 


-  291  — 

relações  que  remetlí  na  secretaria,  espero  que  V.  Ei.  me 
diga  se  devo  mandar  outras,  com  as  pessoas  mais  capazes 
para  oíBciaes,  pois  é  mui  conveniente  que  estes  regimentos 
se  estabeleçam  e  regulem,  e  se  lhes  ponbam  sargento», 
mores  e  ajudantes  pagos,  para  os  doutrinarem,  na  forma 
das  reaes  onlens. 

Se  V.  Ex.  se  servir  de  me  dar  as  providencias,  e  as 
ordens  do  que  devo  obrar,  poderá  fazer  um  grande  e  útil 
serviço  a  el-rei  nosso  senhor,  pois  o  conhecimento  que 
teobu  do  paiz  ha  dezesete  annos,  e  o  zelo  com  que  sirvo 
a  Sua  Magestade,  concorrerão  para  o  bom  successo  de 
fazer  feliz  esta  província. 

Deus  gaarde  a  V.  Ex.  muitos  anãos.  Capella  de  Viamão, 
10  de  Janeiro  de  1768.  —  Illm.  e  Exm.  Sr.  conde 
de  Azambuja,  vice-rei  e  capitão-general  do  Estado  do 
Brasil,  —  José  Cialodio  de  Sd  e  Faria. 


1.  Illm.  e  Exm.  Sr.  —  Pelo  que  tenho  avisado  a  V.  Ex. 
desde  o  §1°  até  o  §11  da  carlaflscriptanodÍKdeboje,a  que 
esta  serve  de  continuação,  verá  V.  Ex.  quaes  foram  os  justís- 
simos motivos  com  que  Sua  Magestade  foi  obrigado  a  pre- 
caver-se  em  lempo  opportuno  contra  as  sinistras  inten- 
ções e  cubiçosos  projectos,  com  que  alguns  negociantes  e 
ministros  de  Inglaterra,  e  a  cubica  de  França  e  Hespanha, 
se  armaram  para  nada  menos  do  gue  para  fazerem  invasões 
e  conquistas  no  Rio  de  Janeiro,  e  mais  portos  da  sua 
capitania. 

2.  Agora  devo  participar  a  V.  Ex.  quaes  têm  sido  as 
forças  com  que  o  mesmo  senhor  se  acautelon:  ou  pari 
evitar  as  ditas  invasões  fazendo  ver  aos  nossos  até  agora 
figurados  inimigos  que  níio  lhes  seriam  tno   fáceis,  como 


Dictzedby  Google 


—  SM  — 

elles  cuidaYam  ;  ou  para  nos  casos  dCeUas  resistirmos  aos 
seus  iníquos  e  cubiçosos  attentados. 

3.  A  guarnição  da  praça  do  Rio  de  Janeiro  consistiu  até 
o  mez  de  Julho  do  anuo  de  1766  em  dois  regimentos 
de  infaolaría  e  um  de  artilberia,  os  quaes  todos  consti- 
tuiam  um  corpo  de  quasi  dois  mil  homens,  em  grande 
parte  destacados  na  Colónia  do  Sacramento,  no  Rio-Grande 
de  S.  Pedro  e  na  itha.de  Santa  Catbarina. 

4.  Attendendo,  porém.  Sua  Magestade  a  que  os  referidos 
destaca^ientos  enrraqueciam  muito  a  guarnição  da  capital, 
ordenou  pela  carta  régia  de  23  de  Março  de  1767  (que 
vai  compilada  debaixo  do  n.  I  do  catalogo  junto  a  esta) 
que  se  accrescentassem  mais  três  companhias  a  cada  um 
d'aquelles  três  regimentos ;  mandando  ao  mesmo  tempo 
transportar  para  eltes  os  ofiiciaes  das  tropas  d'este  reino 
que  constam  da  relaçjo  que  foi  junta  &  mesma  carta. 

5.  f  oucos  mezes  depois  com  a  carta  iostructiva  de  30 
de  Junho  do  mesmo  anno  (cuja  cópia  vai  também  compi- 
lada debaixo  do  n.  II  do  mesmo  catalogo),  mandou  o 
mesmo  senhor  transportar  ao  Rio  de  Janeiro  os  três  bons 
r^mentos  d»  António  Carlos  Portado  de  Mendonça,  de 
José  Raymundo  Chicborro  da  Gama  Lobo  e  de  Francisco 
de  Lima  da  Silva :  mandou  pelas  outras  cartas  régias  da 
mesma  data  (que  vão  compiladas  debaixo  dos  ns.  Ill  e  IV 
do  mesmo  catalogo)  o  tenente-general  João  Henrique  Bohm, 
para  commandanle  de  todas  as  tropas*de  infantaria,  ca- 
cavallaria  e  artilberia  de  todo  o  Estado  do  Brasil :  mandou 
[pela  outra  corta  compilada  debaiix)  do  n.  V)  o  brigadeiro 
Jacques  Funck  por  inspector  geral  das  fortificações  e  arti- 
lberia do  mesmo  estado:  mandou  pela  outra  carta  do 
mesmo  dia  22  de  Junho  (compilada  debaixo  do  n.  VI}  Jorge 
Luiz  Teixeira  para  ajudante  das  ordens  do  dito  tenente- 
general :  e  Elias  Schieplinjr  e  Francism  João  Rocio  para 


Dictzedby  Google 


_  i»8  — 

•jQdaDtes  das  oídeosdo  dito  brigadeiro  Fubck:  nuadon 
pelas  sobreditas  três  carUs,  expedidas  em  22  da  Junho  ao 
conde  da  Cunha  e  ao  dito  teaenle-geaeral  luão  Henrique 
de  Bohm,  que  todas  as  tropas  de  infanlaiia,  artilheria  e 
cavallaria  do  Rio  de  Janeiro  e  Brasil  fossem  reguladas  como 
as  d' este  reino,  som  differença  alguma:  mandou  remetler 
para  este  effeito  (debaixo  da  relação  da  data  de  20  do  dito 
mez  de  Junho,  agora  compilada  debaixo  do  n.  Vil)  os 
exemplares  de  tod«s  as  leis,  alrarás  e  decretos,  que  se 
haviam  promu^ado  para  a  dÍMÍplina  das  tropas  d'este 
reino :  mandou  estabelecer  uma  atila  para  Ds  estudos  da 
engenharia  e  artilheria  no  Rio  de  Janeiro;  remetteado 
logo  para  os  estudos  d'ella  quarenta  jogos  das  obras  de 
Bdidoro,  e  manjando  artiScesdos  officios  de  espingar- 
deiro «  coronheiro  para  os  regimentos. 

6.  Para  os  recrutas  dos  ditos  regimentos  ordeaon  Sua 
Magestade  por  duas  cartas  de  22  de  Julho  do  anno  de  1766 
(que  agora  vão  compiladas  debaixo  dos  us.  H-  e  X)  as 
providencias  para  se  evitarem  os  vadios,  e  se  obviar  aos 
excessos  com  que  o  bispo  do  Rio  de  Janeiro  ia  inconside- 
radamente ordenando  osmanceboft  capazes  de  seAium 
nas  tropas. 

7.  Por  carias  de  23  de  Março  de  1766  e  de  13  de  Juabo 
de  1767  foram  mandados  da  liba  de  ê.  Miguel  para  os  ra- 

^  gimenlús  do  Rio  de  Janeiro  quatrocentos  recrutas.  £  agora 
sa  tem  repetido  as  ordens  necessartae  para  se  transportarem 
mais  duzentos  dos  ditos  recrutas  das  ilhas  dos  Açores, 
onde  ha  génle  sobeja  e  Sem  occapacão. 

8.  Antes  de  sahir  d'est6  ponto  das  tropas  devo  partici- 
par a  V.  Ex.  que,  tendo  avisado  o  sobredito  general  João 
Henrique  de  Bohm  em  caita  de  2S  de  Março  do  anno 
próximo  passa'3o  que  uos  r^mentos  do  Rio  de  Janeiro 

TMIO  XXXI,  f.  I  38 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  a»4  — 

havia  falia  de  tamboras,  se  devem  estes  logo  completar 
com  negros  e  mulatos,  oio  se  achando  outros. 

9.  Também  devo  participar  a  Y.  Ex.  ao  mesmo  respeito 
que  o  dito  general  João  Henrique  de  Bohm  representou 
mais  a  Sue  Mageslade,  que  os  destacamentos  que  se  Tazem 
de  mais  de  seis  centos  homens  das  tropas  do  Rio-de  Janeiro 
para  as  praças  do  sul,  são  summamentc  prejudiciaes  á  dis- 
ciplina dosséis  regimentos  da  guarnição  do  Rio  de  Janeiro; 
devendo  estes  estar  sempre  disciplinado^  e  promptos  para 
qualquer  succçsso;  c  que  o  mesoao  senhor,  reconhecendo  a 
ruina  que  padecem  os  ditos  regimentos  com  as  referrãos 
corpos,  que  d'dles  se  destacam,  tem  mandado  levantar  um 
novo  regimento  pago  para  o  seu  quartel  na  ilha  de  Santa 
Catharína,  e'  mandar  d'elle  destacameoVis  para  o  Rio  de 
S.  Pedro  e  para  a  Colónia ;  de  sorte  que  cesse  a  necessi- 
dade de  sahirem  d'aquallacapítal  as  tropas  da  sus  guarnição. 

10.  Porém,  conhecendo  Sua  Hagestadie  comas  suas  cia- 
rissimas  luzes  que,  além  das  forças  que  constituem  as  re- 
feridas tropas,  se  fazia  necessário  accrescentar  itdas  as  mais 
forças  que  a  poEsibilidado  podesse  permittlr,  pata  o  maior 
respeito  e  s^urança  da  capital  do  Rio  do  Janeiro  e  do  seu 
território ;  •  vendo  com  igual  clareza  a  grande  utilidade  da 
queji'es9e  continente  são  as  tropas  de  naluraes  do  paiz, 
porque,  defendendo  as  suas  próprias  casas  e  fazendas,  sa- 
bem, e  podem  fazer  nos  matos  aguerra,  em  que  são  de  muito 
menos  préstimo  os  corpos  regulares :  ordenou  ao  conde  de 
Cunha,  que  alistando<1odos  os  moradores  da  ditacepitania, 
que  se  achassem  no  eatado  de  servirem  nos  terços  e  auxi- 
liares, sem  excepção  de  nftbres,  plebéos,  brtvicos,  mesti- 
ços, pretos,  ingénuos,  ou  libertos,  formássemos  terçosdos 
mesmos  auxiliares  de  Infantaria  e  ravallaria,  que  coubes- 
sem np  numero  e  proporçào  ilos  homens  que  achasse  em 
cada  um  dos  respectivos  dislrictos. 


Dictzedby  Google 


—  385  — 

Jl.  Ao  mesmo  tempo  concedeu  Sua  Mageslade  ao  referido 
conde  a  jurisdíeção  necessária  para  crear  e  lhe  propdr  os 
úfficiaes  competentes  e  próprios  para  disciplinarem,  e  terem 
sempre  em  boa  ordem  os  sobreditos  terços,  isto  é,  para  cada 
um  d'elles :  am  mestre  de  campo,  das  pessoas  mais  priuci- 
paes  dos  differentes  districlos,  um  sai^enlo-mór,  um  aju- 
dante do  nusgero,  e  um  ajudante  supra  :  tirados  todos  dos 
regimentos  pagos.  E  houve  mais  por  bem  o  mesmo  senhor 
deterfflÍDar,(pie  os  serviços  que  fizerem  os  officiaes  dos  ditos 
terços  auxiliares,  desde  o  posto  de  alferes  até  o  de  Mestre  de 
Campo,  sejam  attéadidos  e  gratificados  com  as  mesmas 
mercês  com  que  são  deferidos  og  outros  officiaes  dos  regi- 
mentos pagos.  ' 

12.  Pela  resposta  que  o  mesmo  cOQde  fez  em  i  de  Fere- 
reiro  de  1767  sóbrias  dita»  orctens,  e  pela  ^rta  cboro- 
graphica  (cujas  cópias  também  vão  juntas,  e  accusadas  ftp 
dito  terceiro  cataliso  debaixo  dos  ns.  XI  e  XII ) ,  verá 
V.  Ex. :  primeiro,  os  distrícttts  e  íreguezias  do  sertão  da 
mesma  eapitania.que  foram  separados  para  n'elles  se  levan- 
tarem os  seis  terços  de  infantaria  auxiliar,  que  d^elles  coDs- 
iam:  segundo,  quedos  moradores  ila  cidade  se  podiam  formar 
mais  dois  terços  de  infantaria  :  terceiro,  que  no  recôncavo  , 
se  podiam  formar  outros  dois  terços  de  cavallaria,  fioand» 
todos  muito  namaroeos :  quarto,  que  João  Barbosa  e  Sá  fti 
nomeado  mestre  de  campo  do  terço  de  Jaracapaguá  ^ie): 
qninlo.que  Miguel  Antunes  Pereira  foi*nomeado  mestre  de  , 
campo  do  quinto  terço:  sexto,  e  que  se  tratava  de  alistar  os 
outros,  e  Ibes  nomear  mestre  de  campo. 

13.  Pela  outra  resposta  que  o  mesmo  conde  fez  em  qua- 
tro de  Março  do  mesmo  anno,  sobre  as  referidas  ordens, 
( também  compilada  debaixo  do  n.  XIII  do  mesmo  ca- 
talc^o),  e  pelas  relaçdes  das  despezas,  assim  dos  ditos 
terços,  como  das  rendas  da  camará  da  capitania  do  Río  de 


DictizedbyGoOJ^IC 


-  2H  — . 

Janeíre,  ^e  a- dU- vieram  jaDtos;taTe  Sua  Hagestade  a 
mais  completa  informação,  qtwsBtea  nSo  havia  aqai,  das 
cireamstanoías  da  mesioa  capitaaia,  peto  que  tocava  d  for- 
matara 4os  tefwidos  terços. 

14  Sobre  esta  mais  especial  informag&e  approvou  o  mes- 
mo seohor  pela  outra  carta  de  dezanove  de  Junho  do  mes- 
mo anuo  de  1767  (que  vai  também  compilada  debaixo 
do  D.  IIT  do  mesmo  catalogo)  tudo  o  que  o  conde  da  Cu- 
nha havia  pK^tosto,  modiScando  as  suas  reaes  ordens  an^ 
tecedenles,  assrm  para  ^ue  os  soldos  dos  sai^nios-mó- 
rese  ajudantes  do3  referidos  terços  auxiliares  fossemos 
mesmos  que  ató  alli  venciam,  como  para  que  fosseai  pagos 
pela  reaft  fazenda  emquanto  as  camarás  o  nio  podessem 
(aaei  pelos  meios  etn^dos  que  foram  indicados  na  refe- 
rida carta.  -. .  >        .      '      . 

J5,.  Em  consequência  de  tudo  o  referido,  formou  com 
^eíto  o  conde  da  Cunha  na  dita  capitania  «ete  terços  de 
infantaria,  e  uãi  de  cavaUari%  auxiliares  ;  os  quaes  avisou 
o  tetkente-gaoeral  Jofto  Henrique  do  Bohm,  em  catla  de 
vinte  e  doí«  de  Fevereiro  de  4767,  que  já  então  faziam  ser- 
viço muito  útil.  Também' deixou  projectados  outros  três 
terço»  dos  moradores  da  cidade  do  Rio  Janeiro,  dos  quaes 
fiua  |f ageslade  havia  lesolulo  que  elle  conde  vice-rei  fosse 
-  igestre  de  campo  de  um,  e  vestisseo  uniforme  ã'eUe  dos 
dlia»de  exercício,  para  dar  o  bom  exemplo  que  o  príncipe 
D.  Jheodo^io  deu  ás  milícias  d'esta  corte  no  tempo  da  aeolo- 
niação,  com  tanta  vantagem  do  real  serviço  :  que  o  dito  t&- 
nefcte-general  fosse  mestre  de  campo  de  outro,  cujo  posto 
o  dito  jj  havia  aceitado  ;  e  que  o  mestre  de  campo  do  ter- 
ceiro fosse  Pedro  Dias  Paes  Leme,  por  ser  pessoa  de  grande 
autoridade  na  capitania  do  Rio  de  Janeiro,  que  faria 
emulação  ás  outras  pessoas  distinctae  d'ella  para  aspirarem 
aos  referidos  postos,  e  animarem  a  reputado,  do  serviço 


Dictzedby  Google 


—  3W  — 

dos  sobreditos  terços  auxiliures  em  beneficio  da  «egurança 
da  mesma  capitania . 

16.  O  qae  deixo  acima  referido  conlém  consobstancial- 
nente  o  qae  até  agora  passou  a  respeito  dos  sobreditos  ter- 
ços auxiliares.  E  tudo  isto  manda  Sua  Magestade  participar  a 
V.  Ex.  para  ratificar  e  Ibe  fazer  coraiDuns  as  sobreditas 
ordens,  expedidas  ao  coadeda  Cunba;  e  paraqoeV.  Ex. 
em- observância  d'ellas  não  só  prosiga  o  estabelecimento 
4los  referidos  terços  sutítiares,  mas  também  os  reduza  & 
perfeição  e  boa  ordem,  que  o  mesmo  senhor  espera  do 
lelo,  intelligeDcia,  préstimo  e  actividade  com  que  V.  Y\. 
se  emprega  no  >eal  sflrviço. 

17.  Ainda  accrosce  a  este  respeito  participar  a  V.  Ex.  que 
necessitando  os  referidos  terços  auxiliares  de  armamen- 
tos, se  deve  dar  afiles  providencia  na  maneira  seguinte. 

18.  V.  Ex.  sabe  que  nos  terços  auxiliares  p  ordenanças 
são  os  sbldados  os  que  compram,  e  devem  conservar  por 
sua  conta  as  armas.  N'esta  certeza,  cada  soldado  que  rece- 
ber arsaanento,  deve  entregar  por  elle  qaatro  mil  e  oito 
centos  réis  no  cofre  que  Sua  Magestade  manda  estabelecer 
para  este  «ffnto  na  casa  da  janta  da  fazenda  real,  com  livro 
e  conta  separada,  o  qual  no  fim  de  cada  anno  se  devere- 
metter  coi^  o  dinheiro  que  entrar  no  mesmo  cofre,  ao  erário 
Kgto,  para  por  elle  se  continuarem  as  remessas  das  referi- 
das armss. ' 

19.  Csta  as  dos  três  regimentos  da  guarnição  antiga  do 
Rio  de  Janeiro  (a  que  Sua  Magestade  manda  agora  remel- 
ter  armamentos  novos,  para  ficarem  n'elles  iguaes  com  os 
que  foram  d'e6te  reino]  se  podem  logo  armar  Ires  dos  refe- 
ridos terços  auxiliares  de  espingardas  e  cartucbeiras,  des- 
terrando-se  d^elles  comtudo  as  varetas  de  pão,  o  subsli- 
luindo-se  no  lugar  d'etlas  as  de  ferro,  que  também  se  man- 
dam remelter  para  este  effeito. 


Dictzedby  Google 


—  298  - 

20.  Se  as  armas  qaa  largam  os  referidos  Ires  regimeoLos 
da  guarnição  antiga  forem  de  adarme  ou  calibie  diverso,  e 
se  houver  mais  acmas  do  mesmo  calibre  d^etlas  oas  mãos 
dos  auxiliares,  pede  a  boa  economia  que  para  se  n&o  per- 
der um  tão  grande  numero  de  espingardas,  faça  V.  Ef. 
combinai  os  calibres  <l'aqueUBS  de  que  houver  maior  nu- 
mero ;  de  sorte  que  todas  fiquem  uniformes,  e  me  remetta 
uma  d'ellas,  que  sirva  de  padrão,  pelo  qual  hajam  de  lhe 
ser  remeltidas  em  separados  cunhetes,  as  quantidades  dd 
pelouro  que  forem  destinadas  para  os  regimentos  pagos 
e  para  os  ditos  terços  auiiliares,  oom  as  suas  marcas  de 
fogo  em  cima,  pelo  meio  das  quaes  se  evite  Ioda  a  preju- 
dicial confusão,  no  caso  ao  mesmo  pelouro,  conbecendo-so 
l(^  á  vista  dos  mesmos  cunheles  os  que  pertencem  ás 
tropas  regulares  e  os  que  vão  destinados  aos  auxiliares, 

21.  Debaixo  da  mesma  economia,  ou  distincçSo,  me 
remetterá  V.  Ex.  a  relação  das  ouh'as  armas  que  forem 
sendo  necessárias  para  os  mais  dos  referidos  terços ;  de 
sorte  que  d>quí  se  não  possam  remetler  algumas  que 
não  sejam  uniformes  com  as  que  lá  houver ;  porque  d'outro 
modo  iriam  fazer  mais  confusão  do  que  serviço.  - 

22.  Finalmente  pelo  que  pertence  és  jurisdicções,  ou 
a  evitar  os  embaraços  que  dos  conflíetos  d'etlas  costumam 
resultar,  com  desprazer  de  Sua  Magestade  e  prejuízo  do 
seu  real  serviço,  posto  que  o  mesmo  senhor  está  certo  em 
que  a  prudência  de  V.  Ex.  saberia  muito  beoi  obviar  a  tão 
desagradáveis  questões ;  comtudo,  não  costumando  ser  a 
mesma  prudência  commum  a  todas  as  pessoas,  de  que  se 
compõem  as  differentes  repartições  d'um  governo  tão  grande, 
como  o  de  que  V.  Ex.  está  encarregado :  manda  o  mesmo 
senhor  participar  a   V.  Ex.  sobre  esta  delicada  matéria 


23.  Quanto  ao  território.  São  subordinodos  Ás  ordeus 


Dictzedby  Google 


■ie  V.  El.,  não sóos portD9'e  tertas  compiebeodidos  denlro 
nos  limites  da  capitania  do  Rio  de  Janeiro  até  onde  ella 
CDafina  com  as  capitanias  -geraes  da  Vahia,  da?  Minas 
e  de  S.  Paulo ;  mas  lambem  Sua  Magestade  tem  subordinado 
ás  ordens  de  V.  Ex.  os  governadores  e  conunandaates 
da  ilba  de  Santa  Catharina,  do  Río-Grande  de  S.  Pedro 
6  da  Colónia  do  Sacramento,  para  V.  Ex.  lhes  determinar 
o  que  devem  fazer  jia  guerra  e  na  paz,  assin  a  respeito 
dos  nossos  mãos  vizinhos  (de  que  fallarei  a  V.  Ex.  em 
carta  separada),  como  dos  outros  estrangeiros. - 

24.  Ouanto  ás  pessoas.  Pelos  §§  10,  11,'  12,  Vi,  ii, 
15,  16  e  17  da  c^rta  escripta  ao  conde  dá  Cunha  em  20 
de  Junho  de  1767,  que  no  catalogo  do  n.  1°  é  lambem  s 
primeira,  que  vai  indicada  debaixo  do  §  II  d'e)le,  foram  de- 
terminadas a^  incumbências  e  encargo  do  tenénte-general 
JoAo  Henrique  de  Bobm,  e  do  brigadeiro  Jacques  Funclc: 
concluindo  a  esto  respeito  o  §  18  da  mesma  carta  nss 
palavras  seguintes : 

a  Sua  Nagostade  manda  ultimamente.(íeclirar  (peto  que 
pertence  &  jnrisdicções)  que  V.  Éx.  deve  ter  nas  tropas 
d'essa  capHanía  toda  a  jurisdjcção  que  teve  e  conserva 
ainda  ojis  d'este  reino  o  marecbal-general  conde  reinante 
deS(^aumbourgJ.ipe;  que  o  (eneate-general  João  Henrique 
de  Bohm  devo  ter  toda  a  jurisdicção  que  teve  o  general 
de  Infantaria  D.  João  de  Lancastro.  E  que  elle  mesmo 
forme  e  exercite,  com  a  brigada  que  leva,  o  regimento 
de  artilheria.  m 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajud^, 
a  14"de  Abril  de  1769. —  Conde  de  Oeyras.—  Sr.  marquez 
do  Lavradio.  i-  * 


Dictzedby  Google 


—  3W  — 

lllm.  e  Exin.  Sr.<^  l*gta  cardi  primeira  das  que  teaho 
dirigido  a  V.  is.,  aa  mesma  data  d'esta,  e  pelo  catalog* 
o.  n,  que  a  ella  foi  jaolo,  instrui  a  \.  Ex.  cora  todas  bs 
ordens  que  esta  cArte  expediu  alé  9  fireseate  para  pre- 
servar os  portos  do  Brasil  do  pestilencial  contagio  dos 
contrabandos,  que  a  elles  porfiam  en  levar  os  navios, 
de  guerra  e  marcanles,  das  nações  estrangeiras.  E  agora 
participarei  a  V.  Ex.  a% providencias  <yie  se  têm  dado  para 
evitar  que  os  mesmos  contrabandos  aejam  feitos  pelos 
nossos  navios  mercadores  e  traficaates  porluguezes. 

Tudo  isto  V.  Ex.  acbará  indicado  no  catalogo  que 
acompanha  ests  carta,  e  colligid»  nas  leis  e  crdens  que 
a  elles  vão  juntas,  pelo  que  portence  ao  felicissimo  reinado 
de  Sua  Magestade;  o 'pelo  que  toca  as  leis  e  ordens, 
que  antes  <felle  havia  .sobre  esta  mateiÍ8,f,ao  caso  em 
que  se  oSo  achem  registradas  sa  relação  •  ouvidoria  do 
Rio  de  Janeiro,  com  o -aviso  de  V.  Ex.  Ih'as  remetterei 
para  fazer  com  ellas  complet»  o  referido  catalogo. 

Deus  guardp  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nos3b  Senhora  d^.  Ajuda, 
á  14  de  Ibril  de  1769.—  Conde  de  Oeyras.—  Sr.  tutrquez 
do  Lavradio. 


lllm.  e  Emx.  Sr.  —  t  Reservo  para  esta  quarta  carta 
as  instrucçòes  pertencentes  aos  meios  e  modos*  com  qne 
Sua  Magestade  tem  ordenado  que  os  capitães-genflt-aesdo 
Ríq  de  Janeiro  e  S.  Pa^lo  ^  devem  condnzir  em  causa 
commum  a  respeito  dos  nossos  infestos  vizinhos  caste- 
lhanos, que  hoje  são  s^unda  vez  infestos  como  successo- 
res  dos  jesuítas,  depois  que  os  expulsaram;  pòr^ifie  a 
imporlaDcia  e  delicadeza  doeste  negocio  requerem  por  sua 
natureza  que  elTe  seja  tratado  com  separaç&o  de  todos  os 
outros  que  podes^m  confundir  as  verdadeiras  e  e$pecifí- 
cas  idéas  que  d'elle  devo  dar  a  V.  Ex. 


Dictzedby  Google 


3.  R'  certo  qufl  o  tempo  daacctemai^ao  do  Senhor  rei  D. 
João  o  IV.  se  achavam  os  vassallos  d'esta  coroa  db  posse  de 
Iodas  as  costas  e  sertões  que  jazem  ao  sul  do  Rio  de  Ja- 
neiro, desde  as  capitaoias  do  mesmo  Rio  e  S.  Paulo  até  á 
taargem  septeotrionat  do  Rio  da  Prata,  onde  no  governo 
do  Senhor  rei  D.  Pedro  lE  se  erigiu  a  nora  Colónia  debaixo 
da  invocação  do  Santissimo  Sacramento,  da  qual  fomos 
desalojados  pelos  castelhanos  aa  éra  de  1705,  e  manda- 
dos restituir  no  de  171&  pelos  arts.  V  e  VI  do  tratado  de 
Ulrecbt. 

3.  E*  certo  que  os  castelhanos,  com  a  má  fé  que  sempre 
praticaram  comoosco  inspirados  pelos  jesuítas,  que  os 
tinham  debaixo  da  sua  sujeição,  em  lugar  de  nos  restituí- 
rem com  a  dita  praça  da  Colónia  todo  o  seu  território 
que  antes  possuíamos,  nos  ficaram  usurpando  o  mesmo 
território,  nos  ficaram  reduzindo  ao  descripto  de  um  tiro  de 
canhão  da  referida  praça,  e  nos  ficaram  fazendo  as  outras 
avanças,  com  que  depois  edificaram  no  nosso  domínio  da 
dita  mai^m  septentrional  do  Rio  da  Prata  as  duas  praças 
àe  Montevideo  e- de  Maldonado,  nas  quaes  se  eMo  sus- 
tentando nulla  e  violentamente,  apesar  das  garantias  do  dito 
tratado  de  Utrechl. 

4.  E'  certo  que  ao  mesmo  tempo  foram  os  referidos  cas- 
telhanos [ou  os  jesuítas,  que  eram  03  que  enlSo  obravam 
no  effeito  ena  realidade),  avançando  colónias  de  índios 
e  estancias  por  todo  interior  do  sertão  da  capitania  de 
S.  Paulo,  com  o  claro  projecto  de  se  avançarem  até  ás 
nossas  Minas-Geraes,  e  de  nos  acharmos  com  elles  de 
portas  a  dentro  quando  menos  talvez  o  esperássemos. 

5.  E^  certo  que  assim  correram  as  cousas  até  o  tempo 
do  mal  entendido  e  peior  executado  Tratado  de  Limites 
das  conquistas,  assignado  em  Madrid  em  dez  de  Fevereiro 
de  17&0,  que  foi  annullado  pelo  outro  tratado  do  anno 

TOMO  XXXI.  P.  I.  39 


Dictzedby  Google 


—  ;l()2  — 

de  1761,  a  até  o  rompimento  da  ultima  e  aleivosa  guerra 
do  mez  de  Março  do  anno  seguinte  de  1762,  tarmínada  pelo 
outro  tratado  de  paz  de  dea  de  Ferereiro  do  outro  anão 
segiiÍDle  de  1763. 

6.  E*  certo  que  os  mesmos  castelhanos  e  jesuítas  seus 
sócios  (ou  sobre  elles  dominantes),  liogindo  ignorarem 
que  a  dila  paz  se  achara  concluída,  foram  invadir  o  Rio- 
Grandede  5.  Pedro  e  o  seu  território,  que  perfidamente 
occuparam  e  estão  occnpando  até  o  dia  de  hoje. 

7.  Sendo,  pois,  este  o  estado  das  cousas  pertencentes 
aos  portos  e  sertões  do  sul  das  capitauias  do  Rio  de  Ja- 
neiro e  S.  Paulo,  até  a  dila  mai^em  seplentrional  do  Rio 
da  Prata ;  sendo  para  nós  boje  os  castelhanos,  o  mesmo 
que  antes  foram  os  jesuítas,  dos  quaes  até  o  tempo  da  ex- 
pulsão, receberam  as  ordens,  e  depois  d'ena  estão  prati- 
cando comnosco  a  doutrina  :  o  sendo  estes  X)s  grandes  e 
sérios  objectos  com  que  dero  instruir  a  V.  Ex.  pelo  que 
toca  aos  mesmos  vizinhos  castelhanos:  passo  a  participar- 
Ihe  para  lhe  servirem  de  regras  as  ultimas  ordens  de  Sua 
Magestadb,  que  depois  do  referidcT  tratado  de  dei  de  Feve- 
reiro de  1763  se  tim  expedido  ao  governo  do  Rio  de  Ja- 
neiro sobre  esta  matéria. 

8.  Todas  V.  Gx.  achará  indioadas  no  catalogoque  acom- 
panha esta  quarta  carta.  E,  se  nSo  couber  no  tempo  eitra- 
hirem-se  dos  registros  as  cópias  das  cartas  que  n^elle  se 
accusam,  pelo  primeiro  navio  de  guerra  qu»  partir  para 
essas  partes  as  remelterei  a  V.  Ex.  indefectivelmente, 
porque  sem  uma  cabal  noção  d'ellas  não  poderá  V.  Ex. 
formar  d'este  gravíssimo  negocio  o  claro  juizoquelheé 
necessário,  para  conduzir  os  importantíssimos  interesses 
que  esta  corda  tem  na  resistência  aos  castelhanos,  e  na 
expugnação  d*elles  ( quanto  possível  for)  dos  portos  e  ser 
Iõe!!  meridinnnes.  nn  dn  snl  do  Estado  do  Brasil. 


D,:„i,;cdtv  Google 


Deus  guAfde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Seahora  da  Ajuda 
90)  Ude  Abri)  de  1769.— Conde  de  Oeyras.  —  Sr.  Mar- 
quez do  Lavradio. 


Illm.  ti  Kim.  Senhor.  —  A^s  certas  uolicias  que  icce- 
l>êmo5  do  porto  do  Fcrrol  depois  dos  ullímos  despachos 
que  dirigimos  »  V.  Ex.  nas  datas  de  31  e  32  de  Abril 
ptoximo  precedente,  deram  justo  motivo  ás  vigorosas  provi- 
dencias de  que  vou  anticipar  a  V.  Ei.  uma  prévia  idéa 
pela  cópia  do  plano  militar,  que  irá  n'esta  incluso,  paia 
què  V.  El.  n3o  perca  tempo  algum  em  prevenir  os  nossos 
ínijnigos  quanto  a  possibilidade  o  puder  pennittir. 

E  aOm  de  que  desde  logo  possa  Y.  Ex.  âcar  coro  as 
mãos  livres  para  obrar;  lhe  participo  n^csta  carta  noticias 
tão  agradáveis,  covo  são  as  seguintes : 
.  4.'  Que  el-rei  meu  senhor  tem  mandado  sustentar 
o  referido  plano,  e  applicar  ás  despesas  do  sul  todos  os 
rendimentos  das  duas  provedorias  do  S.  Paulo  e  Rio  de 
Janeiro,  sem  excepção  alguma  que  Dão  seja  a  dos  quintos 
das  Minas-Geraes  e  de  Goyaz;  todos  os  produetos  dos 
subsi(íios  voluntários  e  lllierario,  que  d'essa  capital  se 
deveriam  remetter  a  este  erário;  todos  os  outros  produetos, 
que  das  rendas  reáes  de  Angola  se  costumam  remetter  ao 
Rio  de 'Janeiro,  Babia  e  Pernambuco;  toda  a  importância  ' 
dos  soldos  e  munições  dos  dois  regimentos  que  se  vão 
transportar  da  mesma  tfahía;  duzentos  mil  cruzados  que 
com  elles  se  devem  logo  remetter,  e  outros  duzentos  mil 
cruzados  SDnuaes,  com  que  a  mesma  cidade  ficará  contri- 
buindo a  essa  capital  emquanto  existirem  as  urgências  da 
defesa  do  sul. 

■2.'  Que,  além  das  munições  dú  guerra  que  leva  o 
gaioãu  portador  d'esla,  receberá  V.  Ex.  muitas  outras  por 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  304  — 

todas  as  outras  náos  e  fragatas  de  guerra,  que  ficam 
promptas  para  sahirem  d'e$le  porlo  debaiio  de  diversos 
pretextos  apparentes. 

3."  Que  no  dia  de  amanhã  sabbado,  que  se  hão  de 
coutar  16  do  corrente,  sabirão  d'este  porlo  os  cinco  navios 
da  companhia  de  Pernambuco,  que  vão  receber  ao  porlo 
da  cidade  de  Angra,  e  transportar  d'ella  a  estSa  do  Rio  de 
Janeiro,  o  remonto  de  infantaria  de  que  é  coronel  An- 
tónio Freire  de  Andrade. 

4.*  Que  na  s^pinda-feira  18  do  mesmo  mez,  que  corre, 
sabirá  a  fragata  de  guerra  Nossa  Senhora  de  Nazareth, 
levando  as  destinações  publicas  de  Irnnsportàr  d'aqui  a 
Pernambuco  o  novo  governador  d'aquella  capitania  J«^é 
César  de  Menezes,  e  o  actual  governador  d'ella  Manoel 
da  Cunha  de  Menezes  ao  seu  novo  governo  da  Bahia;  e 
levando  uraa  ordem  occutta,  e  do  prego,  que  só  ha  de  ser 
aberta  n^aquella  cidade,  para  d'alla  passara  essa,  en'ella 
fícar  ^8  ordens  de  V,  Ex. 

5."  Que  ao  mesmo  novo  governador  Manoel  da  Cunha 
de  Menezes  vai  ama  promoção  feila  nos  dois  regiu^entos 
da  Bahia,  em  que  se  achão  nomeados  por  S.  Magestade  o& 
coronéis,  tenentes-coroneis,  sargentos-móres' e  capitães 
mais  distinctos;  e  vai  orjjem  positiva  o  apertada  para  que, 
fretando  e  embargando  lodos  quantos  navios  alti  apparecerem 
faça  immediatamenie  transportar  a  essa  cidade  os  ditos 
legimentos. 

6.*  Que  com  o  intervalto  ite  Ires  ou  quatro  dias  sahiiá 
d^aqui  a  náo  de  guerra  Nossa  Senhora  da  Ajuda  debaixo  da 
espécie  de  transportar  o  novo  governador  de  S.  Paulo 
Martim  Lopes  Lobo  de  Saldanha,  o  qual  vai  daqui  instruído 
para  conferir  com  V.  Ex.  antes  de  passar  ao  seu  governo  ; 
de  obrar  n'elle  de  accordo  com  V.  Ei.,  o  de  seguir  em- 
quaato  a  guarra  durar  as  ordens  do  tenenlft-general  João 


Dictzedby  Google 


—  SOS  — 
Henriqae  de  Bohm,  comoiBadanle  era  chefe  do  exercito  do 

901. 

1.'  Qwe  com  outro  semelhante  intervallo  partirá  a  aáo 
Santo  ADtonio,  debaixo  do  motivo  de  transportar  o  novo 
governador  das  ilbas  dos  Açores  Diniz  Gregório  de  Mello  do 
Castro,  levando  também  uma  occulta  ordem,  para  que  logo 
que  largar  o  dito  governador  no  porto  de  Angra  vá  deman- 
dar esse  ^0  Rio  de  /aneiro,  e  D'elle  fique  da  mesma  sorte 
ás  ordens  de  V.  Ex. 

8."  Que  a  náo  Nossa  Senhora  de  Belémi  e  as  fragatas 
Nossa  Senhora  da  Graça,  e  Princeza  do  Brasil,  ficam  pre- 
paradas e  promplas  a  sahir  doeste  porto  debaixo  do  pre- 
texto de  gttar4a-G0stas,  o  de  outros  apparenles  motivos, 
levando  as  mesmas  occullas  ordens  de  fazerem  toda  s 
possivel  força  de  \ela  para  irem  demandar  esse  porto,  e 
ficarem  n^elle  da  mesma  sorte  ás  ordens  de  V.  Ex. 

9."  Que  um  dos  bem  disciplinados  regimentos  da  guar- 
nição de  Pernambuco  passe  a  engrossar  e  fortificar  a  da 
tlba  de  Santa  Catharina. 

10.  Que  o  brigadeiro  António  Carlos  Furtado  de  Men- 
donça, a  quem  vai  a  patente  de  marechal  de  campo,  haja 
de  passar  á  dita  ilha  por  commandanle  general  dMIa  em- 
quanto  durar  a  guerra,  sendo  alliviado  do  governo  das 
Hinas-Geraes,  cujos  ares  achou  contrários  á  sua  saúde; 
sendo  n'elle  substituído  por  D.  Luiz  António  de  Sousa; 
e  sendo  por  V.  Ex.  auxiliado  com  todos  os  possiveis 
succorros  para  sustentar  a  defesa  d^aquella  importantíssima 
ilha. 

11.  Que  pelas  sobreditas  náos  e  fragatas  irí  V.  Ex. 
recebendo  um  bastante  numero  Je  artilheiros,  bombeiros 
e  mineiros,  formados  nas  escolas  dos  regimentos  de  arli- 
Iheria  doeste  reino;  os  quaes  (  com  ,o  dissimulado  Hm  de 
servirem   n^esse  eiército)  mandou  S.  Magestade  que  agora 


Dictzedby  Google 


—  ;iOtt  — 

íossem  Dometdos  para  as  guarni^es  das  sobreditas  iiáos  o 
fragatas  em  lugar  das  conapanhiss  de  infantaria  que  Q'elias 
seembarcavam  demodoordíoario. 

12.  Que  V.  El.  receb«rá  lambem  o  abarracameolo 
necessário  para  três  mil  homens  de  tropas  regulares,  com 
duas  barracas  mais  distiactas  para  general  e  marechal  de 
campo. 

Sobre  a  certeza  de  todos  os  referidos  soccorro^,  e  de  que 
receberá  osmais  que  necessariosforem:  ordena  poisS.HageS' 
tade  que  V.  Ei.  logo  que  receber  esta  carta  faça  transportar 
ao  Rio  Pardo,  Viamão  e  RIo-Grande  deS.  Pedro  o  teoeute- 
coronel  João  Henrique  de  Bohm,  o  brigadeiro  Jacques 
Punck,  que  vai  nomeado  marechal  de  campo,  e  os  três 
regimentos  de  Bragança,  MiKira  e  Estremoz;  mm  toda  a 
artilheria  v.  munições  de  guerra  que  forem  competentes, 
e  com  as  brigadas  que  í/ir  formando  dos  bons  artilheiros 
das  escolas  d'este  reino  que  vSo  embarcados  com  este 
destino,  como  acima  digo . 

.  Com  grande  brevidade  receberá  V.  £x.  pela  dita  íragata 
Nossa  Senhora  de  Nazareth  as  mais  amplas,  mais  espeni- 
licas  e  mais  círcuroslancíadas  inslrucções,*para  constituírem 
o  sjslema  da  guerra  que  ahi  se  vai  principiar  e  das 
operações  d^ella.  Porém  S.  Magestade  quer  que  V.  Ex.,  sem 
esperar  aquellas  novas  ordens,  mande  o  dito  tenente-generat 
instruído  para  formar,  logo  qjue  chegar  aos  referidos  lugares 
do  seu  destino;  o  exercito  que  deve  commandar,  deter- 
minando as  divisões  dVlle,  e  o  mais  necessário  como  se 
achasse  proiirao  a  combater  com  o  inimigo;  convocando  e 
fazendo  marcbar  Iodas  as  tropas  ligeiras  de  paulistas,  aven- 
tureiros, e  caçadores,  guarnecendo  os  portos  dos  rios  e 
passagens  dos  montes  por  onde  os  castelhanos,  Rados  nos 
soccorros  que  vâo  receber,  podem  vir  atacar-nos,  para  que 
os  possamo"!   rechaçar  cnm  vantagem.  E  dispondo  tudo  o 


Dictzedby  Google 


-  :WT  — 

mais  que  o  tempo  e  as  conjuncluras  dVlle  lhe  forem 
indiciodo. 

Nd  meu  particular  me  congratulo  com  V.  Ex.  peia  grande 
confiança,  que  na  sua  pessoa  tem  posto  el^rei  meu  senhor; 
tpmando  no  contentamento  cl'este  honroso  conceito  Ioda  o 
parte  e  todo  o  interesse  que  toca  A  minha  fiel  amizade 
em  tudo  o  que  pertence  a  V.  Es. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da 
Ajuda,  em  15  de  Julho  de  177(.  —  Marques  dePombal.-— 
Snr.  Marques  de  Lavradio. 


l.  lUm.  e  Gxm.  Sr.  —  Em  continuação  das  amplas 
instrucções  e  ordens  d'el-rei  meu  senhor,  que  dirigi 
a  V.  Ex.  nas  ultimas  cartas  que  lhe  encaminhei  na  data 
de  9  de  Julho,  pelo  capitão  de  mar  e  guerra  Guilherme 
Hac-Doul,  commandante  da  fragata  /Vossa  Senliora  de 
Naiareih,  c  na  de  8  de  Agosto  pela  náo  IVossa  Senhora 
da  Ajuda,  que  foi  commandada  pelo  capitão  de  mar  e 
guerra  José  dos  Santos  Ferreira,  vou  participar  a  V.  Ex. 
o  mais  que  tem  accrescido  depois  das  referidas  datas  :  para 
que  V.  Ex.  possa  ficar  em  mais  ctara  intelligencia,  assim 
do  que  deve  precaver  a  respeito  dos  nossos  pérfidos  vizi- 
nhos- confinantes,  como  do  que  pôde  ainda  esperar  em 
socoorros,  para  repellir  as  suas.  violências  e  reivindicar  os 
direitos  da  corda  d^el-rei  meu  senhor. 

ã.  Tudo  isto  achará  V.  Ex.  resumido  no  papel  que  ajun- 
tarei a  esta  carta  com  o  titulo  de  Orçamento  das  forçast 
terrestres  e  navaes,  etc.,  o  qual  contém  um  verídico  ex- 
tracto do  que  a  corte  de  Madrid  tem  até  agora  mandado 
para  o  Rio  da  Prata  em  navios  e  tropas ;  e  uma  justa  com- 
hinaçSo  das  forças  de  cada  uma  das  referidas  duas  espécies, 


Dictzedby  Google 


—  308  — 

com  que  V.  Ei.  se  acha,  e  achará  armado  para  propuistfr 
os  ralhos  e  insultos  castelhanos. 

3.  Também  V.  Ei.  receberá  com  esta  uma  exacta  cópia 
da  excellente  e  aulhentica  caria  chorographica  que  o  ma- 
rechal D.  Miguel  Angelo  Blasco  calculou  e  dalÍDeou,  pi- 
sando e  vendo  por  si  mesmo  todo  o  território  do  sul 
do  Brasil,  que  está  aclualtoeDle  sendo  o  Iheatro  da  guerra. 

i.  Além  do  referido  manda  Sua  Magestade  accrescãotar 
ao  que  tenho  escriplo  a  V.  Ex.  as  três  cousas  seguintes  : 

5.  A  primeira  d'eUas  é  que  a  conquista  da  importante 
ilha  de  Santa  Catharina  tem  feito  um  dos  priocipaes  objectos 
das  expedições  da  cArte  de  Madrid:  para  que  V.  Ei.  haja 
de  dobrar  as  cautelas  e  as  forças  necessárias  para  a  con- 
servação da  referida  ilha ;  fazendo  executar  tudo  o  que  a 
este  respeito  Ibe  preveni  na  minha  dila  instruoção  de  9  de 
Julho  próximo  precedente  desde  o  §  49  até  o  §  56  inclu- 
sivamente. 

6.  Entre  tudo  é  preciso  que  lenha  o  primeiro  lugar  o 
ponto  de  passar  á  referida  ilha  immediatamenle  o  marechal 
de  campo  António  Carlos  Furtado  de  Mendonça,  encarregado 
da  boa  defesa  d'ella :  para  o  que  se  manda  baixar  logo 
das  Minas,  e  encarregando  V.  Ex.  interinamente  aquelle 
governo  a  qualquer  oflicial  graduado  e  digno  de  confiança 
entre  os  d'essa  capital,  emquanlo  não  chegar  o  novo  gover- 
nador das  referidas  Minas ;  pois  que,  supposto  que  os 
castelhanos  presentemente  não  tenham  tropas  bastantes 
para  ao  mesmo  tempo  se  manterem  no  continente  coDtra  o 
nosso  exercito,  e  passarem  além  d'is5o  a  sitiar  a  referida 
ilha,  não  haverá  a  respeito  d'ella  precaução  que  não  seja 
útil  e  necessária. 

7.  A  segunda  cousa  consiste  em  Tecommendar  el-rei 
meu  senhor  novamente  a  V.  Ex.  a  cuidadosíssima  execução 
das  reaes  ordens  conteúdas  na  minha  ultima  carta  de  oito 


Dictzedby  Google 


—  309  — 

de  Agosto  próximo  precedente;  principaloieute  desde  o 
§  14  d'ella  em  diante ;  fazendo  multiplicar  quanto  possível 
fõr  o  numero  dos  corpos  e  companhbs  fraocas  de  aven- 
tureiros, caçadores. e  serlanistas  de  S.  Paulo  e  Santos; 
fazendo  recrescer  e  augnienlar  cada  dia  mafs  n'dlles  o 
espirito  marcial,  a  ambição  do  gloria,  e  a  animosidade  e 
desprezo  contra  05  caslelhanos;  e  fazendo  promptamente 
remunerar  e  gralificar  os  que  se  distinguirem  na  confor- 
midade das  ordons  que  tenho  participado  a  V,  Es.  sobre 
esta  matéria. 

8.  A  terceira  cousa  é  que,  tendo  os  ueistolhanos  grande 
falta  de  marinheiros,  e  por  isso  grande  dilSculdade  em 
armarem  as  suas  náos  de  força,  todos  aquelles  que  forem 
tomados  ficarão  reclusos  na  ilha  das  Cobras,  até  o  lim  da 
guerra;  tomando-se  relação  das  despezas  que  com  elles  s« 
fizerem,  para  serem  pagas  ao  tempo  da  paz.  Como  Vm. 
presenciou  n'este  reino  que  Sua  Magestade  não  quiz  nunca 
desertores  caslellianos  no  seu  exercito ;  fará  observar  o 
mesmo  d'essa  parte,  não  sú  a  respeito  dos  ditos  desertores, 
mas  tambum  dos  prisioneiros  de  guerra. 

0.  Pelo  que  pertence  ao  oslado  das  cousas  doestas  parles, 
vou  participara  V.  Ex.,  para  secretíssimo  conhecimento, 
que  nem  el-rei  meu  senhor  tem  permítiído  que  o  seu 
embaixador  na  cõrle  de  Madrid  desse  ireiia  o  menor  signal 
de  queixa  das  insolências,  que  o  governador  de  Buenos- 
Ayres  tem  commellido  contra  essus  domínios;  nem  a 
mesma  corto  tem  achado  a  propósito  lazer  d'ellas  a  esta 
reparação  alguma. 

10.  Sua  Magestade,  porém,  por  uma  parte  procurando 
mostrar  com  os  factos  que  não  ouviu  com  inditrereoça  as 
informações  dus  roíeridus  altentados,  e  pela  outra  parte 
embaraçar  a  referida  corte  com  uma  diversão,  que  a 
não  deixe  livre,  para  mandar  ao  Rio  da  Prata  Iodas  as 
TONO  XXXI,  P.  I.  40  < 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  31»  — 

tropas  que  ella  desejaria,  loceiandu-sc  <le  que  lhe  pos- 
sam ser  necnssarias  dentro  no  seu  mesmo  c^ontínentc  de 
Castella,  mandou  completar  todos  os  regimentos  do  seu 
exercito;  mandou  n'ellps  promover  aos  postos  todos  os  óífi- 
cÍMS  de  mamr  prtstimo,  e  reformar  os  menos  hábeis :  man- 
dou fornecer  de  copiosas  munições  de  guerra  todas  as  suas 
praças;  mandou  encher  armazéns  de  munições  de  boca,  c 
lúrrngens,  para  cincoentamil  homens  por  tempo  de  umanno; 
mandou  dar  balanço  ao  seu  arsenal  dns  tropas  chamado  aqui 
da  Tenenda,  cora  o  effeito  rle  achar  os  seus  amplíssimos  ar- 
mazéns cheios  de  .  rtilheria,  pólvora,  balas,  bombas  e  toda 
a  sorte  de  petrechos  de  guerra  :  e  mandou  finalmente  que 
tudo  isto  se  fosse  (como  vaí)  executando  com  a  maior  sizu- 
deza,  e  dissimulit^ão,  de  sorte  que  pareça  providencia,  e 
niio  reseotimenlo,  sem  comtudo  se  dispensar  a  actividade, 
com  que  nos  temos  empregado  e  vamos  empregando  nas 
sobreditas  prevenções,  e  sem  que  o  reparo  de  causarmos 
ciúmes  aos  nossos  máos  vizinhos  nos  sirva  de  embaraço. 
Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  deNoísa  Si-nhora  da  Ajuda, 
em  18  de  Setembro  do  t77i. —  Marquez  de  Pombal. — Sr. 
marquez  do  Lavriídio. —  Está  tonfonne. —  Thnmaz  Pinio 
da  Silra.      ' 


Dictzedby  Google 


—  :Hi  - 

OrfaHleiUv  ditíi  forçus  lerrentrss  «  naoaes,  fue  oerusiniil- 
niente  se  pôde  julgar  que  os  castelhanot  tenham^o  Rio 
da  Praia  e  sul  do  Brasil,,  depois  que  chegar  a  Bue- 
t\os-Ayrea  a  vllima  expedição  que  partiu  de  Cadix  no 
mez  de  Agosto  d'este  presente  anno  de  1774,  e  combina- 
ção d'eUas  com  as  forças  de  Sua  Magestade  n'aquellas 
fronteiras 

KOKgAS    TERRBSTRKS    CASlELHAPiAS 

—  l'e)a  primeira  parte  du  plaoo  militar,  que  foi  junto 
debaiio  do  n.  1,  a  segunda  carln  instructiva  què  em 
uove  de  Julho  doeste  presente  amio  de  1774  expedi  ao 
inarquez  do  Lavradio  foi  calculada  sobre  as  ultimas  infor- 
mações, alé  áquelle  tempo  recebidas,  for  uma  parte  que 
-o  corpo  dos  seis  mil  homens  com  que  ogovernador  do  Pa- 
ragiiay  veiu  surprehender  as  nassas  fronteiras  fora  na  maior 
parle  composto  de  cinco  mil  e  duzentos  homens  de  tropas 
do  paiz  chamadas  correnlinas,  que  para  nada  prestam,  e 
dos  Índios  das  missões  que  ajuntou  ás  referidas  tropas  de 
Corrientes,  e  são  ainda  peíores  do  que  ellas,  como  clara- 
mente fez  ver  a  facilidade  conr  que  o  nosso  bom  e  valo- 
roso capitão  de  tropas  ligeiras  Raphael  Pinto  Banda^ra 
com  o  seu  destacamento  de  cento  e  vinte  homens  bateue 
fez  prisioneiro  no  dia  três  do  Janeiro  doeste  presente  anno 
II  capitão  castelhano  D.  António  Gomes  á  testa  de  seiscentos 
combatentes  compostos  das  referidas  tropas  pagas  de  Cor- 
rientes  e  dos  sobreditos  Índios  com  ellas  incorporados, 
tomando-lbes  todas  as  armas,  munições  de  guerra  e  equi- 
pagens: e  foi  calculado  por  outra  parle  que  os  nerros  ou 
forças  substanciaes  d^aquelie  a  pparatoso  e  pérfido  exercito, 
ctiDsistiram  dos  oitocentos  homens  de  tropas  européas, 
que  o  referido  general  castelhano  tirou  das  guarnições  de 


Dictzedby  Google 


—  313  — 

Buenos-iyres,  Montevideo,  Maldonado  e  bloqueio  da  Coló- 
nia, deaando-as  inteiramente  desamparadas  de  todas  as 
ditas  guaraições. 

Depois  de  haver  despachado  a  referida,  carta  instructiva 
chegaram  a  esta  o^te  as  informações  :  primo  de  que  a  ex- 
pedição que  se  esUva  preparando  no  Ferrol  fflra  eontra- 
raaodada;  secundo  de  que  o  transporte  das  tropas  desti- 
nadas ao  Rio  da  Prata  se  devia  fazer  do  porto  de  Cadix-, 
terlío,  qued'cllee  de  outros  das  suas  \iEÍDhan!;as  ha- 
viam com  effeilo  sabido  no  mez  de  Agosto  próximo  prece- 
dente, em  Ires  charruas,  e  Ires  navios  mercantes  armados, 
mil  e  quatro  centos  homens  do  regimento  de  Galiza,  e  qui- 
nhentos desertores,  sommando  tudo  mil  e  novecentos 
homens,  , 

A'  vista  do  que,  vem  presentemente  a  consistir  no  sul 
do  Brasil  todas  as  forças  dos  referidos  castelhanos: 

Primo  pelo  que  pertence  ás  tropas  européas,  em  um 
corpo  de  dois  mil  e  setecentos  homens,  quando  chegar 
esta  ultima  expedi(jo  ao  Bio  da  Prata,  oorpn  do  qual  irão 
os  soldados  europêos  desertando  todos  os  dias  em  cardu- 
mes para  as  Minas  do  Chiti  o  Potosi,  como  é  conhecido 
vicio  das  tropas  castelhanas. 

Secundo  no  outro  corpo  de  cinco  mit  e  duzentos  homeng 
irregulares  e  inertes,  composto  no  rar>nor  numero  dos 
vadios  e  mandriões  chamados  soldados  correntinos,,  o  na 
maior  parte  de  Índios  bisonhos,  que,  sendo  pouco  mais  do 
que  vuUos  e  animaes  de  carga,  aborrecem  os  caslelhanos 
com  ódio  tão  entranhavel,  como  constou  da  relação  do 
marechal  Blasco,  que  foi  junta  aos  seus  sobre-ditos  des- 
pachos. 

Corpo,  digo,  o  qual  claramente  se  v6,  por  uma  parte,  que 
não  excederei  o  referido  numero,  porque  já  mostroU  a 
experiência  do  anno  [uoxituu  preccdenlc  que  d'olle  não 


Dictzedby  Google 


—  3la  — 

puderam  passar  lodos  os  esforços  do  general  U.  João  José 
de  Vertiz.  quando  procurou  ajunlar  toda  quanta  gente  s 
possibilidade  d'aquelles  paizes  podia  permitlir-lbe,  para 
completar  05  seis  mil  homens  (incluídos  os  oitocentos  ou- 
Topéos)  COO]  que  nos  veiu  atacar,  sendo  certo  que  se  tivesse 
mais  gente  capai  de  pegar  em  armas  a  não  deixaria  íicaT 
atrás  em  uma  conjunctura  em  que  procurou  mettec-nos 
medo  com  aapparatosa  ostentação,  que  fez  das  suas  forças: 
ecorpoemfím  que  pela  outra  parte  se  vé  que  é  pouco,  ou 
iKida  formidável. 

FORÇAS  TERRESTRES  POHTUUltZA!^ 

Pelo  que  pertence  ás  tropas  disciplinadas  européas: 
consistindo  as  dos  nossos  inimigos  nos  dois  mil  e  setecentos 
homens  acima  indicados,  consistindo  as  de  Sua  Mageslade, 
na  conformidade  da  terceira  parte  do  reforião  pbno  militar 
n.  1,  em  quatro  mil  cento  e  oitenta  e  quatro  infantes,  e  em 
mil  duzentos  e  dez  cavallos,  que  constituem  um  corpo  de 
cinco  mil  trezentos  e  noventa  e  quatro  homens  de  tropas 
regulares ;  já  se  vê  que  a  força  das  tropas  regulares  de 
Portugal  excede  a  das  tropas  regulares  de  Caslella  em  dois 
mil  seis  centos  noventa  e  quatro  combatentes. 

Pelo  que  pertence  ás  outras  tropas  irregulares  :  eonsis- 
tiodo  as  dos  mpsmos  inimigos  nos  cinco  mil  e  duzentos 
homens,  compostos  no  menor  numero  dos  apparentes  sol- 
dados correníinos,  mandriões  e  inertes,  e  na  maior  parte 
nos  miseráveis  índios  de  collecção  acima  referidos  :  e  con- 
sistindo as  forças  com  que  devemos  combalêl-os  nos  dois 
mil  homens  de  boas  tropas  ligeiras  (isto  é,  mil  de  pé  e 
outros  mil  de  cavallo)  e  nas  muitas  companhias  de  aven- 
tureiros, de  caçadores  e  de  sertanistas  das  capitanias  de 
S.  Paulo  e  de   Santos,    (jtnj  so  (èm   jovnntad')  c  pódcm 


DictizedbyGoOJ^IO 


-  3(4  — 

levanlar  ;  u  saudu  todos  elleg  por  aí  mesinoa  vatoroais- 
simos,  e  filhos  e  netos  de  pais  e  avós  dotados  d'aquelles 
heróicos  espíritos,  que  lhes  ganharam  a  faDia  de  serem 
n^essas  parles  o  terror,  não  só  dos  índios  castelhanos  e 
inertes,  mas  até  dos  mesmos  astutos  e  animosos' jesuítas: 
Umbem  se  concluiu  quaato  a  esta  tropa  ligeira,  por  um  pru- 
dente calculo,  que  todas  as  vantagens  estão  da  nossa  parle, 
principalmente  achaudo-nos  com  dois  mil  seis  centos 
noventa  e  quatro  homens  de  superioridade  nas  tropas  ra- 
gulares. 

Está  conforme.  —  Thoma:  Pinto  da  Silva. 

koh^:as  navaes  castelhanas 

A(é  a  recepção  da  carta  do  Kio  de  Janeiro,  f|ue  trouxe- 
ram as  datas  de  22  e  28  do  Fevereiro  doeste  presente  anno, 
constou  por  cilas  que  os  castelhanos  susientdram  os  insul- 
tos, que  no  Rio  da  Prata  nos  faziam  as  suas  embarcações 
pequenas,  com  três  fragatas  de  guerra,  que  conservavam 
no  sobredito  rio,  sem  resistência  alguma.  Consideran- 
do-se,  pois,  que.  vendo  os  mesmos  castelhanos  que  não 
tinham  contradictor  no  sobredito  rio,  não  quereriam  fazer  a 
grande  despeza  de  conservarem  n'elle  nãos  de  maior  lota- 
ção :  e  arbítrando-$e  por  isso  a  cada  uma  das  três  fragatas 
trintapeças  de  6  atélâ  de  calibre,  virAo  todas  três  asommar 
noventa  peças. 

Pelos  últimos  avisos  recebidos  do  Cadix  nas  datas  de 
lã  de  Julho  ede  lo  de  Agosto  próximos  passados  cons- 
tou terem  sabido  d'aquelle  porto  as  nãos  e  fragatas  se- 
guintes: 

A  náo  chamada  o  Attulo  de  setenta  pegas ;  a  outra  cha- 
mada 5.  Domingos,  da  mesma  lotação;  duas  fragatas dt 
({ucva  que,  segundo  as  informações,  são  do  loto  de  qua- 


Dictzedby  Google 


—  315  — 

renla  poças  caila  uma ;  Ues  tiivios  mcrcanlos  de  irnns- 
porle  armados  em  guerra,  que  podiam  levar  vinte  peças 
cada  um  ;  duas  charruas  hollandezas  de  cai^a ;  summa  tudo: 
duasnáosde  linha,  cinco  fragatas;  três  navios  mercantes 
armados,  e  trezentas  e  setenta  peças  de  arlílherta. 

FORÇAS   SAVAES    PORTWCIIEZAS 

Logo  que  se  ajustarem  no  Rio  de  Janeiro  as  expedi(;ões 
que  SI3  acham  ordenadas  poc  Sua  Magestade. 

Náo  capílànea  Santo  António,  de  6i  peças  que  agura 
pnrte  com  os  despachos,  que  acompanham  esta  náo  Nossa 
Senhora  d' Ajuda,  de  6i  peças,  que  partiu  em.. .de  Agosto 
próximo  precedente: 

Note-se.  —  Que  estas  nãos  de  sessenta  e  quatro  peças 
sâo  muito  mais  forles  do  que  as  castelhanas  do  solenla 
e  oitentti. 

Fragata  i^osaa  Senhora  de  Belém,  de  50  pi.-ças,  que  se 
acha  para  partir  d^entro  em  poucos  dias. 

fragata  iSosta  Senhora  rf«  .faiarelh,  dç  40  pe^MS,  que  já 
partiu  em  '23  de  Julho. 

Fragata  /Vossa  Senhora  da  Crnca,  de  iO  ppças,  que  partird 
com  grande  brevidade. 

tialeão  .Vossa  Senhora  da  (iloria,  de  28  peças,  que  laiti- 
beni  partiu  já  im  me^  de  Julho  próximo  procedente. 

Somma  ludo  :  duas  náos  de  linha,  uma  de  cinroenia 
peças,  duas  fragatas  de  quarenta,  outra  do  vinfe  e  oito, 
e  dl^entas  e  oitenta  e  seis  peças  lU-  arlilheria ;  em 
cujo  numero  vém  por  ora  a  laltsr,  oitonta  e  quatro  {«ras 
para  igualarmos  o  numero  dns  trezentas  c  setenta  que 
lerão  os  nosso*  inimigos,  quando  chegar  a  sua  expediçíin 
dl-  Cadix. 

frovine-sti,  porém,  a  (í.-Ii!  nrsiieito,  que  dolwivode  lodua 


Dictzedby  Google 


—  SIB  — 

ili-isimularàn  iln  cominerciu  f.  iiavegaçãu  mercantil,  se  ficam 
dcpediodo  slém  dos  acíoia  referidos,  alguns  navios  auit- 
[iares,  dos  quaes  serão  os  primeiros  a  sabir  os  seguintes: 
A  companhia  da  pesca  das  baleias  e  o  contrato  do  sal 
mandarão  sahír  logo  um  navio  novo  allimamente  cons- 
truido  na  Bahia,  que  toonla  trinta  poças,  e  que,  partindo 
d'aqui  cora  carga  do  referido  género,  leva  artilberia  e  tudo 
o  mais  necessário  para  ser  armado  em  guerra,  logo  que 
chefjar  ao  porto  do  Hio  de  Janeiro,  meitendo-se  n'elle  os 
soldados  e  artilheiros  que  necessários  forem. 

A  outra  companhia  do  Pará  fica  expedindo,  debaixo  da 
mesma  dissimulação  do  seu  commercio,  outros  dois  navios 
de  quinhentas  toneladas  para  cima,  para  serem  também 
armados  em  guerra,  e  guarnecidos  cora  soldados  e  arti- 
lheiros, logo  que  chegarem  ao  mesmo  porto.  Cada  um  dM- 
les  pôde  montar  vinte  e  quatro  peças;  um  dVlles  úcará 
prompto  em  oito  e  o  outro  dentro  em  vinte  dias. 

A  outra  companhia  de  Pernambuco  e  Parahjba,  manda 
logo  partir  a  fragata  de  quarenta  peças  chamada  Barriga 
me  ãóe,  e  fará  partir  logo  que  chegue  outro  grande  e  bom 
«avio  novo,  que  mandou  construir  no  Recife,  eespera-se 
que  por  instantes  entrará  ir^esta  barra  e  montará  trinta 
peças.  Sommando  todos  estes  soccorros  auxiliares  :  navios 
cinco ;  peças  de  artilheria,  cento  e  quarenta  e  oito  ;  com 
as  quíies  licaremts  excedendo  em  sessenta  e  quatro  aos 
nossos  inimigos. 

fMn  coiiiforraff. —  Thotuaz    Piíilo  tiu  Silra. 


Dictzedby  Google 


—  317  — 

lllm.  e  Esm.  Sr.  —  Sua  Magestade  foi  servido  des- 
tinar António  Carlos  Furtado  de  Mendonça  para  o  eom- 
inandameutu  oiililãr  de  todas  as  praças,  portos,  guar- 
nições e  mnis  forç&s  da  ilba  de  Santa  Catharina,  debaixo 
das  ordens  immediatas  de  V.  Ex.  E  Doesta  conformidade 
ordenou  o  mesmo  senhor  que  por  esta  secretaria  d'Es- 
tado  se  escrevesse  ao  referido  António  Carlos  Furtado  ie 
MendonçB  e  á  camar»  de  Villa-Rica  as  duas  cartas,  que 
lhe  vão  dirigidas,  as  quaes  lhes  remellorá  V.  Ex.  por  um 
expresso,  logo  que  lhe  forem  entregues. 

Das  cópias  das  mesmas  cartas,  que  junto  a  esta,  como 
partes  d'e[la,  vort  V.  ^x.  o  que  Sua  Magestade  determina, 
assim  a  respeito  d,as  etlicazes  medidas  que  devem  tomar, 
para  preservar  de  insultos  aquelle  impoctantissimo  estabe- 
lecimento, como  para  i]ue  V.  Ex.  nomeie  logo  urq  officiol 
militar,  que  inldriaamenle  vá  governar  a  capitania  de  Minas- 
Ceraes,  durante  a  ausência  do  actual  governador  d'e[la,  ou 
emqoanto  Sua  Magestade  não  mandar  o  contrario. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 
em  19  de  Setembro  de  1774.  —  Martinho  de  Mello  e 
€aslro.-~  St.  marquez  do  Lavradio.—  Está  conforme.  — 
Tho^nas  Pinto  da  Silva. 

Para  Autonio  Carlos  Furtado  de  Mendonça.  — A  pre- 
servação e  segurança  da  ilha  de  Santa  Catharina  sendo 
presentemente  vm  dos  objectos  mais  imporl^ntes  aO'real 
sarviço,  e  tendo  Sua  Magestade  umcr  inteira  confiança 
na  prudência,  firmeza  e  valor  de  V.  S.,  lhe  ordena  (jue  logo 
que  receber  esta  passe  iinmediatamente  ao  Rio  de  Janeiro ; 
e,  de||ois  de  ter  conferido  e  assentado  com  o  marquez  do 
Lavradio,  vice-rei  e  capilão-general  de  mar  e  terra  do 
Estado  do  Brasil,  sobre  os  meios  mais  efScazes  e  prom- 
ptos  de  soccorrer  poderosamente  a  referida  ilha,  se  em- 
barque sem  alguma  perda  de  tempo,  para  ser  conduzido 

TOMO  XXXIP.    I  M 


ídbyGoOJ^Ic 


—  M»  — 

a  eUa ;  e  logn  que  aUi  dhegar  tome  V.  S-  o  conuncnda- 
mehto  DiiKIer  das  pn^s,  portos,  gooirições  e  mttte  forças 
damesna  íHia,  d^aixo  das  ordens  Ío  ^to  viee-rei ;  em- 
pregando T.  S.  lodo  a  seu  eelo  e  BCtifidade  pan  a  pdr  ao 
melhor  e^do  4e  defensa,  de  sorle  que  possa  resistir  a 
Iode  e  (fBQl^iHH'  otaqae  qiie  se  lhe  intente  f'a2er  por  mar, 
Ou  TpOT  lerra,  ou  por  aoÃas  as  partes  ao  mesmo  tampo ; 
e  conservando  para  o  cargo  do  governador  Francisco  de 
Sousa  de  Menezes  toda  a  economia  da  mesma  ilha  e 
tropas  d'etla  debaixo  das  ordens  de  V.  S.,  emquanto  Sua 
Magestade  dSo  mandar  o  contrario. 

Para  substitair  o  governo  das  Minas-Geraes,  durante  a 
ausência  ãe  V.  S.,  tem  eUrei  nosso  atnhor  or^nado  ao 
marquez  do  Lavradio  que  nomeie  interinamente  um  officiat 
digno  d'BqdeI)a  incumbência,  o  (fual  jurará  homenagem 
nts  tnõQs  do  mesmo  TÍce-rei,  havendo  Sua  Mageslade  por 
suspensa,  alé  segunda  orderii,  a  qoe  V.  S.  deu  do  referido 
goterno. 

O  mesmo  senhor  espera  quetfesta  importante  com- 
missão,  a  que  o  destina,  ajuntará  V.  S.  mais  «ma  distincla 
prova  ás  muitas  que  fem  dado  do  sen  préstimo,  do  seu 
zedo  e  4a  sua  ftdelidade. 

Dens  guarde  a  V.  S.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 
em  19  de  Setembro  de  1774.  —  Martinho  de  Mello  e 
Castra.—  Este  conforme.— TAoma«  Pinto  «ia  Silva, 

Para  o  juiz,  vereadores  e  procurador  da  íamara  de  Villè- 
ftica.  Sendo  indispensaTelteenie  necessário  que  Anlonío 
Cnrlos  Furtado  de  Mendonça,  marechal  de  campo  dos  exw- 
citos  de  Sua  Majestade,  e  governador  e  capilão-general  das 
MÍna»*Geraes  passe  ae  Rio  de  Janeiro,  para  nm  importante 
negocio  do  rMl  servtço,'lhe  ha  o  mesmo  senhor^or  sus- 
pensa, ató  segunda  ordem,  a  homenagem  que  deu  ao 
referido  gorerno ;  e  tem  ordenado  ao  vicenwi  e  capítão- 


Dictzedby  Google 


ganeral  4a  nuf  e  (ena  4o:  (stada  do  Brasil  d»  nqmoai; 
ÍBdwÍBaBaeo(e  um  Qffidal,  quo  o  substitua  B'aquella  em- 
pngf^,  yreslaado  honeiugeQ^  (felle  Da$  m2o&  do  mesmo 
TÚje-rei^:  Oi  qua  Soa  Hagastade  9),and&  ptiticigar  á  cqraaca 
de  Vilta-Rica,  para  que  «ssigi  o  fique  enteodendo,  e  c^e  o 
observa- e  bça  observai,  pelo  iju?  lhe  urlaufi^  eaquaiup 
dorar  a  auseaeia  do  ditOigoTernadoc,  0U(  Soa  Mageslade  não 
aomear  outro  em  seu  lugar. 

Deus  guarde  a  Vm.  FaUqio  de  Noasa  Seahora  da  Ajuda, 
em  19  de  Setembro  de  17744^-  jVaritn/u>  de  Mello  e 
CoslTO.— Está  coofo^pi». — Th^naz  Pinto  da  Silvtk. 


liloi.  e  Exm.  Senhor.— Pelo  navio  Árgyle,  qu» chegou' 
ao  poeto  d'esta  coitai  a  dea.  de  Outubro  eom  oenlft 
e  dez  éias  de  viagem,  recebi  a  levei  á  resl  pteseuç* 
d'el-rei  dosso  seobor  as  relações  de  V.  Es.,  todas  esficiptas 
Domezdfl  Junho  do  presente  anno;  e  scdire  o  que  V.  Ex. 
reéere  relattivo  ás  pacificas  disposiçõ^  que  mostram  oa 
castAaoos,  depois  d>  precriçttadft  retirada  dp  geaerf^l 
Verliz,  discorre  V.  Ek.  com  muito  acerto  ob  desconfiança 
com  que  fica,  de  não  ser  sincero  aem  «ermanotate  o  soocgo 
actual  d'aqDelles  mal  inteuoibnados  vizinhos;  porque  aão 
só  em  BueD0S-A;froa  e  nas  fronteiras  do  KiorGraade  estão 
fazendo  as  disposi^es  militaies,  que  V.  Ex.  refere;  ma» 
da  Europa  lhes  foram  os  socctfrros  •  de  too§a  e  bíos  do 
guerra,  ds  que  T.  Ex.  já  se  achará  instruído ;  e  o  sHilida 
coDunum  basta  para  perceber  oÍMÍssÍmaiiaaMto  que  istoi 
não  é  paia  as  Mcem-eai  onesiâMÍe  no  Rio  daBrata,  Oaa 
paia  as  ajamtanm  ás  forcas  que  o  general  Vartiz  /Hi  Htea 
tei4  pnpaiadBB,  «  pars  darem  sebre  dós  ra^ntiMBeoM, 
quando  menos  o  esperamos. 

Nvstss'  circumstycias  pareceu  á  tf.VagwtadMnuito  pre- 


Dictzedby  Google 


pitada,  e  noilo  iiregullr,  a  lesolução  do  goverBador  do 
Rio-Grande,  era  maadff  de  sua  propTÍa  autoridade,  e  sem 
esperar  as  expressas  e  positivas  ordens  de  V.  Ex.,  retirar 
parte  das  tr^paí-cfue  V.  £x.  fez  marchar  para  aquelle  con* 
lioenle. 

N'eUe  ba  dois  perniciorissimos  abusos,  que  emquaato 
se  oãe  deMerrarem,  pem  atli  pôde  haver  soc^o,  nem 
seguiaaça. 

O  põoitíro  é  a  fatal  inacçSo,  ou  mais  propriamente 
pusiUailBidede,  com  que  oanca  achamos  razões  suffientes, 
nem  molÍTús  bastaales,  para  atacáramos  os  castelhanos, 
ou  em  saturftl  defensa  das  validas  hostilidades,  que 
commettnn  contra  dós,  ouemjustatatisfaçãodas  insuppor- 
(STeis  injurias  que  continoamenle  nos  fazem,  ou  quando 
não  querem  dar  ouvid(>5  ás  protestações  com  que  lhes 
■eqaeremos  a  reparação  dos  damoos,  que  repetida,  o 
sucoesaivamenle  nos  causam. 

Tomam-Qos  em  lempo  da  mais  profunda  paz  os  nossos 
navios,  e  não  os  qufiiem  restituir,  como  praticaram  no  Rio 
da  Prata  em  1T72.  PaWimd^alliaoRio-GruidedeS.  Pedro 
e  no  anno  precedente  de  1773,  tomam^nos  mais  dois 
navios,  e  também  não  os  tém  querido  restituir  até  hoje, 
antes  nos  seguram  por  terftos  claros  e  positivos,  que  o 
mesmo  farão  a  todos  os  que  entrarem  no  dito  Rio-Grande. 

Protestitmos  e  pedimos  reparação  d'estas  hostilidades, 
e  o  que  só  conseguimos  eão  os  insultos,  com  que  nos  res- 
^ndam  :  conUnuamos  a  protestar  e  a  pedir  reparação  dos 
Bossos  gravames;  e  aquella  nação  nfto  cessa  de  repetir  os 
meamos  insultos;  até  que,  depois  de  muitos  clamores  da 
nossa  pvte,  e  de  muitas  injurias  da  sua,  nos  acommodamoa 
com  ^as,  ficando  além  d^isto  sem  navios  nem  navegação, 
como  actualmente  nos  está  mccedeodo. 

O  segundo  abusti  perniciosíssimo  é  ejiie,  formando  os 


Dictzedby  Google 


—  321  — 

dUos  castelhanos  um  novo  díteiío,  até  agora  descoDbecido 
eotre  as  gentes,  de  nos  atacarem,  quando  bem  Ibes  parece, 
e  quando  melhor  conta  lhes  faz,  a  nós  nos  nãi>  lembra 
outra  alguma  cousa  mais,  que  cuidarmos  qnando  muito  no 
modo  pacifico  e  soUredor  de  reparar  os  seus  golpes,  a  se 
o  conseguimos  ficamos  mui  satisfeitos  e  contentes,  deixan- 
do-os  retirar  com  lodo  o  socego  e  quietação,  como  ultima- 
mente acopteceu. 

Forma  o  governador  de  Buenos-Ayres  D.  João  José  do 
Vertiz  e  Salcedo  o  projecto  de  dos  alacar,  e  sem  outra 
razão,  ou  motivo  mais  qiie  o  da  certeza  da  nosaa  paciência 
servil,  entra  a  preparar-se,  junta  as  suas  tropas,  e  põe-se 
em  plena  marcha  contra  os  domínios  portuguezes. 

Manda  V.  Ex.  com  vigilante  anticipação  soccorrer  os 
mesmos  domínios,  .dando  todas  as  prudentes  e  bem  r^u- 
tadas  providencias,  que  em  caso  semelhante  se  faziam 
precisas. 

Chega  o  governador  castelhano  á  fronteira  do  Rio-Pardo 
c  imniedíalamente  nos  í»i  poi  escripto  a  mais  formal,  a 
mais  decisiva  e  a  mais  insultante  declaração  de  guerra. 
Summando  os  commandanles  portuguezes  de  evacuarem 
todos aquellesdistrictos,  com  commiuiição  de  os  obrigar  por 
meio  das  armas;  e  8om  efleito  dá  princiftio  ás  suas  opera- 
ções militares  pelo  ataque  da»  nossas  guardas  avançadas. 

Chega-lhe  porém  a  noticia  díT  inteira  dflettuição  da  om 
corpo,  que  por  outro  ladutinha  mandado  avançar  sobrei 
nossa  fronteira,  e  do  despojo  que  elle  nos  deixou  ei^e  as 
mãos  no  qual  se  acharam  as  mesmas  instruc^ões.e  ordens 
militares,  com  que  o  dito  corpo  devia  dirigir  contra  n6s 
as  suas  operações. 

Deaanimft-se  o  general  castelhano  com  esta  inesperada 
perda,  entra  comoé  natural,  com  o  seu  exemplo  um  terror 
pânico  na  soa  tropa,  c  não  cuida  em  outra  cousa  mais  que 


Dictzedby  Google 


DO  modi>  de  se  salw  a  si,  e  a  «Ut  por  iD«i&  de  ufia 
proDBj^ta  reliiada. 

Sobe  d'elU  conf  aoticipação  o  coamandrata  porUiguaz, 
c  reeebe  no  mesa»  tempo  a  noticia  da  efaegada  do  coronel 
Sebastião  XavierdaVeig^oom  o  soceono  do  Riode  Janeiro, 
e  devendo  ^wovaitar^e  d'este  precioso  momeMo,  sahindo 
imisedietanraDte  coa  toda  a  sua  tropa  a  picar,  est^raçar, 
e  dilatar  a  retirada  dos  castelhanos,  cmquaBto  e  fomman- 
danle  do  soccorro  eom  marchai  dobradas  se  lhe  unia>  para 
ambos  atacarem  TigorosaineDtQ  o  inimiga»  e  faserem  as 
possíveis  diligencias  e  esforços,  p«lo  desbaratar  e  destroir) 
em  lugar  d'esla  determinaçio,  qne  todas  as  apparenaias 
mostravam  qoe  seria  feliz;  o  que  faz  é  ãcar  nwi  socado 
no  sen  campo,  deixar  dispAr  ao  general  castelhano  a  sua 
marcha  com  toda  a  quietação ;  despedirero-se  nutoanwnte 
com  grandes  eivilidades,  e  voltar  o  eommandanle  portugws 
ao  Rio-Grande,  e  o  general  castelhano  a  Buenosi-Ayres, 
com  o  fim  de  roGrutar,  como  este  racrutaudoas  suas  fropas, 
e  esperar  pelas  que  já  lhe  hão  de  ter  diagado  da  Europa, 
para  nos  vir  atacar  segonda  vaz,  com  forças  superiores,  em 
agradefiimento  das  stteações  que  tivemos  com  etie  na 
OGcasião  da  sua  retirada  das  margens  do  Kio-Pardo. 

Não  era  certaoMMe  p  brigadeiro  José  Mafroellino  capãE 
de  se  conter  em  uma  occasíão  semelhante,  nem  a  sua  acti- 
vidade e  fervdr  deixaria  de  lhe  mostrar  que  memeiUos 
tats,  como  o  qua  aJbima  fica  refwído,  sáo  tão  raros,  como 
precieaos  na  guerra,eque  logo  que  se  apresentam  gfi  detém 
aproveitar,  ainda  arriscando  o  tndo  p^o  tudo;  e  não 
obstante  quaesqaer  ordens  geraes,  por  mais  reslrícla»  qa» 
sejam,  porque  n'ellas  nSo  se  podendo  prever,  nem  aaan- 
tqlar,  iodos  os  acasos-  da  mesma  gaetra,  sempre  os  da 
natureza  do  que  se  trata  ficam  livras  ao  ai^trio,  vigitaDcía 
e  tl^cemtmento  dos  commandantBs :  mas  é  uma  incompre- 


DictizedbyGoOJ^IC 


faansitel  AttaUAsde,  <que  [Hedoraina  na  America  Meridional 
Portiigaeea,  a  qtial -conatoatemente  nos  tem  mostrarão  em 
todas  as  oecssiões  aconteflidas  desde  b  principio  tf'e9te 
século  que,  por  mais  hostilidades,  e  usurpações  que  os 
castelhanos  nos  tenham  feito,  e  façam,  nunca  até  agora  nos 
atMvdooi  aJhes  pedk  cazío  d'ellaB  com  as  armas  im  mão : 
«  aasapfe  ^e  dos  atacaram,  o  mais  a  que  nos  atrerémos, 
foi  a<uma  defensa  soffiped6re  e  passiva. 

'EHeasetemcoostituídossenhores árbitros  de  nos  fazerem 
a  guerra  quando  bem  lhes  pareça,  e  de  a  fazerem  cessar 
quando  ellaihes  não  cvnvera ;  sem  que  em  algum  mso  se 
veja  da  nossa  parte  outra  alguma  acção  mais  que  a  de 
rspararmosos  seus  golpes,  ede  nos  accommodarmos  satis- 
feitos, quando  deixam  de  os  dar. 

■Entre  todas  as  nações  do  mondo  ba  um  direito  das  gentes, 
por  onde  todas  se  governam;  as  máximas,  porém,  dos 
castelhanos  na  America  Mwiittonal,  a  qae  nos  temos  sujei- 
4ado  oom  grande  Abatimento  e  descrédito  nosso,  nSo  sSo 
fuodadaa  no  diceilo,  ftias  do  aresso  de  todas  as  gentes : 
e  emquaato  as -ditas  máximas  ou  abusos  se  nSo  mudarem, 
de  sorte  que  d«  céos,  qae  até  agora  lemos  sido,  nos 
façamos  autores;  nem  V.  Ex.  espere  soc^,  nem  segurança 
n'aquella  pafte  do  mundo. 

Para  que  isto  se  possa  fazer  com  os  meios  proporcio- 
^do9  de  o  sustentar,  tem  el-rei  nosso  senhor  mandado 
assistii*  a  V.  Ex.  com  os  soccorros,  que  já  tora  recebido, 
I  ainda  ítá  recebendo,  dos  quaes  espera  Sua  Magestade 
que  T.  Ex.  se  servirá  com  tanta  opportunidade  e  acerto, 
que  d'elles  resultem  os  úteis,  e  desejados  fins  a  que  são 
dirigidos. 

Deus  guarde  a  V.  1!t,  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 


Dictzedby  Google 


em  30  de  .Novembro  de  1774.—  Miirtinho  d»  MtUo  e 
Castro.  —  Sr.  marquez  do  Lavradio.  —  Está  conforme.  — 
Thomaz  Pinto  da  Silva. 


Illro.  e  Ex.  Sr.  —  Poiem  presentes  a  el-rei  nosso  senhor 
«s  cartas  em  que  V.  Es.  represeata  a  neoesEÍdadede  passar 
em  pessoa  ao  Rio-Grande  de  S.  Pedro,  e  assim  esta  deter- 
minação  de  V.  Ex'.,  como  a  efficacia  com  que  a  persuade, 
foram  muito  agradáveis  a  Soa  Magestade,  vendo  D'eUa  a 
mais  concludente  prova,  depois  di}s  mailas  que  V.  Ex.  já 
tem  dadb  do  seu  zelo  pelo  real  serviço. 

As  delicadas  circumstancias,  porém,  em  que  se  acbam 
esses  domínios  da  corfia  de  Portugal,  a  incessante  vigilân- 
cia, com  que  V.  Ex.  deve  promover  a  ordem,  a  disciplina 
e  s  regularidade  nas  forças  de  mar  e  terra,  que  el-rel 
nosso  senhor  tem  mandado  passar  ao  Itío  de  Jdneiro,  e  os 
soccorros  e  providencias  com  que  deve  assistir  aos  go- 
vernos e  districtos,  que  Ibe  são  subordinados,  muito  pai^ 
ticularmenle  á  ilha  de  Santa  Catbarina,  e  ao  nusmo  Rio- 
Grande  de  S,  Pedro :  todos  estes  importantísshnos  objec- 
tos entende  Sua  Magestade  que  fazAn  tão  íodíspensaveA- 
mmte necessária  a  presença  de  V.  Ex.  n'essB  capital,  como 
seria  prejudicial  ao  seu  real  serviço  se  d'ella  se  apartasse 
por  um  só  momento. 

Deusguardea  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 
em  21  de  Novembro  de  1774. — Martrnho  de  Mello  eCastro. 
Sr.  marquez  do  T.avradÍo. — Está  conforme. — ThofnazJHnít 
da  Silva. 


Dictzedby  Google 


-  3*5  - 

DlcD.eEx.âr.— SaaMAg03tadeTÍuacarta,ein  qaeV.  Ex. 
Uala  doe  artigos  do  anil  e  da  cosonítha,  como  também 
das  buas  disposições  em  qne  se  acham  os  povos  do  Rio- 
Grande,  para  augmentarem  as  suas  lavouras  e  fazendaa  de 
gados,  e  fabricarem  queijos  e  maotoÍKas,  em  tal  quaoti' 
tlade.  que  se  possam  eitrahir  para  diffarentes  partes  da 
America,  e  aÍDda  de  Portugal. 

Estes  objectos  são  da  maior  importaocia,  e  para  os  pro< 
mnver  e  animar  lenha  V.  E\,  por  certo  que  d'esta  cArte 
se  Ibe  dará  todo  o  auxílio  e  providencias,  que  se  fizerem  ' 
precisas. 

Quanto  ao  anil,  de  que  V.  Ei.  enviou  dezenove  arrobas  e 
dezoito  arraieis,  é  certo  que  a  sua  qualidade  é  boa ;  mas 
ainda  não  vem  perfeitamente  fabricado;  porque  traz  bastante 
terra,  e  lhe  lançam  muita  cat,  que  não  deiía  de  Ibe  fazer 
prejuizo,  deserte  que  para  poder  servir  nas  tinturarias  man- 
dei fazer  um  engenho,  em  que  todo  elle  se  purifics,  e  com 
este  beneficio  fica  tão  bom,  como  o  de  Guatiroara ;  roas  a 
despeza  que  faz,  e  o  que  perde  no  dito  baneSoio,  não  deisa 
de  ser  um  objecto  iroportente,  e  tal  que  a  nenburo  particular 
fará  conta  a  compra  do  dito  género,  emquantn  as  fabricas 
d'elle  se  não  aperfeiçoarem  no  Rio  de  Janeiro,  ao  ponto 
que  possa  no  mercado  concoiTer  coro  o  de  Castella,  em  pre- 
ço e  qualidade. 

Os  fabricantes,  que  desejam  a  liberdade  de  o  vender  a 
quem  lhes  parecer,  não  sabem  o  que  querem  :  entendem 
que  o  seu  género  é  Ifio  singular,  que  lhes  comprarão  per 
mais  alto  preço,  que  o  que  presentemente  recebem  da  real 
fazenda;  e  n'isto  se  enganam  grosseiríssima  mente;  porque, 
como  O  dito  género  vem  ainda  com  as  imperfeições  que 
acima  ficam  referidas,  e  os  particulares  nem  tém,  nem 
podem  ter  aquelles  engenhos  de  o  purificar,  a  consequên- 
cia será  que,  ou  ha  de  ficar  iavcndavel,  ou  se  comprara  por 
TOMO  XXU,   P.  I.  M 


Dictzedby  Google 


preços  (ào  ínfimos,  que  oâo  faça  coDla  alguma  aos  fabri- 
caoles;  elhes  acontecerá  o  mesmo  qae  aconteceu  com  este 
próprio  género  aos  do  Pará,  Haranbãot:  Cabo-Verde.  onda 
o  anil  cresce  por  toda  a  parte,  ainda  sem  cultura. 

Ha  annos  que  no  Pará  se  começou  a  fabricar  este  géne- 
ro, tendo  os  habitantes  a  liberdade  de  o  vender,  ou  trans- 
portar por  sua  conta,  como  melhor  lhes  parecesse:  vieram 
as  primeiras  porções  á  praça  de  Lisboa,  e  continuaram  de* 
pois  a  vir  outras;  mas,  trazendo  as  imperfeições  que  são 
inefilaveis  nos  principios  dos  estabelecimentos,  resultou 
d'aqui  que  não  houve  qaem  olhasse  para  o  aail  do  Pará. 

Mandou-se  uma  porçáo  dVlle  ás  fabricas  de  Covítiã,  e 
os  tintureiros  d'ellas  o  reprovaram,  como  incapaz  de  al- 
gum serviço:  o  mesmo  successo  teve  o  anil  do  Maranhão 
e  Cabo-Verde  ;  de  sorte  que,  depois  de  se  estabelecerem 
fabricas  do  dito  género  n^aquelias  capitanias  e  ilhas,  se 
abandonaram  toda»;  e  o  mesmo  acoDloccría  presentemente 
ao  do  Rio  de  Janeiro.se  não  se  tivesse  tomado  a  prevenção 
de  o  purificar  antes  de  o  mandar  ás  tinturarias. 

A'  vista  d'estas  considerações,  e  dVstes  exemplos,  se 
entendeu  aqui  que,  emquanto  n'essa  capital  se  não  aper- 
feiçoavam as  fabricas,  de  sorte  que  o  género  n'cllas  fabri- 
oado  se  sasteutasse  pela  sua  bondade,  o  meio  mais  próprio 
de  evitar  os  referidos  inconvenientes,  e  de  promover  ao 
mesmo  tempo  a  cultura  e  fabrico  do  anil;  era  o  d'elle  ficar 
por  uma  parte  um  preço  certo,  que  fizesse  conveniência  aos 
cultivadores  e  fabricantes:  este  foi  o  que  se  estabeleceu, 
em  consequência  das  informações  de  V.  Ex.  sobre  este 
ponto :  e  de  segurar  por  outra  parle  aos  mesmos  as  vendas 
de  todas  as  quantidades  que  tivessem ;  porque  com  a  cer- 
teza do  lucro,  e  com  a  s<^urança  da  venda,  é  certo  que  os 
ditos  cultivadores  e  fabricantes  tinham  e  tém  a  maior 
vantagem  que  se  pôde  procurarem  qualquer  ramo  de  com- 


D,:„t.;cdtv  Google 


—  337  * 

mercio ;  priocipalnieiite  quaado  se  trata  de  estabelecimen- 
tos, em  que  as  perdas  sempre  são  certas,  e  os  ganhos  muito 
duvidosos. 

O  mesmo  que  se  acba  estabelecido  a  respeito  do  aail 
do  Rio  de  Janeiro  se  tem  mandado  estabelecer  no  Pará, 
Maranhão  e  ilhas  do  Cabo- Verde,  por  se  entender  que  esle 
é  o  uDÍco  meio  de  tirar  aquellas  fabricas  da  total  ruína  a 
que  estão  reduzidas. 

Se  os  fabricantes  e  cultivadores  do  referido  género,  porém, 
se  não  quizerem  persuadir  da  sinceridade  dVtas  razões,  e 
insistirem  pela  liberdade  das  veudas  d'elle,  V.  Ex.  me  avi- 
sará pela  primeira  occasião,  para  que  fazendo -o  presente  a 
eUrei  nosso  senhor,  determine  Sua  Magestade  se  se  ba  de 
permittir  esta  liberdade,  avizando-se  ao  mesmo  tempo  i 
junta  da  fazenda,  para  que  so  abstenha  das  compras  que 
tem  ordem  de  o  fazer.  Pique  V.  Ex.  porém  na  certeza,  que 
se  isto  acontecer  assim  dentro  de  brevíssimo  tempo  ficará  o 
anil  do  Rio  de  Janeiro  reduzido  ao  nada,  em  que  alé 
agora  esteve. 

Com  a  coionilha  ha  de  acontecer  o  mesmo :  sobre  este 
género  ainda  não  ha  cousa  alguma  determinada,  nem  peb 
que  respeita  ao  preço,  netn  á  segurança  das  vendas:  os 
que  fabricarem  o  dito  género  lém  por  consequência  toda 
a  liberdade  de  o  venderem  a  quem  quizerem,  e  como 
o  quizerem:  V.  £x.  observará,  porém,  que  emquanto  se 
achar  assim  nãoé  possível  que  prospere,  porque,  como 
é  um  género  que  começa  a  se  conUecer  entre  nós,  e  a  se 
preparar,  paia  tintas,  não  pode  deixar  de  vir  com  muitos 
defeitos  á  praça  de  Lisboa,  onde  não  poderá  ter  cuncurren- 
cia  alguma  com  a  coxonilfaa  de  Castella;  e  n'este  caso  todo 
oquesetransporlar  do  Brasil,  ou  ba  de  ficar  inveodavel, 
ou  se  algum  droguisla  o  comprar  ha  de  ser  por  preços  tão 
iitlimo!)  que  nãu  fa^-u  conio  iilguma  ao  lavrador  e  fabricante. 


Dictzedby  Google 


—  318  — 

£'  preoifo  qae  V.  Ex.  capacite  bem  aos  interessados-  dos 
n-fendus  geoeros,  que  a  fazeinla  real  não  quvr  negociar  «n 
8DÍ1,  nem  em  c^iiuailba  ;  mns  quer  tão  sómenle  animar  o$ 
ditos  es(abele^m>!n[ns,  pelos  meios  e  modos  que  a  razão 
e.a  ezperíeaeia  lAm  mostrado  serem  mais  uleis  e  vantajosos 
aos  interessados  a'eHes . 

Pelo  que  respHÍla  á  lavoura  e  criação  de  gados  do  Rio- 
Grande  de  S.  Pedro,  a  providencia  de  se  pagar  prumpta- 
meoteem  moeda  provincial  tudo  o  que  aqueltes  povos  for- 
necem á  real  fazenda  ti  o  melhor  arbilrJo  para  os  SDÍmar 
ao  trabalho ;  e  como.  presentemente  ha  de  haver  maior 
consumo,  também  ha  de  crescer  com  a  mesma  proporção 
o  dinheiro,  e  augmeníar-se  o  gjro,  de  que  resultará  aos 
ditos  povos  terem  mais  faculdades  para  animarem  o  seu 
oommeccio  interior  e  externo. 

Os  queijos  e  manteigas,  que  V.  Ex.  teve  a  bondade  de 
me  remetter,  chegaram  muito  bons,  qão  obstante  a  prolon- 
gada viagem  que  trouxeram ;  e  n'esles  dois  artigos  pouco 
ha  que  ensinar  aos  que  os  fabricam;  porque  para  o  uso. 
commumdos  poros  de  Portugal  nâo  vAm  certamente  de 
Irlanda  e  de  Uollanda  queijos  e  manteigas  melhores,  que  os 
quoV.  Ex.me  romelteti. 

Quanto  ao  sal,  seria  preciso  que  V,  Ex.  me  desse  sobre 
este  artigo  mais  algumas  noções,  isto  é,  que  me  informasse 
dos  preços  por  qunahi  se  vende;  seaquelles  districtos  estão 
bem  fornecidos  d'este  género,  e  que  quanlid:ide  pouco 
mais  ou  menos  poderão  ser  necessários  por  anno ;  em- 
quanto  porém,  estas  informações  não  chegam,  logo  mandar 
rei  chamar  Ignacio  Pedro  Quintella,  para  que  modere  os 
preços,  e  avisarei  a  V.  Ex.  do  que  com  el)e  ajustar  sobre 
nsla  matéria. 

Com  grande  goGto  vi  chegarem  pelo  ultimo  uavio,  que 
entrou  n^este   porto  vindo  d'essa  capital,   perto  do  quatro 


Dictzedby  Google 


—  3»  — 

mil  arrobas  de  arroz.  Este  ^eaero  (cmbem  é  tmporlantis- 
simo,  e  dere  eutrar  ena  o  Dumero  doa  que  V.  Ex.  tem  pro- 
movido e  procurado  adiantar  com  tanto  acerto  ezelo  do 
real  servi«;o,  como  em  benefício  da  palría  em  que  nasceu.. 
DeusRuarde  a  V.  Bi.  ralacío  de  Nussa  Senhora  da  Ajuda 
em  21  da  Novembro  de  de  1774. — Murtinho  do  Mello  eCat- 
Kv. — Sr.  marques  do  Lavradio.— Está  conforme.  —  Tfio- 
max  Pinto  da  Silva. 


fllra.  e  Exm.  Sr. — Depois  dos  differentes  avisos  e  or- 
dens, que  d'esta c6rte  se  tèm dir^í^o  a  V.  Ex. desde  asque 
levaram  as  datas  jle  21  e  22  de  Abril  do  anuo  próximo  pre- 
cedente de  1771»  até  as  ultimas  com  data  de  34  de  Janeiro 
do  presente  aano,  que  foram  péla  Dáo  Nossa  Senhora  de 
fiaUm;  accresoe  actualmente  o  mais  que  vou  referir  a 
V.  Ex. 

Em  Cadix  e  nos  mais  portos  dos  domínios  de  Castella' 
se  está  preparando  um  formidável  armamento,  composto 
de  nãos  e  fragitlas  de  guerra,  do  brulotes  de  fogo  e  de 
grande  quantidade  de  navios  de  transporte;  uns  destina- 
dos a  levarem  tropas  e  outros  artiiberia  e  toda  a  sorte  de 
petrechts  e  munições  de  guerra. 

O  objecto  publico  d'este  grande  armamento  é  o  da 
guerra,  que  el-rei  de  Marrocos,  instigado  p^la  regência  de 
Argel,  declarou  á  cArte  de  Madrid,  passando  immedíata- 
mente  a  sitiar  um  dos  presiiHos  castelhanos  na  costa  de 
Africa,  defronte  doqual  seacba  em  pessoa  o  dito  rei  com 
seus  nibos,  commandando  um  campo  que  dizem  que  passa 
de  sessenta  mil  mouros. 

E^  muito  verosímil  que  as  ditas  forças  castelbanas  se 
destinem  prlnoipalmente  a  fasar  lerai^ar  o  referido  sitio,  e 
a  presorrar  de  insultos  semelhantes   os  outros  presídios 


Dictzedby  Google 


—  3M  — 

que  aqueUa  Da(io  leni  nos  domiiiios  de  Marrocos;  mas 
também  6  muito  provável  que,  aproveitando-se  a  cdrie  dé 
Madrid  doesta  occasião,  tenha  meditado  contra  nós  nm  dos 
eipedieoles  seguintes : 

Primeiro :  o  de  confundir  com  o  publico  armamento 
que  prepara  contra  os  mouros  o  particular  e  occullo,  que 
pôde  ser  que  ãestine  contra  os  domínios  portuguezes ;  de 
sorte  que  quando  virmos  sahir  dos  portos  de  Castella  uma 
.expedição  dirigida  á  costa  de  Africa  vejamos  inesperada- 
mente outra,  demandando  o  sul  do  Brasil. 

Segundo :  que,  ainda  que  a  dita  cdrte,  nSo  achando  coa- 
veniente  ou  nâo  podendo,  como  é  mais  natural,  dividir  as 
suas  forças,  destine  presentemeole  todas  ^s  que  tem  contra 
os  mouros :  é  certo  que  este  serviço  não  pôde  ser  de  tanta 
duração  que  occupe  os  castelhanos  por  muito  tempo,  e 
n'esle  caso  também  é  muito  verosimil  que  os  mesmos  cas- 
telhanos se  lembrem  de  empregar  contra  nós  as  mesmas 
forças  ou  parte  d'ellas,  logo  que  as  desembaraçarem  da 
costa  de  Africa ;  de  sorte  que,  ou  de  um,  ou  de  outro  modo, 
bem  podemos  esperar,  á  visla  da  situação  em  que  nos  acha- 
mos com  a  cArte  de  Madrid,  e  das  muitas  e  muito  con- 
cluilentes  provas  que  temos  da  sua  inveterada  duplicidade, 
que  a  tempestade  que  presentemente  ameaça  os  dominios 
de  Marrocos  venha,  mais  cedo  ou  mais  tarde,  a  se  fazer 
sentir  nos  dominios  merídionaes  da  America  portuguesa. 

Para  acautelarmos  as  perniciosas  consequências  que  se 
podem  seguir  do  que  acima  fica  referido,  o  único  meio 
que  a  razSo  e  a  experiência  mostra,  e  sempre  tem  mostrado 
ser  o  mais  util  e  efficaz  é  o  de  prevenirmos  os  nossos 
inimigos,  e  de  oppormos  á  natural  indolência,  com  que 
sempre  dispõem  e  executam  os  seus  planos,  a  actividade 
dil^ncia  e  resolução  com  que  os  devemos  desconcertar. 
N'es(a  idéa  ordennn  Sua  Magestade  que,  sem  alguma  perda 


Dictzedby  Google 


—  331   — 

lie  Lempo.  se  eipedisse  a  V.  Ex.  edla  eoibarcaç&o  de  avi&u, 
para  que,  informado  do  que  actualmente  acontece  na  Eu- 
ropa, cuidassem  em  fazer  os  possíveis  esforços  para  adian- 
tar e  executar  os  serviços  que  lhe  foram  determinados  dos 
despachos  da  secretaria  de  Estado  dos  negócios  do  reino, 
de  que  foi  portador  o  capitão  de  mar  e  guerra  Boberto 
Mak  Dual. 

Com  o  mesmo  fim  ordena  igualmente  Sua  Magestade, 
que  V.  Ex.  escreva  aos  dois  governadores  e  capitSes-gene- 
rses,  das  Minas-geraes  e  de  S.  Paulo,  para  que  executem 
sem  alguma  perda  de  tempo  tudo  o  que  Ibes  fui  determi- 
nado nas  instrucções  com  que  purtiram  d'esta  corte,  dando 
repetidas  partes  a  V.  Ex.  de  tudo  o  que  tiverem  feito  e 
forem  obrando. 

Queda  mesma  sorte  escreva  aos  governadores  ecapi- 
tAes-geoeraes  da  Babia  e  de  Pernamburo,  para  que  ímmc- 
dialameate  lhe  remetiam  as  recrutas  necessárias  para  se 
compielarem  os  regimentos  d'aqueilas  capitanias  desitaca- 
dos  D'essa  capital;  e  os  marinheiros  e  gente  de  mar,  que 
devem  terpromptos  á  disposição  de  V.  Ex.,  cumo  também 
as  provisões  de  boca  que  por  V.  Ex.  lhes  forem  pedidas  ; 
tudo  na  conformidade  das  ordens  que  Sua  Magestade  tem 
mandado  expedir  áquelles  governos. 

Que  V.  Ex.  não  perca  um  só  momento  de  vista  o  arma- 
mento da  esquadra  que  o  mesmo  senhor  mandou  estabe- 
lecer n'esse  porlo ;  assim  para  defensa  d'elle,  como  para 
todo  o  mais  serviço  a  que  fôr  preciso  destínal-o ;  e  que  a 
importantíssima  ilha  de  Santa  Catharina  faça  um  dos  prin- 
cipaes  objectos  do  seu  cuidado  e  vigilância. 

Que,  emquanto  V.  Ex.  applicar  todo  o  seu  zelo  e  activi- 
dade a  estes  grandes  objectos,  escreva  ao  general  Bohm 
fazendo-lhe  conhecer  a  indispensável  necessidade  em  que 
B05  achamos  de  prevenir  os  nossos  inveterados  inimigos, 


Dictzedby  Google 


occupaodo  ÍDUnediatameDle  a  marseio  maridional  do.Rki- 
Grande  4e  S.  Pedro  ;  6  Isoçando-oS'  fora  não  sá  (]'aqueUe 
itnporUiiitissimo  sitio,  mas  de  todos  os  postos  avanrados 
que  estivereiu  nas  circu[i»taDci«s  d'elle;  furiificaado  com 
facbiaa  e  reductos  os  que  lhe  parer«reiii  mais  defensaveib 
e  melhor  situados,  e  [«'ocurando,  pelos  bmíos  e  modos  que 
lhe  pare':erem  mais  convenientes,  fazer  passar  para  o  nosso 
campo  e  domínios  as  boiadas,  rezes  e  Iodas  as  provisões 
que  se  acharem  nas  terras  occupadas  pelos  castelhanos. 

Que,  sendo  muito  conforme  á  vaidadee  altivez  d'aqu^a 
soberba  nação  que  com  a  primeira  noticia  dos  nossos  mo- 
vimentos, acuda  com  força  que  tiver  para  se  oppõr  a  elles, 
sem  esperar  as  que  ainda  lhe  podem  ir  da  Europa  na  forma 
acima  indir^da. 

N^estQ  caso,  ou  em  outro  qualquer,  em  que  os  mesmos 
castelhanos  se  possam  encontrar,  deve  o  dito  general  ter 
tomado  snticlpadamente  todas  as  su;)s  medidas  para  os 
atacar,  efazer  os  possíveis  esfurços  pelos  destruir;  lendo  a 
certeza  de  que  lhe  será  Ião  fácil  tirar  grandes  vantagens 
das  forças  que  elles  têm  presentemente  no  Rio  da  Prata, 
como  lhe  será  custoso  v  difícil  defender-se  d'ellas,  logo 
que  se  lhes  ajuntarem  as  que  ainda  Ibes  podem  ir  da  Eur- 
ropa. 

E  se  a  Providencia  Divina  abençoar  as  nassas  araqas, 
como  o  devemos  esperar  da  justiça  da  nossa  causa,  um 
golpe  de  mão  e  decisivo,  bastará  para  desconcertarmos 
todos  os  projectos  que  a  cArle  de  Madrid  lenha  formado 
contra  nós. 

Devo  lembrar  a  V.  Ex.  os  grandes  inconvenientes, 
que  podem  resultar  ao  serviço  de  Sua  Mageslade  de  se 
achar  esta  cArte  ba  tantos  mezes  sem  noticias  d'essa  capir* 
tania ;  sendo  03  últimos  despachos  de  V.  £x.  que. aqui 
se  receberam  os  que  trouxeram  ae  datas  do  mez  da  Julho 


Dictzedby  Google 


—  M8  - 

do  anno  proitmo  precedente  ãe  ITYi,  e  que  nas  criâcas 
circamstancias  em  quo  se  acham  esses  domínios  é  pre- 
ciso que  V.  Ex.,  servindo-se  aão  só  dos  navios  mercantes 
da  pr&Qa  da  Lisboa,  mas  das  coivetas  que  ahí  fazem  o  com- 
meroio  de  porto  a  porto,  informe  a  Sua  Magestade,  com  a 
possível  frequência  e  detalbe,  de  tudo  o  que  se '  passar 
D^essa  capital  e  nos  mais  districtos  do'  sua  depeadencia. 

Deus  guarde  a  T.  Et.  Salvaterra  de  Magos,  em  6  de 
Abril  de  1775. — JfurttnAo  de  Xlrlln  e  Castm.—^r.  mar- 
quez  do  Lavradio. 


lUm.  e  Bxm,  Sr. —  1.  Teuho  recebido  e  teito  presen- 
tes a  el-rei  meu  senhor  as  cartas  de  V.  Rx.,  que  trouxe- 
ram as  datas  seguintes : 

9.  Uma  de  6  de  I)<'zembro  proiimo  precedente,  em  que 
rieram  inclusas  as  i.i.trucções,  com  que  V.  Ei.  expediu 
para  as  fronteiras  dn  ^nl  o  general  João  Henrique  de  Bohm  : 
sei»  na  data  de  10:  dua?  na  de  13:  uma  na  de  16:  uma 
na  de  23 :  e  outra  na  de  27  do  referido  mez. 

3.  E  aproveitando  a  occasíSo  d'um  navio,  queeslá  pró- 
ximo a  partir  para  a  Bahia,  responderei  agora  a  V.  Ex. 
sobre  os  pontos  conteúdos  nas  referidas  cartas,  que  fazem 
mais  precisos  objectos  das  resoluç5es  do  dito  senhor, 
c  das  fH-evencdes  de  V.  Ex. 

4.  Antes  de  tudo  ratifico  a  V.  Ei.  as  ultimas  ordens  de 
Suã  Magestade,  quo  pelo  Sr.  Martinho  de  Mello  e  Castro, 
e  por  mim,  lhe  foram  expedidas  nos  dias  rinco  e  seis 
de  Abril  próximo  precedente,  remettendo-lhe  as  segundas 
vias  d'ell3S,  para  assim  precaver  qualquer  possível  acci- 
denle,  o  accrescentando  o  mais  que  p.isso  a  referir-lhe. 

■a.  Depois  d'squelia  data  soubemos  cum  certeza  :  que  o 
armamento  do  Ferrol  e  dp  Cadix  se  descobriu  que  era  geral 
TOMO  xxxi,  p.  I.  43 


Dictzedby  Google 


—  334  ~ 

em  todos  os  portos  do  cootíaeDte  de  Hespanhs ;  qua  con- 
stiluia  uma  forçji  muito  mais  considerável,  do  que  aquellas 
que  até  agora  couberam  nas  faculdades  e  providencias  da 
c6rte  de  Madrid;  que  esta  tem  meditado  a  conquista  da 
ilha  de  Santa  Catharioa,  e  de  todo  o  sul  do  Brasil ;  que 
com  este  intento  hão  do  apparocer  os  castelhanos  n'essas 
costas  com  um  estrepitoso  apparato  de  forças,  e  dos  ralhos 
e  ameaças  que  são  do  seu  costume-,  c  que  a  isto  os  têm 
animado  a  frialdade  e  inacção,  em  que  até  agora  viram  os 
inglezes,  nossos  sempre  tardios  alliados. 

6.  Requerendo,  pois,  esles  supervenientes  factos  que  a 
mudança  d'eiles  faça  outra  respectiva  e  necessária  alte- 
ração DO  nosso  antecedente  plano  estabelecido  em  dilTe- 

,  rentes  circuinslanciss :  manda  Sua  Mageslade  ordenar  a 
V.  Ex.  em  conformidade  d'ellas  o  seguinte  : 

7.  Emquanto  a  união  dos  inglezes  comnosco  se  não  ma- 
nifestar, como  não  pôde  deixar  de  vir  a  succeder,  quer 
o  dito  senhor  que  V.  Ex.  se  reduza  aos  termos  das  refe« 
ridas  duas  inslrucções,  que  por  esta  ratifico  em  tudo  e 
por  tudo :  conservando-se  V.  Ex.  na  manutenção  do  porto 
e  ilha  de  Santa  Catharina,  e  das  entradas  e  fronteiras  da 
foz  do  Rio-Grande  de  S.  Pedro  e  do  RÍo-Pardo  ;  preoccu- 
pando  as  tropas  de  Sua  Mageslade  postos  inaccessivois  e 
desfiladeiros  custosos ;  fortiQcaado-se  D'elles  com  redu- 
ctos  e  obras  de  fnchina ;  disputando-os  aos  inimigos : 
retiraado-se  d'uns  a  outros  dos  ditos  postos  nos  casos.em 
que  forem  a  isso  forçados  por  forças  superiores  á  sua  resis- 
tência; embaraç-ando  e  detendo  assim  os  progressos  aos 
mesmos  inimigos,  até  que  as  deserções  e  as  faKas  de  man- 
timentos e  forragens  os  façam  reb-ogradar ;  fazendo-os  com 
os  mesmos  âns  inquietar  nas  suas  marchas  pelas  tropas 
ligeiras,  e  partidos  de  paulistas  e  sertanejos,  que  lhes 
aprezom  os  comhois  de  maniimenlos,  e  lh(>!:  destriinm 


Dictzedby  Google 


—  i;a6  — 

e  osterilisem  as  terras,  a  que  se  dirigirem,  aiitei»  de  che- 
garem a  ellas;  atacando  e  destruindo  as  suas  partidas 
avançadas,  e  destacamentos  que  acharem  separados  do 
corpo  dú  seu  exercito,  quando  virem  que  o  podem  fazer 
com  toda  a  provável  segurança ;  e  praticando  emfim  lodos 
os  estratagemas  d'uma  guerra,  que  só  tem  por  objecto 
dilatar  os  inimigos  até  que  em  marchas,  em  contra-marchas 
e  em  pequenos  choques  sejam  arruinados ;  como  bem  pra- 
ticou o  marechal  Bathiani  em  Bohemia  na  guerra  que 
se  Bcceadeu  depois  da  morte  do  imperador  Carlos  VI ;  en- 
ganando, c  entretendo,  com  quatorze  mil  homens  somente 
(ao  favor  das  montanhas  d'aquelle  reino],  todos  os  grandes 
exércitos  de  França,  Prússia,  Saxonia  e  Baviera,  sem  nunca 
poderem  atacal-o,  nem  medir-se  com  elle. 

8.  Sendo  que  o  nosso  caso  é  muito  diverso  d'aquelle 
era  que  esteve  o  dito  general,  porque  elle  contendia  com 
poucos  contra  muitos  de  forças  incomparavelmente  supe- 
riores, quando  nós  contrariamente  nos  achamos  com  todas 
as  forças,  que  Sua  Magestade  mandou  egora  reduzir  para 
o  seu  cabal  conhecimento  no  resumo  especifico,  que  acom- 
panhará esta  carta;  e  quando  não  cabe  na  credulidade 
prudente,  que  os  castelhanos  possam  transportar  forças 
de  terra  que  igualem  as  nossas  a  esse  continente :  consí- 
derando-se  por  uma  parte,  que  todo  o  grande  transporte 
de  tropas  de  Inglaterra,  que  sitiou  e  rendeu  a  ilha  de 
Martinica,  e  a  prat^a  de  Havana  com  o  seu  morro  (chamada 
ÍDV(HiGÍvel),  se  reduziu  o  dez  mil  homens ;  e  consido- 
raodo-se,  pela  outra  parte,  queos  ceslelhanos,  além  de  não 
terem  um  tão  grande  numero  de  navios  mercantes,  que 
possam  fazer  o  numero  dos  cento  e  sessenta  transportes 
que  então  partiram  da  Gram-Bretanha,  costumam  supprir 
estos  faltas  com  ostentações  fantásticas  para  incutir  medo 
a  quem  os  não  coiiheno.  Dicl»,  porém,  Ioda  a  po)tti<'a  que. 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  388  — 

eii|i{u*Bto  otUi  podermos  obrar  oireosívanaente  coDtra  aUes 
com  aassUteDcit  dos  nossos  alliad"-,  (tos  cootenhUDOs 
cm  susleatar  vigoiosissimameote  o  ^je  possiáimos ;  e  era 
os  mortificai  ti  reprimir  a  alies  de  sorte,  que  quan<lo 
vierem  a  ter  o  deseagaiio  de  que  dos  não  podem  coa- 
quislar  se  achem  destruídos. 

9.  Â  referida  idáa  de  manuleação  o  conseivaçío  se  nâo 
pôde,  oem  deve  estepder  í  pmça  de  Colooia.  Aote»  pelo 
coDlrario,  conhecendo  Sua  Hsgestade,  que  é  cbimerií^a  e 
impossiyel  a  idéa  de  coaservarmos  forças  navaes  no  fiío 
da  Prata,  e  mantermos  a  dita  praça  de  Colooia  it'aquelU 
distancia,  quando  n't)lle  e  no  território  d'eU«  Ifim  boje  o» 
áiUfs  castelhanos  o  centro  d«  união  de  Iodas  as  suas  foiças ; 
e  quando  pelo  coatcario  se  acha  alli  a  maioi  debilidade  das 
nossas  foiças  do  Brasil ;  quer  o  dito  senhor  que  V.  £x. 
com  estas  justas  causas  faça  logo  executar  o  que  lhe  tou 
agora  a  referir. 

'  10.  Por  ama  paite  mandará  V.  Ex.  r«tirar  immediala- 
mente  quaesquer  náos  ou  fragatas  que  se  achem  no  sobie- 
dito  rio,  antes  de  serom  D'elle  soiprendldas  e  apreadas 
pela  fastosa  expedição  cestelhana,  que,  ou  tem  partido,  ou 
está  para  partir  de  Cadix :  e  pela  outra  parte  faça  V.  Gx.  tran- 
sportar a  essa  cidade  o  regimenii  ili  çii.iiaiçto  â'aqueUa 
praça;  tomando  pata  isso  9  pretexto  <>  que  se  vai  disci- 
plinar, e  recrutar  ao  Rio  de  Janeiro,  c.onie  se  espera  sllí 
a  toda  hora  outro  regimento  mus  cotipieto  e  bem  disci- 
plinado ;  e  fazendo-se  transpirar,  e  crur  ao  mesmo  tempo, 
que  com  o  motivo  do  referido  transporte  é  que  sabem  do 
Rio  da  Prata  as  cmbarcarões  de  guerra  portugudzas  que 
n'elle  estiverem. 

11.  Pata  isto  se  praticur  melhor  escreverá  V.  Ex.  ao 
governador  da  referida  praça  uma  carta,  ou  ordem  osten- 
siva, que  elie  faça  registrar  na  secretaria  do  seu  governo  : 


Dictzedby  Google 


tomando  V.  £x.  ii'ella  os  pretextes  que  acabo  da  indicar 

acima;  e  ordeaaado-lhe  que  comos  motivos  â'enes  faça 
logft  iraBsporlar  o  dito  r^imento  a  essa  capital  oas  embar- 
cações de  guerra,  ou  commercio,  que  allt  achar  mais  piom- 
ptas;  e  que^  eroquBDto  uão  chegar  outro  regimento  mais 
complalo  e  bem  disciplinado,  que  irá  logo  substituir  o 
referido,  mande  fazer  as  guardas  ordinárias  pelos  auxi- 
liares e  ordenanças  da  sua  jurisdiccâo,  que  seiio  os  que 
bastem;  porque,  s^nndo  as  ultimas  noticias  qne  recebeu- 
da  teciproca  e  estreita  amizade,  que  se  está  cultivando  enlre 
as  Magestades  Fidelíssima  e  Catbolica,  espera  que  bce- 
vemenfe  chegarão  as  ordens  para  cessarem  n'essas  parles 
Iodas  as  dissençóes  entre  os  dois  respectivos  governos 
confinantes. 

12.  0'esta  sorte  salvaremos  as  ditas  embarcações  de 
guerra  e  o  dito  regimento  com  dissimulação  decorosa : 
fazendo  crer  aos  castelhanos,  que  o  nosso  fim  é  reformar 
a  guarnição  da  referida  praça,  sem  termos  pMcebido  que 
eUes  esperam  as  sobreditas  forças  superiores  á  nossa  resis' 
teacia  pva  a  atacarem. 

13.  Ao  mesmo  tempo  deve  V,  Ex.  fazer  passar  ao 'dito 
governador  outra  secretissima  carta,  na  qual  lhe  signifique 
em  substancia  :  qw  no  caso  de  ser  atacado  (como  natural- 
mente o  será  desde  que  os  castelhanos  virem  desamparada 
a  r^erída  praça  da  tropa  regular)  deve  mostrar~}hes  que  se 
quer  defender ;  e  deve  praticar  aquella  povca  defesa  que 
a  tua  posiibilidade  lhe  puder  permittir ;  que,  porém,  logo 
que  lhe  propuzerera  qualquer  capitulação^  a  deve  aeeitta-,  e 
render  a  mesma  praça,  cedendo  á  maior  força,  e  protes- 
tando pela  violeneia,  que  se  lhe  faz,  no  mesmo  tempo  em 
que  o  ultimo  tratado  de  dez  de  Fevereiro  de  mil  setecentos 
tetsenta  e  tre$  seacha  em  seu  vigor ;  e  em  que  sabe  de  certo 
que  eutre  as  duas  eártts  se  eslão  praticwndo  os  ofjicios  da 


Digitzedby  Google 


estreita  amixade,  que  /itzem  luUwràl  ot  apertadoí  oincttla» 
(lo  $eu  próximo  parentesco ;  qae  precavendo  este  caso,  e  o 
de  lhe  não  permittir  quaiqwr  invasão,  ou  obstinação  dos 
castelhanoi,  que  elle  retire  os  papeia  do  governo,  em  que  se 
contiverem  as  minutai  e  registros  das  correspondências  do 
mesmo  governo  com  o  do  Rio  de  Janeiro,  e  com  esta  cárie, 
os  deve  recolher  logo  immediatamente  ao  seu  gaiinete  com 
a  maior  dissimulação;  e  os  deve  n'elle  faser  qtieitnar  com 
a  maior  catttcla,  para  não  virem  a  cahir  nas  mãos  dos 
ditos  casttíhinas  ;  e  que  finalmente,  logo  que  receber  esla 
carta  secrelitsima,  a  queime  lambem  immediatamente; 
conservando  só  no  sua  lembrdnça  o  conteúdo  n'eUa  para 
execulal-o;  porque  o  registro  <fella,  que  fica  na  secretaria 
do  governo  do  Rio  de  Janeiro,  lhe  servirá  em  todo  o  tempo, 
e  em  todo  o  caso,  de  titulo  para  a  sua  píínaria  justificação ; 
fazendo  ver  qmentregovi  a  referida  praça  por  ordem,  tem  a 
menor  somara  de  negligencia  sua. 

li  Em  uma  das  suas  ditas  cartas  de  dez  de  Dezembro, 
cujo  principio  é — pelas reaes  ordens  de  el-rei  meu  senhor — , 
se  viu  o  motivo  com  que  António  Carlos  Furtado  de  Men- 
doaça  ficava  nas  Minas  impedido  para  passar  á  importante 
ilha  de  Santa  Catbariaa ;  e  este  impedimento  nos  teria 
dado  grande  cuidado  se  não  houvesse  já  cessado  por  uma 
parte  com  a  chegada  da  náo  Nossa  Senhora  da  Ajuda,  que 
levou  as  ordens  de  dezenove  de  Setembro  do  aono  pró- 
ximo passado,  para  se  levantar  a  homenagem  ao  dito  Antó- 
nio Carlos  Furtado  ;  o  pela  outra  parte,  com  a  chegada  de 
D.  António  de  floronha  o  de  MarUra  Lopes  Lobo  de  Sal- 
danha, com  os  despachos  e  instrucções  expedidas  na  data 
de  vinte  e  quatro  de  Janeiro  doeste  presente  anuo,  que  já 
terio  sido  notórias  a  V.  Ex. 

15.  Vm  conhet;obem,queabondadeehonra  do  actual  go- 
vernador da  illia  de  Santa  Calharina  nffo  basta  para  que  clle 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  S39  — 

i^m  alguns  (alentos  militares  possa  reger  aquelle  governo  em 
uma  conjunclura  tão  critica.  E  n^esta  consideração  é  Sua 
Magestade  servido  que  elle  se  recolha  a  essa  capital,  hon- 
rado com  a  patente  de  coronel,  |)ara  ter  o  exercJoio  que 
pelo  dito  senhor  lhe  iòr  determinado;  e  que  V.  Ex.  no- 
meie para  o  dito  governo  aquelle  official  que  lhe  parecer 
mais  próprio  da  occasião,  levando  o  referido  posto  de  co- 
ronel, ao  qual  se  lhe  passará  aqui  logo  a  patente  sobre  a 
nomeação  em  que  V.  Ex.  exprima  que  o  proveu  por  or- 
dem especial,  que  para  isto  tevo  do  dito  senhor.  Se  elle 
puder  levar  comsigo  mais  alguns  officiaes,  nada  será  dema- 
siado em  uma  semelhante  occasião,  em  que  se  sabe  que  os 
castelhanos  t£na  a  referida  ilha  por  primeiro  objecto  da  sua 
expedição,  para  nos  cortar  a  correspondência,  entre  essa 
capital  e  ottio-Grande  de  S.  Pedro,  e  territórios  a  elle 
adjacentes. 

16.  Esta  consideração  faz  necessário  reforçarmos  a  en- 
trada do  porto  d'aquella  ilha  ea  praça  d^ella  quanto  pos- 
sível fõr.  Enfesta  certeza  deve  a  mesma  ilha  ser  logo  soc- 
corrida  oom  mais  um  regimento  aos  da  guamiçáo  d^essa 
cidade,  o  qual  sejn  também  promplamente  subsiituido  pelo 
que  vier  da  praça  da  Colónia,  porque  este  será  logo  ahi  dis- 
ciplinado por  V.  Ex.,  cuidandoemlhe  mandarunir  as  re- 
crutas que  o  façam  completo  ;  e  tendo  por  certo  que  para  os 
outros  regimentos  iremos  d^aqui  continuando  em  lhe  man- 
dar das  ilhas  toda  quanta  gente  couber  na  possibilidade 
dos  navios  de  commercio,  porque  levam  d'aqui  particu- 
lares ordens  para  irem  tocar  áquelles  portos. 

17.  As  duzentas  e  sessenta  e  uma  recrutas  que  faltam  no 
regimento  do  Porto,  transportado  de  Angra,  so  acham  já 
proroptas  a  partir,  esperando  que  alli  cheguem  os  navios 
de  commercio  que  devem  transportal-as. 

18.  Para  completar  os  outros  tre«  regimflntoí  da  Europa 


Dictzedby  Google 


—  340  — 

deslacados  do  Rio  de  Jane  iro,  além  das  mil  e  duaenlas  ro- 
crutas  que  já  têm  ido  das  ilhas  da  Madeira  e  Açôies, 
irá  V.  Ex.  também  recebendo  outras  recrutas  na  sobredila 
fórma. 

19.  O  regiraeato  da  ilha  de  Santa  Calharina,  se  entende 
aqui  aflbar-sc  completo,  visto  que  V.  Ex.  nAo  avisou  qoe  . 
houvesse  falta  n'elle ;  e  os  trezentos  e  tantos  bomeos,  que 
faltam  no  da  Colónia,  se  entende  lambem  que  serão  logo 
recrutados,  visto  que  no  Rio  de  Janeiro  e  Minas-Geraes, 
que  dão  recrutas  para  estes  dois  regímealos,  ha  supera- 
bundante numero  de  gente  para  os  recrutar. 

30.  Quanto  aos  dois  regimentos  da  Babia  que  foram 
incompletos,  já  V.  Ex.  avisou  qae  o  governo  interino  dV 
quells  capitania  lhe  tinha  mandado  successivns  expediçSes 
de  gente  para  os  completar ;  e  ao  governador  Manoel  da 
Cunha  de  Menezes  se  ordena  que  continue  em  expedir  ro* 
crutas  de  melhor  qualidade  do  que  havia  mandado  o  ouvi- 
dor geral. 

21.  Pelo  que  pertence  aos  trezentos  e  tantos  homens 
que  faltavam  no  regimento  de  Pernambuco,  também  sou- 
hemos  logo  que  o  governador  José  Cezar  de  Menezes 
tínba  já  remetlido  cento  o  noventa  e  tantos  recrutas,  e  que 
nota  a  chegada  do  fardamento  que  d^aqui  se  lhe  remelteu 
mandaria  logo  as  que  tinha  promplas  para  fazer  completas 
as  praças  do  dito  regimento. 

22.  Os  outros  cento  e  trinta  e  dois  homens  que  faltavam 
na  tropu  do  Rio-Grande  de  S.  I'edro  tem  Sua  Hagestade 
por  certo  que  estarão  já  suppridos,  constituindo  um  ou- 
inero  tão  insignificante  a  respeito  dos  territórios  d'aqiielle 
continente. 

-2Z,  Em  arlilheria,  pólvora  e  munições  de  guerra  se 
viu  agora  que  ahi  não  faltavam  os  competentes  provimwi- 
(ns;  e  que   !:6  pelo  que    pertenre  it  ribairn    Hi9   náns<^qiie 


Dictzedby  Google 


-  341  - 

Mum  fflgúmas  escotas  e  cabos,  qne  se  it56  li^o  imnaeilta- 
(amenle  remelteado  por  navios  de  commercio  que  parti- 
rem para  a  Babía  e  Rio  de  Jaoeiro ;  por  ell6s  se  accrescen- 
(arão  mais  as  remessas  d'aquelles  foraecimentos  naraes. 

24.  Além  dás  mil  eduzeotas  espingardas,  que  vão  des- 
tinadas á  tropa  liiteira  de  S.  Paulo,  receberá  V.  Ex.  breve- 
mente mais  duas  mil,  para  o  serviço  das  tropas  regulares 
quQ  as  necessitarem :  e  com  ellas  irão  lambem  mais 
álguós  próvihienlos  de  pólvora  e  das  outras  '  munições  de 
guerra  que  as  coraraodidades  dos  transportes  nos  forem 
permittindo. 

'  25.  Sobre  o  rererido  se  considerou  agora  que  pelas  ins- 
trucçõese  ordens  de  vinte  e  quatro  de  Janeiro  próximo 
passado,  que  foram  peia  náo  Nossa  Senhora  de  Belém,  di- 
rigidas'a  V.  Ex.,  ao  governador  de  S.  Paulo  Martím  Lopes 
Lobo  de  Saldanba,  e  ao  governador  des  Minas  D.  António 
dê  Nomnlia,  para  entre  todas  estas  três  capitanias  se  esta- 
belecer uma  causa  commum  e  união  de  forças,  flcou  essa 
dapital  e  a  riba  de  Sanla  Catbarína  e  Riõ-Grande  de  S.  Pe- 
dro armados  de  dm  poder  próprio  e  natural,  que  não  será 
fácil  que  com  expedições  mandadas  da  Europa  se  possa 
irconibater  alão  remotas  distanciasse  ós  correnlinos  do 
Rio  da  Praia  e  os  Índios  das  missões  são  laése  tão  insi- 
gnificantes como  ahi  se  sabe,  ecomo  pelas  ultimas  expe- 
riências das  suas  invasões  do  anno  próximo  precedente  se 
tem.  manifestado! 

26.  Sempre  comtudo  manda  Sua  Magestadeaccrescenlar 
dinda  a  esta  carta  as  três  reUexões  seguintes. 
■  il.  Primeira  rellexào.  Os  castelhanos  conbecem  per- 
feitamente que,  não  tendo  um  porto  na  costa  que  jnz  desde 
ocabodeSanfa  Maria,  até  o  Rio-Grande' de  S.Pedro,  e 
vendo  que  pebs  marcfias  do  continente,  chegaram  a  nós 
tarde  e  muito  enfraquecidos.  I6m  feito  a  conquista  da  ilha 

TOMO  XXXI,  P.  I.  44 


Dictzedby  Google 


de  Saoia  Calbarioa  o  seu  primeiro  objecio,  paxá  D'eUa-se 
estabelecerem,  e  d^elU  íazerem  8S  expedições  das  suas  tro- 
pas :  em  cuja  certeza,  maoda  o  mesmo  senhor  avisar  a 
V,  Ex.,  que  auDca  poderá  acautelar  demasiadameote  a 
defesa  da  referida  ilha,  para  V.  Ex.  p6r  a'ella  todo  o 
maior  esforço,  não  só  de  tropas  r^ulares,  de  arlilheria  e 
de  bons  artilheiros,  e  boas  officiaes  que  a  governem,  mas 
também  armando  todos  os  paisanos  da  mesma  ilha,  quanto 
possÍTel  fôr,  e  fazendo-os  exercitar  em  atirar  ao  alvo,  e  em 
obrarem  unidos. 

28.  Segunda  reflexão.  Devendo  os  ditos  castelhanos 
principiar  as  suas  operações  pelos  ataques  da  referida  ilha 
e  do  Río-Grande  de  S.  Pedro;  devendo  empregar  n'elles 
todas  as  suas  forças,  e  não  podendo  sorvir-se  pela  via  de 
terra,  das  que  tiverem  no  Rio  da  Prata  sem  penosas  e  dila- 
tadas marchas,  que  nos  dê  muito  tempo  para  sermos  d'ellas 
informados,  e  para  nos  prevenirmos  dentro  no  continente, 
deva  V.  El.  fazer  unir  na  referida  ilha  de  Santa  Calhariny, 
e  no  referido  Rio-Grande  de  S.  Pedro,  todas  as  forças  do 
exercito  do  dito  senhor,  para  resistirem  ao  primeiro  Ímpeto 
dos  ditos  castelhanos;  porque,  se  na  resistência  d'elles  lhes 
quebrarmos  as  forças,  ficarão  logo  desanima-los  para  mais 
nio  fdZMem  cousa  que  boa  seja,  como  se  viu  no  auno  de 
1762  succeder  n'este  reino. 

29.  Terceira  reflexão.  Lembrando-se  o  dito  senhor  do 
terror  pânico  que  os  exércitos  de  França  conceberam  na 
guerra  da  Bohemia  ios  Panduros,  que  na  realidade  náo 
eram  outra  cousa  mais  do  que  uns  bussares  vestidos  ex- 
traordinariamente, e  de  modo  que  pareciam  barbarose  sel- 
vagens; lembrando-se  o  mesmo  senhor  do  medo  que  na 
ultima  guerra  do  anuo  de  1762  ^ifraro  aos  bespanhóes 
os  paisanos  das  nossas  províncias  de  Trãs-os-Montes  e  da 
Beira ;  e  constando-lhe  que  aos  mesmos  bespanhóes  euro- 


Dictzedby  Google 


—  343  - 

p£os  causam  outro  grande  terror  pânico  os  d^os,  de 
sorte  qae  na  occaiiiSo  em  que  fugiram  de  Villa-Real,  da- 
nm  por  motivo  da  sua  fugida  que  vinha  contra  elle»  mar- 
cbaado  um  grande  numero  de  negros :  manda  transportar 
de  Pernambuco  vm  batathJo  de  600  homens  do  regimento 
dos  pretos,  chamado  de  Henrique  Dias,  e  outro  dos  par- 
dos d'aquelle  paiz,  para  servirem,  ou  na  dita  ilha  de  Santa 
Catharina,  ou  no  dilo  Hio-Grando  duS.  Pedro,  onde  V.  Es. 
achar  qne  podem  ser  mais  úteis ;  fatendo-os  fornecer  de 
munições  de  boca  e  dtí  guerra  emquanto  alli  (orem  preci- 
sos, e  concedendo- Ibes  para  entre  si  repartirem  todas  as 
[ffesas  que  fizerem  sobre  os  inimigos. 

30.  E  Sua  Magestade  manda  prevenir  a  V.  Ex.  quo  os 
referidos  [uvtos  e  pardos  são  descendentes  de  dois  herúes 
tão  grandes  como  foram,  o  preto  Henrique  Dias  e  o  pardo 
I>.  Aalonio  Filippe  Camarão,  os  quaes  á  testa  da  genle  de 
saas  respectivas  cdres,  que  uuiram  em  corpos,  lançaram 
os  hollandezes  (quando  foram  mais  bellicosos)  fora  de  Per- 
nambuco; restituindo  aquelte  importante  Estado  ao  domi- 
nio  do  senhor  rei  D.  João  IV.  Sua  Magestade  por  esta  me- 
moria estima  tanto  aquelles  vassatlos  pretos  e  pardos,  que 
no  anno  prosimo  passado  despachou  com  o  habito  de 
S.  Tbiago  o  mestre  de  campo  de  um  dos  segundoa  d^elles : 
manda  tratar  o^esla  cArte  os  oíBciaes  d'elles  como  os  das  ou- 
tras tropas  sem  diCTerença  alguma ;  roandando-os  V.  Ex.  ahi 
tratar  da  mesma  sorte;  não  permittindo  que  osdespresem, 
obrarão  maravilhas  contra  os  castelhanos. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da 
Ajuda,  em  9  de  Maio  de  1775.  —  Marquez  de  Pontal. 
—Sr.  marquez  do  Lavradio. 


Dictzedby  Google 


Resumo  das  forças  que  se  acham  ho  Rio  de  Janeiro,  e  nos 
districtos  de  sua  dependência,  soecorros  e  outras  provi- 
dencias, com  que  Sila  Magestade  tem  mandado  assistir 
d  dita  capitania . 

IPjKAISTARIA 

Uois  regimeatos  da  guarolção  do  Rio  de  Janeiro,  cada 
ura  de  praças  821. 

Um  regimeoto  de  artilhem  da  mesma  guarnição  de  752 
em  que  entram  três  aggregados. 

N.  B. —  Das  relações  do  marquez  do  Lavradio,  TÍce-reÍ  e 
Mpílão-general  do  Estado  do  Brasil,  e  do  msppa  feito  no 
Rio  de  Janeiro  em  Dezembro,  de  1774  consta  que  estes 
três  corpos  se  acham  completos. 

Três  regimentos  da  Europa  destacados  no  Rio  de  Jaoeiro 
cada  um  de  praças  821. 

■  N.  B. —  Para  se  recrutarem  estes  três  regímeutos,  foram 
de  Lisboa  e  da  ilha  da  Madeira  homens  S51,  dos  quaes 
ficaram  no  Rio  de  Janeiro  perto  de  400. 

Mais  da  ilha  da  Madeira  e  das  ilhas  dos  Açores,  800. 

Um  regimento  do  Porto  que  se  achava  destacado  na  itha 
Terceira,  821. 

N.  B.  —  Faltavam  a  este  regimento  261  recrutas,  as  quaes 
se  acham  promplas  na  dita  ilha,  e  um  pequeno  resto  das 
precedentes,  que  só  esperam  embarcação  que  as  transpwle 
ao  Rio  de  Janeiro. 

Dois  regimentos,  um  de  Santa  Calharína,  outro  da  Co- 
lónia, 1642. 

IV.  B. — O  regimento  de  Santa  Catharina  deve  estar  com- 
pleto, visto  não  fallar  n'elle  o  marquez  vice-rei :  o  da  Co- 
íonia,  faltam-lhc  300  c  Mntos  homens  :  um  c  outro,  porém. 


Dictzedby  Google 


-  3i5  — 

devendo  recru(ar-se  das  capitanias  do  Rio  de  Janeiro,  e  de 
Minas-Geraes,  Q^ellas  h«  superabuadante  numero  de 
geole  para  oscoEQpletar. 

Dois  regiiQpntos  da  Bahia,  1642. 

N.  B.— Os  ditos  dois  regimentos  lambem  foram  incom- 
plelos;  mas  da  Bahia,  onde  ba  muitos  milhares  de  habitan- 
tes, se  mandava  successivamenle  gente  para  completar  os 
ditos  corpos ;  e  presentemente  se  escreve  ao  governador 
d'aquella  capitania,  para  que  remetta  as  melhores  recrutas. 

Um  regimento  de  Pernambuco,  8ãl. 

N.  B. — Este  regimento  lambem  foi  incompleto,  faltando- 
lhe  trezentos  e  tantos  homens;  mas  o  governador  de  Per- 
nambuco já  tinha  remettido  190  e  lautas  recrutas ;  e  por 
não  mandar  as  que  faltavam  descalças  equasi  nuas  espe- 
rava o  fardamento,  que  já  se  lhe  remetleu,  para  mandar  as 
que  faltavam  para  completar  o  dito  regimento. 

Cinco  companhias  de  artilbería  da  Europa  de  60  homens 
cada  uma,  não  contando  os  officiaes. 

Quatro  companhias  de  artilbería,  e  qoatro  de  infantaria 
ligeira,  tudo  do  Rio-Grande  de  S.  Pediv,  a  60  homens  cada 
uma. 

Infantaria  earlilheria,  10,56!>. 


Duas  companhias  da  guarda  do  vice-rei,  de  50  homens 
cada  uma. 

Um  regimento  do  iiOO  dragões. 

Um  regimento  de  cavallaría  auxiliar,  500. 

Toda  a  cavallaria,  1,100. 

?(.  B.— O  marquez  do  Lavradio  diz  que  a  tropa  4o  Rio- 
Grande,  tbe  faltam  132  homens;  esta  falta,  porém,  é  tão 
insignificanlc  que  não  pude  deitar  de  estar  remediada:  do 


Dictzedby  Google 


—  3Mi  — 

que  se  s^ne,  que  logo  qnO  chegarem  as  recnitas  que  se 
aebam  prontptas  na  ilfaa  Terceira,  e  as  que  se  irão  remel» 
tendo  da  Bahia  e  Pernambuco,  lemomarquez  vice^rei,  de 
tropas  efrectivas  de  infsDlaria  e  cavallaría,  11,66S  ho- 
mens. 

Além  das  tropas  acima  indicadas,  se  mandou  formar  em 
8.  Paulo  um  regimento  de  infantaria  sobre  o  pé  dos  de  Por- 
tugal, composto  de  821  homens. 

Uma  legião  de  tropa  ligeira,  composta  de  sertanejos  o 
r-açadores,  contendo: 

Infantaria,  1,200  homens. 

CaTaJlaria,  400. 

Infantariae  tropa  ligeira, 3,431.    . 


A  náo  Santo  António,  de  64  peças. 

A  náo  Ajuda,  de  64  peças. 

A  náo  Belém,  de  50  peças, 

A  fragata  Graça,  de  40  peças. 

.V  fragata  Nasareth,  de  40  peças. 

A  fragata  Assumpção,  de  30  peças. 

O  navio  Princeza  do  Brasil,  de  32  peças. 

O  navio  Príncipe  do  Brasil,  de  28  peças. 

O  galeão  iVossa  Senhora  da  Gloria,  de  26  peças. 

O  navio  da  ilha  de  Fernando,  de  24  peças. 

Soramn  398  peças 

As  nãos  e  fragatas  de  guerra  levarão  todas  as  suas  equi- 
pagens, pólvora  e  todos  os  mais  provimentos  necessário^ 
de  boca  e  de  guerra,  segundo  as  suns  diíTeronles  lotações. 


Dictzedby  Google 


—  :H7.  — 

CÓPU  DE  um  PAttAGRAPHOS  DE  UHA  CARTA  IM  ll.LM.  E  ElM. 
SR.  MARQDEZ  DE  POMBAL  DE  31  DE  JULHO  DE  1776,  DIHIGIDA 
AO  ILLH.  E  EXH.  SR.  MARQUEZ  VICE-REI,  QVE  COhTEH  AS 
ORDENS  SEGUINTES  PaRA  EU  EXECUTAH. 

Orduno  V.  Ex.  ao  general  ioâo  Henriques  de  Bobm  que 
á  testa  das  Iropas  sigaiGque  ao  brigadeiro  José  Raymiindo 
Cbícborro  da  tiama  Lobo,  ao  coronel  Sebastião  Xavier 
da  Veiga  Cabral,  e  aos  sargenlos-móres  ManorI  Soares 
Coimbra  e  José  Manoel  Carneiro,  que  a  Sua  Magestade 
foram  presentes  o  amor  do  real  serviço  e  a  valorosa  con- 
stância e  presença  de  espirito  com  que  se  dislíiiguiram 
nas  acções  <l'aquelle  feliz  dia ;  o  que  Sua  Magestade  em 
sigoal  da  satisfação  que  d'elles  tem  faz  ao  primeiro  merc^ 
do  posto  de  marccbat  de  campo  dos  seus  eiercílos,  ao 
segando  do  posto  de  brigadeiro,  e  ao  terceiro  e  quarto  de 
lenentes-coroneis. 

Postos  dos  quaes  principiarão  todos  a  exercitar  e  a 
vencer  da  mesma  hora  em  que  forem  declarados  por  taes 
á  testa  das  Iropas  na  sobredita  forma,  o  que  se  entenderá 
conservando  os  mesmos  marecbal  de  campo  e  brigadeiro 
os  seus  respectivos  r^imentos,  a  que  tém  dado  uma  tão 
louvável  disciplina. 

Respectivamente  louvará  V.  Ex.  os  outros  officiaes  que 
se  houverem  H islinguido,  cujos  Domes  não  constaraDi  aqui 
até  agora,  para  o  mesmo  senhor  os  attender  segundo  o  me- 
recimentu  que  tiverem  lido.  k  valorosa  obediência  e  prom- 
ptissima  resignação  com  que  osai^ento-már  Rapliael  Pinto 
Bandeira  {oÍ  atacar  com  quatrocentos  cavallos  sem  outra 
forragem  que  capim,  e  sem  iofantaria  ou  artilheria  alguma 
de  bater  uma  fortaleza  de  cinco  baluartes,  guarneciât  com 
duzentos  e  ciocoenta  bomens,  e  provida  com  mantimento 
d«  guerra  e  boca,  para  se  defender,  e  constante  espírito  de 


Dictzedby  Google 


-  ÍW  ^ 

Çrmea»  com  que  se  su^tentOM  diaDte^Mlapot.Yinle  e  sete 
dias,  faltandu-Ihe  todo  o  mantim^Dto,  de  sorte  iju,e  .diegou  a 
set  reduzido  a  extrema  necessidade  de  se  sustentar  a  si  e  aos 
seus  subalternos  com  raizes  e  hervas  do  campo,  emquaoto  se 
lhe  D&o  rendou  a  dita  fortaleza,  e  não  fez  sahir  d'ella  no  dia 
26  de  Março  o  governador  e  guarnição  hespanhoU.  Foram 
bctos  que  não  poderam  deiíar  de  accrescenlar  muitos  qui- 
lates na  consideração  de  Sua  Magostade  ao  grande  con- 
ceito que  já  tinha  dos  distinctos  raerecímentos  do  mesmo 
digno  offioial ;  e,  querendo  o  mesmo  senhor  dqr-lhe  alguns 
signaes  sensiveis  da  sua  real  benevolência,  ha, por  bem 
croal-o  coronel  de  uma  legião  ligeira,  privativa  e  eiclu- 
sivamente  composta  de  aventureiros  do  Rio-^randa  de 
S.  Pedro,  Viamão,  Rio-Pardo,  e  dos  outros  territórios  que 
jazem  ao  :iul  até  o  Rio  da  Prate,  e  a  occideute  até  d'onde 
chegarem  os  fieis  do  nosso  continente. 

No  mesmo  tempo  houve  Sua  Magestade  outrosim  por 
bem  fazer  mercê  ao  dito  Raphaol  Pinto  Bandeira  do  habito 
da  ordem  de  Chrísto  com  duzentos  mil  réis  de  (eoça,  não 
obstante  o  posto  de  sargento-mór  que  occupa,  e  sem  exem- 
plo, porque  também  o  não  tem,  o  que  elle  obrou  no  serviço 
de  Sua  Magestade,  atacando  a  fortaleza  de  Santa  Tecla  nas 
circumstancias  acima  referidas. — Conforme,  Bohm. 

Ulm.  e  Ex.  Sr.  —  Sua  Magestade  é  sorvida  que,  man- 
dando V.  Ex.  vir  á  sua  presença  o  coronel  de  mar  Roberto 
Mack  Douall,  lhe  intime  que  a  mesma  senhora  o  ha  por 
escuso  do  commaodamento  da  esquadra,  de  que  era  chefe, 
e  que  como  simples  particular,  e  sem  commandameoto 
algum,  se  possa  embarcar  no  porto  d'ess3  cidade,  em  qual- 
quer embarcação  de  guerra  ou  mercante,  que  bem  lhe  pa- 
recer, para  ser  transportado  n'e)la. 

A  niesma  senhora  ordena  igualmente,  que,  mandando 


Dictzedby  Google 


—  849  — 

V.  Ex.  ítzei  uoiaoollecçio  e  rCBnmo  de  todis  as  ordens 
s  iostmoções.  assim  dirigidas  d'«sta  cdrte^  como  dadas  por 
V.  Ex.  ao  sotmdito  coronal  de  mar,  para  os  difieientes 
serriços  de  que  foi  encarregado,  parlicalarmente  para  a  ' 
defensa  do  porto  de  Santa  Catheriba;  e  juntando-Ibe  os 
documentos  por  onde  se  mostre  a  execução  que  eUe  deu  is 
ditas  ordens  e  iostrucções,  ou  a  desobedieocia  e  ano*- 
ganoia  oom  que  as  ílludiu,  se  forme  de  tudo  um  corpo  do 
delicto,  e  se  proceda  immediatamente  a  um  sumniario  de 
testemunhas,  pelo  qual  authenticamente  conste  do  com- 
portamento do  sobredito  officíal :  cujo  summario  remet- 
teri  T.  Ex.  a  esta  secretaria  d'Eslado  no.  mesmo  tempo 
em  que  o  referido  coronel  sabir  d'esse  porto. 

Da  mesma  sorte  ordena  Sua  Magsstade  que  sem  perda 
de  tempo  mande  V.  Ex.  processar  e  sentenciar  o  gover- 
nador que  foi  da  ilha  de  Santa  Catharíoa,  António  Carios 
Furtado,  e  os  mais  ofiiciaes  que  com  elle  se  achavam 
na  infelÍE  entrega  da  mesma  ilha ;  e  que  a  sentença  seja 
immediatamente  remettida  por  esta  secretaria  d'Estado  á 
real  presença  da  rainha  nossa  senhora,  para  Soa  Magestade 
determinar  a  respeito  d'el)a  o  que  fôr  servida. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.  Palácio  de  Nossa  Senhora  da  Ajuda, 
em  22  de  Dezembro  de  1777.  —  Martinho  de  JfeUo  e 
Castro. —  Sr.  raarquez  do  Lavradio. 


TOMO  xm,  *■  1- 


Dictzedby  Google 


DA  RUAÇlO  DA  CONQUISTA  OE  COLÓNIA,  PELO  DR.  V.  PEDRO  PE- 
REIRA FERNAROBS  DE  MESQUITA,  ESCRIPTA  EK  BOENOS-AYKES 
SH  1778. 

Conquistada  a  ilha  de  Sanla  Calharioa  pelo  general 
D.  Pedro  Cevallos  sem  que  lhe  custasse  maior  desvelo  que  o 
appafecer  avista  d'olla  com  a  sua  armada,  deixando  ficar 
n'aquelle  porto  alguns  navios,  e  a  guarDÍ(;âo  que  julgou 
necessária  para  a  conservar,  sabiu  com  o  resto  da  armada 
a  demandar  a  barra  do  Rio-Grande,  para  proseguir  por 
aquella  parte  a  conquista;  mas,  como  encontrasse  grandes 
temporaes  n'aquella  costa  tomou  o  rumo  do  Kio  da  Prata, 
e  fundeou  em  Montevideo,  onde  fez  desembarcar  e  refres- 
car por  algum  tempo  a  sua  tropa ;  e  depois  de  fazer  as  pre- 
parações necessárias  foi  dar  vista  da  Colónia  em  22  de  Maio 
de  1777  com  &8  embarcações,  fundeando  na  costa  do  sul, 
.fora  de  tiro  de  canbâo  da  praça,  e  alli  foi  o  desembarque  da 
tropa,  arlilheria  e  munições,  formando  o  seu  campo  junto 
á  mesma  praia,  constando  as  suas  forças  de  oito  mil  ho- 
mens pouco  mais  ou  menos,  entru  as  tropas  que  trazia  da 
Europa  e  as  que  se  haviam  levantado  do  paiz. 

Achava-se  por  governador  da  Colónia  o  corone]  Francisco 
José  da  Rocha,  homem  de  grande  inlelligencia  da  milicia, 
e  certamente  digno  de  melhor  sorte.  Muito  antes  que  che- 
gasse a  armada,  e  logo  que  leve  o  aviso  da  capital  que  ella 
se  preparava  na  Europa  para  passar  a  estas  partes,  cuidou 
em  põr  a  praça  em  termos  de  defesa,  não  perdoando  a  dili- 
gencia nem  trabalho  algum.  De  Buenos^Ayres  era  avisado 
das  preparações  que  se  faziam  n'aquellas  partes  e  da  certeza 
da  vinda  da  armada  hespanhola;  de  tudo  fez  avisos  para  a 
capital,  para  assim  ser  soccorrido,  pois  considerava- se  ine- 
vitável a  perdição  da  praça,  nâo  só  por  se  acharcom  pouca 
guarniçiio,  mas  muito  principalmente  pelas  faltas  que  havia 


Dictzedby  Google 


-  35Í  — 

muito  tempo  eiperimentado  de  mantimentos,  e  lerem-nos 
os  castelhanos  fechado  todos  os  portos  por  onde  nos  podia 
ealraralguma  cousa,  por  nos  tiaveiem cercado  também  por 
mar.  Porém  foi  tal  a  infelicidade,  que  assim  os  avisos  que 
expedia  ds  Colónia,  como  os  navios  que  se  mandavam  48 
capital  com  soccorro  de  mantimentos,  todos  foram  aprisio- 
nados, e  entre  os  avisos  que  o  governador  fazia  apanhou 
Cevailos  um,  em  que  o  governador  avisava  á  capital  que  o 
mantimento  que  havia  na  praça  escassamente  chegaria  a 
municionar  a  tropa  até  o  dia  20  de  Maio;  e  com  esta  certeza 
sahiu  Cevailos  de  Montevideo  no  dia  18,  bem  persuadido 
que,  exhaustos  os  mantimentos,  nâoseria  possível  que  a  pra- 
ça Ihepodesse  resistir,  ainda  que  as  suas  defesas  fossem 
grandes  e  a  guarnição  mais  numerosa,  quanto  mais  cons- 
tando esta  somente  de  soldados  pagos  e  cento  e  (antos  pai- 
sanos. 

Toda  esta  tropa  eslava  mais  bem  eiercitada,  e  com  ani- 
mo e  disposição  para  a  defesa  :  porém,  como  a  falta  de  sus- 
tento cada  dia  se  augmeutava,  determinou  o  governador 
render  a  praça,  antes  que  os  seus  defensores  e  habitadores 
perecessem  é  forno,  anies  que  o  inimigo  rompesse  o  fogo, 
julgando  que  maior  serviço  faria  ao  rei  em  salvar  os  bens 
e  as  vidas  d'aqueUes  vassallos,  que  em  outra  occasião  o  po- 
diam servircom  utilidade,  do  quesacrificartudo  som  espe- 
rança de  vencimento,  e  ser  irremediável  o  render-se 
quando  o  não  fosse  ás  forças  do  inimigo,  ao  inexorável  golpe 
de  fome,  e  talvez  poderia  assim  tirar  do  inimigo  algumas 
condições  mais  vantajosas. 

Convocou  duas  vezes  a  conselho  os  oflicines  da  t!uar- 
nição :  propôz-lhes  o  esrado  da  praça,  e  a  impossibilidade 
de  ser  soccorcida,  e  quasi  todos  foram  do  seu  parecer. 
Mandou  fazer  uma  exacta  averiguação  dos  viveres,  e  apenas 
se  achou  que  havia  nos  armazéns  reaes  com  que  muni- 


Dictzedby  Google 


—  352  — 

donai  a  Iropa  cioco  dias,  e  nas  casas  do  povo,  q^  tpdas 
foiam  miudameale  registradas,  se  não  achou  cousa  alguma ; 
porque  havia  muito  tempo  que  todos  comiam  do  d^el-rei, 
por  baver  mais  de  oito  mezes  que  não  viuham  embar- 
cações de  commercio  a  quem  se  comprasse  alguina  cousa : 
mas,  sem  embargo  d'esta  falta  e  do  pouco  fructo  que  espe- 
tavam, todos  se  ofTorefíiam  a  perder  as  vidas  na  deíesa» 
sem  que  em  alguns  se  desse  a  conhecer  a  mais  leve  sombra 
de  fraqoezs. 

N^esta  extremidade  se  resolveu  o  governador  a  mandar 
pedir  capitulação  a  Cevallos,  para  o  que  lhe  mandou  recado 
por  um  oQicíal,  que  logo  levou  por  escripto  a  Arligas ; 
porém  aquelle  general,  esquecido  das  leis  da  guerra  e  poli- 
tica militar  observada  entre  todas  as  nagões  civilisadas, 
deteve  o  official  quasí  lodo  um  dia  no  seu  campo-,  e  adian- 
tando entretanto  os  seus  aproches,  na  certeia  de  que  da 
praça  lhe  não  haviam  de  embaraçar  o  trabalho  emquanio  lá 
estivesse  o  official  tratando  capitulações ;  e  depois  de  ser 
noite  o  mandou  com  resposta  —  que  depois  que  tivesse 
plantado  todos  os  seus  ataques,  e  antes  qae  rompesse  o 
fogo,  manifestaria  as  ordens  do  seu  soberano ;  mas  que,  se 
da  praça  lhe  fizessem  fogo,  se  veria  precisado  a  repellir  a 
força  com  as  que  tinha. 

Com  esta  cavilosa  resposta  foí  adiantando  as  suas  obras, 
e,  pretendendo  em  uma  noite  surprehender  es  guardas  avan- 
çadas, lançou  duascolumaas  cada  uma  de  seiscentos  ho- 
mens, para  as  atacar  pela  retaguarda  ;  e  sendo  sentidos  se 
tonou  alarma;  da  praça  se  deu  uma  descarga  de  arlilheria  que 
os  fez  retirar,  sem  cons^uir  mais  que  abandonarem  as  nos- 
sas guardas  os  postos  avançados,  retirando-se  sem  perda. 
Suspendeu-se  o  fogo  pelas  razões  JÁ  expressadas  para  ver 
se  assim  se  proseguiam  condições  favoráveis:  entretanto 
1<ri)scguiu   Tovallns   os  sous   ataques.  v,^l«iido-sc  scroprr 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  3S3  — 

pan  os  adiantar  da  occasião  eto  que  sabiam  oa  officiaes  da 
pra$a  ao  campo  com  os  recados,  até  que  finalmente  os 
acabou,  mandando  viate  e  duas  pe(as  de  bater,  quatro 
morteiros  e  seis  pe^as  para  balas  rasas. 

Depois  de  lodo  concluído  mandou  á  praça  um  manifesto, 
em  qu(!  declarava,  que  por  ordem  do  seu  soberano  vinha  a 
castigar  os  iosnltos  commettidos  pelos  portuguezes  no  Riu- 
Grande,  invadíado  e  acommettendo  aquetie  contineníe  de- 
baixo da  boa  pas;  pedindo  oo  mesmo  tempo  se  Ibe  entre- 
gasse a  praga  á  discriçfto ;  pois,  segundo  o  estado  dMla, 
Dão  estava  nos  termos  de  admíttir  capitulação. 

Reclamou  o  governador  novamente  para  ver  se  conseguia 
alguma  vantagem,  mas  inutilmente,  pelo  que  lhe  mandou 
fazer  entrega  da  praça,  promettendo  Cevatlos  usar  da  vi- 
ctoria  com  toda  a  moderação,  e  que,  da  mesma  forma  qiie 
fizera  em  Santa  Catharína,  daria  transporte  aos  officiaes 
para  a  capital,  e  que  o  povo  lograria  em  posse  pacifica 
os  seus  béns;  o  que  ao  depois  muito  mal  cumpriu. 

No  dia  3  de  Junho  se  formou  toda  a  guarnição  desar- 
mada no  meio  da  praça  com  íis  suas  mochillas  ás  costas; 
foram  sahindo  pela  porta  da  campanha  regando  o  caminho 
com  lagrimas,  por  entre  duas  alas  que  formou  a  Iropa 
bespanhola,  desde  a  porta  até  á  praia,  e  alli  os  foram  em- 
barcando para  bordo  de  alguns  navios,  que  tinham  prom- 
ptos  para  isso,  e  os  conduziram  a  Buenos-Ayres,  cujo 
destino  ao  depois  esperamos. 

Logo  que  sahiu  a  guarnição  entrou  na  praça  u  rogimeiílo 
do  Zamora,  que  guaraoceu  as  muralhas,  e  ao  outro  dia 
entraram  mais  alguns  regimentos,  com  o  general  Cevallos, 
que  entre  vivas  e  acclamaçfies  dos  seus  foi  conduzido  á 
igreja  matriz,  aonde  méndou  por  um  frade  seu  capellão 
cantar  missa  e  Te-Dtum,  que  ao  depois  ile  acabado  lhe 
lançou  a  ihave  du  Sarrario  nu  p<?si'i>i;o,  o  se  foi  apnsoiiliir 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  354  — 

nas  casas   de  residência  do  governador,    que  havia  já 
desoccupado. 

Depois  que  Cevallos  se  viu  senhor  da  praça  mandou 
desmontar  toda  a  artilbería  das  muralhas,  e  embarcal-a, 
com  todas  as  munições  que  acbou,  para  Buenos-Ayres  e 
Montevideo,  e  entrou  na  diligencia  de  pór  a  praça  por 
terra,  segundo  o  parecer  que  já  no  anno  de  1762  lhe  davam' 
os  jesuítas,  para  flssim  evitar  que  voltasse  outra  vez  aos 
dominios  de  Portugal.  Para  este  effeito  mandou  abrir  innu- 
moraveis  fornilhos  por  deatro  e  por  fora  das  muralhas, 
occultando  no  entretanto  o  desígnio  de  demolir  os  edifícios 
ftmquanto  não  expedia  os  oHiciacs  portuguezes,  para  que 
não  levassem  esta  noticia  á  nossa  capital.  Em  25  de  Junho 
sahirain  os  oiticiaes  com  as  suas  famílias  e  alguns  parti- 
culares, que  á  força  de  dinheiro  o  alcançaram,  em  quatro 
embarcações,  que  lhes  signatou,  e  no  seguinte  dia  mandou 
Axareditaes,  queseapromptassemlodososportuguezessenn 
excepção  de  pessoa  para  se  transportarem  aBuenos-Ayres. 
Esta  noticia  nos  consternou  summaraeDte  por  conhecer 
o  fím  d'este  transporte,  e  entraram  alguns  a  fazer  suas 
representações,  enfre  todos  com  maior  excesso  os  cléri- 
gos portuguezes  que  na  praça  havia,  os  quaes  esperaram 
a  Cevallos  quando  sabia  do  ouvir  missa  na  capella  da 
Conceição,  estando  rodeado  de  todos  os  seus  oíTiciacs,  e 
lançando-se-lhe  aos  pés  lhe  disseram  que,  por  S.  Kx, 
lhes  nuo  permittir  licença  nem  haver  navios  sullicientes, 
deixaram  de  ir  com  os  ofnciaes,  e  por  haver  segurado  pu- 
blicamente que  todo  o  povo  ficaria  logrando  os  seus  bens  ; 
e  que  agora  se  lhes  ordenava  passagem  a  Buenos-Ayres,  per- 
dendo os  seus  patrimónios,  e  tudo  o  que  possuíam,  e  que  se 
veriam  obrigados  a  mendigar  o  sustento,  servindo  de  carga 
aos  mesmos  povos  para  onde  os  mandasse,  por  serem  pes- 
■  soas  inúteis  para  o  trabalho,  o  que  lhe  podiam  lhos  déssc 


Dictzedby  Google 


—  355  — 

umDaviopara  os  lançar  em  lerra  de  portuguezes  com  as 
suas  familias,  pagando  elles  o  freta  que  lhes  determioasse. 
Respondeu-lbes  Cevallos  que  lhe  parecia  muito  justa  a  sua 
represeatacSo,  que  lhes  empeuhava  a  sua  palavra,  de  os 
mandar  levar  ao  Rio  de  Janeiro.  Ordenou  logo  ao  seu  ma- 
jor general  que  fosse  dar  ordem  ao  navio,  que  os  havia  de 
conduzir;  e  se  viram  obrigados  os  clérigos  depois  de  quatro 
dias  a  tomar  a  fallar  a  Cevallos,  o  qual  no  mesmo  lugar 
em  que  lhes  havia  feito  a  promessa,  eá  vista  dos  seus  mes- 
mos officiaes  de  maior  graduação  que  o  tinham  presencia- 
do, se  retirou  dizendo:  que  lhes  não  dava  embarcação,  que 
se  passassem  a  Buenos-Ayres  e  que  de  lá  os  mandaria  para 
o  Rio  de  Janeiro. 

Esta  falta  de  palavra,  esta  acção  tão  infame  e  indigna  de 
um  homem caracterisado,  causou  tal  pejo  aos  innumeraveis 
olliciaes  que  o  cercavam,  que  todos  puzeram  os  olhos  no 
chão,  não  se  atrevendo  a  levaiilal-os  de  vergonha. 

Foram-se  embarcando  todos  os  portuguezes  com  o  que 
poderam  levar;  e  querendo  muitos  fretar  embarcações  para 
serem  transporlados  á  sua  custa,  prevendo  que  no  trans- 
porte haviam  ser  roubados  (como  succedeu),  poucos  pode- 
ram alcançar  esse  indulto,  e  por  uma  infame  politica  muito 
própria  do  seu  génio  fez  este  general  um  saque  aos  portu- 
guezes, mais  enorme  do  que  faria  seguindo  os  eslylos  da 
guerra :  pois,  mandandonss  embarcar  alropelladamenle, 
deixaram  a  maior  parte  dos  seus  moveis,  e  os  que  leva- 
vam para  os  navios,  eram  logo  roubados  injustamente  pelos 
marinheiros;  e  o  que  d'elles  escapava  servia  de  presa  a  outros 
no  desembarque  em  Buenos-Ayres.  E,  queisando-se  alli 
alguns  de  tal  deshumanidade  ao  sargenlo-mór  da  praçâ,  e 
apanhando-se  dois  marinheiros  com  o  roubo  nas  mãos,  o 
castigo  que  lhes  deu  foi  maudal-os  para  a  armada,  sem 
fazer  restituir  os  furtos.  E,  sendo  este  sarjíento-mórtiiln  por 


Dictzedby  Google 


bomem  bom,  só  nioslroua  sua  bondade  na  cMBpaix&oque 
leve  com  os  seus.  A  este  roubo  dos  particulares  se  segnirsni 
.os  das  justiças,  notificando  a  iodos  os  prisioneiros  para 
irem  apresentar  os  escravos  perante  os  officiaes  reaes, 
que  são  os  ministros  do  erário  real,  para  lhes  imporem  os 
direitos.  Estando  por  lei  estabelecido  pagarem-se  20  pesos 
de  cada  escravo  que  se  vende,  inventaram  uma  nova  lei, 
para«itorquir  direitos  do?  escravos  dos  pobres  prisioneiros 
que  não  intentavam  vendél-os. 

Estavam  Doeste  tribunal,  além  dos  ministros  e  escrivães, 
dois  médicos  para  examinarem  o  escravo  que  se  apresen- 
tava, e  dois  avaliadores,  um  d'elles  avaliava  o  que  o  escravo 
poderia  valer  na  Colónia  [sem  que  elle  nunca  lá  os  tivesse 
comprado  nem  lá  pisasse),  o  outro  avaliava  o  preço  que  por 
elle  dariam  em  Boenos-Ayres ;  e  a  dífFerença  do  preço  da 
Colónia,  ao  que  valia  em  Buenos-A;res,  era  o  dono  do  es- 
cravo obrigado  a  pagar,  que  não  custaria  o  escravo  talvez 
outro  tanto  entre  nós,  e  pagava  de  mais  as  custas  a  todos 
aquelles  indivíduos,  que  não  eram  pequenas,  que  era  o 
mesmo  que  pagar  o  padecente  a  corda  ao  algoz.  E  assim 
se  viam  obrigados  a  desfazer-se  dos  seus  escravos  pelo 
primeiro  dinheiro  que  lhes  oHereciam,  para  pagarem  estes 
iniquQS  direitos. 

Arrecadados  os  direitos,  mandou  o  tenente-rei  governa- 
dor interino,  avisar  aos  prisioneiros  para  serem  extermina- 
dos e  levados  a  diflerentes  paragens  na  fronteira  dos  Índios 
bárbaros,  intentando  formar  com  as  famílias  portuguesas 
algumas  víUas,  que  servissem  de  barreira  ás  suas  povoa- 
ções, e  em  que  se  podesse  levar  a  barbaridade  dos  indios, 
que  com  continuas  erupções  desbastavam  e  abriam  os  luga- 
res de  campanha,  não  perdoando  a  vida  a  hespanhol  algum. 

Com  a  execução  d'este  projecto,  tiveram  o  tenente-rei 
e  outros  muitos  de  Buenos-Ayres  a  occasião  de  metter  a 


Dictzedby  Google 


-  357  — 

-juÃD  QO  mngue  doH  perluguc7.es  que  àind 
tinhAm  logrado :  aquolles  pobres  que  abida  i 
cousa  que  largar,  que  seriam  gídcoou  seis  fan 
rairi  o  degredo,  dando  ao  tenente-rei  duzE 
zeolos  pesos,  couforme  se  ajustavam  com  sus 
em  dinheiro,  outros  entr^ando-lhe  as  joía 
suas  mulheres. 

Na  Praça  Nova  de  S.  PiicoMio  se  ajuotari 
para  a  conducção,  assignalando-se  uma  pan 
com  seus  trastes ;  e  aqui  entraram  também 
campo  3  fazer  o  seu  negocio ;  porque,  como 
se  ^o  podiam  accommoâar  com  os'seus  trasl 
que  lhes  davam,  alugavam  outras  &  sua  cus 
teiros  em  toda  a  «iagem  foram  roubando  i 
Assistiu  o  teaentd>-rei  na  dita  pra<;a  para  e 
relAs;  e  porque  parece  que  estava  famínt( 
satisfeito  com  o  que  lhe  deram  os  que  lictrai 
os  -que  iam  ainda  levavam  alguma  cousa, 
d'um  extraordÍDarío  rigor. 

Entre  outras  cousas  que  alli  succederan 
mente  uma,  por  onde  se  virá  no  conhecími 
nias  que  usou.  Entre  as  mulheres  portug 
se  achavam  para  se  eiicarretarem,  estava  ue 
uai  soldado,  chamado  Manoel  Alves,  com 
h&iigas  nos  braços,  ^uu  eslava  expirando 
twente-tei,  e,  mosltando-se  o  estado  em  q 
lho,  pcdÍU'Uie  coo  mais  lagrimas  quepalavi 
cesse  d^elle,  concedeado-lhe  que  flcasse  para 
Oii  em  outra  conducta,  emquanto  lhe  moi 
o  seu  filho,  que  segundo  se  via  não  durarie 
mas  elle,  q;tais  insensível  que  uom  pedra, 
QOino  um  touro,  e  com  desentoados  gritos 
que  atirasse  com  o  fáho  fora,  e  se  embaroi 
TOMO  XXXI.  P.  1. 


Dictzedby  Google 


E  porque  o  frio  era  eiressivo  eipiroa  o  meniao,  e 
metteram  a  mâi  na  carreta  mais  morta  que  viva,  e  a  fizeram 
sahir  sem  lhe  dar  tempo,  nem  ainda  para  chorar  e  dar-lbe 
os  últimos  ósculos.  Uma  viuva,  qu»  no  mesmo  sitio  lhe 
suppHcou  a  dispensasse  do  desterro,  por  ter  uma  filha 
e  uma  sobrinha  donzellas  sem  homem  algum  que  lhes  ser- 
visse de  abrigo,  respondeu  em  altas,  vozes  na  mesma  praça : 
— que  fosse  para  onde  era  mandada,  que  tâo  viuva  seria  lá 
como  em  Buenos-Ayres ;  que  se  Jesus  Christo  Tosse  por 
tnguez  nio  escaparia  a  ser  desterrado. 

Estava  a  praça  coberta  de  innumeravel  povo  hespanhol 
priocJpalmente  de  mulheres,  que  se  enterneceram  for- 
temente com  este  espectáculo,  e  uma  honrada  senhora,  cha- 
mada D.  Nicolaia  Caberá,  execrando  altamente  tal  cruel- 
dade, tomou  o  menino  morto,  e  o  levdu  para  sua  casa, 
mandaodo-lhe  íazer  ura  .magnifico  enterro  na  igreja  dos 
relígiosc^das  Mercês,  junto  a  cujo  convento  assiste. 

NSo  escaparam  do  desterro  os  mesmos  velhos  e  doentes, 
e,  quando  a  moléstia  era  tal  que  se  não  podiam  arrastar 
(nio  por  compaixão,  mas  talvez  por  pouparem  o  trabalho 
de  09  carregarem  ás  costas  para  os  metterem  nas  carretas), 
ficava  o  marido  doente,  porém  sempre  ia  a  mulher,  como 
succedeu  a  Manoel  Tavares,  mestre  que  foi  da  ribeira,  que 
por  se  «cher  entrevado,  e  mais  morto  que  vivo,  ficou  do 
hospital  ^s  frades  bettemilas,  e  sue  mulher  Custodia  de 
tal  foi  encarretada  para  a  paragem  chamada  Varaõeiro. 

Estas  cousas  quasi  se  fazem  incríveis  que  fossem  execu- 
tadas por  uma  naçSo  cathoHca,  e  que  parece  nada  tem  de 
Mrbara :  porém  eu  alcanço  que  o  fartam  por  duos  razões: 
uma  g^ral,  e  outra  particular.  A.  primeira,  porque  aqui 
todos  os  castelhanos  julgam  aos  portuguazes  cono  animaes 
de  outra  espécie,  e  a  segunda  porque  o  lenente-rei  jul- 
gava 9ue  d'esta  forma  podia  faier  mulhor  o  seu  negocio,  e 


Dictzedby  Google 


—  359  — 

assim  haveria  mais  alguns,  que  lhe  dariam  as  camisas  para 
evadir  o  desterro,  e  de  caminho  faria  obsequio  ao  seu 
general,  accommodando-se-lbe  ao  génio. 

Os  sacerdotes  prisioneiros  correram  a  mesma  fortuna,  í 
excepção  d'um  que  se  resgatou  a  dinheiro :  os  mais  foram 
tratados  sem  differença  do  mais  vil  negro.  Foram  final- 
meale  es  prisioneiros  levados  ou  arrastados :  uns  para  a 
villa  da  Lujan,  onde  pozeram  trinta  e  tantas  famílias,  e 
outros  para  Areco,  Arreifes,  Verdadeiro  Pergaminho,  etc., 
sem  que  a  nenhum  assistissem  com  casa  ou  sustento,  antes 
pelo  contrario  tudo  se  vendk  pelo  maior  preço,  sendo 
para  portugueses  :  e  d' esta  fónna  pretenclia  D.  Pedro 
Cevatlos  povoar  as  fronteiras  com  vassallos  alheios,,  sem 
despeza  do  seu  soberano,  e  mandando  ordem  aos  com- 
mandantes  d'aquellas  paragens  que  lhes  repartissem  terras 
para  edificarem  e  plantarem ;  e,  aho  obstante  ameaçal-os 
que  se  não  cuidassem  em  estahelooer  seriam  lançados  a 
outras  terras  mais  distantes,  todos  a  uma  voz  respondiam, 
que  eram  prisioneiros  e  vassallos  de  Portugal,  e  que 
nenhum  queria  estabelecimento  em  terras  de  Hespanha, 
nem  jurar  vassallagem. 

No  lugar  do  Pet^aminho  julgou  o  commaodante  que 
altí  estava,  que  os  portuguezes  que  lhe  entregavam  eram 
para  seus  escravos,  e  os  pdz  a  trabalhar  e  a  fazer  adobes 
para  ranchos,  que  determinava  vender-lhes  ao  depois,  per- 
sHadido  (assim  como  todos' os  castelhanos  se  persuadem 
com-o  exemplo  succedido  na  guerra  de  1762) que  nenhuma 
família  portugueza  se  restituiria  a  dominios  de  Portugal, 
tanto  por  seacharem  exaustos,  como  porque  nunca  Portugal 
pediria  s  sua  restituição,  e  ainda  que  a  pedisse  faria 
Cevailos  o  que  quizesse,  comprovando  elles  isto  com  tantos 
exemplos,  quantos  apezar  nosso  temos  aqui  experimentado. 

Passados  alguns  tempos  depois  que  os  portuguezes  foram 


Dictzedby  Google 


disiríbuíctos  por  estes  logaras,  como  aio  lioham  meios  com 
quo  n-olles  podessem  subsistir,  entraram  muitos  a  passar-se 
para  fiueaos-Ayres,  uqs  com  líceaça  dada  ou  comprada 
aos  commaodantes,  outros  furtivamente ;  e,  sendo  avisado 
d'isao  o  lenentfl-rey,  passou  ordem  para  serem  presos  todos 
os  que  fossem  achados  na  cidade,  e  leral-os  aos  lugares 
dos  seus  destinos.  E  por  desejar  favorecer  a  um  sai^ooto 
de  milícias,  chamado  Bernardo  Cienfuegos,  lhe  encarregou 
esta  diligencia,  dizendo-lhe  queria  dar  uma  casaca.  8ahiu 
este  fiel  executor,  e  foi  lançando  mão  das  bolças  dos  que 
pôde  agarrar,  e  recolheu  á  prisão  da  Rancharia  perto  de 
vinte  que  ser  nSo  poderam  remir.  Entre  eltes  foi  Fraacisco 
Mathado  Coelho,  a  quem  o  alcaide  de  Lujan  tinha  dado 
licença  por  escrípto  para  tratar  sua  mulher,  que  se  acbsfa 
enferma  e  em  dias  de  parir,  para  a  cidade,  e  apresentando 
a  licença  ao  tenente-rai  lhe  respondei}:  —  que  fosse  parir 
aos  infernos,  e  marchasse  logo  para  o  lugar  que  lhe  fdra 
destinado. 

Na  Rancharia  entraram  logo  a  sahir  alguns,  i)ue  deram  os 
seus  reales^  e  os  mais  foram  éncarretados;  mas  quando  as 
carretas  chegaram  á  Recoleta,  que  está  pouco  mais  de  um 
quarto  de  légua,  já  iam  vazias,  porque  foram  os  pobres 
dando  a  roupa  que  tinham  sobre  si  aes  conductores,  che- 
gando alguns  a  dar  até  q  própria  camisa  por  não  tornarem 
para  as  desdoxas  do  campo. 

Os  soldados  prisioneiros  dê  Santa  Catharina,  e  os  qae 
foram  apanhados  nas  embarcações,  foram  levados  a  Men- 
donça, e  os  da  Colónia  á  cidade  de  Córdova,  e  uns  e  outros 
passaram  innumeraveis  trabalhos,  iniserias  eroubos  pelos 
caminhos,  e  depois  que  chegaram,  porque  nunca  se  lhes 
assistiu  eom  cousa  alguma. 

Os  de  Córdova  estiveram  aquartelados  algum  tempo  ao 
collegio  que  roidosjosuilas,  aonde  porcaridade  lhe  assistia  o 


Dictzedby  Google 


-^  361  — 

governador  com  ração  de  carne,  mas  depois  thes  suspen- 
deu e  os  lançaram  fora ;  a  yendo-se  na  rua  sem  lerem  de 
qoe  se  valer,  se  entoaram  a  alugar  para  o  trabalho  con- 
forme  o  préstimo  de  cada  um,  para  lhes  darem  de  comer  ; 
vendendo  os  mais  d'elles  os  trastes  que  sobre  si  tinham, 
eipoodo-sea  morrer  de  frio  por  não  perecerem  á  fome. 

Estas  e  outras  deshumanidades  com  que  tratam  os  porlu- 
guezes,  as  julgam  os  castelhanos  por  cousa  muito  licita  e 
necessária,  porque,  comojé  disse,  somos  reputados  por 
eUe9,  mais  vis  e  infames  que  os  jadèos  ;  e  qualquer  cousa 
que  lhes  faz  um  portuguez  a  reputam  eomo  um  sacri- 
légio; pois,  chegando  aquia  notioii  que  us  seus  prisionei- 
ros no  Rio  de  Jaaeiro  eram  mal  tratados,  clamavam  con- 
tra o  nosso  ex-TÍce-rei,  dizendo  que,  nem  entreos  bárba- 
ros experimentavam  o  que  se  dizia  lhes  fazia  n'aquelte  ci' 
dade,  vindo-se  tudo  a  reduzir  em  mandal-os  trabalhar 
nas  fortificações  para  ganharem  que  comer,  e  tél-os  reclu- 
sos para  não  darem  exercício  áquellaa  más  artes  que  todos 
professam,  qnaes  são  os  roubos  e  a  borracharia,  e  ae 
péssimas  consequências  que  d*elles  se  seguem,  e  que  pede 
a  boa  politica  que  se  evitem. 

Mas  é  tal  a  preocupação  'd'esta  gente,  que  nunca  discor- 
rem com  acerto  em  matéria  de  portuguezes,  por  se  eonsí- 
derarem  sempre  de  outra  espécie  muito  superior;  e  devendo 
Irstar-Qos  melhor  com  estas  noticias  para  que  oo  Rio  de 
Janeiro  Szessem  o  mestno  com  os  seus,  obraram  o  con- 
trario, tratando-nos  com  incrível  desprezo,  e  lançando-nos 
em  tosto,  não  os  beneãcios,  mas  outros  muitos  males  que 
ddxaram  de  nos  fazer;  de  sorte  que  não  podiaiuos  appa- 
recerem  publico  por  não  dos  apedrejarem. 

Cevallos  usou  comnosco  ie  outro  despique  mais  hon* 
roíso,  por^m  o  mais  infame  eiqjurioso  p^ra  elle,  e  foi: 

Desde  antes  da  guerra  de  1762  até  o  pteseole,  por  hos- 


Dictzedby  Google 


tilísar  os  portugiiezes,  entrou  o  dar  liberdade  t  todos  os 
escravos  que  fugiam  da  Colónia  :  como  isto  era  um  roubo 
maoifesto  que  os  loesmos  castelhanos  não  podiam  descul- 
par, entraram  alguns  aqui  a  persuadir  aos  portugnezes,  que 
requeressem  a  Cevaltos  lhes  mandasse  restituir;  princi- 
palmente depois  que  apparaceu  o  tratado  preliminar  da 
paz,  celebrado  pelas  duas  cartes  em  Outubro  de  1777; 
oom  effeito,  entre  as  muitas  petições  que  se  lhe  lizattm  a 
esse  respeito,  despachou  três  ou  quatro,  que  os  comman- 
dantes  e  justiças  dos  lugares  em  que  se  achassem  os  escra- 
TOS  dessem  lado  o  auxilio  necessário  para  sens  senhores 
os  apprehenderem,  servindo  aquelle  decreto  de  bastante 
despacho. 

Em  virtude  d'esles  despachos,  passaram  alguns  a  Mon- 
tevideo e  ao  arraial  de  S.  Carlos  a  buscar  os  seus  escra- 
vos, pois  se  achavam  por  alli  mais  de  trezentos;  mas  o  com- 
mandantedoarrayal  não  quiz  cumprir  os  despachos,  dando 
conta  sobre  isso,  e  tornaram  a  voltar  com  a  despeza  e  sem 
(ruclo ;  n'esta  cidade,  com  ordem  dos  alcaides  a  quem  se 
apresentaram  os  despachos,  foram  presos  cinco  escravos ; 
e  chegando  ao  mesmo  tempo  os  capitães  dos  navios  que 
haviam  ido  ao  Rio  de  Janeiro,  levar  os  officiaes  portugue- 
ses de  Santa  Catharina,  fabulando  o  que  lhes  pareceu  do 
máo  tratamento  que  davam  alli  aos  seus  prisioneiros ;  desa- 
fogou Cevallos  a  sua  paixão  em  mandar  soltar  os  escravos, 
e  prender  a  Jactntho  de  Almeida,  que  tinha  apanhado  dois 
dos  seus,  e  indo-Ihe  sua  moi  pedir  que  n  soltasse,  pois  não 
tmba  culpa  em  executar  o  despacho  que  S.  Ex.  lhe  linha 
dado,  o  qual  lhe  o  apresentou,  raspondeu-lhe  que  os  por- 
tugnezes eram  uns  velhacos  e  uma  canalho,  que  os  escra- 
vos eram  livres,  que  elle  não  Unha  dado  aquelle  nem  outro 
algum  despacho  semelhante;  e  mandou  pelo  seu  Qfiicial  de 
ordens  que  Ibe  colhesse  os  outros  despachos,  que  tinham  o 


Dictzedby  Google 


—  ;)G3  — 

padre  Joaquim  de  Almeida  e  José  da  Costa  Lima,  ainda 
que  sempre  escaparam  atguus,  o  se  conservam  para  ma- 
moria.  Se  entre  nós  se  vísse  que  um  homflm,  ainda  de  baixa 
condição,  negava  a  sua  fírma,  se  julgaria  sem  davida  por 
um  infame ;  pois  esta  acção  que  acabo  de  referir,  foi  exe- 
cutada pelo  Exm.  Sr.  D.  Pedro  CoTalIos,  vice-rei  e  capi- 
tão-general  da  província  do  Rio  da  Prata,  professo  nas  or- 
dens de  S.  Género  e  S.  Thiago,  cavalleiro  da  chave  dou- 
rada, gentit-homem  com  entrada,  e  general  dos  eiercilos 
de  Sua  Magestade  Catholcia,  etc.,etc.,  finalmente  o  homem 
de  mais  alta  esphera  que  pieou  n^estas  índias. 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


BIOGRAPHIA 

DOS    BRASILEIROS  ILLUSTRER,  POR    ARMAS,    LETRAS,  VIRTUDES, 


HBNRlQllE  DlAí' 


Consagremos  um  nicho  em  nosso  Panlhéon  ao  guer-  . 
reiro  illusirc  que  por  seus  gloriosos  feitos  bera  mereceu  da 
pátria ;  e  que  o'uma  épocn  em  que  as  dilTerenças  das 
cores  e  das  castas  sorvia  de  empecilho  ao  galardão  ;  foi 
ineslro  de  campo,  fidalgo  e  cavalleíro  da  aniiquissima 
ordem  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo. 

Era  Henrique  Diiís  natural  da  província  de  Pernanhuco, 
filho  de  pais  arritanos,  e  mui  provavelmente  escravos. 
Desconhecemos,  purém,  os  preliminares  de  sua  vida,  nem 
chegou  ao  nosso  conhecimento  o  modo  por  que  obtivera  a 
liberdade.  Sua  assignatura,  que  vimos  n'u(na  preciosa  col- 
lecc&o  de  autographos,  e  as  cartas  que  lhe  são  aHrihuidas. 
provam-oos  que  aprendera  a  ler  e  a  escrever  em  sua  pue. 
rlcia,  sem  que  comtudo  se  podesse  aperfeiçoar  em  taes 
matérias. 

Semelhante  a  esses  actores  que  &òsã  mostram  em  scena 
quando  indispensável  se  torna  sua  presença,  de  súbito 
deixando-^  quando  menos  brilhante  se  faz  o  seu  papel, 
assim  Henrique  Dius  apparece  na  hora  aziaga  em  que  a 
fortuna  lusitana  succumbia  aos  reiteratios  golpes  do  po- 
derio batavo,  e  não  se  retira  do  scenario  emquanlo  n3o 
fluctua  novamente  sobre  as  restaurada^  torres  de  Olinda 
o  pendão  de  Aljubfirrola. 

TOBO   XXXI,   i:   I.  47 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  366  — 

Cbegára  aéradel6:)3,  e  para  o  seu  occaso  caminhava  o 
m«z  de  Maio,  quaado  alguns  prelos,  capit  aneados  por  nm 
ÍDlelligeole  crioulo,  dirigiram-se  ao  forte  real  do  Bom- 
Jesus,  e  com  instaocia  pediram  para  fa  liar  coro  Mathias  de 
Albuquerque,  que  abi  commandava.  A' braços  com  as 
difSculdades  da  sua  posiçio,  e  vendo  uma  a  uma  submer- 
girem-se  uo  pélago  da  realidade  as  ultimas  esperanças* 
acolheu  o  general  com  açodamento  a  generosa  offerla  que 
de  suas  vidas  viabam  fazer-lbe  os  que  sob  a  negra  epi- 
derme sentiam  pungir-lhes  patrióticos  brios.  Confirmando 
Henrique  Dias  no  posto  de  cjpilão  em  que  petos  seus 
fora  acciamado,  recommendou-lho  Albuquerque  que  eu. 
corporasse  o  maior  numero  de  soldados  desuacôrque 
isentos  estivessem  do  capliveiro. 

Que,  dando  tal  passo,  só  a  imperiosas  circumslancias 
cederão  general  portu<;ucz,  deprelieade-SQ  das  seguintes 
palavras  de  seu  irmão,  ornais  veridií^o  caronista  d^essa 
guerra  :  ><  Bem  sj  provi  o  apuro  em  que  nus  línba  posto 
a  continuação  do  que  contestávamos,  pel;i  acção  que  um 
prelo  chamado  Henrique  Dias  praticou  n'e5ta  occasião  ; 
e  foi  parecQr-lhe  que  necessitávamos  da  sua  pessoa,  pois 
velu  ofierecel-a  ao  general,  e  esto  acnitou  para  servir 
com  alguns  da  sua  cAr  era  tudo  o  que  lhe  determi- 
nasse. »  (1) 

Por  mais  de  uma  vc^z  devera  reeentir-se  o  negro  cau- 
dilho do  desprezo  que  resumbra  das  ciudas  palavras  do 
donatário  da  capitania;  ao  revés,  porém. de  Calabar,  soube 
esquecel-o,  abncgando-se  em  prol  da  palria. 

Não  tardou  qua  por  seu  denodo  se  assignalasae,  sendo 
um  (los  escolhidos  para  prestar  o  auxilio  quo  ao  tenente- 

(1)  Hemoriat  Diárias  da  Gvara  entre  o  Srasil  e  a  Bollanda,  por 
Daaile  Coelho  de  Albuquerque,  [Wg.  5».         '  ■* 


DictzedbyGoOglC 


—  MT  — 

Gorúnel  Bíoud,  eslacionado  em  ^n&rasaú,  prateodia  pre^ 
taro  geoeral  Segiamundo.  O  rosaltado  d'essa  refrega, 
em  que  ãozeDtos  brasileiros  se  bateram  contra  mil  boi- 

landezes,  Dão  devia  ser  duvidoso  :  poado  em  relevo  a  co* 
ragem  de  muitos  cabos,  em  cujo  numero  expressa  mençSo 
releva  fazer  do  oosso  beróe,  a  qoem  gravemente  feriram 
dois  mosqaelacos. 

A  crescente  reputarão  de  Henrique  Dias  acabou  de  fir- 
mar-se  n'essa  memorovel  acção  de  Porto-Calvo  (2),  pele- 
jada aos  17  e  16  de  Fevereiro  de  1637  :  e  contestes  sSo 
os  ebrooistas  em  tríbutar-lbe  os  maiores  encómios,  coa- 
(essaodo  que  aos  seus  oitenta  soldados  e  aos  índios  de  Ca- 
marão deveu-sc  a  salvação  do  exercito,  votado  aínevitave) 
exlerminio.  N'essa[amos:i  jornada  grangeou  o  crioulo  per- 
nambucano gloria  igual  á  do  romano  Uucio  Scoevola ;  por- 
quanto, havendo-lbe  um  tiro  de  mosquete  ferido  a  mSo 
esquerda,  e  poado-lbe  os  cirurgiões  um  apparelbo  que  ue- 
cessítava  de  longo  repouso,  preferiu  a  amputação  do  bra^o, 
Gomtanto  que  podesse  voWer  ao  combate;  proferindo 
Ji'essa  occssião  heróicas  palavras,  que  não  citamos  por  dti- 
vidar  dasoaauthenticidade  (3). 

A  fama  de  tão  heróica  façanha  transpõz-o  Atlântico,  e  o 
governo  de  Madrid  quiz  riicompensal-oconf^rindo-Uieo 
habito  de  Christo,  e  dando-lbe  o  fdro  de  fidalgo,  que  n'es- 
sas  eras  parecia  mais  estimado  do  que  boje.  A.  estas  graças 
addicionou  mais  tarde  outras  de  que  foi  portador  o  conde 
da  Torre,  D.  Fernando  de.MascariMihas,  de  cujas  mãos  r»- 
cabiiu  Henrique  Dias  a  patente  de  cabo  e  governadpr  dos 

(2)  N'este  Icmpo  tlianiada  villa  do  Dodi  Surcesso. 

[3)  Cada  chronista  refere  por  modo  diverso  eslas  celebres  palavras  ; 
Avideole  prova  de  que  nfiu  são  de  propria  lavia.  Combinam,  poi«m, 
'o(ta>  (10  sculidu qiK' rcutie-iic  oeste  peneumenLu: —que  llie  baslava 
i^ma  màu  |)ari  seivir  ao  seu  lei  c  a  sua  palii  ? 


Dictzedby  Google 


homens  pardos  e  crioalos.com  o  soldo  mensal  de  qoareDta 
crmados. 

Com  a  readlção  de  Porto-Calvo,  effectuada  com  as  mais 
bonrosas  condições  pelo  bravo  Giberton,  termíooa-se  o 
primeiro  acto  do  grande  drama  pernambucano. 

Mallogradaa  resistência  que  pretendia  oppftr  aNassau, 
reliron-se  o  conde  de  Bagnuolo,  qual  Fábio  Canclator, 
buscando  além  do  rio  de  S.  Francisco  seguro  abrigo  onde 
melhor podesse  refocillar  o  exercito. 

Entre  os  capitães  que  lhe  acompanharam  coatava-s« 
Henriqae  Dias,  cortesão  do  inlorlunio  ;  e  nas  duas  pro- 
vanças  por  que  leve  de  passar  no  acampamento  da  Torre  de 
Garcia  d' Ávila,  não  raro  apreciou  as  grandes  prendas  que 
arreiavam  a  alma  do  governador  dos  prftos. 

Habilmente  aproveitando  daforçadainacçãoa  que  se  vira 
condemnado,  amcstnm  sens  soldados  oo  manejo  das  ar- 
mas; ioiciou'OS  na  táctica  earopôa,  SQbmettendo-se  ao 
mesAo  (empo  ao  jugo  dadísclplina,  talismanda  victoria. 

Gnrtos  foram  seus  lazeres.  Haurido,  ambicionando  por 
capitai  do  Brasil  hollandez  a  cidade  do  Salvador,  acom- 
mette-a  com  grande  pujuoça;  e  Telles  da  Silva,  receiando- 
se  da  sorte  de  DTogoiJe  Mendonça,  despe-se  do  néscio  or- 
gulho com  qne  recebera  Bagnnola,  e  cbama-o  em  sen  au- 
xilio cora  08  bravos  guerreiros,  confiando-lbe  o  bastão  do 
mando,  ^'essa  critica  conjunciara  revelon-se  Henrique 
Dias  rival  de  si  mesmo ;  obrou  prodígios  de  valor  concor- 
rendo poderosamente  para  o  desbarato  dos  hollandezes, 
que  escarmentados  regressaram  ao  Recife. 

Desde  o  aono  de  1638,  em  que  se  passaram  os  successos 
que  acabo  de  esboçar,  ate  ao  de  1645,  vemos  sumírem-se 
d(t  scenario  os  herões  pernambucanos  -,  e  o  silencio  da  his- 
toria, que,  como  dizia  Voltaire,  é  a  felicidede  dos  povos, 
faz-nosquasiqneperdero  vestígio  dos  seus  passos.  Quando, 


Dictzedby  Google 


—  369  — 

porém,  o  arcbanjo  da  liberdade  embocou  a  tráa  da  honra 
no  moDte  das  Tabocas  ;  qaaDdo  as  espadas- brasileiras  se 
baptizaram  no  Jordão  da  gloria ;  Vidal,  Vieira  e  Cardoso  se 
lembraram  do  seu  aniigo  companheiro,  e  das  brenhas  de 
Sei^ipe  foi  Henriquo  Dias  chamado  para  sentar-se  no 
ágape  da  iadependeacia.  Pouco  havia  que  do  rei  de  Portugal 
recebôra  o  habito  de  Chrislo,  e  anhelava  por  suspendel-o 
ao  peilo  ;  mas  tanto  n'elle  pôde  o  amor  da  pttiria,  que 
jurou  adiar  esse  jubilo  para  quando  o  solo  brasileiro  cal- 
casse o  pé  do  derradeiro  hollaudez  (^, 

Já  n'oulro  lugar  (5)  admirámos  a  finura  com  que  o  go- 
vernador geral  do  Brasil  íllndiu  o  supremo  conselho  do 
Recife,  obrigado  como  se  via  pela  apparente  paz  que  ealão 
subsistia  entre  Portugal  e  a  Hollanda ;  em  vista,  porém,  de 
um  documento  que  temos  presente  (6),  essa  admiração 

(ú;  Vide  Fr.  J.  de  S.  Theresa.  hl.  deile  GucrR  dei  Brasile.  Pari* 
ll,liv.íl,pag.65 

(5)  Vide  biograpliia  de  Aadré  Vidalde  Ne  greiros  impressa  Ba  Revisla 
Popular  n.  75. 

(6)  Julgamos  aprazerão  leilor  copiando  integralmente  este  curioso 
docnmenlo.que  deparamos  na  preciosa  collecçHo  ora  existente  no  arcbivo 
(Io  Instituto  Histórico  e  Ceographlra  Brasileiro  : 

«  Traslado  de  iim  assento  que  se  tomou  em  presença  do  governador 
d'esle  Estado  do  Brasil  sobre  a  caria  que  escreveu  o  lenenie  de  mestre 
de  campo  general  André  Vidal  de  Negreiros,  em  que  dã  conta  de  ler 
fugido  Henrique  Dias. 

B  Em  os  trinta  e  um  dias  do  mez  de  Março  de  mil  seiscentos  e 
quarenta  e  cinco  n'esl3  cidade  do  Salvador,  Bahia  de  Todos  os  Santos, 
nos  paços  de  Sua  Magestade,  mandou  o  Sr.  governador  e  capilão-geral 
(1'este  Estado  António  Telles  da  Silva  cliRmar  h  sua  presença  os  mes- 
tres de  campo  João  de  \raujo  e  Francisco  nebcllo,  c  os  lenentes  de 
mestre  de  campo  general  Pedro  Corria  da  Gama  do  Sousa,  Domingos 
Delgado  e  Raspar  de  Sousa  Uchfta,  e  o  provedor-mór  da  fazenda  de 
Sua  Magestade,  Sebastião  Parni  de  Ilrilo,  e  o  Dr.  António  da  Silva  e 
Sousa,  ouvidor  geral,  prov?dor-ia')r  dos  defuntos  e  ausentes,  eprocu- 


DictizedbyGoOJ^Ic 


sobe  do  poDlo  e  leTa^aos  a  confessar  que  as  soas  arUiaa- 
□bas  «aleram  mais  à  causa  da  restaaraçao  do  qaa  a  re- 
messa de  om  exercito. 

rador  da  fazenda  c  corua  dVsle  Estado,  e  uodo  todos  assim  juntos  lhes 
mandou  lur  uma  carta  que  bavia  rec«bÍão  do  tcneiile  de  mestre  de 
campo  general  André  Vidal  de  Ne^reiroB  que  está  na  rroateira  do 
Rio  Real,  «n  que  diz  que  em  vinle  e  cioco  d  'este  mei  de  Março,  pelas 
doas  horas  depois  da  meía-noite,  tugiu  Henrique  Dias  d'Bqnella  estan- 
ca cotn  toda  a  gente.e  que  vai  a  trilha  d'ella  na  volta  de  Pernambuco  > 
e  qtie,  como  tinha  a  astrada  provida  com  os  seus  soldados,  não  foi 
sflotido  nem  o  soube  seqio  depois  de  claro  dia,  e  que  antes  de  fugfr 
se  qaeiíára  do  Sr.  governador  por  lhe  não  dar  licença  para  vir  ver  suas 
filhas  e  multo,  que  estavam  morreiMlo,  e  que  nunca[]he  deram  oada  da 
fazenda  real  mais  que  servirem-se  d'elle  como  se  lòra  captivo,  e  que 
a  Beuana  antecedente  o  quizéram  mandar  preso  por  estas  e  outras  li- 
berdades que  dizia;  mas  que  nnoca  lhe  pareceu  que  Uzease  uma  cousa 
tio  mal  feita,  mas  que  como  negro  que  era  merecia  um  grande  cas* 
tigo  para  exemplo  dos  mais ;  que  logo  mandara  o  Camarâo  trás  elle 
com  seus  indtoe  para  qie  o  tragam  preso  e  a  bom  recado,  ainda  que 
custara  algumas  mortes  de  uma  e  outra  parle  :  que  considerassem  os 
ditos  ministros  o  que  lhe  parecia  se  devia  fazer  no  caso  e  lhe  dessem 
seus  {lareceres.  E  vistas  dita  carta  e  considerado  o  caso  votaram  cada 
um  o  que  lhe  .pareceu,  e  concordaram  que  o  tenente  de  mestre  de 
campo  general  André  Vidal  tinha  feito  o  que  ii'aquella  flagrante  se 
podia  fazer,  e  que,  posto  que  ocasoera  feio  e  merecedor  de  gi^  cas* 
tigo  se  o  prendessem,  por  ora  se  não  podia  mandar  mais  gente  em 
seu  seguimento,  porque,  se  Unha  animo  damnado  em  se  passar  aos 
hollandezes,  játlnba  tempo  de  estar  do  rio  de  S.  Francisco  para  Per- 
nambuco de  vinte  e  cinco  d'e8teaté  agora  que  cá  chegou  o  aviso,  e 
em  tomar  lá  estaria  mais  ktnge ;  que  se  o  ptenderem  entiio  se  tratará 
do  castigo  que  mersce,  e  quando  o  nSo  prendam  e  de  certo  se  saiba 
que  foi  para  os  hollandezes  que  vai  levanudo,  ou  se  passou  a  Per- 
nambuco a  roubar  e  fazer  outros  maleficios,  será  bom  avisar  aos  mes' 
mos  hollandezes  que  vai  levantado  e  fugido,  para  que  se  o  poderem 
prender  o  castigarem  como  l;il. 

n b  u  Sr.  governador  se  confoimou  com  u  metiiiio  jHifce r  e  icsolvcu 
r|uc  assim  fi  liiesse,  e  nianjuu  d'isso  fazer  <:t,le  assento,  que  as- 
BiSnou  e  os  diloi  ministros,  Ecu  Gunçalu  l'into  de  Freitas  escrivão  da 


Dictzedby  Google 


—  S7Í  — 

Sfa  por  certo  muito  hábil  a  politica  qoe  fazia  rocahir 
sobre  o  fidelissimo  Henrique  Dias  a  pecha  de  desertor, 
mandando  em  seu  encalço  esse  mesmo  Camarão,  seircol- 
la^o  nas  proezas  do  arraial  do  Bom-Jesu3  e  na  porfiada  pe- 
leja de  Porto-Calvo!  E  nole-se  que  era  Vidal  de  Negreiros,  o 
protogOQista  da  insurreição,  que  denunciava  o  goremador 
dos  pretos,  e  que  ingenuamente  confessava  não  esperar 
d'eUe  acto  de  (ão  feia  traição  I 

Quem  não  vâ  que  era  tudo  isto  uma  farça  combinada 
entre  D.  João  IV  e  Telles  da  Silva  para  adormecerem  os 
Estados  tieraes  das  Províncias  Unidas,  perante  as  quaes 
não  cessava  Fraucísco  de  Sousa  C  outinho  de  protestar  a 
fidelidade  de  seu  amo  á  tregoa  entre  os  dois  povos  con- 
certada ?  I 

Sorpreudido  pi}|a  súbita  invasão  dos  caudilhos  Camarão 
eDias.qneixava-se  o  supremo  conselho  do  Recife  ao  go. 
vero  ador  geral  da  Bahia  da  flagrante  violação  dos  traltdos, 
e  pedia -lhe  que  os  fízesse  retirar  aos  seus  domínios,  pu- 
niodo-os  severamMte  pela  sua  rebeldia  (7). 

bzenda  de  Sua  Mageslade  o  escrevi.  —  António  Tdlei  da  Stlca.— JoOo 
de  Araújo. — Francisco  Rebello.—Viiie  Corrêa  da  Gama.— António  de 
Frnlat  da  Stíva.  —  JoOo  Rodrigues  de  Sousa-  —  Donitngoi  Legado 
Atiuias.--Gaspar  dt  Sousa  Vehóa.—Stbaêiião  Pami  de  Brito. —António 
da  Sibia  e  Sousa.— O  qaal  assento  eu  Gtnt^lu  Piato  de  Freitas .escrívSc 
(Ia  bzenda  d'el-rei  nssso  senhor  d'este  Estado  do  Brasil,  Bz  trasladar 
do  próprio  que  fica  eoi  meu  poder  no  caderno  dos  assentos  das  juntas 
e  conselhos  a  qoe  me  reportÃ.com  que  os  te  traslado  concertei.e  o  sub. 
creti  e  assigoei  na  Bahia  em  primeiro  de  Abril  de  16ã5.  —  Gotiçalo 
Pinto  dt  FreiUa.  * 
0)  Eis  como  se  expressavam  os  deleKados  do  goverro  liollandez: 
n  Com  quinta  pontualidade  ns  paíes  confirmadas  entre  o  serenís- 
simo r«i  de  Portugal  D.  Jo9o  IV  e  os  mui  poderosos  senhores,  os  Es- 
tadoe^raefi  das  proviflcías^  unidas,  que  os  moradores  d'cslas  capita- 
tím  con^tiram  em  tudo  e  em  cada  um  dos  artigos  d'ellas,  consta 


Dictzedby  Google 


Não  fraqoeoQ  T«lle3  (]ãí>ilT.i  ao  peso  dos  argum  entos ; 
(^pôz  o  sí^bisma  á  evidencia,  allegou  sua  completa  igno- 

pelas  Carias e  embaixadores  da  buacori-espODdeDCíaa  V.  Ei.  enviados, 
e  o  devem  tcstesmunhar  (olIos  os  que  da  Bailia  e  outras  parles  vie- 
ram a  eslas  capitanias,  pelo  raeuos  alo  se  scbarã  quem  mostre  sombra 
de  alguma  (alia.  O  mesmo  sempre  se  esperou  de  Sua  Magestade  e  de 
V.  El.  e  Dunca  se  pôde  receiar  que  da  sua  parle  se  permittisse  que 
seus  vassailos  fizessem,  ou  intentassem  cousa  que  fosse  coDlra  coo- 
tratos  tão  íormaes  como  aquelles  que,  ainda  que  alguns  porluguezes 
vassailos  dos  ilitos  mui  poderosos  senhores,  quebrando  sua  fídelídadc 
jurada,  inienlaritni  uma  ooajurai,'ão  publica  e  tomaram  armas  contra 
este  Estado,,  tanto  que  veiu  &  sua  noticia  que  o  Camarão  e  Henrique 
Dias  com  seus  iiiiiios  e  negros,  em  companhia  de  outros  pDrtugueies> 
chegaram  da  Bahia  a  estas  capitanias  de  paocada,  sem  licença  e  sem 
a  pedir,  contra  o  direito  publico  e  gerul ;  e  ajuntando  suas  tropas  e 
armas  com  as  dos  levantados  movem  e  fazem  uma  guerra,  mais  como 
deshutaanos,  ladríies  e  piratas, que  como  os  soldados  usam  na  Europa; 
n3o  podemos  presumir  que  esta  gente  devera  por  oídem,  ou  permissão 
de  Sm  Mageslade,  ou  de  V.  Ex.,  conda  seus  federados  laes  actos  in- 
lenlaram  ;  e  graças  a  Deus  não  nos  lalta  ordem,  nem  forças  bastantes, 
com  obrigar  a  estes  amotinados,  qne  se  qSo  saiun  da  sua  devida  obe- 
diência e  obrigação,  e  para  fazer  despezas  os  de  fora  com  total  ruina 
sua  ;  comtudo,  para  que  lodo  o  mundo  saiba  quanio  foi  e  ainda  é  o 
nosso  desejo  de  viver  com  Ioda  a  paz  e  quietação  com  Sua  Uagestade  e 
seus  vassailos ;  assim  como  nossos  superiores  nos  eBcommendam,  c 
para  tirar  as  suspeitas  que  os  reis  príncipes  e  potentados  por  s 
chagada  d'esta  gente  poderSo  presumir,  e  qiie  constasse  a  des- 
culpa de  Sua  Magestade  e  de  V.  Zx.,  e  se  provasse  que  não  tem 
dado  origem  a  esta  conjuração,  nem  a  sustenta,  «ovj^os  em 
nome  dos  Estados  Geracs,  Sua  Alteza  o  jirincipe  de  Orange,  e  os  ou- 
tros senhores  da  oulhorgdda  companhia  das  Índias  occidentaes  com 
mandado  e  ordem  plenária  a  declarar  a  V.  Ex.  todos  os  artigos  alle- 
gados,  epedir  aV.  El.  seja  servido  que  logo  cora  a  chegada  d*estes 
nossos  deputados,  por  públicos  edílaes,  ou  outras  d«n o nslra^s  cons. 
Irangenles,  mandt  ao  dilo  Camarão,  Henrique  Dias  e  outra  qualquer 
cibega  que  estivei'  n'eslas  capilanias  se  recolham  logo  com  Iodas  suas 
tropas  e  gente  de  guerra,  e  sejam  castigados  cOm  todo  o  rigor,  e  não 
obedecendo  sejam  elles  todos  e  cada  um  d'elles  derlarados  por  ioiff- 


Dictzedby  Google 


—  -òTò  — 

i-aíicia  tias  U'aiaas  urdidas  pelos  pernambucanus ;  mostrou- 
se  reseatido  que  de  menos  leal  o  suspeitassem  c  refe- 
riudo-Sd  á  deserção  de  Henrique  Dias  touou  au  so  Jime 
da  duplicidade  I  (8) 

No  seu  longo  officio  a  el-rei  D.  João  IV,  datado  da  Bahia 
aos  19  de  Julho  de  16&5,  expõz  miudameale  os  factos  que 
apahamos  de  narrar ;  e  sem  rebuço  confessou  que  maadàra 
Soares  Moreuoe  Vidal  de  Negreiros  auxiliaros  sublevados  de 
Pernambuco,  desculpaudo-se,  porém,  como  voto  da  maio- 
ria da  juota  que  adrede  cóavocára  (9).  Assim  era  preciso; 

gos  de  Sua  Magestade,  porquanto  nSo  achamos  oulra  via  por  oude  os 
muito  poderosos  aeuhores  Sua  Alteza  e  os  outros  Beobores  d'ests  il- 
iDsIre  companhia  se  dC  a  satisl^ação  que  esperamos  de  V.  Ex.  De 
V.' El.,  muito  alTeiçoados  amigos.  —  Henric  Mamei.  ~  Airianvaii 
BaUtstrade.—  Pieler  Dansen  Ban.  —  Recife,  a  sele  de  Julbo  de  1645 
aonos.  Por  ordem  dos  mui  nobres  senhores  dosuprenH)  o  secreto 
conselho.  —  D.  van  Walbeeco.  (Docoraentos  coUigidos  nos  archivos 
húllaudezes  pelo  Sr.  Dr.  J.  C.  da  Silva,  tomo  Vlll.) 

(8)  Eis  o  trecho  da  carta  a  que  alludimos  : 

a eu  quiz  mostrar  na  rtpcliçíio  d'eElas  particularidades  que  esta 

salisfãção  que  privadamente  dou  a  W.  85.  de  meu  oatural  afTecto  e 
obrigação  d' este  lugar.e  para  que  VV.  SS.  lenham  verdadeira  noticiada 
absencia  de  Henrique  Dias,  elle  se  passou  uma  noite  do  porto  do 
Itio  Real.  d'onde  estava  a  parte  de  W.  ss.,  e  mandou-se  em 
seu  alcance  ao  capitào-mór  dos  índios  D.  António  Philippe  Cams- 
T&o,  veodoeu  que  tardavam  ambos,havendo  sido  imaginaçSo  de  todos 
iria  dar  oa  povoaçíko  e  mocambo  dos  Palmares  do  rio  de  S.  Francisco, 
mandei  em  seu  seguimento,  por  nio  parecer  que  alteraria<  o  socego  da 
paz  com  mctter  na  campanha  tropas  de  infantaria,  dois  religiosos  da 
companhia  de  Jesus  a  reduzil-os,  e  nenhum  lhes  quiz  obedecer,  ou 
por  estarem  temerosos  do  castigo,  ou  já  infeccionados  do  intento  do^ 
moradores  d'essa  capitania  [segundo  aflora  collijo),e  d'elleg  nSo  tive 
mais  noticias  que  as  que  VV.  SS,  se  serviram  mandar-me.*  (Doe.  Iiol- 
landezlomo  VIU.) 

(9)  .  ■ .  ■  E  considerando -«s  eu  [as  razões  allegados),  vendo-me  ven. 
eido  nos  votos,  eque  pareceria  que  obedecendo  ao  exaclo  cimiprí- 

lOHO  x&Xl,  P-  1  48 


DictizedbyGoOJ^Ic 
á 


—  374  — 

não  sabendo  ainda  de  quo  aaimo  estaria  a  cõrle  de  Lisboa, 
campria-lbedeiíar  uma  avenida  por  onde  jiodesse  sahir. 
convencido  de  que  nuUase  faz  a  responsabilidade  dividida. 
Que  bem  avisado  andara,  mostrou-lhe  o  ulterior  resulta- 
do; e  conhecido  o  seu  tacto  diplomático  foi  conservado  na 
Babia  por  lodo  o  tempo  que  sua  preson(;a  ahi  fei-se  ne- 


Insistindo  sobre  este  tópico,  levamos  em  mente  provar 
que  a  insurreição  de  13  de  Junlio  de  164^  não  tivera  o 
cunho  de  espontaneidade  ebwlamento  que  se  lhe  tem  que- 
rido attribuir;  e  mais  que  tudo  arredar  de  sobre  o  heróico 
Tullo  de  Henrique  Dias  a  nódoa  de  traição,  que  uma  má 
intelligencia  dos  documentos  possa  nm  dia  arremessar-lhe. 
Urgido  pelas  circumstancias,  escondeu  por  um  instante 
asgarras  do  leão  debaixo  da  pelle  da  raposa,  e,  imitando 
A^eâíláo,  leve  sempre  horror  da  ac(9o  de  Pausanias. 

Uas  prosigamos  em  nossa  interrompida  narrativa. 

Acudindo  ao  brado  da  honra,  deixou  Henrique  Dias  as 


mento  das  capilulaçOes  faltava  á  obrigarão  de  ampnrar  os  vassallosdp. 
Vossa  Magestade.maiormente  quando  o  inlento  uno  era  fazer  bostílidade 
alguma  aos  ht^ndezes  senão  livrar  aos  nossos  por  meio  puramente 
defensivo  da  oppressão  publica  em  que  ftcavam,  e  recoucílial-os  com  os 
bollandeies,  preaentindo  lambem  que  se  enxergavam  algumas  de- 
monstrações de  que  se  eu  duvidasse  de  mandar  esle  soccorro  se  oc- 
casionaTia  n'eBla  praça  ouUv  movimenlo  peior  do  que  o  presente,  por 
ser  a  maior  parte  doi  soldados  d'esle  eiercHo  e  moradores  d'esla  ci- 
dade naturaei  de  Pernambuco,  e  retirados  de  todas  aquellas  capitanias, 
me  pareceu  tomar  por  resolução  evitar  o  excesso  qne  se  receiava  com 
mandar  remediar  o  euccedido;  que  supposto  que  se  pudera  reprimir 
por  meio,  levepor  mais  acertado  o  de  condescender  com  a  supplica 
dos  dilos  portugueie»  e  accordo  geral  de  lodo  o  conselho,  e  enviar  o 
dito  soccorro;  pois  que  com  etie  stdivertia  mais  suavemente  qualquer 
desordem  e  apaziguava  todo  o  tumulto  n'aquella.  ■  t[>oc.  hoUandei, 
loco  cíl.) 


Dictzedby  Google 


—  375  — 

ribas  do  Rio  Real,  e  vadeando  o.  de  S.  Francisco  foi  rea- 
nir-s&aos  valentes  campeões  da  cansa  nacional.  De  qnanto 
auiilio  lhe  f6ra  elle  e  do  quanto  se  receiavam  os  hollan- 
dezes  das  suas  correrias,  coUíge-se  dos  documentos  que 
temos  k  vista,  e  em  um  dos  qaaes  confessa  o  conselheiro 
Balthasar  Vao  de  Voorde  aos  Estados-Geraes  a  absoluta 
inferioridade  dos  seus  compatriotas  n'am  género  de  guerra 
por  elles  desconhecido  (10) . 

Depois  da'  gloriosa  acção  do  monte  das  Trocas  anhela- 
vamos  independentes  por  se  encontrarem  comos  hollande- 
zes,  e  razerem-lhes  novamente  sentir,  de  quSo  fina  tempera 
eram  soas  espadas,  equãocerteiros  os  seus  mosquetes.  A  l6 
de  Agosto  do  mesmo  memorável  anno  de  1645  travon-se  fe- 
rida peleja  no  engenho  denominado  Casa-Forte,  entre  as 
tropas  ao  mando  do  major  Blaar  e  as  commandadas  por 
J.  Fernandes  Vieira.  Já  algures  (11}  commemoràmosabi- 
zarria  com  que  abi  se  comportara  um  nosso  iltustre  com- 
patriota, cabendo-nos  aqui  nSo  menos  satisfação  em  men- 
cionar o  valor  com  que  o  mestre  de  campo  Henrique  Dias 
acommettêra  o  inimigo,  fazendo  pender  para  o  nosso  lado 
a  victoríB,  que  incerta  parecia.  Não  se  aoimam  a  negar  os 

tiO)  I — &  lacUca  dos  insQi^nlea  consiste  em  enviar  aqui  e  acolá 
alguns  destacamentos  de  tropas,  espalhando  falsos  boatos,  pertur- 
iKfndo  u  socego  publico  c  fatigando  sem  cessar  nossas  tropas  com  con- 
tínuas marchase  coatramarchas,princípalnientenas  estações  pluviosas, 
NSo  ousando  esperar-nos  em  campo  raso,  e  sendo-nos  impossível  man- 
dar partidas  paia  reconhecer  sua  poslçfio  e  forçal-os  a  deiíar-nos  o 
campo  livre  com  o  justo  lemor  de  cahinnoB  em  alguma  emboscada 
sendo  esmagados  pelo  umoero,  o  que  sobremodo  -  animal^»>ia, 
estando  como  estão  bem  armados ;  ao  passo  que  o  nosso  exercito  acba- 
se  enfraquecido  tendo  perdido  muita  genie,  e  d3o  podendo  sabir  a 
campo,v(ir-nos-ltemos  na  dura  necessidade  de  detxál-o  franco  ao  iní- 
mígo,recolhendo-nos  a  nossas  praças  fortes.»  (Doe.  boHaodez,  tomo  III.) 

til)  Vide  Biographia  de  A.  Vidal  de  Negreiros. 


D,:„l,;cdtvG00J^lc 


—  3T6  — 

próprios  encomiastas  do  feliz  madeirense  que  sem  o  de- 
nodo do  cbefe  preto  diverso  seria  o  osílo  do  combate. 

Em  Pernambuco  não  descansavam  as  armas ;  mal  se 
bavia  terminado  uma  empresa,  que  era  logo  outra  execu- 
tada. 

Com  o  propósito  de  buscar  abastecimentos  para  o  exer- 
cito, haviam  Vidal  e  Vieira  abalado  do  novo  arraiaT  do 
Bom  Jesus  para  Nazareth,  commettendo  o  mando  ao  mes- 
tre de  campo  Martim  Soares  Moreno.  Informado  oinimigo, 
fez  sablr  do  Recife  um  troço  de  artilheria  e  de  gastadores 
com  armas  e  aprestos  necessários  para  erguerem  um  redu- 
cto  ealre  as  nossas  fortalezas  dos  Afifados  e  Cinco  Pontas, 
Esqneciam-se,  porém,  que  abi  estanciava  Henrique  Dias, 
que,  apenas  sciente  das  intenções  dos  hotlandezes,  dividiu 
a  sua  gente  em  três  partidas  para  que  por  varias  partes 
investissem  sobre  os  terços  bollandezes-  «  O  não  saber  o 
flamengo  (diz  um  cbronÍsta)a  que  parte  havia  de  fazer 
rosto  com  o  desatino  da  vizinhança  e  do  repente,  fez  a 
industria  t9o  bem  sortida  que  brevemente  viu  descompos- 
tos os  soldados  com  balas  e  os  gastadores  com  o  estrondo : 
de  sorte  que  uns  e  outros  ameaçaram  a  deixar  o  campo, 
que  de  todo  lhes  fez  largar  a  segunda  carga,  fugindo  da 
terceira parao  abrigo  das  suas  fortalezas,  as  quaes  despe- 
diram de  si  am  chuveiro  de  batas,  de  que  os  nossos  se 
livraram  com  virar  as  costas  ao  perigo,  satisfeitos  de  con- 
seguirem o  intento  e  de  levarem  comsigo  a  maior  parte 
dos  instromentos  que  o  inimigo  trouxera  para  a  fabri- 
ca. *  (13) 

Planejada  perigosa  empresa,  certo  era  de  achar-se  ii'ella 
envolto  o  nome  de  Henrique  Dias :  assim,  quando  em  No- 
vembro de  1647  julgou-se  conveniente  atacar  os  hollande- 

(13)  Castrioto  Liístíano,  livro  [\  íj  \1\. 


Dictzedby  Google 


—  377  — 

zes^Qsaa  forte  posição  do  Rio-Graade  do  Norle,  foi  elle 
para  atii  mandado  com  o  seu  regimento',  engrossado  com 
algumas  companhias  dos  Índios  de  Camarão;  dando  no 
coneco  dú  aano  seguinte  principio  ás  suas  operações  por 
metter  a  sacco  e  passar  a  fio  de  espada  ludo  quanto  Ibe 
oppuaba  resistência.  No  sitio  denominado  tiuarairas,  onde 
o  iaimigo  se  havia  entrincheirado,  favorecido  pela  óptima 
posição  topograptiica,  ostentou  coragem  e  perícia  dignas 
da  iitvoja  dos  mais  esforçados  capitães  de  qne  resa  a  bísto- 
ria.  Instigados  pelo  seu  nobre  exemplo,  !^rojaram-se  os 
scddados  ás  aguas  do  lago  que  moldurava  a  fortaleza,  e 
mergulhados  até  á  cintura  escalaram-n'a  á  pooia  de  baio- 
neta. Absorto  o  commandante  hollandez  diante  de  tanto 
desapego  ás  vid^,  buscou  salvar  a  sua  e  a  de  cinco  com- 
panheiros, entregando-se  n'um  frágil  balei  a  merco  das 
vagas,  e  tomando  por  piloto  o  destino. 

Emquanto  ao  sal  do  equador  Ião  rijamente  se  batiam 
as  duas  parcialidades,  guardavam  as  respectivas  metró- 
poles quasi  que  completa  abstenção,  perdidas  no  intrinca- 
do tabyrintho  da  politica  eurapéa.  Arcando  com  o  colossal 
poder  da  Hespantia,  lemia-se  Vortugai  de  distrahir  suas 
forças-,  6,  constando-lhe  que  no  congresso  de  Muuster  se 
procuravam  congraçar  as  rrovincias-Unidas  com  sua  an- 
tiga oppressora,  receíava  que  juntas  quizesscm  desaggra- 
var-se  das  offensas  que  d'elle  tivessem.  Parece  que  infun- 
dados. nSo  eram  seus  temores,  e  que,  sem  a  guerra  que  de 
aubito  surgiu  entre  a  Uollanda  e  a  Inglaterra,  felizmente 
coajurada  pela  prudência  do  celebre  João  Wtt,  mas  que 
alquebrado  deixou  o  poderio  batavo,  iriam  as  armadas 
hollandezas  pedir  em  Lisboa  a  explicação  dos  enigmas 
diplomáticos  que  em  Haya  propunham  os  TristSes  de  Men- 
donça, Franciscos  CoiUnhos  e  Luizes  da  Cunha.  Houve 
mesmo  um  momento  em  que  nos  conselhos  de  D.  JoSo  IV 


Dictzedby  Google 


—  378  — 

despoDtoQ  o  pensamento  de  fazer-se  coinp)eU  cessão  das 
proTÍDcias  brasileiras  em  troca  da  allíança  com  a  poderosa 
raioba  de  Zuyderzée,  que  aos  successores  dos  Gam»,  Ca- 
braes  e  Albuqoerqnes  arrebalàra  o  sceptro  dos  mares  (iS). 
E  quem  sabe  qual  seria  o  nosso  destino  sem  o  esforçado 
animo  dos  chefes  pernambucanos  f  \ 

Em  continuas  escaramuças  gastava-se  o  tempo  e  pro- 
longaya-se  ama  situação  por  sua  natureza  iniolerarel:  de 
ambos  os  lados  almejava-se  por  um  golpe  decisivo.  Conhe- 
cia o  mestre  dat^ampo  general  Francisco  Barreto  de  Mene- 
zes, que  de  novo  chegara  para  tomar  o  commando  do 
exercito  pernambucano,  a  necessidade  de  obrar  alguma 
façanha  que  alentasse  o  animo  dos  seus,  lançando  o  terror 
sobre  o  dos  contrários. 

Para  esse  ãm  assentou  em  occupar  a  espécie  de  íslhmo 
que  fica  entre  o  Recife,  os  montes  Guararapes  e  os  alaga- 
dos do  mar,  cortando  d'este  modo  ao  inimigo  a  commu- 
Dicação  com  o  interior  do  paiz.  Com  facilidade  logrou  o  sen 
intento,  achando-se  desprevenidos  os  hollandezes-.  Tor- 
nados, porém,  a  si  do  primeiro  sossobro,  recobraram  estes 
o  forte  da  Barreia,  confiado  a  Bartholomeu  Soares  da  Ca- 
nha, e  na  manhã  do  dia  19  de  Abril  do  anno  de  1648 
marcharam,  em  numero  de  quatro  mil  e  tantos  homens, 
ao  mando  do  valente  generaLSegismundo  Van  Scbop,  em 

(13)  Vejamos  como  d'esta  resolu(jio  dá  coala  um  illuifrado  liisto- 
ridor : 

«  ...  e  de  sorte  cresi?ia  em  el-ref  e  seus  ministros  o  embaraçb,  qaf 
por  vezes  esteve  resoluto  largar -se  Pemambucoat»  tiollaDdezes.poirfe- 
raDdo-se  qa»  nSo  podia  Portugal  sustentar  a  gaerrs  contift  dois  ídídií- 
gos  Ião  poderosos  como  os  castellianos  e  hollandezes,  e  com  esta  am- 
missão  pas<<  ou  áHotlanda  o  ladre  António  Vieira.  Porém  océo,  olhando 
como  sua  para  esta  causa,  deu  mais  favorável  sentença  para  este 
reino.  »  (Conde  de  Ericein.  Porltujat  Restaurado,  tomo  11,  parte  I., 
livro  .\,  pag.  313.) 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


direcciõ  ao  cabo  âe  Santo  Agostinho,  oode  eaQeravam 
eacoDlrar  o  exercito  iadependenle. 

Coutieceado  a  marcha  qae  tomaria  •  inimigo,  aguardou-o 
Barreto  nos  das^adeiros  dos  Guararapes,  onde  esperava, 
como  oatr'ora  Leouídas  nas  Thermopylas,  sofrear  o  orgu- 
lho dos  audazes  invasores.  Coube  ao  capitão  António  Dias 
Cardoso  a  gloria  de  altronlar  o  primeiro  impeto  do  ioimi- 
go,  que,  cheio  de  confiança,  arrojou-se  no  meio  dos  regi- 
mentos brasileiros.  Em  Ires  columoas  havia  Barreto  divi- 
dido o  seu  exercito,  forte  de  ires  mi)  e  tantos  homens,  con- 
flando  a  da  direita  a  Vidal  de  Negreiros,  lendo  por  auxiliar 
Camarão;  a  da  esquerda  a  Vieira,  a  quem  Henrique  Dias  ' 
servia  de  segundo;  e  reservando  para  si  a  do  centro,  ser- 
vindo-lbe  Cardoso  dé  inimediato.  A  pouca  cavallaría  ora 
capitaneada  por  António  da  Silva. 

SenRores  do  terreao,  onde  com  toda  a  aniicipaçSo  se 
haviam  forUãcado,  resistiram  os  brasileiros  ás  repetidas 
cargas  dos  terços  bollandezes,  que  quiçá  Geariam  victorío- 
sos,  sem  a  repugnância  que  mostraram  alguns  soldados  en 
combater  por  falta  de  pagamento  de  seus  soldos,  chegando 
mesmo  a  largarem  vergonhosamente  as  armas !  (14). 

Feia  nossa  parle  tivemos  lambem  que  lamentar^alguma 
desordem  no  começo  da  acção,  proveniente  do  afan  com 
que  os  negros  e  indios  lançaram-se  sobre  os  despojos  dos 
inimigos  mortos-,  devendo-se  a  esta  circumstancia  a  perda 
da  arlilbería,  que  bem  funesta  nos  poderia  ser. 

Ot)ríga-nos  o  amor  da  verdade  a  não  omitlir  eata  parti- 

(líi)  o  coroDel  van  der  Brande,  comOMnicando  aos  Eslados-Geraes 
os  pormeoores  d'es(a  batalha,  serve-se  d'estas   lexluaes  expressítes  : 

■  Em  geral  os  ofDciaes  se  bateram  maravilbosamente,  porém  os 
soldados  coraporlaram-se  como  uma  matilha  do  cães  tímidos ;  o  que 
de  tal  modo  caosternou-me  que  o3o  posso  eocoutral-os  sem  desviar  o 
rosto  com  vergonha. . .  »  (IKrc,  hollandez,  tomo  IV.; 


D,:,,i,;cdtv  Google 


cubriíiade,  na  qual  po<lerá  alguém  enxergar  alguma  cen- 
sura ao  nosso  hi?ròe-  Releva,  porém,  que  nos  lembremos 
que  conimandava  elFe  tropas  irregulares,  costumadas  âs 
depredações  da  guerra  sui  generis  que  âotão  se  fazia  em 
Pernambuco,  e  que  carecia  da  força  moral,  que  só  dá  a 
disciplina,  para  conter  seus  subordinados.  Mas  ningoem 
lhe  contestará  qoe  n'essa  celebre  jornada  praticou  rasgos 
de  raro  valor,  e  que  pelo  exemplo,  mais  do  que  por  pala- 
vras, conseguiu  levar  ao  combate  os  soldados,  que  sò  de 
saquear  curavam. 

Apezar  das  graves  perdas  experimeoladas  no  dia  19  de 
Abril  (13)  e  confessadas  pelo  próprio  Segismundo,  não  foi 
bastante  decisivo  o  eiito  d'esta  batalba;  por  quanto  fica- 
ram os  holiandezes  senhores  do  campo,  ainda  que  tivessem 
d'elle  retirar-se  durante  a  noite. 

Nenbum  peso  damos  ao  calculo  dos  nossos  chronislas, 
que  contam  por  milbares  o  numero  dos  mortos  e  feridos 
do  exercito  contrario,  antepondo-lhes  de  boamenteaasser- 
rlto  dos  documentos  oITiciaes  remettidos  ao  governo  h<ri- 
landez,  que  orçam  cm 5,150  onumcro  dos  morloseSãSos 
feridos.  Quanto  ks  nossas  perdas,  nenhum  dado  temos  para 
estimal-«8. 

Bastante  cortados  do  ferro  pernambucano,  sabíram  com- 
tudo  os  holiandezes  a  campo  nos  dias  21  de  Maio  e  18  de 
Agosto  d'esse  mesmo  anno,  sendo  sempre  recebidos  pelos 
nossos  com  seu  proverbial  valor,  e  assignalando-se  sem- 
pre n'ess%s  recontros  Henrique  Dias,  desejoso  de  lavar  a 
vergonha  passageira  dos  seus  no  sangue  dos  contrários. 

O  dia,  porém,  em  que  o  valente  cabo  dos  pretos  devera 
sobre  todos  assigaalar-se  estava  bem  prosimo;  e  a  aurora 

(15)  Preferimos  esta  data :  posto  que  oas  partJcipaçQea  hollandeias 
figure  sempre  a  de  20  de  Abril.  Encostamos -nos  ao  UDanime  dizer  dos 
nossrts  dirnnistas,  rorrnhorado  pHn  le!;l<>miinho  in^iii.speilo  de  Nptsrher. 


Dictzedby  Google 


-  :181  — 

de  19  dri  Fevereiro  de  1C49  saudou-o  n'ii3sas  i 
moDtanbas  dos  Guararapes.  pela  Providencia  fadadas  para 
iheatro  do  denodo  brasileiro. 

Por  ama  operação  inversa  da  do  aaoo  anterior,  eram 
agora  os  hollandezes  comntandados  pelo  coronel  Van  der 
Briocke,  qae,  entrincheirados  n' essas  monlanbas,  então 
quasi  ioaccessiveis,  desafiaram  a  brarara  dos  nossos. 

Como  dois  albletas  que  se  contemplam  antes  de  descer 
á  arena,  receiavam  ambos  os  eiercitos  empenhar  a  luta; 
e  muitas  horas  se  passaram  antes  que  o  primeiro  tiro  fosse 
disparado:  tomando  finalmente  por  cobardia  a  prudência 
de  Barreto,  desceu  Brincke  das  alturas,  o  empenhoo  a 
batalha  em  campo  raso.  Ferida  a  peleja,  ordenou  o  gew.- 
ral  portu<!uez  aos  mestres  de  campo  Vieira  e  Henrique 
Dias  que  atacassem  o  boqueirão  fortificado  e  defendido 
por  sete  batalhões.  Pôde  considerar-se  este  como  o  ponto 
calmioante  de  toda  a  batalha,  e  será  por  certo  escolhido 
por  algum  Horácio  Vernet  brasileiro  que  quizer  immorta- 
Usar  a  l«la  escolhendo  seus  assumptos  nos  nossos  glorio- 
sos fastos. 

Peraambucanos,  portuguezes  e  flamengos  bateram-se 
com  igual  encarniçamento:  mas  avictoria,  por  multo  tem- 
po suspensa,  bandeou-se  para  a  causa  que  sombreava  o 
estandarte  da  justiça.  Completa  foi  a  derrota  do  axercilo 
tde  Briacfce,  que  ingenuamente  confessa  que,  se  os  nossos 
lhe  fossem  ao  encalço,  total  seria  a  sua  mina  (16). 

|16)  «  Aconsternaçtíoc  o  p.inicoilos  nossos  [diz  elle)  [onm  Ulo  gran- 
des,que,se  o  inimigo,  em  vez  de  enlrcgar-se  ao  saque,  preferisse  con- 
tinuar a  perseguir-nos,  é  am  provável,  se  nlo  indubitável  mente  certo, 
qne  o  restante  dos  nossos  ler-se-iam  deixado  matar  sem  oi^r  a  me- 
nor resistência  ;  porque  tugiam  snm  olhar  para  traz.  (Doe.  Iiollandez, 
tomo  IV.} 

TOMO  KXXI,  r.  1.  49 


Dictzedby  Google 


—  ;ia2    — 

Cremos  piameole,  como  n'oulrn  lugar  já  dissemois  (17). 
que  à  esta  assigiMladã  viciaria  devemaso  haver  D.  JcãoIV 
sabido  do  seu  systeota  de  iiresolução,  abandoDando  de 
ama  vez  para  sempre  a  política  de  Jano .  Convíoba  aitender 
isorl0  de  Peroambaco,  qae  qaiçà  a  si  meano  sniregoe 
por  si  nesmo  decidiria  do  sâD  fularo.  Dorou  aindaa  guerra 
cinco  anãos,  mas  visível  era  o  cansaço  de  ambos  os  par- 
tidos: as  guerrilbas,  nas  qoacs  sempre  vantajosamente 
figurava  o  nosso  beróe,  debilitavam  as  Torças  bollandezas, 
qae  em  pr(^ressivo  decrescimento  caminbavam,  porque 
a  mercadores  e  não  a  estadistas  estavam  confíados  seus 
destinos:  anormal  era  cada  vez  mais  a  situação,  e  os  pró- 
prios bollandezes,  cônscios  de  não  poderem  submetter  petas 
armas  a  nossa  pátria,  anbelavam  por  acbar  meio  de  com 
bonra  e  vantagem  retlrarem-se. 

Proporcionou-lhes  este  ensejo  a  cbegada  da  primeira 
frota  da  companhia  de  commercío  do  Brasil,  commandada 
por  Pedro  Jacqnes  de  MagalbSes,  que,  cedendo  docemente 
ás  instancias  dos  chefes  pernambucanos,  resolveu  ser  es- 
pectador armado  dos  seus  últimos  e  gloriosos  feitos. 

Com  a  capitatação  de  Taborda  desce  o  panno  sobro  o 
palco  histórico ;  desapparecem  os  protogonistas,  que,  en- 
trando na  vida  privada,  depõem  sobre  o  berço  de  seus 
fílhos  os  lauréis  adquiridos  no  campo  de  balatba. 

Ninguém  mais  falia  em  Henrique  Dias:  níngnem  sabe 
como  se  deslisou  a  honrada  velhice  do  Srcevola  brasileiro, 
G'  de  crer  que  a  consumisse  reclamando  o  pagamento  de 
atrazados  soldos,  pedindo  indemnisações  que  nunca  che- 


(17)  Vide  o  Sronl  BoUanáez,  Kstudo  Hislorieo,  lido  no  Insttlnlo  p 
puhlif^adfl  no  lomn  \M1I  da  snn  nmiieta. 


Dictzedby  Google 


—  383  — 

garam,  o  deixando  ú  sua  mulber  e  filhts  por  udíco  legado 
a  herança  de  seu  nome  (18). 

Esse  nome  era  oulT'ora  aos  pósteros  traosmilUdo  no 
de  am  regimento  de  homens  prelos,  que  com  vantagem 
ao  paiz  serTÍam :  incomniodou,  porém,  isso  aos  reforma- 
dores, que  com  sacrílego  arrojo  apagaram  mais  esse  brasão 
da  nossa  Ião  moderna  e  já  Ião  brilhante  historia. 

./.  C.  Fernandes  Pinheiro. 


(18)  HorrwiaS  de  Junho  de  1663  na  cidade  do  Recife,  sendo  sepul- 
tado a  custa  do  Estado  do  conveolo  ilo  Sanio  António,  onde  nio  testa 
noticia,  nem  signal  d'cssa  sepultura  (Vide  Bv>g.  dot  Poetas  Pern.  por 
.V.  J.  de  Mello  .   luuoll.pag.  Igi. 


D,:„l,;cdtv  Google 


o  TENBNTS-OWIEAL    BENTO  MANOEL  RIBBIBO  I)} 

Vou  teolar  avocar  á  memoria  dos  presentes,  daodo-o  á 
posler  idade,  o  nome  de  um  paolisla.  que  soou  sempre  dis- 
tíDClo  Da  guerra  do  sul,  batalhada  desde  1816  até  l8í!7, 
em  que  termiuou  em  virtude  da  conveução  preliiuiD  ar  de 
37  do  agosto  de  18ãS,  pactuada  enlre  o  Brasil  e  asProvio- 
cías  Unidas  do  Rio  da  Prata ;  nome  tarjado  de  louros  e  de 
que  a  pátria  se  recordará  sempre  com  ufania;  uomeqau 
também  é  memorável  por  vários  feitos  seus  no  lidar  d'essa 
nwolu^ão,  que  manift'Sli)U-si'  na  provinda  de  S-  Pedro  em 
1835,  e sem  intermitteiicia  dunn  por  dez aunos,  marean> 
do  i>-r:ilKiiin  U--m\-i-  «  liisir>  .da  li-nldade  hereditária  dos 

-  :;i  K  s<'s ; .  eslL^  iiuui.  p  riuiice  á  classe  militar  e  á 
SU.1  g  ona. 

Procuro  desfarle  consagrar,  ao  menos,  uoivoíodere- 
mioiscaucia  á  um  amigo  e  companheiro  d'armas,qao  desde 
'  oseu  tyrocinio  militar,  em  1816,  ató  1S27  cultivamos  rela- 
ções amigáveis  com  a  camaradagem  da  classe,  e  que,  sepa- 
randu-nus  em  183i ,  porque  o  serviço  publico  levou-me  a 
diversas  proviacias,  entrevi  mo- nos  em  1836,  nos  dias  em 
que  o  general  dispanha-se  a  combater  os  revolucionários 
na  tllii  do  Fanfa,  onde  foram  derrotados. 

A  bi(^raphia  quevou  esboçar  é  de  um  homem,  que  o 
que  foi  no  mundo  o  deveu  uuicamente  à  sua  espada. 

Oleneote-general  Bcnlo  Manoel  Ribeiro  nasceu  na  villa 
de  Sorocaba,  bojo  cidade,  procedente  de  ura  ramo  collate- 
ral  da  família  do  coronel  Bento  Manoel  de  AlmeidaTaes, 

(1)  Exli-iliimos  do  ^rcUvo  LíUerarw.llevísU  Mensal  dai^vincude 
S.  Paulo,  a  seguinte  biographia,  devida  á  laltoriosa  peaoa  do  nosso 
saiiduso  i'oiiGueiu  u  Sr.  Mucliadu  d'01iveiru.  * 

(Nula  da  ltedai;ãi>, ; 


DictizedbyGoOJ^IC 


qne  tere  aposento  n*aquella  TíUa,  e  são  seus  desceodeoles 
os  que  allí  tám  esse  sobreDome. 

Logo  qae  complotoo  os  seus  prioiãiros  estudos  e  acbou- 
ae  em  idade  de  viajar,  acompaobou  para  o  sul  a  seu  irmão 
maisvelbo,  ucapilãoGabriel  Ríbeiru  de  Almeida  (2),  que 
também  serviu-llie  de  mbslre  na  apreodizagem  da  guerra, 
cm  qne  se  adestrara  na  recuperação  das  Missões  Oríeataes 
do  Uniguay. 

Desapercebida  passou  a  sua  vida  do  Hio-Graude  alé  á 
idade  em  que  teve  praça  oo  r^imeolo  de  milícias  da  fron- 
teira do  Rio-Pardo,  conbecido  ao  depois  com  o  d.  33  de 
â*  linha ;  e  com  esle  regimento,  e  já  no  posto  de  tenente, 
marcbou  a  eocorporar-se  á  divisão  do  exercito  do  sal  ao 
mando  do  general  Curado,  que  pouco  antes  tomara  posi- 
ção na  fronteira  do  Rio-Pardo,  ameaçada  por  grandes  for- 
ças de' José  Arligas,  já  invadida  a  de  Missães  e  posto  cm 
sitio  o  povo  de  S.  Borja. 

i^o  começar  essa  memorável  campanha  o  tenente  Hibeiro 
leve  por  três  vezes  occasiSo  de  mostrar  praticamente  quão 
proveitosas  lhe  foram  as  líçdes  que  sobre  a  guerra,  e  espe- 
cialmente sobre  a  estratégia,  recebera  de  seu  irmfio  o  ca- 
pitSo  Gabriel  de  Almeida. 

O  primeiro  rompimento  na  fronteira  do  Rio-Pardo, 
feito  pelos  bandos  de  Artigaij,  foi  pela  coxitba  de  Santa 

(2J  Gabriel  Hibeiro  de  Almeida,  nu  posto  de  tenenic  tle  uiilidas  e  á 
'  b«Dte  de  pouca  mais  de  duzentos  Uomcns,  dirigiu  em  pessoa  a  recoa- 
quisla  dos  sele  povos  das  Missdes  Orientaes  na  província  de  s,  Pedro, 
lomando-oa  com  valor  e  sapgue-ftio  a  muís  de  dois  mil  paraguaios, 
comnuDdados  pelo  coronel  Espindula.  Foi  a  Lisboa  como  portador 
dos  seus  seiviços  bem  recommeodados  pelo  governador  d'aiiuella  pro- 
vncia,  e  leve  em  recott^iua  o  posto  de  capitão  de  milícias  e  o  habito 
de  Gbrislo. 

(V.  fíevislado  brstHiií')  llistoríi:')  •:  Oeo<jrti]íhiiv  Brasileiív,  vol.  \. 
m-  3-) 


D,:„l,;cdtvG00J^le 


—  ;(8G  — 

Anaa,  e  no  intuilo  de  aucar  a  divisão  do  general  Corado, 
que  bavia  pouco  occupára  u  campo  do  Ibirapaiian-Chico ; 
e  para  affrontar  aquellas  forças  destacoa  o  general  algnns 
esquadrões  da  divisão,  conleodo  o  numero  de  mais  do  tre- 
zentas praças,  havendo  entre  esta  força  e  a  do  inimigo,  du- 
plamente maior,  um  recontro,  em'  que  foi  este  complela- 
mente  derrotado. 

Em  seguida,  e  para  obstar  que  a  coliimna  do  coronel 
Abreu,  retirando-se  de  Missões  depois  que  o  seu  território 
foi  tomado  ao  poder  do  inimigo,  se  reunisse  ã  divisão  do 
general  Curado,  o  inimigo  distrahíu  de  si  a  força  de  oito- 
centos bomens,  entregando-a  ao  mando  de  Verdum,  que 
tomou  posição  em  Ibiraocay  comu  o  ponto  mais  adequado 
para  interceptar  aquella  juncf^So.  Contra  semelhante  len- 
latíva  expediu-se  da  divisão  uma  columnade  quatrocentos 
c  oitenta  pra^^s  combinada  das  três  armas,  que  marchou 
contra  o  inimigo,  o  o  desbaratou  no  seu  próprio  campo. 

Com  a  retirada  da  columoa  que  derrotara  o  inimigo  u^ 
lbiraocay,tiCom;i certeza  dequeseapproxímavaaocampo 
da  divisão  a  do  commando  do  coronel  Abreu,  retirando-se 
de  Missões,  apresenlou-se  ensejo  favorável  para  tomar  a 
ulTeosiva  cunlra  o  inimigo,  acommetlendo  o  mais  forte 
dos  seus  alojamentos,  sem  enfraquecer  numeriuameulc  a 
divisão,  u  que  anlcs  se  não  dera.  Ur};anisada,  pois,  uma 
culumua  de  setecentos  u  sessenta  praças,  dada  ao  com- 
maudo  do  brigadeiro  Oliveira  Alvares,  marchou  contra  o 
inimigo,  furlti  de  mil  o  quinhentos  hoiQuns  de  cavatlaria, 
dando-lhe  combate  no  campo  de  Carumbé,  eahi  o  derrotou 
inteiramente,  poodo-o  em  debandadacom  perda  de  seis- 
centos mortos. 

N'estes  trus  coinbates,  de  que  sahiram  victoriosas  as 
tropas  brasileiras,  o  nomu  do  tenente  Bento  Manoel  Ribeiro 
v(3-sc  honrosamente  iissignalatto  com  distinc^ãu  nas  parli- 


DictzedbyGoOglC 


—  387  — 

cípa$5es  feitas  ão  geaeral  commandantc  da  díTisão  pelos 
chefes  qae  os  dirigiram  (3).  Serviram-lbe  como  de  Dobre 
tfrociDio  na  carreira  de  gloria,  qae  percorrea  n'essa  e  nas 
sabseqnentes  campaobas  havidas  no  sai. 

Abandaoada a  fronteira  brasileira  pelo  inimigo,  relirou' 
se  esta  para  o  território  de  Montevideo,  e  abrigado  pelas 
matas  do  Arapeby  renoin  alli  todas  as  snas  forças,  arras- 
tando para  engrosSal-as  os  homens  d'aqnella  praça  e  do 
interior  que  podiam  pegar  em  armas. 

O  general  Corado,  qoe  n3o  tinba  por  completas  as  três 
derrotas  do  inimigo  qoe  invadira  a  fronteira  brasileira, 
vendo-a  ainda  ameaçada  com  a  coacentraçào  das  forças 
contrarias  em  Arapeby,  fez  a  divisão  transpor  a  iinba  coa- 
Gnante,  estabelecendo  oseu  campo  janto  ao  arroio  Catalan. 
D'abi  destacou  oi  coronel  José  de  Abreu  com  uma  colnmna 
de  s^isceDtas  praças  com  o  Gm  de  reconhecer  a  posição 
do  inimigo,  e  investíl-o  logo  que  visse  que  as  suas  forças 
nSo  comportassem  a  necessidade  de  marchar  para  alli  a 
divisão. 

Artigas,  sabendo  que  a  divido  brasileira  marchara  da 
saa  fronteira,  procurou  evitar  o  seu  encontro  abrindo  de  si 
o  maior  troço  das  suas  forças,  que  as  entregou  ao  caudilho 
LaTorre,  ordenando-lhe  qne  atodo  n  transe  se  arrojasse 
á  divisão,  certo  de  qne,  em  mão  logro,  ia-seotriumphoda 
sua  causa. 

A  4  de  Janeiro  de  1817  foi  o  campo  da  divisão  investido 
de  todos  os  lados  por  La  Torreai  leslade  Ires  mil  e  quatro- 
centos homens ;  mas  a  bravura  das  tropas  brasileiras, 
apezar  de  serem  inferiores  em  numero  ás  forças  inimigas, 
e  oaoxilio,  qne  não  era  esperado,  da  columna  de  Abreu,  a 
qual,  concluído  o  desbarato  de  Artigas  em  seu  alojamento 

(3)  Hfristn  do  /»<(íÍH/n  :  vol.  7.  [WR.  322. 


Dictzedby  Google 


-  »w  - 

de  Arap^y,  Toi  mui  presla  em  volver  aocaropod»  dhísSo, 
Teacendo  com  a  saa  infantaria  doze  tegoas  em  oito  horas,  ~ 
deram  ao  paiz  om  dia  de  gloria,  e  ao  inimigo  a  ahima  li- 
ção de  qoe  nãose  podia  medir  com  as  tropas  brasileiras, 
a  despeito  da  soperioridade  numérica  das  soas  forcas. 

Ma  batalha  de  Calalan  deu  o  tenente  Ril)eiro  mais  provas 
e  mai  significativas  do  sen  valor  e  disceroimenlo  militsr,  e 
de  qoe  om  fatoro  de  victorias  o  aguardava.  Cam  o  seu 
corpo,  que  formava  a  linha  esquerda  da  divisão,  por  oode 
começou  o  iaimigo  a  sua  mais  impetuosa  investida,  foi  este 
levado  de  rojo,  desaffjrontaodo  o  flanco  esquerdo  do  campo 
quisi  compromettido.  Sen  nome  acha-se  distincto  na  or- 
dem do  dia  ao  eiercíto,  como  o  fora  nas  acções  preceden- 
tes, sendo  ao  mesmo  tempo  elevadaao  posto  de  capitão  (4). 

Evacuado,  como  ficadito,  o  território  brasileiro,  e  livre 
a  fronteira  da  acção  infensa  das  hostes  inimigas,  qoe  cor- 
reram a  abrigar-se  na  margem  esquerda  do  Urugoay,  para 
alli  marchou  a  divisão  do  general  Cerado,  não  dando  por 
lerminada  a  lata  em  que  se  empenhou  sem  que  visse  com- 
pletamante  aniquilado  o  inimigo. 

Dnrante  esse  movimento  soube  o  general  qae  na  povoa-: 
ção  de  Belém,  á  mai^em  esquerda  do  Urugoay,  postár^-se 
alguma  força  inimiga  por  ordem  de  Art^as,  para  swir  de 
nocleo  ao  recrutamento,  que  fazia-se  no  lado  direito  do. 
Urnguay. 

Não  convinha  deixar  essa  força  em  tal  posição,  que 
ameaçava  a  fronteira  pela  liahado  Quaraby,  e  para  a(acal-a 
fo)  mandado  o  capitão  Ribeiro  com  uma  partida  de  noventa 
praças,  que,  acommettendo  o  inimigo  em  15  de  Setembro 
de  1817,0  derrotou,  cabindo  prisioneire  ú  coronel  Verdim 
e  trezentos  homens  do  seu  commando. 

(d)  ReKÍsta  do  hiMIuto  vol.  7  pag.  339. 


Dictzedby  Google 


i  pdr  Arligas  em  1818  os  Bbefes  eolre-riaoos 
Aguiar,  Baatírefle  Aedo  a  partilharem  a  soa  cansa,  tomando 
por  prindpal  empreza  o  defender-se  a  cooqoista  do  Estado 
Oriental,  iavadldo  pelo  interior  pela  divisio  do  general 
Ôirado,  e  occapada  a  praça  de  Hooterldéo  peia  divisão  la- 
sitana  ;  deram-se  aquelles  chefes  à  ronoiSo  de  homens  que 
podiam  serTir  para  lai  fim,  concealrando  estes  na  margem 
direita  do  Umgnay,  e  em  ponto  qae,.  transpondo  o  rio, 
Itadessem  investir  á  divisão  já  oocnpando  a  sna  margem  es- 
querda. Constou  isto  ao  general  Corado,  qae,  aDticipando-se 
á  passagem  do  ioimigo,  que  já  dispunha  da  Torça  de  oito- 
ceatos  homens,expedia  o  capitão  Ribeirocomquatrocantos 
praoas  do  iofantaria  transportadas  pela  esquadrilha  doUm- 
gDay,  o  qoal  fazendo  o  seu  desembarqne  em  ponto  corres- 
pondente aocampo  do  inimigo,  atacoo^o  e  o  derrotou,  ca- 
híndo  prisioneiros  os  dois  cabecilhas  Ramires  e  Aedo,  e 
mids  trezentos  e  trinta  homens  das  snas  forças,  tomando- 
Ihe  qnatro  peças  de  arUlhería,annamento,nma  canhoneira, 
treze  biales  e  grande  porção  de  munições  de  guerra. 

Com  o  intuito  de  evitar  a  sua  ultima  mina  tentou  Arti- 
gas  dar  o  extremo  golpe  de  mSo  sobre  a  divisão  do  género 
Curado,  qne  tao  fatal  lhe  houvera  sido ;  e  com  este  fim 
pôde  chamar  a  si  Frncto  Rivera.  eheffe  de  grande  nomeada 
no  Estado  Oriental,  e,  entregaado-lbe  as  forças  que  lhe 
restavas,  o  impelliu  a  ir  affroatar  a  divisão,  já  occupando 
a  aaai^em  esquerda  dO  Uroguay  em  S.  José. 

Advertido  o  general  Corado  da  nova  tentativa  do  inimigo, 
deu  o  commando  de  seiscentos  praças  a  Ribeiro,  qne  tinha 
subido  ao  posto  de  tenente-coronel,  fazendo-ibe  sentir  a 
necessidade  de  nm  recontro  com  Rivera. 

Era  a  primara  vez  que  iam  acbar-se  em  frente  um  do 
outro  estes  dois  chefes  contrários,  valentes,  experimenta- 
dos na  gueira  do  paiz,  e  amestrados  nos  ardis  e  evolnç^ 

TOMO  XXXI,  P.  I.  so 


D,:„l,;cdtv  Google 


Mtniegicas ;  e,  eomqoaato  assim,  o  brasileiro  sobrepajoo 
o  oriental,  approximaQdo-se  aqtuUe  desapercebidamenle 
ao  campo  loimigo  assentado  no  Arroio  Grande,  e  sarpre- 
heodeodo-o  com  impetaosidade  a  ponto  de  cabir  em  der- 
rota com  perda  de  mnítos  mortos  e  prisioneiros. 

D'este  combale,  o  ultimo  dos  que  foram  dados  pela  âi- 
lísSo  do  general  Corado,  boave  dois  resultados,  qae 
se  podem  ctassíãcar  em  bom  e  máo :  aqaelle  esteve  no  com- 
pleto aniquilamento  das  hostes  de  José  irtigas,  qae  de^ 
pois  do  oitimo  combate  procaroa  am  effi^io  no  Paraguay, 
onde  só  aebOQ  prisão  e  bárbaro  ostracismo  -,  e  o  oatro  nn 
eog^amento  de  Fructo  Rirera  para  o  serviço  do  exercito 
brasileiro,  onde  recebeu  díslincções  e  premios.que  de  oada 
serviram  para  nullifíear  sua  iodole  versátil  e  traiçoeira, 
como  mais  abaixo  se  verá. 

Postas  as  cansas  da  guerra  do  snl  D'e8te  estado,  esteve 
em  repouso  desde  I8i9  até  1825  o  prestante  serviço  mili- 
tar de  Bento  Manoel  Ribeiro,  que  fdra  elevado  ao  posto  de 
corooel  de  2.'  linha,  e  pouco  depois  transferido  D'esse 
posto  para  o  estado-maior  do  exercito,  como  compensação 
do  seu  mérito  e  distinctos  serviços  que  presl&ra  na  guerra. 

Houvera  em  1825  a  revolta  da  Cisplalina,  oulr'ora  Es- 
tado Oriental  do  Uraguay,  e.  então  encorporada  ao  Brar 
sil  só  a  effeito  da  espontânea  deliberação  e  poderosa  von- 
tade do  general  Fructo  Rivera. 

U  brado  da  revolta  e  o  movimento  da  maior  parle  das 
tropas  que  guaroeciaaa  a  província  de  S.  Pedro  e  marcha- 
vam paraalli  tendo  á  sua  frente  o  commaodante  das  armas 
o  general  barlo  do  Serro-Largo  ;  esse  grito  de  leva  bro- 
queis contra  um  paíz  arrancado  ao  bárbaro  poderio  de  Ar- 
tigas  por  tropas  brasileiras,  e  por  expressa  vontade  sua 
eocorporado  ao  Brasil,  soou  no  retiro  em  que  se  achava  o 
coronel  Ribeiro,  e  a  elle  acQdia  ligeiro  como  lhe  soia. 


Dictzedby  Google 


—  3M  — 

Já  bavia  eolrado  no  território  de  Monlevidéo  a  divisão 
expedicionária  commandada  pelo  general  barão  do  Serro* 
Lai^,  qaando  a  esle  apresentua-se  o  eoronel  Ribeiro  para 
servir  sob  soas  ordens  ;  mas,  como  ao  barão  recommen- 
dasse  o  commandante  em  chefe  do  exercito  do  sul,  vis- 
conde da  Laguna,  qae  oão  convinha  abandonar  a  lioba  do ' 
Rio-Negrõ,  onde  estava  a  divisão,  pois  qne  por  ahí  podiam 
os  sablevados  ter  fáceis  soccorros  do  interior,  e  da  mai^em 
direita  do  Umgaay,  não  pAde  o  coronel  Bibeiro  cooter-se 
com  o  animo  em  que  se  achava  de  prestar  serviços  à  rei- 
vindicação da  Cisplatina,  seu  antigo  tbeatro  de  victorias,  e 
com  este  intoito  dirigiii-se  i  praça  de  Honlevidéo,apres«i- 
taodo-se  alli  ao  commandante  em  chefe  do  exercito,  qae, 
teodo  em  lembrança  os  seus  antigos  feitos  d'arma8,  o  rece- 
bera com  muito  aprazimeoto,  dando-lbe  logo  o  commando 
de  nma  brigada  de  cavallaria  forte  de  mil  praças,  que 
devia  ser  reforçada  com  oatra  de  igual  força,  qae  mar- 
chara da  fronteira  do  Rio^írande  ao  mando  do  coronel 
Bento  Gonçalves  da  Silva. 

Poi  tal  o  reiardjmealo  da  brigada  commandada  pelo  co- 
ronel Bento  Gunçalves,  e  tal  o  açodamento  do  coronel  Bi- 
beiro em  ir  medir-se  com  o  inimigo,  que  rompeu  este  da 
fhçi  sem  mais  esperar  aqoella  brigada,  marchando  na 
direcção  de  Darasao,  onde  estavam  reunidas  as  forças  ini- 
migas em'  numero  de  dois  mil «  quinhentos  homens  tob  o 
commando  de  Lavallega,  com  o  fim  de  pôr  sitio  á  praça  de 
Montevideo. 

N'esle  coraeoos  Fracto  Rivera  abandonou  com  disfarce 
o  serviço  do  Brasil,  arrastando  comsigo  atraiçoadamente  o 
regimeotQ  da  União  que  commandava,  forte  de  mil  praças, 
cajá  mór  parle  era  de  soldados  brasileiros  e  de  rebaixados 
da. divisAo  lusitana,  uníDdo-se  ao  caudilho  da  sublevado, 
que,  emquanto  alo  reconheceu  a  sua  lealdade  n'aqaell& 


D,:„l,;cdtv  Google 


-  J»8  — 

passo,  e  com  bastante  expnieDcia  dos  seas  ardis  e  vdnln- 
lidade,  o  reteve  em  Cerros. 

■  iDseieate  o  coronet  Ribeiro  da  defecção  de  Fnicto, afouto 
marchava  ao  íDÍmigo,  e  sôfrego  de  aeooimeUAl-o,  altft* 
raodo  as  ordeos  que  linha  de.  emqoanto  se  lhe  nSo  rea- 
Qíssea  brigada  do  coronel  Bento  OonçalTes,  tiraitasse  suas 
operações  no  reconhecimento  das  forças  contrarias  e  da 
soa  posição  fixa.  Em  13  de  Ontuhro  de  tSSB  achoo-ae  em 
frente  do  inimigo,  qae  simaloa  uma  petpiena  força  em 
Unha  dos  quatro  mil  homens  qne  tinha,  a  maior  parle  <do8 
quaes  estava  esooberta,  nas  matas  do  arroio  Saraody.  Não 
trepidOQ  o  coronel  Ribeiro  em  investir  à  Unha  qoe  tinba 
à  vjslá.  e  só  depois  do  primeiro  recontro,  com  o  appareci- 
mentodas  forças  encobertas  reconheoea  a  grande  soperiO' 
dade  numérica  do  inimigo  \  mas  já  não  era  tempo  de  r»- 
4»are  nem  isso  era  consentâneo  com  os  seos  brios;  só 
entSo  foi-lbe  patente  a  defecção  de  Fmcto  Rivera,  qne  se 
bandeara  para  o  inimigo  com  os  rotl  homens  que  comraaii- 
dava,  pagando  assim  antigos  e  valiosos  favores  qne  Ibe 
lat^neára  o  governo  do  Brasil,  e  a  implícita  confiança  qoe 
lhe  depositou  o  visconde  da  Lagana,aquem  trouxe  sempre 
illudido. 

D'es8e  acto  de  precIpitaçSodo  coronel  Ribeiro,  que  pôde 
ser  cobonesiado  com  o  não  conhecimento  das  forças  in- 
teiras do  inimigo,  e,  quando  não,  por  um  hnpalsóde  valor, 
qoe  lhe  era  peculiar  vendo  anta  si  hostes  inimigas,  e  âes 
aquellas  que  por  vezes  debelUra,  segaio^e  o  destroco  da 
sua  brigada,  qae  quasí  toda  cahiu  pnsíoo^ra  por  ver-se 
envolvida  com  a  linha  inimiga,  retirando-se  o  coronel  com 
poaGosdosseus  à4ivisão  do  barão  do  Serro-Lai^,  qne 
retrocedia  da  linha  do  Rio-Negro,  visto  como  a  revolta  da 
Cisplatina  tinha  attingido  amplas  prt^orçSes  no  iitorior. 

A  espada  sempre  vencedora  de  Beato  Manoel  Ribeiro 


D,:„l,;cdtv  Google 


D,i.,.db,  Google 


-  384  — 

HõOTe  encoDtro  com  essa  colamoa  e  com  elU  traTou 
combftte  a  1*  brigada  ligeira,  seodo  aqoella  derrotada 
e  repellida  para  além  da  frooteira ;  e  o  commaodaale  da 
1*  brigada,  qoe  ajanlOD  esta  Tictoria  a  oatras  qoe  tanto 
o  distibgairam  na  goerra,  retrogradou  Ic^o  do  Ibi- 
cuby  paracoltocar-seemap|)roxima(3oao  exercito,  apres- 
sando soas  marcbas  por  lhe  constar  qai  ia  este  cmpenbar- 
se  em  acção  como  inimigo;  mas,  comqaanto  accelerasse 
a  saa  retirada,  e  ainda  mais  oavindo  de  moito  longe  a 
canhonada  da  batalha  de  30  de  FeTereíro  do  passo  do  Ro- 
sário sò  na  noite  de  21  é  que  pôde  chegar  ao  arroio  Ca- 
eeqay,  dístaote  oito  léguas  d'aqaelle  passo,  e  abi  Tez  alto 
por  saber  qne  o  exercito  para  alli  se  retirava. 

A  a  de  Perereiro  rennia-se  ao  exercito  a  1*  brigada 
ligeira,  e  iodo  aqueile  acampar-se  na  margem  direita 
doJacahy,  deixoaasaa  «avallaría  emS.  Sepé,  de  oode 
marchou  para  a  fronteira  do  Rio-Grande. 

Pôde  dizer-se  qne  a  batalha  de  30  de  Fevereiro  de  1827 
pAz  termo  á  guerra  do  sul,  suscitada  pela  questão  da  se- 
paração da  Cisplalina ;  termo  subsequentemente  pactuado 
entre  o  Brasil  e  as  proviocias  unidas  do  Rio  da  Prata  pela 
convenção  de  27  de  Agosto  d'aquelle  anno.  D'aqaella  epo- 
cba  em  diante  os  exercilos  belllgerantes  osteotaram-se  em 
movimentos  estratégicos  para  a  fronteira  do  Rio-Grande, 
sem  qne  se  approximassem  às  raias  confinantes  entre  f» 
dois  territórios. 

O  exercito  brasileiro  decampou  do  Jacuby,  indo  pos- 
tar-se  DO  rincão  do  Leiva  d'aqnella  fronteira,  e  o  argen- 
tino, largando  o  campo  do  rio  Jy,  que  occopava  retiran- 
do-se  da  batalha  do  passo  do  Rosário,  tomou  posição  nos 
campos  do  Serro-Lai^o.  Sosteram-se  as  hoslilidades  en- 
tre 09  dois  exércitos  por  armistício  que  precedeu  á  con- 
venção de  27  de  Agosto,  e  o  brasileiro  foi  desmembrado 


Dictzedby  Google 


—  3K  — 

em  corpos,  qae  mandiaraai  para  os  sens  respectivos  ^nar^ 
teis. 

Do  movimento  revolacioiíario  qae  doroo  na  proTiocia 
de  S,  Pedro  dez  anãos  ( de  1835  a  184&  ],  e  qae  algqns  o 
alcoobaram  de  rebetliSo  sõ  por  lhe  fazer  injariat  indevída- 
mei^te,  porque  apenas  foi  n'elte  envolTída  ama  íticçso 
da  popDliicSo  daproriDcia,  estando  esta  longe  de  alterar 
as  formulas  goveraament^es  adoptadas ;  e  esse  moTímento 
foi  posto  em  perpetuo  esquecimento  pela  alia  maniScen- 
cia  do  imperante.  D'etle,  em  que  só  ÍDlervieram,  por 
èonra  dos  rio-grandenses,  alguns  grupos  da  classe  prole- 
tária, d'es8a  força  brutal  operante  qoe  irreflectidamente 
accede  a  transbordamentos,  trarei  para  esta  bíngrapbia  os 
trechos  que  possam  dar  luz  á  narrativa  dos  feitos  du  coro- 
nel Ribeiro  n'esse  movimento,  e  pelo  teor  da  prat'ca  pre- 
cedentemente seguida  na  exposição  dos  combates  da  guerra 
do  sul,  em  que  Ribeiro  teve  parte- 

Eatre  os  motivos  com  que  se  procurou  cobonestar  esse 
movimento  foi  o  dadestituiçãodo  coronel  Ribeiro  docom- 
mando  da  fronteira  do  Rio-Pardo,  s&  fundada  em  falsas 
aprebençMs  {ã) ;  e  com  quanto  fosse  estraobavel  ao  com* 
mandante  essa  caprichosa  destíluicSo,  não  a  apreciou,  toda- 
via, como  emergência  que  actuasse  em  seu  animo  cava- 
Iheiroso  para  fazer  cansa  commnm  com  o  movimento,  em- 
bora considerado  fosse  como  nm  distincto  e  brioso  velerano 
do  exercito;  filando  um  passado  tão  cheio  de  honra  e  vic- 
torias.  Foram  os  seus  amigos  que  puzeram  em  relevo  esse 
aclo  imprudente  da  presidência  da  provinda  quando  ao 
próprio  dAnittido  lhe  fora  indilTerente ;  n3o  antorisando 
para  que  se  pense  o  contrario  o  haver  Ribero  adherído  á 


(S)  ViicotHle  de  S.  Leopoldo.  •Aiman  da  procinew  de  S.  Peàro: 
letra  E,  pag.  367. 


Dictzedby  Google 


nvotafi»  em  sw  cioeco,  j^oriu  a  isw  o  pafigio,  bem 
como  a  OQtros  maihw,  oi  desouDdoa  do  goveroo  (6). 

E'  ama  rerdale  aatbeatieuU  por  hebot  que  o  govoao 
da  proTiaeia  «n  ?ex  de  amsaltar  soa  consdeocia  joBta  e 
recoDhecidamenie  benigiu,  era  para  «  gonrucão  da  pro- 
viaeia  actuado  por  orna  forca  irueÍTelr  eatraola  e  iirea- 
poosavel.  por  om  aaimo  pojaote  para  Tiodidis,  qae  por 
mais  de  nma  vez  arredio  o  bom  senso  e  brio  proverbial 
áa$  rio-graodeoses,  loTando-os  por  fim  ao  rompimento 
de  1836. 

O  coroDel  Ribeiro*  pronanciando-se  pela  reTolaçSo, 
reoDia-se  a  Bento  GooçalTes,  qoe  a  tinba  promoTído  e  a 
expandira  por  algoas  (Ustrletos  do  interior  ;  e  estere  cos 
este  algans  dias  sem  tomar  a  menor  parte  na  gerência  do 
Borimento,  e  nem  aatorisar  para  os  seos  actos  com  o  hon- 
roso conceito  pnblico  qae  gozara. 

Este  concurso  doroo  pouco  porque,  sobstttaida  a  pre^ 
deocia  da  proTincia  pelo  Dr.  A.  Ribeiro,  e  negando-se  a 
este  o  tomar  posse  na  capital,  assumiu-a  na  cidade  do  Rlo- 
Grande»  Semelhante  infundado  procedimento,  e  actos  pra- 
ticados peh»  pevolacionaríos,  nns  f íotentos  e  outros  em 
TÍngança  de  anUgas  derrotas  no  campo  da  politica,  Íi(cati-<^ 
ram  do  animo  do  coronel  Ribeiro  desconfianças,  que  o 
tempo  oonverteQ  em  verdade  ;  e  este,  deiíando  a  cansa  da 
revolução,  offerecea  seos  serviços  ao  novo  presidente,  qu» 
08  aceitou  de  bom  grado;  e  dando-lbe  o  commando  das  ar- 
mas da  provincia  o  incombin  da  rraniSo  de  forças  para 
auxilio  da  capital,  qoe  se  achara  em  silio  posto  pele»  r^ 
volucionarios  e  ella  mesma  em  poder  d'estes. 

A  presença  do  coronel  Ribeiro  nos  arredores  da  capital, 
i  frente  da  guarda  nacional,  qne  pAde  alli  reunir,  animou 

(6)  (An  «itada,  letra  E,  pag.  361. 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


—  197  — 

a  livípa  qu>Vri;si<1ia  nà  ciiladè  a  lomai 
sitiantes,  poodu  em  captura  e  depori 
nsoilos  cidadãos  por  sapposta  cOQBiven 
múvimeBto.  Para  esta  reacção,  havida 
1836,  concorreu  a  approximaçao  &  es 
coronet  Ribeiro. 

Parece  que  tião  é  inopportuno  poc 
qne  a revoluçãoda  proviacia  de S.  Pei 
ria,  se  a  principio  a  comprimissem  coi 
da  proviacia  não  envolvidos  oo  movim 
se  ioflueocias  perniciosas  e  Torças  ef 
concurso  mais  se  exacerbaram  os  auini 
em  quem  rumorejavam  cada  dia  recrím' 
cavam,  e  ainda  sujeitos  ao  predomíni 
çõesde  rivalidade  politica.  Assim,  esp 
revolução  por  dez  aonos. 

K  parte  sensata  e  mais  prestigiosa  dii 

vincia  por  sua  posição  e  abastança  não 

mento,  e  ainda  que  foi  ella  sempre  resF 

cias  da  luta  a  despeito  da  reprovação  q 

com  zelo  lamaria  a  si  a  ostensiva  repr 

si  ou  por  seus  adhereutes,  se  lhe  depc 

que  implicilamenle  se  Ibe  negou,  cb 

balâl-a  Torças  mercenárias  eforastein 

se  a  Dão  considerassem  como  embaída 

lucionarío.  Ella  apparecería  em  cam|i 

puudoDorde  brasileiro,  por  certo  rept 

veadilhSes  forasteiros,  e  de  míseraveíi 

a  baila  cbatinagc,  que  formavam  qua 

fileiras  dos  qoe  debellavam  a  revoluçã 

Em  tod^  as  povoações  da  proviaci 

numero  d'e$scs homens,  que,  uBiodo  \ 

(lisassisameoto  de  se  lhes  dar  armas 

lOltO  XIM.  P.  1. 


Dictzedby  Google 


ousados  prenleciam-se  d'esse  infeliz  ens(>jo  pan  osteoU- 
rem  aDímadversões  e  iosaltaosa arrogância  rom  vis  apodos 
e  eoDTÍcios  ronira  os  filhos  do  paiz  ;  para,  com  ignóbil 
«sceodencia  sobre  a  aatorídade  poblíca,  pondo-a  em  coac- 
çio,  disporem  a  sen  bel-prazer  do  maodo  goTernalíro. 
Procedimentos  d'esta  ordem  havidos  á  mioha  vista,  e  sabi- 
bos  por  mim  oa  capital  e  na  cidade  do  Rio-Grande,  aoto- 
risam  o  meodito. 

Aa  forças  dissidentes  qne  sitiavam  a  capital,  para  se 
d3o  acharem  entre  dois  fogos,  pois  que  o  coronel  Riheiro 
marchava  sobre  eUas,e  a  tropa  da  reacção  preparava-se  para 
a  offensiva,  retiraram-se  apressadamente  prncaraodo  apoio 
DO  rio  Cahy,  qne  em  segnida  o  Iranspnzeram  lomaodo 
posiçio  entre  este  rio  e  o  Taquary. 

No  encalço  d'es8as  forcas  foi  o  coronel  Ribeiro  «om  a 
tropa  da  capital  e  gnarda  nacional  que  pAde  reunir,  oqae 
presentido  por  ellas  e  depois  de  pequenos  recontros  sem 
êxito,  procuraram  o  abrigo  da  ilha  do  Fanfa  no  rio  Jacuh;, 
DO  intuito  de  transporem  o  rio  para  a  sua  margem  direita 
e  dirigirem-se  para  o  interior. 

O  coronel  Ribeiro  cliamou  para  alli  a  esquadrilha  de 
Greenfell,  afim  de  interceptar  aos  revolucionários  a  passa- 
gem do  rio,  e  coro  a  certeza  d'essa  medida  acommetteu-os 
dearraocada,  não  encontrando-lbes  resistência;  e  todos  se 
entregaram  á  discrição  com  o  seu  commandante  o  coronel 
Bento  Gonçalves,  que  foi  conservado  preso  abordo  da  es- 
quadrilha, e  d'alli  transferido  para  as  prisões  da  Bahia. 

Na  capital  desembarcaram  o  italiano  Zambioari  e  um 
medico  francez,  que  serviram  com  os  revolucionários,  o 
que  sabido  peta  intima  gentalha  portugueza,  seriam  victí- 
mas  do  seu  apedrejamento,  se  oão  lhes  sahisse  ao  encontro 
o  próprio  presideote  da  província.  * 

Conforme  as  ordens  dadas  ao  coronel  Itibeíro,  os  dissi- 


Dictzedby  Google 


—  J99  — 

dentes  qae  depuzeram  as  urmas  aa  ilba  do  Fanfa  foram 
laicos  á  vonUde,  depois  de  juramentados  de  abandona- 
rem a  cansa  qoe  até  alU  seguiam.  O  official,  porém,  que 
presidiu  a  esse  acto,  recobrando  insultos  que  lhe  era  usual, 
infringindo  cobardemente  as  ordens  que  recebera  do  co- 
ronel Ribeiro  e  do  commandanle  da  esquadrilha,  aalguns 
nHo  dispensou  da  prisfio,  e  não  poupava  injurias  e  chas- 
cos  de  ribeirinho  aos  officiaes  que  alli  compareciam. 

Pela  derrota  dos  revolucionários  na  ilha  du  Fanfa  foi  Ri- 
beiro promovido  a  brigadeiro  e  reintegrado  no  commando 
das  armas  da  província  ;  e  para  melhor  exercél-o  partiu 
para  o  interior  a  robustecer  a  opinião  favorável  ao  governo, 
qne  até  aquella  derrota  vacillava,  e  a  dissuadir  os  dissiden- 
tes de  novas  tentativas  no  sentido  da  revolução,  exempli- 
ficando o  seu  dito  com  a  derrota  do  Fanfa  e  a  prisão  de 
Bento  Gonçalves. 

EnlSo  ;ipresentou-ae  situação  azada  para  chamar  á  ordem 
e  ao  regimen  constitucional  os  desavindos  por  sobre  os 
quaes  lavrava  o  desanimo  pelos  desbaratos  experimentados 
e  pela  privação  do  seu  c^efe,  e  o  remordímenlo  peta  de- 
cadência da  opulenta  província  de  S.  Pedro  posta  porelles. 

O  regenlo  Feijó  não  desapercebeu-se  il'ella,  e  com  essa 
intenção  começou  por  nomear  para  presidira  província  de 
S.  Pedro  a  Feliciano  Nunes  Pires,  homem  de  reconhecida 
moderação,  bastanle  illuslrado  e  bem  conhecido  tia  pro- 
víncia, onde  residia  desde  sua  infância,  e  por  ella  eleito 
deputado  ao  corpo  legislativo,  e  pelo  governo  onlenou-se 
ao  general  Ribeiro,  que  se  dirigisse  para  o  interior  da 
proTÍncia,  sendo  ahi  o  sen  primeiro  empenho  conciliar  os 
ânimos  chamando  a  uma  cuncurdía  geral  e  segura  os  rios- 
grandenses  divorciados  por  opiniões  politicas. 

RccummeudaçÕ>;s  por  esse  teor  foram  feitas  aos  presi- 


Dictzedby  Google 


—  w»  — 

deatesdas  proviocias que  coDfinaincoma  deS.  Pedro  (7), 
sabeodo-se  que  para  ellas  correram  muitos  dos  que  se 
baviam  envolvido  na  lata  rerolncioDaría  :  mas,  hnríados 
foram  todos  os  esforços  do  governo  para  que  essa  tala  ti- 
vesse termo,  e  mallogradoo  afan  em  que  n'esse  seatido  li- 
dava o  general  Ribeiro. 

O  goveroo  tÍDba  em  Treole  ama  obstinada  e  facciosa  op- 
posiçSo,  que  se  encastcltàra  do  senado,  opposição  que 
tinba  por  base  uma  política  tacanha,  p,  toda  pessoa,  e  a 
que  d9o  pAdo  resistir  o  regeate  dando  sua  demissão,  a 
despeito  de  ter  por  si  a  consciência  publica,  abroqaelado 
de  om civismo  puro  de  vicíos  políticos,  e  praticando  abne- 
gações que  Denbum  dos  seus  adversários  podiu  imitar  ; 
e  o  general  Ribeiro  foi  compellido  a  affrontar  o  brutal  tra- 
tamento do  presidente  da  província  que  substituíra  ao 
Dr.  Araújo  Ribeiro,  qae  pedira  sua  demissão. 

O  primeiro  acto  do  dovo  presidente,  o  brigadeiro  An- 
tero José  Ferreira  de  Brilo,  homem  de  mais  pbilaucia  do 
que  discernimento,  de  mais  inepci^  do  que  illustração, 
desmentindo  na  pratica  o  inslinclo  administrativo  que  in- 
culcava; o  inicio  da  sua  presidência  foi  obrigar  a  qae  o 
seu  prudente  e  circumspeuto  antecessor  se  recolhesse  preso 
ácArte,  pondo-oobsedlado  alé  i  sua  retirada  da  capital. 
A  isso  seguiu-se  o  dirigir  re  claoiaçOes  a  vários  presidentes 
de  províncias  exigindo  a  cxlr.idiçno  pant  a  de  S.  Pedro, 
d'aqaclles  aquém  alcunhava  com  o  csiigma  de  criminosos, 

(7)  PreBJdindn  A  provincia  de  Santa  Calharína,  live  recommenda- 
ç5es  do  digno  ministro  da  juBlica,  o  Sr.  Monlezuma,  hoje  visconde  de 
Jequitinhonha,  para  que  fossem  aceitos,  e  alli  conservados  emquanlo 
se  mantivessem  na  ordem  c  não  comprouKtlessem  a  seguram^a  pu- 
blica, os  indivíduos  egressos  do  poder  dos  revolucionários  ;  pois  que 
eram  bmsileiros  desilludidos  que  deviam  eiiconlrai-  favuravcl  iu:olhi- 
mento  da  parte  dos  deiensores  da  Icsalidadv. 


Dictzedby  Google 


—  401   — 

que  deviam  ser  atirados  d  como  bestas  ferozes  e  tiwíofflH- 
veis  {6),  \MT  havertíni  esUdn  ao  serri^o  dos  rebeldes,  & 
qoe  para  fu^irtíra  a  perseguires  e  a  iosullos  ignomÍDiosos, 
ratírardm-se  daproriociiiilepois  de  serem  índollados,  pro- 
curando D'oQlra8  um  asylo  á  segurança  pessoal,  o  esqueci- 
mento da  vida  politica  que  baviam  renunciado. 

Requintou  porém  a  insensatez  do  pr<.'sideQle  no  facto 
àtí,  demiitindoo  general  Ribeiro  do  commando  das  armas, 
que  seoccupava  com  lealdade  no  interior  da  província  a 
apaziguar  os  aaimos  dos  que  se  irrítitram  pelo  não  cum- 
primento do  indulto  concedido  aos  dissidentes  depois  da 
batalhado  Fanfa,  ordenar-lhe  que  quanto  antes  se  apre- 
senlasse  na  capital;  o  sem  esperar  o  cumprimento  d'esta 
ordem  rompeu  d'alli  seguido  de  numerosa  força  armada, 
com  o  Qm  de  ir  ao  euconlro  do  general  e  Irazel-o  preso 
comsígo- 

O  general  foi  com  alguma  antecedência  avisado  da  es- 
tulta intcnsão  do  presidente.e  acercando-se  de  algumas  for- 
ça&  dos  revolucionários  que  vagavam  no  interior,  dispAz-si: 
a  esperar  o  presidente  nu  passo  de  Tapevi,  e  n'esse  lugar  o 
atacou  em  23  de  Uarçode  1837,  afugeoton  as  furi-^as  que  o 
escoltavam,  e  o  reteve  preso  em  seu  poder  por  quasi  Ires 
mezes,  trazendo-oapós  si  nas  marclias  que  fazia. 

Com  semelhante  desassisaJa  provocado  ao  tempo  quo 
Ribeiro  com  dediração  c  esmero  empregava-sp  nn  com- 
pleta pacificação  da  provinct»,  aconselhando  ans  dissiden- 
tes, de  novo  irritados  pelo  feroz  procedimento  das  forçiis 
do  governo  assestadas  pelo  presidente,  qoe  abandonassem 
uma  causa  que  não  podia  prcvalcnT  cumo  contraria  ao 
pensamento  da  grande  mai^irín  d:i  província,  foi  o  general 

(81  l>ropri<is|>flluvras  do  jircãjilfni'- iriin<<i  iirufluniN^Su  Hirígidii  ás 
Iropasilo  govcmo. 


Dictizedby  Google 


cuiiipellido  a  adoptar  uuira  vez  essa  causa,  e  prestar-4be 
seus  serviços. 

Obrigado  assim  Hibeiro  a  sabir  a  rampo  á  frente  defor- 
mas que  espontaneaiDvnle  se  lhe  rouDiram,  (ui  o  seu  pri- 
meiro r«itod'aroias  itiTeslir  a  8  de  Abril  d'aquelle  anuo  a 
TÍilade  Caçapava,  guarnecida  cum  um  balalbão  e  dois  es- 
quadrões de  linha,  desbaratando  essa  furça,  que  cahiu  em 
sen  poder,  mandando-a  livremente  para  a  tapilal. 

O  coronel  Bento  tionçalvcs  evadira-se  da  prisão  da 
Bahia,  e,  apitarecendo  na  provincia  de  S.  Pedro,  reassu- 
mira a  sua  autoridade,  pondo-seá  frente  da  revolnçã»,  e 
das  furças  pastadas  nus  subúrbios  da  capital,  que  empre- 
hendiam  ligeiramentu  ataques  pareiaes,  o  mais  (orle  dos 
quaes  foi  o  da  villa  do  norte, que defundeu-se  heroicuraeole, 
pondo  em  derrota  e  retirada  as  (orças  coulrarias. 

O  general  Ribeiru,duiioÍs  da  tomada  deCaçapava,deu-se 
a  percorrer  o  interior  da  província,  persuToraudo  ua  idèa 
de  chamará  concordiíi  os  dissidentes  d'aili ;  persuadindo- 
os  com  a  intimativa  imponente  quu  lhe  inspiravam  seus 
feitos  d'armas  a  disisiirem  da  lula,  com  a  qual  sacrificava- 
se  o  bom-estar  da  pruvincia.  Com  este  propósito  encami- 
iibou-se  á  fazenda  de  um  amigo  seu.  que  podia  cuadjuvul-o 
em  sua  missão  conciliadora  ;  o  como  fosse  avisado  qae 
estava  alli  a  cbugar  com  um  troço  de  homens  armados  o 
mareclial  fíebastião  Barreio,  commandante  das  armas  da 
província, andando  na  diligencia  de  reunir  as  forças  gover- 
nativas, Hibeiro  teve  de  retírar-se  logo  da  fazenda,  pois 
que  linba  só  por  compaohia  seu  lilho,  Dr.  Sebastião  Ri- 
beiro. 

Existia  entre  o  general  Ribeiro  e  o  marechal  Barreto 
rivalidade  que  chamarei  histórica,  começada  desde  o  tempo 
em  que  aquelle  principiou  a  colher  os  louros  da  vicloria 
na  guerra  do  sul,  o  que   ralava  ao  uulro,  mascarando-a 


Dictzedby  Google 


—  463  — 

sempre  com  appareDledissiiBnlação.  Rivalidade,  quít  tam- 
bém era  Tívaz,  e  sempre  eocoberta  por  Barreio,  e  com  a 
mesma  origem,  enire  estee  o  general  harão  do  Serro> 
Largo  (9). 

Aquella  rivalidade  só  foi  reconhecida  pelo  general  Bi- 
beiro,  quando  soobe  que  a  sua  deslituição  du  commando 
da  fronteira  do  Rio-Pardo,  (Ara  promovida  instantemente 
pelo  seu  rancoroso  adversário,  que  estava  eni  muita  inti- 
midade com  o  presidente  da  província,  e  foi  esse  injusto 
rebaixamento  uma  das  causas  rdlegadas  que  prepondenram 
para  a  revolução  na  província. 

Chegando  o  marechal  Barreio  áquella  fazenda,  soube 
que  Ribeiro  retirára-se  d'alli  Ãsua  approximação.  Imme- 
dialameote  fez  partir  uma  escolta  em  seu  seguimento,  or- 
denando-lbequelhe  fizesse  fogo.  A  escolta  atírou-o,  como 
o  visse  cahirconvenceu-se  que  o  tinha  assassinado,  en'essa 
persuasão  ficou  o  commaodante  das  armas 

Ribeiro,  ferido  por  duas  balas ,  rctirou-se  para  a  mais 
proiima  fazenda  de  um  amigo  seu,  que  preveniu  a  sua  se- 
gurança chamando  para  alli  for^-as  que  o  puzessem  a  salvo 
de  nova  aggressão  do  seu  cobarde  e  Irairoeiro  adversário. 
Em  presença  de  tão  feroz  attentado,  impossivel  se  lor> 
DOO  essa  missão  conciliadora  do  general  Ribeiro;  dando 
de  m9oaella,  elogo  que  sentin-se  em  estado  de  resistir 
ãs  fadigas  do  campo,  tratou  de  chamar  a  si  as  forças  revo- 
lucionarias, que  prestes  ncudíiam  sabendo  do  ialentado 
assassinato  do  general.  A'  testa  d'essas  forças,  dirigiu-se 
este  para  a  cidade  do  Rio-Fardo,  por  lhe  constar  que  alli 
se  faria  juucção  de  todas  as  tropaíi  do  governo,  destinadas 
ahostilisar  no  interior  dj  provincia  as  forças  contrarias, 
como  insistia  o  commandanto  das  armas. 

(9)  Hevtsta  do  lattiMo  Butorieo  e  Gfogrúpbieo  BrasUeirv, '  vol.  33, 
psg.  541. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


-  t04  — 

Com  ofleito,  o  novo  presidenUi  da  província,  marechal 
Elísiario,  déra-se  iaconsidoradamenle  a  esse  plano ;  e  or- 
gaDJaando  d'essas  Iropas  anna  divisão,  deu  ao  commaDdo 
do  marechal  Barreto. 

Esta  dÍTÍsSo,  com  a  Torça  de  mil  e  duzentas  praças,  divi- 
dida em  daas  brigadas,  ama,  ao  mando  do  brigadeiro  (Lal- 
deroD,  c  outra,  ao  do  coronel  Lisboa,  marchou  por  terra 
para  o  Rio-Pardo,  e  olli  acbou-se  em  20  de  Abri)  de  1838, 
encantoada  nos  subúrbios  da  cidade,  e  parecendo  bem  es- 
paldada  pelo  rincão  d'el-rei,  e  pelo  rio  que  lhe  corre  nas 
abas,  persuadindo-se  o  commandante  da  divisão,  que 
ficava  nssim  guardado  de  qualquer  acommetlimenlo  que 
se  lhe  fizesse ;  sem  se  recordar  que  o  forte  das  manobras 
do  general  Ribeiro  em  frente  do  inimigo  era  a  sorpresa, 
sem  ler  conSan^a  nas  tropas  que  commandava,  disciplina- 
das e  dispostas  a  lodo  o  transe,  para  fazel-assahir  do  re- 
canto da  cidade,  e  collocal-as  em  presença  dos  revolucio- 
nários, que  apenas  continham  metads  das  tropas  do 
governo. 

O  rio  foi  vadeado  ii'uma  noite  pelos  revolucionários,  sem 
que  conir.)  isso  se  premunisse  o  commandanle  da  divisão, 
e  oem  de  tal  desse  fé;  e  na  antemanhã  de  30  de  Abril, 
atravessado  o  rincão,  cahiram  sobre  a  descuidada  divisão, 
que  foi  derrotada  e  posta  em  fuga  para  o  interior  da  ci- 
dade com  niio  pequena  perda  de  fnorlos,  entre  estes  o  co- 
ronel Lisboa,  que  portou-se  com  bravura,  sendo  apprehen- 
dido  bastante  armamento,  munições  de  guerra  e  numerosa 
cavalhada. 

Elloctnado  este  golpe  de  mão,  marchou  o  general  Ri- 
beiro em  direção  ao  rio  Cahy  para  impedir  que  se  unissem 
á  divisão  de  Darrelo  os  reforços  que  partiam  da  capital ;  e 
sabendo  que  no  passo  do  Contrato  d'esse  rio  acbavam-se 
duas  canhoneiras  relidas  á  espera  do  presidente  riisiario.  e 


Dictzedby  Google 


—  466  — 

alguns  officiaes  que  se  retiravam  do  Rio-Pardo.  depois  da 
derrota  da  divisão,  foram  ellas  tomadas  sem  resisteacia,  e 
postas  em  poder  dos  revolucionários.  Ena  seguida  partiu  o 
general  para  o  interior  da  provinda,  visto  que  o  coronel 
Bento  (lonçalves  reapparecdra  á  frente  dos  revolucionários, 
qóe  haviam  assentado  campo  nas  immediações  da  capital,' 
O  reapparecimeDtodo  Bento  Gonçalves  à  testa  da  revolu- 
cSodo  Rio-Grande,  tronxe-lhe  princípios  políticos,  que 
não  eram  consentâneos  com  as  convicções  dos  seus  habitan- 
tes, e  nem  roramaceitos.no  começo  do  movimento.  O  regi- 
men puramente  democrático, em  vez  do  monarcbico  constj- 
tacional  que  se  achava  lirmado  no  BrasiUfoi  aquelle  propa-, 
lado  por  Bento  Gonçalves,  oa  fosse  por  magoado  de  trai- 
ções e  padecimentos  que  soffréra,  cahindo  nos  ferros  do 
poder,  depois  da  batalha  do  Fanfa,  oa  por  promessas  feitas 
aos  que  coadjuvaram  a  sua  evasão  das  prisões  da  Bahia. 

E'  certo  que  a  nova  propaganda  politica  não  podia  dei- 
xar de  ser  bem  acolhida  pelos  qni;  estavam  em  Immediata 
connexão  com  a  origem  de  onde  partira.  Não  podiam  des- 
prezal-a  os  qne  sempre  com  aroia  em  punho,  caminhando 
pertinazmente  na  senda  de  perigosos  comprometttmenlos, 
e  sentindo-se  como  pervertidos  por  ama  idéa  falsa;  e 
assim,  entregaram-se  irreflectidamente  a  ella,  e  deram-se 
a  soslental-a.  Mas,  é  lambem  certo,  que  esta  innovação 
no  systema  politico  adoptado  tão  conscienciosamenle  pela 
província  e  n'ella  robastecido,  incaiida  por  meio  das  armas, 
sã  podia  ser  aceita  por  esses  desavinhos,  que,  não  como 
boment  perdidos,  como  os  chamou  ama  voz  no  senado, 
mas  levados  por  insinuações  erróneas,  tomaram  o  falso 
pelo  verdadeiro.  Seria  como  o  foi,  repudiada  pela  maio- 
ria sizuda  e  illustrada  dos  rio-grandenses. 

O  general  Ribeiro  que  a  repelliu  ímplicitameole,  eaos 

poncos  se  foi  e8CO'ando  da  sua  acção  militante,  embora  só 

TOMO  XXXI.  p.  I.  52 


Dictizedby  Google 


abraçada  pelos  seetanos  da  revolução  qae  estavam  em 
campo,  retiroD-se  do  rio  Cahy,  depois  áa  apresadas  as  duas 
caoboDeiras.jii  seguiu  para  o  interior,  deuegaudo-se  a  rei- 
terados ctiamamentos  que  Ibe  Gzéra  o  chele  da  revoloção, 
e  dispersando  em  Alegrete  mil  e  duzentos  bomeos  de  for- 
ças que  o  acompanhavam,  tendo  antes  repellido  a  segui- 
dos tiroteios  qoe  em  Jnlho  de  1840,  alli  Ibe  fizera  o  coro- 
nel Loureiro  com  oito  centos  bomens  que  commandava, 
emililavaa  favor  do  governo. 

NSo  entendendo  Bento  Gonçalves  que,  com  a  retirada  de 
Ribeiro  e  dispersão  das  forças  que  commandava,  unificava 
isso  renuncia  à  causa  da  revolnção;' e  tanto  mais  porque 
affrontára  elle  os  acommetUmenlos  que  em  Alegrete  Ibe 
fizera  o  coronel  Loureiro,  lembrou-se  de  nomeal-o  com- 
mandante  geral  da  fronteira  da  província. 

Nem  por  isso  o  general  Ribeiro  desistiu  de  suas  convíc- 
CSes.  e  retirando-se  para  o  território  de  Montevideo,  d'alli 
solicitou  amnistia  ao  poder  moderador,  qoe  prompta- 
mente  lh'a  concedeu,  e  seguindo  para  a  corte  a  render  ho- 
menagem ao  imperador,  e  a  manifestar  seu  agradecimento 
por  aquelle  acto  da  munificência  imperial,  ordenon-lbe 
o  governo  que  regressasse  para  a  provinda  e  entrasse  no 
serviço  do  exercito. 

Assim  o  praticou  o  general  Ribeiro,  e  dando-se-lbe  na 
província  o  commando  do  uma  forte  columna  das  tropas 
do  governo,  em  26  de  Maio  de  1843  pAz  em  debandada  junto 
ao  arroio  Poncheverde  as  mais  numerosas  forças  dos  revo- 
lucionários, e  de  modo  que  d'ahi  avante  desistiram  estes 
da  offensiva  na  luta  travada  entre  si  e  as  tropas  do  governo, 
conservando  todavia  as  armas  em  mão,  até  á  amnistia 
geral. 

Como  em  remuneração  d'este  ultimo  feito  d'armas  de 
Bento  Manoel  Ribeiro,  foi  este  promovido  a  marechal  de 


Dictzedby  Google 


—  407  — 

campo,  e  por  achar-se  em  idade  muílo  avançada,  e  alque- 
brado de  tamanho  em  soa  vida  militar,  reformou-se  em 
teneote-geaeral,  em  cujo  posto  dnron  pouco,  terminando 
soa  existência  no  retiro  <la  sua  fazenda.em  Jaráo,  e  no  seio 
de  sua  familia. 

A.  sea  nome  accompaobaráõ  sempre,  pela  proTíacia  de 
S.  Pedro,  recordações  de  gratidão,  e  pela  de  S.  Paolo,  soa 
pátria,  as  de  ufania  e  protfaças. 

Porei  aqoi  remate  a  este  trabalho,  em  que  tive  por 
anico  lim  invocar  reminiscências  por  sobre  esse  velho 
guerreiro,  que  só  deiíou  traços  do  seu  valor  em  combater 
n' esses  campos,  onde  se  levantara  agora  distinctos  gene- 
raes,  que  á  Treate  dos  briosos  e  valentes  pelejadores  río- 
grandenses  saberão  manter  as  tradições  gloriosas  dos  que 
os  precederam,  empeahando-se  em  sustentar  illesa  a  bonra 
da  pátria. 

S.  Paulo,  31  de  Jolho  de  1865. 

J.  J.  Machado  d'Oliveira.  ■ 


FIM   00   TOHU   XXM,    PARTE   I. 


Dictizedby  Google 


Do.icdt,  Google 


índice 


DAS  MATÉRIAS  CONTIDAS  NO  TOMO  XXXI 
PARTE  PRIMEIRA 


PRIMEIRO  TRIMESTBE 


MEMORIA  sobre  O  melhoramento  da  proviocía  de  5.  l>aulo,  ap- 
plicavel  em  grande  parte  ás  províDcias  do  Brasil,  por  António 
Rodríguea  Velloso  de  Oliveira. 

ADVERTENCM 5 

mnoDOcçÃo , 7 

PARTE    PH  IH  EIRA 

Capiluto  l~DescripfÍo   da   capltaoia  de  íi.  Paulo 8 

Capitulo  II  —  circumslancias  próprias  da  parie  marilima.        9 
Capitulo  Elf— Das  propriedades  que  adornam  a  outra  parte 

neutral 10 

Capítulo  IV— Dos  meios  próprios  e  regras  gerses  para  o 

aproveitamento  da  parte  maritfma ià 

Capitulo  V  — D'oulros   objectos  de  semelhante  e  grande 

importância 20 

Capitulo  VI  —Dos  olIJciosque  deve  prestar'©  governo. .   .      28 
Opilulo  V[|— Observação  primeira,  sobre  o  corte  de  ma- 
deiras      30 

i^pilulo  Vll[ — Observação  segunda :  a  cerca  dtis  ancora- 
douros mais  notáveis  e  de  algumas  pro- 
priedades particulares  de  cada  um  dos 
concelhos  d'eala  cosia,  e  entradas  dos  prin- 
cipaes  rios  do  limite  seplentrional  atã  o 

austral 31 

Capitulo  IX — Observação  terceira e  ultima;  sobre  as|ies- 
carías  e  lugares  em  que  mais  convóm  es- 
tabelece rem-se  38 


Dictizedby  Google 


PAflTB    SBGUHOA 

Capitulo  I  —  Do  que  se  deve  presentemente  fazer  nas 

terras  ceutraes  da  capitania  de  S.  Paulo. .      39 

Capitulo  ll~Da  cultura  arbórea  e  cercal A7 

Capitulo  Itl— Das  musas  que  tem  retardado  o  progresso 

da  agricultura  em  s.  Paulo 54 

Capitulo  IV— Das  providencias  necessárias  para  a  defesa 

da  capitania,  tanto  por  mar  como  por  terra.  ^   63 

Capitulo  V— Das  tabricas  e  manufacturas  em  geral 66 

Capitulo  VI  -Das  forjas  e  ferrarias. 68 

Capitulo  VU— Das  fabricas  próprias  dos  lavradores 70 

Capitulo  VIII  Do  commercio  geral  da  capitania 71 

Capitulo  IV— Da  povoação  e  como  se  pdde  ella  introduzir 

de  fora  e  baver  do  próprio  paJE 7tt 

Capitulo  X— Dos  meins  necessários  para  a  execução  dos 

planos  propostos .'     91 

Capitulo  XI— Como  se  deve  regulara  distribuir  a  povoaçfio 

no  Brasil 100 

Capitulo  XII— Da  administra(;ào  publica. t03 

VbERTUíiV  de  coramunicaç.ío  commerc tal  entre  o  dislricto  de 
Cuyabá,  e  a  cidade  do  Pará,  por  meio  da  navegação  dos  rios 
Arinos  e  Tapajós,  emprehendida  era  Setembro  de  181.2  e  rca- 
lísada  em  1613,  pelo  regresso  das  pessoas  que  n'es$a  diligen- 
cia mandou  o  governador  e  capitão-general  da  capitania  de 
Mato-flrosso  (copiado  do  Archivo  publico.) 

DURiO  da  viagem  que  por  ordem  do  Illm.  e  Eim.  Sr.  Joào 
Carlos  Augusto  d'<)eynbausen  Crevemburg,  governador  o 
capjtão^eneral  da  capitania  de  Mato^Grosso,  nomeado 
para  a  do  Pará ,  fizeram  os  capitães  Miguel  JoSo  de 
Castro  e  Thomé  de  Franga,  pelo  rio  Arínos,  no  anno  de 

1812 107 

Resumo  analjtico  dos  lugares  roais  notáveis  nomeados 
no  Diano  supra  e  calculo  de  approximação  da  dis- 
tancia que  pensamos  ter,  desde  o  porto  de  nosso  em- 

l)arque,  até  a  cidade  do  Para 158 

lX)CUMEiNTOS  sobre  a  Colónia  do  Sacramento  ( copiados  do  Ar- 
cliivo   Publico) 161 


Dictzedby  Google 


CÓPIA .   Carla  regia  que  contém  o  pleno   poder  e  ampla  fa- 
culdade para  o  Illm.  e  Eim.    Sr.  marquei;  do  I,avradio 
repellir  e  propulsar  do  seu  próprio  nome  todas  a^  violên- 
cias do  governador  de  Buenos-Ayres,  e  eiecutar  tudo  o 
mais  qne  llie  vai    ordenado  pelas  iastrucções  expedidas  e 
assignadas  peio  Illm.  e  Exm.   Sr.  marquez  de  Pombal. 
Duas  cartas  de  insIríLcçòes  que  contém  o  espirito  da  so- 
bredita caria  regia,  estabelecendo  todo  o  systema 
da  execução  (i'ella,  u  da  defesa  e  restauração  dns  do- 
mínios do  sul :  e  approvando  tudo  o  que  até  agora 
se  tem  determinado 180 

.SEGUNDO  TRIMESTRE 

PERNAMBUCO.  RevoluçíodelSlT.  [ n te rrogatori os  mais  impor- 
tantes dos  réos  (Eitrahidos  ito  Archivo  Publico). 
Perguntas  a  Luiz  Francisco  de  Paula  Cavalcanti  c   Albu- 
querque      213 

PerguDlas  a  João  do  Rego  Dantas 237 

Perguntas  a  Agostinho  Bezerra 253 

'  PergQolaa  a  Basílio  Quaresma  Torreão 2S9 

DOCUMENTOS  sobre  O  Bio-firande  de  S.  Pedro,  Santa  Catharina 
eGotoDia  doSacramcDto,  etc.  (Extrahidos  do  Archivo  Publico) 
Capitulação  daColonia  do  Sacramento — Alguns  artigos,1762.    365 
Accordo  com  Cevallos  sobre  a  lioba  de  limile  dos   dois 

acampamentos 373 

Occurrencias  no  Rio-Crande  depois  da  tomada  da  Colónia 

em  1763 272 

Copia  dei  vando  que  mando  publicar  U.  .loseph  Nieto  impe- 
diendo  el  trato,  comunícacion,  y  negocio  coo  los  portu- 
gueses      27G 

Copia  do  bando  ordenando  que  os  heapanhées  sejam  tratados 
,        comoamigos  vindo  ao  campo  neutral,  e  probibindo  o  tracto 

o  coDunercio  com  os  mesmos  alem  do  dito  campo 378 

.Invasão  da  província  do  Rio-Grande  de  S.  Pedro  pelos  cas- 
telhanos em  1763 280 

Orçamenlo  das  forças  terrestres  e  navaes,  que  verosímil-' 
mente  se  pude  julgar  que  os  castelhanos  lenham  no  Rio 
da  Prata  e  sul  do  Rrasil,  depois  que  ebpgar  a  Ruenos- 


Dictzedby  Google 


\jttt  a  ultima  expediçito  qae  partiu  da  CadiK  no  aez  d« 
Agoeto  d'eele  presente  inno  de  177ú,  e  combinaçSo 
d'«llag  com  as  forças  de  5aa  Hageslade  ii'aquellas  fron- 
teiras     3H 

Resumo  dag  forças  que  se  acham  do  Kio  do  Saneíro,  e  tios 
districlos  de  saa  dependência,  soccorros  e  outras  provi- 
dencias, com  que  Soa  Majestade  tem  mandado  assistir  á 
diU  capitania 3hli 

Cópia  de  uns  paragraplios  de  uma  carta  do  lltm.  e  Eim.  Sr. 
marquez  de  Pombal  de  31  de  Jultio  de  (776,  Sirigida  ao 
tllin.  e  Eim.  Sr.  marquez  vice-rei,  que  coatím  as  ordens 
seguintes  para  eu  executar 347 

Da  relação  da  conquista  de  Colónia,  pelo  Dr.  P,  Pedro  Pe- 
reira Fernandes  de  Mesquita  :escripta  em  Buenos-Ayres 

em  1778. 3511 

BIOGTiAPIKA  dos  brasileiros  illuslres,  por  armas,  leiras,  vir- 
tudes, ele. 

Henrique  Dias,  pelo  cónego  Dr.  J.C.  Fernandes  Pinheiro. .    365 

O  lenente-general  Bento  Manoel  Ribeiro,  pelo  brigadeiro 
losíf  Joaquim  Machado  de  Oliveira 38ã 


TYP.  BK  PII«HF.!RO  &  C,  «l'A  SETF,  I>F.  SETEMBRO  N.  15! 


Dictzedby  Google 


REVISTA  TRIMENSAL 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


REVISTA  TRIHENSAL 

DO 

INSTITUTO  HISTÓRICO 

Geognphieo  e  Elhnographieo  do  Brasil 

FUNDADO  NO  RIO  DE  JANEIBO 

DEBAl^Ul  DA  lUMEDlATA  FR0T£C(;Ã0  D£  3.  U.  1. 

O  Sr.  D.  Pedrt  II 

TOHO  XXXI 


Hoc  fácil,  tit  longot  durent  bene  geila  pir  annoi 
Et  pouint  terá  potteritúte  /rui. 


R,io  DB  jane:ixu> 

B.  L.  ClarHier  —  IJTrelr»  cáUmr 

69    Rua  do  Ouvidor    69 


Dictzedby  Google 


.dbiGoogle 


REVISTA  TRIMENSAL 

DO 

INSTITUTO   HISTÓRICO 

GEOGRAPHICO.  E  ETHNOGBAPHIGO  DO  BRASIL 


3°  TRIMESTRE  DE  1868 


A  ACADEMIA  BRASÍLICA  DOS  ESQUECIDOS 

ESTUDO  HISTÓRICO  B  LITTBRABIO 

Lido  no  Instituto  Histórico  e  Geogiapliico  Brasileiro 

PILO  toao  BFPScnvo 
CONBOO  DOOTOB  J.  C.  FBRNANDES  PINHEIRO 

I  Em  BHaio  d«  81  ds  Haio  de  IBtTi 


«  ODtra  academia  a  havia  piecedido,  da  qual  dos 
guardou  memoria  escríplor  coevo  ( Koeba  Pilla ): 
erigiu-se  ti'esBa  mesma  capital  [  a  cidade  da  Bahia ) 
peK»  annos  de  17SA,  favorecida  pelo  více-rel  Vasco 
Fernandes  César  de  Menezes,  doulissima  sociodade 
mm  o  Ululo  de  Academia  Bratitiea  do»  Esquecidos, 
e  doa  seus  eiercicíoB,  que  tinham  lugar  no  próprio 
palácio  do  governo,  surdiram  inleressantea  proauc- 
ções  ;  por  fatalidade  forasi  pkkdiiias  ihhepara- 
VELHENTE  por  nSo  se  haverem  deixado  cápias  no 
incêndio  da  ndo  Santo  Rosa,  em  a  qual,  a  coIlecçSo 
era  remellida  para  Lisboa,  aPun  de  Imprímir-se.  •> 
[  Buenvolvimento  do  programma  hítht- 

TÍCO  o  o  IBSTITDTO  H1STO:.ICO  e  geogra- 
PHICO  BRASILEIRO,  e'  o  represes  ta  DTE 
DAS  IDÉAS  D*[ L LUSTRA ÇÃ O,  QDE  EK  DIFFE- 
RESTES     EPOCHAS    SE    UAniFESTARAV    EH 

nosso  cOfiTiNEnTE  ■  pelo  Visconde  de 
S.  Leopoldo,   Impretto   tta  revista   tri- 

HEHSAL  DO  IHSTITDTO  (Orno  i,  ».  3.  ) 

Um  coDJuncto  de  circumslancias  a  que  alguém  deiiomi- 
oaria  acaso  e  que  eu  abstenho-me  de  qualiScar  permittiu 
quQ  os  trabalhos  á^Acadmiia  BrasHka  dos  Esquecidos,  que 


Dictzedby  Google 


—  6  — 

o  venerando  primeiro  presidente  do  nosso  iDstiluto  con- 
sidorava  irreparavelmenu  perdidos,  viessem  parar  ás  mtos 
do  mais  humilde  dos  seus  secretários.  Considerando  como 
uma  espécie  de  legado  d'honra  o  proseguir  na  tarefa  ini- 
ciada por  meu  saudoso  tio,  peço  vénia  para  eolretAr  a  vossa 
attenção  com  o  resullado  do  minucioso  estudo  que  úz  dos 
Ires  grossos  volumes  in-folio,  dos  quaes  os  escríptos  dos 
académicos  bahienses  dormiam  o  somno  do  esquecimento. 
l'arte  integrante  da  familia  portugueza,  acompanhava  o 
Brasil  todas  as  oscillações  politicas,  sociaes  e  litterarias,  que 
se  operavam  na  metrópole  ;  assim  pois,  parece-me  acer- 
tado ir  buscar  além  do  Atlântico  a  extremidade  do  fio  ele- 
clríco  que  na  sede  da  colónia  luso-amerícana  vibrava  as 
fibras  da  inlelleclualidade. 


l 


Notam  os  historiadores  que,  uma  como  epidemia  mo- 
ral acommettéra  as  leiras  no  fira  do  século  XVI  e  começo 
do  XVII:  d'essa  epidemia  foram  principalmente  victimas, 
dois  povos  da  raça  latina,  que  n'essa  épocha  caminha- 
vam á  frente  da  civilisação  européa,  em  que  pese  a  seus 
detractores.  Mariní  oa  Itália  6  Gongora  na  Hespanha  eram 
dois  astros  que  arrastaram  em  sua  orbita  crescido  numero 
de  satellites.  Imperava  o  máo  gosto,  que  só  por  aatiphrase 
pâde  ser  chamado  cuUismo. 

Levado  por  sua  eothusiastica  admiração  pelo  dictador 
napolitano,  não  duvidou  Lope  de  Vega  dizer  que  Tasso 
não  fora  mait  do  que  a  aurora  do  sol  de  Marini. 

X  Desde  meiado  do  século  XV  (diz  o  Sr.  Tiknor),  e 
quando  o  conheciíoento  dos  grandes  mestres  d'aDtiguidade 
se  generalisou  entre  os  homens  estudiosos  dos  povos  occi- 
dentaes,  (rabalhou-se  por  formar  e  cultivar  oas  priDCipaos 


Dictizedby  Google 


—  7  — 

noffias  da  Europa  um  estylo  digno  de  laes  modelos.  Alguns 
d'e9ses  esforços  foram  dirigidos  com  acerto  e  sagacidade, 
como  o  prova  a  serie  d^illmtres  poetas  e  prosadores  da 
cbristaadade,  que  chegaram  a  competir  com  os  antigos 
modelos;  oalros  ao  contrario,  afeíados  pelo  pedantismo  e 
falso  bom  gosto,  foram  condemnados  a  perpetuo  olvido ; 
porém  a  epocha  em  que  mais  disparates  se  escreveram,  e 
em  que  a  falia  absoluta  e  discrição  chegou  ao  cumulo,  foi 
pelo  fim  do  século  XVI  e  principio  do  Wll,  período  em 
que  domioaram  em  França  os  intitulados  plêiades,  na 
Inglaterra  os  euphoutas,  e  na  Itália  os  marinistas. 

■  Difãcil  é  determinar  com  exactidão  até  que  ponto  o 
máo  gosto  que  reinava  n'esses  paízes  inlluiu  nas  tendên- 
cias d'igual  espécie  que  se  manifestaram  na  Hespaoha :  é 
provável,  porém,  que  a  litleratura  predilecta  em  Londres  e 
Paris  fosse  pouco  conhecida  em  Madrid  porém  cão  suc- 
cedia  o  mesmo  a  respeito  da  Itália :  quanto  n'ella  se  escre- 
via passava  ím mediatamente  á  Hespanha,  principalmente 
DOS  reinados  de  Philippe  II  e  III  (1  j.  > 

A  influencia  de  Marini,  que  no  dizer  d'um  moderno  es- 
criptor  [2)  foi  talvez  dijpois  d'Ariosto  o  mais  natural  dos 
poetas  italianos,  fez-se  sentir  igualmente  em  França,  onde 
acolhido  pelo  grande  rei  Henrique  IV,  achou  na  sociedade 
de  Menage,  Benresade,  Vaugelas,  Voilure  e  Balzac  fer- 
vorosos admiradores. 

Sobre  a  primordial  causa  ilo  máo  gosto  que  infeccionou 
a  lilteratura  dos  povos  neo-latinos  travou-se  séria  pole- 
mica entre  italianos  e  hespanhóes.  No  seu  Risorgimento 
d'Ilaliane  5lwíi,accusouBettineUiaos  oscriploras  castelha- 
nos, principalmente  a  T.ope  de  Vega  e  Calderon  de  la  Barca, 

(!)  Hutoria  d€  la  liUrafura  espanola,  Iraducida  ai    caslellano  rwr 
D,  Pagcual  UajaDgos  e  D.  tlenrique  Vedía,  lomo  III. 
[2J  Perieos.  Wsloíre  de  (a  tidérature  italiennc,  Paiis,  i8$6. 


Dictizedby  Google 


—  8  - 

dluTerem  corronapido  o  seatimeoio  do  puro  e  tio  balo  qoe 
existia  na  Itália :  e  Tinboschi  na  sua  Sloria  de  la  Littora- 
tura  Italiana,  publicada  eatre  os  aaaos  de  177S  e  1783, 
seguiu  a  mesma  opinião,  cheg&ado  a  attribmr  ao  influxo  do 
clima  hespanhol  a  origeoa  do  máo  gosto  que  corrompera 
a  litterstura  latina,  desde  a  chegada  a  Roma  dosSeoecas, 
tucanos,  Marciaes  e  outros,  até  os  tempos  contemporâ- 
neos, lançando  ás  costas  dos  hespanhóes  os  desatinos  de 
Marinio  sua  escola. 

Ao  libello  italiano  oppuzeram  contrariedade  alguns  je- 
suítas bespanhóes  foragidos,  em  consequência  da  sentença 
contra  elles  fulminada  por  Carlos  III.  D'entre  as  obras  de 
sua  lavra  avantaja-se  oSaggio  Síorico  Apologético  dela  Litte- 
ralura  Spagnuola  devido  á  erudila  penna  de  D.  Francisco 
Xavier  Lampillas,  na  qual,  examinando  uma  por  uma  as 
asserções  de  Tiraboscbi,  reclama  para  a  sua  pátria  a  prio- 
ridade no  cultivo  da  intelligencia,  e  tomando  a  defesa  do 
theatro  hespanbol,  violentamente  aggredido  por  Bettinelli, 
esforça-se  por  demonstrar  o  fastígio  a  que  o  souberam  ele- 
var os  génios  de  Vega,  Calderon,  Cervantes  e  Tirso  de 
Molino. 

u  O  resultado  de  semelhante  contenda  ( pensam  os  Srs. 
Gayangos  e  Vedia )  prova  que,  tanto  na  Hespanba  como 
na  Kalia,  reinou  muito  máo  gosto  titterariO}  e  que  este  máo 
gosto  pAde  de  certo  modo  augmentar-se,  pelas  relações  e 
sympathias  existentes  n'esse  tempo,  entre  ambos  os  povos; 
porém  que  a  nenbum  d'elles  pôde  fazer-se  exclusivamente 
responsável  pela  sua  origem  e  propagação  (3).  > 

Se  intimas  e  continuas  eram  as  relações  entre  a  Itália  e 
a  Hespauha,  ainda  mais  continuas  e  intimas  eram  as  rela- 

(3)  Historia  de  la  LUeraíura  Bspanola  ât  Ticlinoi,  tradacii^  y  ano- 
laáa  por  Gayaogos  c  Vedia,  tomo  IV. 


DictizedbyGoOJ^IC 


_  9  — 

ções  entro  a  Hes|>anha  o  Portugal.  A  identidade  de  origem, 
a  semelhança  de  linguagem  e  o£  entrelaçamentos  das  res- 
pectivas familias  reinantes  contribuiam  poderosamente 
para  esse  amalgama,  que  fez  dizer  ao  illnstre  Garrett  çue 
até  bem  tarde  fl  liUeralura  das  Bespanhas  fora  quasi  toda 
vma  (4).  Obedecendo  ás  leis  da  gravitação,  eram  a  lín- 
gua o  litteratura  portuguezas  sacriBcadas  ao  slemento  hes- 
panbol,  que  como  mais  pujante  o  atlrahia  e  Tascinava.  Se  o 
provençal  foi  por  muito  tempo  consíderadu  como  a  língua 
poética  p^r  eicellencía,  pareceu  lambem  o  castultiano  gozar 
cl'idenlíca  prf-ogalíva  desde  o  século  XV  até  os  fins  do  XVII. 
Crescido  numero  d'escrip(pre$  portuguezes  trocaram  o 
pátrio  idioma  pelo  de  seus  conterrâneos:  Jorge  de  Monle- 
miír  compfiz  em  castelhono  a  sua  Diana  ;  Sá  de  Miranda, 
Gil  Vicente  e  o  próprio  Camões  ambicionaram  os  louros 
d'ambas  as  litteraturas,  ao  passo  que  não  nos  consta  que 
nm  só  aulbor  bespanbol  d'alguma  nomeada  renunciasse  a 
sua  lingua  para  servir-se  da  portugueica.  Verdade  6  que  o 
marquez  de  Saolillaoa  na  sua  celebre  carta  endereçada  ao 
condestavel  de  Portugal,  Titbo  de  D.  Pedro,  duque  de  Coim- 
bra, diz  que  até  o  meiado  do  século  XV  (malesquier  ded- 
dores  e  trovadores  d'eslas  partes,  agora  caateUanos,  anda- 
Itices  ò  de  ta  Estremadura  todas  sus  obras  componian  en 
lingua  gallega,  ò  portuguesa  (5) ;  mas,  sobre  ser  singular 
rísnma  essa  asserção,  accresce  o  acbar-se  ellahoje  contes- 
tada por  pessoa  mui  competente  e  aulorísada.  Nas  suas 
Memorias  lobre  a  poesia  e  poetas  hesparífiôes  (6}  o  doutis- 
simo  Âarmienlo  assim  se  exprime  :  Yo  como  interesado  en 
esta  conclusione,  por  ser  gallega,  quisiera  tener  presentes  los 

{/t)  iDiroducção  ao  Romanceiro,  tomo  11. 

(5)  Vide  a  CulUcção  de  poesias  castelhanas  anteriora  ao  tecuio  AT 
publicadas  por  D.  Tbomaz  ADtonio  Sanches,  tomo  I. 
(6]  Impressas  em  Madiid  no  nono  de  1775,  Iihdo  IV  pag.  196. 
TOMO  XXXI,  1".  II  2 


D,:Hizcdtv  Google 


—  10  — 

fundamentos  que  tuve  el  marques  de  Santillana,  pêro  «n 
nij\gun  autor  de  los  que  ho  visto  xe  kalla  palita  que  pueáe 
eervir  íTo/j/uno  luz .  • 

O  século  XVI  juslamenle  appellidado  <Ios  Medíeis,  gra{;as 
á  generosa  protecruo  prestailn  ds  letras,  sciencins  e  artes 
porLourençoMagniQco,  Leão  \  e  ClemeateVII,  vira  nascer 
ou  prosperar  Macbiavelli,  Ariosto,  os  dois  Tassos,  Bembo 
e  Sannazaro,  brilhantes  lampadários,  cujos  reOexos,  trans- 
pondo os  Alpes  e  os  Pjrenôos,  foram  modificar  o  gosto 
do  Ronsard  e  Marot,  e  fizeram  de  Boscan  e  Garcilaso  devo* 
lados  e  adeptos  da  escola  italiana. 

Persuado-me  que,  para  fructuosamente  estudar  as  li(le- 
raturas  dos  mais  occidentaes  da  Europa,  releva  tomar  a  Itá- 
lia por  centro  das  nossas  investigações.  Alguém  disse  qae  a  * 
Allemanba  ura  o  laboratório  do  eogenbo  humano :  sC-lo-ha 
talvez  hoje,  mas  por  certo  que  o  não  éra  na  epocba  a  que 
me  oslou  referindo. 

Penatrára  em  França  a  lilteralura  italiana,  não  só  em 
víriudo  da  vizinhança,  mas  ainda  em  razão  das  continuas 
guorras  de  Carlos  VIII  e  Francisco  I,  s^uidas  d'n!líanças, 
matrimónios  com  duas  princezas  da  illustre  casa  dos  Me- 
díeis. Foz  amesmalilleratura  triumphal  entrada  na  Hes- 
panhi  na  comitiva  do  grande  capitSo  Gonçalo  de  CordoTa» 
e  no  séquito  ainda  mais  esplendido  do  augusto  neto  de 
Fernando  e  Haximiliano.  Portugal,  porém,  nunca  se  achou 
em  contacto  com  a  Itália;  assim,  pois,  póde-se  dizer  que  & 
sua  litteratura  é  terciária,  para  servir-me  d'uma  expressão 
consagrada  pelos  geólogos.  O  raio  do  sol  dos  Medíeis 
não  illuminava  os  horizontes  portuguezes  senão  perpas- 
sando pelas  veigas  de  Caslella  :  Sá  do  Miranda  era  mais 
discípulo  de  Boscan  e  Garcilaso,  do  que  de  Sannazaro  e 
Guarini;  e  Gil  Viconto,  cuja  originalidade  tanto  preconi- 


DictizedbyGoOJ^IC 


sam  os  seus  illoãlrados  editores  ( 7 ),  segue  pasdo  a  passo 
João  dei  Eaeina,  que  por  sua  vez  se  havia  inspirado  nas 
comedias  de  Bebieoa  e  Arioslo. 

Longe  de  mim  a  intenção  de  desbotar  os  lauréis  que 
ornam  as  nobres  frontes  dos  patriarchas  da  nossa  Ullera-. 
tura ;  mas  n^um  trabalho  como  e3te,peraule  o  auditório  que 
me  faz  a  sabida  honra  d'ouvir  ;  entendo  que,  cumprc-me 
ddoptar  por  norma  de  conducta  o  conselho  de  Sá  de  Mi- 
randa : 

«  Fallaí  cm  tudo  verdades 
<  A  quem  em  tudo  as  deveis.  >< 


Se  nas  ribeiras  do  Arno  achava-so  o  diapasão  que  regu- 
lava a  escala  da  litteratura,  é  lá  que  devemos  ir  procurar 
o  gosto  pelas  palestras  e  academias;  gosto  que  tanto  se 
propagou  o'essa  éra.  Sabido  é  que  que  foi  em  15&0  que 
um  limitado  grupo  de  mancebos,  reunidos  em  casa  do  llo- 
rentino  Mazzualí,  concebeu  e  realizou  o  ponsamoato  de 
constituir  uma  academia  do  letras.  Por  uma  cicentrici- 
dade  inexplicável  adoptaram  o  titulo  de  Huinidos,  adonian- 
do-se  com  os  mais  esdrúxulos  pseudónimos.    Cosme  do 

{7j  Os  Srs.  Biirrelo  Feio  u  .MoDleiro  loinai-am  a  peito  susten- 
tar a  inleira  uríginaiidade  de  Gil  Viceole,  e  confesso  que  consegui- 
ram convencer~rae  de  lai  modo  que  no  meu  Curso  Elemeníar  dt  Litíe- 
ratara  íiaeional,  publicado  em  Pariz  cm  1862,  segui  sem  reserva  a 
wia  opinião.  Hoje,  porém,  am  consequência  d'ulteriorcs  estudos, 
capacitei-me  que  oe  distinctos  pliilologos  portuguezes  foram  u>sto 
pODto  por  demuís  ijilluenciadus  peia  antipatliia  ou  antagonismo,  quo 
infelizmente  ainda  suircxisle  entre  as  suas  nações  co-irmas  da  pijnin- 
sula  ibérica. 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  12  — 

Medíeis,  que  recenlements  sequestrara  as  pátrias  liberda- 
des em  proveito  »eu,  receiou-se  d'esse  pacifico  e  inoffon- 
siro  cODgresso  de  rãs,  eicorpiões,  carpas,  etc.  ( 8 ),  e  apres- 
sou-se  em  dar-lhes  sumptuosa  hospedagem  no  seu  pró- 
prio palácio. 

Caracter  indócil,  espirito  inquieto,  n<ío  tardou  Grazziai, 
mais  conhecido  peloappellido  académico  de  Lasca,  em  se- 
parar-se  dos  seus  confrades,  e  constituir  cora  alguns  pou- 
cos amigos  o  núcleo  d'um  novo  cenáculo,  que,  para  não 
ceder  em  extravagância  ao  seu  emulo,  passou  a  intitu!ar-se 
ácadímiode/ioCruíco  (do  farelo),  tomando  por  emblema 
uma  peneira,  na  qual  se  lia  a  seguinte  dii  isa:  11  pift  bel  fior 
ne  coglie  (d'ella  sabe  a  mais  bella  farinhii  ;  alludindo  ao  es- 
crupuloso exame  quo  tencionavam  fazer  do  vocabulário 
italiano,  ou  antes  toscano. 

Como  a  torrente  que  despenhando-se  da  montanha  abga 
a  planície,  centenares  d'academias  cndn  qual  da  mais  gro- 
tesca denominação,  inundou  a  Itália.  Os  Immoneis,  os 
Gelados,  os  Solitários,  os  Surdos,  os  Insensatos,  os  Ocio- 
sos, etc.,  etc.,  celebravam  suas  sessões  com  todas  as  appa- 
roncias  do  seriedade  ;  o  sobre  os  mais  ridiculos  themas  es- 
creviam maciças  e  pedantescas  disserlaf:Ões. 

Transmiltiu-se  logo  o  gosto  por  ossas  rouniúos  litterarias 
aos  paizes  influenciados  pela  Itália  :  om  l^rança  a  mnrqueza 
da  Rambouillct  abre  sous  salões  aos  homens  de  letras,  e 
o  poderoso  ministro  de  Luiz  XUI,  imitando  o  exemplo  <lo 
Cosme  de  Medicis,  expodo  cartas  patentes  e  rodòa  do  pri- 
vilégios a  modesta  convivência  (i'alguns  eruditos  dados 
ao  estudo  do  pátrio  idioma. 
'  K  propósito  de  palácio   Rambouillut,  podo  ;  justiça  quo 

(8)  Ealcs, c  outros  ninda  mais  ridiciil').=,  fliam  os  iionic:!  .idoplados 

Iielos  acitdemkiis  hniHiiios. 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  13  — 

não  se  confunda  as  duas  divursas  pbases  da  sua  existência. 
Na  primeira  quando  o  seu  accesso  era  ambicionado  como 
ura  titulo  de  saber  e  virtude,  quando  no  dizer  de  Bay\e 
era  elle  um  verdadeiro  templo  da  Itonra,  exerceu  o  pode- 
roso e  esclarecido  patrocínio  das  letras,  e  contribuiu  muito 
para  o  aperfeiçoamento  da  obra  de  Malberbe.  ■  Se  favore- 
ceu cscriptores  medíocres  {pondera  Pellossier),  também 
saudou  os  mais  bellos  génios  da  França,  Corneitle  e  Bosr 
suei:  e  admirou  e  fez  admirar  a  obra  prima  de  Descartes, 
esse  ditcarso  sobre  o  melhado,  considerado  como  o  pri- 
meiro modelo  da  prosa  philosophica.  (9)  >  Não  poderam, 
porém,  escapar  os  saráos  da  marqueza  de  Kambouíllet  da 
dura  lei  da  decadência  e  degeneração  a  que  parecem  vo- 
tadas todas  as  creações  humanas.  O  amor  da  novidade  des- 
virtuou com  o  lapso  do  tempo  tão  úteis  reuniões :  importava 
fornecer  cada  noite  novo  alimento  á  indefessa  actividade 
dos  espíritos :  foi  então  que  chegou  a  epocha  dos  rondòs, 
fonelos,  madrigaes,  acrósticos,  anofframmas,  etc,,  etc.  = 
foi  enlão  que  Balzac  e  Voilure  disputaram  gravemente  si 
so  dev6ra  dizer  muscadin,  ou  murcadin.  \  essa  se- 
gunda phaso  dos  saráos  do  palácio  RambouílLet  foi  que 
Molièro  tão  espirituosamente  fuslÍi;ou  nas  suas  Precieuses 
Bedicules. 

Sáfaro  mosirou-se  sempre  o  solo  hespanbol  para  a  tenra 
planta  académica.  A  politica  suspeitosa  dos  seus  reis,  a 
minaci!  vigilância  do  tenebroso  tribunal  da  inquisição, 
aconselhava  aos  homens  de  letras  o  isolamento  como  me- 
dida de  prudência.  Quando,  porém,  o  espirito  francoz  fran- 
queou os  Pyrenôos  com  Philippa  V  viu-se  logo  surgir  a 
AcadeTnia  líespanhola,  gizada  pela  Francesa,  e  como  osta 

(9)  La  Laiujitc  Frniiçiiisc  '/-'uís  sm  -inijinc  jasqut  u ms  joars ■ 
Paru,  1866. 


Dictizedby  Google 


-  14  ^ 

incambida  da  grandiosa  fabrica  do  dioGÍooario  da  Ungua 
vernácula. 

Fraco  restigío  das  academias  italianas  descobre-se  na 
dos  Noclumot,  de  que  foi  alma  o  famoso  dramatuiigo  Guillen 
de  Caslio ;  oa  dos  Desconfiados,  que  por  muito»  bodos 
floresceu  em  Barcellona ;  e  na  do  Bom  Goslo,  estabeleãda 
pela  condessa  de  Lomus,  pallido  e  froxo  reflexo  das  orudi- 
tas  coDÍeroDcias  do  palácio  Rambouillet. 

m 

Karamente  vcoios  a  iadepeudencia  politica  das  uações 
eorresponder  á  sua  emaocipatão  lideraria :  assim  Portu- 
gal despedaçando  tão  heroicamente  os  grilhões  que  lhe 
roxeavam  os  pulsos  continuou  a  reconhecer  por  mais 
d^um  século  a  hegemonia  intellectual  da  sua  antiga  me- 
trópole. 

•  O  veneno  de  Ijongora  e  Marini  (diz  o  Sr.  Rebello  da 
Silva)  ÍDSÍnuava-se  por  todos  os  poros,  e  corrompia  até  as 
compleições  mais  robustas.  Usavam  d^aquellas  excrescên- 
cias no  es^lo,  como  os  signaes,  os  donaires  o  riçados 
altos  se  trajavam  nosatavios  cortezios,  desfigurando  a  pby- 
siODomia  e  as  mais  esbeltas  proporções. 

«  O  que  nSo  linha  tesaibos  d'artificio.  uma  tinta  violeta 
e  afogueada,  desprezava-se  como  inferior  á  fama  do  es- 
criptor ;  e  por  isso  n'aquelte  século  propenso  ás  agudezas  e 
argucias  de  tbeses  e  argumentos  nebulosos,  intrincados  e 
e  sopbislas,  ninguém  se  eximiu  inteiramente  do  con- 
tagio {10}.  . 

Postos  de  parle  os  modelos  das  liUeraturas  grega  c  latina, 

(10)  Memoria  sobre  u  Arvadia  l'oitugticza,iBipressi  no  lomo  rdos 
Annaet  da»  Seiemias  e  Letras. 


Dictizedby  Google 


—  19  — 

esquecidos  ou  desprezados  os  exemplares  dos  seus  felizes 
imitadores  do  renascimento,  considerava-se  como  requinte 
do  bom  gosto  03  metros  ocos  e  empolados  como  as  bexigas 
assopradas  e  os  cascavéis  do  palhaço  de  Ceroantet,  para  apro- 
priar-me  das  felizes  expressões  do  já  citado  Sr.  Uebello 
da  Silva. 

Parodiando  as  memoráveis  palavras  de  S.  Remigio  ao 
guerreira  Clóvis,  queimavam  nossos  avós  tudo  o  que  haviam 
adorado,  e  adoravam  tudo  o  que  haviam  queimado.  A  Ulyi- 
aéa  de  Gabriel  Pereira  do  Castro  e  o  Affonso  de  Quevedo 
Castello  Branco  lhes  pareciam  infinitamente  superiores  á 
■monumental  epopéa  de  Luiz  de  CamõeS,  não  faltando  ató 
quem  antepuzesse  as  soporíferas  rimas  de  Soror  Violante 
do  Céo  ás  maviosas  éclogas  c  ingénuos  villancetes  do 
saudoso  Bernardim  Ribeiro. 

Semelhante  aos  lichens  que  cobrem  os  rochedos,  ou 
se  enroscam  nos  anaosos  troncos  das  arvores,  numerosas 
academias  pullularam  no  charco  do  seiscentismo  lusitano. 
Referiodo-se  a  essa  vegetação  parasílica  escrevia  o  inspirado 
autor  da  D.  Branca  e  Frei  Luiz  de  Sousa :  n  Tudo  o  mais 
é  corrompido  pelo  máo  gosto  dos  cultos,  que,  arregimen- 
tados em  uma  infinidade  d^academias  dos  nomes  mais 
extravagantes  e  incriveís.  conseguem  tirar  toda  a  cdr  á 
litteratura  portugueza  de  lodos  os  géneros  e  fazer  da 
língua  uma  algaravia  afTecEada  e  ridícula.  vS  de  toda  a 
expressão,  assoprada  em  phrases  Ião  descommunaes,  em 
conceitos  (áo  dcos  que  nenhum  sentido  se  lhes  achn, 
si  algum  tiveram  os  que  tâo  absurdas  cousas  escro- 
veram  (11).  • 

Kem  parecerá  demasiada  a  severidade  do  íltustre  emulo 

[llj  Garrett— lotroducção  ao  RomnnWiv,  tomo  ti. 


Dictzedby  Google 


—  le- 
de Hanznni  e  Saavedra  (12)  a  quem  se  recordar  quo  essas 
academias  ■  renascendo  umas  das  oulras,  esgotaram  o  ridí- 
culo com  zelo  deplorável  na  preferencia  dos  assumptos, 
e  apuravam-DO  atém  d'isto  na  tu^idez  dos  vocábulos  e  no 
empolado  das  imagens  (13).  » 

Deixando  á  margem  crescido  numero  d'associaçòes  d'essc 
quilate  que  desde  a  restauração  de  1640  se  formaram  em 
Lisboa  e  varias  outras  cidades  e  villas  de  Portugal,  apenas 
farei  menção  das  que  mais  caracleristicás  me  pareceram. 

Uma.das  mais  vivazes  foi  por  certo  a  dos  Generosos, 
hospedada  pelo  Irincbanlc-múr  D.  Lfiiz  da  Cunha  e  lendo 
por  secretario  o  conde  de  Villa-Maior.  Grandes  gabos  gran- 
geou  ella  dos  contemporâneos,  gabos  que  não  foram  con- 
firmados pela  ingrata  posteridade. 

O  condo  da  Kriceira  (D.  Francisco  Xavier  de  Henozes), 
um  dos  mais  conspícuos  varões  que  n'essa  cpocha  hon- 
ravam as  letras  portuguezas,  franqueou  a  sua  livraria  a  uma 
reunião  de  doutos  que  ontretinham-se  na  solução  d'a!guns 
problemas  scientíficos  e  litterarios.  Estas  conferencias,  que 
tomaram  o  nome  de  Discretas,  foram  frequentadas  pela  flOr 
da  nobreza,  nascendo  mui  provavelmente  cm  seu  grémio  o 
pensamento  gerador  do  Vocabulário,  que  mais  tarde  levou  . 
avante  a  infatigável  erudição  do  D.  Itaphaot  Bluteau. 

A  Academia  dos  Singulares,  fundada  por  Pedro  Duarte 
Ferrão,  inquisidor-mór,  levou  as  lampas  ds  suas  concur- 
rentes,  c  parece  ter  sido  ella  que  servira  de  norma  á 
Brasílica  dos  Esqiiecidos,  que  forma  o  assumpto  d'esle 
mesquinho  trabalho.   Haviam  os  Singulares  tomado  por 

(13)  Angel  de  Saavedra,  duque  de  Rívas,  introdiiclor  do  romaniisroo 
na  tlespaDlia,  assim  como  Manxoni  e  Victor  Itngo  o  hnviíim  sido  nn 
llalia  e  cniFran;a. 

(13]  O  Sr  nelwIlD  da  Silva  loco  cilalo. 


Dictzedby  Google 


empreu  uma  pyramide,  na  qual  TiaUi-se  ínscrjptos  âa  base 
ao  Tertice  os  nomes  d^Homero,  Aristóteles,  Vii^lio,  Qtidio; 
Camões,  Garsilaso,  Gongora  e  Lope  de  Vega,  com  A  se^uJDte 
modestíssima  leira :  Solaque  non  possunt  hae  monumento 
mori.  Aberta  a  sessno  com  um  discurso  do  presidente, 
segaia-se  a  leitura  de  poesias,  nas  quaes  os  sócios  mimo- 
seavam-no  com  paradoxaes  encómios,  passando-se  depois 
ao  que  hoje  qualifícariamos  d'ordem  do  dia. 

Na  mui  luminosa  Hemoria  do  Sr.  Behello  da  Silva,  por 
mim  tantas  vezes  citada,  e  que  de  tanto  me  serviu  para 
a  traça  d'esle  Estudo,  lém-se  alguns  dos  themas  qna  maio' 
res  applausos  mereceram  da  doutíssima  assembléa.  Ora  em 
o  d'uma  dama  que  trazendo  ao  peito  um  Cupido,  lhe  esta- 
lou etleaos  raios  do  sol;  ora  era  o  d'oulra  (Jama  que,  tendo 
bons  olhos  nenktun  deníe  conservava. 

Os  Instantâneos,  os  Solitários,  os  lUustrados,  os  Oc- 
cxêUos,  os  Humildes  elgnoranUa,  os  Insignes,  os  (^sequio- 
so», e  os  Anonymos,  verdadeira  prolis  velucrutn  d'Ovidio, 
nasciam  e  morriam  n'aquella  doce  pax  que,  segundo  o  chis- 
toso Diniz,  reinava  na  igreja  dElvas. 

Atravessemos  agora  o  Atlântico  e  vamos  assistir  ás  confe-' 
rencias  d'Ãeadtmia  Brasílica  dos  Esquecidos. 

(V 

Vasco  Fernsodes  César  de  Menezes  (depois  coode  de 
Sabugosa),  que  governava  o  Brasil  na  cataria  de  vice-rei, 
cedendo  a  esse  poderoso  influxo,  a  essa  espécie  de  corrente 
eléctrica  que,  á  espaços,  atravessa  os  séculos,  planejou  a 
fundação  d'uma  academia,  vasada  no  molde  das  dos  Gene- 
rosos e  Singulares,  que  pareciam  haver  altingido  ao  ideal 
da  perfectibilidade. 

O  eloquente  historiador  A' America  Porhtguesa,  e  um 
TOMO  XIXI,  P.  II         '  8 


Dictzedby  Google 


—  le- 
dos príncipaes  luzeiros  d' essa  aiuidemia,  dando  coota  da 
sua  fuodaçio  assim  s'eipressA:  «  A  nossa  Portugueza 
America  (e  príacipalmeate  a  proriocia  da  Bahia),  qae  na 
producção  dViigenhosos  filhos  pôde  compelir  cora  Itália  e 
Grécia,  nSo  se  achava  com  academias  iotroduzidas  em  todas 
as  republicas  bem  ordenadas  para  apartarem  a  idade  juvenil 
do  ócio  contrario  das  virtudes  e  origem  de  todos  os  ví- 
cios, e  apurarem  a  subtileza  dos  engenhos.  Não  permiltíu 
o  vic«-rei  que  faltasse  no  Brasil  esla  pedra  de  toque  ao 
inestimável  ouro  dos  seus  talentos  de  mais  quilates  do  que 
os  das  minas.  Erigiu  uma  doutíssima  academia,  que  se  faz 
em  palácio  na  sua  presença.  Deram-lhe  f<^rma  as  pessoas 
de  maior  graduação  e  entendimento  que  se  achavam  na 
Bahia  lomando-o  por  seu  protector.  Tém  presidido  D'eU3 
eruditíssimos  sujeitos.  Houve  graves  e  discretos  assum- 
ptos, aos  quaes  se  fizeram  elegantes  e  agudissimos  versos; 
e  vai  continuando  dos  seus  progressos,  esperando  que  com 
tão  grande  protecção  se  dém  ao  prelo  os  seus  escríptos  em 
premio  das  suas  fadigas  (14).  ■ 

Indino-me  a  crer  que  será  agradável  ao  Instituto  ouvir 
a  leitura  do  auto  de  oascímeato  da  primeira  associação 
iitleraria  que,  com  caracter  semi-oSicíal,  existiu  na  nossa 
terra  D'uma  quadra  geralmente  considerada  como  da  mais 
crassa  ignorância :    • 

,  ■  O  Exm.  Sr.  Tasco  Fern'andes  César  de  Menezes,  in- 
comparável vice-rei  do  Estado  do  Brasil,  qua  no  seu 
inclylo  nome  traz  vinculada  com  a  profissio  d'illustrar 
as  armas  a  propensão  d'honrar  as  letras,  para  dar  a 
conhecer  os  talentos  qne  n'esta  província  florescem,  e  por 
falta  d'exercicío  litterario   estavam  como  desconhecidos, 

(IZi)  Isto  escrevia  Rocha  Pitta  em  173Z|,  anDoem  que  finalisou  a  sua 
flistoría  da  America  Pwtugiitza,  impres^i  em  I.Isboa  era  1730, 


Dictzedby  Google 


detormíaou  inslituir  uma  academio,  a  cujo  fim  fez  chamar 
por  cartas  circularas  as  pessoas  seguintes :  o  reverendo 
padre  Gonçalo  Soares  da  França;  o  desembargador  Caetano 
de  Brito  e  Figueiredo,  chanceller  d'este  Estado;  o  desem- 
bargador Luiz  de  Siqueira  da  (íaina,  ouvidor-geral  do  eivei ; 
u  doutor  Ignacio  Barbosa  Machado,  juíz  de  fora  d'esta 
cidade ;  u  coronel  Sebastião  da  Rocha  Pitta ;  o  capitão  João 
de  Brito  Lima;  e  José  da  Cunha  Cardoso;  aos  quaes  na 
tarde  de  sete  de  Março  de  mil  seleeeolos  e  vinte  e  quatro 
communicou  a  vontade  com  que  se  achava  d'engir  e' esta- 
belecer a  academia,  cuja  resolução  abraçaram  uniformes 
03  sete  convocados,  como  filha  de  tão  excollente  e  generoso 
espirito ;  e  com  o  seu  beneplácito  escolheram  por  empreza 
o  sol  com  esta  tetra:  — sol  orieru  in  oceiduo — ,  assea- 
taudo  entre  si  com  louvável  modéstia  intítularem-se— 
Oi  Estptecidot. 

•  Tomaram  por  matéria  geral  dos  seus  estudos  a  historia 
brasílica,  dividida  em  quatro  parles:  a  natural,  que  cotre 
por  conta  do  já  mencionado  chanceller;  a  militar,  que 
se  encarregou  ao  dito  juiz  de  fora  ;  a  ecciesiastíca,  cujo  em- 
prego se  deu  ao  reverendo' Gonçalo  Soares  da  França;  e  a 
politica,  cuja  incumbência  cahia  em  sorte  ao  ouvidor-geral 
do  eivei. 

f  Qos  sete  académicos  pirncípaes,  o  primeiro  se  denomi- 
nou com  o  titulo  d'Obsequioso,  o  chanceller  tomou  o  co- 
gnome de  Niibiloso,  o  ouvidor  do  cível  il'Occupado,  o  juiz 
de  tora  de  Laborioso,  o  coronel  de  Vago,  o  capitão  d'/n/«- 
ííz  e  o  ultimo  du  Venturoso.  A  este  nomeou  o  Ex.  Sr.  vice- 
rei  e  protector  d'academia  por  secretario,  para  orar  na 
primeira  conferencia,  que  se  determinou  fosse  na  tarde 
■le  vinte  e  três  d^Abríl  dia  oitavo  depois  da  páscoa  do  anno 
já  referido. 

t  Xssenlou-se  que  as  expedições  académicas  se  Szes- 


DictzedbyGoOgk 


—  20  — 

sem  em  palácio,  reitanodo-se  de  quinze  em  qnioze  dias, 

e  allaroaado-se  os  quatro  mestres  de  dois  em  dois 
em  reciproca  successão,  dando-se  priacipio  a  cada  um 
d^aquelles  actos  com  uma  oraç&o  ou  discurso,  f^ue  leri  o 
presidente  uomeado  por  seu  antecessor,  com  beneptacito 
do  eicelleatissimo  fundador  d'academia  ficando  a  cada 
am  dos  presidentes  a  eleição  livre  da  matéria,  acção,  ques- 
tão ou  probl«ma  sobre  que  quizerem  discorrer. 

«  Picou  por  estatuto  que,  em  obsequio  dos  engenhos 
poeUcos,  se  dariam  pars  todas  as  conferencias  dois  argu- 
mentos ou  assumptos,  um  beroico,  outro  lyrico;  e  as  poe- 
sias a  eiles  feitas  lerá  o  secretario  o  dito  José  da  Cunba 
Cardoso  ( depois  de  recitadas  as  prosas  do  presidente  e 
mestres),  admittindo-se  também  poemas  anonymos. 

■  Não  parecjBU  bem  se  dessem  especiaes  assumptos 
poéticos  para  a  confereucia  do  primeiro  dia;  porque  toda 
ella  se  reputou  por  breve  para  os  merecidos  encómios  do 
nosso  augustissimo  protector,  e  da  sempre  heróica  e  feli- 
cissjma  creação  da  nova  academia,  em  cujo  nome  se  or- 
denou ao  secretario  chamasse  e  convidasse  a  muitos,  par- 
ticularmente a  pessoas  de  distineçào,  o  que  elle  observou 
por  cartas;  escrevendo  também  um  papel,  que  os  curiosos 
podiam  tomar  como  cartel  de  desafio  para  certames  littera- 
rios.   • 

tnteiradosdo  programma  d^acaderaia,  justo  é  que  eiami- 
nemos  o  modo  por  que  deu  ella  execução  a  esse  programma, 
suggerido  pelo  vice-rei,  antes  Augusto  do  que  Mecenas, 
d'esse  novo  século  áureo  que  nas  plagas  de  Cabral  devera 
SDi^ir. 

No  códice  que  diligentemente  manuseei  nenhuma  allu- 
sSo  se  faz  a  essas  prelecções  históricas,  que  os  meitret  eram 
obrigados  a  recitar  em  seguida  da  oração  presidencial,  ou 
ficaram  cm  especlaljva  como  muitas  vezes  acontece,  ou  pela 


Dictzedby  Google 


-  21  — 

sufl  importflncia  e  volume  rormariam  separada  collec^âo, 
que  nâo  logramos  a  ventura  de  conhecer. 
,  Conforme  se  bavia  assentado,  não  passou  B  primeira 
conferencia  d'um  laus-psrenneem  honra  dovice-rei.  Coabe 
primeiro  a  palavra  ao  secretario,  que  n'um  discurso  de  ge- 
Dero  apparatoso  snblimou-se  ás  grimpas  do  gongorismo. 
Como  specimen  da  sua  facúndia,  citarei  o  seguinte  paro- 
grapho  relativo  i  fundação  d^academia: 

«  No  dia  sétimo  de  Março,  que  mysieriosa  e  nào  casunl- 
meote  foi  em  terça-foira,  em  congresso  feito  por  ordem 
superior,  do  primeiro  movei  d'este  céo  académico,  so  nos 
participou  a  noticia  de  táo  alto  pensamento,  e,  como  se  o 
pfopÔF  fAra  convencer,  menos  )empo  levou  a  obedíenúa 
que  a  proposta  com  que  logo  os  Protogenes  e  Appelles 
doeste  vistoso  quadro  delinearam  a  perigraphe  da  pintura, 
reservando  o  dia  de  hoje  para  a  ostentação  da  primeira 
scena.  Não  sei  se  reparais  nas  circumstancias.  O  erector 
d^Academia,  sol  de  todas  as  luzes,  a  empreza  dos  académi- 
cos sol,  a  letra  da  empreza  Sol  oriensin  occidtio,  o  dia  de 
hoje  domiogo  consagrado  ao  sol,  e  o  dia  setímo  de  Março, 
dia  muitas  vezes  solar  ;  pois  entre  outras  testemunhas  do 
seu  luzimento  é  dedicado  ao  mesmo  Apollo,  como  eram 
lodos  os  dias  sétimos  de  cada  mez;  mas  é  principal- 
mente o  dia  do  príncipe  dos  theologos,  acciamado  oo 
mundo  por  verdadeiro  sol  das  escolas,  santo  Thomaz  de 
Aquino.   > 

O  sol,  como  muito  bem  disse  Verney  (IS),  era  o  maior 
se  Dão  o  único  insi)irador  dos  marinistas  e  gongorislas,  e 
poF  isso  que  rica  mina  nâo  encontraram  elles  na  empreza 
tomada  pelos  académicos  eaq^iecidos^ 

Í151  L.  A    Vprncy    Verdadeiro  neíhodo  d't>íitdar.  Carta  Xir,  parle 


Dictzedby  Google 


Já  vinaos  os  concertos  e  trocadilhos  que  ministrou  ello 
ao  douto  secretario  ;  vejamos  «gora  como  nm  'dos  pri- 
meiros engenhos  poéticos  d' esse  tempo  (António  Cardoso  da 
Fonseca)  esgrimia  em  torno  do  aslro  rei  no  s^uinte  soneto: 

«  Diz  boje  a  vossos  pes  um  prulendcnie 

■  que  por  ler  nit  Babia  o  nascinieiito 

n  vem  lá  il'ondc  habila  o  esqueciíoenlo 

■  buscar  a  luz  que  jaz  cá  do  Occfdenle 

*  Porque,  vós  como  sol,  que  d'OrieDte 

■  ao  occaso  passastes  a  dar-tbe  augmento 
a  dos  rajos  que  produz  voeso  talento 

■  nm  novo  sol  geraes  no  contiDenle. 

•  E  pon]ue  ao  Museu  vim  Bupplicanle 

■  tomar  o  mesnoo  sol  por  sua  emjtt^za 

»  p«de  a  voeaa  eicellencia  aqui  Teioanle 
H  lhe  admiiu  a  esle  Museu  sua  nideu 

■  pois  ee  Pbebo  llie  dá  força  d'Attuite 

■  as  luzes  llie  dará  voasa  grandeza  (16).  ■> 

Também  foi  a  musa  latina  chamada  a  esse  torneio;  c 
ontre  as  numeroitas  producções  que  ahi  se  leram  apreciei 
pela  sua  concisão  e  simplicidade  o  seguinte  eplgraminii, 
devido  a  um  religioso  franciscano,  occulto  no  rebuço  do 
anonymo : 

«  Tu  pugnat,  fortis,  doclua,  lucuadue  elberos; 
«  Sed  sal  erat  solum  dicere  Coraar  ades.  b 

Escolhido  para  presidir  a  segunda  conferencia  celebrada 
aos  sete  de  Maio,  recitou  Rocha  Pitta  umas  das  mais  bellss 

(16)  Ct>n».TVci  a  orthograpbia  do  original  para  mostrar  a  regra  que. 
preconisada  pelo  Sr.  A.  F.  de  Gastilbo,  que  manda  escrevei  com  letras 
minúsculas  o  come^  dos  versos  que  não  rorcm  precedidos  de  poato 
(jnal ;  ji  tia  roubecida  e  executada  pelos  poetas  do  século  passado,  qie 
haviam-na  lom;ido  dos  hespinbóes- 


D,:„i,;cdtv  Google 


ora{õ6s  de  quantas  encontrei  aa  colleocão  de  que  me  tentio 
servido.  E'  geralmente  conhecido 

■ o  som  alio  e  nMímado 

■  O  eslyto  grim^toquo  e  eorrenU  (17).  » 

com  que  sabia  exprimir-se  o  dosío  illustrado  compatriota. 
'  Pagando  tributo  ao  máo  gosto  conttímporaneo,  sabia,  como 
o.  exímio  padre  A.  Vieira,  sobreelevar-se-lbe  na  pujança  de 
seabelto  e  mui  cultivado  talento. 

Penso  não  andar  muito  errado  considerando  como  dus. 
mais  felizes  trados  deloquencia  o  seguinte  quadro,  que  da 
utilidade  da  religião  esboçou  o  académico  Vago  : 

(  E'  a  religiio  a  maior  prerogaliva  dos  mortaes,  a  mais 
firme  columna  djs  monaruhias.  Os  gunlíos,  posto  que  er- 
raram tanto  no  emprego  da  verdadeira  íé,  se  empenharam 
de  forma  no  culto  da  cuja  idolatria, que  nenhuma  cousa  an- 
tepunham á  adoração  de  suas  deidades  :  os  tbesouros  que 
Enéas'salvou  da  abrazada  Troya  foram  os  deoses  penates 
que  levou  é  Itália  :  IHuma  a  deo^a  Egeria  fez  protectora  do 
reino  de  Roma  ;  Lycurgo  debaixo  do  patrocínio  de  Apollo 
deu  leis  aos  lacedemonios,  Caronda  a  Carthago  no  amparo 
de  Saturno  ;  Minos  e  Creta  no  auxílio  de  Júpiter  ;  Solou 
a  Athenas  no  favor  de  Minerva  ;  e  ao  Egyplo  Thismegisto 
na  sombra  de  Mercúrio  :  os  cônsules  e  senadores  romanos 
nào  entravam  na  conferencia  dos  negócios  sem  primeiro 
invocarem  os  ídolos. 

«  Os  gregos  attribuiam  as  suas  fortunas  á  grande  reli- 
gião de  Alexandre;  como  os  carthaginezes  as  suas  desgra. 
ças  á  pouca  fé  de  Aonibal :  este  tão  perjuro  que  faltava 
quasi  sempre  aos  juramentos  que  fazia  petos  seus  deoses, 
e  aquelle  tão  pio  que  até  ao  Deus  que  tinha  pOr  estranho 

(17}  Camões—  Lwiaia*—  Canto  1,  verso  U. 


Dictizedby  Google 


rendia  ailorações,  como  o  mostrou  tomando  o  reino  Aè 
imléa,  pois  vendo  diante  da  m  com  as  vestes  ponlificaes 
^o  pontífice  iaddose  lhe  prostrou  por  torra,  e  mostrando- 
Ibea  prophecia  de  Daniel  em  que  se  Lbe  promettia  o  domí- 
DÍo  do  mundo,  os  livrou  dos  tributos  e  santilicou  a  Deus  oo 
templo.  Entre  os  mesmos  gentios  até  aquelles  que  negaram 
a  immorlat idade  d'alma,  disseram  que  era  a  religião  uma 
mentira. necessária  e  utíl  ao  bom  governo  das  republicas  e 
a  conservação  dos  impérios,  i 

Tomado  para  assumpto  lírico  d'essa  conferencia  o  alam- 
bicado problema  —  Quem  mostrou  amar  mais  fielmente 
Ctyàe  ao  sol,  ou  Endymião  a  lua  ?  —  Entraram  em  liça, 
arfaiados  de  ponto  em  branco,  os  cavalleíros  de  Apollo,  que 
n'um  chorrílbo  de  banalidades  deixaram  submergido  o 
amoroso  lemma.  Encontre,  porém,  remissão  no  tribunal  do 
bom  senso  a  silva  de  José  d'Oliveira  Serpa,  onde  se  encon- 
tra esta  jocosa  pintura  d'um  namorado  da  lua  : 

•I  Já  la  vejo  um  rapaz  ao  eco  ollianilu 

•I  Um  pastoril  cajado  descansando, 

■  Será  lindo  poeta 

■  Quando  a  lua  coolempU  em  viala  rerla 

»  E  lerá  por  empreza 
«  Deacrever-lhe  a  iuconataucia  e  a  ligeireza, 
n  Mas  si  mira  e  remira  tSo  pasmado 

1  fierd  poela  aluado ; 

■  I>orque  ouvi  dizer  sempre'  ao  vulgo  louco 

■  Que  de  poela  a  doudo  vai  mui  pouco.  •• 

João  de  Brito  Lima,  capitão  do  terço  auiiliar  de  orde- 
nanças e  que  o  Sr.  Vamhagen  (18)  nas  apresenta  como 
grande  magnata  dos  outeiros  bahienses^  tomou  a  fortuna 
para  tbema  da  oração  com  que  se  abriu  a  terceira  confe- 
rencia. Menos  florido  do  que  o  sou  antecessor,  é  todavia 

(18)  Florilégio  da  Pouia  Bnuiitíra,  lomo  I. 


tvCqoj^lc 


sentooekMO,  eoneeto  •  Samte  o  seu  estjlo  :  do  que  piàa 
servir  de  prova  o  segointe  passo  à»  supra  meBCÍODada 
onçBO  : 

«  fíQl*<se  a  fortuna  mulhar,  com  aias,  udh  roda  em 
uaia  mio  e  oa  outra  um  vaso  cheio  de  riquezas,  eega  de 
ambos  os  olbos.ou  com  elles  lapados.Pois  como  cega  distrí- 
bae  os  prémios  com  os  indignos  que  devia  dar  ao6  bene- 
merilos,mostrando  nas  azas  ligeireza  com  que  apenas  a  vám 
quando  desapparece,  se  a  nio  tém  pelos  cabellos  como  a 
occasião.  A  roda  Ibe  serve  de  bieroglypbo  dos  que  sobe  ao 
maior  auge  para  despenhar  no  mais  profundo  abysmo.  Fi- 
nalmente vária  como  mulber,e  inconstante  como  a  mesma 
fortuna.  Outros  a  pintaram  de  outras  sortes  que  omitto  re- 
feril-BS,  por  não  fazer  ao  caso.  E'  tão  poderosa  esta  falsa 
deidade  que  não  ha  monarcbia,  reino,  província,  cidade, 
monarchas,  reis,  príncipes,  grandes  e  pequenos,  e  até  a 
mesma  formosura,  que  não  estejam  debaixo  do  seu  impé- 
rio; ao  mesmo  tempo  abatendo  uns  e  exaltando  outros.  ■ 

Dado  o  signal  arrojaram-se  na  estacada  esforçados  pala- 
dinos, que  no  appellido  do  pre»dente  descobriram  fértil 
manancial  para  as  suas  enredadas  trovas,  ou  ínsulsos  tro- 
cadilhos. 

Pant  exemplo  d' estes  últimos  copiarei  um  ^igramma  de 
Loizde  Camello  Noronha,  que  passava  por  grande  sabedor 
da  língua  de  VirgUio  e  Horácio  : 

■  Néscio  si  ferrnin,  si  fraclus.  Lima  vocaris, 

■  Nam  Dt  femim  penetras,  Inclus  ut  iode  sapís; 

■  SI  sapú  n(  fructos  cítm  síb  penetrabilem  ferrum, 
«  Et  saptB  et  peoetras,  tu  sapis  atque  sapis.  > 

O  assumpto  lyrico  d*essa  conferencia  foi  o  seguinte  :  — 
Uma  dama  quesmdo  formosa  nãofallavapor-não  mottrar 
a  falta  çue  linha  de  dentes.  —  Mui  apropriado  era  esse 

TOMO  XXXI,    P.    II  l 


Dictzedby  Google 


motte  para  dispertar  os  engeniios  curiosos  dos  acidemícos 
e  uma  alluvião  de  sonetos,  decima3,romaaces,silTas,  laby- 
rÍDtbos,  etc,  e(c,  ianuadou  o  valle  da  Tempe  batiienae.  En- 
tre as  poesias  ahí  recitadas  achamos  bastante  espirituso  o 
seguinte  soneto  de  Rocha  Pitta : 

u  Pondero  a  emudecida  fonnoiura 
o  de  Filis  Bem  temer  que  impertiuenle 
o  possa  no  meu  soneto  metter  dente 

■  pois  carece  de  toda  n  denladura  ' 

u  Si  por  cobrir  a  falta  eala  esculplura 

«  tto  muda  está  que  nao  parece  gente 

u  eslalua  de  jardim  serA  somente 

u  si  de  panno  de  raz  nSo  íòr  ngiira. 

«  o  senhor  secretario  quer  que  a  crea 

■  bella  sem  dentes,  eu  lh'o  nio  concedu 
•1  desdentada  é  peor  do  que  ser  lia ; 

H  e  em  silencio  sá  pôde  causar  medo 
u  ser  relógio  de  sol  para  uma  atdía 
•  para  um  povo  eslafermo  do  segredo.  •> 

Como  perfeito  cavalleiro  que  era,  tomou  António  'le  Oli- 
veira ê  defesa  da  dama  desdentada,  e  dedicou-lhe  a  seguinte 
decima : 

«  Nao  me  solTre  o  coração 

»  Que  deiíe  assim  ultrajar 

«  E  desdentada  chamar 

a  A  quem  toda  é  perfeição 

n  Senhores,  vi  de  quesISo: 

II  rio  câo  ha  estrellas?  —  E'  cerlo, 

<•  Reluzem  tendo  o  sol  pertoT 

■  Nio ;  pois  si  Nise  lem  posto 

1  Céo  na  boca  e  céo  no  rosto 

<i  Yei^lhes  as  eslrellas  é  incerta.  » 


Dictzedby  Google 


Na  corrente  pelágica  dos  versos  sobrenadavam  as  oraçSes 
presideociaes,  que  semelhantes  aos  heliotropos,  voltavam 
seoEcalícis  para  o  sol  cesáreo,  Replectas  naquasi  totalidade 
de  lagares  communse  guindadas  allusões,  são  para  nós 
destituídas  de  minimo  interesse.  Forma  porém,  felícissíma 
excepção  o  discurso  recitado  pelo  padre-mestre  Raphael 
Machado,  reitor  do  collegio  dos  jesuítas  da  Bahia,  n'aber- 
tura  da  sétima  conferencia.  Havendo  tomado  por  thema 
o  pensamento  de  SalomSo  :  Nihil  suh  sole  novum ;  deu 
tractos  A  sua  copiosa  erudicção,  para  concilial-o  com  a  no- 
vidade dos  descobrimentos  dos  porli^uezes;  e  n'esse  cer- 
tame, rendido  o  devido  preito  ao  dominante  gongorísmo, 
mostrou-se  por  vezes  digno  emulo  de  Rocha  Pítia  e  Brito 
Lima.  Após  brevíssimo  exórdio,  afTrontou  a  proposição 
D'esles  termos ; 

*  A  maior  dífficuldade  com  que  encontra  a  gloria  portu- 
gueza, ponto  fíxo  do  meu  discurso,  é  a  sentença  de  Salomão, 
qne  logo  no  principio  me  deu  de  repente  como  sol  nos 
mesmos  olhos,  e  me  quiz  cegar  o  entendimento,  com  a 
enchente  e  actividade  de  tantas  luzes.  Mas  ainda  que  em 
mim  a  defesa  da  causa  porlugueza  seja  própria  □'esta  occa- 
sião,  oão  Ucarei  c^o  mas  sim  irado  e  intlammado  do  calor 
portuguez ;  usarei  dos  mesmos  raios  que  a  peleja  e  retorqui- 
rei contra  Salomão,  como  granada  flamante,  o  mesmo  sol. 
Argumento  assim :  Quando  Salomão  olhou  desde  a  altura 
do  sol  para  o  baixo  e  superficie  da  terra,  podia  também 
lançar  os  olhos  como  perfeito  mathematico,  desde  o  sol  para 
o  mais  alto  dos  orbes  celestes,  e  veria  que  n'este  dilata- 
díssimo thealro  tinham  apparecido  como  figuras  de  singu- 
lar ostentação  novas  estrellas,  muito  depois  da  creação  das 
primeiras,  e  se  Salomão,  por  escusar  tubos  ópticos,  qui- 
zesse  cançar  os  olhos  para  perto  do  mesmo  sol,  veria  qua 
aeslrellaVcnus.sem  detrimento  da  sua  formosura,  com 


Dictzedby  Google 


DOvidade  uoloría  de  lodo  o  muedOf  madoa  apudtta, 
forma  e  compasM  do  »eu  pasteiD,  do  sqdo  da  oitaçio  do 
maado  2318.  Logo,  se  acima  do  mesmo  sol  podam  acon- 
tecer novidades,  porqae  oão  aconlecerão  estas  debaiio 
do  mesmo  sol?  Logo,  podia  a  oaçfto  portagoeu  obttt 
acções  BOTas  e  mníto  lazidas  debaito  do  sol,  e  Uo  luiidas 
como  a  loz  do  mesmo  sol.  ■ 

Acabamos  de  ver  o  argalo  escolástico  tirar  do  seu  tbema 
as  Bais  forcadas  coodnsões:  apreciemos  agora  as  finissi- 
maa  e  delicadas  tintas  do  seu  pincel,  no  quadro  que  dese- 
nha do  Brasil : 

t  Mas  alegrando  o  discurso,  não  me  contentando  com  o 
descobrimento  passado  eu  tudo  nOTO,  digo  oontra  Salomio 
qoe  ainda  ha  de  vir  oatro  mais  novo :  o  meu  Jano  assim  o 
descobre :  já  promette  diamantes,  rubis,  esmeraldas,  para 
qne  não  se  perdendo  os  thesonros  antigos,  se  vejam  os  novos 
reduzidos  a  compendio.  Então  se  descobrirá  a  felicidade 
do  paraiso  terrestre,  qne  a  doutíssima  peiuia  do  padre  Simio 
de  Vasconcellos,  antigamente  hdtítador  das  paredes  am 
que  moro,  em  tratado  particular,  proveu  que  eslava  oo 
nosso  Brasil,  e  por  desgraça  não  viu  a  luz  do  prelo  (19). 
Oh !  se  então  se  descobriram  os  fructos  d'aquella  ditosa 
arvore,  dos  quaes  achou  o  grande  padre  Vieira  confusas 
noticias  no  Grão-Fará,  rei  das  aguas,  que  umas  nafões  re- 
novavam as  forças  e  aft^eotava  a  velhice  1  Tal  é  esta  pa- 
raiso e  de  tantas  felicidades,  que  em  todo  o  rigor  hão  de 
perpetuar  e  dar  novo  descobrimento  aos  portoguezas.  Mas 
quando  considero  no  nosso  Brasil  o  paraiso,  coosolo-me 
que  tem  cherubim,  que  com  a  espada  de  fogo  de  sua  jos- 

(19)  r  iBexpUcaiel  aemelhaDle  equivocaçSo  do  padre  Machado, 
per^ianlo  u  Hfotietat  Curíatcu  e  Necusícrias  dm  Cmtau  do  Branf,' 
do  pftdre  s.  de  Vasconcellos,  já  tiavtim  sido  inpresaat  etn  Usbn  do 
anno  de  16G8,  na  offlcina  de  JoSo  da  Gosta. 


Dictzedby  Google 


—  2t  — 

úçA,  èotaitftu  e  rectidM  o  detottcte  e  o  gaarda  por  im^ 
perio  do  seu  supremo  monarcha.  A  ninguém  virátiponsa- 
mento  de  pelejdr  contra  a  espada  de  íogo  doeste  cherubim  : 
s^uros  estão,  pois,  os  muros  de  nosso  paraiso.  ■ 

Haviam  quiçá  reconhecido  os  academicot  esquecidos  a 
importância  do  grotetco  que  tanta  consideração  mereceu  a 
Victor  Hugo,  chegando  a  dizer  d'elle:  •  que  depois  do  subli- 
me é  a  mais  abundante  fonte  que  a  natnteía  possa  offerecer 
á  arte  >  (20) ;  por  isso  é  que  vemos  tomarem  para  assum- 
ptos lyiicos  os  mais  burlescos  themas.  Assim  n'essa  mesma 
conferencia  em  que  tão  doutamenle  orara  o  padre-mestre 
Machado  discorreram  os  alumnos  das  miiMs  sobre  o  se- 
guinte motte  :  —  Uma  moça  que,  nwRendo  na  6001  umat 
pérolas,  e  revolvendo-as,  quebrou  álgunt  âenlB$.  —  Dentre 
a  turba  dos  glosadores  sahiu-se  António  Ayres  de  Penha- 
fiel  com  a  s^uinte  chistosa  decíOB  : 

■  N'unia  concha  cryBtaUiaa 

•  d'ODde  aijo&es  bebe  a-rarora 

•  ÍDlrodaz  pérolas  Flora 

■  travessa  como  memaí : 

■  porém  como  as  destiiw 

■  a  terem  jazigo  igual 

■  revolvendo-se  mnl  mal 

«  a  cODcha  tanto  perrertem 
1  qae  logo  em  coral  convertem 

•  o  que  era  aijofre  e  crfstal. 

Couberam,  porém,  incontestavelmente  ao  padre  Barreto, 
TÍgario  da  freguezia  de  S.  Pedro,  as  honras  d''esse  torneio 
poético;  e,  apezar  de  ser  um  tanto  tongo,  penso  que  aio  de- 
saprazerá  aolnstitutoa  leitira  do  seguinte  romtncejoco-se- 
rio  composto  cm  toantes,  que  ua  opinião  d'algun!i  críticos 

(30)  Vi<le  o  prefacio  ao  drama  CrentwtU. 


Dictizedby  Google 


ntodoraos  pareça  bastante  conTinhavel  á  índole  da  poesia 
portogueza  {ii). 

«  Vi  de  romance  esta  vez 
a  e  queira  a  musa  ajadar-ine 

■  que  tratar  com  raparigas 
n  iãoi  cousa  para  padres. 

«  Direi  com  moila  cautela 
k  as  prendas  e  habilidades 
o  d'eíta  moça,  mas  de  longe 

■  que  é  sol  e  pôde  abrazar-me. 

«  A  senhora  dona  Nize 
a  moçoila  de  lindo  lalhe 

•  d'et[as  que  agora  tropeção 

«  por  donaire  em  mil  donaires 

o  um  flo  de  ricas  pérolas 

V  lhe  deu  por  prenda  um  amante 

■  qae  as  sabe  a  moça  pescar 

"  inda  sem  metter-se  aos  mares. 

■  Turbou-se  um  pouco  a  menina 

■  faltou-lhe  toda  a  coragem 
«  temendo  que  d'enfiadaB 

«  as  pérolas  desmaiassem. 

fl  Uetteu-as  logo  na  boca 
a  eu  cuidei  que  era  piedade 

■  porém  dizem  que  foi  traça 
o  de  dar  ás  pérolas  mate; 

■  porqne  os  dentes  da  menina 

•  mais  claros  que  o  Uno  jaspe 

■  envei^nhando  o  marBm 

■  só  com  a  prata  liga  hzem. 

(21)  Vide  o  prologo  dos  Roímmca  Hiitoricos  pelo  Sr.  consellieiro 
Miguel  Maria  Lisboa,  reimpresso  em  Bruiellas  em  1866. 


Dictizedby  Google 


—  3Í  — 

«  Vendo-se  lá  entre  deates 

■  acaram  nuiUo  á  voDUde  : 

■  porque  mcILiJas  nas  conchas 
«  da  melhor  pérola  madre. 

■  S6  nSo  poderam  os  dentea 
€  com  ellãs  bem  masUgar-ae 

■  que  então  reina  mate  a  inveja 

«  si  a«  prendas  eSo  semelbanles. 

>  Que  sSo  maia  claios  09  dentes 

■  com  grande  força  combatem 
«  quizeram  julgar  de  cAres 

•  e  licaTam  sendo  parles 

■  Pezem-se  os  dentes  pedaços 
<c  de  cólera;  ha  lai  desastre 

■  que  pennítta  a  natureza 

■  cortar  o  vidro  diamantes  I 

■  Mandou  Nize  a  bom  partido 
Q  para  acabar-se  o  debate 

■  que  as  pérolas  substituam 

*  aonde  os  dentes  faltarem. 

■  Tenho  (eito  doze  coplas 

a  que  a  lei  pennitte  aos  romances 
H  n&o  se  acabam  os  conceitos 

■  fallar  muito  é  contra  a  arte.  n 

Receio  converter  o  Instituto  em  outeiro,  por  isso  ponho 
aqui  tenno  ás  citações,  deixnodo  no  olvido  o  avultado  pio- 
duclo  da  fecunda  musa  babiense,  revelada  nas  dezoito  con- 
ferencias celebradas  pela  Academia  Bra»Hica  dos  Esquecido$. 
D'iima  cota  lançada  á  mai^m  da  18'  conferencia  por  letra 
do  secretario  consta  que  no  dia  4  de  Fevereiro  de  1725 
finalisára  o  primeiro  anno,  e  pela  natureza  das  producções 
lidas  n'essa  mesma  conferencia  deduz-se  que  certo  desali- 


Dictizedby  Google 


—  3í  — 

obo  te  inoculara  dos  escriptos,  ainda  dos  mais  esforçados 
paladinos,  quiçá  pelo  cansaço  resultante  do  p«renn«  trovar. 
Cremos  qoe  nunca  mais  se  reatou  o  inteirompido  fio  de 
tão  doutas  palestras. 

Em  presença  das  peças  do  proceaso  qaa  fielmeote  trouxe 
ao  conheômeDlo  do  Instituto  persnade-me  poder  lavrat  o 
seguinte  laodo : 

Descendente  em  linha  recta  das  academias  italianas, 
hespanholas  e  portuguezas,  foi  a  Acaámaia  Braeilica  dos 
EtqttKidoa  a  legitima  represoatante  do  espirito  fútil  e  da 
incontinência  iropologica  que  tanto  prejudicarun  é  suas 
aroengas.  Os  homens,  porém,  que  consagraram  seus  laze- 
res ao  cultivo  da  intellígencia,  posto  que  mal  encaminhada, 
n'uma  epocha  em  que  tão  poucas  aspirações  eram  deixadas 
és  leiras,  devem  ser  considerados  beaemeritos  da  patiia,  e 
sua  saudosa  memoria  religiosamente  guardada  na  urna  do 
respeito  e  Yeneraçio  dos  pósteros. 


Dictzedby  Google 


o  DIA  9  DE  JANEIRO  DE  1822 

Hemoiia  lida  no  Instituto  Histórico  Geograpliico  Brastleiío 

DR.  UOREIRA  DE  AZEVEDO 


Aclarar  os  factos,  apreseotar  estendidameote  os  aconte- 
cimentos, illuminal-os  com  reflexões,  averiguar  a^  noti- 
cias, fazer  indagações  aturadas,  profundas,  afastar  as 
davidas,  romper  as  nuvens,  as  trevas  que  envolvendo  os 
factos,  desfiguram-os  e  alteram-os,  desvanecer  os  precon- 
ceitos, pesaras  tradições  aproveitando  o  que  n'eltas  houver 
de  racional  e  consentâneo,  apagar  das  crenças  populares  o 
que  fõr  falso  e  embusteadú  :  eis  a  missão  do  bistoriadiír 
que,  allumiado  pela  luz  da  verdade,  deve  imparcial  e  des- 
prevenido fotbear  os  monumentos  históricos,  visitar  os 
templos,  os  mosteiros,  os  edifícios,  os  túmulos,  viver  nos 
archivos  e  cartórios,  viajar,  ser  paleographo,  antiquário, 
viajante,  bihlíographo,  tudo,  como  diz  Alexandre  Hercu- 
lano, o  douto  historiador  portuguez. 

E  na  nossa  historia  muito  ha  que  delucidar,  mistérios 
a  lomper,  sellos  a  quebrar,  que  guardam  factos  ainda  otlo 
convenientemente  conhecidos,  ou  turvados  com  noticias 
erróneas. 

Em  verdade,  porém,  somos  os  primeiros  a  reconheceras 
djfficuldades  n^esse  caminhar  de  incertezas,  duvidas  ees- 
curídades  ;  e  se  nos  oão  alentasse  esse  sentimento  que  faz 
vibrar  as  cordas  sonoras  da  harpa  do  menestrel,  agitar  o 
pincel  magico  do  pintor,  inspirar  ao  musico  harmonias  di- 
vinas, mover  o  escopro  d»  esculptor,  brandir  a  espada  do 
guerreiro,  exaltar  o  animo  do  sábio,  o  coração  do  philoso- 

TOHO  XXXI,    P.    U  5 


Dictzedby  Google 


—  3*  — 

pbo:  S0  não  Tosse  esse  entbasiasmo  que  nos  viví&ca  no 
meio  da  descrença  e  scepticismo  quenos  rodeia,  se  não  fosse 
o  unor  pátrio,  certamente  aSo  seriamos  quem  oasaria 
levantar  nVste  palácio,  eom  a  fronte  saareuta,  a  ponta  do 
véo  que  esconde  a  noticia  exacta  de  um  facto  hodierno, 
abrindo  o  discurso  com  palavras  descoradas  e  despidas  de 
atavios  e  esmaltes  da  eloquência. 

O  titulo  estampado  no  principio  doestas  paginas  declara 
que  vamos  tratar  de  um  acontecimento  que  necessita  de 
um  só  lustro  para  estar  afastado  de  nós  meio  século. 

Abicou  a  este  porto  ás  3  horas  da  tarde  do  día  9  de 
Dezembro  de  1821,  o  brigue  de  guerra  infante  D.  Se~ 
bastião,  e  não  no  dia  10  o  brigue  Infante  D.  Miguel,  como 
diz  o  nosso  tllpstrado  consócio  o  conselheiro  Pereira  da 
Silva,  e  as  notícias  que  trouxe  da  metrópole  alertaram  os 
espiritos  6  alvoraçaram  os  ânimos.  Diziam  os  decretos  124 
e  125  das  cõrles  portuguezas  que  o  Brasil  devia  ser  reta- 
lhado, privado  de  chefe  no  poder  eieculivo,  sendo  o  prín- 
cipe D.  Pedro  chamado  á  Europa  para  viajar  afim  de  apri- 
morar a  sua  educação,  e,  abolidos  os  tribunaes,  devia  passa' 
o  governo  do  Rio  de  Janeiro  a  uma  junta,  sendo-lbe 
entregue  a  administração  em  10  de  Fevereiro  de  1822. 

Destruíam  estes  decretos  as  instituiçóes  civis  creadas 
pelo  rei,  apeavam  o  Brasil  da  sua  categoria  politica,  rou- 
bavam-lho  as  prerogativas  de  que  gozara,  e  entregavam- no 
&  mercê  de  aventureiros  ou  a  lutas  e  guerras  civis.  Offen- 
didos  julgaram  os  brasileiros  os  seus  brios,  receiaram-se  os 
purtuguezes  da  sorte  do  Estado  americano,  e  magóou-se  e 
resentiu-se  o  príncipe  por  tírarem-lhe  da  mão  o  bastão 
da  governança,  demíttirem-no  do  titulo  e  categoria  con- 
feridos por  seu  pai,  e  afaslarem-no  do  paiz  que  regia  &  oito 
mezes,  para  ir  estudar  nas  nações  da  Europa  a  arte-da  go- 
vernação. 


Dictzedby  Google 


Tratava  Portagal  da  recolooisaçSo  do  Brasil ;  isto  é,  a 
terra  de  Santa  Cruz  devia  voltar  aos  tempos  de  Tbomé  de 
Sousa. 

Era  um  meDoscabo,  uma  íajuria ;  o  paiz  aonde  encOD' 
tráram  asylo  seguro  por  alguns  annos  o  rei,  os  priucipes  e 
fidalgos  portuguezes  era  agora  privado  de  tudo,  sem  liber- 
dades politicas,  sem  consideração  social,  e  seus  súbditos 
psra  obterem  justiça  teriam  de  percorrer  duas  mil  léguas, 
affrontarem  mares  encapellados  antes  de  chegarem  ás  por- 
tas dos  tribonaes  de  Lisboa. 

Feriam  os  decretos  das  cortes  aos  portnguezes  e  brasi- 
Iriros ;  como  ficariam  os  primeiros  sem  lerem  o  apoio  do 
príncipe,  que  nascfira  na  mesma  terra  que  elles,  como  o 
acompanhariam  ;  retirando-se  o  príncipe  ficava  o  Brasil 
sem  um  centro  de  unidade,  com  um  governo  sem  força  nem 
prestigio,  e  inteiramente  dependente  de  Portugal :  e  po- 
diam sujeitar-se  os  brasileiros  a  essa  d^radação  politica? 
Assim  pensavam  os  brasileiros,  aos  quaes  unindo-se  mui- 
tos dos  portuguezes.começaram  a  conspirar,  aformarctubse 
lojas  maçónicas :  tigou-se  o  capitão-mór  José  Joaquim  da 
Rocha  com  seu  irmão  o  tenente-coronel  graduado  do  bata- 
lhão de  caçadores  e  com  outros  brasileiros,  e  fizeram  elle 
e  os  seus  continuas  reuniões,  conciliábulos,  nos  quaes 
trataram  de  sobrestara  partida  do  príncipe.  Tomou-sea 
usa  do  letrado  Rocha,  á  rua  d*Ajuda  137  esquina  do  becco 
do  Propósito,  o  centro  das  reuniões  politicas,  frequentadas, 
entre  outros,  pelo  coronel  Francisco  Maria  Gordilho,  de- 
pois marquez  de  Jacarepaguá,  Luiz  Pereira  da  Nóbrega, 
Pedro  Dias  Paes  Leme,  depois  marquez  de  Quexeramobim, 
B  o  franciscano,  frei  Francisco  de  Sampaio. 

Escreveram  os  patriotas  a  alguns  dos  membros  dos 
governos  de  S.  Paulo  e  Minas,  concilando-os  a  represen- 
lirem  ao  príncipe  sobre  a  necessidade  que  tinha  o  Brasil 


Dictizedby  Google 


de  sua  presença,  até  que  as  cAries  portugnezas,  aUegan- 
do-se  os  inconvenientes  dos  decretos  expedidos,  appro- 
Tassem  medidas  salutares.  Eacarregaram  ao  coronel  Gor- 
dilbo  de  saber  do  príncipe  se,  vindo  representações  dos 
governos  de  S.  Paulo  e  Minas,  e  havendo  representações 
do  povo  e  tropa  do  Rio  de  Janeiro,  resolveria  a  sua  ficada 
no  Brasil. 

Participando  Nobr^a  ao  Dr.  Josó  Mariano  de  Azeredo 
Coutinho  o  sou  projecto  e  de  outros  de  obstara  sabida 
do  príncipe,  approvou  Azeredo  Coutinho  tSo  patriótica  idéa, 
e  pedia  ser  apresentado  ao  letrado  Rocha  para  combina- 
rem no  modo  de  fazer  a  representação  do  povoe  tropa: 
de  feito,  reunidos  na  cella  de  frei  Sampaio  o  letrado  Bocha, 
seu  iimão,  Luiz  Pereira  da  Nóbrega,  Paes  Leme,  Azeredo 
Coutinho  e  frei  Anlooio  da  Arrábida,  coafessor  do  príncipe 
6  depois  bispo  de  Anemuria,  discutiram  as  bases  da  repre- 
sentação,  de  cuja  redacção  incumbiu-se  frei  Sampaio.  Peita 
e  approvada,  liraram-se  d'ella  cópias  para  serem  remettidas 
ás  estações  publicas,  aos  corpos  do  exercito  e  armada,  afim 
de  serem  assignadas  pelos  respectivos  empregados  e  praças. 

Enviaram  os  patriotas  a  S.  Paulo  com  ofiicíos  e  cartas 
endereçadas  a  Martim  Francisco  e  a  José  Bonifácio,  mem- 
bros d^aquelle  governo,  e  para  informal-os  dos  n^ocios 
do  Rio,  a  Fedro  Dias,  que,  dando-lbe  azas  o  patriotismo, 
transpõz  em  poucos  dias  a  distancia  que  nos  separa  d^a- 
quella  província  do  sul ;  e  a  Minas  o  tenente  Paulo  Barbosa 
da  Silva  depois  mordomo  da  casa  imperial,  ao  qual  disse 
o  prÍDcipe  quo,  se  fosse  feliz  n'essa  missão,  ficaria  seu 
am^o  ;  também  asseverara  a  Gordilho  que,  se  as  represen- 
tações lhe  fossem  dirigidas  convenientemente,  assumiria  a 
responsabilidade  de  desobedecer  ás  c6rtes;  e  apezar  de 
haver-lhe  dito  Paes  Leme  o  fim  que  levava-M>  a  S.  Paulo 
não  estorvara  D.  Pedro  sua  viagem. 


Dictzedby  Google 


-  37  — 

Moço,  na  idade  eca  que  o  espirito  mais  se  reseale  das 
offensas  e  maia  altanado  se  mostra,  vendo-se  amado  e  fes- 
tejado pelos  brasileiros,  e  desrespeitado  e  insultado  pelos 
decretos  portuguezes,  desejava  D.  Pedro  desobedecer  ás 
ordens  das  cortes  e  permanecer  no  Brasil;  e  assim  não 
só  favorecia  os  planos  dos  que  trabalhavam  para  elle  não 
desamparar  o  paiz  americano,  senio  nas  cartas  escriptas  a 
seu  pai  começou  a  insinuar  os  obstáculos  e  dífficutdades 
em  cumprir  aquelles  decretos.  Na  carta  dirigida  em  14-  de 
Dezembro  de  1821  dizia  o  príncipe  : 

t  Faz-se  mui   preciso   para  desencargo  mea  seja  pre- 
sente ao  soberano  congresso  esta  carta,  e  Vossa  Mageslade 
lhe  faça  saber  da  minha  parte   que  me  será  sensível  sobre- 
maneira se  fõr  obrigado  pelo  povo  a  não  dar  o  exacto  cum- 
primento a  tão  soberanas  ordens,  mas  que  esteja  o  congresso 
certo  que  hei  de  fazer  com  razões,  os  mais  fortes  argumen- 
tos, diligenciando  o  exacto  cumprimento  quanto  nas  minhas 
forças  couber.  » 
Na  carta  de  (5  do  mesmo  mez escreveu: 
■  Tomo  o  protestar  ás  cArtes  e  á  Vossa  Magestade  que 
só  a  força  será  capaz  de  me  fazer  faltar  ao  meu  dever.  » 
Na  carta  do  dia  30  acrescentou : 
•  Tudo  está  do  mesmo  modo  que  expuz  nas  duas  cartas 
anteriores  á  esta  á  Vossa  Magestade ;  o  dilTerença  que  ha  é 
que  d'ante$  a  opinião  não  era  geral,  boje  é  e  está  mui 
arraigada. 
Na  do  dia  2  de  Janeiro  de  18-22  declarou  ; 
t  Farei  todas  as  diligencias  por  bem  para  haver  socego, 
e  para  ver  se  posso  cumprir  os  decretos  124  e  125,  o  que 
me  parece   impossível,  porque  a  opinião  é  Ioda  contra  por 
toda  a  parte.  » 

Partira,  como  dissemos,  o  tenente  Paulo  Barbosa  para 
Minas,  eem  oito  dias  chegara  a  Ouro-Prelo.  A  primeira 


Dictizedby  Google 


pessoa  com  qaem  se  flDlendfira  do  lagar  deDominado  Borda 
do  Ompo  fAra  o  padre  Haaoel  Rodrigues  da  Cosia,  qae 
como  preso  da  ioconfideDcia  estivera  em  1791  no  cárcere 
da  fortaleza  de  S.  José,  na  ilha  das  Cobras  ;  promettíra-Ihe 
esse  sacerdote  esforçar-se  por  obler  da  camará  de  Baii>a- 
cena  uma  represeDiação  pedindo  a  ficada  do  priacipe  o 
que  cons^iiiu :  d'alli  dirígira-se  Paulo  Barbosa  para  Queluz 
onde  abrira-se  com  o  padre  António  Ribeiro  de  Andrade, 
letrado  da  villa,  que  influiu  sobre  a  camará  para  repre- 
sentar DO  mesmo  sentido  ao  priacipe  r^nte :  encontrara 
em  Ouro-Preto  opposição  dos  membros  do  governo  que 
quizeram  prendél-o  e  remettél-o  á  Bahta ;  mas  chegando  ao 
lugar  o  tenente  António  Carlos  Ribeiro  de  Andrada,  emis- 
sário do  governo  de  S.  Paulo  ao  de  Minas,  aplainaram-se 
as  difficuldades  do  negocio  e  houve  representação  ao  prín- 
cipe :  ajudado  em  Marianna  pelo  coronel  Fortunato  obtivera 
Paulo  Barbosa  representação  da  camará  do  distrícto,  assim 
como  das  de  Sdbará  e  Caeté,  e  regressando  para  S.  João 
d'Et-Rei  favorec6ra-o  em  sua  missão  o  coronel  Isidoro, 
appellidado  o  bispo,  -e  alcançara  representação  do  lugar  ao 
príncipe  regente.  Além  d'e3ses  manifestos  das  municipa- 
lidades enviara  o  dedicado  cidadão,  encarregado  de  Ião 
afanosa  tarefa,  muitas  representações  de  coronéis  e  capi- 
tães-móres  de  ordenanças  ( 1 ). 

Não  descansavam  os  brasileiros  no  Rio  de  Janeiro,  o 
patriotismo  augmenlava-thes  o  ardor  e  a  actividade,  e  os 
não  detinham  nem  os  perigos  nem  as  fadigas. 

Incumbiram-se  lunocencio  da  Rocha  Maciel,  que  ainda 

(1)  Falleceu  Paulo  Barbosa  da  Silva,  com  74  sonos  de  idade,  em  38 
de  Janeiro  de  1868,  e  sepullou-se  no  cemitério  de  S.  FiaDCisco  de 
Psuta.  Era  natural  de  Hinas,  brigadeiro  reformado,  mordomo  da 
casa  imperial,  e  tinha  diversas  condecorasses  nacioaaes  e  eslrto- 
geiras. 


DictizedbyGoOJ^IC 


TÍve,  filho  do  capilão-mór  Rochs.  e  António  i 
Vascoocellos  DnuDmond  de  agenciar  assígnaturas  para  a 
representação  qne  pelo  seaado  da  camará  devía  ser  levada 
ao  prÍQcipe,  e  afim  de  apressar  esse  trabalho  anDuociou  o 
capilão-mór  que  estava  pateole  dia  e  noite  em  sua  casa  a 
representação  para  aquelles   que  quizessem  assignal-a. 

Apezar  de  dÍo  oppftr-se  abertamente  a  essas  assignaturas, 
começou  a  tropa  porlugueza  a  manifestar  descontenta- 
mento, a  observar  cautelosamente  os  patriotas;  viram-se 
grupos  de  soldados  portuguezes  do  batalhão  11  e  de  arti- 
Iberia  nas  vizinhanças  da  casa  do  capitâo-mór,  do  que 
lendo  noticia  o  brigadeiro  Vidigal,  commandante  da  poli- 
cia, enviou  patrulhas  do  seu  corpo  para  segurança  do  do- 
micilio d^aquelle  cidadão. 

No  dia  1  de  Janeiro,  e  não  no  dia  31  como  diz  o  afamado 
historiador  Varnhagen,  recebeu  o  priocipe  a  representação 
do  governo  de  S.  Paulo  datada  em  2i  de  Dezembro  e  assi- 
gnada  em  primeiro  lugar  por  João  Carios  Augusto  de  Oey- 
Dhausen,  depois  marquez  de  Aracaty.  Escreveu  o  príncipe 
00  dia  seguinte  a  seu  pai  n'estes  termos  : 

«  Meu  pai  e  meu  senhor.  Hontem  pelas  8  horas  da 
noite  chegou  de  S.  Paulo  um  próprio  com  ordem  de  me 
entregar  em  mão  própria  o  oOicio  que  ora  remetto  incluso, 
para  que  Vossa  Mageslade  coubeça  e  faça  conhecer  ao  so- 
berano congresso  quaes  são  as  firmes  tenções  dos  paulistas 
e  por  ellas  conhecer  quaes  são  as  geraes  do  Brasil.  ■ 

Reunindo  o  princípe  D.  Pedro  o  ministério  afim  de  cod- 
suttal-o  se  devia  ou  nãoannuir  ao  pedido  dos  fluminen- 
ses para  ficar  no  Brasil,  votaram  os  ministros  unani- 
memente que,  em  obediência  ás  ordens  do  soberano 
congresso  e  do  rei,  devia  o  príncipe  ir  para  Portugal ;  mas, 
levantada  a  sessão,conta-se  que  o  desembargador  Francisco 
José  Vieira,  successor  de  Pedro  Álvares  Diniz  no  cargo  de 


Dictizedby  Google 


—  w  — 

raÍDÍstro  do  reino,  pedira  ao  prioclpe  para  ouvil-o  em  par- 
licular  e  disséra-nhe  :  «  Senhor.  V.  k.  Realjá  ouviu  meu 
TOlo  como  ministro,  agora  quero  daMbe  a  minha  opinião 
como  simples  particular  ;  não  yi,  fique  que  é  o  que  con- 
vém a  todos.  > 

Appareceu  no  dia  8  o  seguinte  annuncio  publicado  pelo 
letrado  Rocha : 

«  Como  consta  que  a  generalidade  dos  habitantes  d' esta 
cdrie,  levados  do  verdadeiro  espirito  de  liberalidade,  do 
amor  á  inclyta  nação  porlugueza,  do  mais  ardente  desejo 
do  solido  bem,  perpetuidade  e  iadivisibilidade  do  império 
portuguez,  e  do  cordeal  ailecto,  respeito  á  real  casa  reinante, 
desejam  assignar  a  representação  que  pelo  Illm.  senado 
da  camará  se  dirige  ao  heróico  e  augusto  príncipe  real  e 
regente  do  reino  do  Brasil,  para  que,  interpretando  justa  e 
'  racioualroeote  as  ordens  que  sobre  este  objecto  ao  mesmo 
real  senhorforam  ultimamente  iransmitlidas,  não  deixe  este 
reino,  como  único  e  indispensável  meio  de  cons^uir  os 
importantíssimos  fins  da  união  reciproca  que  foi  procla- 
mada, faz-se-lhes  saber  que  quem  quizer  assignar  a  sobre- 
dita representação  se  dirija  i  rua  da  Ajuda  n.  137,  no  dia 
de  hoje,  8  do  corrente,  impreterivelmente,  onde  a  lerá, 
eacbando-a  digna  assignará,  sendo  d'esses  sentimentos.   > 

Atlendeu  o  povo  ao  chamameDlo  do  patriota;  mais  de  oilo 
mil  assignaturas  cobriram  a  representação  que  tinha  de  ser 
dirigida  ao  príncipe  real. 

Em  uns  apontamentos  colhidos  pelo  nosso  distincto 
mestre,  amigo  e  douto  consócio  o  Sr  Dr.  Silva,  os  quaes 
foram-nos  cedidos  graciosamente  e  serviram-nos  para  en- 
sartar  os  factos  d'este  discurso,  lemos  o  seguinte : 

I  Parece  que  o  dia  O  de  Janeiro  foi  o  escolhido  para 
dir^Írem-S6  as  representações  ao  príncipe  por  lerem  che- 
gado os  decretos  das  cdrles  em  9  de  Dezembro.  » 


Dictzedby  Google 


—  41  — 

Vem  corroborar  essa  idéa  e  conveneer-DOS  de  qoe  ft&~ 
TÍamente  se  determÍDára  aquelle  dia  o  que  lemos  na  carta 
escripla  no  dia  2  pelo  príncipe  ao  rei,  e  é  o  seguinte : 

«  Ouço  dizer  que  as  representações  d'esta  província  são 
feitas  no  dia  9  do  corrente,  i 

De  feito  ás  10  horas  da  manhS  d'e3se  dia  enviou  o  sfloado 
da  camará  o  seu  procurador  ao  principe  pedindo-lbeuma 
audiência,  e  marcando  o  principe  regente  a  hora  do  meio- 
dia  sahiu  ás  11  horas  o  senado  do  consistório  da  igreja 
do  Rosário,  onde  se  reunia,  e  acompanhado  dos  homens 
boos,  que  tinham  andado  na  governança  da  terra  e'de 
muitos  cidadãos,  caminhou  processionalmente  para  o  paço 
da  cidade,  e  entrando  e  sendo  apresentado  ao  príncipe  díri- 
giu-lhe  o  presidente  do  senado,  José  Ctemenle  Pereira, 
uma  falia,  finda  a  qual  entregou-lbe  as  representações  do 
povo,  do  corpo  de  negociantes  e  dos  officiaes  de  ourives. 

Obtendo  a  palavra  o  coronel  de  eslado-maior  ás  cmlma 
do  governo  do  Rio-Grande  do  Sul,  Manoel  Carneiro  da 
Silva  e  Fontoura,  que  pedira  permissão  ao  senado  para 
incorporar-se  a  elle,  declarou  serem  iguaes  aos  dos  flumi- 
minenses  os  sentimentos  dos  rio-grandenses;  no  mesmo 
acto  apresentou  João  Pedro  Carvalho  de  Moraes  uma  carta 
das  camarás  de  Santo  António  de  Sá  e  Magé,  nas  quaea 
estavam  exarados  os  mesmos  votos. 

Tendo  resposta  favorável  do  principe,  anounciou-a  José 
Clemente  ao  povo  de  uma  das  janellas  do  palácio,  e 
apparecendo  D.  Pedro  em  outra  janella  foi  fervorosamente 
saudado  ;  logo  que  serenou  o  alvoroço  popular  exclamou 
o  principe : 

•  Agora  só  tenho  a  recommendar-vos  uniío  e  Iran- 
quillidade  (2)  >. 

(2)  Serviram  estas  duas  palavras  para  denominar  uma  loja  maçónica 
ctmbecida  também  com  o  nome  de  Nove  de  Janeiro. 

TOSIO   XXXI,   P.   IJ  6 


Dictzedby  Google 


Repetiram-se  as  acclamações  ao  erguer  o  presidenle  do 
senado  vivas  á  religião,  &  cOQStilniçflo,  ás  cArtes,  á  el-rei 
constitucional,  ao  príncipe  conslitacioaal  e  á  união  de 
Portugal  com  o  Brasil. 

Findo  o  acto  recolheu-se  o  senado  aos  paços  do  concelho, 
recebendo  em  seu  trajecto  continuas  saudações  e  frequen- 
tes congratulações. 

Ra  noite  d'e8se  dia  appareceu  nos  lugares  públicos 
o  segointe  edital. 

■  O  senado  da  camará  julga  do  seu  dever  aonunciar  ao 
povo  d'esla  cidade  que  hoje  ao  meío-dia  pôz  na  presença 
de  8.  A.  Real  o  príncipe  regente  do  Brasil  ss  representações 
que  lhe  dirigiu ;  e  que  o  mesmo  senhor  se  dignou  annuír  a 
^as  dando  a  resposta  seguinte : 

t  Convencido  de  que  a  presença  de  minha  pessoano 
ff  Brasil  míeressa  ao  bem  de  toda  a  nação  portagueia, 
«  9  conhecendo  que  a  vontade  de  algumas  provindas  o  re- 
«  quer,  demorarei  a  minha  sahida  até  qtte  as  cortes  e  mea 
a  augusto  pai  e  senhor  deliierem  a  este  respeUo  com  per  feito 
■  conhecimento  das  ctí^cumstancias  que  tém  occorrido.  b 
-  I  E  para  que  seja  completa  a  gloria  d'e9te  dia  recom- 
menda  o  mesmo  senado  a  todo  este  povo  que  descanse  de 
hoje  em  diante  na  sua  vigilância,  e  que  deixe  ao  governo 
a  disposiçAo  das  providencias  necessárias,  porque,  não  po- 
dendo resultar  de  uma  condacta  contraria  senSo  anarchia 
6  desordem,  virá  a  cahir  nos  mesmos  males  que  pelo  passo 
que  acaba  de  dar  deseja  evitar. 

■  Rio  de  Janeiro,  em  vereação  de  9  de  Janeiro  de  1823.— 
José  Martins  Rocha.  ■ 

No  dia  se^inte  publicou  a  camará  outro  edital  n^estes 
termos: 

«  O  senado  da  camará,  tendo  publicado  hontem  com  no- 
tável alteração  de  palavras  a  resposta  que  S.  A.  Real  o 


D,:i,i,;..jt,  Google 


príncipe  regenie do Brasílse dignou  daráiepresentaçâoque 
o  pOTO  doesta  cidade  lhe  dirigíu.declara  queas  palarras  origi- 
naes  de  qae  o  mesmo  senhor  se  serriu  foram  a  sseguiotes ; 

a  Como  épara  bem  de  todos  e  felicidade  geral  da  nação, 
«  estou  prompto ;  diga  ao  povo  que  fico.  » 

■  O  mesmo  senado  espera  que  o  respeitável  publico  lhe 
desculpe  aquella  alleraçâo,  protestando  que  não  foi  volun- 
tária, mas  unicamente  nascida  do  transporte  de  alegria  que 
se  apoderou  de  lodos  os  que  estavam  no  salão  das  audiên- 
cias, sendo  láo  desculpável  aquella  falta,  que  todas  as  pes- 
soas que  acompanharam  o  mesmo  senado  não  tiveram  du- 
vida em  declarar  que  a  expressão  do  edital  que  se  acaba  de 
publicar  f6ra  a  própria  de  S.  A.  Real  com  alguma  pequena 
differença. 

Rio  de  Janeiro,  10  de  Janeiro  de  1822.  —O  juiz  de 
fora,  presidente,  Jo$é  Clemente  Pereira.  * 

Vém  estampadas  estas  peças  officiaes  nos  annexos  is 
cartas  do  príncipe  D.  Pedro  ao  rei,  seu  pai,  na  coUecção 
dos  documentos  publicados  por  ordem  das  cortes  em  1823, 
que  acompanharam  a  participação  dirigida  ao  governo  pelo 
commandante  da  força  expedicionária,  existente  no  Rio 
de  Janeiro ;  o  Diário  do  Rio  transcreveu  o  primeiro  edital 
na  folha  de  quinta-feira  10  do  Janeiro  e  o  segundo  na  do 
dia  seguinte,  e  ambos  vieram  a  lume  n^esse  dia  no  periódico 
Etpelho. 

Está,  pois,  authenticado  qne  houve  duas  respostas  ás  re- 
presentações do  dia  9 ;  mas  qual  a  razão  da  aífix&ção  do 
segundo  edital :  que  motivaria  as  duas  edições  diametral- 
mente  oppostas  das  palavras  do  príncipe  :  que  aconteci- 
mentos se  originaram  da  s^unda  resposta,  em  que  O.Pedro 
decididamente  e  soro  condição  alguma  aononciou  a  sua 
vontade  em  ficar  no  Brasil ! 

Eis  o  que  vai  occupar-nos  no  seguinte  capitulo . 


Dictizedby  Google 


—  44  - 
U 

£'  de  admirar  qao,  tendo  ido  o  senado  da  camará  fazer 
ama  petição  ao  priacipe,  estando  lodos  anciosos  por  ouvir 
as  palavras  d'es(e,  as  quaes  tinham  de  decidir  os  negócios 
públicos  e  a  situação  do  paiz,  reinando  silencio  na  sala  do 
palácio,  atteotos  e  desejosos  todos  de  adivinhar  pelos  mo- 
vimentos dos  lábios  do  príncipe  real  qual  a  sentença  que  ia 
pronunciar,  não  fossem  perfeitamente  percebidas  e  nSo 
ficassem  gravadas  na  memoria  de  todos  as  expressões  do 
regente  do  Brasil.  Tratava-se  de  negocio  de  alta  magni- 
tude, ia  decidir-se  a  sorte  do  Brasil,  lavrar-se  a  sua  sen- 
tença ;  ou  devia  continuar  como  reino,  com  direitos  ignaes 
e  irmãos  aos  de  Portugal,  ou  retrogradar,  e  ficar  mísera 
colónia ;  era  uma  questão  de  nacionalidade,  de  honra,  de 
autonomia  politica  a  que  estava  pendente  dos  lábios  do 
príncipe,  cujas  palavras  ou  haviam  de  dictar  a  condemoação 
ou  a  salvação,  a  liberdade  ou  a  escravidão  do  paiz  ame- 
ricano. Toldados  estavam  os  negócios  públicos,  obumbra- 
vam  o  horizonte  politico  nuvens  catiginosas  e  esperava-se 
um  flatt  cujo  vocábulo  devia  ser  pronunciado  pelo  príncipe. 
Como,  pois,  comprehender  que  foram  mal  ouvidas  e  mal 
interpretadas  as  expressões  de  D.  Pedro,  como  crer  que, 
tratando-se  da  conservação  ou  postergação  de  direitos  e 
r^alias  dos  brasileiros,  se  confundissem  as  palavras  que 
tinham  de  aclarar  estes  fados ;  póde-se  acreditar  em  ler-se 
confundido  a  primeira  resposta,  dúbia,  condicional,  com  a 
segunda,  plena  e  absoluta,  a  resolução  contemporisante  e 
temporária,  enunciada  na  primeira  resposta,  com  a  decisão 
franca  e  explicita  da  segunda  I  Podia,  é  certo,  haver  equi- 
voco em  uma  ou  outra  palavra ;  mas  a  diversidade  das 
expressões  e  do  sentido  entre  a  primeira  e  a  segunda  res- 
posta faz  crer  o  haver  sido  esta  lavrada  depois. 


Dictizedby  Google 


_  4o  — 

Os  documentos  coevos  v£m  em  auxilio  nosso. 

Diz  o  periódico  Malagueta,  escripto  por  Luiz  Augusto 
May,  no  seu  numero  i : 

t  Posto  que,  como  Uca  dilo,  nenhum  dos  periódicos  se 
propuzesse  ao  relatório  dos  acontecimentos  do  dia  9,  acon- 
teceu  que  o  Diário  do  dis.  10  oppareceu  com  a  interessante 
resposta  quo  o  serenissimo  Sr.  príncipe  regente  se  dignou 
dar  ao  senado  da  camará  ;  esta  resposta,  apezar  de  se  oão 
acliar  na  Gazela  Ministerial  do  mesmo  dia  10,  mereceu  o 
cunbo  de  oQjcial  por  isso  que  etla  se  achava  rercrendada 
pelo  escrivão  da  camará ;  mas  qual  foi  o  espanto  de  todos 
quando  no  Diário  do  seguinte  dia  (11)  se  onnuncia  a  res- 
posta de  S.  A.  Real  Iranscripta  em  palavras  dilTerentes  da 
do  dia  precedente,  e  que  para  ter  o  cunho  de  maior  ortho- 
doxia  viaha  referendada  pelo  juiz  de  fora,  presidente! 
Antes  que  appareça  novo  aonuncío  em  que  os  vereadores 
e  o  procurador  nos  transmitiam  esta  resposta  em  3*  e  4* 
forma  com  respectivas  assignaturas,  peço  desde  já  licença 
para  intervir. 

a  Não  será  esta  a  primeira  vez  em  occasião  de  alto  cor 
tejo  e  concursos  diplomáticos  e  municipaes,  em  que  tenham 
havido  equivocações  na  transmissão  de  discursos  e  res- 
postas ;  mas  é  inquestionavelmente  a  primeira  vez  em  que 
achando-se  as  três  potencias  da  alma  suspensas,  para  o 
fim  de  receber  impressões  de  palavras  do  mais  vivo  inte- 
resse, anciosamenie  esperadas  por  seis  ou  mais  {^soas 
de  ama  respeitável  municipalidade,  palavras  que,  pronun- 
ciadas, reinando  um  morno  silencio,  deveriam  ficar  logo 
consignadas  no  protocolo  da  memoria  do  todos,  appareça 
uma  contradicçãoque  forma  um  celebre  eontrastecom  a  asser- 
f^ão  que  acabo  de  fazer  acima,  sobre  a  digna  atlitude  que 
o  acto  tomou,  desde  a  sabida  da  casa  do  senado,  até  o  mo- 
mento da  falia  de  Sua  Alteza.   > 


Dictizedby  Google 


—  46  — 

Na  participação  que  Jorge  de  Arílez  dirigiu  is  cortes 

lè-se: 

c  S.  A.  Real  ouviu  com  agrado  a  soticitacSo  do  senado 
da  camará,  que,  na  mesma  aoíle  de  9,  publicou  por  um 
edital,  queS.  A.  Real  demoraria  sua  sabida,  alé  que  as  car- 
tes e  seu  augusto  pai  e  senhor  deliberassem  com  perfeito 
conhecimento  das  circumstaocias  occorrídas. 

«  Ainda  que  parece  dilfícíl  de  comprehender  como  um 
grande  numero  de  geatc,reunido  ao  mesmo  tempo  em  uma 
só  sala,  guardando  todos  um  respeitoso  silencio,  não  per- 
cebesse a  resposta  de  S.  A.  R.,  a  qual  o  senado  fez  pu- 
blica peto  edital  d^aquelle  dia,  viu-se  no  seguinte  outro 
edital  que  declara  não  ler  sido  squella  a  resposta ;  e  que, 
dtcididamente  e  sem  condição  alguma,  S.  A.  Real  annuncia 
sua  vontade  em  Qcar.  > 

No  officio  que  o  mesmo  Avilez  enviou  em  18  de  Janeiro 
ao  ministro  da  guerra,  Manoel  Martins  Pamplona,  l£-se : 

■  Espalharam  por  toda  a  parle  esta  doutrina,  que  (ornou 
tal  vigor  que  obrigou  a  camará  a  dirigir  a  S-  A.  Real  um  re- 
querimento precursor  da  independência  intentada,  para 
que  ricasseaqui;SuaAttezBannuiu,  significando  que  ficaria 
até  dar  parte  ás  cOrtes  geraes  e  a  seu  augusto  pai,  nosso 
amado  rei.  Esta  resposta  uao  pareceu  suSiciente  aos  inte- 
resses, epedíu-se  se  declarasse  por  um  edital  a  absoluta 
resolução  de  licar.  • 

Houve  pois  dualidade  de  resposta  ás  representações  diri- 
gidas ao  príncipe ;  mas  como  explicar  a  segunda  resposta, 
o  apparecimento  do  segundo  edital  t 

E'  do  crer  que,comprehendendo  o  principoque  a  primeira 
resposta  collocava-o  em  uma  posição  pouco  conveniente  e 
duvidosa,  não  só  em  relação  ao  congresso,  coroo  aos  bra- 
sileiros, mandasse  publicar  a  resolução  clara  e  resoluta 
contida  no  segundo  edital.  De  feito,  ficando  lemporaria- 


Dictizedby  Google 


—  i7  — 

meote,  desobedecia  ás  cdrtu:^  e  não  conlenlava  aos  brasi- 
leiros ;  ou  aconselhado  pelos  patriolas,  que  fizeram-lbe  ver 
que  a  primeiía  resposta  aão  preenchia  ás  necessidades  pu- 
blicas, á  situação  do  paiz,  nem  salisrazía  á  espectativa  po- 
pular ;  que,se  o  príncipe  não  devia  deixar  o  Brasil  n'aquelle 
momento  por  não  convir  á  nação  portugueza,  peior  seria 
DO  futuro,  mais  perigoso  e  difflcil  (ornar-se-ia  seu  re- 
gresso; que  nada  se  devia  esperar  das  cdrtes,  que  haviam 
já  manifestado  a  sua  reprovação,  por  haver  o  príncipe 
ficado  no  Brasil  como  r^enle,  excluindo-o  da  dotação,  e 
pesando  essas  razões  no  animo  de  D.  Pedro,  levassem>no 
a  dictar  as  palavras  do  segundo  editai, que  para  maisautheu- 
ticidade  e  cuabo  oíBcial  veiu  referendado  pelo  juiz  de  fora, 
presidente  do  senado,  José  Clemente  Pereira ;  foi  o  único 
que  apporeceu  na  Gazeta  Ministerial,  o  único  que  veiu 
consignado  no  termo  da  vereação  da  camará,  e  o  único  que 
o  principe  referiu  na  carta  em  que  relatou  esse  aconteci- 
mento a  seu  pai.  ' 

Que  a  primeira  resposta  não  satisfazia  á  situação  politica, 
aos  votos  populares,  prova-so  pelas  representações  apre- 
sentadas ao  príncipe,  das  quaes,  se  algumas  pediam  ao 
regente  do  Brasil  para  ficar  até  ulterior  decisão  do  con- 
gresso, declaravam  outras  que  decididamente  devia  D.  Pe- 
dro permanecer  do  Brasil. 

Disse  o  representante  da  província  do  Rio-Grande  do 
Sul,  no  dia  9,  ao  priacipe  real: 

I  N9o  podemos  de  nenhum  modo,  nem  por  considera- 
ção alguma,  consentirno  decretado  regresso  de  S.  A.  Real. 

Na  falia  endereçada  pelos  pernambucanos  ao  príncipe^ 
e  impressa  mais  tarde  por  ordem  d'este,  lé-se: 

c  Sim,  augusto  senhor ;  á  no  Brasil  que  V.  A.  Real  deve 
fixar  a  sua  residência,  D'esla  parle  da  monarchia  é  que  Vossa 


Dictizedby  Google 


-  48  - 

Alteza  pôde  sustentar  iUesos  os  sagrados  direiíos  da  corda, 
em  que  um  dia  ha  do  succeder.  ■ 

Dissera  em  1  de  Janairo,  o  clero  de  S.  Paulo,  pela  bocca 
do  seu  prelado : 

■  Não  se  aparte  Vossa  Alteza  do  reino  do  Brasil,  todos  os 
brasileiros  amam,  estimam  e  reverenciam  a  Vossa  Alteza  e 
sobre  todos  os  honrados  panlislas,  todos  elles,  eu  e  o  meu 
clero  estamos  promptos  a  dar  a  vida  por  V.  A.  Real  e  pela 
real  família.  • 

Produziu  a  primeira  resposta  má  impressão,  desagradou 
ao  povo;  corrobora  este  asserto  o  que  escreveu  Jorge  de 
Avillez  ás  cdrtes,  e  é  o  s^uinte : 

«  E  com  effeito  a  opinião  publica  mostrou-se  immedia- 
tamente  com  vehemencia  que  o  desejo  dos  que  subscre- 
veram o  memorial  era  de  que,  absolutamente  e  sem  sujei- 
tar-se,  nem  ás  cortes  nem  ao  monarcha,  fícasse.  Foi  este 
o  maior  Uiumpbo  que  conseguiram  e  que  os  armou  pars 
ulteriores  passos. 

Causou  a  segunda  resposta  vivo  contentamento  e  expan  - 
siva  alegria  aos  brasileiros,  que  desde  então  idolatraram  a 
D.  Pedro,  que,  havendo  desobedecido  formalmente  ás  or- 
dens do  coDgresso,  formara  con)  elles  um  tratado  de  alIiaDça, 
coroo  diz  o  nosso  conterrâneo  amigo  e  illustrado  consócio, 
o  Dr.  Joaquim  Manoel  de  Macedo.  A  cidade  iUuminou-se 
três  noites  coosecutivas,  o  iheatro  de  S.  João,  hoje  de 
S.  Pedro  de  Alcântara,  abriu  suas  portas,  e  aos  espectá- 
culos assistiu  o  principe  real  saudado  frequentemente  pe- 
los vivas  e  applausos  do  povo,  e  pelos  hymnos  dos  poetas. 

Mas  essas  mesmas  palavras,  que  encheram  de  jubilo  os 
corações  de  um  povo  inteiro,  exaltaram  os  ânimos  dos  sol- 
dados portuguezes. 

Costumada  a  exercer  a  mais  decidida  influencia  nos  negó- 
cios públicos,  8  intervir  directamente  na  marcha  goTerna- 


DictzedbyGoOglC 


^  49  — 

liva  e  a  exigir  medidas  de  maior  alcaoce  e  importância, 
havendo  obtido  pelo  seu  prouuaciamento  que  o  rei  jurasse 
em  26  de  Fevereiro  de  1831,  a  constituição  que  se  estava 
fazendo  em  Portugal,  e  o  príncipe  D.  Pedro  prestasse  jura- 
mento, em  5  de  Junho  do  mesmo  anno,  ás  bases  da  consti- 
tuição porti^ueza,  irritou-se  a  (ropa  de  Portugal  por  ver 
que,  sem  consultal-a,  sem  haver  obtido  pelo  menos  o  seu 
tácito  consentimento,  (omára  o  povo  a  deliberação  de  reter 
o  principe  no  Brasil,  acquiescendo  D.  Pedro  á  vontade  de 
seussubdilos,  snnuindo  a  seus  votos  (3). 

Exasperada  por  não  haver  exercido  influencia  na  reso- 
lução do  principe,  e  comprehendendo  seu  alcance  politico, 
Iralou  a  divisio  portugueza  de  intervir,  e  julgou  ser  tempo 
ainda  de  sopitar  a  vontade  do  povoe  do  filho  do  rei. 

Declarando  no  dia  11  Jorge  de  Avilez  Juzarte  de  Sousa 
Tavares,  general  da  divisão  auxiliadora,  que  estava  demit- 
tido  do  commando,  revoltaram-se  os  soldados  dos  bata- 
lhões II  e  15  e  os  de  artilheria  \  enfurecidos  percorreram 
de  noite  as  ruas,  quebraram  as  vidraças  e  apagaram  as  lu- 
minárias. 

Constava  a  divisão  auxiliadora  do  batalhão  11,  aquarte- 
ado  no  largo  de  Moura,  do  batalhão  15,  no  quartel  de  Bra- 
gança,  do  de  caçadores  3,  em  S.  Chrislovão,  e  do  4°  de 
artilhoría,  na  cavalharíça  do  paço. 

Exaltados  os  ânimos,  mostraram-se  os  offlciaes  portugue- 
zes  desabridos  em  suas  palavras  e  acçdes.  Estando  o  briga- 
deiro Francisco  Joaquim  Carreti  na  porta  d' uma  pharmacia 
d  rua  Direita,  disseram-lhe  os  que  rodeavam-no  que  o 
príncipe  não  iria  mais  para  Portugal. 

■  Ha  de  ir,  exclamou  o  brigadeiro,  ainda  qi\e  lhe  sirva 


(3i  V.  Compilidor  d.  à  de  27  de  Janeiro  de  lS33i 
TOMO  XXXI,  P.  II 


Dictizedby  Google 


de  prancha  a  folha  d'esta  espada.  •  E  pegou  da  espada  pen- 
deale  do  cinturão. 

Encontra Qdo-se  no  sagoSo  do  Iheatro  na  noite  de  II  os 
tenentes-coroneis  Josd  Joaquim  de  Lima  e  José  Marja  do 
batalhSo  li  de  Portugal,  disse  este : 

a  Vocâs  fotam  nossos  escravos,  sáo  e  hão  de  contÍDuar  a 
sèl-o  e  Tou  dar  &  prova.  > 

O  tenente-corooel  Lima  retirando  se  retorquiu : 

c  Veremos  isso.  > 

Referiu-nos  o  Dr.  Joaquim  Cândido  Soares  de  Heirelles, 
actual  cirui^ão-mór  da  armada,  este  facto,  que  vimos  rela- 
tado em  uma  carta  escripta  pelo  referido  cirurgião-mór 
em  30  de  Outuhro  de  1857,  a  qual  vem  impressa  na 
memoria  intitulada  Exposição  Histórica  da  Maponaria  no 
Brasil  pelo  cirui^iâo-mór  Manoel  Joaquim  de  Menezes. 

O  Dr.  Soares  de  Meírelles  era  n^aquella  época  cirurgião 
do  1*  batalhão  de  caçadores  do  paiz,  mas  por  haver  falta 
do  cirurgião  na  divisão  portugueza  estava  alistado  no 
batalhão  11. 

Eis  como  descreve  elle  na  supracitada  carta  a  altercação 
enire  Lima  e  José  Maria : 

■  Eu  chegava  ao  Iheatro  quando  isto  se  passava ;  o  com- 
mandante  do  11,  vondo-me,  disse-me  que  o  acompanhasse. 
Entrámos  em  casa  do  coronel  João  de  Sousa,  com  quem 
fallou  em  particular,  e  partimos  para  o  quartel.  Abi  estando, 
chegaram  o  mesmo  general  João  de  Sousa,  os  generaes 
Carreti,  Jorge  de  Àvilez,  Raposo  e  outros  oíHciaes  superiores. 
Pôz-se  logo  o  batalhão  em  armas.  Depois  de  alguns  mi- 
nutos de  conferencia  partiu  o  ajudante  a  galope  para 
S.  Cbristovão  para  fazer  pdr  em  armas  o  batalhão  3  de 
caçadores  de  Portugal,  e  outro  ollicial  para  o  quartel  de 
Bragança  e  artilheria  n.  i,  para  que  esta  e  o  n.  IS  também 
se  puzessem  em  armas. 


Dictzedby  Google 


■  Como  ú  commaDdanle  uo  furor  em  que  estava  não 
leQecliu  que  eu  era  brasileiro  e  não  compartilharia  os  seus 
desvios  e  dos  seus,  disse-me :  t.  Como  seus  patrícios  dSo 
a  querem  ser  livres,  bavemos  de  Ibes  dar  o  Uberdade  á 
«  força,  e  o  principe  desobediente  (foi  outro  o  termo  de  que 
<  se  serviu)  agora  mesmo  ha  de  ser  preso,  pois  vamo^ 
I  cercar  o  theatro  e  o  havemos  de  levar  pelas  orelhas  para 
bordo.  » 

a  'Como  eu  estava  á  paisana,  pedUlhe  licença  para  ir 
á  casa  fardar-me.  Parti  immediataraenle  para  o  thealro, 
e  fui  lor  ao  camarote  do  major  do  dia,  que  era  José 
Joaquim  de  Almeida,  major  do  meu  corpo.  Tomaado-o 
de  parte  conlei-lbe  o  que  havia ;  elle  couduziu-me  ao 
camarim  do  principe,  e  fél-o  chamar  para  lhe  communicar 
negocio  grave. 

a  O  principe  sabiu  incontinente  e  eu  lhe  referi  o  que 
havia:  não  voltando  mais  ao  camarim,  partiu  immediata- 
mente  para  S.  Cbristovão.  > 

Divulgada  repentinamente  a  noticia  da  violência  que  os 
oQiciaes  portugueses  queriam  empregar  contra  o  principe 
regente,  irado  correu  o  povo  para  as  ruas  e  praças,  o  tratou 
de  tomar  armas  de  defesa ;  formaram  os  ofliciaes  brasi- 
leiros uma  guarda  de  honra  para  acompanhar  o  príncipe 
até  á  quinta  da  Boa-Vista. 

De  caracter  enei^ico  e  destemido,  se  nâo  aterrava  facil- 
mente o  príncipe  real  D.  Pedro  ;  resoluto  a  resistir  contra 
a  divisão  portugueza,  mandou  armar  os  militares  da  segunda 
linha  e  a  guarnição  da  cidade,  mas  julgou  conveniente 
enviar  para  a  fazenda  de  Santa  Cruz  a  sua  família ',  e  essa 
viagem  precipitada,  feita  em  dias  calmosos,  aggravou  os 
padecimentos  do  príncipe  herdeiro,  que  contava  pouco  mais 
de  dez  mezes  de  idade. 

Tocou-se  a  rebato,  cidadãos  de  todas  as  classes  apresen- 


Dictizedby  Google 


—  52  — 

taraoi-íc  armados  ou  correram  aos  quartéis  do  caulpo 
de  Saot^Anoa  para  tomarem  o  mosquete  e  a  palrooa ;  offi- 
ciaes  reformados,  sacerdotes,  empregados  públicos,  d^o- 
ciarílcs  empunharam  armas  e  alistaram-se  como  simplos 
soldados. 

Apezar  de  se  achar  atacado  da  gota,  tomou  o  marechal 
Joaquim  de  Oliveira  Alvares  o  commaado  da  força,  o 
mandou  vir  da  Praia  Vermelha  a  bateria  da  arlilhería  mon- 
tada, que  foi  conduzida  por  animaes  da  cavalhariça  do 
principe. 

Arrombando  um  portão  que  dava  para  á  praia  de  Santa 
Luzia,  sahiram  do  arsenal  de  marinha  alguns  soldados  e 
operários,  e  foram  reunir-se  ao  povo  e  tropa  que  cc^u- 
lavam  o  campo  de  SaoCAnna. 

Os  raios  brilhantes  da  lua,  transformando  a  noite  em  dia, 
favoreciam  os  planos  dos  fluminenses,  mostravam-lbes  os 
caminhos,  guiavam-os  em  suas  excursões,  e  alentavam- 
lhes  na  alma  o  amor  da  pátria. 

Occupando  o  morro  do  Castcllo  e  assestando  uma  pe^a 
contra  a  casa  do  capitão-mór  Rocha,  tomou  a  divisão  por- 
tugueza,  ao  amanhecer  do  dia  1 3,  uma  atlitude  hostil  e 
ameaçadora;  oa  cidade  acbava-se  o  povo  armado,  e  pela 
effervescencia  e  movimento  guerreiro  podia  prognostica r-se 
grave  confliclo.  Mas,  receiando-se  da  resíslencia  que  os 
numinenses  podiam  aprcsentar-lhe,  crendo  nas  noticias 
exageradas  de  meios  de  defesa  artificiosamente  espalhadas, 
vendo  que,  apezar  de  Qcar  em  armas,  se  não  movera  do 
quartel  o  Iialalbão  de  caçadores  3,  e  que  não  podia  con- 
servar muito  lempo  a  posição  occupada,  resolveu  Àvílez, 
intimado  [>elú  principe,  capitular,  conservando  seus  sol- 
dados as  armas,  c  ri^tirut-se  para  a  Praia-tirande,  na  oulra 
banda  da  bahia,  onde  julgava  poder  perm3n'icor  alé  chegar 


DictizedbyGoOJ^IC 


-  33  — 

a  expediç&o  esperada  de  Portugal,  sendo  então  mais  facils 
a  resisteacia  e  mais  seguro  o  resultado  da  lata. 

Era  uma  capitulação  phaDtastica,  e  para  pioval-o  abra- 
mos de  Dovo  a  carta,  já  por  dós  cilada,  do  Dr.  Neirelles. 
Escreve  elle: 

t  No  dia  seguinte  appareci  em  o  o.  11 ;  tíuham  capitu- 
lado as  tropas  portuguezas,  e  iam  para  a  outra  banda. 

t  Felizmente  o  commandante  estava  como  na  véspera, 
por  isso  disse-me  que  a  capitulação  era  phanlastica,  e  que 
a  primeira  companhia  de  caçadores  3  que  cfaegasse  á  Praia- 
Grande  iria  occupar  Santa-Cruz,  que  elles  se  fariam  fortes, 
resisliriam  ao  príncipe  até  chegar  a  divisão  auxiliadora ;  e 
como  me  ordenasse  que  fosse  arranjar  as  ambulâncias, 
sahi  e  fui  a  Ioda  pressa  ao  campo  de  Sant^Anna.  Ahi 
chiando  dirigi-me  ao  mea  commandante,  que  eslava  com 
os  marechaes  Lído  de  Moraes,  Geneli  e  outros,  e  lhes  disse 
o  que  havia.  O  marechal  Lino  disse  que  sem  tomarem  o 
Pico  não  podiam  tomar  Santa-Cruz,  que  cincoeota  homens 
fariam  face  a  mil ;  e  não  deram  importância  ao  que  eu  lhes 
dizia :  t  Pois,  senhores,  lhes  tomei  eu,  no  Pico  ha  um  cabo 
e  cinco  soldados.  •  E  fui  paia  o  general  Curado,  que  estava 
á  testa  das  forças  patrióticas ;  mal  me  ouviu,  balendo-me 
no  hombro,  disse :  «  Tem  razão,  meu  menino. »  E  mandou 
immediatamenle  um  tenente  com  60  homens  occupar  o 
Pico  e  reforçar  Santa-Cruz. 

c  Não  se  linha  passado  uma  hora  que  chegara  ao  Pico  a 
força  mandada,  quando  a  companhia  de  caçadores  chegava 
lambem.  Reconhecendo  a  força,  retirou-se  (i). 

(&]  Falleceu  o  Dr.  Joaquim  CBodldo  Soares  de~,MeireIles  em  13  de 
Julbo  de  1868  e  sepiiltou-se  no  cemitério  de  S.  Francisco  de  Paula. 
Era  mediro  da  imperial  camará,  membro  honorário  da  academia  de 
medicíoa,  oflicial  do  Cruzeiro,  commeDdador  da  Rosa,  cavalleiro 
de  Aviz,  conselheiro,    clturgiSo-mór  da  armada,  e  liotia  a  medalh" 


Dictzedby  Google 


—  54  — 

Descrevendo  o  embarque  da  divisão  portugueza  diz  o 
erudito  historiador  Vambagen : 

(  Antes  que  as  ditas  tropas  portuguezfts  passassem  á 
outra  banda  alravessaram  formadas  algumas  ruas  da  cidade, 
fazendo  compassadamente  com  a  marcha  um  tal  niido 
grave  com  os  sapatos  dos  soldados  cravejados  de  laxas,  que 
o  povo  se  lembrou  de  denominal-os  pés  de  chumbo,  alcu- 
nha que  depois  se  estendeu  a  todos  os  fdhos  de  Portugal, 
que,  vendo  n'ella  aiTronta,  d'Í5So  julgaram  vingar-se  cha- 
mando aos  Qlhos  do  paíz  pés  de  cabra,  alcunha  que  en- 
volvia em  si  um  verdadeiro  insulto,  que  talvez  conlribuiu 
muito,  senão  a  encarniçar  a  luta  contra  os  européos,  pelo 
menos  a  arraigar  ódios  que  felizmente  já  quasi  desappa- 
receram  com  vantagem  dos  dois  paizes.  > 

Transferida  em  embarcações  de  transporl»  a  divisão 
portugueza,  excepto  o  batalhão  de  caçadores  que  estivera 
em  S.  Christovão,  não  descansou  o  príncipe;  mandou 
reunir  tropa  e  milícias  no  campo  do  Barreto  para  cortar 
á  divisão  a  communicação  do  interior  do  paiz;  coUocou 
em  frente  aos  quartéis  da  Armação,  occupados  pelos  sol- 
dados portuguezes,  alguns  navios  de  guerra  ;  escreveu  aos 
governos  de  S.  Paulo  e  Minas  pedindo-lhes  reforço  de 
tropa ;  fez  uma  representação  ao  povo  e  outra  aos  soldados 
de  Avilez,  que  lambem  publicou  um  manifesto  justilicando 
o  seu  procedimento  ;  ordenou  que  os  soldados  da  divisão 
que  requeressem  baixa  a  tivessem,  e  d'esse  indulto  aprovei- 
taram-se  muitos,  pelo  que,  representou  Avilez  ao  príncipe, 
que  não  o  altendeu,  e  que,  talvez  para  manifestar  mais 
claramente  sua  adbesuo  aos  brasileiros,  chamou  ao  minis- 

comniomorativa  do  rendimento  de  Uruguajana.  Occupou  dislincto 
lugar  cuti-c  os  médicos  do  paiz,  e  aJDda  mesmo  nos  leropos  das  lutat 
ardentes  dus  parijdos  sout)e  ganliíir  e  conservar  amigis  dedicados 
calrc  seus  adversários  políticos. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  55  — 

terio  a  Caetano  Pinto  de  Miranda  Monten^ro,  Joaquim 
de  Oliveira  Alvares  e  a  José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva, 
illustre  brasileiro,  que,  coUocado  ao  lado  do  regente  do 
Brasil,  BCODselhou-o  e  guiou-o  tornando-o  heróe  da  Uber- 
dade, creador  de  um  povo. 

No  dia  26  recebeu  D.  Pedro  a  deputação  enviada  pelo 
povo,  clero  e  governo  de  S.  Paulo  pedindo-lbe  para  per- 
manecer no  Brasil,  e  em  presença  do  príncipe  disse  José 
Bonifácio : 

«  Digoe-se  V.  A.  Real,  acolhendo  benigno  as  supplicas 
de  seus  ãeis  paulistas,  declarar  francamente  á  face  do 
universo  que  não  lhe  é  licito  obedecer  aos  decretos  últimos 
para  a  felicidade  não  só  do  reino  do  Brasil,  mas  de  todo 
o  reino  unido.  « 

No  discurso  recitado  em  15  de  Fevereiro  pela  deputação 
de  Minas  perante  o  regente  do  Brasil  lê-se....  «  até  que  as 
cortes,  moderando  a  acceleração  de  suas  decisões,  provi- 
denciem legalmente,  como  é  de  esperar,  o  que  íòi  justo  e  de 
razão,  menos  sobre  o  regresso  de  V.  A.  Real,  que  jamais 
deixará  de  ser  o  centro  commum  da  união  e  do  poder 
eiecutivo  n'esle  reino.  » 

Provam  estas  palavras  e  as  proferidas  por  José  Bonifácio 
que  a  idéa  geral  e  fíxa  era  que  o  príncipe  não  devia  aban- 
donar mais  o  Brasil. 

Lembraram  as  representações  de  S.  Paulo  e  Minas  a 
conveniência  da  convocação  de  uma  junta  de  procuradores 
geraes  ou  representantes  legalmente  nomeados  pelos  elei- 
tores de  parocbia  juntos  em  cada  comarca. 

Razfies  linha  o  príncipe  D.  Pedro  para  acbar-se  mo- 
lestado contra  a  divisão  portugucza;  tomando  uma  atli- 
tude  revolucionaria,  perturbando  o  socego  publico,  obrÍ- 
gára-o,  em  5  de  Junho  de  1821,  a  alterar  a  férma  do 
governo  legalmente  eleito  pelo  rei ;  o  que  levou-o  a  chamar 


Dictizedby  Google 


—  5fi  - 

a  essa  tropa  de  ínsubordiíMcta  em  carta  dirigida  a  sen  paj 
em  9  de  Junho,  na  qual  pediu-lhe  a  fizesse  render  qaaato 
antes;  acquiescendo  í  voalade  dos  brasfleiros  para  ficar 
DO  Brasil,  oppuzéra-se  a  divisão,  irmira-se,  desrespeiUra-o 
e  ameaçára-o,  assim  como  ao  povo,  e  além  d*isso  magoara 
profundamente  o  seu  coraçSo  a  morte  do  príncipe,  seu 
filho,  em  4  de  Fevereiro,  victima  incruenta  d'esse  mo- 
tim militar.  Relatou  a  el-rei  esse  acontecimento  D'estas 
palavras : 

•  Meu  pai  e  meu  senhor.  —  Tomo  a  penna  para  dar  a 
Vossa  Magestade  a  mais  triste  nodcia  do  successo  que  tem 
dilacerado  o  meu  corafão.  O  príncipe  D.  João  Carlos,  meu 
filho  muito  amado,  ji  não  existe. 

«  Uma  violenta  constipaçSo  cortou  o  fio  de  seu;  dias. 
Este  infortúnio  6  o  frocto  da  insubordinação  e  dos  crimes 
da  drvisão  portugueza.  O  príncipe  \i  estava  incommodado 
quando  esta  soldadesca  rebelde  tomou  as  armas  contra  os 
cidadãos  pacificos  d' esta  cidade ;  a  prudência  exigiu  que 
eu  fizesse  partir  immediatamente  a  príoceza  e  as  crianças 
para  a  fazenda  de  Santa-Cruz,  afim  de  as  pAr  ao  abrigo 
dos  successos  funestos  de  que  esta  capital  podia  vir  a  ser 
o  thealro.  Esta  viagem  violenta,  sem  as  comraodidades 
ner^ssarias,  o  tempo  que  era  mui  húmido,  depois  de 
grande  calor  do  dia,  tado  emfim  se  reuniu  para  alterar  a 
saúde  de  meu  caro  filho,  e  seguiu-se-lhe  a  morle. 

«  A  divisão  auxiliadora,  pois,  foi  a  que  assassinou  o  meu 
filho  e  neto  de  Tossa  Magestade.  Em  consequência,  é  contra 
ella  que  levanto  minha  voz.  Ella  é  responsável  na  presença 
de  Deus  e  ante  Vossa  Magestade  d'este  successo,  que  tanto 
me  tem  afflicto,  e  que  igualmente  afiligirá  o  coração  de 
Vossa  Magestade.  > 

Não  cabendo-lhe  mais  no  peito  os  impulsos  do  seu 
rancor,  e^otada  a  paciência  para  supportar  mais  tempo  o 


Dictizedby  Google 


desrespeito  e  pertÍDacii  da  divisão  portDgaeu,  passou-» 
o  príacipe  D.  Pedro  para  bordo  da  Tragata  União,  e  em  9 
de  Fevereiro  iotimou  a  divisão  para  embarcar  do  dia 
seguinte,  e,  se  o  Dão  fizesse,  lhe  não  daria  quartel  e  tra- 
tal-a-bia  como  iaimiga.  Quizeram  os  officiaes  portuguezes 
procrastinar,  vieram  a  bordo  apresentar  os  inconveai^utes 
de  tão  próxima  partida;  mas,  ouviado-os,  respoadeu-llies 
o  príncipe  roal : 

fl  Já  o  ordenei  e  se  o  não  fizerem  amanbã  comeQO  a 
fazer-lbes  fogo.  » 

De  feito  dormiu  a  bordo,  e  deu  ordens  para  entrarem  os 
navios  DO  dia  seguinte  em  linha  de  combate. 

Conhecia  Avilez  o  caracter  enérgico  e  decidido  do  prinui- 
pe,  que  um  dia  havia  de  ser  o  seu  rei,  e  por  isso  nâo  reluclou 
mais,  executou  no  dia  10  a  ordem  do  regente  do  Brasil, 
e  em  15  fez-se  de  vela  elle  e  1,046  praças  acantonadas  em 
cinco  galeras,  seguindo  nas  aguas  d'essa  esquadrilha  as 
correias  lÀheral  e  Marta  da  Gloria  até  certa  distancia  da 
costa. 

Causou  viva  salisraçSo  a  partida  dos  soldados  de  Avilez ; 
rígozijaram-se  o  príncipe  e  o  povo ;  os  cidadãos,  qiie  muitos 
dias  conservava  m-se  de  guarda  nos  edifícios  públicos,  per- 
correram as  ruas  com  os  mosqueies  enramados  e  ao  som 
de  instrumentos  de  musica ;  o  anjo  da  paz  adejou  soas  azas 
brancas  sobre  a  cidade,  annunciando  ao  povo  tranquilli- 
dade  e  seguranf^. 

Procedera  mal  Jorge  de  Avilez  desobedecendo  ao  princi'- 
pc,  que,  por  sua  conducla,  só  linha  que  responder  ás  cortes 
e  ao  rei  seu  pai ;  qualquer  deliberação  que  tomasse,  era 
dVIe  a  responsabilidade;  não  tendo  autorisação  para  dSo 
cumprir  as  ordens  do  Slho  do  rei,  transformaram -se  os 
soldados  portugueses  em  rebeldes,  offenderam  ao  governo 
TOKO  irxxi,  p.  II  8 


Dictzedby  Google 


-se- 
ixal do  paiz  e  abusaram  da  força,  arrogando  a  si  dinilos 
que  nto  tinham. 

Eotretaoto,  em  vez  de  censura,  reodeu  o  congresso  lou- 
Tores  á  conducta  de  Avilez;  mas  díversamenle  procedeu 
com  Francisco  HaximiliaDo  de  Sousa,  vice-al mirante  ds 
eipedição  anciosameote  esperada  por  aquelle  general  paTi 
apoial-o  em  suas  pretenções. 

Composta  da  náo  D.João  VI,  íragati  Carolina,  charraas 
Orestea,  Conde  de  Peniche,  Princesa  Real,  e  dois  transpor- 
tes com  1,190  praças  de  desembarque  sob  o  commando 
do  coronel  António  Joaquim  Rosado,  chegou  essa  ex- 
pedição ao  Rio  de  Janeiro,  e  por  ordem  do  princíperegeote 
fundeou  fora  da  barra  em  O  de  Março  :  a&  noite  d'esse  dia 
vieram  á  lerra  os  commandantes,  e  assigoaram  um  prO' 
teslo  sujeitando-se  ás  dotermioaçõesdo  principe;  nodia 
seguinte  ancoraram  os  navios  junto  ás  baterias  da  fortaleza 
do  Santa-Cruz,  e  providos  de  vitualhas  sarparam  no  dia 
36  para  Portugal,  excepto  a  fragata  Caroíma  , cuja  olEda- 
lidade  abraçara  a  causa  do  regente  do  Brasil.  Chegando  a 
Lisboa,  foi  o  vice-almirante  Francisco  Maiimiliano  escuso 
do  serviço  em  conselho  de  guerra,  mas  o  conselho  do  al- 
mirantado  o  absolveu. 

Escrevemos  estas  paginas  para  demonstrar  que  houve 
duas  respostas  ás  representações  dirigidas  ao  priocipo  em 
9  de  Janeiro  de  1822;  a  primeira  resposta  foi  contempo- 
tisante,  palliativa,  indecisa,  e  não  satisfez  ás  necessidades 
publicas,  á  especlaliva  popular,  o  que  levou  o  príncipe  a 
mandar  publicar  a  segunda  resposta, franca.decidi da  e  reso- 
luta; foi  uma  decisão  final,  e,  pronunciando-a,  operou 
D.Pedro  uma  revolução,  passou  o  Rubicon,  Uavou  a  lula 
com  Portugal,  e  aplainou,  sem  o  pensar,  o  caminho  quo 
devia  conduzil-o  ás  margens  do  Ypiranga;  apressou  a  li- 
bertação do  Brasil,  salvou-o  da  anarchia,  das  lutas  civis. 


Dictzedby  Google 


^  59  — 

plantou  Da  America  a  monarchia,  toroou-se  o  centro  dos 
partidos  políticos,  o  chefe  dos  brasileiros,  o  supremo  ma- 
gistrado da  nação ;  se  nio  cortou  logo  os  grílbões  que  pren- 
diam a  terra  americana  ao  reino  européo,  íez  com  que  esses 
grilhões  Dão  roxeassem  os  pulsos,  nem  tolhessem  mais  os 
movimentos  dos  filhos  do  novo  mundo  ;  começou  a  ser 
brasileiro,  como  disse  elle,  respondendo  dois  annos  de- 
pois a  uma  reprosentação  do  senado  da  camará,  e  a  ser  con- 
siderado o  primeiro  defensor  da  terra  de  Sauta-Cruz,  e  por 
isso  ainda  não  tremulava  em  nossos  baluartes  o  estandarte 
auri-verde,  e  jã  o  povo  ofterecia  ao  herdeiro  do  throDO 
portuguez  o  titulo  de  defensor  perpetuo  do  Brasil,  indicado 
pelo  brigadeiro  Domingos  Alves  Branco  Moniz  Barreio. 

Mas  procedeu  mal  D.  Pedro  desobedecendo  aos  de- 
cretos das  cortes  portuguezas  ? 

Certamente  não :  offendidos  os  seus  brios  pelos  decre- 
tos das  cortes,  insultado  nas  discussões  do  congresso  por 
alguns  deputados  roais  exaltados,  tendo  recebido,  como  se 
propalou  n^aquella  época,  insinuações  de  el-rei  para  não 
altender  ás  ordens  das  côrles,  e  reconhecendo  que,  a  sua 
partida  traria  a  independência  inevitável  do  Brasil,resolveu 
ficar  para  conservar  unidos  os  Estados,  dos  quaes  um  dia 
havia  de  ser  o  soberano  :  não  desejava  que  se  separasse 
dos  reinos  de  Portugal  e  Ali^arves  o  do  Brasil,  descoberto 
por  portuguezes  e  colonisado  e  civilisado  porelles;lhe 
não  convinha  deixar  escapar  do  seu  scoptro  este  vasto  do- 
mínio ;  >  porém  conhecia,  coroo  diz  o  uislíocto  autor  da 
Historia  da  Fundação  do  Império  Brasileiro,  mais  atilado 
que  muitos  portuguezes  qua  se  apregoavam  de  enteodidos 
e  experimentados  pela  lição  do  mundo,  e  provectos  de 
idade,  que  se  não  podia  perpetuar  o  continente  americano, 
sob  a  dinastia  de  Bragança,  sem  que  se  lhe  concedesse 
uma  tal  autonomia  ou  independência  admÍDistrativa,  com 


D,:„l,;cdtv  Google 


_  60  — 

um  governo  próprio  no  seu  seio,  e  com  institaii;deB  livres 
e  adequadas  aos  interesses  dos  moradores  e  is  oecessi- 
dides  do  paiz,  bem  que  regido  em  nome  do  soberano  de 
imbos  os  reinos.  Previa  que  as  tentativas  de  recolonisa{io 
tenderiam  a  uma  emancípaçáo  completa,  a  que  se  obstaria 
sómenie  com  providencias  prudentes  e  moderadas,  e  fa- 
culdades de  reger-se  no  seu  tanto,  como  nação  í  parte  e 
ligada  apenas  por  conveulencías  o  laços  de  politica  geral. 

Foi,  portanto,  para  bem  dã  tudos  os  seus  súbditos  da 
America  e  Europa,  de  toda  a  naçSo  portugueza,  que  D.  Pe- 
dro ficou  no  Brasil ;  ainda  so  n&o  tratava  da  índependeucía 
do  reino  americano ;  dissera  José  Boniracio  no  discurso 
proQuociado  perante  o  príncipe  em  26  do  Janeiro : 

■  Mas  nós  declaramos  perante  os  homens  operante  Deus, 
com  solemne  juramento,  que  não  queremos  nem  deseja- 
mos separar-005  de  nossos  caros  irmãos  de  Portugal,  que- 
remos ser  irmãos,  e  irmãos  inteiros,  e  nfto  seus  escravos.  » 

Gollocado,  porém,  D.  Pedro  i  frente  dos  brasileiros  no 
caminho  da  liberdade,  teve  de  acompanhar  os  aconteci 
mentos ;  não  pAde  retrogradar,  a  causa  do  Brasil  tornou-se 
também  sua :  prestigioso  pelo  seu  nascimqnto  e  direitos  de 
rei,  tornou-se  immediatamente  o  chefe,  o  centro  dos  mo- 
vimentos políticos  do  Brasil,  facilitou  as  pretanções  e  rea- 
lisou  os  desejos  dos  brasileiros :  sem  «lie,  o  Brasil  tiber- 
tar-se-hia  talvez  mais  tarde,  porém  a  indopendencia,  era  vez 
deumtriumpho  rápido,  seria  umi  guerra  longu,  e  depois 
da  victoris  não  seguir-se-bia  a  paz,  mas  as  commoçôes  da 
arbitrariedade,  ou  as  violências  da  democracia. 

£',  pois,  duplicadamente  memorável  o  dia  9  de  Janeiro, 
é  a  aurora  da  nossa  independência,  como  disse  ]o  visconde 
de  Cajrú,  é  o  marco  da  nossa  liberdade,  o  dia;  da  iniciação 
do  nosso  regimen  governativo,  odiadaliberdade,  da  ordem? 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  61  — 

do  governo  destinado  ao  Brasil ;  o  —fico,—  foi  o  jlat  pro- 
naociado  na  America. 

Assim  como  Guilherme  Tell  nSo  comprimeotando  o 
barrete  de  Gesler  libertou  a  Suissa,  e  os  habitantes  de  Bos> 
toD  alijaado  ao  mar  o  chá  dos  navios  ingleies  iniciarara  a 
guerra  que  deu  iadependencia  á  terra  de  Washington  e  Fran 
klia,  assim  o  príncipe  real  D.  Pedro  pronunciando  —  fico 
—libertou  o  Brasil. 
1867. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


ESBOÇO   BIOGRAPHICO 

DO 

GENERAL  JOSÉ  DE  ABREU, 
BAnXO  DO  SERRO  I^AROO 

JOSG'  UARIA  DA  SILVA  PAIIANHOS  JÚNIOR  r 


I 

Nuaímenlo  de  José  de  Abreu.  —  Assenta  praça  no  regimento  de 
dragOei.  —  E'  promovido  a  cspilio,  peloB  serviços  prestados  nas 
campanhas  de  1811  e  1812.  —  E'  elevado  a  teDente-coronel,  e 
recebe  o  cominando  militar  da  fronleira  do  Quarahim. 

Um  dos  talentos  mais  brilbantes  que  adornaram  as  le- 
tras e  o  jornalismo  de  Do;sa  terra,  o  Dr.  Justiaiano  José  da 
Rocba,  escrevendo  a  vida  do  illustre  marquez  de  Bae- 
pendf  ( 1 ),  enunciou  um  conceito  que  nâo  pôde  ser  con- 
testado aro  sua  generalidade,  quando  accusou  de  ingrato  e 
esquecedor  o  povo   brasileiro. 

Com  effeito,  é  uma  (riste  realidade !  nem  o  passado,  nem 
o  futuro  do  paiz  altrahe  entre  nós  a  alleoção  publica,  que 
descuidosa  se  deixa  absorver  na  contemplação  dos  succes- 

O  Este  trabalho  foi  eecripto  quando  seu  autor  cursava  ainda  as 
aulas  da  faculdade  de  diíeiíodeS.  Paulo.  A  isso,  e á  rapidez  com  que 
fbi  traçado,  deve-se  s(diretudo  o  desalinho  da  phrase  e  outras  fal- 
tas, que  sem  duvida  o  leitor  desculpará.  Se  esta  memoria  pdde  aspi- 
rar a  algum  merecimento,  6  unicamente  ao  de  occupar-se  de  alguns 
pontos  da  nossa  historia,  sobre  os  quaes  nada  se  tem  escrípto  até 
hoje. 

O  AUTOK. 

(1)  Biogrc^ia  it  Maaott  JaàníKo  liogiuira  da  Gama,  ntarqaex  dt 
Baependy,  Rio  de  Janeiro,  18!>i,  1  vol. 


Dictizedby  Google 


SOS  e  dos  homens  do  preaeale.  Paia  os  aconlecimentos  éo 
passado.  —  d'es5e  passado  ainda  Ião  receole,  mas  tio  rerlíl 
6m  grandes  exemplos  e  lições  proveitosas, — só  ha  esqueci- 
menlo  e  iodifferença  da  parte  de  quasi  todos,  e  até  escar- 
Deo  e  ridículo  da  parte  de  muitos. 

NuDca  pertençamos  ao  numero  do  s  indiiTerentes,  ou  d'es- 
ses  espíritos  fortes ;  e  é  por  isso  que  tentamos  hoje  esbo- 
çar rapidamente  a  biographia  de  um  brasileiro  illustie, 
quu  consagrou  sua  vida  inteira  ao  serviço  da  terra  que  o 
viu  nascer,  dando  no  decurso  d*eila  as  mais  raras  provas  de 
amor  e  dedicação  á  pátria. 

O  general  José  de  Abreu  é,  nn  verJado,  um  dos  vultos 
mais  eminentes  e  distioclos  da  nossa  historia.  Não  foi  elle, 
digamol-o  já,  um  d'esses  entes  felizes  que  se  cobrem  do 
honras  o  de  grandeicas,  só  por  que  sabem  captar  as  boas 
graças  dos  poderosos  da  terra. 

Abraçando,  ofphãode  protecções,  a  carreira  hoarosadas 
armas,  illustrou  seu  nome,  enriqueceu  os  fastos  militares 
de  sua  pátria,  e  conquistou,  unicamente  por  sou  mereci- 
mento, as  honras  e  as  dignidades  quo  lhe  couberam  em 
partilha. 

Duas  vezes  livrou  elle  a  província  de  S.  Pedro  do  Ilio- 
Graado  do  Sul  da  invasão  estrangeira ;  dezonovo  vezes 
bateu-se  nos  campos  de  batalha,  cobrindo  sua  fronte  de 
louros  immarcesciveís.  Assim  como  nunca  se  deixou 
allucínar  pelos  encantos  da  fortuna,  manifestando  sempre 
uma  modéstia  que  raríssimas  vezes  se  pôde  encontrar  em  tão 
subido  grão ;  assim  também  não  se  deixou  abater,  nas  ho- 
ras do  infortúnio,  pelas  injustiças  e  ingratidões  do  que  foi 
TÍclima. 

Sobre  os  primeiros  aonos  de  sua  vida  muito  poaco  nos 
foi  possível  saber.  Descendia  de  uma  família  de  açurístss, 
que  se  eslaboIecAra  no  Povo  Novo,  lugarejo  situado  entre 


Dictizedby  Google 


Rio-GraDd«  «  Pelotas,  onde  viu  elle  a  luz  do  dia  qo  utâmo 
irinteDÍo  do  século  passado. 

Recebidos  os  primeiros  rudimeotos  da  educação,  alís- 
loa-seno  regimento  de  dragões  (2),  babÍluaDdo-se  assim 
desde  a  mais  teora  idade  ás  prífacões  da  TÍda  míliur. 
N^sse  lamento  servia  Abreu  até  ao  posto  de  capitão,  fa- 
zendo Rom  elle  a  campanha  de  1801,  e  as  de  1811  e  1812, 
nas  quaes  começou  logo  a  tomar-se  conhecido  pelo  seu 
zelo  e  aclÍTÍdade.  pela  sua  iotelligencía  e  admirável  bom 
senso,  que  suppriam  completamente  a  falta  de  uma  edu- 
cação esmerada,  aliás  muit(  pouco  commum,  mesmo  hoje, 
entre  os  que  se  dedicam  á  carreira  das  armas, 

N'eslas  ultimas  campanhas,  sendo  tenente  da  7' com- 
panhia do  referido  corpo,  esteve  a  principio  cm  Uissões, 
na  columna  do  enláo  coronel  JoSo  de  Deos  Menna  Bar- 
reto (3),  o  foi  depois  destacado  com  o  coronel  Thomaz  da 
Costa  ( V)  para  a  fronteira  do  Quarabim,  ameaçada  por  Ar- 
ligas,  d'oDde  em  seguida  marchou  para  a  foz  do  Santo 
ÁDtoDio,  aguardando  ahi  a  chegada  do  exercito  pacificador 
ás  mai^eos  do  Urugaay  (8). 

(2)  Segundo  as  inrormaçSea  que,  por  inlermedio  de  um  amiga, 
obliveiDOs  do  Eim.  Sr.  general  J.  J.  Machado  de  Oliveira,  esse  re- 
gimeolo  leve  poiíeríonmnte  a  denomiiUQSo  de  5*  de  ca^allaría. 

(3]  DepoiE  marechal  de  exercito,  viKonde  de  S.  Gabriel,  fallecido 
em  18&9. 

[à)  Thomaz  da  CoeU  Correia  Rabelto  e  Silva,  depois  generoL 

(5)  Em  1811  tínhamos  oi  (ronteira  do  Qoarahim  uma  força  mui 
diminuía,  mas  que  arrojava-K  a  fazer  incnrsSes'  no  lerrllorío  ini- 
migo. Poietu  fcirça  (duzentos  homens)  que  se  apoderou  de  Pi;- 
sBDdU,  depois  de  uma  luta  encarniçada,  em  que  da  guatnicão  ape-. 
nas  escaparam  oito  homens,  perecendo  todos  os  ouIroB,  inclusite  o 
chefe  inimigo,  que  era  um  capilSo  Bento,  Dlho  de  l>ort<)-Alegre. 

Marchando  Artigai  para  o  Salto  crm  ca  liabilanles  ds  c-impanha, 
em    numero  de  qiiatcrie  mil,  foi  contido   ahi  pelo  najor  HaLtel 


DictzedbyGoOglC 


A  campanha  de  1812  termicou,  como  se  sabe,  pelo  trígie 
armistirjo  que  celebrara  em  Bueaos-Ayres  o  commis- 
sarío  portuguez  Radmaker,  e,  conhecido  elle,  as  nossas 
forças,  após  pequena  demora,  se  puseram  em  marcha,  re- 
colhendo-se  &  fronteira.  No  dia  13  de  Outubro,  o  general 
em  chefe  despediu-se,  nas  ponlas  de  Gunã-pirú  do  bravo 
exercito  que  commanddra,  promettendo  aos  seus  compa- 
nheiros d'armas  levará  noticia  do  soberano  os  nomes  dos 
que  mais  se  haviam  assígnalodo;  o  entre  estes  não  olvidou  o 
do  tenente  Abreu,  de  sorte  que  na  primeira  promoção  foi 
elle  elevado  ao  posto  de  capitão  com  antiguidade  de  11  de 
Junho  de  1811. 

Poucos  annos  depois,  em  1814.  era  o  mesmo  Abreu 
nomeado  commandanto  dos  esquadrões  de  mílicias  de 
Entre-Ríos,  dando-se-lhe  ao  mesmo  tempo  a  patente  de 
tenente-coronele  ocommando  militar  do  districto  de  Entre- 
Rios,  que  comprebendia  a  linha  de  fronteiras  do  Quarabim 
até  SanfAnna  do  Livramento. 

Aproveitados  assim  os  seus  serviços,  e  coUocado  em 
posição  mais  elevada,  pôde  elle  nas  campanhas  seguintes 
as3ÍgnaIar-se  por  uma  serie  de  feitos  notáveis,  que  basta- 
riam para  firmar  a  gloria  do  seu  nome,  e  para  inscrevAI-o 
em  caracteres  de  ouro  em  muitas  das  paginas  mais  bri- 
lhantes da  nossa  historia. 

Em  i81C  é  que  começou  a  tornar-se  interessante  a  vida 
do  illustre  barão  do  Serro-Lai^o.  Acompanbemol-o  aqui 

dos  Santos  Pedroso.  Atacado  iraiçoeiramente  junto  ao  Arapeby-Cblco 
por  forças cJDco  vezes  maiores  (lambem  conimaodadaapor  umrio- 
grandease,  o  teneotc-corooel  Manoel  IHoto  Carneiro },  pOdeHedroso 
repellír  os  coDlraríos  e  retirar-se  para  a  serra  do  Jaráo,  d'oiir1e  vol- 
tou depois,  a  medir-se  com  o  iaimigo.  Foi  em  consequência  d'esses 
BDCce.ssos  que  o  conde  do  Bio-Pardo  destacou  paraoQaaratiimaco- 
loffioa  do  coronel  Costa,  da  qual  Abreu  fazia  paite. 
TOMO  XXXI,  P.  II  9 


Dictizedby  Google 


—  66  — 

DOS  seus  diu  de  gloria,  para  seguil-o  depois  em  seus  dias 
de  infortuoio,  quando,  viclima  da  iogralidão,  veado  esque- 
cidos seus  serTiços,  empunhava  a  sua  espada,  sempre  ven- 
cedora, para  ir  morrer  como  um  simples  soldado  em  de- 
fesa da  honra  nacioaal  ultrajada. 

[I 

Rápida  visla  d'olbos  sobre  o  estado  da  Banda  Oriental  em  181G,  e 
sobre  as  causas  da  iuterveocão  armada  do  governo  de  D.  iiAo  VI.— 
Cb^ida  dos  valuntarios  reaes—  lustrucções  do  capiíao-general  do 
Rio-Orande.—  Começo  das  hoslilídades,  encoDiros  entre  as  lorças 
inimigas  e  as  de  José  de  Abreu,  nu  dlElriclo  de  Entre-Rioa.—  U  ge- 
neral Curado  toma  conta  do  eiercilo  da  direita.— Plano  de  Artigas, 
suas  forças  invadem  as  Missões  Oríenlaes  e  sitiam  ^.  Borja  —  José 
de  Abreu  é  rnvíiido  para  levantar  o  silic  de  S,  Borja.--  .Sua  marcha 
ao  longo  do  Urugua;.— Combales  du  fasso  do  Japejú  e  do  Ibicuh;, 
em  que  é  repellido  Sotél.  —  Abreu  atravessa  esle  rio  em  procura 
do  coronel  Andrés  Arligas.  —  Combate  de  S.  Borja  e  restaurando 
das  MissSea  Orleolaes. 

A  campanha  de  1812  terminou  sem  que  tivéssemos 
obtido  as  vantagens  que  o  governo  línba  o  direito  de  esperar. 

A  Banda  Oriental  continuou  a  ser  preza  da  mais  desen- 
freada anarchia  e  da  mais  estúpida  das  tyrannias.  José 
Artigas,  caudilho  que  adquirira  já  uma  grande  celebridade, 
Dão  tanto  pelos  seus  sentimentos  patrióticos,  como  por  sua 
ambição  descomoiunal,  e  pela  crueldade  de  que  tantas 
provas  soube  dar,  maotinha-se  em  luta  com  o  directório 
de  BuBDOs-Ayres,  a  despeito  dos  auxílios  prestados  por  esto 
para  a  expulsão  dos  bespanbóes  da  cidade  de  Montevideo,  e 
dos  esforços  de  alguns  homens  distinctos  do  Rio  da  Prata  (6). 

(6)  Talvez  se  diga  que  somos  demasiadamente  rígorosos  tallando 
doesse  chefe,  e,  pois,  julgamos  conveniente  transcrever  para  aqui  am 
Irecbo  da  ■  Avio-Biographia  dei  BrigaUer  Gmeral  Rimdeau  »,  que 
caracierísa  Arligas  em  poncaa  palavras •  pretendia  para  a  sua 


Dictizedby  Google 


Sua  iofloencía  eslendia^se  mesmo  além  do  Uniguay,  sobre 
Corrientes,  Entre-Rios,  Santa  Fé  e  Cúrdova. 

A  anarchia,  quereÍDara  então  n'esses  paízes,a  ningnam 
devia  assombrar,  pois  era  a  consequência  da  transição 
violenta  por  que  passaram,  trocando  repentinamente  as 
instituíçíles  monarcbicas  e  o  regim«n  colonial  por  um  go- 
verno puramente  democrático  (7). 

O  director  supremo  das  Províncias  Unidas,  Posadas, 
e  seu  successor  Alvear  adoptaram  para  com  o  caudilho 
Oriental  uma  politica  enérgica  :  mas  uma  revolução  apeou 
este  ultimo  do  poder  [15  de  Abril  de  1815),  e  a  adminis- 
tração, que  Ibe  succedeu,  procurou  seguir  uma  Hnba  de 
proceder  opposta,  tentando,  mas  debalde,  estabelecer  re- 
lações amigáveis  com  esse  chefe. 

Foi  então  que  á  c6rte  do  Rio  de  Janeiro  chegou  emi- 
grado o  ex-mínislro  de  Buenos-Ayres  Nicolas  Herrers, 
amigo  do  director  decahido,  e  proscriplo  como  este  (8). 

provjDCia  (diz  Rondeau)  a  emaDCipafâo  absoluta  de  qualquer  onlro 
poder,  que  nSo  fosse  o  seu,  porque  s6  clle  se  reputava  o  arbitro  de 
seus  destinos,  d 

Pude  vér-se  igualmeote  n»  «  Memoria  »obre  ta  projectada  retirada 
dd  ejercito  de»tirtada  ai  siiio  de  Montevideo,  ctc.  n ,  escripla  pelo 
general  Nicolas  Vedia,  a  manpíra  como '6  julgado  o  mesmo  caudilho. 

(7)  Não  DOS  veoliaro  com  o  exemplo  dos  Estados-Uaidos.  E'  um 
povo  eicepclonal,  que  por  íodole  e  caracter  muito  dilTere  dos  povo> 
de  origem  laiiua. 

(R)  Quem  estudar  a  bístoría  dos  paízes  banhados  pelo  Praia  tia  de 
lembrar-se  muiiae  vezes  d'eslas  palavras  de  Edgar  Quinetem  referencia 
ã  Itália;  ■  La  ressource  de  cliaque  parti  vaincu  esl  d'ouvrír  les  portes 
du  pays  i  une  armée  étran):ère.  Considerez  rit.ilic  ã  quelqve  époqne 
que  ce  soit,  il  est  un  pcrsonnage,  que  tous  reD<'oiilrez  dans  ebaque 
événemenl,  etquiest  fartisan  infaligable  de  cettebistoire:  je  veui 
parler  de  remigrí.  Toujourt  prèt  ã  livrer  cette  patrie,  qu'il  a^ 
pu  gouveroer,  il  solbcite  reaoemi,  il  presse,  il  cooduit  rinvation. 
•  (ReDofuium*  if/(atw—  Paris— 1857,— 1  vol] 


Dictizedby  Google 


—  6«  — 

Com  o  latoDh)  a  t  sagacidade  quo,  taolo  o  dístioguiam, 
conseguiu  elle,  auxiliado  por  Alvear,  fasec  renascer  na 
cdrto  de  D.  João  Tl  os  pianos  de  conquista  que,  havia 
muito,  eram  ahi  alimentados  (9). 

Os  seus  manejos,  as  apprebensões  o  receios  que  a 
influencia  de  Ailigas  despertava  ao  animo  do  gabinete 
de  S.  Gbristovão  pela  segurança  e  iraa^uillídade  das  froo- 
leiras  meridianas  do  Brasil ;  as  queixas  constantes  e  repe- 
tidas dos  habitantes  do  Rio-Grande,  que  pediam  garantias 
para  suas  vidas  e  propriedades ;  tudo  isso  decidiu  o  deu 
causa  á  intervenção  de  1816  e  á  occupação  militar  da 
Banda  Oriental,  que  só  teve  lugar  depois  de  desatten- 
didas  pelo  goverao  de  Madrid  as  justas  reclamações  de 
D.  JoSo  VI  (10). 

O  governo  guardou  o  mais  inviolável  segredo  sobre  a 
resolução  que  adoptara,  de  expulsar  o  inquieto  e  perigoso 
vizinho ;  e  limitou-se  a  communicar  &  Urã-Brelanba,  e  A 
Hespanha,  que  ia  transferir  para  o  Brasil  uma  divisão  de 
Toluotarios,  escolhidos  d'entre  as  tropas  que  haviam  feilo 

(9)  Vejam-se  as  ■  Memorias  e  Re^exões  tobre  o  Rio  da  Praia  por  um 
o/)lctal  ^nurnnAa  bratUefra  ■> ;  trabalho  de  alto  merecimenio  histórico, 
iofeliimeole  iolerrompido,  que  se  deve  á  pcnna  do  fallecido  almiranle 
Jacintho  Roque  de  Sena  Pereira,  o  Sr.  conselbeiro  Pereira  da  Silva, 
qae  em  soa  receole  c  pneciosa  «  Húíona  da  Fundação  do  Império  w, 
se  occupB  eileosameDle  dos  negócios  do  Rio  da  l'rala,  nio  nos  Talla  da 
íDflaeDcia  que  teve  Derrera  sobre  a  invasio  de  1816.  e  sobre  os  nlte- 
riorei  acontecimentos. 

(10)  O  govenw  do  Rio  de  Janeiro  pediu  no  de  Madrid  (antes  de 
mover  as  snas  tropas)  providencias  para  a  expulsão  do  audacioso 
candilbo,  e,  comquanio  o  gabinete  tiespanliol  se  mostrasso  a  principio 
inclinado  a  satisfazer  essa  exigência,  rondou  posteriormente  de  re»- 
iQção,  enfiando  para  Nova  Granada  a  expediç3o  que  tinba  a  principio 
destinado  ao  Rio  da  Praia. 

TandMiD  ii'essa  reclamarão  não  falia  o  Sr.  conselheiro  l>ereira 
da  5ilva  na  obra  já  citada. 


Dictizedby  Google 


a  guerra  peoinsular.  £ssa  divisão,  commaDdada  polu  ge- 
neral Carlos  Frederico  Lecór,  mais  tarde  visconde  da 
Laguna,  parliu  eíTecli vãmente  de  Lisboa  e  desembarcou  nu 
Uio  de  Janeiro,  seguindo  depois  para  Santa  Catharina, 
d'onde  marchou  por  lerra  para  o  Rio-Grande. 

O  governo  já  havia  transmitlido  ao  capitão-goueral  do 
Rio-Grande,  marquez  de  Alegrete,  as  convenientes  instruc- 
ções  para  a  defesa  das  fronteiras,  recommendando-the  que 
batesse  e  dispersasse  todas  as  partidas  contrarias,  que  se 
approximassem  do  nosso  território  ;  e  o  marquez  déra-se 
pressa  em  cumprir  as  ordens  terminantes  que  recebera, 
mobilisando,  além  da  força  de  Unha  de  que  dispunha,  to- 
dos os  regimentos  milicianos  :  mas  a  chegada  dos  o  volun- 
tários reaes  »  á  corte  e  os  movimentos  do  tropas  no  Rio- 
Grande  levantaram  suspeilas  no  animo  de  José  Artigas, 
que  bem  depressa  foi  informado  miudamente  das  intenções 
do  governo  de  D.  João  VI,  por  cartas  enviadas  do  Rio  de 
Janeiro. 

O  audaz  caudilho  não  se  atomorisou  com  isso,  e  em  seu 
louco  orgulho  chegou  até  a  regeitar  os  auxilies  que  deBue- 
nos-Ayres  lhe  offereceu  o  director  Puyrredon,  Qoiz  resis- 
tir só  por  si,  e  preparou-se  para  a  luta,  concentrando  em 
PurificacioQ,  á  margem  do  Uruguay,  o  grosso  de  suas  for- 
ças, 

O  illustre  general  Curado  (1 1)  havia  sido  incumbido  pelo 
marquez  de  Alegrete  da  defesa  das  fronteiras  do  Quara- 
him  e  do  Uruguay;  e,  comquanto  se  apressasse  em  reunir 
as  forças  cujo  commando  lhe  fora  commeltidu,  e  em  mar- 
char para  o  seu  posto  de  honra,   achou  já  o  inimigo  de 

(tt)  Joaquim  Xavier  Curado,  depois  conde  de  í>.  João  das  Duas- 
Barras. 


Dictzedby  Google 


sobre-aTÍ50,  perfeitamente  promplo  para  romper  as  hostili- 
dades. 

As  partidas  d'este  ji  haviam  por  mais  de  uma  vez  trans- 
posto o  Quaiahim  e  peDetrado  em  dosso  território,  onde 
os  pequenos  recootros  e  choques  de  cavallaria  sacce- 
diam-se  uns  aos  outros ;  mas  o  intrépido  tenente-coronel 
Abreu,  que,  como  dissemos,  commandava  o  dislriclo  mili- 
tar chamado  de  Eutre-Rios,  soube  sempre  repellir  os  des- 
tacamentos inimigos,  derrolando-os,  e  arrojando-os  para 
longe  da  fronteira. 

A  altitude  enérgica,  que  em  tão  crítícas  circumstancías 
assumiu  esse  bravo  militar,  mereceu  do  dislincto  paulista 
Diogo  Arouche  de  Moraes  Lara  menção  especial,  na  sua 
interessante  Aútorm  dtis  ean^anhas  de  1816  e  1817,  em 
termos  de  justo  e  merecido  louvor  ( 12). 

N'es5AS  circumstaocias  apresentou-se  o  general  Curado 
DB  fronteira,  o  tomou  posições  no  Ibirapuitan -Chico,  desta- 
cando logo  para  as  missões  orienlaes  o  general  Chagas 
Santos  o  aguardando  entretanto  os  movimentos  do  inimigo 
para  manobrar  convenientemente. 

Artigas,  depois  de  ler  feito  partir  Otoi^ez  e  Rívera  para 
as  bandas  do  Jigunrào  e  do  Chuj,  avançou  de  Purificacion 
com  Ires  mil  homens  ( 13).  foi  postar-se  na  quebrada  das 
Trea  Cruzes,  situada  nas  proximidades  do  Serro  de  Luna- 
rejo. 

Com  essas  forças  concebeu  elle  o  arrojado  plano  de  io- 

(13)  Vide  íReniitaio  Instítulo  Hiêtfirico,  lomoVIl.pags.  13íi  eS73. 
••  ..  ..^'es1as  guerrílhas  e  panfdas  principiou  a  fazer-se  assigoalado  o 
teDcnte-coronel  José  de  Abreu,  emio  commandaDle  dos  esquadrítes 
«  do  mencionado  lerrítorio  de  Entre-Rios.  • 

(13)  Vtde  a  Memoria  de  los  tucceao*  de  armas,  qve  tttvienm  htgar 
en  la  guerra  de  la  independência ;  de  los  oriaUaiu»  con  U»  etpanote» 
e  jmiugiuies,  etc.,   ele,  eacrípta  por  um   Drienlal  coniemponneo^ 


Dictzedby  Google 


?adir  o  Rio-Gcande,  emquanlo  lUvera  e  Otorguez  hostUi- 
savain  as  forças  de  Lecór  e  as  que  guarneciam  a  linba  do 
Jaguarão. 

OrdeDOu  que  o  coroAel  Andrés  Arligas  íavadisse  as  mis- 
sões orieclaes,  e  que  o  coronel  Berdun  transpuzesse  o  Uru- 
guay  em  Beléro.seguisse  pela  sua  margem  direita  e  o  atraves- 
sasse de  aovo,collocando-se  enire  u  Quarabim  e  o  Ibícuhy. 
EiTertuada  a  conquista  das  Missões,  o  primeiro  d'esses  che- 
fus  devia  avanfar  pelo  coração  do  Rio-Grande,  apoiado  por 
uma  rolumna  ao  mando  de  Pantaleon  Sotél,  emquanto  o 
grosso  do  exercito  inimigo  atacava  a  divisão  de  Curado. 

O  plano  não  podía  ser  melhor  concebido.  Ameaçadas  pelo 
flanco  e  pela  retaguarda,  us  nossas  forças  leriam  de  recuar 
precipitadamente  para  não  ver  a  sua  retirada  cortada,  e 
para  cobrir  o  interior  da  província.  A  vigilância  dos  novos 
chefes,  porém,  descobriu  logo  as  intenções  do  inimigo,  e 
preparou-lhe  o  mais  prompto  e  solemne  castigo, 

O  general  Thomaz  da  Costa  (14),  que  commandava  uma 
divisão  avançada  das  forças  de  Curado,  percebendo  os 
passos  do  inimigo,  destacou  logo  para  as  Missões  o  bravo 
tenente- coronel  José  de  Abreu,  e  com  os  restos  de  sua  co- 
lumna  retirou-se  até  ao  acampamento  de  Curado,  condu- 
zindo o£  habitantes  da  fronteira,  e  todos  os  moveis  que 
puderam  estes  carregar  comsigo. 

Abreu  havia  sido  incumbido  por  elle  de  obstar  é  passa- 
gem de  Sotél  no  Uruguay,  esuajuncçãocom  AndrésArtigas, 
correndo  em  seguida  sobre  S.  Borja,  ameaçada  por  uma 
divisão  de  mil  e  quinhentos  homens  ao  mando  d'este  ultimo 
chefe. 

Para  empreza  (3o  arriscada  foram-lbe  dados  apenns  seis- 
centos  e  cincoenta  e  três  homens  das  três  armas,  Q  duas 

(lú)  Thomaz  da  Costa  Corria  Rabello  a  Silva. 


D,:„l,;cdtv  Google 


peças  de  viilhería  ( 16  );  mas  o  bravo  rio-grandense  não 
olhava  80  Dumero,  senão  ao  cumprimento  do  dever,  e  partiu 
alegre  e  orgulhoso  para  desempenhar  a  sus  honrosa  missão. 

Seguiu,  pois,  sem  demora,  mst^eando  o  Uruguay,  c 
forçando  quanto  era  possível  as  marctiiís. 

Soube  entio  que  Sotél  eslava  atravessando  esse  rio  no 
passo  de  Japejú,  e  voando  ao  seu  encontro,  descobriu-o 
no  dia  31  de  Setembro,  atacou-o  por  surpresa,  eariojou-o 
á  outra  raargi^ni,  apprebervlcndu  mil  e  quinhentas  rezes, 
muitos  cavallos,  armamento  e  alguns  prisioneiros. 

A  mortandade  do  inimigo  ibi  grande,  porque,  ao  lançs- 
rem-se  seus  soldados  ao  rio,  Abreu  fez  trabalhar  sobre elles 
a  artilheria,  causando-lhes  com  isso  um  grande  damoo. 

Sotél,  porém,  não  -era  homem  de  desanimar.  Com  o 
auxilio  de  algumas  barcas  canhoneiras  tentou  eITectuar  a 
passagem  da  sua  Íotça  junto  á  foz  do  Ibicuby,  no  passo  de 
Santa  Maria.  O  previdente  Abreu  havia  já  destacado  uma 
força  de  cavailaria  para  dar-lhe  noticia  dos  movimentos  do 
inimigo,  e  logo  que  foi  informado  das  intenções  d'esie, 
deixou  a  guarda  das  baçagens  conBada  ao  esquadrão  do 
Bio-Pardo,  e  correu  para  o  Ibicuby. 

Sotél  com  as  canhoneiras  protegia  a  passagem  de  suas 
(ropas  para  a  mai^em  direita  do  Ibicuby.  Vendo  isso,  fez 
Abreu  abrir  uma  picada  no  mato,  e  conduziu  por  ella  a 
artilheria  e  a  infantaria  aló  á  borda  d'agua,  onde,  acoberta 

(tS)  Essa  Torça  eslava  assim  dividida:  cavailaria,  um  esquadrio 
de  dragões,  um  de  milícias  do  Itío-Pardo,  um  da  IrgíSo  de  5.  Paulo, 
um  de  milícia;  de  Entre-Riof,  um  de  laDcciros  guaraDjs,  com  qui- 
nhentas e  treze  praças;  infantaria,  uma  companhia  da  legião  de 
S.  Paulo,  cento  e  dezesele  praças :  arlilkeria  da  legião  de  S.  Paulo, 
viote  e  Ires  praças,  c  duas  peças.  Tola!,  seiscenlos  c  cincoenla  e  três 
homens  e  duas  bocas  de  foiço.  O'ejão-se  as  a  Memorias  da  Campanha 
de  i8t6  por  Diogo  Laraa,  impressas  no  volume  7°  da  Revitta  do 
ImUiufo  Hiitorico.) 


Dictzedby  Google 


—  7:(  — 

'edu,  rompeu  um  fogo  vivíssimo  subre  os  con- 

-rresponderam  com  balas  e  melrolhas  (16). 

^^»  '■efo  «nigucnbo,  reerulmrcou  suas  forcas, 

\  tieiilo  o  Ibicuhy;  mas  sofTreu  cinda 

*  'O  terrível  de  mosquelaria,  dirigido 

■f.  ^W  'eneule -coronel  fizera  com  ante- 

^^ik  •>ii  adversário,  de  algumas 

^,  ^  In  a  coluiun:!  de  Si)iél. 

"%  ^  pólo;    fugindo    'lo 

t|k    *  íi-d  operar  su;i  juiiC(;.'iO 

'-1.^  '  ti/.?.ia  em  .iperlulo  silii»  o 

\  ,  ■.}  ijeneral  Cli:>gas  Suiilos  oppu- 

L-iíergica  resislenciu. 
>,   tCíupo  a  perdiír.  O  que  Abreu  devia 
...'Utostúo  supremos  era  avani;íircom  a  máxima 
,  'jssivel  para  esse  iiontn.  Foi  o  que  o  distiiicto  e 
cabo  de  guerra  eiecutou,  sem  que  o  embarai^assem 
obstáculos  naluraes  que  teve  do  superar  n'esse  irajerlo. 
Nos  dias  25  e  26  atravessou  o  Ibicuby,  operação  diflicil 
em  consequência  de  ler  engrossailu  o  rio  e  ila  falto  absoluta 
de  canoas  r  -le  material  apropriado  para  effoctual-a, 

O  eiilhu.siasmo  que  sabia  inspirar  a  srus  subordinados, 
orgulhosos  de  um  lai  rhefe,  fez  com  que  eslus  puzessi'tn  em 
pratica  osfon;os  quasi  sobrebumauos  para  vencer  as  dis- 
tancias e  as  difliculdades. 

No  dia  27  eram  balidos  pela  sua  columna,  em  Ituparay, 
duzentos  homens  enviados  porSotél  niuilos  dias  antes  para 
levantar  gado.  O  inimigo  deixou  no  campo  trinta  e  oito 
cadáveres  (  17}. 

(Ilij  Diogo  Lara  b  Memoriai.  » 

(17)  ^■e,'■^e  encomro  perdeu  unte e  quatro  mortos;  e  em  duas  guet- 

TOMO  XXXI,  P.  11.  *0 


Dictzedby  Google 


o  dia  3  de  Oulubro  Uaba  sido  destÍDsdo  pelo  coronel 
Afidrés  Artigas  para  dar  dovo  e  decisivo  assatlo  a  S.  Boija. 
Esse  chefe  silíaTa  ahi  o  general  Chagas  Santos  desde  21  de 
Selembro,  e  dos  repetidos  ataques  que  dera,  prbcipalmente 
no  dia  28,  havia  já  perdido  duzentos  booaens.  Aguardava  o 
reforço  de  Paataleon  Sutél  para  investir  a  povoação,  e  este 
dcsJe  o  dia  ãcouieçára  a  operar  a  sua  passagem,  tratendo, 
úém  de  infantaria,  seis  bocas  do  fogo. 

Abreu  não  podia  chegar  mais  a  propósito.  Tão  veloz  foi 
a  sua  roarcli:>.  <■  roíii  tanta  habilidade  e  prudência  se  houve 
durante  ella,  que  o  inimigo  nSo  suspeitou  a  sua  approxima- 
ção. 

Favorecido  por  um  denso  nevoeiro,  apresenlou-se  nas 
circumvizinhanças  do  povoado,  tendo  feito  antes  os  seus 
sol(iado5  trocarem  as  vestos  de  viagem  pelas  fardas  de 
grande  parada,  animando-os  com  palavras  cheias  de  ardor 
e  enthusiasmo. 

Grande  foi  o  alvoroço  dos  inimigos  quando  seus  pos- 
tos avançados  deram  noticia  da  chegada  dos  nossos. 
Abreu,  avançando  sempre,  tratou  de  ganbsr  uma  posição 
conveniente,  mas  antes  que  o  pudesse  fazer  sahíram-lhe  ao 
encontro  oitocentos  liumens  do  cavallaria.  Dispdzentãoa 
sua  coluinna  em  ordem  de  batalha,  e  destacou  forças  de 
cavalliri,»  para  que  flanqueassem  o  inimigo.  Este  retrogra- 
dou.siisleniíiodu  com  os  nossos  Qanqueadores  um  vivo  fogo 
o  foi  follíjcar-se  Rnlre  dois  pomares. 

Abreu  ordenou  á  infantaria  que  occupasse  os  pomares. 
Ksta  avançou  a  passo  de  carga,  protegida  por  um  esquadrão 
ligeirn,  que  lhe  cobria  a  frente,  e,  ao  approximar-se  do 
primiiro  pomar,  a  infantaria  inimiga,  que  D'esle  estava 
emboscada,  sottou-Ihe  uma  descarga  á  queima-roupa.  Os 
rilhas,  que  tiveram  lugar  no  mesmo  dia,  quatorze  mortos  e  om 
prisioDeiro. 


Dictzedby  Google 


DOSMa soldados,  lem  se  perturbarem,  investiram,  e  depois 
de  tuna  luta  terrirel  e  desesperada  apossaram-se  de  ambas 
as  posições,  deixando  estendidos  lodosos  queas  defendiam, 
com  eicepção  de  poucos,  que  a  muito  custo  puderam  ser 
salvos  da  morte  pelos  nossos  ofDciaes. 

.N'es5a  occasião  chegava  o  intrépido  José  de  Abreu  com  o 
ro6to  da  columna  em  auxilio  da  nossa  infantaria.  Achando-a, 
porém,  senhora  dos  pomares,  e  voado  o  inimigo  em 
retirada  para  reunir-so  ao  grosso  de  suas  forças,  proparou- 
se  para  atacai -o,  e,  apoiando  se  nas  posições  que  acabavam 
de  ser  tomadas,  ordenou  á  artilharia  que  o  metralhasse. 

A  linha  inimiga  conservava-se  ímmovel,  respondcndo- 
noscom  a  sua  artilharia  e  infantaria. 

O  esquadrão  de  S.  Paulo  avançou  euláo  a  palope  solun 
o  inimigo,  carregou  ura  corpo  d'este,  que  com  umu  pc;.! 
fazia  sobre  os  nossos  vivíssimo  fogo,  arrojou-o  fora  ile 
combate  e  apoderou-se  do  canhão. 

Esla  carga,  executada  com  ardor  e  felíridadc,  rausou 
alguma  confusão  na  linha  inimiga,  e,apruveitaodo-scd'esla 
vantagem  e  do  enlhusiasmo  de  seus  soldados,  Abreu  invés- 
tio-a  com  todas  as  suas  forças,  cortou-a  pelo  centro,  e  des- 
baratou-a  inteiramente,  taaçando-a  em  completa  desordem 
uma  parte  para  o  passo  de  S.  Borja,  e  outra  para  os  lados 
dfl  Botuhy. 

Toda  a  artilharia,  as  bagagens,  a  secretaria  militar,  muito 
armamento  e  dois  mil  cavallos  foram  os  tropliéos  d'e5sa 
esplendida  vtcloria,  que,  póde-se  dizer,  decidiu  da  sorttj  da 
campanha,  aniquilando  inteiramente  o  plano  de  operíições 
que  traçara  Artigas.No  campo  Qcaram  cerca  de  quatrocentos 
inimigos  mortos  e  trinta  prisioneiros (18).  O  inimigo  foi  perse- 

(18)  o  ilJDStrado  br.  cooselbeiro  Pereira  da  bilvt  na  sna  «  Bisloria 
t/a  Fundação  rfo  Império  do  trnsit  n,  loino  IV,  pag,  23,  diz  que  Alircu 


Dictizedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


—  77  — 

nome  do  intrépido  José  de  Abreu,  que  era  o  terror  dos 
soldados  de  Artig.is.  O  modo  brilhante, por  qiie  eserulou  a 
arriscada  missão  de  que  fura  encarregado,  mereceu  mui- 
tos louvores  e  elogios,  não  só  de  seus  superiores  e  de  seus 
companheiros  de  armas,  como  do  governo  e  da  imprensa 
daepocha. 

O  illuslre  chronisla  d^essa  campanha,  Diogo  Lara,  que 
tantas  vezes  temos  citado,  assim  se  exprime  no  seu  inleres- 
iianle  iriíbnlho  acerca  das  operações  do  nosso  heróe  na 
margem  esquerda  do  Uruguay : 

(  Do  que  fica  dito  se  conhece  que  o  tenente-coronel 
Abreu  concluiu  a  total  restauração  da  província  de  Missões 
dentro  de  nove  dias  consecutivos  ao  de  suo  passagem  do 
Ibicuby,  oppondo  a  mais  de  dois  mil  inimigos  a  pequena 
força  de  seiscentos  e  cinnoenta  e  três  bumens,  tão  feliz- 
mente, que  a  pi;rda  total  das  suas  tropas,  nas  arções  que 
teve.f  II  insigiiiiicante  á  vista  da  que  causou  aos  ínsurgentes, 
aosquaes  matou  seguramente  mil  homens  [20],  tomando- 
lhes  immenso  armamento,  cavalios,  ele. ;  serviço  este  que 
pela  sua  importância  constilue  este  ofTicíal  benemérito  e 
credor  de  lodos  os  louvores  e  contemplação  do  seu  so- 
berano, assim  como  do  reconhecimento  e  gratidão  da  ca~ 
pilania  do  Itio- Grande,  que  deve  aos  honrados  e  valente' 
esforços  de  Ulo  bravo  ollicial  uma  granrie  parte  do  terríto 
rio  e  propriedades,  salvos  por  elle  e  pelas  suas  tropas.  > 
A  essas  palavras,  escríptas  por  penna  tão  competente  e 
imparcial,  juntaremos  alguns  trechos  da  carta  dirigida  pelo 
bravo  general  Curado  ao  vencedor  deS.  Borja. 


,30)  lEa  gera  duvida  alguma  eiagerafSo   u'edse   iit 
do  inimigo  pôde  ser  calculada  em  selecealOB  mortos,  r 


Dictizedby  Google 


I   QU&RTEL-GENBRtL   «H  ISHUNIUM-CHIOO. 

«  Sr.  leDeate-corooel  José  de  Abrau. 

(  Recebo  com  satisração  a  parle  oflkial  que  V.  S.  m« 
dirigiu  do  passo  de  S.  Borja.  goiq  data  de  8  do  eorreote, 
sobre  o  ataque  e  derreia  dos  ÍDimigos.que  preleadiam  inva- 
dir a  fronteira  de  Missões. 

<  Louvo  a  V.  S.  o  acerto  com  que  dirigiu  a  «ua  mar- 
cha, vencendo  osobstacutos  da  estação ;  louvo  o  sábio  dis- 
ceruimeoto  cou  que  V.  S.  dbpAz  o  ataque;  touvo  a  sabe- 
doria com  que  dirigiu  as  operações e  o  combate;  louvo, 
ãnalmenle,  a  prudente  conducta  com  que  V.  S.  soube 
adquirir  o  conceito  e  estima  da  tropa  de  seu  commaDdo. 

n  Estimo  sobremaneira  que  V.  S.  desse  msis  esta  prova 
para  radicar  o  seu  abalisado  merecimento,  etc.  ■ 

José  de  Abreu  tinha,  cora  efTeito,  motivos  para  eusober- 
becer-se,  se  aâo  fosse  tão  bravo  quanto  modesto.  Elle, 
porém,  recebia  essas  e  outras  demonslraçôes  de  apreço, 
sem  que  ellas  pudessem  operar  em  seu  animo  a  tnoDor 
mudança,  nem  dar  origem  ao  meuor  arranco  de  amor  pró- 
prio. 

Em  Março  do  anno  seguiule  teve  elle  a  satisfação  de  ler 
o  aviso  de  2  de  Fevereiro  dirigido  peto  conde  da  Barca  a 
Curado,  em  que  esse  ministro,  em  nome  do  rei,  ordenava 
ao  general  que  fizesse  constar  ao  leneote-coronel  José  de 
Abreu  que  Sua  Magestade  ficara  satisfeito  dos  seus  servi- 
ços e  do  valor  que  manifestou  no  combate  deS.  Borja. 


Dictzedby  Google 


Ill 

F«:(M  que  se  seguiram  ao  combate  de  S.  Borja.  —  O  iuimigo  resolve 
alacar-nos  com  Iodas  as  suas  forcas.  —  Move-se  o  nosso  exercito.— 
Abreu  i  incumbido  do  comraando  da  vanguarda.  —  O  eiercilo  ini- 
migo, ao  mando  de  La  Torre,  marcha  ao  encoolro  do8  nossos.  — 
Resolve  o  nosso  general  atacar  o  quartel-general  de  Artigas. — 
Abreu  6  incumbido  d'esta  missão.  —  Ataque  do  Arapehy  ( 3  de  Ja- 
neiro de  1817J  e  derrota  de  Artigas.  —  Volta  Abreu  com  a  noti- 
cia de  que  La  Torre  n'egse  dia  devia  atacar-uos.  —  Batalha  de 
CaUlan  (íj  de  Janeiro ).  —  Parte  que  n'ella  teve  Abreu. 

A  noticia  do  combale  de  S.  Borja  e  da  derrota  de  Aadrés 
Artigas  decidiu  o  general  Curado  a  fazer  atacar  a  divisão 
do  coronel  Berdun,  e  logo  depois  o  grosso  das  forças  ini- 
migas. 

Assim  as  víclorías  de  Abieu  nos  Missões  prepararam 
doas  outras,  não  menos  brilhantes,  e  férteis  em  resultados. 

A  primeira  foi  devida  ao  intrépido  general  João  de  Deos 
Menna  Barreto  [visconde  de  S.  Gabriel).  que,a  19  de  Ou 
labro,  derrotou  junto  ao  Ibiraocahy  ao  mesmo  Berdun;  a 
segunda,  ganhou-a  oito  dias  depois,  junto  a  Carumbé,  o 
illustre  general  Joaquim  de  Oliveira  Alvares  (21). 

Abreu  não  pôde  tomar  parte  »'esses  combates,  com- 
quaoto  recebesse  ordem  de  iranspdr  o  Ibicuhy,  e  mano- 
brar de  accordo  com  Menna  Barreto :  o  inimigo  atacara  a 
este  antes  da  sua  chegada.  Novos  louros,  porém,  deviam 
muito  breve  juntar-ge  aos  que  já  havia  elle  colhido. 

Expulso  o  inimigo  do  nosso  território, preparaTam-se  nos- 
sas tropas  para  atacar  as  forças  que  elle  concentrava  o  reu- 

(31)  Em  Ibiraocah;  perdeu  o  ioimigo  duzentos  e  trinta  e  oito  mor- 
tos e  vinte  e  quatro  prlBioneiíos:  em  Carumbé  uns  seiscentos  ho- 
mena,  dois  estandartes,  muitos  prisioneiros,  armamento  e  sete  cai* 
lai  de  guerra.  Nói  liTemoa  apenas  vinte  e  seis  mortos,  e  quarenta  e 
quatro  térídoa. 


Dictzedby  Google 


oia  no  Arapeby,  quando,  a  15  de  Novembro,  o  marquoz  de 
Alegrete,  capitiio-genftral  do  Rio-Grande,  assumiu  o  com- 
mando  do  nosso  pequeno  exercito  da  diraita,  que  mal  con- 
tava em  su.is  Aleiras  dois  mil  e  quinhentos  combatenles ; 
poucos,  mas  todos  bravos  e  aguerridos,  cbeíos  de  força 
moral  e  de  enibusiasmo. 

Sempre  audoz  e  temerário,  sem  esperar  que  os  nossos 
o  fossem  atacar,  Artigas  destacou  La  Torre  com  a  maior 
parto  de  seus  soldados,  para  surpreben  der  e  dar  batalba  ao 
exercito  brasileiro. 

EstejAenlào  manobrava  e  movin-seom  busca  do  inimigo. 
O  marquez  de  Alegrete,  que,  como  o  general  Curado, 
possuis  a  grande  qualidade  de  conhecer  os  homens,  saben- 
do tirar  de  suas  babitita^ões  o  maior  partido  possível, 
incumbiu  do  serviço  da  vanguarda  o  bravo  tenente-coronel 
Abrou,  confiando-the  o  commando  de  dnis  esquadrões  de 
milícias  de  Enlre-Rios,  dois  esquadrões  de  giierrílbas, 
sessenta  infames  e  duas  peças,  tirados  estes  ultimes  da 
legião  de  S.  Paulo. 

Com  essa  força,  coltocada  sempre  a  um  quarto  de  légua 
da  testa  da  nnssn  cobiinna,  jíuardava  Abreu  o  nosso  campo 
e  vigiava  a  campimba  peta  frente  e  (lanros. 

La  Torre,  diudido  pelos  movimenlos  dos  nossos,  avançou 
atéaolbirapiiitan,  e  só  abi  sabendo  du  verdadeira  parigcm 
em  que  eslavamos,  conlramarchou  para  alacar-nos  pela  reta- 
guarda. 

Nosso  exercito  avançou  duas  léguas,  e  foi  tomar  posições 
no  Catatau,  galho  do  Quarahim,  procurando  attrahir  La 
Torre,  e  approximar-se  do  acampamento  de  Arligas  no 
Arapehy, 

A  posição  em  que  se  collocava  o  nosso  general,  entre 
La-Torre,  pela  retaguarda,  e  Artigas,  pela  frente,  era  sem 
duvida  muito  arriscado,  mas  elle  soube  tirar  partido  dVlla 


Dictizedby  Google 


para  dar  ao  mesmo  tempo  sobro  ambos  dois  golpes  fortes  e 
decisivos. 

Como  La-Torre  a  marchas  forgadas  se  avisinhava  dos 
nossos,  era  mister  que  o  ataque  do  acampameoto  do  Ara- 
peby  fosse  coodozído  com  celeridade  e  pcomptídlo,  para 
que  oo  dia  da  batalha  estÍTesse  de  novo  reunido  todo  o 
nosso  exercito. 

O  escolhido  para  essa  empresa  delicada  a  importante  foi 
o  bravo  Abrea.  Chamando-o  á  sua  presença,  o  marquez 
fez-Ihe  ver  lodo  o  perigo  da  commissâo  que  lhe  confiava, 
declarando-lhe  mesmo  que,  se  fossemos  infelizes,  a  derrota 
seria  inevitável,  quando  nos  víssemos  a  braços  com  as 
forças  de  La-Torre. 

Abreu  Iranquilisou  o  general,  e  assegurou-lhe  que  estará 
prompto  para  cumprir  suas  ordens. 

Nas  instrucfões  que  lhe  deu,  o  capitSo-general  ordenou- 
Iho  terminaotemeate  que  destruisse  o  quartel -general 
inimigo,  e  que  estivesse  de  volta  no  dia  seguinte.  Na 
noite  de  2  de  Janeiro  de  1817  pAz-se  José  de  Abreu 
em  movimento  com  seis-centos  homens  o  duas  peças;  e  ás 
sete  da  manhã  s^uiote  avistava  as  avançadas  de  Artigas. 
A  forte  posição  em  que  se  apresentava,  não  fez  vacillar 
um  momento  o  hábil  tenente-coronel  ( 22 ),  que  a  foi  logo 
atacar  com  o  seu  valor  costumado  e  resolute  intrepidez, 
lendo  D^um  momento  distribuído  suas  tropas,  adaptando- 
as  á  natureza  do  terreno  em  que  IÍDham)de  operar. 

O  inimigo  acbava-se  acampado  em  terreno  escabroso, 
para  o  qual  se  peneirava  por  um  desfdadeiro.  Além  d'este 
estendia-se  uma  planície,  que  era  separada  de  outra,  que 

(aaijtfomei  Lara. 
TOHO  sxsi,  P.  II  11 


DictizedbyGoOJ^IC 


D,i.,.db,  Google 


—  83  — 

peravain  com  anciedade  pelo  resultado  do  ataque  d6  Arapehy, 
apresentava-se  o  próprio  Abrou,  coberto  de  poeira,  na 
barraca  do  marquezde  Alegrete,  a&nunciaDdo-lbeavicloriaf 
que  acabava  de  alcaDçar,  e  a  noticia  de  que  La-Tone  reca~ 
bâra  ordem  de  atacar-aos  a  3. 

Estas  Dovas  espalbaram-se  logo  de  boca  em  boca,  e  os 
nossos  soldados,  cheios  de  entbusiasmo  e  cooteDlamento, 
começaram  a  preparar-se  para  a  batalba  que  estava  ím- 


No  dia  seguinte  {4  de  Janeiro)  pela  madrugada,  o  ídí- 
migo  com  3,400  homens  atacava  o  nosso  exercito.  Ao  pri- 
meiro tiro  lodo  elle  estava  em  armas. 

A  luta  esteve  por  muito  tempo  indecisa,  combatendo 
ambos  os  lados  com  igual  valor  e  tenacidade. 

Em  nossa  esquerda  o  bravo  visconde  de  S.  Gabriel  sus- 
tentava com  Hrmeza  e  coragem  a  sua  posição,  em  quanto 
a  nossa  direita  se  debatia  contra  uma  massa  imponente 
de  soldados  inimigos,  que  se  arremessavam  impetuosa- 
mente sobre  suas  baionetas.  O  marquez  de  Al^retfi  e  o 
general  Curado  [conde  de  S.  João  das  Duas  Barras)  ani- 
mavam nesse  ponto  os  nossos  soldados,  que  faziam  pro- 
dígios de  valor;  mas  o  arrojo  e  ardimento  com  que  o 
inimigo  accommettia,  e  voltava  sempre  á  cai^a,  já  os  in- 
quietava, quando  repentinamente  se  apresentou  no  campo 
de  batalha  o  intrépido  Abreu,  fazendo  com  que  a  victoria 
desde  logo  se  pronunciasse  pelos  nossos. 

Achando-se  a  uma  légua  do  grosso  do  exercito,  ouvindo 
os  tiros  que  annunciavara-lbe  o  ataque  do  inimigo,  fez 
immediatamente  montar  os  seus  cavalleiros,  e  atirou-se 
inopinadamente  no  meio  da  refrega,  executando  uma  bri- 
lhante carga  de  flanco  sobre  a  esquerda  inimiga.  Animados 
com  esse  soccorro,  os  bravos  da  direita  laoçaram-se  i 
baioneta  sobre  o  inimigo,  soltando  vivas  enthusiasticos  ao 


Dictzedby  Google 


-  8i  — 

heróico  lenente-corooel  Abreu,  e  o  dosso  trinmpho  foi 
desde  eatSo  completo. 

O  iaimigo  fugiu  em  debandada,  deixando  do  campo 
uns  900  morlos,  390  prisioneiros.  1  bandeira,  7  caixas 
de  guerra,  seis  mil  cavallos,  seiscentos  bois,  muilo  arma- 
mento  e  munições,  e  todas  as  bagagens.  Essa  britbante 
victoría  custou-aos  73  mortos,  e  146  feridos. 

Os  servidos  que  prestara  o  distinclo  rio-grandense-  não 
foram  esquecidos  pelo  governo  do  ftio  de  Janeiro,  que  os 
recompensou,  promovendo-o  por  decreto  de  24  de  Junho 
a  coronel  de  linba,  e  dando-lbe  o  commsndo  do  regimento 
de  milícias  denominado  de  <  Voluntários  Reaes  de  Entre- 
Rios  >,  creado  recentemente  pela  ordem  do  dia  de  23 
de  Março.  No  anno  seguinte  entrava  Abreu  para  o  qua- 
dro de  nossos  officiaes-generaes,  recebendo  a  patente  de 
brigadeiro. 

IV 


Gampaotia  de  1819a  1S90.  —  Artigasiovadeoffio-Grande.  —  Abreu 
eTBcnK  Alegrete,  e  retira-se  diante  do  iaimigo.  —  Combate  do  Ibi- 
rapuilaii-Chico  {líi  de  Setembro).  —  Reune-se  ao  general  Correada 
Camará,  e  colloca-se  com  este  do  passo  do  Rosário.  —  Sãq  atacados 
a  17  por  La  Torre,  que  é  repeilido.  —  Marcham  em  observaçSo  do 
ioimigo.— Combate  do  Ibicuhy-Guassú  (37  de  Dezembro].—  ArtfgaS 
marcbaem  direcção  ás  vertentes  do  Taquarembó,  e  é  seguido  por 
Abreu  e  Camará.— Volta  para  atacal-os.—  Estes  retiram-se,  e  reu- 
uem-se  ao  conde  da  Figueira. — Marcha  o  nosso  eiercilo  em  procura 
do  inimigo.- Batalha  de  Taquarembú  [20  de  Janeiro).  —  Parle  qae 
n'ella  teve  Abreu.— E' destacado  para  limpar  a  campanha  até  ao  Uni- 
gtiaf.— E'  recompensado  com  o  poeto  de  marechal  de  campo  gra- 
duado. 

Vencedor  em  Catalan,  o  nosso  exercito  avançou  ao  longo 
do  Uruguay,  alcançando  sempre  novas  victorias  e  novos 
louros.  O  general  Curada,  que,  com  a  retirada  do  marquaz 


Dictzedby  Google 


—  85  — 

de  Al^irete,  assumira  (25)  pela  segunda  vez  o  commando  íem 
chefe,  depois  de  ter  batido  em  vários  recontros  as  colutn- 
nas  inimigas,  vendo-se  em  inacção  e  sem  cavallos,  dis- 
pdz-se  a  vollar  á  fronteira  para  tomar  quartéis  de  inverno ; 
mas  o  visconde  da  Laguna  conseguiu  dissuadil-o  do  seu 
intento  (26),  fazendo  com  que  occupasse  o  Rincon  de  Haédo 
na  margem  direita  do  Rio-Negro. 

De  guarda  á  nossa  fronteira  ficou  o  general  Abreu,  com 
uma  força  que  não  cbegava  a  quinhentos  homens,  tendo  o 
seu  qnartel-general  em  Alegrete. 

Artigas  não  quiz  perder  a  opporlunidade  que  se  lhe  offe- 
recia  de  invadir  o  Rio-Grande,  que  elle  via  iateirameute 
aberto  e  indefeso. 

Reuniu  todas  as  forças  de  que  podia  dispor,  e  á  frente 
de  três  mil  homens  atravessou  o  Quarahim,  dirigindo 
suas  marchas  para  o  valle  de  Santa  Maria  [27], 

Os  escriplores  nacionaes,  que  se  occupam  da  invasão 
de  1819,  6  dos  successos  que  precederam  a  famosa  batalha 
de  Taquarembó,  guiaram-se  todos  pela  descripção  que  o 
Correio  BrasUienae  publicou  em  Londres,  descripção  in- 
completa e  inexacta,  que  não  esclarece  convenienlemeate 
os  factos  o  que  os  adultera  por  vezes. 

Graças  a  alguns  documentos  que  pudemos  obter,  expore- 
mos succinta  mas  fielmente  esses  acontecimentos,  em  que 

(35)  o  marqaez  de  Xlagrete  deixou  o  exercito,  re(iraodo-se  para 
Porto -Alegre,  em  30  Dezembro  de  181 7. 

(26)  Vejam-se  asJíemonos  eRfíIficfles  sobreoRíoda  Prata,etc.  O 
visconde  daLagaoii,  além  dos  officioa  que  expediu  a  Curado,  incumbiu 
Senoa  Pereira  de  preparar  oaQimod'essegeneral,  e  de  convencél-o  da 
aliUdade  de  minter-se  no  ftiaooD.  O  geaeral  Curado  ao  fim  de  três 
dias  cedeu,  aio  sem  repiigiuDoiB,  ás  suggeatSes  do  viscoode  da  La- 
go ua. 

k  frooleira  do  Rlo-Graude  Scoo  assim  alierla  e  desprotegida  1 

(27)  Tres  mil  tiomeQa,segUDdo  as  partes  olBciaea  do  próprio  inEmigo. 


Dictizedby  Google 


—  8»  — 

figura  com  tanto  esplendor  o  grande  nome  de  José  de 
Abreu. 

Apenas  teve  noticia  dos  mo?imeDlos  de  Artigas,  e 
certi6cou-se  do  verdadeiro  numero  de  suas  tropas,  tratou 
o  general  Abreu  do  expedir  próprios  ao  conde  da  Figueira, 
cominunicando^lhe  os  planos  e  as  intenções  do  inimigo. 

Era  loucura  tentar  resistir  coro  o  punhado  de  soldados 
que  commandava. 

Abreu  comprehendeu-o  logo  ;  evacuou  Alegrete,  e  reti- 
fou-se  sobre  o  passo  do  Rosário  no  Santa  Maria,  levando 
adiante  de  si  as  famílias  e  fazendeiros  d'es5as  paragens, 
que  fugiam  á  approximação  dos  invasores. 

Entretanto  Artigas,  empenhado  cm  destruir  a  pequena 
columna  brasileira,  havia  destacado  a  10  de  Dezembro  o 
seu  immediato,  La  Torre,  com  uma  forte  divisfio  de  cavalla- 
ria,  ordeoando-lhe  que  forçasse  as  marchas  o  obrigasse 
Abreu  a  aceitar  combate. 

Este,  que  continuava  a  sua  retirada  acossado  de  perto 
por  La  Torre,  vendo  ameaçados  os  habitantes  que  protegia, 
e  que  procuravam  precipitadamente  ganhar  a  margem  di- 
reita do  Saute  Maria,  entendeu  que  devia  bater-se,  para 
retardar  a  marcha  dos  contrários,  e  dar  tempo  a  que  esses 
infelizes  escapassem  ao  canibalismo  das  hordas  de  Anigas. 

<  Já  se  fazia  difficil  um  encontro  (diz  Aniceto  Gomes 
emcartaescripta  a  Ramirez  com  data  de  16  do  ditomez 
de  Dezembro),  porém  afortunadamente  Abreu,  soberbo 
com  os  passados  iriumphos,  retrogradou.  » 

Ao  romper  do  dia  14  as  avançadas  inimigas  avistaram 
as  da  pequena  columoa  brasileira ;  e  tal  era  o  terror  que  o 
seudistincto  chefe  infundia  entre  os  coo(rario5,queLa  Torre, 
apezar  da  superioridade  immensa  do  numero,  nio  ousou 
atacal-o,  e  preferiu,  para  fazél-o,  aguardar  a  chiada  de 
Artigas. 


Dictzedby  Google 


—  87  — 

Abreu  apoíoa-se  em  um  serro  escabroso  aac  vizinhan- 
ças do  Ibirapuit&D-ChÍco  com  os  seus  quatrocentos  e  qua- 
tro soldados;  e  o  exercito  inimigo  formou- se-lbe  em  frente, 
forte  de  três  mil  homens,  collocando  em  uma  lomba  a 
sua  infantaria  e  artilharia. 

Ao  meio-dia  começaram  a  escopeteor-se  os.  postos  avan- 
çados, e  pouco  depois  romperam  os  inimigos  contra  os 
nossos  um  fc^o  nutrido  de  artilharia  e  fusilaría,  atiran- 
do-se  á  carga  a  grande  massa  de  cavallarJa,  que  se  formada 
Qos  flancos  e  na  retaguarda  da  sua  linha. 

A  resistência  dos  nossos  foi  enérgica,  mas  o  capitão  Da- 
niel Beresford,  abandonando  a  infantaría.que  commandava, 
e  fugiado  vergonhosamente,  fez  com  que  o  inimigo  alcan- 
çasse, mais  depressa  do  que  pudera,  uma  vtctoria  fácil, 
certa  e  sem  gloria. 

A  cobardia  d'esse  oSicial  causou  a  morte  de  oitenta  dos 
nossos  soldados,  que  foram  envolvidos  e  degolados.  Abreu 
com  acavallaria  põz-se  logo  em  retirada  para  o  passo  do 
Rosario,repellindo  o  inimigo  e  salvando  com  o  seu  saugue- 
frio  e  bravura  a  columna  que  commandava. 

A  quarta  parte  de  seus  soldados,  porém,  ficou  estendida 
no  campo  da  batalha,  morrendo  como  heróes  n'aquelle 
combate  desigual,  em  que  cada  um  de  nossos  bravos  teve  de 
bater-se  com  sele  inimigos. 

Tal  foi  o  combate  do  Ibirapuitón-Chico,  que  os  escripto- 
res,  que  conhecemos,  erradamente  {28)  dão  como  pelejado 
no  passo  do  Rosário. 

Essa  pequena  vantagem  encheu  de  contentamento  e  or- 
gulho aos  chefes  inimigos. 
Em  caria  escripla  por  Arligas  a  Ramirez  (29),  e  intercep- 

(28)  Os  Srs.  Varoliagen  e  Pereira  da  Silva  dSo  escaparam  d'e88e 
engano. 

(29)  Escriptanodialà.momenlwdepoiadoconíbate. 


Dictizedby  Google 


-  w- 

Uda  DO  Uraguaj'  pela  flolilha  de  Senoa  Pereira,  aoauaGia- 
Ta-Uu  essa  chefe  que  eslava  em  território  brasileiro,  e  que 
muito  breve  asseotaria  o  seu  quartel-geueral  em  Porlo- 
Ál^re,  rogaodo-lhe  ao  mesmo  tempo  qoe  Ibe  maadasse 
reforços,  porque  queria  carregar  grandes  tropas  de  gado 
para  enriquecer  a  seus  amigos  e  compatriotas. 

O  modo  como  sempre  se  exprimiam  os  nossos  coutrarios, 
quando  fallavam  do  bODemerilo  general  Abreu,  pôde  dar 
uma  idéa  do  respeito  e  da  admiração  que  tributavam  elles  a 
tio  illustre  cabo  de  guerra. 

Basta  que  citemos  aqui  as  palavras  do  mencionado 
Ramirez,  dirigidas  a  8  de  Janeiro  do  anoo  seguinte  ao 
cabildo,  quando  communicou  a  noticia  do  combate  do 
Ibirapuitan-Chico,  e  a  carta  que  Aniceto  Gomez,  dois  dias 
depois  d'aqueUe  recontro,  escreveu  a  este  general,  da  qual 
já  citámos  um  trecho. 

■  O  general  Artigas  ( escrevia  Ramirez),  A  frente  de  três 
mil  decididos  orientaes,  acabou  com  o  divisão  do  dislincto 
porluguez  Abreu.  » 

Gomez  começava  a  sua  caria  do  s^uinta  modo:  ■  Gloria 
i  pátria,  e  honra  aos  livres  t 

«  Triumpharam  nossas  arma?  em  GuirapuilaD-Chico  (30) 
no  dia  li  do  corrente  contra  o  famoso  Abreu  (31).  > 

Recebendo  os  despachos,  em  que  Abreu  dava  conta  da 
ínvasfio  do  Artigas,  e  pedia  soccorros  para  resistir-lbe 
efficazmenlo,o  conde  da  Figueira  ordenou  ao  lenente-general 
Marques  de  Sousa  que  fizesse  marchar  o  então  brigadeiro 
Corrda  da  Gamara,  para  communicar-se  com  Abreu,  devendo 

(30)  GormpcSo  de  IbirapulUa-Chico.  Em  vei  de  Ibiraocahy,  Artigas 
diiia  também  Gniraocaby. 

(31)  tlinoiítro  equivoco  do  Correio  Bratâienie,  repetido  portodos 
08  nottot  escrlptorea,  foi  dizer  que  o  combate  tivera  lugar  a  13  e  nSo 


Dictzedby  Google 


—  89  — 

os  dois,  de  accordo,  conter  os  invasores  do  Sauta-Maria,  e 
evitar  que  o  transpuzessem. 

Pelo  dia  IS,  isto  é,  no  dia  seguinte  ao  do  combale,  o 
general  Gamara  reunia-se  a  Abreu  na  estancia  de  Joaquim 
Rodrigues,  além  do  passo  do  Rosário.  D'ahi  voltaram  juntos 
os  dois  generaes,  e  fizeram-se  fortes  n'aquelle  ponto,  sendo 
a  17  atacados  por  La-Torre,  que  foi  rechaçado  depois  de 
um  combate  que  durou  desde  as  dez  horas  da  manhã  até  á 
noite. 

N^este  ataque  pôde  o  general  Abreu  certíficar-se  de  que  a 
cavallaria  és  ordens  de  La  Torre,  que  fazia  a  vanguarda  do 
inimigo,  compunha-se  apenas  de  oilocenlos  homens. 

Ignorando,  porém,  qual  o  plano  d^elles,  fez  ver  ao 
general  Gamara  que  deviam  seguir-lhes  a  trilha  para  observar 
seus  movimentos  ;  prudente  alvitre,  a  que  Gamara  accedeu 
prom  piamente. 

EfTecli vãmente  no  dia  18  sabiram  os  dois  generaes  do 
passo  do  Rosário,  e,  marchando  sobre  as  pegadas  do  exer- 
cito orÍBOlal,  souberam  a  26  que  estavam  a  legua  e  meia  do 
acampamento  dVste. 

Collocaram-so  cnlão  na  margem  direita  do  Ibicuhy- 
Guassú,  pouco  acima  da  sila  cunfluencia  com  o  Ibicuhy- 
Merim,  ficando  assim  entre  aquelle  rio  e  opassodeS.Borja 
no  Santa-Maria. 

Abi  veiu  o  inimígoalacal-os  no  dia  27,  com  duasfortes 
columnas,  que  tentaram  passar  o  rio  em  dois  lugares,  onde 
este  dava  váo.  O  general  Gamara  poslou-se  no  passo  da 
direita,  e  o  general  Abreu  do  da  esquerda. 

Aluía  foi  renhida.  Os  nossos,  ardentes  de  enlhusiasmo, 
trocaram  em  breve  a  defesa  pelo  ataque,  e  cahiram  sobre  o 
inimigo  jé  abalado  eroto. 

Emquanto  Gamara  perseguia  os  fugitivos  até  ao  próprio 
acampamento  de  Artigas,  onde  a  artilharia  inimiga  obri- 

TOMO  XIXI,   P.   II  _  12 


Dictizedby  Google 


—  90  - 

goiíro  a  deler-sfl,  o  valeote  Abreu  apoderava-se  de  um  bos- 
que, em  que  grande  numero  de  inimífos  se  haviam  refu- 
giado para  melhor  reustir. 

Muito  armamento,  sessenta  mortos,  dezesete  prisioneiros, 
cavallos  sellados,  ele,  cahiram  em  nosso  poder. 

Abreu  e  Camará  voltaram  de  novo  ás  nove  horas  da  noite 
para  a  margem  direita  do  IbÍcuhy<Guassú  (32),  manobrando 
no  dia  seguinte  á  vista  do  inimigo,  e  pela  sua  esquerda, 
sem  que  este  os  iacooimodasse. 

A  rtigas  procurou  então  attrahir  os  nossos,  para  balêl-os 
antes  da  juncçjto  com  o  conde  da  Figueira:  marchou  em 
direcção  a  Saat'Anna  do  Livramento,  e  d'abi  voltou  rapida- 
mente sobre  eíles,  que  o  seguiam  de  perto. 

Mas  Abreu  e  Gamara,  que,  com  as  forças  de  que  dispu- 
nham, não  podiam  bater-se  em  campo  aberto, reliraram-se, 
afim  de  evitar  uma  derrota  certa,  e  chamar  o  inimigo  para 
o  passo  de  S.  Borja,  ponto  sobre  o  qual  marchava  o  conda 
da  Figueira.  > 

No  dia  10  de  Janeiro  verificou-seajuncção  dos  nossos 
três  generaes,  ficando  assim  burlado  o  plano  do  audacioso 
caudilho. 

Vendo  isso,  Artigas  dirigiu-se  de  novo  para  as  oasceutes 
do  Taquarembó,  já  abandonando  o  território  brasileiro; 
porém  o  conde  da  Figueira,  a  marchas  forçadas,  alcançou 
o  exercito  oriental  no  dia  20  de  Janeiro. 

Apenas  avistou  o  inimigo,  tomou  o  capitfto^euerat  todas 
as  disposições  para  o  ataque.  Abreu  com  a  sua  divisão 
devia  atravessar  um  pântano,  e  atacar  peta  frente ;  Camaia 
devia  transpAr  o  Taquarembó,  e  atacar  pelo  flanco. 

Formado  em  linha  de  batalha,  rompeu  o  inimigo  o  fogo 

(32)  k  nspeilo  do  lugar  d'este  combate  erram osnossosescríptores, 
quando  dlo  a  entender  que  foi  ainda  o  passo  do  Rosário. 


Dictzedby  Google 


—  91  — 

com  quatro  pegas  de  artilharia,  que  nenhum  mal  nos 
fizeram. 

■  A'  minha  voz  de  avançar,  diz  o  conde  em  sua  parte 
official,  o  brigadeiro  Abreu  eiecutou  o  seu  movimento  com 
lauta  impetuosidade,  apezar  do  vivo  fogo  de  artilharia  e 
fusilaria  do  inimigo,  que  desde  logo  o  obrigou  a  perdei  a 
sua  primeira  posição,  e  a  retirar-se  para  outra  mais  forte, 
defendida  pelo  rio,  que  se  achava  então  muito  cheio.  ■ 

Nossos  soldados,  sem  se  deterem,  atravessaram, eanvja- 
ram-se  sobre  os  contrários ;  mas  a  brilhante  carga,com  que 
Abreu  inaugurou  o  combate,  a  serenidade  e  valor  com  que 
se  arremessou  sciíre  as  hostes  inimigas,  fizeram  com  que 
estas  desfalleceesem. 

A  resistência  foi  miserável ;  o  inimigo  quasi  não  con- 
baleu,  e  na  maior  desordem  e  confusão  deitou  a  fugir, 
fustigado  e  perseguido  pelos  nossos,  deixando  no  campo  o 
general  Pantaleon  Sotél,  quarenta  officiaes  superiores  e 
subalternos,  setecentos  e  noventa  e  cinco  inferiores  e  sol- 
dados mortos,  feridos  quinze  inferiores  e  soldados,  prisio- 
neiros vinte  e  umoQiciaese  quatmceotos  e  sessenta  e nova 
inferiores  e  suldaitus;  ao  todo  m/i  tresentos  e  c^co  ho- 
mens. 

Tomámos  quatro  peças,  todas  as  munições,  uma  ban- 
deira, quatro  caixas  de  guerra,  muito  armamento,  gado  e 
cavallos. 

Esta  victoria,  que  acabou  com  o  poder  e  dominio  de 
Artigas,  e  para  a  qual  tanto  concorreu  o  mtrepido  Abreu, 
valeu  ao  nosso  heróe  a  graduação  de  marechal  de  campo 
em  Março  do  mesmo  anão. 

Quatro  dias  depois  da  batalha  s^aiu  o  illustre  rio-gran- 
dense  com  a  sua  divisão  até  ao  Uruguay,  para  perseguir  o 
inimigo  e  desassombrar  a  campanha. 


Dictzedby  Google 


Depois  da  proclaniaçSodi  iDlopeodeacía,  é  nomeado  goveroador  das 
armas  do  Rio-Graade  do  Sul.  —  Acliva  a  remessa  de  reforços  para 
o  silio  de  MODlevidéo,  e  marcha  até  Mercedes  com  uma  divisio  au- 
liliar.  — Volia  para  o  Rio-Graade  depois  da  capIlulaçSo  dos  porlu- 
guezes.— E'-ltae  conferido  o  poslo  elTecllvo  de  marechal  de  campo. 

Após  a  batalha  de  Taquarembó,  pacificada  a  Banda  Orien- 
tal, que  passou  a  fszer  parte  do  reÍDO-unido  de  Portugal, 
Brasil  e  Algarves,  o  general  Abreu  conservou-se  na  fronteira 
da  proviucia  do  Rjo-Grande,  commandando  as  forças  que 
aguardavam. 

O  grilo  de  independência  soltado  no  Ypiranga  pelo  in< 
ct^  fundador  do  Império  foi  achal-n  n'aquella  posição. 
Dotado  de  sentimenlos  patrióticos,  e  cheio  de  amor  pelo 
seu  paiz  natal,  Abreu  saudou  com  onthusiasmo  a  aurora  da 
liberdade  que  despontava,  e  applaudiu  a  nova  ordem  de 
cousas  estabelecida  pelo  primeiro  Imperador. 

O  governo  provisório,  que  se  estabeleceu  no  Rio-Grande 
()o  Si.i,  nomL'Oii-0,  em  fins  de  18'2i,  governador  das  armas 
da  proviucia,  nomeaçiio  que  foi  coaQrmada  pelo  governo 
geral ;  d  Abreu,  aceitando  esse  cargo,  quiz  logo  depor  aos 
pés  do  Sr.  D.  Pedro  I,  que  personificava  a  idéa  da  liber- 
dade e  da  independência  do  Brasil,  os  seus  protestos  de 
fidelidade  e  dedicação. 

Para  congratulal-o  e  testemunbar-lhc  os  sontímentos  de 
que  elle  general  e  os  seus  commandados  se  achavam  pos- 
suídos, mandou  em  commíssão,  a  12  de  Dezembco,o  major 
J.  da  Silva  Brandão. 

Mas  nem  assim  lívrou-se  das  catumnias  e  intrigas  dos 
homens  que  em  Moatevidéo  se  oppunham  á  adopção  do 
novo  regimen. 

Em  um  periodieo  sustentado  por  esles,  ia  Aurora,  fez- 


Dictzedby  Google 


se  correr  a  noticia  cie  que  o  bravo  rio-grandense  havia 
proclamado  a  coostituiçao  das  cAttes  de  Lisboa. 

O  illuslro  veterano,  com  essa  franqueza  rude  do  soldado, 
entendeu  que  devia  proteslar  contra  o  quo  elle  qualificava 
de  horrorosa  calumnia. 

«  Adheri,  disso  elle  em  seu  manifesto,  adberi  afincada- 
menle  á  sagrada  causa  do  Império  do  Brasil,  e  por  ella 
protesto  dedicar,  como  já  o  jurei,  os  meus  derradeiros 
alentos.  • 

Como  governador  das  acmas  do  Rio-Grande,  cabia-lhe  a 
missão  de  prover  á  sua  defesa,  de  reforçar  as  tropas  brasi- 
leiras que  ao  mando  do  visconde  da  Laguna  sitiavam  as 
portuguezas  em  Montevideo. 

Abreu  requisitou  logo  do  governo  o  armamento  necessário 
para  occorrer  a  qualquer  eventualidade,  e  fez  reunir  todas 
as  forcas  disponíveis  da  província,  eipedindo  ordem  ao 
general  Sebastião  Barreio,  para  que  se  reunisse  ao  general 
Marques,  e  juntos  marchassem  a  incorporar-se  esforças 
sitiadas. 

Com  o  intento  de  activar  a  reunião  de  gente,  partiu  a  7 
de  Janeiro  para  o  Rio-Pardo,e  a  ãii  assentou  o  seu  quarlet- 
gcneral  em  S.  Gabriel,  levando  comsigo  armamento,  a 
mais  trem  de  guerra,  de  que  careciam  os  corpos  que  já 
estavam  na  fronteira,  e  os-  que  deviam  reunir-se. 

Depois  dos  reforços  que  enviou  ao  visconde,  organisou 
ainda  una  columna  de  mile  cem  homens,  com  a  qual  se 
postou  no  Queguay,  e  avançou  em  Junho  até  Mercedes, 
sobre  o  Rio-Negro,  regressando  ao  mez  seguinte  á  sua 
primitiva  posição. 

Essa  cotumna    devia  avançar  até  Montevideo,  se    as 
circumstancias  exigissem  allí  a  sua  presença.  Os  aconteci- 
mentos, porém,  não  realisáram  esta  previsão. 
O  sitio  de  Montevideo,  poslo  que  sustentado  com  vigor, 


Dictzedby  Google 


-  94  — 

nio  ÍDcommodava  eatreianlo  aos  portuguenes  do  ganeral 
D.  Álvaro  da  Costi,que  mantioham  lirr^  suas  coamunica- 
ções  poi  agua. 

Cddo,  porém,  víram-se  elles,  os  sitiados,  privados  doesse 
rocurso,  porque  uma  força  naval  eaviada  do  Rio,  ás  ordens 
do  chefe  de  divisão  Pedro  António  Nunes  (33),deiTotou,  em 
dias  de  Outubro,  nas  proximidades  de  Honlevídéu,  a  es- 
quadra portuguesa.  D.  Álvaro  pouco  depois  capitulou,  e  as 
nossas  forças  entraram  na  capital  da  Cisplatina. 

Abreu  com  a  sua  columna  de  observação  recolheu-se  á 
província  do  Rio-Grande,  sendo  elogiado  pelos  relevantes 
serviços  que  acabava  de  prestar,  e  recebendo  em  seguida  o 
poslo  effectivo  de  marechal  de  campo  com  a  insígnia  do 
Cruseiro. 


(33)  A  nossa  divbSo  DBvalcompuDha-ae  :  da  coverUIt6eral,  de  2A 
bocas  de  togo  (commandaDte  o  capiíao-leneole  Gavião);  brigue  CaeiqM, 
de  18  (comoiandaiite  capilSo-leneoie  Aolunio  Joaquim  do  Couto);brfeDe 
Gvarany,  de  16  (commandante  1°  leoente  Joaquim  Guilherme);  escuna 
Leopoldina,  de  13  (commandauLe  1°  lenenle  Fiaucisco  Bibianode 
Castro);  e  escuna  Sete  de  Março,  de  i  rodisio  [commaudaQte  3*  teneole 
Francisco  de  Paula  Osório)-  A  divisão  porlugueza  compunha-se  das  cor 
velas  Conde  dos  Arcos,  de  26  peças,  e  General  Lecór,  de  16,  brigue 
Ligurt,  de  16,  e  escuna  Maria  Theresa.  D'esBa  victoria  naval  n 3o  fez 
roençaooSr.  couselheiro  Pereira  da  Silva  na  sua  recente  HUtoria  da 
(miUiçOo  do  império. 


Dictzedby  Google 


VI 

QnettSo  da  Cisplatina.  —  Revolaçlo  do  18S5  p<'otegida  peid  govetuo 
argeolÍDo.  —  Delecção  do  coronel  Julian  Laguna  e  do  brigaddro 
Rivera.  —  Ovjwonde  da  Laguna  pede  reforçoa  ao  governo  geral,  e 
d  proviDciadoRio-Graade  dosai.  ~  Abreupre  para  noia  divisão,  e 
invade  a  Cisplatina.  —  Começa  a  desiniellígeacia  do  general  Sebas. 
tilo  Barreio  coro  Abreu,— EsUdo  da  Cisplatina,  quando  Abreu  pòz-se 
em  marcha.  —  Demora-se  este  junto  ao  arroio  Pregitelo  á  espera 
du  forçai  dos  coronéis  Jardim  eMeona  Barreio.  —  Alaqne  de  Mer- 
cedes pelo  general  Rivera  (33  de  Agosto;,  que  é  rechaçado.— Alireu 
move-se  para  cobrir  esse  ponto,  e  atacar  Rivera.  —  Tentativas  inú- 
teis parachamarltivera  a  uma  acção  geral. 

De  volta  ao  Rio-Grancln,  o  general  Abreu  coiiIÍduou  a 
exercer  o  cargo  de  governador  das  armas,  desenvolvendo 
abi  todo  o  zelo  e  actividade  de  que  é  capaz  um  fuocciona- 
rio  brioso  e  dedicado  á  causa  publica. 

Não  tardou,  porém,  que  os  acontecimentos  viessem  cha- 
mal-ode  novo  aos  labores  e  privações  da  campanha. 

O  governo  brasileiro  persistia  na  idéa  da  íncorporaçXo 
da  CisplaUna.  Longe  do  theatro  dos  acontecimentos,  e  illu- 
dtdo  pelas  falsas  asseverações  do  visconde  da  Laguna,  acre- 
ditava que  a  idéa  da  união  era  com  fervor  esposada  pelos 
orientaes,  e  dava  um  valor  immenso  a  actos  que,  sendo 
feitos  na  presença  das  baionetas  estrangeiras,  náo  podiam 
deforma  alguma  ter  o  caracter  de  manifestações  espontâ- 
neas e  livres  do  voto  popular  (34). 

0U)  tiio  qDeremofl  dizer  que  essa  idéa  nlo  tivesse  enei^icos  apoio* 
gistas  e  sioceros  defensorea  na  Banda  Oriental.  Póde-se  dizer  até  qne 
os  espíritos  mais  cultos  e  a  parte  mais  sensata  da  população,  escaraien- 
lados  pelos  tristes  resultados  das  discórdias  civis,  defendiam-na  com 
fervor.  Mas  os  habitantes  da  campanha,  osgaucbos  e  os  caudilhos  I 
NSo  se  devia  contar  comesse  elemento,  tão  poderoso  n'aquel)es  paizesi 
e  tao  adverso  aos  brasileiros  7  Klo  se  devia  contar  com  o  espírito  in- 
quieto e  turbulento  d'essa  parto  da  população,  habituada  á  anarcbia, 
e  antipathica  á  pez  e  á  ordem  1 


Dictzedby  Google 


—  96  — 

Entretanto  era  crença  de  muitos  homens  importantes  do 
Brasil  que,  estando  este  nos  primeiros  períodos  de  sua 
regeneração  politica,  não  devia  herdar  de  Portugal  a  louca 
ambição  dedomiaio  sobre  um  território  estranho,  e  muito 
menos  sacrÍiic:iros  seus  recursos  na  dÍ(BcÍl  cmpreza  de 
procurar  no  sul  limites  naturaes. 

Foi  assim  que  a  constituinte,  n'esse  ponio  bem  inspi- 
rada, nSo  quiz  incluir  desde  logo  a  Ctsplatina  entre  as 
províncias  do  Imperio,e  reservou  a  questSo  para  um  exame 
especial. 

De  seu  lado  o  governo  argentino  julgava-se  com  direito 
ao  território  da  Banda  Oriental,  sem  lembrar-se  de  que 
esta  se  havia  desligado  das  outras  províncias  do  Rio  da 
Prata,  mantendo  livre  a  sua  autonomia  debaixo  do  governo 
de  Arligas. 

D.  Valentim  Gomez  foi  enviado  em  1823  ao  Rio  de  Ja- 
neiro, para  fazer  valer  essas  prelenções,  e  a  6  de  Fevereiro 
do  anno  seguinte  o  nosso  ministro  de  estrangeiros,  L.  J.  de 
Carvalho  o  Mello,  declarou,  em  resposta  ao  memorandum 
por  elle  apresentado,  que  o  governo  imperial  estava  di^ci- 
dido  a  manter  a  incorporação  da  província  disputada. 

Essa  fatal  resolução  arrastou-nos  a  uma  guerra  impo- 
pular, que,  após  duros  e  immensos  sacrifícios,  terminou 
pelo  famoso  tratado  preliminar  de  paz  de  S8  de  Agosto 
de  1828,  preparado  e  urdido  pelos  manejos»  seducçóeso 
ameaças  de  Lord  Ponsomby  (3'i). 

<3G)  Do  seguinte  ollicio  do  duque  de  Palmella  ao  conde  <Io  Porto 
Santo  vC-se  a  alternativa  que  otTereceu  a  Inglaterra  ao  Braail,  e  as 
ameata«  d'eese  governo,  que  lao  escandalosamente  contrariou -nos 

durante  todo  o  decurso  da  guerra  : <•  Soube  por  uma  conndencia 

do  barão  de  llabafana,  de  cuja  veracidade  por  varias  provas  me  con- 
venci, que  Mr.  fanning  Itie  declar.'lra  francanaente  o  desejo  que  tinha 
de  induzir  o  gabinete  do  Rio  de  Janeira  a  mandar  evacuar  peias  suas 
tropas  n  Panda  Oríenlal,  oo  seja  para  entregal-a  ao  governo  de  Buenos 


Dictzedby  Google 


Quanio  não  leria  ganho  o  Brasil,  seT  pondo  de  parle  vel- 
leidades  pueris,  tivesse  erigido  desde  logo  a  Baada  Orien- 
tal em  estado  livre  e  soberano,  garantindo  a  sua  inde- 
pendência contra  as  infundadas  protenções  do  governo  de 
Buenos-Ayres  I  Essa  pulitica  de  vistas  mais  largas  e  pre- 
venetes,  inspirada  pelo  sentimento  nacional,  ter-nos-hia 
assegurado  o  apoio  da  Grã-Bretanha,  que  foi  o  verdadeiro 
motor  6  alma  da  guerra,  que  contra  nós  sustentou  a  repu- 
blica das  Províncias  Unidas  do  Rio  da  Prata  (36). 

Ayres,  mediante  uma  iadeinnisa0o  pec  uniaria,  ou  seja  erigindo  em 
HonievidéoumgovernoíDdependeDte,  debaino  da  protecção  da  Gt^- 
Bielanlia.  Para  dar  maLs  força  a  essa  declaraçJio  eiplicila,  chegou 
Mr.  Canmng  a  accresceiítar  que  a  Inglaterra  duo  podia  ser  muito  tempo 
indiflerente  espectadora  de  uma  semeliianle  luta,  nem  permanecer 
neutral ;  e  que  eslava  resolvida  a  abraçar  o  partido  do  Buenos-Ayres, 
se  dentro  de  seis  mezes  uão  estivesse  concluída  a  paz,  ele,  ele.  » 
{Correspondtncia  do  duqaede  Palmtlla,  publicada  por  J.  J.  dos  Rtise 
Vascowellos,  tomo  2%  pag,  2590 

(36)  Quando  cm  18C2  se  inaugurou  na  curte  a  estatua  do  au- 
gusto fundador  do  Império,  a  imprensa  politica  abriu  uma  animada  dis- 
cussão sobre  o  reinado  d'esse  Príncipe,  a  quem  o  Brasil  deve  a  sua  in- 
tegridade e  a  sua  preciosa  constituição.  Entre  as  accusaçCes  que  I lie 
eram  feitas,  nvullava  a  da  guerra  do  llio  da  Prata  ;e  (cousa  admirável  IJ 
trinta  e  sele  annos  depois  d'essc  acontecimento  era  essa  accusacao 
formulada  com  mais  paixSo  ainda  do  que  o  nzeramos  periódicos  exal- 
tados da  época ! 

Censurava-se  o  Senlior  D.  Pedro  f  por  se  deixar  dominar  da  ambi- 
ção de  conquisla  i  o  entrelanlo  tim  de  seus  acctisadores,  chefe  de  uma 
escola  politica  importante  em  nosso  paiz,  e  por  con^^cguinte  poUtico  ati- 
lado e  sagaz,  lamenlava  em  1861  a  falta  de  um  conde  de  Cavour,  que 
pudesse  realizar  a  conquista  dos  ducados  úo  Rio  da  Praia  I 

J&  se  vi,  pois, que,  se  ainda  recentemente  liavia  brasileiros  da  impor- 
tância d'aquelle  a  quem  nos  referimos,  que  sonhavam  com  a  incorpora- 
ção dos  ducados,  r.So  é  muito  para  admirar  que  em  1825  houvesse 
quem  pensasse,  nlto  em  conquistar  ducados,  mas  em  ronservar  um  que 
rOHo  XXXI,  P.  II  i3 


Dictzedby  Google 


—  98  — 

Uma  revoloção  pfeTÍsta  por  todos,  qae  não  eram  myo- 
pes,  arrebentou  afinal  oaCispIstioa,  favorecida  is  escan- 
caras  pelo  governo  de  Bnenos-ÀTres. 

A 19  de  Abril  de  1828  o  general  Ju&n  António  Lavalleja 
desembarcou  do  Arsenal  Grande  com  trinta  e  dois  compa- 
nheiros apenas ;  e,  plantando  no  território  Oriental  o  pa- 
vilhão tricolor  de  Artigas,  reuniram -se  logo  em  tftrao  d'eUe 
unsdusentos  patriotas  (37). 

Com  taes  elementos  leriam  os  trinta  e  três  companheiros 
pago  bem  caro  o  seu  amora  pátria,  e  estaria  desde  logo 
suffocada  a  revolução,  se  o  coronel  Julião  Laguna,  depois 
de  ter  representado  uma  farça  ridícula  {38],Dão  se  bandeasse 
para  os  insurgentes;sendo  poucodepois,B  27  d'esse  mesmo 
mez,  imitado  o  seu  exemplo  pelo  brigadeiro  Fructaoso 
Rivera. 

A  dereccão  d^esses  dois  chefes  encorajou  os  indepen- 
dentes, e  fez  com  que  um  sem-numero  de  voluntários  cor- 
ressem de  todos  os  pontos  da  campanha  a  engrossar  o 
pequeno  exercito  de  Lavalleja. 

Estes  acontecimentos  induziram  o  visconde  da  Laguna 
a  solicitar  a  remessa  immediala  de  reforços,  tanto  ao  go- 
verno geral,  como  ao  commandante  das  armas  da  provin- 
cia  vizinha. 

ji  eslava  em  nosso  poder.  Oa  erros  do  passado  devem  servir-nos  de  lifio 
para  o  preseole,  mas  DUnca  devem  dar  lugar  a  JDcoherendaa  d'eB8a 
ordem. 

(37)  Carta  do  geDeral  MaDoeIJorge  Rodrigues  [barSo  de  Taqaarj)  ao 
cônsul  brasileiro  em  Boenos-Ayres. 

(38)  Nas  Memorias  de  Garibaldi,  publicadas  pelo  Sr.  Alexandre  Du< 
masfpai),  vemadescrÍpçSod'esseraclo.  A' parle  o  qne  ha  ahi  de  ro- 
maolico,  é  exacta  a  noticia  que  etie  ài  da  loteressaole  aceita  que  re- 
prese nlou  Laguna. 


D,:„l,;cdtvG00J^IC\ 


—  99  — 

NSo  se  conservou  surdo  a  tal  reclamo  o  general  Abreu. 
Reuniu  as  forças  de  que  podia  dispor,  e  invadiu  a  Gispla- 
tina  com  uma  divisão  composta  de  duas  brigadas  de  caval- 
laria,  dirigindo  suas  marchas  sobre  Mercedes,  povoação 
situada  i  ma^m  esquerda  do  rio  Negro,  e  occupada  por 
uma  pequena  guarnição  brasileira. 

Debaixo  de  suas  ordens  vinha  o  então  br^deiro  Se- 
bastião Barreto  Pereira  Pinto,  que,  acbando-se  acampado 
nas  proximidades  de  Montevidão  ao  romper  a  revolução, 
havia  atravessado  toda  a  campanha  oríenlal  alé  á  fronteira, 
com  o  âm  de  proteger  a  retirada  das  famílias  brasileiras 
alli  residentes. 

Tendo  chegado  aquelle  general  á  freoteira,  precisamente 
quando  Abreu  dava  os  primeiros  passos  para  orgsnisar  a 
divisão  com  que  devia  penetrar  na  Cisplatina,  entendeu 
este  que  seria  conveniente  que  se  lhe  incorporasse,  e  n'este 
sentido  olficíou  ao  visconde  da  Laguna,  que  acquiesceu 
proroplamente  a  tão  justa  suggestão. 

Entretanto  foi  isso  desgraçadamente  o  signal  de  uma 
desÍQtelligencia  mesquinha  entre  Barreto  e  Abreu,  porque 
áquelle  repugnava  militar  debaixo  das  ordens  do  homem 
em  quem  via  um  rival  feliz  e  glorioso.  Esta  desintelligen- 
cia,  a  despeito  da  generosidade  e  cavalheirismo  com 
que  se  houve  o  illustre  general  Abreu,  affectando  ignorar 
os  manejos  do  seu  competidor,  produziu  consequências 
mui  funestas,  e  em  grande  parte  concoireu  para  o  máo 
êxito  da  batalha  de  Ituzaingd.  Mas  não  antecipemos  os 
foctos. 

Quando  o  general  Abreu  entrou  na  Cisplalina,  já  a  revo- 
lução tinha  ganho  terreno,  graças  ao  contemporisador  vis- 
conde da  Laguna,  que,  depois  de  haver  commetlidoo 
gravíssimo  erro  de  destacar  contra  os  independentes,  sol- 


Dictzedby  Google 


dados  ligados  a  elles  pelos  laços  da  nacionalidade,  e  alé 
mesmo  da  amizade,  havia  adoptado  por  systema  a  inércia, 
que  foi  sempre  a  sua  estratégia,  e  que  lhe  valeu  o  iroaico 
appellido  de  Fabius  Cuuctator. 

LaTalleja  dominava  toda  a  campanha  alé  ao  Rio-Negro, 
e  possuis  três  raíl  e  quinhentos  homens  (39)  perfeitamente 
armados,  pois  o  governo  de  Buenos-Ayres  fazia-Ihe  pelo 
Uruguay  constaotes  remessas  de  munições  e  armamento, 
apezar  da  llotilba  que  tiohamos  n^esse  rio,  ao  mando  do 
então  capitão-tenente  Jacintho  Roque  de  Senna  Pereira, 
queuãoera  sufficienle  para  interceptar  inteiramente  acom- 
municação  entre  as  duas  margens  (40). 

Depois  de  uma  marcha  laboriosa,  feita  no  rigor  do  in- 
verno, chegou  a  divisão  auxiliadora  do  general  Abreu  á 
margem  esquerda  do  Rio-Negro,  vadeando-o  nos  dias  6  e 
6  de  Julho.  Compunha-se  ella  de  uns  mil  e  duzentos  ho- 
mens, desprovidos  de  tudo,  o  fatigados  por  uma  marcha 
terrivelmente  penosa,  em  razão  dos  obstáculos  naturaes 
que  tiveram  de  vencer.  Os  mais  pequenos  arroios  tinham- 
sc  convertido  em  lorrenles  caudalosas,  que  obrigavam  o 
general  a  caminhar  muitas  léguas,  para  procurar  as  suas 
nascentes,  desponta  ndo-as,  .como  se  diz  no  sul. 

Forçoso  lhe  foi  dar  então  descanso  aos  seus  soldados, 
cujos  cavallos  estavam  em  misero  estado,  e  pedir  alguns 
auxilies  ao  coronel  Norberto  Fontes,  commandanle  de 
Mercedes,  que  acudiulhe  promptamente  com  a^uns  manti- 
mentos e  com  um  cirurgião. 

(39)  Veja-se  a  Mensagem  de  Lavalitja,  apresentada  ao  Congresso  da 
Florida  a  18  de  Juntio  de  1825. 

(AO]  Todavia,  o  commandaDle  da  flolilha  desenvolveu  sempre  a 
maior  actividade,  e  seus  navios  por  vezes  conseguiram  appreliender 
a  nchítes  carregados  de  armas. 


Dictzedby  Google 


—  101  — 

o  general  inimigo  Frucluoso  RÍTera  achava-se  com  luil 
cavalleiros  |í1)do  seu  campo  de  Motles.proximo  de  Durazno, 
e  ao  saber  da  approximação  da  columua  imperial,  adiantou- 
se  com  seiscentos  homens  escolhidos  para  observar-lbe  os 
movimentos, 

Abreu  conservava-se  em  immobilidade  no  Rio  Negro  a 
alguma  distancia  <lo  arroio  Pregueio,  esperando,  para  roaao' 
brar,  a  chegada  de  cavalhadas  e  de  quatrocentos  homens, 
que  haviam  partido  do  Quarahim  e  de  Sant^Ànoa  ás  ordens 
dos  coronéis  Jeronymo  Gomes  Jardim  o  José  Luiz  Nenna 
Barreto. 

A'  vista  d'isso,  concebeu  o  chefe  inimigo  o  plano  de  apo- 
derar-se  de  Mercedes  antes  que  a  ella  chegasse  a  divisão 
auxiliar. 

Deixou  emboscados  em  frente  do  acampamento  d'eEla 
cem  homens,  e  no  dia  22  de  Agosto  atacou  o  povoado  (42). 

O  ataque  comegou  ás  onze  e  meia  horas  da  noite,  e  foi 
dirigido  com  muito  impele  sobre  os  postos  mais  vulneráveis. 

Um  alferes  oriental  de  nome  Navarro,  que  fazia  parle  da 
guarnição,  e  que  desertara  Q'esse  dia,  pAde  indicar  a  Rivera 
os  ponlos  mais  fracos,  e  conseguiu,  atraiçoando-os  vil- 
mente, apanhar  quatro  officiaes  e  cinco  soldados,  que  se 
achavam  doentes  em  uma  das  casas  da  povoação,  chegados 
poucos  dias  antes  da  divisão  de  Abreu. 

(úl)  MensagtmdeLavatí^a,  já  citada. 

(43)  Já  antes,  em  Maio,  pretendíra  Rivera  apoãerar-ged'eBBe  ponto, 
ÍDUmando  ao  commaadanie  brasileiro,  que  se  rendesse,  e  dizendo  que 
tinliai  sua  disposição  dois  mil  homens.  A  resposu  que  leve  foiesla; 
K  Homeos  n3o  iotimidam  a  homens.  NAo  é  a  primeira  vez  que  V.  Ei. 
se  p5e  ã  frente  de  igual  numero  sem  intimidar  as  armas  brasileíraB, 
acostumadas  por  sua  subordioagão,  disciplina  e  fidelidade  a  vencer  as 
muIlidOflS.  ■ 


Dictzedby  Google 


—  loa  — 

Protegida  petos  fogos  da  canhoneira  D.  SAasHão  (43),  a 
heróica  guarni{2o  repelliu  com  bravura  o  ataque,  voltando 
s^unda  vez  á  cai^a  o  inioiigo,  e  sendo  rechaçado  de  novo 
com  grande  perda. 

Foi  essa  uma  noite  aziaga  para  os  contrários,  porque, 
além  da  perda  que  solTrerara  nos  dois  ataques,  tiveram  o 
desgosto  de  ver  batida  e  dispersa  por  um  piquete  nosso, 
duas  vezes  menor  que  ella,  a  força  que  deixaram  de  observa- 
ção em  frente  ao  acampamento  do  general  Abreu. 

No  dia  s^uinle,  pelas  oito  horas  da  manbS,  pdz-se  a 
nossa  divisSo  em  movimento  para  cobrir  Mercedes,  e  attra- 
bir  o  inimigo  a  uma  acção  geral;  foram,  porém,  inúteis 
todos  os  esforços  que  emproou  para  conseguir  este  ultimo 
resultado. 

Às  partidas  inimigas,  atacadas  pelos  nossos  piquetes, 
dispersavam-se  em  vez  de  concentrar-se,  ficando  os  nossos 
vencedores  em  todos  os  choques,  que  tiveram  lugar  nos 
dias  23,  37,  e  28  até  2  de  Setembro. 

Vil 

Abreu  destaca  contra  REvera  o  coronel  Bento  Manoel.  —  Combate  de 
Arbotito  (à  de  Setembro),  e  marcha  de  Benlo  UaDoel  para  Monte- 
video.— Lavalleja  levanta  o  sitio  da  Colónia,  e  concentra  suas  forças 
no  interior.— PostcSo  dos  betllgerantea.  —Plano  de  operafãfea  coa>- 
municado  pelo  vÍMxiade  da  Laguna  a  Abrea.  —  Combates  do  Hin- 
con  e  do  Sarand;.  —  Abreu  nio  concorreo  para  esses  revezes  ; 
accQsaçQes  infundadas  que  lhe  foram  feilas.— Betira-se  para  Belãn, 
e  ahi  reune-se  a  Bento  Hanoel.  —  Segne  para  o  Rincon  de  Haia- 
Perros. 

Perdidas  as  esperanças  de  obrigar  Rivera  a  aceitar  com- 
bale, tomou  Abreu  posíçOes  pTto  de  Mercedes,  aguardando 
as  columnas  de  Jardim  e  Menna  Barreto,  diante  das  quaes 

(43)  CommandaDte,  o  1°  teneote  Cfptiano  Josã  E^res. 


DictizedbyGoOJ^IC 


fugia  o  coroDfll  Julian  Laguna,  que  com  duzentos  homens 
logr^a,  pouco  antes,  sorprender  e  aprisionar  em  Paysandú 
am  pequeno  destacamento  nosso. 

Lavalleja  sitiava  entáo  a  praça  da  colónia  do  Sacramento, 
cajá  guarnição,  dirigida  pelo  intrépido  Manoel  Joige  Rodri- 
gues (mais  conhecido  pelo  titulo,  que  depois  recebeu,  de 
barão  de  Taqoary ),  se  mantinha  firme  em  seu  posto,  reba- 
tendo sempre  os  ataques  dos  independentes. 

Para  impedir  que  esse  chefe,  reunindo-sea  Rivera,  viesse 
com  todo  o  exercito  republicano  ao  seu  encontro,  resolveu 
o  general  Abreu  baler  a  columna  d'este  ultimo. 

Para  isso  tez  vir  do  Rincoo  de  Ilaédo  (lambem  chamado 
de  tas  Gallinas]  a  cavalhada  fresca  que  ahi  linha,  e  destacou 
oitiftentos  homens  escolhidos  d^entre  todos  os  corpos  de 
sua  divisão,  confiando  sua  direcção  ao  celebre  Bento  Ma- 
noel Ribeiro,  então  coronel. 

Achava-se  acampado  no  dia  3  de  Setembro  na  foz  do 
Coquimbo  quando  Abreu  levantou  o  acampamento,  o  mano- 
brou com  todas  as  suas  tropas,  para  illudir  a  guarda 
avançada  que,  sob  as  ordens  de  Felippe  Caballero,  deixara 
o  general  inimigo  em  nossa  frente.  Graças  a  esse  movi- 
mento, conduzido  com  a  habilidade  e  pericia  com  que 
sempre  se  havia  o  distincto  vencedor  de  S.  Borja,  pÃde 
Bento  Manoel  sahir  durante  a  noite  sem  ser  percebido. 

No  dia  3  Rivera  acampou  nas  nascentes  do  Viscocho, 
e  n'essa  noite  transportou-se  para  junto  do  arroio  d'Aguila, 
donde  se  descobre  a  coxilba  de  Arbolíto. 

Ahl  encontrou-o  Bento  Manoel  no  dia  seguinte,  depois 
de  ter  com  três  esquadrões  batido  ao  amanhecer  a  força  de 
Caballero,  que,  descobrindo  pelos  rastos  dos  cavallos, 
mas  já  tarde,  a  partida  da  columna  imperial,  correra  a 
reunir-se  ao  grosso  das  forças  inimigas. 

Ao  avistar  os  nossos  soldados,  formou  o  general  Rivera  a 


Dictzedby  Google 


—  104  — 

sua  pequeaa  divisão,  e  adíantou-se  com  todo  o  valor  ao 
eaconlro  d'elle3. 

Os  atiradores  dos  dois  lados  tiroiearam-se  por  algum 
lempo,  6  afinal  a  linha  iuimiga,  dando  uma  descarga, 
acommetteu  a  nossa  com  fúria,  carregando-a  de  espada 
em  punho. 

Recebida,  porém,  com  firmeza  essa  carga  pelos -nossos 
bravos,  Toram  os  contrarias  repellidos,  batidos  e  acutílados, 
por  espaço  de  quatro  teguas,  deixando  no  campo  sessenta 
e  quatro  mortos  e  quatorze  prisioneiros  (44). 

Esta  victoria  (45),  e  a  marcha  de  Bento  Manoel  com  nove- 
centos homens  para  Montevideo  (46),  onde  íoi  recebido  om 
triumpho,  obrigou  Lavalleja  a  daiiar  de  observação  om 
frente  á  Colónia  apenas  duzentos  homens,  e  a  retiriÉ-se 
para  o  acampamento  geral  de  suas  tropas  perto  da  Flo- 
rida (47). 

À  superioridade  numérica  das  nossqs  forças  (48),  e  o 
euthusiasmo  que  entre  ellas  reinava,  depois  dos  revezes 

(tiU)  Entre  os  raorlos  acliar  am-se  um  major  (IttaDciila)  e  mais  dois 
ofGciaes ;  eatre  os  prisioDeiros  um  capitSo  (Tavares]  e  outro  ofliciaL 

(A5)  Nas  parles  oQiciaes  esse  combate  é  conhecido  pelos  uomes  de 
combale  de  Arbolilo,  das  FodUs  de  S.  Salvador,  Aguiia  e  Coquimbo. 
Na  biograpbia  do  marechal  de  exercito  BenLo  MaDoel  Ribeiro,  ullJma- 
meote  publicada  na  Revista  do  Instituto,  duo  se  faz  men^o  d'e3[3  vi- 
ctoria, uma  das  mais  brilhaotes  alcançadas  por  esse  valeole  cabo  de  . 
guerra. 

(ã6)  A  sua  columua,  primiti  vamenie  composta  de  oitocentos  Uomeos, 
foi  depois  do  combate  reforçada  por  ordem  de  Abreu. 

(Ú7]  A  nairaçSo  d'efises  factos  ó  feita  avista  de  documentos  oíD- 
claes  (lanto  do  nosso  lado  como  do  conUario) ,  &  vista  de  informações 
que  obtivemos,  c  de  um  ou  ouiro  trabalho  parcial  que  examinámos. 

(48)  Dizemos  superioridade  numérica,  porque  contamos  lambem 
com  as  guarnições  de  Montevideo  e  da  Colónia,  c  com  as  forças  do 
ltio-r>rande  cm  marcha. 


DictizedbyGoOJ^IC 


solfridos  pelos  iadopendenles  em  frente  de  Mercedes  e  da 
Colónia,  e  no  combate  de  Arbolíto,  tornaram  cerlaa  próxima 
submissão  da  Cisplatina  com  o  aniquilamento  completo 
da  revolução. 

£',  com  efTeito,  fora  do  duvida  quo  os  patriotas  oríealaes 
teriam  dentro  em  breve  visto  morrer  a  idéa  grandiosa  que 
03  fizera  empunhar  as  armas,  se  a  Providencia,  que  sempre 
ampara  as  causas  justas,  não  reunisse  contra  nós  uma  serie 
de  circumstancias  tão  imprevistas,  quanto  funestas  ás  armas 
imperiaes. 

A  rivalidade  mesquinha  de  alguns  chefes,  o  egoismo  e  a 
ambição  de  outros  prepararam  as  derrotas  que  se  se- 
guiram, e  que  coroaram  tão  infelizmente  a  campanha 
de  1825,  aliás  inaugurada  debaixo  de  tão  bons  nuspicios, 
graças  á  attítudo  que  tomara  o  bravo  general  Abreu,  apresen- 
tando-se  no  campo  da  luta  com  a  sua  pequena  mas  valente 
divisão,  e  (  o  que  muitas  vezes  vale  mais  que  um  exercito  ] 
com  o  prestigio  do  seu  nome  glorioso. 

Lavalleja  comprehendeu  perfeitamente  as  circumstancias 
críticas  em  que  se  achava,  quando  procurou  concentrar  em 
um  sóponto,no  cenlroda  campanha,  todas  assoas  tropas. 

As  praças  da  Colónia  e  de  Montevideo  estavam  em  nosso 
poder;  na  linha  do  Rio  Negro  achava-se  o  general  Abreu 
com  um  punhado  de  soldados,  que  deviam  em  breve  sor 
reforçados;  a  fronteira  do  Rio-Grande era  guardada  pelo 
general  Bento  CorrSa  da  Camará  ;  no  Prata  e  no  Uruguay 
dominava  a  esquadra  do  vico-almírante  Rodrigo  Lobo. 

Assim,  Lavalleja  achava-se  cercado,  e  correndo  o  risco 
de  ser  esmagado  pelos  nossos  soldados. 

Então  o  visconde  da  Laguna  communicou  ao  general 
Abreu  um  plano  de  operações  oífensivas  que  delineara,  e 
que,  se  houvesse  sido  fielmente  executado,  seria  coroado 
do  mais  brilhante  e  prompto  successo, 

TOMO  XXXI,   p.   II  ** 


Dictzedby  Google 


Dois  revaiea,  poróm,  iasigntficanles  como  feitos  de 
umas,  mas  ootaTeis  pelas  consequeocias  que  acarretaram. 
vieram  mudar  ioteirameote  a  face  dos  negócios,  e  (oroar 
impossívei  a  execução  doesse  planoircvezes,  póde^se  dizál-o, 
devidos  ambos,  menos  ao  esforço  e  ao  poder  do  inimigo, 
do  que  á  imprudência  dos  nossos  chefes. 

O  primeiro  teve  lugar  no  Rincon  de  Haédo.  a  2i  de 
Selenibro;  o  segundo,  junio  ao  arroio  Sarandy,  a  12  de 
Outubro. 

No  Rincon  foram  batidos  os  coronéis  Jeronymo  Gomes 
Jardim  e  José  Luiz  Henoa  Barreto  pelo  general  Rivera, 
cuja  chegada  aguardava  havia  muilo  o  general  Abreu;  e 
foram  batidos,  porque,  em  vez  de  marcharem  unidos,  leva- 
dos de  uma  mal  entendida  rivalidade,  apressavam  acunlosa- 
mente  as  marchas,  com  o  fim  de  chegar  um  primeiro  que 
o  oulro  ao  ponto  de  seu  destino  (49). 

O  inimigo  apaobou-os  de  sorpresa,  e  destroçou-os  cada 

(AS}  EmquBDto  Lsvalleja  coDceDtrava  nas  proximidades  da  Florida 
o  Beu  ezerdlo,  para  poder  tentar  um  golpe,  que  lhe  desse  uma  victo- 
ría  parcial,  s  o  tirasse  da  posição  difficil  em  que  se  acliava,  ordenou  a 
Rivera  que  com  quatrocealoe  bomeos  se  apoderasse  da  cavallaria  que 
tinhamos  no  Rídcod.  Abreu  tú  tinha  em  Mercedes  pouco  mais  de  tre- 
zentas praças,  porque,  como  já  dissemos,  novecentos  ás  ordens  de 
Bento  Manoel  baviam  seguido  para  Montevideo  a  pedido  do  vise  onde 
daLagana. 

Rivera  cnmpria  facilmente  a  sua  missão.  Penetrou  do  Rincon,  per- 
BCigviu  a  pequena  guarda  que  ahi  tinliamos,  e  que,  nio  podendo  resi»- 
tir,  fugiu,  lendo  apenas  um  morto  e  dois  feridos,  sendo  salva  peta 
esquadrilha  de  Senoa  Pereira,  cujos  logos  obrigaram  o  inimigo  a 
deler-se. 

Occupado  em  arrebatar  cavalhada,  havia  o  general  inimigo  deixado 
um  official  intrépido  e  iotelligente,  Sorvando  Gomes,  com  parte  das 
■uas  tropas  na  entrada  do  Riocon.  Para  esse  ponto  dirigiram-se  os 
coronéis  Gomes  Jardim  e  Henna  Barreto  (José  Luiz}  com  pouco  mais 
de  duzentos  homens  cada  um.  Pelas  9  horas  do  dia  Sâ  Servando  Gomes 
avistou  o  primeiro  d'esses  chefes,  que  vinha  quasi  em  debandada  com 


Dictzedby  Google 


—  107  — 

um  por  sua  Tez,  desimindointeiruiiOTieos  quatrooento» 
homens  que  elles  conunandavam. 

O  segundo  d'e88es  chefes  pagou  com  a  morte  gloriosa  o 
seu  faial  erro  (50). 

PreeDchida  com  tanla  felicidade  a  sua  missão,  voltou 
Rivera,  com  a  cavalhada  que  tomara,  para  o  acampamento 
de  Lavalleja,  e  achou  esle  chefe  preparando-so  para  atacar 
Bento  Manoel,  que  com  uma  brigada  sahira  da  praça  dâ 
MonteTidéo. 

Este,  recebendo  ordem  de  reconhecer  o  campo  inimigo, 
partiu  com  mil  e  cem  homens,  e  incorporou-se  no  dia 

ofl  cavallos  faUgadissiroos.  Vencer  «m  iemelhanlM  condfçSea  era 
Urefa  facil.  Servando  aguardou  o  ensejo  mais  ta»oraTCl,  e  carregot 
com  Tioleocú  sobre  essa  força,  da  qual  apenas  uns  quarenta  iiomens 
consegoiram  íormar-se,  sendo  esmagados  pelo  numero.  Os  outros,  en- 
volvidos e  perseguidos  pelo  inimigo,  catiiram  sobre  o  regimento  n.  35 
de  segunda  lintia  (Goaranys),  de  que  era  coramandanle  Henna  Barreto, 
e  que  nSo  pOde  igualmente  guardar  a  formatura  pelo  csítsaco  âtm  et" 
vallos.  Esta  cotnmna,  como  a  primeira,  disperson-ss  logo,  podeado 
o  inimigo,  sem  grande  iraljalho,  deatruil-a  completamente,  pers*- 
gutndo-a  até  graode  distancia.  Ainda  assim,  muitos  houve  que,  envol- 
vidos pelos  contrários,  resistiram  com  admirável  denodo,  sabendo 
vender  caro  soas  vidas.  Entre  estes  achou-se  o  joven  Menoa  Barreto, 
qne,  apezar  de  ouvir  os  repetidos  gritos  do  inimigo,  iulimando-lhe 
qne  se  rendesse,  combateu,  como  um  verdadeiro  ttwúe,  monendo 
aSnal  com  mais  de  dez  honrosos  ferimentos,  e  couquistando  a  admi- 
rado de  seus  próprios  adversários.  (Veja-se  o  opúsculo  do  Sr.  E.  de 
Senna  Pereira  —  O  Libtíío  arget^m  e  a  verdade  hitíoríea  ~-  Rio, 
1857,  t  vol. ;  e  a  Biogrt^Ma  do  coronel  José  ImIx  Slenna  Barrtla,  pu- 
blicada em  avulso  no  amw  de  1825,  em  Montevideo.) 

(50)  Morreu  aos  vinte  e  sele  annos  esse  joven  coronel,  queseasst- 
gnalavajá  por  uma  longa  serie  de  feitos  illustres.  Era  Hlho  do  marechq 
de  exercito  Ji^o  de  Deos,  visconde  de  S.  Gabriel  (fallecido  em  18ú0]. 
e  irmSo  do  vencedor  de  Paysandii,  o  marechal  de  campo  José  Propicio, 
barlo  de  S.  Gabriel,  foUecido  on  1  S«5  . 


Dictzedby  Google 


—  108  — 

10  de  Setembro,  nas  oasceoles  do  ¥i,  ao  coronel  Bento 
Gonçalves,  que  comnuodava  quatrocentos  caTalleiros  (51). 

Achando-se  assim  com  mil  e  quinhentos  homens,  julgou 
Bento  Maooel,  em  seu  orgulho,  que  por  si  só  poderia  dar 
cabo  da  revolução,  e,  desprezando  as  instrucções  que 
recebera,  atreveu-se  a  atacar  o  inimigo  com  a  sua  pequeoa 
columna,  fatigada  e  enfraquecida  por  continuas  marcha^ 
forçadas. 

No  dia  12  de  Outubro,  aoniversario  do  primeiro  Impera- 
dor, avistou  elle  o  exercito  republJcaDO,  postado  junto  ao 
Sarandy,  que  despeja  suas  aguas  em  um  dos  tributários  do 
rio  ¥í,  o  arroio  de  Castro. 

Lavalleja,  que  de  ha  muito  espreitava  os  seus  movimentos, 
esperava-o  impassível  e  corto  da  victoria. 

Aos  nossos  mil  e  quinhentos  homens  oppunha  elle  dois 
mil  e  quinhentos  das  ires  armas,  perfeitamente  disciplina* 
dos,  cheios  de  enthusiasmo  pela  causa  que  defendiam,  e  em 
melhores  condições  que  os  nossos,  porque  á  superioridade 
numérica  accrescia  o  estarem  em  descanso,  e  conhecerem 
perfeitamante  o  terreno  em  que  combatiam. 

Como  se  isso  niobastasse,  foi  tal  a  alluciaaçSo  que  se 
apoderou  de  Bento  Manoel,  que  deu  começo  ao  combate 
unicamente  com  mil  e  tantos  homens,  sem  esperar  os 
quatrocentos  de  Bento  Gonçalves,  que  vinham  um  pouco 
retardados  (52). 

(61)  Bento  Manoel  se  tiavia  oITerecido  para  alacar  o  inimigo  em  Beu 
próprio  campo.  O  tenente-general  Maggessi,  bário  de  ViUa-Bella, 
reclamou  para  si,  como  mais  graduado,  o  commando  das  forcas  que 
se  houvessem  de  destacar  contra  o  inimigo.  Sem  dar  uma  decisSo 
delinilíva,  ordenou  o  visconde  que  Bento  Manoel  fosse  reconliecer  o 
campo  inimigo,  devendo  antes  faier  juncção  com  Bento  Gonçalves,  a 
quem  otDciou  n'esse  sentido. 

(53)  Armitage,  Uto  inexacto  quando  refere  lactog  d'e8ta  guerra,  dú. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  109  — 

PÒde-M  dizer  que  o  signal  da  nossa  derrota  foi  dado  aos 
primeiros  tiros  pela  defecção  da  íníaotariaguarany,  tornan- 
do-se  impossível,  depois  d'tilla,  um  combale  regular. 

Como  bem  observa  o  risconde  de  S.  Leopoldo,  t  foi 
antes  ume  dispersão  do  que  am  combate.  >  Beato  Gonçalves, 
cora  o  seu  regimento  ilieso,  dirigia-se  para  a  fronteira  do 
Jaguaráo,  sem  ser  iacommodado  pelo  inimigo;  Benio 
Manoel,  com  os  destroços  de  sua  columna,  depois  de 
pelejar  heroicamente,  retirou-se  para  adeSaofAnna,  perse- 
guido até  a^uma  distancia  pelo  inimigo;  o  regimento  de 
dragões  retrogradou  para  Montevideo,  e  o  coronel  Alencas- 
Iro  teve  de  depAr  as  armas  com  as  forças  que  com- 
mandara. 

Taes  foram  os  tão  fallados  combates  do  Rincon  e  de 
Saraody,  em  que  os  orientaes  venceram  sem  desar  para 
nós  e  sem  grande  gloria  para  elles. 

Esses  dois  revezes  foram,  como  se  v6,  exclusivamente 
devidos  ao  procedimento  de  Jardim,  de  Menaa  Barreto  e 
de  Bento  Manoel.  Sem  a  mesquinha  rivalidade  d^aquelles. 
e  a  imprudente  ambição  d'este,  não  teria  a  causa  da  revolu> 
çáo  alcançado  taes  vantagens,  que,  insignificantes  como 
feitos  militares,  puzeram  entretanto  o  inimigo  de  posse  de 
toda  a  campanha  oriental,  fortaleceram  o  espirito  de 
resistência,  e  decidiram  ogoverno  deBuenos-Ayresa  in> 
tervir  francamente  na  luta. 

Não  nos  levem   a  mal  esta  divagação.  Julgamos  dever 

cem  os  docamentos  olllciaes  do  ioimigo,  que  pelejaram  n'esBe  comtute 
dois  mil  e  duzenlos  brasileiros.  O  visconde  de  S.  Leopoldo  e  o  general 
Abreu  e  Lima  (que  o  copia  Q'ess6  como  em  muilos  ouiros  poaloi]  dSo  o 
algarismo  exacto.  Sá  se  baliram  mil  brasileiros,  porque  os  quatroceolot 
soldados  de  Bento  GoDjalvesnao  chegaram  a  entrar  em  fogo.  OSr.  A.  D. 
Pascual,  na  sua  recente  obra—Apunies  para  la  historia  de  la  Repvbli^ 
Oriental,  engaua-se  com  Armilage,  dizendo  que  tinhamos  dois  mil  e 
duzentos  bomeos. 


Dictzedby  Google 


—  110  — 

eipdr  os  factos  e  fallar  D'e8ses  dois  combates,  porque  sobre 
o  genaial  Abreu  se  fez  então  recabir  toda  a  responsabili- 
dade d'eUfiS. 

Ainda  em  1827,  na  sessfio  da  camará  dos  deputados  de 
18  de  Maio,  o  illustre  general  Cunha  Mattos,  Miando  da 
guerra,  assim  se  exprimiu  a  respeito  da  campanha  de  1835: 
«  A  guerra,  Sr.  presidente,  tem  sido  de  tal  modo  diri- 
gida, que  estamos  vendo  arruinado  o  Brasil !  Permitta-se- 
me  que  o  diga  com  bastante  sentimento  do  meu  coração : 
os  erros  são  antigos,  e  os  erros  lèm  continuado  até  hoje. 

■  O  erro  fatal  do  bário  do  Serro-Largo,  general  valente, 
que  dezenove  vezes  se  bateu  no  campo  da  honra,  arrastou 
a  desgraça  do  Brasil,  e  trouxe  as  derrotas  do  Rincon  e  de 
Sarandy.  Em  vez  do  Rincon  das  GalHnhss,  elle  occupou 
SanfAnna  !  Qual  foi  o  resultado  d'isso  ?  Um  corpo  de  quasi 
seiscentos  cavallos,  sob  as  ordens  de  chefes  intrigados, 
marrhava  em  desordem,  quando  o  inimigo,  aproveilando- 
se  da  confusão,  cabe-Ihes  em  cima  com  duzentos  cavallos, 
eleva  tudo á espadai...  t  (53) 

A  simples  exposição  dos  factos  e  a  leitura  d'essa  parte 
do  discurso  do  general  Cunha  Mattos  bastam  para  a  cabal 
defesa  do  illustre  barSo  do  Serro-Largo. 

O  general  Cunha  Mattos  accusava-o  por  ler  occupado 
SanfAnna,  quando  elle,  como  já  vimos,  occupou  Mercedes 
nas  vizinhanças  do  Rincon  !  D*esta  natureza  eram  as  accusa- 
ções  que  faziam  a  Abreu. 

Reduzido  á  inacção  em  Mercedes,  o  general  Abreu  foi 
mero  espectador  de  todos  esses  successos.  Da  sua  divisão 

(E>3]  o  deputado  pelo  Rio-fíraode  Xavier  Ferreira,  respondendo  a 
Cunba  Matlos,  negou  a  respoosabilidaie  de  Abreu  pelo  revez  do 
flincoD,  mas  não  soube  dizer,  quanto  á  censura  principal,  que  este 
general  occupou  precisameDíe  o  ponlo  que  o  primeiro  orador  inculcava 
como  o  melhor. 


Dictzedby  Google 


-  Ill  — 

destacara  com  Bealo  HsDoel,  á  requisição  do  visconde  da 
Laguna,  aoTaoealos  homens.  Estes  foram  balidos  em 
Saraody,  e  os  qualrocealos  quo  esperava  da  fronteira, 
antes  de  se  lhe  incorporarem,  foram  batidos  no  Bincon. 
A  incorporado  d'estes  últimos  devía  elerar  a  força  sob 
seu  immediato  cominando  a  setecentas  praças,  com  as 
quaes  tinha  elle  de  defendor.por  determinação  do  visconde^ 
a  margem  do  Uruguay,  de  accordo  com  a  flotilha  da  Senna 
Pereira. 

Has  esses  dois  revezes  reduziram-no  a  uns  treseotos 
homens,  e  Q'essas  circumslancias,  privado  da  cavalhada  de 
refresco,  via-se  ameaçado  pelo  inimigo  victorioso,  que  sem 
dilBculdade  esmagal-o-hia,  se  por  mais  lempo  permanecesse 
em  território  já  todo  em  poder  das  armas  republicanas. 

Decidiu-se  eutão  a  evacuar  a  Banda  Oriental,  retrogra- 
dando para  a  fronteira  do  Rio-Graode. 

Até  ao  Salto  fez-se  Abreu  transportar  pela  esquadrilha 
do  Uruguay,  duplameote  mortificado  pela  desgraça  das 
nossas  armas,  e  pelo  procedimento  que  para  com  elle 
tinha  o  general  Barreto. 

Do  Salto  dirigiu-se  com  os  restos  de  sua  divisão  para  a 
fronteira  do  Arapeby  (54],  occupando  Belém,  em  cujas 
proximidades  reuníu-se  lhe  Bento  Manoel  com  os  fugitivos 
da  cotumua  destroçada  em  Sarandy;  e  d'ahi  seguiu  depois 
para  o  Rincon  de  Mata-Perros,  situado  entre  o  Arapehy- 
Chíco  e  o  Sarandy-Pires. 


(SA)  Eia  por  esse  lado  a  linlia  divisória  entie  o  Hio-Graode  e  a 
Banda  Oriental,  pela  convençilo  celebrada  com  Montevideo  a  3D  de 
Janeiro  de  1619. 


Dictzedby  Google 


—  il2  — 

VIU 

Abreo  deixa  do  niocon  de  Catalan  Benlo  Maaoel,  e  Gia  seu  quartel* 
general  em  S.  Gabriel.  —  Recebe  a  noticia  de  lhe  ler  sido  conferido 
o  tltQlo  <le  barto  do  Seiro-Largo.— l>rovidenciaa  para  defeza  da  Tron- 
teira  do  [Uo-Graode.  —  Combale  de  Taquar;  (1 7  de  Dezembro},  e 
lorpreaa  do  torte  de  Santa  Tbeiesa  (31  de  Deieinbro).  — Vencem  os 
inimigoa  do  barão  do  Serro-Largo,  que  é  exonerado  do  commando 
das  amua  do  nio-fírande.  — Sua  despedida.— Eitado  em  que  deixou 
a  província.— Erroa  doseu  successor.  —  Combates  durante  o  anno 
de  1836.  —Viagem  do  senhor  D.  Pedro  1  ao  Rio-Grande. 

A  fronteira  do  Rio-GraDde,  depois  dos  successos  que 
acabamos  de  narrar,  ficou  ameaçada  de  incursões  pelas 
panidas  inÍDiigas,  senhoras  de  toda  a  campanha  oriental. 

Incumbido,  como  commendanle  das  armas,  da  defesa 
d^aquella  província,  deiíou  Abreu  no  Rincon  de  Catalan 
uma  brigada  de  cavallarie  e  dirigiu-se  para  S.Gabriel,  onde 
fixou  seu  quarlel-general. 

Eram  mui  diminutos  os  recursos  de  que  então  dispúnha- 
mos para  defendera  extensa  linha  de  nossas  fronteiras merí- 
dionaes,  pois  só  tinbamos  na  provincía  do  Bio-Grande  oito 
rf^lmentos  de  cavallaría  de  segunda  linha  (SS),  algumas 
companhias  de  guerrilhas,  o  esquadrão  de  lanceiros  do 
Uruguay,  e  uma  parlida  do  terceiro  r^imento  de  cavallaria 
do  exercito. 

Toda  a  foifa  de  primeira  linha,  que  em  tempos  ordinários 

(66)  Eram  esses  regimentos :  o  30  (de  Porto-Alegre),  31  (Rio- 
Gran(Ie),S3  (lUo-Pardol,  33  [Alegrete,  cbamado  antes  regimento  de 
Entre-Rioi],  ih  0.  Borja,  antes  regimento  de  guaranjs  das  HiasSes), 
39  {antes  regimento  de  Serro-Largo),  AO  (antes  regimento  de  Sunarejo]. 
Em  Ioda  a  província  só  havia  um  batalb3o  de  infantaria  de  3*  lioba, 
com  a  numeração  de  46, 


Dictzedby  Google 


—  113  — 

fazia  abi  gDarDÍção  (56).  achava-se  em  Montevideo,  ou  aa 
Colónia. 

Ainda  assim,  com  essa  insignificante  força,  o  velho  ge- 
neral guarneceu  a  fronteira,  distribuindo  cooTcnientemente 
os  corpos  pelos  pontos  mais  vulneráveis  e  importantes. 

O  seu  primeiro  cuidado  foi  elevar  aquelles  corpos, então 
extraordinariamente  reduzidos  em  pessoal,  ao  seu  estado 
completo :  e  emquanto  se  occupava  n'i5so,  pondo  em  acção 
ioda  ã  influencia  de  que  gozava  entre  os  rio-grandenses, 
aguardava  elle  a  chegada  das  tropas  que  haviam  desembar- 
cado em  Santa  Catharina,  para  emprebender  a  segunda 
campanba,eprocurar  o  inimigo  em  soas  próprias  posições. 

Não  pâde  entretanto  levar  a  eíleito  esse  seu  desejo.  As 
intrigas  de  seus  inimigos  e  rivaes  cons^uiram  fazer  des- 
vairar o  governo. 

Abreu  havia  recebido,  por  decreto  de  12  de  Outubro,  o 
titulo  de  barão  do  Serro-Lai^,  em  attenção  aos  seus 
serviços  passados,  e  aos  que  acabava  de  prestar;  mas  pouco 
depois,  sabendo  o  governo  das  derrotas  do  Rincon  e  de 
Sarandy,  deixou-se  levar  pelos  manejos  da  intriga,  e  res- 
ponsabilisou  o  seu  brioso  general  por  desastres  nos  quaes, 
como  já  mostrámos,  não  tcvo  elle  a  mínima  parte. 

Foi  exonerado  do  commando  das  armas,  assim  como  o 
visconde  da  Laguna  do  cargo  de  capilão-general  da  Cispls- 
tioa,  sendo  substituído  aquelle  pelo  brigadeiro  Massena 
Rosado  (57),  e  este  pelo  tenente-general  barão  de  Villa-Bella 
(Maggessi)(58). 

(56)  A  torta  dei*  linha,  que  esla"íonava  no  IVio-C>rande,  e  que  st; 
achava  eolSo  n'esBas  duas  praças,  constava  doa  seguintes  corpos  :regi- 
meoloa  ds.  ú  e  5  de  caiajjarin,  3"  corpo  de  arLlIharia  monlada,  e  9* 
batalhão  de  caçadores  (Vide  o  decreto  do  1°  de  Dezembro  de  IS3ú). 

(57)  FraDcisco  de  Paula  Massena  Rosado. 

(58)  AiéentAo  a  Cisplatioa  fora  governada  pelo  visconde  da  Laguna, 
TOMO    XXXI   P.    fl  15 


Dictzedby  Google 


—  II*  — 

A  20  de  Dezembro,  occupado  em  aiigmeotar  as  forças 
da  proviacia,  do  seu  quartel-general  de  S.  Gabriel  dirigia 
o  lltustre  baiio  do  Serro-Largo  aos  rio-grandeoses  uma 
proclamaçio,  coQvidando-os  a  lomar  as  armas  coulrao 
inim^  Gominum :  *  Emquanto  Deus  me  der  forças,  dizia 
entio  elle,  prometto-Tos  nAo  «nbainhar  a  minha  espada, 
sem  que  o  inimigo  seja  lançado  além  do  Rio  da  Prata,  que 
deve  ser  a  nossa  divisa  para  a  conservação  da  paz,  para  a 
seguraoça  de  nossos  interesses,  e  para  a  gloria  do  graode 
Império  a  qoe  perteocemos.  >  Um  mez  depois,  a  33  de 
Janeiro  de  1826,  despedia-se  dos  seus  camaradas  e  patri- 
cios.depois  de  ter  passado,  oito  dias  antes,  ao  novo  governa- 
dor das  armas  o  commando  do  exercito. 

Cheias  de  nobreza  foram  as  palavras  dedespeflida  do 
veibo  e  dbtiDclo  general.  Diante  da  ingratidão  immensa  de 
que  era  victima,  vendo  seus  serviços  esquecidos,  e  olvi- 
dados os  dias  de  gloria  que  dera  á  sua  pátria,  o  illustre 
veterano,  com  a  grandeza  d'alma  que  tanto  o  distinguia, 
não  fez  uma  única  recriminação,  não  soltou  um  só  quei- 
xume (S9}. 

Depois  de  annuDciar  a  sua  exoneração,  terminava  os 
seus  adeoses  com  as  seguintes  palavras,  que  por  si  sós 
bastam  para  exprimir  o  seu  desinteresse  e  patriotismo  : 
■  Tou  contente  beijar  a  mio  do  nosso  Imperador,  e  pedir- 
lhe  permissão  para  voltar  como  simples  soldado  a  unirnue 
ás  fileiras  dos  meus  antigos  camaradas,  pois  deveis  ter  co- 
nhecido que  sou  mais  propenso  a  obedecer  do  que  a  com- 
mandar.  • 

«qualidade  de capitio-genenl.  O  bário  de  Vllla-Bella  foioprioieiro 
presidente  nomeado  para  ella. 

(59)  Nfto  vimos  o  original  doesse  documento,  mos  sim  a  tradução 
fefU  por  nm  do«  periódicos  de  Baenoa-Ayres  :  «  Despedidas  que  Taz  o 
bário  áo  Serrç-Largo  aos  hsbiUuteg  d'e9la  província  de  S.  Pedro  do 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  115  — 

A  demissão  do  birio  do  Serro-Largo  foi  om  dos  muitos 
erros  que  o  governo  imperial  copametteu  durante  o  decurso 
avessa  guerra,  táo  mal  encamÍDhada  e  dirigida. 

Possuindo  um  nome  prestigioso,  conquistado  por  sua 
bravura  e  honestidade,  e  pelos  serviços  que  havia  prestado 
á  província  do  Rio-Grande,  cujo  território  livrara  duas 
vezes  (em  1816  e  1820)  da  invasáo  estrangeira,  sympa- 
thisado  geralmente  pelos  brilhantes  dotes  de  seu  coração, 
pratico  no  sjstema  de  guerra  adoptado  n'essBs  paragens, 
e  perfeito  conhecedor  do  terreno  em  que  tinham  lugar  as 
operações,  teria  o  general  Abreu  sabido  conduzir  o  exercito 
brasileiro  6  vicloria,  evitando  os  erros  do  seu  successor,  que 
tão  falaes  foram  ás  nossas  armas,  e  que  tio  funestamente 
inflairam  sobre  a  campanha  de  1837. 

KkMJrsDde.  —Honrados  habitantes.  Tenho  empregado  todos  os  dias, 
que  Deos  me  tem  concedido,  desde  a  idade  de  treze  annos  alé  boje,  no 
serviço  d'este  paiz. 

■  Sois  teatemaohas  dos  esforços  que  liei  empregado  na  defesa  d'e8(a 
província,  quando  invadida  pelo  estrangeiro,  sem  outro  interesse 
que  o  de  ser  útil  ao  lugar  em  que  nasci,  e  podeis  dizer  como  procedi 
n'es8as  circumslancias,  e  se  obtive  algum  lucro,  abusando  dos  cargos 
que  occupei.  A  imprensa  é  livre,  e  por  esse  canal  podem  todos  publi- 
car livremente  o  que  sabem,  ou  o  que  pensam. 

■  A  occasiSo  é  propría,porqne  foi  servido  Sua  Magestade  Imperial  sub- 
stiluir-me  pelo  Eim.  Sr.  brigadeiro  Francisco  de  Paula  Massena  Ro- 
sado, official  babiiilado  para  o  Ingar  que  acabo  de  deixar,  pelos  co- 
nhecimentos e  petas  qualidades  que  possne.  Ordenou-me  o  mesmo 
AngustoSenhorque  me  recolhesse  âcftrledo  Rio  de  Janeiro,ordens  que 
pasto  unntediatamente  a  cumprir.  Despeço-me,  pois,  dos  meos  honra- 
dos patrícios,  agradecendo  o  modo  por  que  fui  sempre  tratado,  db>  s6 
durante  o  perfodo  em  que  occupei  o  ca^o  de  governador  das  armas, 
emno  em  todas  as  épocas  da  minha  carreira  militar. 

•  Levo,  com  o  tenthnento  de  aparlar-me  de  tSo  dignos  ddadaoa,  a 
gloria  de  nlo  ler  perdido  um  só  palmo  de  terrada  provinda  coja  de- 
fesa me  foi  cooflada  até  ao  dia  14  do  corrente,  emqae  Squei  iieolo  de 
ioda  a  responsabilidade,  etc.  • 


;dby  Google 


—  116  — 

Se,  em  lio  criticas  circumstancias,  afasfar  do  sapnmo 
commaado  militar  um  tal  homem  era  ji  um  erro  funesto, 
o  governo  parece  que  esforçou-se  em  aggraval-o  com  a 
nomesçáo  do  novo  governador  das  armas,  bomem  desco- 
nhecido, e  que,  supposto  tivesse  boas  intenções,  não  eslava 
os  altura  do  cai^o  que  ia  desempenhar. 

Abreu  eotregou-lbe  a  provincia,  virgem,  durante  o  seu 
commando,  das  plantas  inimigas.  Com  efteilo,  graças  ás 
providencias  por  etle  tomadas.o  inimigo  não  ousara  penetrar 
uma  única  vez  em  nosso  lerritorío,  e  conservou-se  inactivo, 
apezar  de  já  ter  cerca  de  quatro  mil  homens.  Apenas  pelo 
lado  do  Serro- Largo  e  de  Santa  Theresa,  na  parte  da  fron- 
teira entregue  pelo  barão  ao  general  Corrêa  da  Camará 
)B  enlo},mostrou-se  o  inimigo  em  força. 

No  departamento  do  Serro-Largo  apresentou-se  o  coronel 
J^acio  Oribe,  intrincheirando-se  perto  de  Conventos,  A 
malhem  do  Taquary,  d'onde  foi  a  7  de  Dezembro  desa- 
lojado por  quinhentos  dos  nossos  bravos  ao  mando  do 
coronel  (Bento]  Gonçalves,  deixando  em  nosso  poder,  além 
de  muitos  mortos  e  feridos,  trinta  e  quatro  prisioneiros 
(entre  os  quaes  um  oíDcial),  uma  bandeira,  muito  arma- 
mento, seissentos  cavallos,  e  toda  a  correspondência  (60). 

Em  frente  ao  pequeno  forle  de  Santa  Theresa  apresentou- 
se  a  trinta  e  um  d'esse  mesmo  mez  o  coronel  inimigo 
Leonardo  de  Oliveira,  que  conseguiu  sorprender  a  guarniçfio 
d'csse  ponto,  coramandada  por  ura  alferes,  e  a  guarda  do 
Chuy,  retirando-se  pouco  depois  com  algum  armamento  e 
vários  prisioneiros,  entre  os  quaes  alguns  oTiciaes  (61). 

[GOi  Sobre  esse  combate  «eja-se  a  parle  ciliciai  do  inareclial  de 
campo  CorrCa  da  Gamara,  comonaadaDle  da  fronteira  do  Rio-Graade. 
Iguacio  Oribe  reiirou-se  em  desordem,  acossado  pelos  nossos,  até 
Frayie-Muerlo. 

(61)  Este  successo,  cuja  icsigaificancia  é  maDÍfesia,  passa  todavia 


ídbyGoOJ^Ic 


—  117  — 

Esta  sorpresa  e  aquelle  combate  foratD  os  dois  udícos 
feitos  de  armas  que  tiveram  li^ar  na  fronteira  desde  que  o 
barão  do  Serro-Lai^o  voltou  para  a  província  até  que  entre- 
gou o  coaimaudo  das  forças,  que  a  guarneciam,  ao  geueral 
Rosado. 

Este,  desde  que  tomou  conta  do  governo  dns  annas, 
começou  a  contrariar  Iodas  as  sabias  disposições  tomadas 
pelo  seu  antecessor  para  cobrir  a  fronteira. 

Amontoou  em  SanfAnna  do  Livrameulo  todo  o  eiercilo, 
excepto  a  pequena  brigada  de  Bento  Gonçalves,  que  con- 
servou-se  no  Jaguorão,  pela  enérgica  resistência  d'este 
chefe. 

Reunidas  as  tropas  sobre  um  pequeno  recinto,  começa- 
ram a  apparecer  moléstias,  que,  tornando-se  epidemicas, 
dizimaram  cruelmente  suas  fileiras  e  reduziram  os  solda- 
dos a  um  estado  de  abatimento,  que  muito  influiu  sobre 
as  ulteriores  operações  do  exercito.  Desprovidos  de  tudo, 
mal  vestidos,  pessimamente  alimentados,  entregues  a  meia 
dúzia  de  cirurgiôes,que,  além  de  baldos  de  conhecimentos, 
não  dispunham  de  um  hospital  regular,  nem  dos  medica- 
mentos mais  indispensáveis,  os  infelizes  soldados  soiTre- 
ram  toda  sorte  de  privações  e  de  soffrimentos  duranlo  o 
commando  do  general  Rosado.  A.  desinleilígencia  mesqui- 
nha, que  existia  enlre  este  e  o  presidente  da  província,  ge- 
neral Gordilho  (primeiro  visconde  de  Camamú)  a^^ravou 
consideravelmente  esse  triste  estado  de  cousas  (62). 

Concentradas  em  SaafAnna   do  Livramento  todas  as 

DO  Eslado  OrieDtal  por  uma  brilhante  e  assigmtíada  vietoria. 
Mais  de  uma  vez  temos  visto  apontado  o  combate  de  Saata  Theresa 
(nem  coml>ale  houve  1 )  como  um  padrão  de  gloria  das  armas  Oríenlaes. 
(63)  Veja-se  a  interessante  if^mona  do  Sr,  Machado  de  Oliverat 
sobre  a  campanha  de  1827,  no  tomo  XXttE  da  Revitla  do  Intliluto 
Híííoriw. 


Dictzedby  Google 


nossas  forças,  a  (roDleira  iicou  ÍDleiramenle  aberti.  O  ini- 
migo, «proTeitaDdo-se  d^isso,  entrou  por  ella  mais  de  uma 
vez,  entregando  ao  saque  e  á  devastação  o  tenitorio  ba- 
nhado pelo  Uruguay,  sem  que  encontrasse  um  só  destaca- 
mento nosso,  pob  a  brigada  de  Bento  Manoel,  que  o  barão 
do  Serro-Largo  collocáta  no  Rincon  de  Calatan,  e  que  po- 
deria obstar  áquella  incursão,  se  tinha  reunido  lambem  ao 
exercito  por  ordem  do  nOTO  commandante  das  armas.  Era 
tal  o  estado  do  exercito,  que,  pedindo  uma  vez  Benio  Ma- 
noel aatorisação  para  bater  o  inimigo,  que  se  apresentara 
no  Uruguaj',  foi-lhe  respondido  que  não  havia  no  acam- 
pamento cartuchos  suSicientes  para  semelhante  empreza ! 
Ainda  assim  algumas  vezes  mediram-se  os  nossos  com 
as  forças  republicanas,  pronunciando-se  sempre  a  victoria 
pelas  armas   imperiaes  (63) ;  mas  essas  vantagens,  pela  má 

(63)  A  6  de  AgOBto  o  bravo  major  A.  de  Medeiros  Goaia  deiroUm 
em  Caraguaíá  a  vanguarda  de  Ignacio  Oribe  ao  mando  de  Claudia 
Berduo,  deslniiodo-a  de  (at  modo,  que  só  trinta  homens  escaparam, 
ficando  cento  e  quarenta  e  oito  mortos  ou  Teridos,  e  vinte  e  dois,  entre 
os  quaea  dois  officiaes,  prisionciroB. 

A  vanguarda  da  Rolomoa  do  lenente-coronet  J.  A.  Martins,  expedida 
para  os  lados  do  Quarahjm  contra  iresenlos  bandidos,  commandadoe 
por  um  Lopez-Cluco,  bIcaqqou-os  já  em  retirada,  passando  o  Toro- 
passo.  Bastou  essa  pequena  iorça,  commandada  pelo  capicio  Gabriel 
Gomes  Lisboa,  para  arrojal-os  á  margem  direita  do  Uruguay,  reto- 
mando grande  p.iite  dos  roubos  que  haviam  feito. 

Mas  o  combate  da  Capilla  dei  Rosário  no  Merínay  (Gorríentes) 
(bio  mais  importante  d'esBes  feitos  d'armaa.  Bento  Manoel  fAra  des- 
pachado com  a  primeira  brigada  contra  uma  força  correotina  ao 
mando  de  Félix  Aguirre,  que  saqueava  as  Missões  Oríentaes.  A'  soa 
approiimaçSo  fugiu  o  inimigo  para  Gorríentes. 

Oiotrepido  paulÍMla  atnvessou  oUmgaaf  aSI  de  Outubro,  e  a 
5  de  Novembro  colheu  a  genie  C".  Agoirre.  Collocou-ae  este  na  Ca- 
pilla dei  Rosário  com  oitocentos  liomens  e  três  peças,  postando 
muito  adiante,  e  d'este  lado  do  Morinay,  o  coronel  Pedro  Gomes 
Toribio  com  outros  duzentos.  Bento  Manoel  desbaratou  Inleirameole 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  119  — 

coUocação  do  nosso  flxdrcilo,  eram  alcançadas  depois  que 
o  inimigo  assolava  nosso  território,  causando  prejuisos 
immeDsos,epunbfl  a  salvo  grande  parte  do  que  roubava. 
E,como  se  não  bastasse  a  inépcia  com  que  o  novo  comman- 
dante  das  armas  abandonou  ao  inimigo  toda  a  fronteira,  a 
demora  na  remessa  de  forças  para  o  sul,  conservando  du- 
rante todo  o  anno  de  1826  inactivas  as  nossas  tropas,  veiu 
dar  tempo  a  que  os  argentinos  preparassem  e  disciplinas- 
s«D  um  magnifico  exercito  .superior  a  doze  mil  homens. 
Taes  foram  as  consequências  da  demíssãodeAbreu.  Tal 

eeta  força.  Geando  Toríblo  entre  ob  mortos,  e  avaeçoa  sobre  aoatra; 
mas  AgDirre  com  sua  artilharia  pbz-selogo  em  retirada,  deixando, 
para  proiegèl-a,  trexeottffi  soldados,  que  foram  i  gualmentedesU'oçados. 
No  campo  deixou  o  iaimigo  Irezenlos  bomeos  mortos  ou  rcrídos,  muito 
armamenlo  e  mais  de  mil  csvbIIm.  Tivemos  um  oflicial  c  Irínia  e  sete 
praças  f<íra  de  comlute  Só  falíamos  nos  combales  que  tiveram  lugar 
com  ss  forcas  que  guarneciam  b  provincia  do  Río-Graude.  No  Rio  da 
Prtla  muitas  accSes  brilbantes  íl lustraram,  Q'i,Bse  anno  de  1826,  as 
anuas  imperiaes,  sendo  BB  mais  noiaveis  a  defesa  da  praça  da  Colooia 
(atacada  pelo  almiraute  argentino  Browo  e  pelo  general  Lavalleja,  c 
defendida  pelo  general  Rodrigues,  barão  de  Taquary),  e  a  viclorín 
uaval  alcançada  pelo  chefe  de  divisão  James  Norton,  no  dia  30  de 
Julho,  sobre  a  esquadra  inimiga.  E  já  que  tocimos  o'esses  feitos  d'ar- 
mas,cnmpr«>nos  dizer  que  o  Sr,  A.  D.  Pascual  enganou-se  nos  seug 
Àpvntet,  qutaio  disse,  á  pig.  259  do  l"  voL,  flrmando-se  em  Ar- 
mitage,  que  sofTrAmos  uma  qutui  derrota  junto  A  Enseada  no  dia 
9  de  Fevereiro.  N'eBse  dia  travou-se  perlo  da  ponta  de  Gorales  um 
combate  naval,  sendo  Brown  npellido  e  batido  peto  vice-aJmirante 
Rodrigo  Lobo.  No  dia  11  de  Abril  n3o  sorprendea  Brown  nossa 
esquadra,  como  dii  o  mesmo  escriptor.  Apreseniou-se  elle  nas  viii- 
nbsnças  de  Montevideo,  e  foi  logo  perseguido  por  Norton,  que  sabiu 
BO  seu  enconlro.e  com  elle  bateu-se,pondo-o  em',fuga.  Quanto  A  abor- 
dagem da  fragata  ímparatrit,  na  noite  de  27  doesse  mesmo  ma, 
de  qae  falia  o  Sr.  Pascual  i  mesma  pagina,  houve  com  effeito  blta 
de  vigilância  da  nossa  parle,  mas,  apeiar  d'isBO,  foi  Brown  repel- 
Udn  e  obrigado  n  fugir. 


Dictzedby  Google 


—  120  — 

o  estado  da  província  e  do  exercito  depois  que  elle  deixou 
o  corammaado  das  armas. 

Estas  noticias  desoladoras  puderam  alam  chegar  aos 
ouvidos  do  Sr.  D.  Pedro  1 ;  e  o  Príncipe  patriota  tomou 
a  resolução  de  ir  pessoalmente  iaspeccíooar  o  tbeatro  dos 
acontecimentos,  para  que  por  si  mesmo  podesse,  usando 
de  sua  influencia  e  prestigio,  dar  remédio  a  tantos  males. 

O  Imperador  comprehendeu  que  era  preciso  augmentsr 
o  exercito,  e  habílital-o  com  os  meios  necessários  para  mar- 
char contra  o  inimigo,  sem  esperar  que  este  se  fortalecesse 
e  viesse  procurar  os  nossos  soldados  na  occasião  que  lhe 
fosse  mais;  coavenieute. 


IX 

o  bário  do  Seiro-Largo  otTerece-se  para  organísar  um  corpo  de  vo- 
luotarios,  —  O  imperador  regressa  á  corte.  —  O  marquez  de  Bar- 
bacena  é  nomeado  commaDdante  em  chefe  do  exercito.  —  Confe- 
reocia  do  marquez  com  o  barão  do  Seno-Largo.  —  Este  recusa 
aceitar  o  cummando  de  uma  divislo,  e  só  pede  o  do  corpo  de 
volantarios  que  ia  orgaajsar.  — Parle  para  S.  Gabriel,  para  oude 
cUama  os  seus  velhos  companlieiros  de  armas. — O  exercito  ai^en- 
tioo  djrige-se  á  noBsa  fronteira. — Movimentos  dos  dois  eiercilos. 

—  JuocçãodeBarbaceaaede  BrowD  no  arroio  daa  Palmas.— Fuga 
simulada  de  Alvear.  —  ObarSo  doSerro-Largoreune-se  aoeiercito 
no  passo  dos  Enforcados.  —  EMocambido  de  commandar  a  van- 

f^  guarda.  —  Marcha  do  exercito  em  direcção  ao  passo  do  Rosário. 

—  Batalha  de  [tuzaingb.  —  Morte  do  barâo  do  Serro-Lai^o. 

Votado  ao  esquecimento,  vivia  o  bravo  barão  do  Serro- 
Lai^o  ignorado  nos  subúrbios  de  Porto-Ãlegre,  só  entre 
gue  ás  atTeiçôes  dafamilia.  Tragava  em  silencio  a  injustiçai 
de  que  fora  victima,  quando  a  presença  do  excelso  funda- 
dor do  Imperio.despertando  entre  os  rio-grandenses  o  amor- 
tecido enthustdsmo,  fél-o  sahir  do  seu  retiro  para  oiTerecer 
á  pátria  ciimosimpins  soldado  asua  espada  gloriosa. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


lofelizmeDte  a  presença  do  Imperador,  se  muitos  benefi— 

cios  levou  ao  exercito,  não  pôde  todavia  produzir  todos  as 

vantagens  que  aram  de  esperar. 

E  a  sua  volta  súbita  e  inesperada  fez  com  que  a  pro- 
víncia recahisse  na  mesma  prostração  em  que  estivera  antes 
mergulhada.  Foi  assim  que  mui  difficilmente  se  pdde  re- 
colher o  produclo  de  uma  subscripçSo  popular,  agenciada 
durante  a  presença  do  Príncipe,  com  o  8m  de  auxiliar  as 
ui^Srencias  do  Estado  nas  despezas  da  guerra,  e  que  dos 
hooieas  que  se  haviam  ofTerecido  para  reunir  voluntários, 
destinados  a  engrossar  as  fileiras  do  exercito,  apenas  o 
bariio  do   Serro-Largo  cumpriu  a  sua  promessa. 

Que  fatalidade  pesava  então  sobre  o  governo  do  Brasil .' 
Possuíamos  um  exercito  numeroso  e  aguerrido,  que  facil- 
mente poderia  ler-nos  assegurado  prompta  victoria,  e,  nJo 
obstante,  no  Ihealro  da  luta  havia  apenas  recursos  iosigm- 
ficantes  e  uma  forfa    mais  que  diminuta  I 

Ao  regressar  para  a  corte,  o  Imperador  deixírajáno 
Rio-Grande  o  novo  presidente  e  o  commaDdaoteemohefe 
do  exercito.  Para  o  primeiro  d'esses  lugares  havia  sido 
nomeado  o  brigadeiro  Salvador  losé  Maciel,  e  para  o  se- 
gundo o  tenenle-senera'  marquez  de  Barbacena  (Felisberto 
Caldeúa  Brant  Pontes  ). 

O  novo  general  qi*'^  aproveitar  os  serviços  do  illustre 
barão  do  Serro-LarBO,  cujo  nome  conhecia  e  respeitava,  e 
antes  de  partir  para  SanfAnna  do  Livramento  teve  com 
elle  uma  larga  confei^icia,  maniíestando-lhe  por  easa 
occasião  toda  a  estitna  e  veneração  que  Ihevotovo. 

Querendo  dar-lho  oo  exercito  uma  posição  condigna  ao 
elevado  posto  que  occupava,  offereceu-lhe  o  marquez  o 
commando  de  uma  divisão,  mas  o  velho  general  oppAz-sa 
formalmente  a  isso,  e  preferiu  combater  como  simples  sol- 
dado a  aceitar  tâo  honrosa  coniniissSo. 


TOMO    I3UU  P.  U 


Ift 


Dictzedby  Google 


r^r^:x!>.      -ir  _"!.■,  _i.    i  i 


'i^a  ;  ':«•■     ^ar»ídi)Ser 


;dby  Google 


D,i.,.db,  Google 


—  1*2  — 

'  Depois  d'essa  conferencia  o  bário  do  Serro-Largo  dirí- 
^D-se  a  3.  Gabriel,  onde  começou  a  reunir  os  voluntários 
que  acadiam  ao  seu  chamado,  e  o  marquez  encaminbon-se 
para  SanfAnna  do  LÍTramento,  onde  chegou  no  1*  de  Ja- 
oeiro  de  18ST,  tomando  posse  do  commaodo  do  exercilo 
10  dias  depois  (64). 

Ji  a  esse  lempo  roovia-se  em  procura  da  nossa  froft- 
isira  (65)  o  exercito  argentino  do  general  Alvear,  forte  de 

(fH)  Tilara,  Das  suas  Memoriai  do  grande  exercito  ailiado  liberta- 
dor do  lui  da  America,  diz  erridameDle  que  o  marquez  inrairao  com- 
inando DO  dia  L*  N'este  dia  aprescotou-sc  ellc  ao  exercito,  passaado- 
Ibe  rensta,  mas  b6  a  11  tomou  coala  do  conunaudo.  Eis  a  proclamaçio 
que  dirigiD  ai»  seus  soldados :  —  «  Bravus  do  exercilo  do  sul  I 
&  boura  de  commaadar-vos  é  a  maior  á  quo  pode  aájiirar  um  general 
brasileiro.  O  Imperador  nol-a  concedeu,  e  eu  procurarei  compensar  a 
IBo  alta  mercê,  proporcionando  ao  exercito  todos  ns  tornecimentos  ne- 
cessários a  seu  commodo  e  exlstenciii,  dispondo  e  aproveitando  Ioda 
a  occasião  de  encontrar  com  o  Inimigo. 

•  A  proclamação  imperial  de  16  de  Dczejubro,  que  acaba  de  ser 
distribuída,  me  dispensa  de  recommcndar-vos  cousa  alguma.  Cumpra 
cada  um  de  nós  o  que  o  magnânimo  Imjierador  determina,  que  a  dis- 
ciplina, a  abundância  eavicioria  seião  inseparáveis  dcnos<as  liteiras. 
—  Quartet-general  em  SnnfAnna  do  Livramento,  1°  de  Janeiro  de 
18S7.  —Marqwtde  Barbacena.  » 

(66)  Começou  a  mover-se  no  dia  2G  de  Dezembro,  deixando  o  acam- 
pamento do  Arroio-Orande  (Vejam-se  os  bolleiina  do  exercito  repu- 
bticaao).  Ao  pisar  om  nosso  terjilorlo  fez  o  general  inimigo  espalbar 
1  seguinte  proclamação:  —  «  Brasitciíos  l  o  exercilo  da  republica 
pisa  o  vosso  terrilorío.  Olhai,  e  por  ioda  porte  eiicooirareis  n*elle 
ospremmcios  da  liberdade.  Os  que  com  ioaudíto  valor  escalaram  os 
ncTidos  Andes  para  romper  as  cadãag  do  meio  mundo,  e  desde  uma 
até  outra  zona  levaram  nas  ponlaa  de  suas  baionetas  a  grande  carta 
da  soberania  do  povo,  b3o  os  mesmos  que  tioje  vos  saúdam.  Brasilei- 
ros t  O  exercito  republicano  é  o  amigo  de  todos  os  povos,  porque  a 
foa  cansa  é  a  mesma  dos  povoa :  —liberdade,  igualdade  c  independen- 
da.  Elle  se  move  para  obrigar  vosso  Iniperadoradcsisiirdeumapre- 
IsnçSo  injusta.  Um  dia  alreveu-se  elle  a  jnsullar  a  mageslade  do 


,ôbvGoOg\c 


—  123  — 

onze  mil  homeas  e  viote  e  quatro  bocas  de  fogo  (66).A  inac- 
ção em  que  estivemos  por  espaço  de  mais  de  um  anno 
dera  tempo  a  que  o  ioimigo  se  preparasse  descansada- 
mente e  assumisse  a  ofTensíva,  recotihecendo-se  habíli-. 
lado  para  guerrear-nos  em  nosso  próprio  território. 

À  direcção  que  traziam  os  contrários  era  ignorada  dos 
nossos,  mas,  qualquer  que  eila  fosse,  devera  decidir  o 
msrquez  a  abandonar  SanfÁuna  do  Livramento,  para  reu- 
nir-se  ás  forças  que  ás  ordens  do  marechal  de  campo  Ga&- 
tavo  Henrique  Brown,  chefe  do  estado-maior,  achsvam-se 
na  fronteira  do  Jaguarão  (67). 

O  intento  de  Alvear  era  penetrar  por  Baga,  collocando-se 

grande  povo  argeDlíDo,  e  o  governo  da  republica  encarregoinnos  de 
fazel-o  entrar  em  Beus  deveres.  O  Imperador  é  o  luiico  responiavel 
petos  males  que  podem  cahir  Kobre  vús ;  tralae  de  evitalM}g  com  o 
vosso  procedimenLo,  nãã  d^o  vos  caus.ireraos  directamente  o  menor 
prejuízo.  Oexercito  republicano  nilo  levacomsigo  senão  força,  justiça, 
ordem,  liberdade  e  igualdade  ;  dom  do  céo,  património  da  America,  e 
do  qual  só  vós  estais  ainda  excluidos.  Brasileiros  l  Repousai  tran- 
quiilos  em  vossos  lares;  o  pavilbilo  republicano  scrâ  vossa eglde :  vofr* 
sas  propriedades  serUo  rcspeíladas,  vossas  pessoas  gai-antidas.  Rosaaa 
armas  só  se  dirigem  contra  os  soldados  do  Imperador;  porém,  des- 
graçados dos  que,  conrundinclo  os  inlcresses  do  povo  com  os 
d'aquelle,  tratarem  os  argentinos  como  inimigos.  EItes  nSo  deiíarto 
de  ser  livres,  mas  será  a  espada  quem  os  conduzirá  á  telicidade,  que 
agora  desprezam,  e  que,  em  nome  de  sua  pátria,  Ibes  promette  al- 
cançar—Caríos  de  Alvear,  » 

(66]  Formava  três  corpoe  ou  divisOes :  um  de  Infantaria  ao  mando 
do  general  E.  Soier  (era  o  3°  corpo),  e  dois  de  cavallaria  (1*  e  2°}  ao 
mando  dos  generaes  J.  A.  Lavalleja  e  Julian  Laguna,  /t  artilbarlB  era 
commandada  pelo  coronel  Iriarte. 

(67)  Titara  diz  erradamente  na  citada  obra,  pag.  IIB,  que  essa  forca 
se  desmembrou  do  exercito  marchando  para  o  Jaguuto,  O  Sr.  A.  D. 
PMeual,  que  o  copia  n'esse  ponto  dos  seus  Apuntm  parm  i*  Uttori» 
de  la  Republica  Orient<^,  repete  o  mem»  erro  ã  pag,  3MÍ.   AqueUa* 


Dictzedby  Google 


eotre  Barbaceoa  e  Brown.para  bat£I-os  separadamente  {68} ; 
mas,  apezar  das  precauções  que  tomara  no  inlnito  de  occul- 
tar  seus  moTÍmen(os(69],  passou  pela  decepção  de  ver  frus- 
trado o  seu  plano. 

A.  13  de  Janeiro  o  general  em  chefe  deixou  SanfÃnna  do 
Livramento,  efoi  acampar  na  várzea  do  Morro-Grande  \70), 
margem  esquerda  do  Cunha-perú,  destacando  n'esse  dia  o 
general  Sebastião  Barreto  com  mil  e  setecentos  homens  de 
cavallaria  para  observar  em  Bagé  o  inimigo,  ecertificar-se 
de  seus  movimentos. 

Moléstia  repentina  e  perigosa  deteve  o  marquez  n'8quelle 
sitio  até  ao  dia  19  ;  mas  três  dias  antes  (  a  16),  recebendo 
Gommunicação  de  que  o  inimigo  se  mostr<ira  em  força  no 
passo  das  Pedras,  e  que  uma  de  suas  grandes  avançadas 
penetrara  em  Bagé,  expediu  ordem  a  Gustavo  Brown  para 
que,  quanto  antes,  se  reunisse  ao  exercito,  e  começou  a 
forcar  es  marchas,  tomando  a  4  de  Fevereiro  posição  no 

forcas  haviam  deHmbarcado  do  Hío-G  nnãe,  e  marcbavam  a  reunir-se 
ao  exercito. 

(6S]  Alvear  o  diz  oa  Expoiicion  qae  publicou  em  resposta  6.  mensa- 
gem do  governo. 

(69)  O  inimigo  seguia  por  um  terrena  deserto  e  de  dífficil  acceaso, 
deliando  em  frente  de  SanfAtina  do  Livramento,  pare  lltudir  o  mar- 
quez, uma  Torça  de  cavallaria.  TSo  seguro  eslava  Alvear  de  que  pode- 
ria realizar  o  seu  plano,  que  no  boUelim  n.  3  fez  escrever  o  segnlnle 

■  Tudo  ananncla  que  o  Inimigo  aerã  sorprendido  ao  mbet  da 
verdadeira  dlrecçSo  do  exercito,  e  que  esse  triumplio  se  conseguiu  por 
uma  marcha  de  flanco  executada  com  rapidez  e  ordem  por  um 
camlnbo  deserto,  por  onde  ninguém  antes  ha?ia  passado.  » 

(70]  Além  dos  bollelins  dos  dois  exerdtos,dois  e8criptos,docnmeDtoi 
e  infiwmacjfes  que  obtivemos,  guia-nos  a  Rêtpoita  do  hrigadein 
Cmfta  Mattoi  ao  Sr.  Saiíada  —  Rio,  1837. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  125  — 

arroio  das  Palmas  (7t),  onde,  prot^ido  pelo  (erreno,  es- 
perou qae  o  inimigo  o  viesse  atacar. 

No  dia  seguinte  realizou-se  a  juacção  das  forças  que 
Brown  cooduzia  desde  a  cidade  do  Rio-Grande  (72). 

Tendo  destruído  o  seu  pisoo,  Alvear  não  ousou  atacar  o 
pequeno  exercito  imperial  na  formidaTel  posição  que  este 
occupava,  e  tomou  o  partido  de  attrahil-o  para  o  interior  da. 
provincia,  procurando  o  valte  de  Santa  Maria. 

Até  então  tinha  o  marquez  de  Barbacena  manobrado  com 
tino  e  habilidade.  O  rápido  movimento  que  executou,  para 
operar  a  juncção  com  as  forças  da  esquerda,  separadas  da 
direita  por  mais  de  oitenta  léguas,  desconcertou  completa- 
mento o  general  Alvear,  e  arrancoa  doeste  palavras  de 
admiração,  qae,  partindo  de  um  inimigo,  constituem  o 
mais  bello  dos  elogios  (7^1) ;  mas,  desdo  que  teve  noticia  da 
marcha  do  exercito  contrario  em  direcção  a  S.  Gabriel,  e 
da  sua  simulada  Tuga,  o  nosso  general  abandonou  o  campo 
das  Palmas,  e  forçou  as  marchas  em  seu  seguimento,  ca- 
hindo  assim  no  laço  que  lhe  armara  o  seu  adversário. 

Acreditou  que  um  exercito  com  côrca  de  onze  mil  ho- 
mens, composto  de  excelleute  tropa,  fugia  dianie  dé  um 
quenSo  chegava  a  contar  sete  mil,  edeixou-se  arrastar  pelo 
inimigo  até  ao  lugar  que  este  escolhera  para  offerecer-lhe 
batalha. 

O  barão  do  Serro-Largo,  cumprindo  a  sua  promessa,  já 

ÇJi)  Chegou  DO  dia  2  ao  arroio  das  PaImaB,mas  ai  no  dia  A  occupou  a 
posição  em  que  esperon  o  inimigo. 

(73)  Essa  força  elevava-se  a  dois  mil  e  qniobenlos  homens. 

(73)  ■ erOao  (diz  Alvear)  tomou  vma  raoluç&o  gue  lhe  fat 

miãta  honra,  nâo$ó  f^os  conheeimeníos  militarei  que  revela,  vendo 
a  difpdl  poneOo  em  qae  o  havúim  collocado  aa  manobras  do  tta  eon- 
trarto,  etG.  »  Veja-«e  a  Expaiição  de  Alvear  em  reiposta  á  Menaagem 
ão  Gaotrm  —  Buenog-Ayres,  1836, 1  volume. 


Dictzedby  Google 


—  126  — 

então  tiaba  reunido  em  S.  Gabriel  grande  numero  de 
veteranos,  seus  companheiros  de  armas,  e  desertores  indul- 
tados, que  ao  grito  de  seu  nome  acudiam  dos  districtos  da 
Serra. 

Resentido  do  procedimento  que  para  com  elle  se  teve, 
apenas  solicitou  o  comoianJo  do  pequeno  corpo  que  or- 
ganisjra  e  n^essa  mediocre  posição  reuníu-sc  ao  exercito  no 
dia  13  de  Fevereiro,  encoatrando-o  acampado  á  raai^em 
esquerda  do  Camacuan-Grando,  em  frente  ao  passo  dos 
Enforcados. 

Este  facto  por  certo  recommenda-o  muito  ao  respeito  e  i 
admiração  da  posteridade.  Foi  sem  duvida  um  exemplo 
raro  de  abenega^-ão  e  de  amor  pátrio  esse  que  então  deu  o 
marechal  de  campo  barão  do  Serro-Lorgo,  sujeítando-se  a 
commaiidar  um  simples  corpo  de  cavalUria,  elle  que  em 
outros  tempos  occupára  cargos  e  commissões  importantes, 
e  a  quem  fora  já  commettido  o  mando  de  todas  as  tropas 
em  operações  no  Rio-Grande. 

A  força  com  que  se  aprtisentou,  e  que  não  chegava  a 
seiscentos  homens,  recebeu  ao  exercito  a  denominação  de 
Corpo  de  paisanos,  denominação  bem  cabida,  porque  as 
praças  de  que  se  compunha  já  tinham  perdido  todos  os 
hábitos  de  disciplina  que  caracterisam  as  tropas  re- 
gulares (74);  só  havia  n'ellas  aquclle  valor  antigo,  dedica- 
ção pela  pátria  e  confiança  e  amor  para  com  o  intrépido 
cabo  de  guerra  que  os  commandava. 

Aoreunir-se  ao  exercito,  Abreulevou-lhe  a  noticia  de  que 
Alvear  seguia  em  direcção  a  S.  Gabriel,  noticia  que  foi 
poucos  instantes  depois  confirmada,  sabendo-se  mais  que 
as  forças  inimigas  haviam  acampado  já  n'aquelle  ponto. 

O  marquez  conQou  ao  illustre  barão  do  Serro-Largo  a 
importante  missão  de  fazer  o  serviço  da  vanguarda  do 

(74)  Veja-Be  a  JUmoría  do  Sr.  Machado  de  Oliveira. 


DictizedbyGoOJ^IC 


exercito  com  o  seu  pequeao  corpo  de  volunlarios,  e  começou 
a  accelerar  as  marchas.  Em  qtialro  dias  venceu  o  nosso 
exercito,  acampando  successivamente  em  vários  galhos  do 
Camacuan,  as  vinte  e  três  léguas  que  separam  d'aqueila 
povosçSoo  passo  dos  Enforcados. 

A  17  a  vanguarda  de  Serro-Largo  entrou  em  S.  Gabriel, 
achando-a  abandonada  do  inimigo,  e  lívrou-a  do  incêndio, 
que  havia  deslruido  já  três  casas. 

Em  S.  Gabriel  soube  o  marquez  que  Alvear  procurava  o 
passo  do  Rosário,  no  Santa  Maria,  e  que  linha  abandonado 
algum  Irem  pesado.  Isso  coovenceu-o  ainda  mais  de  que 
o  seu  adversário  fugia  precipitadamente  diante  do  exercito 
imperial,  o  dirigindo  a  este  uma  proclamação,  continuou 
a  forcar  as  marchus  ( 75  j, 

(75]  Eil-a:  —  «  Soldados  1  Quando  o  inimigo  36  apresentou  n'esla 
'rantejra,  estava  o  centro  do  exercjlo  imperial  a  mais  do  80  léguas  de 
disliDcin  das  divisões  d,i  c^qut^rda;  cbiavois  sem  traosporle,  e  alá 
com  falta  de  armanii'nlo  e  munições  de  guerra,  Vusso  valor  e  vosso 
palriutismo  veiicerani  toda^  as  dilliculdadcs,  c  por  inarciias  torçudas 
e  atrevidas,  qiiasí  é.  vísla  do  inimigo,  e  eslando  os  postos  avançados 
em  constante  lirulcio,  consoguisles  fazer  juncção  com  a  maior  parle 
das  Iropas  da  esquerda  no  dia  r>  do  corrente  ;  as  outras  reuoirara-se 
nos  diiis  11  e  IX  EntSo  fazia  o  inimigo  todas  as  dcmonslraçuc^ 
de  atacar-rios,  e  poslo  que,  por  sua  superioriílade  numiTica,  e  pela 
linguagem  de  sum  proclamai,'rii.'s,  o  ataqu;  parecia  provável,  nilo  passou 
de  dcmonsIr.içíJcs,  e,  deixando  as  margens  de  Camacuan,  colorou 
aquelle  principio  de  retirada,  dizendo  que  nos  esperava  nos  campos 
de  S.  (iabriel,  ou  que  seguiria  para  Porto-Alegii:.  for  novas  marchas 
[orçadas  aqui  cliegasics  esta  manlij,  e,  longe  de  encontrarmos  o  ini- 
migo, achamos  a  certeza  de  sua  tcrgoniiosa  c  precipitada  (ugidi,  ha- 
vendo a  retaguarda,  commandada  por  Lavalleja,  deixado  a  povoagrio 
de  S.  Gabriel  hontem  pelas  ú  1/2  da  tarde,  entretanto  que  Alvear 
adiantou  de  quatro  marchas  a  intantaria  e  artilharia,  fiem  quizéra  eu 
dar-vos  algum  descanso  depois  de  tantos  centos  de  Icguus  de  marcha 
com  um  sol  abrasador,  e  ate  alguns  dias  sem  agua,  e  muitos  sem  pão 
ou  larlnhn ;  mas  um  inslanle  de  demora  dos  privaria  de  colher  os 


Dictzedby  Google 


—  ias  — 

Na  madrugada  de  19  fez  reforçar  a  vanguarda,  e  foi 
acampar  a  três  léguas  e  meia  de  S.  Gabriel,  do  campo  dos 
Salsos,  depois  de  ler  atraTessado  o  banhado  de  lobatium, 
que  estava  quasi  todo  secco  pelo  rigor  da  estação  calmosa. 

No  campo  dos  Sabos  houve  um  ligeiro  ataque  entre  as 
forças  do  barão  do  Serro-Largo  e  a  retaguarda  inimiga, 
formada  poi  um  corpo  considerável  de  cavallaria.  Depois 
de  renhido  tiroteio,  a  nossa  vanguarda  atacou  o  inimigo,  e 
forçou-o  a  pAr-se  em  retirada. 

Sabendo,  pouco  antes  das  i  Vi  ^^  tarde,  do  resultado 
d'essa  escaramuça,  o  marquez  levantou  o  campo,  e  foi 
coUocar-se  ji  á  noite  em  uns  banhados  seccos  da  estancia 
de  António  Francisco,  situada  á  esquerda  da  estrada,  três 
léguas  adiante  do  ultimo  acampamento. 

Ahi  apresentara m-se-lhe  alguns  prisioneiros  soltos  por 
Alvear,  dando  a  noticia  de  que  esle  efFectuava  a  passagem 
do  Santa  Maria. 

O  ardil,  de  que  lançou  mão  o  chefe  ioimigo,  acabou  de 
allucinar  o  nosso  general  ( 76 },  que  apenas  deu  ao  exercito 
Ires  horas  de  descanso,  ordenando  que  a  cavallaria  e  a 
artilharia  não  soltassem  os  cavaltos,  e  os  conservassem 
presos  pela  soga,  aGm  de  que  pudesse  marchar  ao  primeiro 
signal. 

(ructoB  de  uoaso3  traballios,  e  de  Lermos  acabaUo  a  guerra  parn  sem- 
pre, como  eiigom  a  honra  e  a  gloria  do  exercito  imperiaL  Soldados  I 
Redobremos  de  esforços;  a  vícloria  é  cena,  na  cidade  de  Bucdos- 
Ayrcs  vingaremos  as  hoslilidades  commcUidas  nas  pequenas  povoações 
de  Bagé  e  S.  Gabriel  l  Quartel-general  em  S.  Gabriel,  17  de  Fevereiro 
de  IS^l.—Narquez  de  Barbactna,  tenenle-general,  commaodanlc  em 
cbeTe.  >• 

(76)  Em  mais  de  um  ponto  da  sua  inlereBsante  Memoria,  publicada 
no  tomo  XXllI  4a  llecisla  do  Instituto,  diz  o  Sr.  general  Machado 
de  Oliveira  que  o  exercito  inimigo  reiirava-se  diante  do  nosso,  evi- 
tando uma  acção  geral.  NSo  podemos  lufeliimente  deixar  de  divergir 


DictizedbyGoOJ^Ie 


Logo  que  a  lua  começou  a  despontar,  os  nossos  solda- 
dos puzeram-se  de  novo  em  movimento,  posto  que  exte- 
nuados de  cansaço.  A  vanguarda  foi  n^essa  occasiâo  reror- 
çadacom  a  brigada  do  coronel  Bento  Gonçalves,  composta 
dos  regimentos  de  segunda  linha  ns.  21  e  39  e  de  quatro 
companhias  de  guerrilhas,  reforço  este  que  elevou  as  for 
ças  do  bar&o  do  Serro-Largo  a  mil  e  cento  cincoeota  ho- 
meas  de  cavallaria. 

Mo.devemosomittir  aqui  um  facto  de  muilo  valor  pelas 
consequências  que  teve.  Reunindo-se  ao  exercito  o  barão 

do  coDceílo  de  \5o  distinclo  esrríplor,  e  quando  dissemos  que  a  reti- 
rada de  Alvear  era  simulada,  feila  do  iotuilo  de  dividir  as  uossas 
forças,  e  de  attralii-las  para  terreno  mais  vanlujoso  a  elle,  dissemol-o 
com  fuodameolos  muiio  valiosos. 

As  razões  em  que  se  basía  o  sr.  Machado  de  Oliveira  para  assim 
pensar  eocootram-se  a  paginas  5'J6,  53íi  e  seguinles  da  referida 
Revista.  Em  substancia  são  estas:  1',  ler-se  o  inimigo  abslido  de  ala- 
car-nos  no  arroio  das  Palmas,  quando  o  exercito  nlo  estava  ainda 
lodo  reunido,  e  subsequentemente  tcr-se  afastado  das  nossas  forças 
em  direcção  a  S.  Gabriel ;  2',  a  precipitação  com  que  deixou  esse 
pODto  d  approiimaçSo  da'  nossa  vanguarda,  abandonando  trem  de 
guerra,  bagagem  e  a  cavalhada  inutilisada  (pag.  53Ci1,  o  que  foi  cm 
verdade  encontradn  no  passo  do  arroio  Gacequy  ;  3>,  ler  deixado  as 
adjacenciaí  (!>?  S.  Gabriel,  onde  a  sua  cavallaría  podia  manobrar  com 
muito  mais  vantagem  do  que  no  Itigar  em  quo  se  deu  a  balaiba ;  ti', 
ler  começado  a  passagem  do  Santa  Maria,  para  cuja  margem  esquerda 
fez  Alvear  passar  o  Irem  pesado  do  seu  exercito  e  até  um  rcgimcnlo. 
De  tudo  isto  cooclue  o  Sr.  Machado  de  Oliveira  que  os  argentinos 
retiravam-sB  diante  do  nosso  exercito,  e  que,  se  aceitaram  a  batallia, 
foi  porque  este,  que  os  seguia  de  perlo,  obrígou-os  a  isso. 

E'  certo  que  os  argentinos  não  se  anbnaram  a  atacar-noB  no 
arroio  das  Palmas,  porque  o  terreno  nos  favorecia  immenaammiei 
e  tolhia  o  concurso  da  cavallaría,  que  era  a  arma  maia  poderosa 
do  seu  exercito ;  mas  a  precipitação  de  sua  retirada,  quando  ellea 
possuíam  um  exercito  mais  nunteroso  que  o  nosso,  não  passou 
de  uma  hábil  táctica  de  Alvear.  Para  mais  facilmente  illudir  o 
nosso  general,  deixou  elle  no  passo  do  Gacequy  vários  objectos, 

TOMO  XIXI  f.  11  *', 


Dictzedby  Google 


—  130  — 

do  Serro-Largo,  requisitou  do  general  em  chefe  o  numero 
de  cavsllos  necessários  para  o  seu  corpo,  por  não  Ibe  ins- 
pirarem confiança  a^uraa  os  que  trazia,  em  consequência 
do  seu  estado  de  fraqueza ;  e  o  marquez,  atlendendo  a  tâo 
jusia  requisição,  ordenou  immediatamente  ao  general 
Sebastâo  Barreto,  incumbido  da  distribuição  da  cavalbada, 
que  satisrizesso  ao  pedido  de  Abreu. 

A  reclamação  de  Serro-Largo  não  foi,  porém,  altendida. 
Barreto  recusou-se  positivamente  a  fornecer-lhe  os  cavai- 
los  de  que  carecia,  porque,  segundo  então  declarou,  os 

que  Denhuma  falta  lhe  [aziam,  ki  Iransporlar  para  a  onlra  mai^ 
gem  do  Santa  Maria  as  suas  bagagens  e  trem  pesado,  ordenando 
ao  mesmo  (empo  que  um  regimenlo  Iranspuzesse  o  rio.  Esta  ultima 
operação  toi  feita  na  presença  de  alguns  prisioneiros,  aos  quaes  ell« 
deu  litwrdade,  e  forneceu  cavallos,  afim  de  que  levassem  ao  nosso 
campo,  como  succedeu,  a  noticia  de  que  o  exercito  republicano  co- 
meçava a  atravessar  o  rio.  Mas,  apenas  estes  partiram,  o  regimenlo, 
que  se  havia  transporlado  para  o  nutro  lado  do  Santa  Maria,  regressoQ, 
incorporando  se  novamente  ao  exercito.  Quanto  aos  objectos  que  o  ini- 
migo abandonou  no  Cacequy,  e  de  que  falia  o  Sr.  Manhado  de  Oliveira, 
nSo  passavam  elles  de  caixões  com  papeis  velbos,  mappas,  relaçdes 
e  partes,  armamento  inulilisado,  canastras  velhas,  etc.  Tudo  isso  foi 
examinado  no  dia  21  pelo  i:xm.  Ur.  marechal  de  campo  Luiz  Manoel 
de  Lima  e  Silva,  quo  nos  mii:istrou  obsequiosamente  muitos  e  impor- 
tant''s  csclarpcinicnlos  S'>hyp  ossa  cnp?[),-i'|n.  Fia,  porem,  uma  outra 
eircuinstnncn  de  muilo  pi'-;n,  que  nos  toi  communicada  pelo  mesmo 
Sr.  Lima  e  Silva,  e  que  nus  levou  a  dizer  que  Alvear  tinha  escolliido 
de  antemão  o  campo  de  batalha.  Esse  general  conhecia  perfeitamente 
todo  o  valle  do  Santa  Maria  nas  proximidades  do  Ibicuby.  NSo  havia 
ainda  20  annos,  tinha  elle  residido  por  krgo  espaço  de  tempo  na  os- 
tancia  do  brigadeiro  António  Pinto  da  Fontoura,  situada  do  outro  lado 
do  rio,  tendo  muitas  vezes  percorrido  os  terrenos  circum vizinhos  nos 
frequentes  passeios  que  dava.  Das  relações  que  teve  n'8queile  tempo 
com  a  família  Fontoura  mostrou  elle  conservar  ainda  recoidaçdes 
e  reconhecimento,  porque,  quando  o  seu  exercito  esteve  acampado  no 
passo  do  Rosário,  levantando  todo  o  gado  que  encontrava,  respeitou 
«ssít  çstancia,  e  s<i  a  ella  mandou  pedir  alguns  carneiros. 


Dictzedby  Google 


~  131  — 

que  existiam  mal  chegavam  para  os  diversos  corpos  do 
exercito.  Se  o  motivo  era  fundado,  ou  se  dictou-o  sómeute 
a  ioimizade  que  esse  official  votava  desde  1S25  ao  barão, 
é  o  que  Dão  podemos  dizer  com  segurança :  Dão  faltaram, 
porém,  accusadores  que  o  deouaciassem  como  antepondo 
aos  interesses  e  á  honra  do  paiz  seus  despeitos  e  ódios 
pessoaes.  O  certo  é  que  essa  recusa  produziu  resultados 
funestos,  e  quem  conhece  os  hábitos  dos  cavalleiros  do 
sul,  pôde  avaliar  a  impressão  que  causou  ella  eulre  os 
soldados  do  barão.  Não  obstante,  guiados  pelo  prestigio 
de  seu  chefe,  puderam  suffocar  o  desanimo  de  que  esta- 
vam possuidos,  e  contiDuaram  no  encalço  do  ioimigo. 

Quando  o  dia  começava  a  despontar,  avistou  a  nossa 
vanguarda  forças  inimigas.  O  barão  deu-se  pressa  em 
prevenir  o  general  em  chefe  (77),  e  esle,  Qrmementc  persua- 
dido de  que  grande  parlo  do  exercito  arguntiiio  L.sl,ay  já 
na  margem  esquerda  do  Sínila  Maria,  aeccljrou  a  m:. relia, 
julgando  que  linha  de  haver-se  unicamente  com  uma  frac- 
ção d'elle. 

Qual  não  seria  a  sua  sorpresa,  quando  ás  S  Yt  da  manhS 
avislou  em  linha  mais  de  dez  mil  homens,  esperando-O' 
lirmes  no  lugar  que  haviam  escolhido  para  offerecer-lbe 
combate?! 

Já  era  tarde  para  recuar.  Nossa  vanguarda ,  ao  mando  do 
intrépido  Serro-Largo,  sustentava  ura  renhido  fogo  de  ati- 
radores com  as  avançadas  inimigas.  Era  preciso  tomar 
posições  e  pelejar. 

Nosso  pequeno  exercito,  apenas  composto  de  cinco  mil 
e  quinhentos  e  sessenta  a  sete  homens.com  dez  bocas  de  fogo 

(77)  Tilara  diz  que  o  barSo  suppfiz  que  Tosse  um  pequeno  corpo 
ioimigo,  e  que,  dSo  quei'GQdo  reparlir  com  outros  os  louros  davícto- 
rla,  níto  parltcfpou  ao  general  em  cliefe  que  havia  avistado  os  contrá- 
rios. O  Sr.  A.  D.  Pascual,  noi  seas  Apunfes  ullimamenle  publicados, - 
repele  essa  ccusura,  que  i  iateírameott  infundada. 


DictzedbyGoOgle 


—  132  — 

(78),  coUocoii-se  em  írente  do  inimigo,  que  se  achava  pos- 
tado na  coxilha  de  Santa  Rosa,  e  o  ataque  começou,  tendo 
lugar  a  celebre  baUlha  de  Ituzaingó. 

Esse  punhado  de  bravos  (79),  que  não  descansavam  desde 
«madrugada  de  19,  e  que  desde  então  quasi  não  haviam  to- 
mado «timen(o,  tiveram  de  bater-se  com  exercito  duas  ve- 
zes superior  em  numero,  e  que  a  esta  vantagem  reunia  a 
de  eslar  em  repouso  havia  dois  dias  (80). 

(78)  A  força  total  do  exercito  brasileiro,  incluindo  os  quiohcnlos  e 
sessenta  volantarios  do  barSo  do  s«rro-Largo,  montava  a  sete  mil  e 
dntenioB  e  oitenta  e  sete  homens,  dos  qiiaes  quatro  mil  duzentos  e 
noventa  eoito  de  cavallaria,  dois  mil  e  cenlo  e  oiteuu  e  nove  de  ín- 
laotaría,  dozentos  e  quarenta  de  arlilharía.  Mas  a  1'  brigada 
ligeira,  ao  mando  de  BeDlo  Manoel  e  forte  de  mil  e  duzentos  homens 
dã  eicellente  cavallaria,  tendo  sido  destacada  do  exercito  no  dia  3, 
b6  se  reuniu  a  elle  no  dli  seguinte  ao  Aa  batalha,  á  qual  n3o  assisti- 
ram tauibem  cenlo  e  ciacoenla  e  três  iulanles.  Dedozindo-se  do  nu- 
mero lúlal  estes  mil  e  trezentos  e  cincoenta  e  três  homens,ver-se-ha  que 
siesliveram  preseoLes  a  pila  cinco  mil  e  quinhentos  e  sessenta  e  sete 
homens. 

[79)  N'es8a  manhã  sahiram  de  S.  Gabriel  e  pararam  no  campo  dos 
Snlíos,  descansando  apenas  três  horas;  ás  5  horas  da  tarde  conti- 
nuaram a  marcliar,  e  fizeram  uma  parada  desde  as  10  da  noite  até 
1  liora  da  madrugada  de  20.  A  essi  hora  conlinuaram  a  marcha, 
avislaudo  o  inimigo  ás  6  horas. 

(80}  Está  hoje  provado  pelos  mappas  oflicíaes, tanto  do  nosso  exer- 
cito, como  do  exercito  republicano,  que  pelejaram  em  liuzaingd,  de 
um  lado  dez  mil  e  quinhentos  e  cincoenta  e  sete  argentinos  e  orieniaes, 
com  vinte  e  quatro  canhões,do  outro  cinco  mil  e  quinliontoa  e  sessenta 
e  sele,  com  dez  bocas  de  fogo.  Entretanto  Alvear  teve  a  habilidade  de 
dizer  na  sua  Expoíidon  que  só  líalia  seis  mil  e  duzcnios  homens,  e 
que  os  nossos  eram  dez  mil ;  falsidade  que  ainda  hoje  se  repele  no 
Rio  da  Prata,  apeiar  de  estarem  de  ha  muito  no  dominio  publico  os 
documentos  que  edesmcntem.  Não  transcrevemos  aqui  esses  mappas, 
masellesencontram-se  na  obra  de  Titara,  que  primeiro  os  publicou, 
•  na  lf«moriis  do  fb'.  Machado  de  Oliveira,  assim  como  nos  Apmtes 
do  Sr.  A.  D.  PaacDBl,  • 


Dictzedby  Google 


—  I3S  — 

Nõocdbenos  limiles  (l'este  humilde  trabalho  dar  aqui 
uma  noticia  circumstaaciada  da  batalha  de  20  de  Fevereiro 
de  1827,  batalha  em  que  lanlos  rasgos  de  valor  e  de  be- 
roismo  obraram  os  nossos  soldados,  faltando-uos  apenas 
um  general  hábil  e  experimentado.  Talvez  o  façamos  mais 
tardo,  se,  como  desejamos,  pudermos  escrever  a  historia 
d'cssa  guerra  desgraçada,  cuja  direcção  foi  uma  serie  não 
interrompida  de  desacertos  fataes. 

As  duas  divisões  do  general  Callado  (2'j  e  Sebastião  Bar- 
reto (1')  foram  collocadas  a  grande  distancia  uma  da  outra, 
de  sorte  que  não  puderam  durante  o  combate  manobrar 
deaccordo,  nem  auxiliarem-se  mutuamente. 

Quasí  em  frente  i  grimeira  d'aquellas  divisões  Ocou  o 
barão  do  Serro-Largo  com  o  seu  corpo  de  voluntários,  a 
brigada  de  Bento  Gonçalves  e  uma  peça  de  artilharia,  man- 
tendo com  o  1*  corpo  do  exercito  aif;eatino  um  fogo  renhido 
do  atiradores. 

A  divisão  Barreto,  composta  de  dois  mil  e  seiscentos  e 
trinta  e  cinco  homens,  avançou  contra  a  esquerda  e  centro 
do  exercito  de  Alvear,  recebendo  n'essa  occasião  Bento 
Gonçalves  ordem  de  abandonar  o  ponto  que  occupava,  de 
sorte  que  unicamente  ficou  em  noiso  flanco  esquerdo  a 
força  do  barão  do  Serro-Largo,  e  a  peça  que  lhe  foi  entr^ue 
no  começo  da  acção  pelo  general  Callado. 

Vendo  o  movimeolo  da  1'  divisfto,  ordenou  Alvear  á 
cavailaria  do  general  Laguna  que  o  atacasse,  emquaulo  a 
do  general  Lavalleja  se  arrojava  contra  as  forças  da  nossa 
esquerda,  Aquella  divisão  repelliu  galhardamente  as  duas 
cargas  que  lhe  dirigiu  o  inimigo,  e  continuou  a  avançar 
sobre  as  posições  contrarias.  A  2',  do  general  Callado, 
estava  ainda  immovol,  esquecida  pelo  oosso  general  na 
posição  que  lhe  Í6ra  destinada  desde  o  começo  da  batalha, 
quando  a  cavailaria  de  Lavalleja  moveu-so  para  atacal-a. 


Dictzedby  Google 


—  13*  — 

Antes  de  chegar  até  ella  tiaha  este  chefe  de  encoalrar  se 
com  a  pequeaa  columaa  do  barão  do  Serro-Largo,  que, 
como  dissemos,  guardava  o  aosso  Qaaco  esquerdo,  e  era 
como  que  a  vanguarda  da  2'  divisão. 

Com  o  grosso  de  suas  forças,  em  numero  de  três  mii  e 
cem  homeas,  avançou  Lavalleja  para  atacal-a  pela  frente. 
O  bário,  que  apenas  Unha  quinhentos  e  sessenta  volun- 
tários mal  montados,  não  leve  a  insana  pretenção  de  resistir 
áquella  massa  imponente,  que  marchava  ao  seu  encontro. 
Dispunha-se  a  recuar,  batendo-se  em  retirada,  até  procurar 
a  protecção  da  divisão  do  general  Callado,  quando  subita- 
mente appareceu  uma  columna  de  perto  de  setecentos  ho- 
mens, que  se  lançou  sobro  elte,  atacando-o  de  flanco,  em- 
quanto  Lavalleja  o  ameaçava  pela  frente. 

Essa  carga  repentina  e  inesperada,  e  o  cansaço  dos 
cavallos  não  deram  tempo  a  que  os  seus  soldados,  dis- 
persos a  maior  parte  em  linhas  de  atiradores,  se  formassem 
com  rapidez. 

O  inimigo  apanhou-03  em  confusão  e  carregou-os.  Não 
o  teriam  talvez  feito  se  Sebastião  Barreto  houvesse  podido 
ou  querido  attender  á  requisição  do  brioso  o  velho  general, 
substituindo  os  cavallos  fracos  e  cansados  do  seu  corpo  por 
outros  mais  fortes  e  frescos  ( 81 ). 

Todos  os  esforços  que  fez  o  intrépido  barão  do  Serro- 
Lai^o,  para  conter  os  seus  soldados,  foram  inúteis. 

A'  carga  do  inimigo  segaiu-se  o  completo  destroço  dos 
bravos  e  infelizes  voluntários,  que,  confundidos  com  os 
orienlaes,  vieram  sobre  a  2*  divisão. 

( 81 )  No  começo  da  balaltia  lintia  ainda  uma  vez  o  barão  do  Serro- 
Largo  requisitado  do  commaiidante  em  chefe  a  remonU  de  sua  cava- 
lhada, declarando  lerminaDlemeiil<  que  não  podia  manler-se  no  campo 
com  a  quo  tinha  NenhnmaprovideuciasetonioiiIVeja-seaparteoíGcia! 
do  general  Soares  de  Aodréa  (liarão  de  Caçapava),  que  exercia  aa 
funcçSes  de  ajudanle-general. 


Dictzedby  Google 


—  135  — 

Esta,  não  podendo  dislinguír  os  contrários  dos  amigos, 
formou  quadrado,,  e  rompou  o  fogo  sobre  a  massa  desor- 
denada e  confusa  que  lhe  vinha  em  cima,  sendo  n'essa 
occasião  morlalmeote  ferido  o  velho  barão  do  Serro-Largo. 

Poucos  momentos  depois  expirava  o  nosso  bravo,  com  a 
mesma  serenidade  de  animo  com  que  tantas  vezes  se 
arrojara  aos  perigos  dos  combates. 

Assim  terminou  sua  carreira  gloriosa  esse  dislincto  vete- 
rano. Ã  vida,  que  inteira  consagrara  &  pátria,  devia  ser 
também  sacrificada  a  ella,  c,  defeito,  sua  espada  só  deixou 
de  combater  quando  a  mão  que  a  brandia  cabiu  des- 
fallecída. 

Com  tantos  serviços,  com  tantas  glorias,  com  tantas  vir- 
tudes, tanta  abnegação  e  civismo,  o  illustre  barão  do  Serro- 
Largo  teve  nos  últimos  dias  de  sua  vida,  como  premio  o 
recompensa,  a  ingratidão  e  o  esquecimento  do  governo  do 
seu  paízi... 

Bem  o  disse  Mme  de  Sevigné  :  «  Ha  serviços  tão  grandes 
e  Ião  importantes,  que  só  a  ingratidão  os  pôde  pagar.  > 

Mas  acima  das  fragilidades  e  misérias  dos  contemporâ- 
neos, acima  de  seus  ódios  e  de  seus  erros,  eleva-se  um  dia 
o  juizo  da  posteri(lade,sempre  severo,  inQexivel  e  imparcial; 
o  a  posteridade,  póde-se  já  díz6l-o,  ba  de  destinar  a  tão 
exímio  cidadão  e  a  tão  illustre  victima  um  lugar  distincto 
entre  os  maís  gloriosos  e  prestantes  filhos  da  terra  de 
Santa  Cruz. 

S.  Paulo,  U  de  Julho  do  1865. 


:   PINHEIRO    &  COMP. —  RUA  SETE  DE  SETEMBRO  N.  15!>. 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


REVISTA  TRIMENSAL 

DO 

INSTITUTO   HISTÓRICO 

GEOCRAPBICO,  E  ETBNOGRAPEICO  DO  BRASIL 


íi"  miMESTRE  DE  1868 


BIOGRAPHIA  DO  BOTAl^lCO  BRASILEIRO 

JOSÉ  HimtNIlO  Dl  CONCEIÇÃO  VELLOSO 

Hénoria  lidi  no  Inilltnto  Hittorieo  petanlt  S.  M.  o  Imperador 

JOSÉ  DE  SALDANHA  Uk  GAMA 

A  S.  M.  I.  o  Seihot  D.  Pedra 


Qusndo  um  Sob«rano,  chefe  de  uma  grande  qbçSo,  anima  cora 
Bua  benevolência  os  trabalhos  e  patriotismo  de  um  cidadão,  a  este 
não  deve  ser  recusado  o  direito  de  oITertar-lhe  um  dos  frucloa  de 
suas  lucubrações,  como  o  mais  profundo  traço  de  reconhecimento  e 
dedicação.  Digne-ae  Vossa  Magestade  Imperial  de  acceitar  esta  bio- 
graphía,  considerando-a  como  a  prova  mais  evidenle  do  desejo  que 
alimento  de  ser  útil  a  Vossa  M/igeslade,  e  á  minba  palria. 

Sou,  com  o  mais  profundo  respeito,  de 

Vossa  Magestade  Imperial, 

subdilo  reverente  e  dedicado 

J0S£  DE  SlLDADHA  DA  GiHA. 

Rio  de  Janeiro,  8  de  Junho  de  1868. 
TOIIO~XXX1,  P.   II  18 


Dictzedby  Google 


BIOGRAPHIA  DO  BOTANÍCO  BRASILEIRO 

JOSE'  MABIANNO  DA  CONCEIÇÃO  VELLOSO 

Venera-ee  a  memorji  de  um  gnnde 
vullo,  propagindo-se  st  ausg  virtudes 
&  Ittt  do  mnndo,  ou  rendendo  cullo  aoi 
raios  luminotos  da  soa  iDlelligencfs. 

aPITULO  I 

Si  a  glória  de  uma  nsçâo  altéa-se  resplandecente  sAbre 
o  tumulo  de  seus  filhos,  que  porella  sacriBcaram-se,  a 
gratidão  da  pátria  deve  ser  o  vehiculo  dos  seus  nomes  para 
ojuizo  da  posteridade. 

A  Suécia  sempre  oi^lhosa  pela  vida  illustre  de  Ixnnèo  ; 

A  SuiãSB  sempre  altiva  no  campo  da  sciencia  pelo  génio 
de  De-Candolle  ; 

  Grã-Bretaniia  antepondo  os  talentos  robustos  de  um 
Brown,  de  um  Booker  aos  labores  profícuos,  e  iocommen- 
suraveis  pelo  seu  valordas  duas  oscholas,  francesa  eallemS, 
representadas  por  Jussie»,  Adanson,  Brogniart,  Bail- 
lon,  ele,  Endlicher,  Humboldt  e  Martius  ; 

Todas  ellas  reunidas  compulsam  diariamente  as  paginas 
da  história  da  sciencia,  e  rendem  homenagem  ás  lucubra- 

ÇÕ6S  de  Fr.  Velloso  em  prol  da  phytologia  brasileira  I 

O  Império  d^America  do  Sul  é  o  império  floral  do  globo 
terrestre,  sem  o  esplendor  do  concurso  de  muitas  inlel- 
ligencias  para  o  Qm  commum  e  grandioso  das  verdades  uti- 
lissimas,  que  estão  sepultadas  no  silencio  das  suas  florestas. 
Quando  a  principal  riqueza  de  uma  nação  reside  nos  or- 
namentos do  seu  reino  vegetal,  o  maior  esforço  da  intellí- 
geacia  deve  applicar-se  ao  conhecimento  dosseus  predicados 
essenciaes,  em  harmonia  com  os  âns  para  que  foram  crea- 
dos.  Este  grande  resultado  das  indagações  do  homem  sAhre 


Dictizedby  Google 


—  189  — 

a  Dalureza,  reuaido  á  necessidade  palpitante  das  obras 
clássicas  e  sistemáticas,  que  constituem  uma  das  maiores 
glórias  para  qualquer  nacionalidade,  obtem-se  somente 
deseovolveado-se  o  amor  pela  scieacia  ;  mostrando-se 
incessantemente  o  seu  lado  útil,  e  garaatiado  a  vida  es- 
pinhosa e  sem  ruido  do  naturalista  contra  os  efTeitos  ne- 
gativos da  oratória  abstracta  t  A  penaa  e  a  palavra  são  os 
únicos  meios  de  transmissão,  para  os  contemporâneos  e 
vindouros,  das  impressões  que  o  naturalista  bebe  na  natu- 
reza, com  o  pensamento  sagrado  de  brindar  a  pátria  com 
os  fruclos  de  suas  observações.  No  professorado  e  na 
imprensa  resume-se,  pois,  o  grande  fundamento  para  a  pro- 
pagação dos  conhecimentos  úteis.  Dar  ao  primeiro  o  maior 
brilho  e  amplitude,  e  tornar  o  segundo  accesstvel  aos  ho- 
mens laboriosos,  sem  o  tributo  de  sacrifícios  impossíveis, 
eis  a  luz  da  verdade,  que  os  sábios  do  mundo  desejariam 
derramar  no  espirito  dos  legisladores  de  lodos  os  paizes. 
Si  a  mão  magnânima  de  um  príncipe  não  dispertassea 
modéstia  de  um  sábio,  que  estudava  o  mundo  orgânico  no 
silencio  profundo  de  um  claustro,  o  Brasil  não  possuiria 
nos  seus  archivos  o  único  monumento,de  origem  brasileira, 
aliás  incompleto,  relativo  é.  sua  flora,  que  o  estrangeiro 
consulta  nas  capitães  das  naçOes  cultas.  O  amor  ao  traba- 
lho e  a  intelligencia  não  são  partilha  única  do  velho  conti- 
nente. D'ahi  emana  a  luz,  é  verdade,  para  todas  os  pontos 
da  terra,  e  a  explicação  d'este  facto  não  é  diíBcil.Os  homens 
de  sciencia,  em  Europa,  adoptam  a  especialidade  e  a  circum- 
screvem  até  a  um  dos  ramos  de  uma  scieacia.  Ãfastando-se 
por  este  modo  da  oncyclopedia,  consagram  30,  40,$0annos 
da  sua  existência  ao  estudo  profundo  d'uma  parte  limitada 
das  verdades  naturaes,  enriquecendo  a  sciencia  com  as 
suas  pesqaizas  e  honrando  a  pátria  com  o  titulo  glorioso 
da  sabedoria.  G'  a  divisão  do  trabalho  na  sua  mais  lata 


Dictzedby  Google 


—  140  — 

applicação,  determinada  pelo  amor  á  sciencia  e  pelas  ga- 
raatias  que  eavolvem  a  vida  do  professor,  que  eDCODlra 
um  apoio  para  o  sen  fuluro,  e  recursos  para  a  satis- 
farão da  sua  oobre  missão.  As  monographiat,  os  gmeras, 
o*  prodromus,a  historia  das  plantai, omhm,  saem  <l'eslas 
mãos  que  empunham  o  facbo  do  progresso  alumiando  as 
lerras  separadas  pelos  mares.  O  que  recebem  olles  em  troca  ? 

Descripções  parciaes,  aliás  importantes  ;  trabalhos  in- 
terrompidos pela  accumulação  improficua  de  estudos  em 
uma  só  ^alma,  pela  difficil  acquisiçSo  dos  meios  de  sub- 
sistência, ou  pelos  obstáculos  que  separam-uos  do  tribunal 
universal,  a  imprensa.  Esta  deveria  ser  igualmente  acces- 
sivel  aos  que  cultivoro  as  sciencías  physicas,  descobrindo 
as  riquezas  indispensáveis  á  vida  da  sociedade,  como  o 
tem  sido  até  hoje  para  aquelles  que  abraçam  as  sciencias 
moraes,  applicando-as  ágovernançado  Estado.  Eis  os  tro- 
peços que  convém  destruir. 

Séculos  de  glória  a  José  Maríaano  da  Conceição  Velloso, 
diante  do  qualaniquílavam-seasdifiiculdadesdavída,  lan- 
çando a  pedra  fundamental  do  monumento  scieatifico  que 
as  gerações  futuras  admiravam.creaado  o  ponto  culminante 
doesta  pyramide  immortal ! 

Esforcemo-nos  pela  vulgarização  dos  seus  actos,  como 
exemplos  vivificantes  para  os  espiritos  puros,  que  boje  ale- 
vam-se  do  seio  da  pátria; 

Curvemo-Dos  perante  a  memoria  de  quem  encheu  o 
mundo  com  actos  de  virtude,  engrandecendo  a  sociedade 
brasileira  com  as  glórias  da  sciencia,  com  os  louros  do 
trabalho  perenne. 

Respeitemos  a  imagem  imponente  do  grande  vulto  ame- 
ricano, que  elevou-se  sobre  as  azas  do  catholicismo,  for- 
talecido pela  fé  profunda,  que,  na  pbrase  de  Bossuet,  é 
capaz  de  subjugar  a  nossos  pés  o  mundo  inteiro. 


Dictzedby  Google 


-  141  — 

CiPITULO  II 

A'  provJDcia  de  Minas-Geraes  cabea  gliiria  de  íocluir  no 
numero  de  seus  fílhos,o  aoroe  illusire  de  José  Haríaaao  da 
Conceição  Telloso  (que  no  século  se  diamava  José  Velloso 
Xavier],  filho  legítimo  de  José  Velloso  da  Camará  e  de  Rits 
de  Jesus  Xavier.  Em  1742  recebeu  o  sacramento  do  bap- 
tismo na  freguezia  de  S.  António,  villa  de  S.  José,  comarca 
do  Rio  das  Mortes,  bispado  de  Marianna,  onde  nascera. 
Seu  pai  era  natural  da  freguezia  do  Carmo,  arcebispado  de 
Braga. 

Com  19  annos  de  idade,  a  11  de  Abril  de  1761.  abragoa 
a  vida  do  claustro,  tomando  babito  no  convento  de  S.  Boa- 
ventura de  Macacú.  O  seu  primeiro  passo  na  vida  eccle- 
siaslica  foi  guiado  pelo  guardião  Fr.  José  da  Madre  de 
Deus  Rodrigues. 

A  vida  de  Velloso  é  um  complexo  de  assigoalados  servi- 
ços á  scieDcia.e  de  virtudes  cbristans,que  garantem  a  perpe- 
tuidade de  seu  nome  nas  paginas  de  nossa  bistoria,  A  ve- 
neração qua  consagramos  aos  grandes  homens  do  Brasil 
supprirá  a  insuficiência  do  nosso  espirito  na  indagação  dos 
factos  que  mais  possam  abrilhantar  a  existência  do  celebre 
naturalista.  A  analjse  substancial  das  suas  obras  será 
accompanhada  de  uma  exposição  succinta  de  outros  factos 
inherentes  á  vida  a  que  dedicou-se,  com  santo  fervor 
pelos  dogmas  do  cbristianismo. 

Os  seus  sentimeHtos  religiosos  cresceram  ainda  mais 
quando,  em  12  d'Abril  de  1762,depositou  no  altar  o  voto 
solemne  do  abandono  do  mundo  social  e  das  ambições 
humanas.  O  juramento  sagrado  que  prestou  foi  ennobre- 
cido  com  actos  repetidos  da  sua  proverbial  virtude.  Si 
algum  facto  de  sua  vida  podesso  ser  citado  como  indicio 
provável  de  um  espirito  menos  prudente,  ou  de  um  cara- 


Dictzedby  Google 


cier  por  demais  expansivo,  schanamos  facilmaDte,  como 
compensação,  um  sem  oamero  d'acç<>es  generosas,  filhas  de 
um  coração  bem  coníorroado,  de  ama  cabeça  desenvolvida 
i  custa  de  notáveis  pesquizas  scienlificas  e  dos  sólidos 
princípios  da  roais  pura  Feligiào.  A  perfeição  absoluta  não 
existe  na  esphera  limitada  e  imperfeita  da  crealura,  que  é 
apenas  um  reflexo,  quasiiroperceptivel,  de  poderosa  mão 
qaeocreou.  As  suas  qualidades  moraes  nSo  podem  ser 
obscurecidas  por  uro  ou  dois  pontos,  que  não  brilham 
oem  mancham  a  alma  que  as  alimenta. 

O  curso  de  philosopbia  creado  no  convento  de  S.  An- 
tónio pelo  Revm.  provincial  Fr.  Manoel  da  Encarnação 
foi  o  seu  primeiro  impulso  na  carreira  das  letras.  Ambi- 
cionavaas  lições  do  seu  mestre,o  ex-leitor  de  theologia,  Fr. 
António  d'Annunciaçèo,  como  os  momentos  mais  festivos 
da  sua  mocidade.  O  amor  do  estudo  crescia  com  o  enthu- 
siasmo  de  subír  os  grãos  da  hterarchia  monástica.  Recebeu 
ordens,  por  imposição  de  mãos  do  Bxm.  Diocesano  o  Sr. 
D.  António  do  Desterro,  com  letras  do  Revm.  Fr.  Ignacio 
Graça.  Na  congregação  de  23  de  Julho  de  1T68  foi 
eleito  pregador. 

Elevando-se  sempre  na  escala  do  merecimento,  foi  co- 
lhendo novos  litulusá  consideração  da  ordem  a  que  perten- 
cia, e  procurando  desempenhar  com  escrupuloso  cuidado 
os  dilBceis  encargos  que  depositavam  nas  suas  mãos, 
como  provas  irrecusáveis  de  uma  justa  e  bem  aquilatada 
confiança. A  tradição  não  nos  lega  prinoipio  algum  pelo  qual 
deixemos  de  mencionar  os  serviços  que  prestou,  quando 
foi  instituído  confessor  dos  seculares  e  repetidor  ou  passante 
de  geometria  da  cidade  de  S.  Paulo,  a  27  de  Julho 
de  1771.  Apezar  dos  dotes  oratórios  que  a  natureza  conce- 
deu-lhe,  o  seu  nome  não  brilha  no  mesmo  nivel  em  que 
pairam  os  de  outros  pregadores  franciscanos  que  a  posteri- 


Diclizedby  Google 


(Ude  aponta  como  distinctos  oroamentos  do  pulpilo  bra- 
sileiro. Os  nomes  de  Honte-Alverae,  Fr.  Sampaio,  e  de 
Fr.  S.  Carlos,  o  sempre  lembrado  autor  do  poema  da 
ijíumpfao,  illustram  es  páginas  da  historia  do  Brasil; 
e  si  mais  distinguiram-se  como  oradores  sacros,  do  que 
Velloso,  seria  justo  attribuir  este  facto  á  diversidade  de 
épochas  em  que  viveram.  A  sua  eleição  para  lente  de 
rbetorica  do  convento  de  S.  Paulo,  na  congr^ação  de  8 
de  Maio  de  1779,  as^im  como  a  de  pregador  em  épocha 
anterior,  encerram  uma  conârmafão  implícita  dos  seus 
talentos  oratórios. 

Eis-nos  chegados  a  uma  das  faces  mais  notáveis  de  sua 
vida,  em  que  deu  começo  ás  suas  excursões  botânicas  pelo 
interior  do  Rio  de  Janeiro,  em  consequência  de  ordem  do 
vice-rei  Luiz  deVasconcellos  e  Sousa,  intimada  ao  reveren- 
díssimo provincial  Fr.  Jos4  dos  Anjos  Passos,  e  das  quaes 
resultou  um  trabalho  phytolugico  de  immenso  alcance 
scienlifico,  por  eUe  intitulado  Flora  Fluminente,  um  ver- 
dadeiro monumento  de  glória  para  seu  autor  e  para  o 
paiz  que  o  possue. 

Nas  suas  eicursões  foi  accompanhado  por  Fr.  Anastácio 
de  Santa  Ignez,  escrevente  das  defjiniçõea  herbareas,  e  por 
Fr.  Francisco  Salano,  o  habíl  pintor  e  desenhista  das 
plautas  que  Velloso  descobriu,  estudou  o  classifícou.  O 
nome  do  franciscano  Fr.  Solano  recommenda-se  par  muitos 
títulos:  o  quadro  insigne  da  Assumpçlo  da  Virgem,  a  pro- 
pósito do  celebre  poema  da  Atsumpçio  de  Fr.  S.  Carlos  ;  o 
passo  do  Senhor  representado  no  £cce/)omo;  uma  multi- 
plicidade de  pinturas  que  ornam  os  tectos  e  paredes  do 
claustro  em  que  viveu;  e  diversos  objectos  de  ornamento 
imitados  com  extrema  delicadeza  e  perfeição.  A  elle  per- 
tencem 03  oríginaes  dos  desenhos  que  accompanham  a 
Flora  Fluminense  de  Velloso;e  estes  também  encerram  pro- 


Dictzedby  Google 


—  lu- 
vas irrecasaveis  do  alto  talento  de  Fr.  Solano,  que  no  secalo 
cbamara-se  Francisco  José  Benjamin.  Peço  ao  Instituto 
Histórico  que  examine  estes  desenhos  que  Ih^  apresento, 
para  que  avalie  com  exactidão  o  immenso  auxilio  que  elle 
prestou  aos  trabalhos  do  illustre  botânico. 

Com  perseverança  e  amor  decidido  pela  sciencia,  soffreu . 
Telloso  e  com  resignação  algumas  enrermidades,  que 
vieram  interromper  os  seus  trabalhos;  e  transpondo  o 
oceano  foi  em  pessoa  sujeitar  o  fruclo  de  suas  luctibrações 
ao  juizo  esclarecido  dos  homens  eminentes  da-cdrtede 
Lisboa,  os  quaes  receberam-no  com  aquelle  agazalho  a  que 
tinha  direito  incontestável.  Como  sócio  da  Academia  Real 
deScienciasdeLisboa  coUocou  o  nome  de  seu  paiz  emuma 
altura  digna,  sustentando  a  importância  e  riqueza  do  seu 
território,  e  prestando  outros  serviços  relevantes,  que  mais 
uma  vez  exigem  o  reconhecimento  dos  filhos  da  primeira 
nação  da  America  do  Sul. 

Quaes  as  desintelligenciss  que  se  deram  com  os  mem- 
bros da  Academia  Reat  de  Sciencías,  e  pelas  quaes. 
segundo  alguns  affirmam,  o  seu  nome  desapparecéra  da 
lista  dos  sócios?  Nâo  conheço  documentos  que  me  habilitem 
a  uma  pronuncieção  clara  e  precisa  sdbre  este  pequeno 
eclipse  de  sua  vida  gloriosa  ( si  tal  eclipse  se-deu }. 
Entretanto  será  bom  lembrar  que  a  presença  de  um  brasi- 
leiro  tão  distineto  no  grémio  de  uma  sociedade  essencial- 
mente portugueza,  e  em  epochas  talvez  precursoras  de  gran- 
des abalos  que  a  historia  de  Portugal  menciona,  e  que  a  do 
Brasil  commemora  com  vivo  jubilo,  poderia  ter  influído 
directa  ou  indirectamente  para  que  se  desse  o  facto  em 
que  alguns  acreditam,  e  que  nós  deploramos  como  brasi- 
leiro. Nada  mais  direi  sobre  este  incidente  desagradável ; 
oxalá  que  possa  não  ter  existido. 

A  sua  eleição  para  mestre  de  historia  natural,  na  con- 


Dictzedby  Google 


—  145  — 

gregação  iatermedia  de  2S  de  Janeiro  de  1786,  é  uma  das 
provas  evidentes  do  quanto  valiam  os  seus  estudos  na 
opinião  dos  que  mui  espontaneamente  o  elegeram.  Os 
seus  conhecimentos  em  mineralogia  e  zoologia  estão  paten- 
tes em  algumas  das  suas  obras,  e  provam  evidentemente 
que  o  outro  ramo  dn  historia  natural  não  era  o  único  campo 
de  suas  investigações. 

Não  tocarei  em  outros  testemunhos  de  consideração  e 
apreço  emanados  de  personagens  elevadas,  e  que  lhe  foram 
outorgados  como  homenagens  ao  seu  talento  e  serviços, 
sem  que  conssgce  algumas  linhas  a  uma  aaslyse  succinta 
de  algumas  das  suas  primeiras  producções.  Um  espirito 
tão  vasto  em  seus  conhecimentos,  como  profundo  na 
indagação  da  verdade,  vem  corroborar  a  crença  que  ali- 
mentamos de  que  a  fé  robusta  em  uma  causa  essencial- 
mente intelligente,  cujos  elTeitos,  por  demais  esplendidos 
e  maravilhosos,  nem  sempre  são  accessiveis  á  razão  hu- 
mana, impelia  a  creatura  que  recebe  um  átomo  doesta  luz 
vivificante  ao  descobrimento  de  muitas  verdades  úteis,  que 
jazem  occultas  ou  desconhecidas,  perante  as  quaes  o 
pensamento  limitado  do  homem  curva-se  com  o  sen- 
timento da  mais  pura  e  íntima  religião,  admirando  a 
magestade  que  D'ellas  reside,  e  contemplando  a  harmonia 
que  revelam  I  O  religioso  que ,  na  solemne  solidão 
d'um  claustro,  onde  o  ruido  do  mundo  apenas  o  bafeja 
sem  o  abalar,  entrega  a  alma  ao  estudo  das  leis  que  a 
Providencia  estabeleceu,  para  que  a  sua  sabedoria  n'cllas 
fosse  reflectida  e  impuzesso  aos  homens  a  séria  convicção 
do  que  são  em  relação  á  Força  Omnipotente  que  os  creou, 
enriquece  a  scíencia  com  os  dados  e  princípios  que  des- 
cobre e  imprime-lhe  um  impulso,  cuja  amplitude  sÓ  pôde 
ser  percebida  e  avaliada  pela  posteridade.  Este  facto 
confirma  o  pensamento  de  Gbateaubriand,  no  Génio  do 
TOHO  xxxt,  P,  II  19 


Dictzedby  Google 


chrUlianismo,  que  a  íciencia  muitas  vexes  aqueceu^ie  sob 
o  abrigo  da»  azai  da  r^ião. 


VOLVER  d'oLHOS  AHALYTICO   SOBRE   03  PRIMEIROS  TRABALHOS 
DE  VELLOSO 

No  numero  coDsídersvel  das  suas  obras  contemplarei  um 
pequeno  opúsculo  com  o  titulo  Memoria  sobre  apreUica  do 
se  fazer  o  siUitre,  o  qual  comprova  o  pensamento  apontado 
de  que  a  íntellígencia  do  sábio  Velloso  tínha  um  caracter 
mais  universal  do  que  até  certa  epoÃia  se  acreditava. 
A  scieocia  de  Lavoisier  e  Berselio,  a  cbimica,  occupou 
a  sua  séria  altençio;  e  muitos  momentos  da  sua  vida 
fotam  consagrados  com  proveito  ao  estudo  dos  pheno- 
meaos,  que  tém  por  base  uma  força  desconhecida  em  sua 
essência,  mas  de  cujos  efTeitos  ninguém  poderá  duvidar, 
«  aflínidade.  As  pbrases  desanimadoras  a  respeito  do  cara- 
cter scienlifico  da  cbimica,  que  o  pbilosopho  pouco  orlbo- 
doxo  Augusto  Comte  emprega  em  sua  philosopbia  positiva, 
não  serviram  de  obstáculo  ao  desejo  santo  e  sublime,  que 
tantas  e  tão  repetidas  vezes  manifestou  o  illustre  Velloso, 
de  enriquecer  o  seu  espirito  com  um  novo  cabedal  do 
idéas,  que  poderiam  ser  úteis  á  sociedade,  debaixo  do 
duplo  ponto  de  vista  industrial  e  Iherapeulico.  K  previsão, 
que  somente  pôde  dar  o  caracter  de  sciencia  a  qualquer 
dos  ramos  dos  coubecimeolos  bumanos,  Augusto  Comte 
só  reconhece  existir  nas  leis  de  Bertbollot,  que  regem 
as  acçSes  dos  ácidos  e  bases  sobre  os  saes,  e  dos  saes 
uDtre  si,  e  marcam  uma  aurora  bem  dislia  cta  u^cste  ramo 
das  scieucias  pbysicas;  porém  antes  de  seu  nppare- 
cimeato  já  eram  em  grande  numero  os  bene  ficios  que  ella 
derramava  súbre  a  sociedade.  Si  era  uma  arte,  e  não  uma 


Dictzedby  Google 


-  147  — 

seieDcia,  diremos  como  Cousia  em  sua  esthetica  :  —  toda  a 
seiencta  nasce  de  uma  arte  correspondentt ;  alguma»  dam' 
volvemrse  mai»  rapidamente,  e  ouíreu  aó  alcançam  mais 
lentamente  o  supremo  gráo  de  perfeição. 

Como  deffiae  Velloso  o  que  seja  salitre :  «  um  sal,  mis- 
turado de  ar  mui  subtil,  cujas  partículas  sâo  voláteis  e 
elásticas,  que  lhe  provdsi  de  sua  mesma  aatureza.  >  O  sali- 
tre ou  nitrato  de  potassa  eacontra-se,  diz  Velloso,  nas  pa- 
redes velhas  demolidas,  em  cavernas  húmidas,  em  abo- 
badas frescas,  e  em  pedras  expostas  muito  tempo  ao  ar, 
que  lhe  introduz  as  suas  partículas,  d*onde  vem  cbamar-se 
8  este  salitre  sal  pelrae,  ou  flor  de  muro ;  era  cnrraes,  em 
cavalhariças,  dos  quaes  accumulam-se  matérias  azotadas, 
e  sobretudo  ammoniacaes,  e  em  terras  que  naturalmente 
o  produzem. 

Actualmente  os  chiraicos  não  se  conleatam  com  uma 
exposiçSo  tSo  perfunctoris.  Estabelecem  que  quando  em  um 
terreno  húmido  eiislem  carbonatos  de  potassa,  tnagnesia 
e  cal,  em  contacto  immediato  com  matérias  orgânicas 
azotadas  em  decomposição,  o  acido  carbónico  sendo  muito 
menos  fixo  que  o  acído  azolico,  desprende-se  e  é  substi- 
tuído pelo  ultimo,  (ormando-se  saes  d'iiquollas  bases.  Por 
uma  acção  capillar,  o  sal,  em  dissolução,  vem  A  superfície 
do  terreno,  como  seobserva  no  Egypto,  oa  Hespanha  e  em 
outros  lugares.  Tem-se  procurado  explicar  a  formação  do 
salitre,  não  só  peta  pulrefacçâo  das  matérias  orgânicas, 
como  por  diversas  bypotheses  sAbte  a  origem  do  acido 
azotico  nos  pontos  em  que  eacontra-se  o  nitrato  de  po- 
tassa. À  acção  da  electricidade,  a  natureza  do  terreno  e 
as  condições  de  temperatura  t6m  sido  estudadas  com 
escrúpulo.  Que  o  oxygenio  pôde  combinar-se  com  o  azoto 
para  formar  o  acido  nítrico,  sob  a  inDuencia  da  scentolbs 
eléctrica,  parece-nos  um  facto  averiguado;  porquanto  nas 


Dictzedby  Google 


—  148  — 

aQályMs  das  aguas  que  caem  em  forma  de  chura  depois 
de  uma  forle  trovoada,  aaályses  feitas  pelo  celebre  cbiraico 
Liebig,  encontramos  o  nitrato  de  ammonia  como  um  dos 
seus  componentes. 

Como  meios  para  reconhec6l-o,  Velloso  aponta:  a  pro- 
priedade organoleptica,  ou  o  sabor  que  sen(e-se  collo- 
cando-o  sAbro  a  língua  ;  o  resfriamento  que  se  produz,  o 
crepitar  sftbre  brazas,  que  é  caracter  geral  dos  nitratos 
e  chloratos;  e  Gnalmente  a  adherencia  do  sal  em  uma 
barra  de  ferro  que  deiíava  resfriar  depois  de  o  ter  ex- 
posto a  uma  alia  temperatura.  A  propriedade  aimiamenta 
úif  dante  do  salitre,  em  que  elle  não  falia,  está  contida 
DO  terceiro  processo  para  o  seu  reconhecimeuto.  A  forma 
cryslallina,  quando  existir  em  crystaes  mais  ou  menos 
perfeitos,  não  deverá  ser  considerada  como  auxiliar?  £' 
uma  combinação  de  prisma  de  seis  faces,  com  pyramide 
hexagonal.  (Nolnção  :  MP,  oe  P. 

Continuando  n'este  exame,  encontro  o  processo  para 
obter  quantidades  consideráveis  d'este  sal,  por  flllrações 
e  lavagens  successivas,  enunciado  d'um  modo  rápido  e 
totalmente  pratico.  A  maneira  que  elle  indica  para  co- 
nhccer-se  que  o  sal  está  formado,  a  qual  consiste  em  deitar 
algumas  gottasd'agua,  proveniente  de  primeira  manipu- 
lação, em  um  prato  vidrado  em  que  deve  dar-se  a  conge- 
Iaç3o,approxima-se  do  meio  quo  Cahotirs  e  outros  chimicos 
apontam  para  que  se  verifique  a  suíHciente  concentração 
de  licor,  isto  é,  a  crystallização  em  massa  pelo  contacto 
de  algumas  gottas  com  ura  corpo  frio. 

Não  raoncionaa  perfeita  refinação  do  sal,  ou  a  sua  se- 
paração dos  cblorurctos.  Falia  em  aproveitar-se  das  aguas, 
que  resultam  d'esta  operação,  e  que  elle  denomina  omrír- 
gosas;  nas  proporções  segundo  as  quaes  a  sgua  dove 
enlrarem  cada  reservatório;  na  necessidade  de  utilizar-so 


Dictzedby  Google 


—  uo  — 

A  terra  mais  d'uma  vez  para  o  mesmo  fim,  reviviftcaado-a 
com  a  espuma  que  se  tira  das  caldeiras,  e  com  substancias 
ammoniacaes,  processo  mais  breve  para  obtdl-o ;  processo 
para  a  purjiicaçào,  e  termina  aponlaudo  que  os  signaesdo 
bom  salitre  são :  cõr  branca,  dureza,  crystallíieção,  transpa- 
rência, boa  purificação  do  óleo,  e  a  sua  exposição  aos 
ventos  do  norte,  que  o  dessecam  melhor  e  o  purificam. 
O  modo  pratico  de  verificar  ss  suas  boas  qualidades  deve 
ser  citado  com  o  fim  de  augmeatar  a  importância  d'este 
pequeno  traballio.  Aconselha  que  inflamme-se  um  pouco 
de  salitre  em  pó,  deveado  este  orepitar  si  contiver  muito 
sal,  não  deitando  matéria  terrosa,  como  residuo  ;  a 
inflammação  sendo  veloz  é  indicio  da  ausência  do  óleo 
o  do  seu  estado  de  pureza. 

O  apreço  e  valor  do  nitrato  de  potassa  pairam  no  espi- 
rito dos  que  não  ignoram  que  ollo  é  um  dus  ingredientes 
principaes  da  pólvora  ;  e  este  opúsculo  é  uma  das  pedras 
brilhantes  para  a  corda  que  deve  ser  creada  em  memoria 
do  grande  vulto  sciealifico,  que  hoje  vive  na  mansão  dos 
justos.  [*rocurou  servir  ao  paiz  bebendo  sempre  os  conhe- 
cimentos da  sciencia. 

Em  1797  foi  impresso,  em  Lisboa,  na  ollicina  de  João 
António  da  Silva,  um  opúsculo  intitulado  Extracto  do 
modo  de  se  fazer  o  salitre  nas  fabricas  de  tabaco  da 
Virgínia,  traduzido  d'uma  obra  iugleza  pelo  insigne  Velloso, 
e  oETerecido  aos  lavradores  de  fumo  das  provincias  por- 
tuguezas  de  ultramar.  O  interesse  e  apreço  de  que  foi 
objecto  este  segundo  opúsculo  deiíam-se  perceber  na 
ordem  para  a  sua  impriissão  emanada  de  S.  A.  tt.  o 
Príncipe  Regente. 

O  pensamento  cardeal  d'esta  producção,  e  que  transluz 
logo  nas  primeiras  linhas,  é  o  de  aproveitar-se  a  dose 
de  azolato  de  potassa  que  accumulava-se  nas  fabricas,  que 


Dictzedby  Google 


—  IW  — 

Mia  dsftiiiadis  á  iodastria  do  famo.  CaleubTam  qae  em 
om  «difido  dfl  90  pés  poder-se-hia  obbir  16  qainlaes  de 
ulitre  anatulmeatfl.  O  primeiro  conselho  qae  ella  miois- 
Ira  éo  da  preparação  do  assoalho,  saa  limpeza,  oiíeU- 
meoto  das  laboas,  e  o  reTeslimoDlo  d'uiiia  camada  de 
ealeareo  argilloso,  sAbre  a  qual  dere  ser  deitada  orna  certa 
dose  de  cinzas.  Nr>  Gm  de  15  diss  achar-se-ha  o  sal  coo- 
densado  como  geada  branca ;  e,  extnhiodo-se  diariamente 
o  sal  qae  se  fór  impregnando,  obler-se-ba,  no  Sm  de  algum 
tempo,  uma  notável  quantidade,  que  dereri  soffrer  os 
processos  qae  eslão  indicados,  como  sejam :  o  da  refi- 
nação, clariãcação  do  cremor  de  nitro  congelado.  -Ás  pa- 
bTtas  finaes  da  oitava  e  ultima  pagina  contam  ainda  uma 
observação,  que  prima  pela  utilidade  que  d^ella  resulta. 
A  terra  de  que  se  tiver  exlrahído  o  salitre,  assim  como  a 
matéria  terrosa  que  fAr  precipitada  na  reSaação,  devem 
ser  espalhadas  ligeiramente  pela  manufactura,  por  ser  a 
mais  própria  para  atlrahir  e  absorver  o  salitre  contido 
no  ar. 

Estes  dois  pequenos  opúsculos  anaiysados,  ainda  que 
mui  summaria mente,  contribuem  para  que  se  possa  bem 
conhecer  e  avaliar  a  verdadeira  natureza  da  ínlelligencia 
de  Pr.  Velloso.  Arrojava-se  com  promptidão  e  certeza 
aos  conhecimentos  positivos,  porque  n^elles  reconhecia  a 
dupla  vantagem  de  illustrar  o  seu  espirito,  sempre  sequioso 
de  saber,  e  de  elevar  o  nome  de  sua  pátria  favoreceodo-a 
com  idéas  de  magna  utilidade. 

CAPITULO  IV 

O  seu  Aviaria  brimlicQ  ot*  GáUria  omithologica  ãa$ 
anes  indigm:i$  do  Brjsil,  dedicado  a  S.  A.  R.  o  Priocipe 
do  Brasil  e  impresso  na  officins  da  Casa  Litteraria  do  Arco 


Dictzedby  Google 


-  15!  — 

do  Cego,  proporciona-iios  mais  um  ensejo  para  que  possa 
ser  consignado  a*e3ta  noticia  biographica  um  poderoso 
elemenlo,  indispensável  ao  conhecimenlo  exaclo  dos  seus 
serviços,  pelos  quaes,  mais  uma  vez  o  repeliremos,  o 
Brasil  deve-lbe  uma  boa  cópia  de  gratas  recordações. 

O  primeiro  capitulo  (em  por  tilulo  —  Compendio  da 
historia  dos  ornithologos.  Na  sua  opinião  data  de  1550 
o  estudo  dos  pássaros,  considerando  como  os  que  pri- 
meiro interessaram -se  pelo  verdadeiro  estudo  da  orDitho- 
logia  ao  Crancez  Bellou,  e  ao  suisso  Gesner,  os  quaes 
lizeram  gravar  em  madeira  as  figuras  das  aves  da  Europa 
que  podcram  estudar,accompanhando  estes  desenhos  de  al- 
guns apontamentos  sobre  cada  um  d'elles*em  particular. 
O  italiano  Aldravandi,  no  século  XVI,  com  o  impulso  do 
século  anterior,  contribuiu  com  os  seus  esforços  para 
o  adiantamento  d' este  importante  ramo  da  zoologia.  Fr. 
Velloso  faz  também  menção  do  allemão  Harcgrave,  que 
em  1648  viajou  pelo  nosso  território;  presta  homenagem 
aos  trabalhos  do  inglez  Willugbf ,  que  foram  impressos 
em  1713  por  seu  companheiro  de  viagem  e  amigo  o 
inglez  Ra;;  os  desenhos  foram  abertos  em  cobre;  e  s6- 
moDte  em  1700  o  illusire  Rudbeck,  que,  além  de  natura- 
lista, era  hábil  pintor,  desenhou  as  aves  que  estudou, 
porém  os  originaes  foram  sepultados  oo  musdo  do  marechal 
Geer.  Em  1730  o  in^oz  Albino,  hábil  pintor,  primou 
pelos  desenhos  de  algumas  aves,  conservando  as  verda- 
deiras cores  de  cada  uma  d'elUs.  Ao  inglez  Caterby,  em 
1731,  coube  a  merecida  glória,  segundo  as  próprias  ex- 
pressões de  Velloso,  de  apresentar  um  grande  numero  de 
desenhos  deavos  porelle  encontradas  na  America  do  Norte, 
O  prussiaoo  Frisch  é  incluído  por  Pr.  Velloso  n'esta  rela- 
ção de  homens  notáveis,  occupando  o  primeiro  lugar  o 
inglez  Edward,  a  respeito  de   quem  o  ittastre  brasileiro  ex- 


Dictzedby  Google 


—  153  — 

prime-56  do  saguinto  modo :  i  Mis  Edward  inglez  segu- 
raoieole  excedeu  «  lodos  de  tal  sorle,  que  a  mais  re- 
mota posteridade  reconhecerá  sempre  a  esto  respeito  o  seu 
relevaote  merecimeolo.  Vivendo  esle  famoso  homem  em 
Loodres,  para  onde,  como  para  o  centro  do  mundo, 
corriam  á  porfia  muitas  aves,  trazidas  de  todos  os  pontos 
da  sua- mais  distante  circumferencia,  não  deixou  escapar 
OGcasi&o  alguma,  em  que  cora  incansável  trabalho,  cui- 
dado e  destreza  nSo  as  desenhasse,  ílluminasse  com  vivas 
cdres,  ú  Qâo  as  descrevesse  com  a  maior  exactidão  pos- 
sível, de  maneira  que  no  anoo  de  1745  publicou  330 
gravuras  de  aves  raras  com  tanta  belleza,  quanto  até  este 
tempo  se  nSo  tinham  visto,  e  talvez  tarde  so  verá  cousa 
semelhanlo.  > 

Transcrevendo  estas  palavras  do  conspícuo  Velloso, 
assim  como  estes  dados  históricos  da  oraíthologia,  dei- 
xamos bem  pateale  as  suas  laboriosas  pesquízas  em  um 
assumpto  que  nos  parecia  extranho  á  sua  especialidade. 
Encontramos  sempre  o  mesmo  homem  nos  diversos  ramos 
de  que  se  occupou;  o  mesmo  estylo  conciso,  um  decidido 
amor  pela  verdade,  único  alvo  das  suas  lucubrações;  e 
um  grande  servidor  do  Estado,  porque  o  nome  d'uma 
nação  muito  so  avantaja  com  o  desenvolvimento  scienti- 
fico  que  n^oiia  se  opera,  e  para  o  qul  contribuiu  effi- 
cazmenle  o  talento  ubérrimo  de  Fr.  José  Mariaono  da  Con- 
ceição Valioso. 

Nos  signaes  diagnostico^  das  aves,  capitulo  2",  principia 
enumerando  as  seis  classes  a  quo  pertencem  todos  os  ani- 
maes,  quantos  existem  na  natureza,  grandes,  pequenos, 
e  mínimos,  a  saber:  mammaes  ou  mammenladores,  aves, 
amphibios,  peixes,  insectos  e  vermes. 

Não  posso  prescindir  diurna  ligeira  snãlyse  sobre  esle 
systema  de  Carlos  Linnéo,  adoptado  por  Velloso.  A  ausen- 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  163  — 

cia  da  uoidade  é  a  primeira  impressão  que  se  desperta  em 
nosso  espirito,  quaado  coalemplamos  as  quatro  primeiras 
classes  qae  approximaro-se  naturalnaente  por  caracteres 
fuDdamflntaes,  que  residem  db  estructura  aDalomica  dos 
antmaes  que  a  ellas  pertencem,  embora  se  distingoam 
pelas  modiScsçÕes  que  sofTrem  os  seus  órgãos  em  maai- 
festa  harmonia  com  a  diversidade  dos  meios  em  que 
TÍvem,  e  com  o  lugar  que  cada  aaimal  occupa  na  escala 
zoológica.  O  celebre  Cuvier,  cujo  nome  é  celebrado  nos 
grandes  movimentos  intellecluaes  da  humanidade  com 
aquella  veneração  e  religioso  enthusiasmo  que  só  os  gran- 
des bomens  sabem  inspirar,  da  posicáo  elevada  em  que 
o  collocoQ  o  seu  saber,  dominou  e  observou  o  maravilboso 
quadro  da  naturezn,  e  estabeleceu  com  o  seu  espirito  alta- 
mente perscrulador  e  profundo  as  solidas  bases  para  uma 
classificação  que  abrangesse  não  só  os  animaes  actuaes, 
como  todos  aquelles  que  são  do  domínio  da  paleontologia. 
Quaes  foram  estas  bases,  e  quaes  os  príucipios  que  d'ella3 
3e  derivam?  Em  poucas  palavras  poderemos  completar  o 
nosso  pensamento.  Todos  os  animaes  que  t£m  apparecido 
na  superficie  do  globo,  desde  a  epocha  cambriana  até  aos 
nossos  dias,  pertencem  a  duas  grandes  divisões :  uma  que 
se  distingue  pela  presença  d'um  esqueleto  ósseo,  composto 
d^um  certo  numero  de  partes  que  sõroenle  variam  d'uns 
animaes  para  outros,  quanto  ao  numero,  consistência, 
grandeza,  perfeição,  e  maior  ou  menor  desenvolvimento; 
outra  que  se  caracteriza  perfeitamente  bem  por  um 
sígnal  n^atívo,  isto  é,  a  ausência  completa  de  esque- 
leto ósseo.  Os  primeiros  são  conhecidos  por  vertebrados ; 
os  segundos  por  invertebrados.  Eis  o  primeiro  funda- 
mento da  sciencia  dos  animaes,  estabelecido  pelo  immor- 
tal  Cuvier,  e  que  fundamenta-se  na  escrupulosa  e  exacta 
observação  da  natureza.  Os  peixes,  reptis,  pássaros  e 
TOHO  xsxi,  p.  II  20 


Dictzedby  Google 


-  184  — 

mammaes  que  cúnslituem  as  quatro  classes  do  primei- 
ro grando  ramo,  tSm  linhas  divisórias  bem  traçadas,  e  o 
zoologo  nSo  as  confuade  porque  s9o  bem  deffiaidos  os 
signaes  que  as  distinguem ;  estes  signaes  exprimem 
fielmauta  as  modificações  de  certos  oi^âos,  impostos  pela 
Datareza  para  que  as  funcções  de  cada  grupo  de  auimaes 
possam  ser  accommodados  és  circumstancias  em  que  vivem . 
Mas  o  observador  com  facilidade  descobre  traços  com- 
muQs  de  estructura  auatomíce,  que  passam  d'uma  classe 
a  outra  perfeitamente  intactos,  e  que  se  revelam  com  a 
maior  nitidez  ao  primeiro  olhar  de  quem  deseja  perce- 
bêlos.  Estes  traços,  que  estendem-se  a  todas  as  classes 
d'um  grande  ramo,  e  que  as  unem  d'um  modo  indissolú- 
vel, constituem  o  signal  primordial,  a  unidade  emfim. 
A  divisão  das  classes  em  ordens,  d'estas  em  famílias  e  das 
familias  em  géneros  são  as  diversas  ramificações  d'um 
mesmo  tronco,  sempre  de  valor  decresr^ente,  e  que  se 
prendem  a  um  nó,  ao  qual  eslão  forçosamente  subordi- 
nadas. A  classificação  seguida  por  Velloso  e  em  substan- 
cie, na  sua  ornithologia,  uao  satisfaz  a  estn  condição  fun- 
dameotal,  e  ser-nos-ha  fácil  deraonstral-o. 

Depois  de  enumerar  as  classes,  diz  Velloso :  .  De  lodos 
estes,  03  mammenladores  e  as  aves  sâo  os  que  mais  con- 
cordam entre  si  em  razão  da  affinidade  e  da  maior  seme- 
lhança no  seu  caracterislico  interno.  Gozara  d'um  coração 
provido  de  dois  ventrículos,  de  sangue  quente,  e  também 
de  bofes,  que  reciprocameute  respiram ;  mas  differem  entre 
si  DO  vestido,  porque  dos  mammaes  se  forma  este  de  pelles 
singelas,  e  nas  aves  de  pennas  ramosas  e  formadas  em 
feição  de  pentes.  • 

Cuvier  e  Agassiz  nas  suas  bellas  palavras  sflbre  a  ana- 
tomia comparada,  e  com  elles  os  outros  zoologos  moder- 
nos, revelom  d'um  modo  convincente  os  laços  anatómicos 


Dictzedby  Google 


—  155  — 

que  ligam  os  seres  verteluados,  e  que  coostituem  a  verda- 
deira unidade  que  parece  ter  escapado  aos  dois  aaturalistas 
que  DOS  occupam  a' este  momeoto. 

Atteadamos  ao  zoologo  suisso,  que  com  as  suas  pala- 
vras r^rá  desapparecer  a  immensa  lacuna  d'este  trabalho 
do  illus Ire  Vel toso,  a  qual  poderá  ser  alteuuada  si  re- 
cordarnao-nos  da  epocha  em  que  elle  escreveu. 

I  Os  vertebrados  são  construídos  segundo  um  mesmo 
plaao.  E'  verdade  que  entre  elles  existem  grandes  diffe- 
renças ;  os  modos  de  execução  são  variados,  os  msteriaes 
diversos,  mas  a  Iravação  das  partes  é  a  mesma,  » 

Depois  de  fazer  a  analyse  anatómica  d'um  peixe,  eipri- 
me'SO  ainda  de  modo  a  corroborar  o  nosso  pensamento. 
■  Ora, o  que  é  verdade  quanto  ao  poixe,é  verdade  em  rela- 
ção Q  todos  os  outros  vertebrados.  Para  passar  d^aquelle  ani- 
maia  uma  salamandraa  única  cousa  que  ba  a  Tazer  é  obrigar 
a  retrabirem-se  as  dobras  da  pelle,  que  formam  as  barba- 
tanas, prolongar  a  cauda,  marcar  uma  exígua  separação 
entre  a  cibeça  e  o  corpo,  e  alongar  um  pouco  os  ossos  que 
sustém  as  barbatanas  peitoral  e  abdominal,  de  modo  que 
elias  venham  formar  membros.  For  pouco  que  se  reduza 
a  cauda,  que  se  levante  a  cabeça  augmentada,  que  se  es- 
tendam os  ossos  dos  membros  e  que  se  dé  a  estes  força 
suQicienle,  ter-se-ha  um  quadrúpede;  e  alongando  os 
membros  posteriores,  encurtando  um  pouco  os  anteriores, 
ter-se-ha  uma  ave,  chegando-a  por  esta  forma  até  ao 
homem . 

«  Não  ha  dilTerença  na  organização  geral. 

«  Vejamos  o  que  são  os  membros  do  homem.  No  membro 
anterior  lemos  uma  omoplata  cora  uma  clavícula  consti- 
tuindo o  hombro  i  um  humero  nu  braço-,  depois  dois 
outros  ossos  (radio  e  cubito)  no  antebraço;  finalmente 
pequenos  ossos,  em    numero  de  oito,  em  duas  fileiras,  no 


Dictzedby  Google 


piiDho.  Na  mio,  o  poUagsr  eom  dua»  phalaiigeB,  que  sAo 
suppohadas  pelo  melacarpio,  e  quatro  dedos  de  bres  pba- 
laoges,  com  um  melacarpio  cada  um.  Ora,  examinando  a 
barbatana  peitoral  d'iim  peixe,  o  que  vemos  por  f4ra  não 
4  o  membro  todo ;  debaixo  da  pelle,  pequenos  ossos  que 
apoiam-ae  sabre  o  craneo  reproduzem  a  omoplata,  o 
humero  e  os  outroi  ossos,  e  a  barbatana  nada  mais  é  do 
que  uma  mão,  com  vinte  dedos  talvei,  longa  e  flexível 
para  bater  a  agua,  mas  imperfeita. 

I  E',  pois,  sempre  o  mesmo  thema,  mas  o  modo  <l'exo- 
caçSo  é  muito  variado,  do  mesmo  modo  que  as  variações 
introduzidas  pelo  musico  recordam  sempre  o  motivo  prin- 
cipal. ■ 

Estas  linhas  que  acabamos  de  transcrever  armam  bem 
qual  o  verdadeiro  plano  do  Creador,  e  a  sábia  interpre- 
taçto  dos  que,  como  Cuvíer,  procuraram  deswivolv6l-o 
dissipando  as  trevas  do  século  passado  com  os  raios  lumi- 
nosos d'iima  verdade  adquirida  á  custa  dos  magoiãoos 
ímpetos  de  seu  espirito. 

Outro  plano  presidiu  i  formação  dos  animaes  articulados; 
um  terceiro  e  quarto  para  os  dois  grandes  ramos :  molluscos 
e  radiados.  Nio  ba  um  sá  anima!  actnal  e  da  todas  as 
epocbas  anti-díluvianas,  que  dSo  possa  ser  comprehendido 
em  uma  d'e3tas  grandes  divisões,  o  que  vem  confirmar  a 
crença  geral  que  hoje  acba-se  enraizada  em  todos  os  es- 
píritos, de  que  ellas  são  a  represeotaçio  pura  e  fiel  da 
natureza,  ou  melhor,  a  própria  natureza  ao  alcance  da  razio 
humana.  A  classificação  zoolo^ca  de  Cuvier,  que  tem  sido 
alterada  a  beneficio  da  sciencia  que  deseovolve-se  a  passos 
agigantados,  satisfaz  em  toda  a  sua  plenitude  ao  grandioso 
fim  a  que  se  propdz,  e  a  ella  pôde  applicar-se  o  pensamento 
de  Augusto  Comte,  enunciado  na  sua  philosophia  positiva, 


Dictzedby  Google 


de  que:  a  elamfieação  de  uma  torneia,  é  apropria 
tciencia  condensada  em  teu  retiuno  o  rrunt  ittbslancial. 

Provado  que  sejj  o  quaalo  tem  de  natural  o  primeiro 
fundamento  da  classificação  do  celebre  paleoolologista,  fica 
ipto  facto  obscurecido  e  aniquilado  o  systema  de  Carlos 
Lianéo,  que  Fr.  Vetioso  aponta  oa  obra  que  preseotemente 
discutimos. 

Si  por  infelicidade  Cuvier  alo  tivesse  produzido  tão 
estupenda  revoLutão  no  estudo  doeste  grande  ruino  de  seres 
organizados,  e  si  por  conseguinte  vigorasse  o  decahldo  e 
esquecido  systoma  de  Linnâo,  em  qual  das  suas  classes 
coUocariamos  os  animaes  das  ordens  dos  chelonios,  ophi- 
dios  e  saurios?  Na  sua  classe  dos  amphibiosf  Os  reptis 
amphibíos  pertencem  hoje  a  uma  classe  distincla— a  dos 
batracios,  e  são  representados  actualmente  por  quatro 
ordens:  a  dos descaudados,  como  o  sapo,  a  rã  e  outros; 
a  dos  perenibraochios,  como  a  sereia ;  a  dos  urodelos  e 
a  das  cecilias. 

Os  crustáceos  actuaes,  como  a  lagosta,  o  camarão  «  o 
carangiuijo,  o  os  dos  terrenos  de  transição  conhecidos  por 
trilobiles,  são  animaes  articulados,  paraosquaes  não  en- 
contramos uma  classe  no  systema  que  analysamos.  O 
mesmo  acontece  para  os  molluscos  actuaes,  de  qualquer 
das  três  classes  :  cepbalo podes,  gasteropodes  e  acepbalos  ; 
assim  como  para  os  que  deixaram  os  seus  despojos  em 
todos  os  uiveis  da  serie  geognostica.  As  conchas  Techa- 
das,  ou  cephalopodes  conhecidas  por  ammoaites,  belemni- 
tes  e  nautilus,  dos  terrenos  secundários ;  e  as  numOiulilesda 
epocha  terciária;  as  conchas  bivalvas  e  univalvas  que  abun- 
dam como  fosseis,  easque  vivem  nos  mares  actuaes,  ou  não 
teriam  um  lugar  distinclo  na  elassificaçSo  de  Carlos  Linnéo 
si  ellas  fossem  conhecidas  e  estudadas  n'aquella  epocha,  ou 
SMÍam  oollocadas,  oom  toda  a  impropriedade,  ao  lado  de 


Dictzedby  Google 


—  158  — 

r  ■"■ 

outrds  aaiiaaoí  coiO  os  qases  nSo  manírestam  a  menor 
samolbinça  oa  sui  organização 

Palta-nos  mencionar  os  zoophylos,  ou  radiados,  que 
pela  imperfeição  de  seu  oi^anismo,  e  estado  apenas  elu- 
menlar  de  alguns  órgãos,  cr)nrun'le(n-se  com  os  seres  do 
reino  vegetal,  4s  suas  fua^çães  de  relação  são  ena  tão 
diminuto  gráo  de  importância,  que  quasí  não  eiislem,  pela 
natureia  elementar  do  syslema  nervoso,  que  em  alguns 
parece  não  existir  absolutamente.  Os  coraes,  o  ouriço  do 
mar,  os  espongiários  e  Jnfusorios,  quu  contém  em  si 
caracteres  que  accusam  um  ptaao  dilTerenle  presidindo  á  sai 
creaçio,  e  os  separam  completamente  dos  outros  anímaes 
que  occupam  os  grdos  mais  superiores  da  escala  zoológica, 
poderão,  porvuntura,  ser  altendidos  em  qualquerdas  seis 
cbsses:  inaminãntadores,  aves,  pt)lites,amphibias,  Insectos 
e  vermes?  Decerto  que  oão. 

Não  podemos  furtar-nos  ao  prazer  de  confessar  que  este 
trabalbo  de  Pr.  José  M.irianna  tem  allraclivos,  p^los  dados 
curiosas  que  aponta,  priucipios  que  ministra  a  quem, 
n'aquella  epocha,  quizesse  ontregar-se  ás  tal)0rinsas  pes- 
quizas  sobre  os  animaes  que,  nos  srus  voos,  elevam-se 
muito  além  da  região  material  em  que  habitamos,  mas 
muito  áquem  do  ponto  em  que  alcançam  os  mios  que  a 
intelligencis  do  homem  arroja  em  busca  de  verdades 
que  emanam  do  Creador,  e  que  pousam  tranquillas  no  es- 
pirito profundo  de  quem  as  pôde  possuir. 

O  Dossoillustre  naturalista  combate,  e  com  muito  critério, 
a  designação  de  volaleis  com  que  os  antigos  brindaram  as 
avos  ;  para  isso  recorre  ao  facto  de  terem  os  insectos  azas 
sem  ser  pássaros  ;  o  morcego  e  outros  cbeiroptnros,  que 
também  voam  sem  ser  avos,  pertencendo  estes  ã  grande 
classe  dos    mammaes,    pelas  j^andulas    mammaes  que 


Dictzedby  Google 


—  Ift»  — 

possuem,  e  pola  ropro<lucção  vivipara,  que  síío  os  traços 
distioclívos  doestes  aoimaes. 

Para  que  o  lUârecimeato  d'esta  produuçâo  possa  ser  bom 
aquilatado,  julgamos  convantenle  apontar  as  boas  qualida- 
des com  o  mesmo  direito  que  coasurámos  as  desvantagens 
que  se  deduíom  do  syslema  por  elle  adoptado,  o  quat  na 
sua  opiai&o  abran;;ia  todos  os  auiraaes  eiisteales.  Uma 
proposição  assim  concebida  e  destituida  de  fundamento. 
Dão  devia  escapar,  ao  menos,  a  uma  ligeira  censura. 

Os  traços  anatómicos  não  são  dados  com  Iodos  os  por- 
meuores.como  os  que  fijurariam  em  um  tratado  completo  de 
orniihologia;  mas  são  expostos  com  clareza  e  exactidão, 
ao  alcance  de  todos,  por  isso  que  meaciooain  muitas  vezes 
os  nomes  vulgares  equivalentes  aos  termos  tecbnicos  que 
elle  emprega.  Faz  uma  resenha  das  partes  principaes  de 
que  se  compde  o  corpo  de  um  pássaro  ;  considera  como 
eminentemente  favorável  ao  vòo  d'esles  animaes  a  forma 
em  quiltia  de  navio,  do  osso  conhecido  por  sterni},  e  em 
virtude  do  qual  podem  romper  o  ar  com  mitJs  facilidade, 
no  seu  movimento  descondente,  prolegendo-os  os  ossos 
contra  um  choque  inesperado.  Menciona  a  conformação 
das  azas;  descreve  o  apparelho  locomotor,  com  os  aomes 
dos  ossos  que  o  comp6em  ;  e  a  existência  de  uma  mem- 
brana impermeável  á  agua,  que  reveste  os  pés  das  aves 
aquáticas. 

Velloso  liga  grande  importância  idelineaçao  das  ci3ros 
das  aves,  por  serem  o  seu  principal  ornato,  e  para  o  qual 
chama  a  attenção  dos  ornilbotogos.  E,com  o  fim  de  prevenir 
qualquer  confusão  a  respeito  das  partes  constituintes  dos 
pássaros  e  dos  nomes  que  as  exprimem,  faz  uma  relação  de 
todas  ellas,  pondo  á  margem,  e  em  termos  claros  e  simples, 
as  competentes  definições.  Occupa-se  em  primeiro  lugar 
do  órgão  mais  complexo  e  delicado,  a  cabeça,  centro  das 


Dictzedby  Google 


-  !«•  - 

imiMvssdes  que  os  nenos  transmittem  dos  objectos  ex- 
teriores, por  iatermedio  dos  sentidos,  e  dos  oi^oa  inte- 
riores por  meio  de  meduUa.  Segue-se  o  casco,  orbita,  so- 
brancelha, fonles,  face,  focinheira  ou  bocal,  toro  oo  rédea, 
crista  ou  topete,  barbas,  pescoço,  goija,  nuca,  degoladouro, 
cerviz  ou  gacho,  costado,  omoplata,  espádua  ou  cernelha, 
bombro.  peito,  abdómen,  membros,  azas,  remeiras,  azi- 
nha, uropygio  ou  rabadilbo,  crisso,  regentes  ou  directoras, 
cauda,  cuberteiras,  e  espelho  das  azas.  Falia  ligeiramente 
na  estructura  das  pernas  e  suas  vantagens. 

Achamos  deficiência  no  modo  por  que  descreve  as  outras 
partes  do  corpo  de  um  pássaro ;  contentasse  era  enumerar  as 
formas  mais  usuaes,  sem  entrar  no  sen  estudo  anatómico,  e 
era  outras  parUcuIsridades  que  mais  interessam.  A  anatomia 
comparada  é  inseparável  da  zoologia  ;  e  quando  um  mesmo 
oi^So  éexlensivoa  mais  de  um  grupo  de  animaes,ella  deve 
iotenrir  para  o  conhecimento  das  modificações  mais  ou 
menos  profundas  que  este  órgão  sotFre,  não  emquantoá 
forma  e  grandeza,  mas  principalmente  no  que  fAr  relativo 
á  estructura,  que  pôde  não  ser  iguaimenle  complexa.  O  es- 
tômago do  homem,  ou  de  um  mammal  carnívoro,  não 
é  perfeitamente  idêntico  ao  do  herbívoro  ruminante,  que 
tem  quatro  cavidades  em  lugar  de  uma,  e  muito  mais  se 
afastará  da  dos  aoimaes  inferiores. 

Em  am  mesmo  grande  ramo  como  nos  vertebrados,  o 
coração  de  um  mammal  ou  de  um  pássaro  é  o  centro  de 
uma  dupla  circulação,  e  compAa-se  de  duas  aurículas  e  dois 
ventrículos,  quando  o  de  um  peixe  e  do  reptil  é  mais 
simples,  porque  a  funcção  que  exerce  é  menos  complexa. 
Esta  deficiência  que  notamos  estA  mui  longe  de  ser  um 
anathema;  prova  somente  que  o  illustre  franciscano  nfio 
teve  em  pensamento  o  fazer  um  trabalho  completo  sobre  os 
pássaros;  manifesta  antes  a  intenção  de  reunir  um  certo 


Dictzedby  Google 


oumero  de  ooDhecimentos  qua  podessem,  no  tempo  em  qne 
escrevea,  derramar  luz  e  dispartaro  amoi  por  estes  estudos, 
que  alie  cultiraTa  com  proveito.  Coosiders  ainda  outros 
elementos  que  juiga  indispensáveis  i  historia  exacta  d' estes 
animaes,  e  que  todos  hoje  reconhecem  como  de  iadecli- 
navel  necessidade,  o  que  em  nada  desmerece  do  valor  qua 
lhes  devem  ser  concedidos,  visto  terem  sido  lembrados  em 
uma  epocha  remota,  quando  tratava-se  de  coordenar  os  ma- 
teriaes  para  a  conslnicção  do  edificio  omithologico- 

O  primeiro  elemento  é  o  do  del^eamento,  op  descripçio 
completa  do  pássaro,  accompanhado  do  respectivo  desenho. 
A  vantagem  do  primeiro  nSo  se  discute;  e  a  do  se- 
gando ainda  menos  pela  impossibilidade,  não  diremos  de 
Gomprehender,  mas  de  conservar  semo  auxilio  do  original, 
ou  de  uma  figura  queo  represente,  as  descripções  minuciosas 
dos  seres  oi^anizados,  com  todos  os  seus  pormenores  e  com 
todas  a!>  particularidades  que  caracterizem  a  cada  um 
d'elles.  Si.  es(udando-se  qualquer  dos  três  ramos  da 
historia  natural,  tendo  por  base  a  obserTação  da  própria 
natureza,  a  memoria  nem  sempre  p6de  ser  o  fiel  deposi  - 
tario  dos  conhecimentos  que  se  adquirem,  quanto  mais  se 
nos  contentássemos  com  simples  informações  por  escriplo, 
ou  mesmo  com  a  leitura  das  descripções.  Vamos  ainda 
mais  longe:  não  basta  que  os  desenhos  sejam  fieis  e  brí- 
Ibanlemente  coloridos,  como  os  que  accompanham  a  inte- 
ressante obra  de  Buffon ;  seria  muito  mais  útil  e  conve- 
niente que  a^mas  aves  fossem  delineadas  com  todos  os 
pormenores  a'respeito  da  sua  estructura  anatómica,  que  as 
caracterizassem  d*um  modo  especial. 

Nio  menos  interessantes  são  as  indicações  da  habi- 
tação, o  tempo  da  incubação,  os  lagares  em  que  vivem 
de  preferencia,  a  criação,  arribação,  aUmento,  forma  dos 
ninhos,  e  sna  cooslmcção.  A  historia  das  aves  cresce 

TOMO  XIXI,  P.  II.  21 


Dictzedby  Google 


—  16»  — 

de  importBDcia  quando,  segando  pensa  Fr.  Velloso,  n'elto 
esláo  ÍDclaidos  os  seos  osos,  e  m  rantageas  que  d'tila8 
pôde  a  sociedade  auferir.  Qnaes  as  que  podem  ser  uti- 
lizadas eomo  alimento;  as  que  accusam  crimes,  desco- 
brindo os  lugares  em  que  jaiem  cadáveres  que  podem  ter 
sido  o  resultado  de  crimes  que  derem  ser  punidos  com 
r^r;  e  entre  outros  auxílios  qae  ellas  prestam,  por  elle 
mencionados,  os  dos  transportes  das  semeates  para  lognres 
mais  ou  menos  longínquos,  e  dos  grãos  poUinícos  para  a 
fecoodaçSo  das  pIaDtas*unisexuae8  dioicas.  Assim  como 
as  correntes  d'agaa  e  do  ar  são  os  vefaículos  das  sementes, 
principalmente  as  correntes  aéreas  quando  as  sementes 
tdm  alas  ou  pellos  que  as  tomam  menos  pesadas,  lambem 
é  facto  averiguado  que  ellas  podam  ser  conduiidas  pelos 
pássaros  para  um  ponto  bem  distante,  onde  ás  vezes 
germinam  e  produzem  indivíduos  vegetaes  que  em  nada 
assemelbam-se  aos  que  abi  existiam  anteriormente.  Outro 
tanto  não  diremos  a  respeito  da  conducção  do  pollen  pelas 
aves,  e  afastamo-nos  um  pouco  da  opinião  do  illustre 
brasileiro.  A  experiência  confirma  que  os  grãos  pollini- 
cos  das  plantas  dioicas  são  transportados  pelos  vmtos 
e  pelos  insectos,  do  individuo  masculino  ao  feminino.  Mas, 
como  conceber,  a  não  ser  por  acaso,  que  uma  ave  desta- 
que o  pollen  d'uma  aulbera  para  ir  deposital-o  no  stigma 
de  individuo  d' outro  sexo(e  d'um  modo  tio  intelUgente  coroo 
Velloso  lhe  attribue),  facto  este  que  sendo  repetido  muitas 
vezes,  faz  suppdr  nm  acto  de  para  intelligencia  muílo 
superior  ao  que  resultasse  do  instinclo  o  mais  desen- 
volvido? 

Não  escaparam-lbe  também  um  certo  numero  de  pro- 
gnósticos, que  augmentam  a  sympathia  que  as  aves  nos 
inspiram,  como  sejam :  o  apregoar  nos  matos  da  jtuida 
dos  cadaverss  doa  animqes,  pelo  gnunido  do  corvo  corai»  | 


Dictzedby  Google 


—  IM  — 

o  optntiu'  dá  primavera  no  primeiro  dia  do  detabroUM- 
mento  das  folhas,  pelo  canto  do  cuco  canoro;  o  de  indicar 
ut»  inverno  rigoroto  e  apparedtnento  da  erriberiza  da 
nevt ;  a  immvMnãa  fTum  temporal,  preaentida  peZa  procA- 
laria  do  pego,  que  dd  o  signal  de  almma  encaatellando-ae 
na  proa  epôpa  dos  navios  i  e  mais  oatros  prognósticos 
qae  Yelloso  apoota,  convencido  da  sua  eíBcacia  e  ve- 
racidade. 

As  suaves  impressões  que  ellas  produzem  nos  nossos 
sentidos,  quer  pelos  cantos  maviosos  de  algumas,  como 
pela  belleza  das  odres  de  outras,  são  outros  tantos  atb-a- 
ctivos  com  que  foram  brindadas  pela  natureza. 

■  Concluamos  ãualmente,  diz  Yelloso  depois  deezpâr  as 
bases  da  sua  ornithologia.  Quem  poderá  lembrar-se,  e 
eipâr  com  energia,  todos  e  cada  um  dos  proveitos  e  or- 
namentos que  nos  resultam  das  aves?  As  aves  despertam 
e  movem  os  nossos  sentidos,  enfeitam  e  aformosentam 
o  mundo,  e  o  fazem  agradável ;  amigavelmente  conversam 
comnosco  no  retiro  das  solidões;  e  por  Iodas  as  parles 
nos  cercam  em  tomo,  saltam  ligeiras,  e  revoam  alegres. 
Por  este  respeito,  os  lugares  em  que  nSo  as  encontramos» 
se  reputam  adros. 

4  Ora,  quanta  não  é  a  alegria  e  satisfação  que  sentimos, 
quando  com  toda  a  atleni^o  e  socego  do  espirito  ouvimos 
a  estas  bellas  e  suaves  cantoras  da  natureza,  transportadas 
da  maior  alegria,  soltar  toda  a  variedade  e  harmonia  do 
seu  canto  nus  louvores  do  seu  Creador?  Que  cousa  baverá, 
que  nos  possa  ser  de  maior  gosto,  do  que  o  ver  as  suas 
ternas  caricias,  os  seus  doces  meneios,  quando*  brincam, 
quando  se  namoram,  quando  festejam  seus  desposorios, 
quando  fazem  seus  ninhos,  quando  tiram  seus  filhos,  e  os 
defendem  contra  os  insultos  dos  seus  inimigos,  ainda  á 
fluata  de  sua  própria  vida?  Ora,  quem  haverá  que, estando 


Dictzedby  Google 


—  184   - 

em  seu  juizo  perfeito,  vendo  e  oarindo  o  «ine  fica  dito, 
oio  reconheça  o  cuidado  do  Supremo  Eale  e  a  sua  pas- 
mosa  providencia?  Foi  tão  maravilhosa  a  bondade  do 
CreadoT,  a  respeilo  destes  animalejos,  que  nio  duvidou 
impAr  oa  lei  ceremonial  este  preceito  :  c  Si  passando 
vires  no  cháo  ou  em  qualquer  arvore  o  ninho  d'uina  ave, 
Dfto  a  tomarás  a  in8i  com  os  filhos ;  mas  deixa  ir  a  pri- 
meira, e  cODteota-le  com  os  segundos,  para  que  te  vá  bem , 
e  vivas  largo  tempo.  >  O  próprio  Deus  promulgou  uma  tal 
lei  penal  a  favor  das  aves.  Isto  basta.  • 

SSo  estas  as  ultimas  palavras  de  Fr.  José  Harianno  da 
Conceição  Telloso  que  servem  de  remate  aos  princípios 
fundameotaes  da  sctencia  dos  pássaros,  que  elle  estabele- 
ceu  com  aquelja  lucidez  que  serve  de  privilegio  aos  espirítos 
indagadores.  Discutimos  alguns  defeitos,  que  reconfae- 
cem-se  SIbos  do  tempo  em  que  viveu:  e  procuramos 
patentear  e  elevar  os  conhecimentos  úteis  e  claros  con- 
tidos nas  paginas  interessantes  do  seu  Aviaria  Omt- 
thologico. 

CAPITULO  V 

A   FLORA   PLUHIEIENSE 

O  trabalho  mais  importante  e  de  maior  alcance  é.  sem 
a  menor  contestação,  a  Flura  Flumineme,  que  os  homens 
competentes  veneram  como  o  fruclo  de  laboriosas  pes- 
qoizas  e  amor  decidido  pela  botânica.  Ja  vimos  Velloso 
como  adepto  da  zoologia,  e  cultor  da  cbimica.  Agora  é  o 
phytologista  incansável;  o  creador  de  géneros  e  espécies 
novas,  na  observação  aturada  dos  vegetaes  indígenas ;  é  o 
pbyt(^aphÍ5ta  conciso  e  consciencioso,  que  arrancou  da 
nossa  natureza  vegetal  os  segredos  d*uma  primeira  classifi  - 


Dictzedby  Google 


—  IM  - 

caçio,  feeando exemplo  para 09 seus  TÍDdoaros;  jemAmo 
religioso  monge,  que  convergia  as  saas  Tistas  profaoclas 
sobre  as  plaalas  do  solo  brasileiro,  para  corroborar  a 
fá  em  Deus,  com  a  destambnmle  imagem  do  Sapremo 
Ciaador  reflecUda  nas  relações  harmoniosas  do  mando 
orgânico ! 

Esta  obra,  de  cuja  importanúa  ninguém  pôde  doridar, 
foi  dedicada  ao  seu  patrono  Luiz  de  Tasconcellos  e  Sousa. 

Adoptou  o  sjstema  sexual  de  LÍnn4o,  hoje  abando- 
nado pelas  noras  concopçdes  de  A-dansoo,  De-Candolle,  de 
Jussieu,  e  BrogQÍart,  na  classificação  das  plantas  do  seu 
herrario. 

Nos  tempos  actuaes  o  botânico  que  se  propõe  tratar 
da  descripçÂo  de  espécies  lera  sempre  em  vista  o  estado 
pbjtographico  de  cada  órgão  em  particular,  e  a  descrípçio 
minuciosa  de  todas  as  partes  integrantes  d^um  T^tal, 
e  procura  descrevèl-o  abrangendo  todos  os  orgios  fun- 
dameotaes,  raiz,  partes  componentes  do  tronco,  folhas, 
QÒT,  fruclo,  semente,  embr;ão ;  e  também  os  orgios  ac- 
cessorios,  como  sejam :  as  estipulas,  pellos,  gavinhas, 
espinhos,  glândulas,  não  olvidando  todas  e  quaesquer 
particularidades  que  lhe  forem  ioherentes.  Percorrendo 
pagina  por  pagina  a  Flora  Fluminense  do  virtuoso  fran- 
uscano,  encontra-se  uma  lai  concisão  nos  caracteres  de 
cada  [danta,  que  a  impressSo  que  ella  produz  no  nosso 
espirito  díssipa-se  totalmente,  porque  atlendemos  para  o 
tempo  em  que  elle  viveu,  e  reconhecemos  por  este  volver 
d'olbos  retrospectivo  que  os  elementos  indispensáveis  no 
completo  desenvolvimento  d'uma  scieacia  vão  se  aecu- 
mulando  gradualmente  por  esforços  parciaes,  que  conver- 
gem para  um  mesmo  &va,  e  que  toma-se  notável  a  intel- 
ligencia  que  entra  como  um  dos  alicerces  na  construcção 
e  monumento  tão  glorioso.  Velloso  nSo  fez  tudo  porque 


Dictzedby  Google 


—  iêê  — 

era  boBMD ;  mu  fax  nniilo  por  ser  TÍgonua  a  ÍoteU%eneia 
que  a  Datarau  ooncedea-lhe. 

Em  1700  plantas,  âlamoa  400  (1},  algumas  das  quaes 
figuram  ainda  oom  os  Domea  que  Teltoso  offereceu  aos 
Icigialadores  da  seienãaf  e  oatros  já  subatiloidos,  ou  por 
direito  de  prioridade  d'oatros  botânicos,  oa  pela  maior 
propriedade  dos  nomes  botânicos  hoje  adoptados.  PropAz 
muitos  géneros  dotos,  e  alguns  ainda  v^ram;  oatros 
sio  «penas  mencionados  ao  lado  dos  que  os  sobstituiram, 
como  homenagem  á  memoria  de  quem  os  estabeleceu. 

Ainda  posso  tirar  outra  illaçío,  confrontando  as 
snas  espécies  com  as  que  figuram  em  lugar  d'eUas  no 
fecundo  trabalho  do  Dr.  Martins.  Telloso  incluiu  em  um 
mesmo  género  dirersas  espécies,  que  hoje  achom-se  sepa- 
radas, o  que  ÍnelinaTa-me  a  crer  que  êHo  oão  restringia 
muito  os  caracteres  particulares  de  cada  género.  Devemos 
entretanto  confessar  que  a  par  d^eslas  pequenas  deficien- 
cias*  apontadas  porque  assim  o  pensamos,  manifesta-se 
uma  tal  ou  qual  art>itrariedade  da  parte  d'aquetle8  que, 
em  outro  continente,  decidem  como  juizes  supremos  dos 
trabalhos  que  lhes  são  euTÍados.  Mudam  os  géneros,  as 
espécies,  modificam,  reformam,  e  tudo  quanto  fazem  é  lei. 

Em  certos  casos  procedem  com  todo  o  critério  e  com 
fundamento ;  em  outros,  porém,  parece-oos  encontrar  um 
excesso  de  solicitude,  que  realmente  deploramos. 

Os  numerosos  desenhos  devidos  á  hábil  mSo  do  Fr. 
Solano,  e  que  accompaaham  a  dascripção  das  plantas, 
peccam,  assim  o  cremos,  por  falta  de  minuciosidade;  por- 
quanto náo  abrangem  todas  as  partes  integrantes  d'um 
mesmo  orgâo;  e  alguns  apresentam  apenas  as  folhas  e 
lUhres,  s«n  os  competentes  pormenores,  e  não  contempla  m 

(1)  Vide  at  notas  ao  fim. 


Dictzedby  Google 


—  tm  — 

o  frodo,  a  Mmenie  e  a  forma  particnUr  dos  mtsn«s  6 
mais  elementos  da  fldr,  que  nio  sJo  vistos.  Hoje  atlen- 
de-se  por  tal  modo  a  lodos  estes  dados,  que  fallecemoDos  Da 
maior  parte  dos  piimitÍTOs  desenhos,  que,  observando-se 
com  coidado  ama  estampa,  ehega-se  ao  conheoimeDlo 
exacto  do  vegetal  qoe  se  quer  estudar,  e  cujo  origioal  nto 
ae  possue.  A  obra  de  que  nos  temos  oceapado  é* cilada  a 
eada  passo  pelos  botânicos  eminentes  de  Europa. 

O  nome  de  seu  illusire  autor  é  venerado  por  aqneUes 
qae  dedicam-ae  ao  estudo  da  ph^tologia;  e  palpita-nos 
o  coraçlo  de  jubilo  quando,  ao  percorrer  pagina  por  pagina 
os  38  fascicoios  da  Phra  Brattiienau,  com  o  fim  de  saber- 
mos quaes  as  plantas  por  eite  classificadas,  que  foram  con- 
servadas com  os  seus  primeiros  nomes,  encontramos  o 
nome  de  Fr.  José  Mariano  da  Conceifio  Telloso  honrando 
a  pátria  com  as  suas  lacubrações,  oo  lado  dos  nomes  de 
Linnâo,  De-CandoUe,  Hartius,  Freire  AUemão,  Arruda  da 
Camará,  Sellow,  Lamarck,  St.  Hilaire,  e  muitos  outros  nSo 
menos  respeitáveis  e  dignos  de  especial  mençSo. 

Apreciemos  a  concisão  de  seu  estylo,  lendo  os  seus 
apontamentos  sAbre  um  vegetal  importante,  o  codro,  exir»- 
hidos  da  Flora  Fluminansa,  pagina  Ti. 

Cedràa  odorata.  €.  floribm  pemiadatis. 
Obserrationes 

Gaalis  arboreus,  folia  composila-pinnata,  muUíjv^,  fo- 
liolis  ovatis,  integerrímis.  Habitat  sitvis  tam  marilimis» 
qnam  mediterraneis. 

A  estampa  correspondente,  67*  do  tomo  S*,  contém  os 
desenhos  das  folhas,  da  QAr  e  estames. 

Este  fructo  de  trabalhos  tio  árduos,  e  que  boje  aqoila- 


Dictzedby  Google 


^  168  — 

Umos  e  apradimos  com  o  ferror  do  mais  justo  e  saolo  pa- 
triotismo, permaneceu,  por  al^ns  annos,  no  mais  com- 
pleto esquecimento  em  nosso  paix ;  e  devemos  ao  primeiro 
imperador,  ci^^  memoria  por  tantos  titalos  reneramos,  o 
immenso  beneficio  que  hoje  usofroimos,  e  que  consistiu 
MD  mandar  imprimir  o  texto  na  t;pographia  nacional 
sob  03  íiuspicios  do  bispo  de  ÁDemuria.  Fr.  António 
de  Arrábida,  e  do  Dr.  JoAo  da  Silveira  Caldeira,  tente  de 
eblmica  da  antiga  Academia  Militar.  Os  desenhos  foram 
litbograpbados  em  Paris,  1825.  O  desBppaFecÍmenlod'uma 
prodacçlo  de  tanto  merecimento  deveria  encher  de  luto  os 
corações  dos  brasileiros;  e  seria  para  lamentar  que  mais 
um  titulo  de  gltíría  para  o  paiz,  que  nSo  conta  muitos  o'asle 
género,  e  mais  uma  palma  de  vicloria  para  o  génio  que  a 
creára,  cahissem  no  abjsmo  profundo  d'um  olvido  fatal ! 
Felizmente,  podemos  hoje  medir  o  valor  e  a  magnanimi- 
dade do  acto  do  fundador  do  Império  pelos  benoficios  que 
ella  produzia,  e  que  nós  test  emunhamos  com  alegria  e 
vivo  contentamento. 

NSo  diremos,  referindo-nos  a  Fr.  Velloso,  o  mesmo 
pensamento  que  o  celebre  astrónomo  Francisco  Arago 
applicou  a  Fresnel,  de  quem  fera  biographia :  t  II  esl  des 
bommes  k  qui  Ton  snccède  et  que  personne  ne  remplace.  » 

Seria  tevar-noa  por  um  excesso  de  enthusiasmo,  prati- 
cando uma  clamorosa  injustiça  contra  o  alto  merecimento 
de  brasileiros  que  ainda  vivem,  e  cujos  nomes  irSo  i  pos- 
teridade envolvidos  pela  mesma  aureola  brilhante  com  que 
lemos  brindado  o  nome  illustre  de  Fr.  José  Hsriaono  da 
Conceição  Tdloso.  Mas  ninguém  ousará  negar  que  foi  elle 
o  primeiro  a  despertar  o  amor  pelo  estudo  da  phytologia, 
e  que  só  a  elle  ced»  a  ^ória  de  ler  estabelecido  uma  base 
bem  solida  para  as  novas  ÍDvestigaç&es.de  que  seria  theotro 
nosso  paiz. 


Dictzedby  Google 


A  Floria  Fhurunente  apresoDta-DOs  um  doto  interesse, 
fl  este  rem  ds  importância  de  algumas  arvores  seculares 
dassifícadas  por  seo  illostre  aulor.  As  sttcopiraa,  o  cedro, 
o  buranlté  { ibira-èe  em  liogua  indígena),  os  jacârandátf 
o  angelim,  e  outros  ornameatos^  sem  rivaes,  da  esplendida 
flora  brasileira,  serviram  de  fundamento  para  diversas 
descripções.  Os  géneros  mmâoxia,  chrysophyUitm,  niuo- 
Ua  ou  tnachoerium,  etc,  são  descriplos  concisamente,  e 
is  vezes  de  um  modo  incompleto. 

O  texto  d'este  trabalho  interessante  está  incompleto,  nSo 
por  culpa  do  seu  autor.  O  seguimento  existe  em  manus- 
oipto,  e  é  o  complemento  indispensável  a  esta  obra  clássica 
que  bonrará  sempre  a  bibliotbeca  brasileira.  Mais  um 
râforço,  o  pequeno  sacriScio  de  poucos  contos,  uma  nobre 
resolugSo  emPirn,  bastarão  para  a  terminação  d*este glorioso 
monumento,  que  VolLoso  legou  á  posteridade. 

Mais  uma  palavra  a  respeito  da  Flora  Flwmnmse. 

De  par  com  os  eminenhss  predicados  d'este  trabalho,  já 
mencionados,  lacunas  existem,  que  não  desmerecem  o  valor 
que  lhe  attribuimos. 

A'  brevidade  das  descripções  e  i  imperfeição  de  muitos 
desenhos,  ajuntaremos  o  systema  pouco  natural  da  classi- 
ficação, que  elle  foi  obrigado  a  seguir,  valendo-nos  para 
isso  dos  descobrimentos  taxonomicos,  que  hoje  enriquecem 
a  sciencia  das  plantas.  O  sy stema  de  Linnêo  pertence  agora 
ao  monumento  histórico  da  sciencia.  Os  methodos  appare- 
ceram  graças  aos  vdos  impetuosos  dos  génios  botânicos. 
O  sjstema  em  taxonomia  é  um  meio  artificial  de  classifica^ 
ç3o;  afasta  a  muitos  seres  vegetaes  que  mostram,  pelos 
trados  semelhantes  da  sua  organização,  ter  participado 
de  um  mesmo  plano  de  creação ;  e  approxima  outros,  por 
sua  natureza  differentes.  O  melhodo,  ao  contrario,  é  a 
expressão  exacta  da  natureza,  porquanto  fundamenla-sc  no 

TOHO  XXXI  P.   II  32 


Dictzedby  Google 


-  170  — 

complexo  de  todas  as  relações  orgânicas ;  não  são  simples  - 
meale  os  orgftos  geoitaes,  e  menos  ainda  a  corolla  conside- 
rada isoladameate,  os  únicos  elementos  para  a  coordenação 
das  plantas  em  grupos  naturaes.  Todos  os  oi^os  fundamen  - 
taes  do  vegetal  sio  atleodídos  na  creaçáo  da  hierarchia  ta- 
xonomíca;  apezar  porém  da  perTeicSo  relativa  dos  trabalbos 
mais  moderaos,  a  scíencia  nSo  pronunciou  a  sua  ultima 
palavra.  Abi  temos  a  classe  de  Jossieu — cíútimtu— para  as 
plantas  unisexaaes.  As  espécies  do  género  euphorbia  tèm 
fldres  hermaphrodítas,  segundo  as  observações  organo- 
genicas  de  fiaillon,  e  por  este  facto  ficam  separadas,  quanto 
á  classe,  das  outras  euphorbiacess,  cujas  fiôns  são  uni- 
sesBwut. 

CAPITULO  VI 

A  gratidão  foi  sem  duvida  uma  das  qualidades  mais 
proeminentes  do  sábio  religioso;  e  encontramos  provas 
irrecusáveis  no  respeito  e  veneração  que  tinba  para  com  o 
Príncipe  que  outorgou-tbe  tamanba  cópia  de  benefícios. 

El-rei  o  Snr.  D.  João  VI,  então  Príncipe  Regente,  houve 
porbem  nomeal-o  director  ds  lypograpbia  litteraría  do  Arco 
do  Cego,  estabelecimento  por  elle  creado  em  1800,  com  o 
fim  de  promover  e  divulgar  os  conhecimentos  das  scienúas 
naluraes,  agricultura,  desenboe  gravura,  sob  os  auspícios 
do  ministro  d^Estado  D.  Rodrigo  de  Sousa  Coutinho,  depois 
conde  de  Linbares.  Este  estabelecimento  foi  pouco  depois 
annexado  á  imprensa  nacional,  creada  em  24  de  Dezem- 
bro  de  1768,  que  linha  o  titulo  de  regia  oíScina  I;pogra- 
pbica,  e  por  fim  o  de  impressão  régia,  á  frente  do  qual 
figuraram  como  directores  os  nomes  de  Fr.  José  Hariínno 
da  Conceição  Telloso,  Custodio  José  d^Oliveira,  Joaquim 
José  da  Costa  e  Sá  e  Hipolyto  José  da  Costa  Pereira.  Os 


Dictzedby  Google 


saas  relevADles  swviços  valeraiu-lhe  unia  pensio  de  SOOf 
concedida  pelo  Príocipe  Regeate;  e  por  uma  nora  gra^a  foi 
elevado  á  posiçáo  de  padre  da  proTincia^  no  anuo  de  1801, 
como  proTa  o  seguinte  documento  extrahido  da  pagina  149 
do  3*  livro  do  tombo  da  província: 

ORDEM  REGIA 

Qoe  o  Exm.  5r.  D.  Rodrigo  de  Sousa  Couttolio  dirigiu  ao  Reverendo 
Provincial  para  qne  o  Sr.  ex-r«itor  Fr.  José  Harianno  da  Conceição 
Velloao  sega  contemplado  padre  da  provinda. 

■  O  Príncipe  regente  nosso  Senhor,  attendendo  ao  zelo  e 
desinteresse  com  que  se  tem  empregado  no  real  serviço 
Fr.  José  Marianno  da  Conceiçio  Telloso,  é  servido  que 
elle  seja  contemplado  como  Padre  da  provincia,  para  cujo 
fim  expedirá  V.  P.'  R."'  as  ordens  que  forem  precisas.  — 
Deus  Guarde  á  V.  P.*  R."*  Palácio  de  Queluz  em  19  de 
Maio  de  1808.  D.  Rodrigo  de  Sousa  Coutinho.  —  Senhor 
ministro  provincial  dos  capuxosda  provincia  da  Conceição 
do  Rio  de  Janeiro.  » 

Como  correspondeu  o  padre  mestre  Fr.  Telloso  a  tão  re- 
petidas provas  de  consideração,  emanadas  de  um  perso- 
nagem tão  altameale  coUocado  ?  De  um  modo  digno  de  si 
e  da  pessoa,  que  tanto  o  beneficiara.  Esforçou-sepor  bem 
desempenhar  as  suas  funcções,  dando  á  luz  da  publicidade 
diversas  obras,  que  honram  lanto  o  seu  nome,  como  á  pá- 
tria, á  quem  amava  com  extremo.  Dedicou  alguns  dos  seus 
trabalhos  a  Sua-Magestade  o  rei  D.  João  VI,  por  ordem  de 
quem  traduziu,  com  esmero  e  presteza,  diversas  obras  de 
séria  importância  -,  e  mostrou  ser  em  todos  os  seus  actos 
um  servidor  leal  e  dedicado. 

Uma  das  plantas  por  elle  classificadas,  o  andatiçú,  das  eu- 
pborbiaceas,  tèo  conhecido  por  suas  propriedades  medici- 


Dictzedby  Google 


—  I7S  — 

DiM,  foi  offereeida  lo  at^usto  stA  do  Sr.  D.  Pedro  n,  com 
o  nome  de  Jo<mne$ia  Prineapi. 

O  que  Yelloso  poderia  faser,  pelo  reconhecimento,  fèl-o,e 
BsponUDeameate.  Assim  como  é  grato  a  um  cidadão  o  me- 
recer as  antmaçfiesde  quem  dirige  os  altos  destiaos  de  um 
pais,  a  este  deve  ser  agradável  o  receber  a  maior  riqueza 
qoe,  a  um  homem  d^estudos,  é  dado  possuir,  isto  é,  o 
fructo  das  suas  constantes  rigilias. 
'  Commemoremosoatrosserriços,  dos  quaes  tivemos  co- 
nhecimento lendo  as  paginas  do  tombo  da  província  da  Iro* 
maculada  Conceição. 


Regia  dirigida  ao  procorador  di  província  Fr.  Aotonio  da  Victoria, 
Bobr«  a  collecçSo  de  plantas  do  Brasil,  psrao  real  museo. 

■  Sendo  presente  a  SuaMagesladea  proposição  que  V.P.* 
fez  de  conseguir  que  a  sua  província  se  enoarregue  de  fazer 
vir  d^Ameríca  dos  sítios,  onde  tem  conventos,  todas  as  plan- 
tas,ou  vívas,ou  séccas,  ou  em  sementes,  segundo  o  melhodo 
que  lhe  der  o  P.  Telloso,  para  a  collecção  do  leal  musèo ; 
sendo  dirigidas  estas  remessas  á  secretaria  d'£stado  da 
marinha,  espera  Sua  Magestade  que  V.  P.,  e  toda  a  sua 
corporação,  com  seu  zéto,  e  amor  pelo  real  serviço,  exe- 
cutarão esta  commisslo  de  maneira  a  desempenhar  a 
alta  idéa,  que  Sua  Magestade  tem  das  suas  virtudes,  e 
fidelidade. — Deus  Guarde  a  V.  P.  Mafra  19  de  Outubro  de 
1797.— 0.  Rodrigo  de  Sousa  CoutinAo.— Senhor  Fr.  An- 
louio  da  Victoria.  ■ 

Hals  um  docamento,que  a  historia  deverá  registrar,  po^ 
que  refere-se  a  um  vulto  eminente, digno  de  nm  monumento 
wa  que  se  inscrevam  em  letras  de  ouro  os  actos  mais  assi- 
gnalados  da  sua  gloriosa  vida . 


Dictzedby  Google 


—  173  — 

No  silencio  de  ata  gabioele,  do  retiro  de  ooa  elatistro, 

perscratando  os  s^redos  da  natureza,  também  alimoDla-se 
e  desenToWe-se  o  sagrado  amor  da  pátria  ;  e  «Abre  o  sen 
altar  deposita-se  uma  somma  de  boas  serviços,  que  dereoi 
ser  lio  bem  considerados  e  estimados  como  os  que  presta 
o  bomera  político  de  sã  consciência  e  de  elevada  intelligen- 
cia,  e  03  do  soldado  intrépido,  qae  sacrifica  a  Tida,  os  sen- 
timentos de  Slho,  pai  e  esposo,  tudo  emflm,  pela  honra  da 
pátria,  e  pelo  amor  que  a  ella  rota. 


R^ia  dirigida  ao  Sr.  ministro  {HvvliKial  Fr. 
ttbn  a  collecç9a  pan  o  real  nmsea. 

fl  Sua  Magestade  é  serrido  que  V.  P/R.™  faço  crear  nas 
hortas  dos  cooTentos  d'essa  provinda  as  plantas  que  Fr. 
José  da  Conceição  Telloso  designar  na  lista,  que  ha  de  re- 
metter  ao  procurador  geral  da  mesma  província  ;  as  quaes 
depois  de  creadas  e  postas  em  caixões,  T.  P.*  R."  deverá 
entregar  ao  intendente  da  marinha  para  as  fazer  embarcar 
nos  navios,  que  partirem  para  o  porto  d^essa  cidade. — 
Deus  Guarde  a  V.P.^R.™  —  Palácio  de  Queluz  em  3  de 
Outubro  de  1798.—  D.  Rodrigo  de  Sousa  Continha. —  Sr. 
ministro  provincial  dos  capuchos  da  província  da  Concei- 
ção do  Rio  de  Janeiro.   > 

aPITULO  VII 

Na  tjpopaphia  cbaleographíca  e  lilteraria  do  Arco  do 
Cego  foi  impressa  a  tradacção,  por  Velloso,  de  uma  col* 
leoçáo  de  Memorias  sAbre  a  quassia  amarga  e  símaraba, 
com  desenhos  perfeitos  e  brilha  nten»Dle  coloridos.  E* 
d*88(e  trabalho  que  nos  vamos  occupar,  e  ao  qual  consa- 
gramnosalgUMsliDbaspela  importância  do  seu  conteúdo, 


Dictzedby  Google 


-  17i  - 

e  para  que  mais  uma  vez  curvemos  a  cabeça  perante  a  me- 
mOTÍa  do  Uluatre  brasileiro,  a  quem  votamos  a  mais  pro- 
funda veoeração. 

Às  suas  vistas  coDcentravam-se  sempre  oo  lado  uti)  da 
acieDoia,  o  que  facilmente  se  poderá  perceber  lendo  com 
atteDQfio  o  primeiro  capitulo  doesta  producção  : 

•  A'  vista  de  ser  a  saúde  só  por  si  bastante  para  coostj' 
tuir  o  homem  ditoso  ou  desgraçado,  deve  a  medicina,  que 
toda  se  applica  em  ensinar  os  meios  de  a  coQseivar,  e  de 
a  recobrar,  quando  perdida,  ter  de  justiça  um  lugar  supe- 
rior entre  as  primeiras  sctencias,  e  ser  de  toda  a  sorte 
honrada. Ella,como  dizem,  marcha  apoiada  sAbra  dois  pés, 
dos  quaes  um  é  a  Pathologia,  que  nos  dá  o  conhecimento 
das  eufermidades,  e  o  outro  a  Therapmtica,  que  nos  faz  ver 
os  remédios  que  lhes  podem  ser  próprios  e  convenientes.  E 
por  esta  razSo  deve  ser  indispensável  a  todo  o  medico  o 
conhecimento  de  um,  e  de  outro  fundamento,  sobre  que 
apoia  a  sua  faculdade.  Bem  como  um  relógio,  quando  se 
quebra,  ouso  decompõe  no  seu  movi-neoto  ordinário, 
nio  pôde  ser  concertado,  sem  se  ter  conhecimento  da 
qualidade  do  seu  desmancho,  e  da  propriedade  dos  instru- 
mentos ;  assim  também,  nio  sendo  bem  conhecida  a 
qualidade  da  moléstia  e  dos  remédios  convenientes,  não 
pôde  cila  ser  bem  curada. 

c  Estas  diversas  partes,  que  constituem  a  medicina,  pa- 
deceram,segundo  a  diversidade  dos  tempos,  seus  altibaixos 
e  revezes,  ' 

■  Os  antigos,  conformando-se  ao  goslo  que  reinava  nos 
seus  dias,  dirigiam  com  todo  o  esforço  de  que  eram  capa- 
zes as  sons  applicações  igualmente  sobre  o  conhecimento 
das  fOrças  dos  remédios  simplices,  da  semiótica,  dos  prog- 
nósticos. Restabelecidas,  porém,  as  sciencías,  e  reinando 
sdbre  ellas  uma  luz   mais   clara  e  mais  intensa,  aquella 


Dictzedby  Google 


—  17«  — 

parte  que  mostn  o  differeote  estado  do  homem,  ou  são,  ou 
doente,  é  a  que  foi  levada  ao  mais  alto  cume  da  perfeição 
pela  diliguicia,  applioaçâo  e  esforços  dos  anatómicos  e 
pbysiologos ;  e  pelo  contrario,  a  outra,  que  expõe  as  fAr- 
Ças  dos  medicamentos,  se  conservou  (ignoro  a  razSo),  ao  * 
menos  por  muito  tempo,  como  era  desprezo,  envolta  nas 
mantilhas  do  berço.  D' esta  causa  procede  que  todo  quanto 
respeito  temos  pelas  nossas  plantas  medicinaes,  nos  Tem 
somente  do  uso  que  d'ellas  fizeram  os  antigos  gregos  e 
árabes,  pelo  qual,  enganados  os  modernos,  nio  tendo  ave- 
riguado as  suas  forças,  como  era  razão  6zessem,  compuze- 
ram  receitas  prolixas,  que  só  podem  servir  para  descrédito 
edamnoda  medicina,  e  nio  para  honra  sua  e  proveito  : 
logo  ao  deleixamento  e  desapplicaçio  dos  médicos  á  botâ- 
nica, isto  é,  a  esta  proveitosa  parte  da  medicina,  conU-a 
o  que  era  justo  e  conveniente  terem  feito,  é  que  se  deve 
fazer  a  imputação  do  desfavorável  revez  de  uma  parle  ISo 
útil,  e  necessária.  A  esta  talvez  se  poderia  ajuntar  outra 
causa  e  vem  a  ser  a  opinião,  que  grassou  e  se  propagou 
pelo  circuroferencia  do  orbe  medico,  de  queo  nsodosre- 
medios  venenosos  deveria  ser  desviado,  e  ainda  totalmente 
desterrado  do  foro  iherapeutico,  como  de  facto  para  in- 
felicidade da  medicina  o  conseguiram.  Graças  ao  nosso 
presidente,  que  nos  cânones  16  e  17  da  sua  Matéria  Medica 
impressa  em  1749,  fez  vfir  aos  seguidores  d'esta  doutrina 
fatsa  que  dos  venenos  se  occullavam  grandes  forças  me* 
dicas,  e  que  estes  só  d  iiferiam  d'aquelles  na  qualidade, 
00  na  dose.  Vieram  em  seu  abono  as  gloriosas  victorias, 
que  o  mercúrio,  ou  sublimado  corrosivo,  tem  conseguido 
contra  certas  moléstias  teimosas,  e  reincidivas,  apezar  de 
ser  um  dos  mais  refinados  venenos. 

■  Mas  apenas  entrou  a  campir  nos  horizontes  dos  hu- 
manos conheoimentos  a  historia  natural,  como  uma  soien- 


Dictzedby  Google 


—  176  - 

da,  e  principalMMito  a  botaniei,  eono  bom  dtf  sou  into- 
iMcaotM  {Mrtas  dando-M-lhe  um  ar  » gesto  sáaotifieo. 
quando  m  Máòrcaram  en  esmerilhar  todo  quanto  podia 
haver  mais  partkolar  eescoodido  dos  remédios  «mpliees-" 
Depois  de  entunerar  dÍTersos  vegelaes,  que  sàode  ito- 
OMOsos  reeofsos  medícioaes,  lai  a  apoOieose  da  Quina,  as 
eofermidades  que  eUa  combate ;  meoeiona  os  pwies  qoo 
mais  t<m  lacrado  com  a  saa  exportacSo,  e  termina  com  o 
dito  de  tun  poela : 

NaUtra  beati* 

Omnibw  ette  dtãit,  tiqui»  cosnowriíuí». 
Eis  o  Tsbr  qoB  Telloso  Ugave  ao  estado  da  phytologia, 
em  cajo  peosameoto  nós  procoraremos  sempre  imiial-o 
eomo  om  dísdputo  qae  reconhece  o  merecimento  dos  seus 
trabalhos,  aos  qoaes  considera  como  uma  fonte  inesgo- 
tável de  idéas  fecundas,  que  sempre  primaram  pela  grande 
dose  de  utilidade  qae  d'ellas  emanam.Não  receiamos  avan- 
çar que  a  botânica  seria  uma  saencia  de  mero  laxo  embora 
interessante  e  deleitavel,  si  quraa  a  cultivasse,  se  conteit- 
tawe  com  as  leis  de  anatomia  elementar  e  descriptiva,  com 
o  estudo  da  physiologia,  taxoaomia  e  phytographía,  orga 
DOgonia,etc.,  sem  procurar  conhecer  e  divulgar,  em  benefi- 
cio da  humanidade,  os  difTerontes  fins  para  que  foram  as 
plantas  creadas.  Os  prineipios  activos  conhecidos  por  oí- 
calofdM  as  tornam  ateis  á  medicina,  como  a  atropina  na 
belladona,  a  stryehmna  na  DÓz-vomica,  a  morphina  no 
ópio  qae  se  extrahe  da  papoula  ou  dormideira,  a  meoNna 
no  fumo  ;  e  assim  por  diante.  Msa  Fr.  Telloso  contenla-se 
com  a  exposição  d*eslas  plantas,  sbstrahiado  dos  proces- 
sos que  a  chimica  aconselha  para  a  indagaçto  d'estes  prin- 
cípios activos,  assim  como  de  outras  propriedades  qae  re- 
oommdenam  os  vegelaes  ao  desenvolvimento  das  artes  e 


Dictzedby  Google 


iodustru,  comofiejaiB  :  os  princípios  conates  qae  muilos 
coDlém,  a  galta-pereha  e  Ixu-racha  que  de  outros  se  extra- 
hem,  e  o  estudo  dos  cerues  das  arvoras,  que  são  de  um 
immenso  auxilio  pare  a  engenharia  ;  os  óleos  esseneiaes  ; 
as  phnias  que  tãm  lanoino,  oleos  fíxos,  etc. 

Estas  lacuDas  que  se  percebem  aas  suas  diversas  obras 
estáopleaameDte  justificadas,  porquanto.por  uma  lei  pro- 
videacial,  o  deseurolvinieoto  de  (odas  as  partes  de  aoia 
scieacia  não  deve  ser  obra  de  ama  uaica  iatelUgencia.  A 
glória  divide-se  pelos  diversos  collaboradores,  cabeado 
uma  maior  quola  a  quem  tiver  direito  pelo  maior  numero 
de  beneficios  que  u'ella  descobrir.  Fr.  Velloso  fei  muito,  e 
por  isso  a  pairía  deve  coasagrar-tbe  um  reconhecimento 
eterno,  coutem  p)ando-o  sempre  no  numero  dos  homens 
beneméritos  e  que  mais  contribuíram  para  a  glória  de  seu 
passado,  do  presente  e  do  Tuluro. 

Velloso  procuroua  origem  da  palavra  quatsia,Q  a  apresen- 
ta depois  de  descrever  as  condições  climatéricas  da  ilha  de 
Surioam.  Aponta  as  moléstias  que  alli  dominaram  e  os 
meios  improficuos  de  que  lançaram  mão  os  seus  habitantes 
para  extorminal-as,  O  desanimo  lavrava  com  intensidade 
em  todos  d'aquella  sociedade,  quando  um  preto  escravo  de 
Dome  Quosn  descobriu  ama  plauta  que,  como  remédio,  foi 
por  elle  empregada  para  debellar  as  febres,  que  de  con- 
tÍDUO  sepultavam  aos  seus  parceiros.  Divulgadas  Uo  maravi- 
lhosas curas,  tomou-se  Quaaii  um  ente  necessário  e  res-  . 
peitado,  a  quem  os  seus  próprios  senhores  recorriam  e 
consultavam  sdbre  os  seus  padecimentos  ph}'sÍcos,  e  de 
quem  recebiam  o  efficaz  tratamento.  Foi  necessário  que 
Carlos  Gustavo  Dahlberg  captivasse  a  confiança  eafFeição 
da  Quatsi  para  que  este  ihe  confiasse  o  seu  segredo,  mos- 
Irando-lhe  a  planta,  cuja  raiz  tinha  operado  curas  láo  mila- 
grosas, e  até  então  desconhecidas.  O  nome  da  qitasaia 

TOMO  XXXI  p.  ti  23 


Dictzedby  Google 


—  178  - 

'oi  rpois.eoDserrado  para  que  semi^e  se  tíresie  em  lembrança 

os  beneficjos  prestados  pela  mio  de  quem  a  descobrira. 

Faremos  uma  reBexão  sAbre  a  sua  descrípçio  meoos  snc- 
cÍDla  éo  guoêsi-amara,  ou  tjwuti-amargota.  Ao  ínvwso 
das  plantas  que  elle  descreTe  na  Flora  Flummmse,  desce 
a  mais  alguns  pormenores;  aponta  o  gráo  de  composição  das 
folhas .  a  sua  forma  e  ontros  muitos  caracteres ;  o  sumo 
d'estas  folhas ;  ausência  de  estipulas  e  de  armas  de  defesa; 
a  existência  de  bracleas ;  ó  peciolo  marginado  de  ambos  os 
lados,  por  uma  larga  membrana ;  dimensões  dos  órgãos 
foliaoeos,  e  outros  elementos  dignos  de  interesse. 

A  descripção  dos  órgãos  da  flor  não  é  muito  completa ; 
mas  basta,' para  que  se  conbeça  a  planta,  observar  o 
bello  desenho  colorido  que  a  accompsnha.  Não  menciona 
a  espécie  de  fnicto  ( que  é  uma  capsula ),  por  não  existir, 
na  epocha  em  que  escreveu.uma  classificação  carpologica  a 
não  ser  a  de  Candolle,  e  de  outros  ainda  mais  imperfeitas 
e  meoos  completas  do  que  a  que  a  sciencía  hoje  possue. 

Diz  apenas  que  os  cachos  são  terminaes  e  singelos, 
quando  pelo  desenho  vemos  claramente  que  a  inflo- 
tescencia  é  um  raâmo. 

A  descripção  do  cálix,  corolla,  estames  e  pistillo  é  exacta 
no  que  contém,  mas  deficiente  si  a  compararmos  aos  tra- 
balhos dos  Bcluaes  botânicos. 

Ha  uma  originalidade  n^esla  planta  que  não  escapou  ao 
botânico  que  a  descreveu,  a  qual  consiste  na  existência  de 
cinco  capsulas  em  uma  mesma  flâr,  o  que  é  mui  raro 
enconlrar-se  nos  vegelaes  da  família  das  simarubeas. 

Esta  planta  foi  cultivada  no  nosso  Jardim  Botânico,  e 
como  não  desse  fldr  por  muitos  anoos  a  confundiram,  pela 
semelhança  no  porte  e  por  traços  exteriores,  comoexprime- 
se  Velloso,  com  o  subonete  doBrasil(3apindacea),oque 


Dictzedby  Google 


—  179  — 

depois  veii6cou-se  não  ser  aiaoto.  Cresceu  até  a  altura  de 
oito  pés. 

O  amargo  iasupportavel  do  lenho  é  reconhecido  geral- 
mente, e  este  principio  amargoso  foi  sempre  applicado 
para  coBil>a(er  entre  outras  moléstias  as  febres  iotermitten- 
tes.  Ainda  hoje  para  algumas  affeq^es  do  estômago  os 
médicos  actmselham  a  bdbida  d'agua  fria  que  esteve  em 
contacto  com  olenhodaçuosmu.  No  mercado  encontram-se 
c(^s  d'esta  madeira,  que  tem  a  propriedade,  depois  de 
humedecida,  de  impregnar  rapidamente  o  liquido  que  con- 
tiver de  uma  grande  dose  do  principio  amaino.  Pela  acção 
do  calor  a  impregnação  torna-se  muito  mais  forte  e  veloz. 
Todos  os  usos  conhecidos  na  actualidade,  e  que  dei- 
xamos apontados,  estão  consignados  na  obra  que  discu- 
timos, assim  como  em  que  doses  deve  ser  applicada  aos 
doentes,  e  termina  esta  primeira  parte  enumerando  três 
casos  nos  quaes  o  emprego  da  qtuuaia  foi  efficaz. 

Pulrís  levou  ainda  mais  longe  o  seu  interesse  por  esta 
planta.  Tendo  observado,  em  1770,  a  13'  carta  de  Buchox 
e  uma  estampa  da  t/uosm,  a  convite  do  marquez  de  Furgot^ 
procurou-a  em  diversos  lugares  que  percorreu  e  nunca  a 
pôde  encontrar.  Só  em  lins  de  177ã  é  que  chogoa-lhe  ás 
mãos  pelo  facto  do  governador  de  Cayenna  a  ter  solicitado 
do  dii  ilha  de  Surinam.  Fez  um  estudo  particular  d'esla 
planta  e  uma  descripção  muito  mais  minuciosa  do  que  a 
precedente. 

Começa  a  sua  descripção  pelo  caule,  que  contém  tallos 
ou  troncos  ^rciaes  de  12  a  15  Unhas;  passa  á  casca,  raízes 
e  sua  profundidade;  occupa-se  por  menor  das  folhas, 
approiimando-se  a  sua  glossologia  da  da  epocha  actual ;  e 
percorre  os  órgãos  da  fructificação  com  muitas  particulari- 
dades interessantes,  até  o  interior  da  semente. 
Alguma  deQcieocia  que  se  possa  notar  não  constituo  am 


Dictzedby  Google 


—  180  — 

grande  defeito,  porque  já  mnitos  annos  nos  separam  da 
epocha  em  que  elle  escreveu  e  publicou  este  trabalho.  Es- 
tende o  principio  amargo  a  todos  os  oi^Sos  princípaes 
doeste  arbusto,  que  elle  compara  com  a  quina,  pelas  boas 
qualidades  que  Ibe  são  communs,  e  pelas  quaes  Velloso  e 
outros  aceitam  o  epilbeto  de  divino  para  o  trabo  do 
primeiro  v^etal,  e  de  arvore  da  vida  para  o  segundo. 

Em  seguida  apresenta  Fr.  Velloso  uma  serie  de  in- 
teressantes apontamentos  sobre  a  quossia  simartéa,  per- 
tencente hoje  ao  grupo  das  simarabeas.  Parece-nos  ser  o 
timaruba  offieinalia,  ou  marapá  em  linguagem  vulgar; 
espécie  congénere  da  ParahU>a,  simaniba  versicolor. 

A  simaruba  cresce  na  America  e  nas  índias  Occidentaes, 
e  recommenda-se  pelas  propriedades  medicioaes  da  casca  e 
da  raiz.  Woodvile  faz  um  histórico  dos  diversos  nomes  bo- 
tânicos que  ella  tem  tido  por  ter  faltado  uma  base  solida 
para  os  convenientes  estudos  dos  seus  caracteres  funda- 


Posteriormente  reconbeceu-se,  pela  observação  sobre  os 
seus  princípaes  órgãos,  ser  uma  verdadeira  simarubea  pelos 
pontos  Íntimos  de  semelhaaça  das  partes  d'esta  planta  com 
as  de  outu  quassvw  Em  1772  Línnéo  reconheceu  não 
estarem  bem  determinados  os  tragos  caracteriscos  d'aquella 
espécie,  que  por  outros  foi  classificada  comn  uma  bursera, 
betula,  etc,  etc.  Foi  enviada  da  Goyana  para  a  França  em 
1713  a  casca  da  simaruba,  onde  de  1718  a  1723  a  empre- 
garam vaotajosaraenle  do  curativo  de  certas  moléstias 
epidemicas. 

Esie  opúsculo  do  sábio  brasileiro  cresce  de  importância 
quando  attende-se  aos  serviços  prestados  á  humanidade 
pelas  duas  plantas  que  acabamos  de  fallar.  Fazendo 
conhecidas  as  suas  propriedades,  para  o  que  colleccionou 
diversas  memori  as  parcíaes,  mostr  ao  intimo  e  louvável 


Dictzecfby  Google 


-  Í8I  - 

desejo  de  ser  útil  aos  seus  compatriotas  e  á  pessoa  que  o 
encarregara  de  tão  honrosa  tarefa.  HAo  sendo  elle  senão 
o  fiel  interprete  de  taes  trabalhos,  de  qualquer  crítica 
rigorosa  resultarj  maior  luz  sAbre  estas  pesquizas,  sendo- 
nos  licito  pensar  que  uma  obra  de  tanto  merecimento  e 
utilidade  deve  perpetuar  o  nome  de  seu  verdadeiro  colla- 
borador,  como  quem  procura  divulgar  os  conhecimentos 
úteis  que  ella  contém. 

Mais  oDlros  factos  importaules  para  a  medicina  encoa- 
Irámos  nas  ultimas  paginas  d' este  trabalho,  e  que  resumi- 
remos em  poucas  palavras. 

Na  ilha  de  Suriaam  apparecéra  de  tampos  a  tempos 
uma  moléstia  conhecida  por  mal  de  S.  Lazaro  ou  l«pra 
lécca,  qoe  desfigurava  as  pessoas  que  d'ella  eram  victimas, 
produzindo  um  desanimo  e  abandono  dignos  de  lastima. 

Os  escravos  que  soEíriam  d' este  mal  ou  suicidavam-se  ou 
morriam  á  Fome,  porque  os  seus  senhores  preferiam  não 
fornocar-lhes  os  indispensáveis  meios  de  subsistência. 
O  que  contém  as  ultimas  linhas  da  presente  obra  é  o  tra- 
tamento mais  ou  menos  radical  d'esta  moléstia,  introdu- 
zido por  uma  preta  liberta,  por  certos  principios  contidos 
em  uma  planta  muito  semelhante  ao  nosso  cipó  chumbo, 
a  cascula  racemota  das  convolvulaceas,  na  herva  de  passa- 
rinbo  (loranthus  vulgaris),  e  no  tin^ó  (serjania).  Experi- 
mentando com  as  plantas  citadas  conseguiu  achar  esta 
virtude,  que  applicou  emp  iricamenle  contra  o  funesto  mal 
quo  a  todos  horrorizava.  Estas  tros  plantas  estão  em  dese- 
nhos coloridos,  e  constituem  a  ultima  parte  d' este  trabalho. 

Reflictam  os  homens  do  nosso  paiz  no  valor  inesti- 
mável d'estes  rasgos  d'uma  intelligencia  consummada ;  e 
d'uma  vida  sem  mancha,  que  teve  por  ponto  de  apoio 
a  religião,  o  por  única  ambição  a  sciencia,  que  é,  conhe- 
cimento de  Deus ! 


DictizedbyGoOgTe 


CUTTDLO  VIU 

A  quioographia  portugaesa  merece  dos  homens  da 
sciMKÍa  ama  seria  attenção.e  ser-aos-ha  facQdemoQSlral-o 
buçaodo  um  volver  d' olhos  sAbre  mais  esta  fonte  de  co- 
ahecimralos,  que  tem  por  títtilo  :  CoUeção  de  vcuiat 
memoriai  iobre  vinte  e  dua$  etpecuã  de  qmnat. 

Encontrámos  na  sua  dedicatória  a  El-rei  o  Snr.  D .  JoSo  VI, 
entáo  Príncipe  Re^nte,  dois  paragraphos,  em  um  dos  qaaes 
exprime  seu  peoBamento  sabre  a  espinhosa  tarefa  do  botâ- 
nico; e  no  outro  um  serviço  prestado  por  S.  A.  Real,  e  para  o 
qual,  embora  não  o  confesse,  concorreu  elle  efficazmente 
com  os  seus  escriptos ;  ouçsmol-o  : 

*  Não  é.  Senhor,  o  brando  leíto  o  que  constituo  o 
caracter  do  botânico  pratico  e  activo.  Candidatos  de  Linnéo, 
devem  ir  ao  seu  alcance.  Eu  rodeei,  diz  elle,  e  subi  a  pé  as 
nevoadas  serras  da  Lsponia,  montei  as  desabridas  cabeças 
dos  montes  de  Norlandia,  palmilhei  as  suas  collinosas 
ladeiras,  e  penetrei  as  suas  intrincadas  matas.  > 

Outro  paragrapho : 

■  A  gloria  omnímoda  que  caraclerízará  o  reinado  de 
T.  A.  Real,  nos  assegura  esta  feliz  descoberta,  como  um 
facto,  que  se  deve  esperar  com  moral  confiança.  Já  não 
são  amostras  de  salitre  as  que  vôm  do  Brasil,  mas  sim 
arrobas.  Não  é  de  um  uoíco  lugar,  é  de  muitos  que  tem 
vindo.  E  assim  de  todos  os  outros  géneros. 

«  Eu  me  congratulo  do  feliz  effeito  das  reaes  ordens  de 
V.  A.  Real. 

«  Eu  estou  certo  que  por  outro  feliz  effeito  das  mesmas 
gozaremos  dentro  em  pouco  tempo  d' este  soberano  donativo 
da  natureza,  que  n&o  tem  outro  que  o  sobrepuje  na  sua 
prestan^.  ChÍDe-China(dizWerIhof}Divi[ue  Providentis 


Dictzedby  Google 


moDos,  qnuin  nihil  adhac  supper  Notara,  vel  ars  simula 
exhibuerit.> 

Mo  caracter  genérico  da  qatoa  notámos  uma  dtfferença 
Da  glossologia ,  que  nio  concorda  muito  com  o  modo  actual 
de  indicar  certos  caracteres  botânicos. 

Na  familia  dasrubiaceas,  á  qual  pertencem  as  quinas,  a 
ipecacuanha,  o  café,  e  outras  plantas,  o  cálix  é  sempre 
gamosepalo.islo  é,formado  por  um  certo  numero  de  sepalos 
soldados  entre  si  até  uma  certa  altura,  e  a  parte  não  sol- 
dada constitua  o  limbo ;  de  uma  corolla  gamopetala  ;  de 
eslaiues  epigyuios  ;  e  de  ura  ovário  sempre  infere. 

Velloso  exprime  estes  caracteres  de  um  modo  differente; 
4  Cilh:  {periando,  ou  capulho  da  fl6r)  é  uma  folha; 
mui  curto,  acampainhado  [a],  fendido  em  cinco  partes  agu- 
das, como  dentinhos,  e  qae  cortam  o  gérmen,  (ou  rudi- 
mento dn  cavinha)  ainda  ao  depois  de  sAcco.  Corolla  :  de 
um  só  pelalo  afunilado  {b).  ■ 

Em  lugar  de  estames  inclusos :  eatames  eseon^dos  dentro 
da  garganta  do  tubo.  E  outros  termos  que  hoje  sio  substi- 
taidos,  e  que  t£m  a  vantagem  de  resumir  melhor  os  pontos 
distinctifos  de  qualquer  órgão.  O  terceiro  e  quarto  ver* 
ticillo  estão  comprehendidos  Q'esta  descripção,  assim  como 
o  pericarpio  e  as  sementes,  com  a  sua  glossologia  particular. 

Lendo  o  caracter  genérico  da  quina,  concluímos  que  o 
fructo  é  dehiscenie,  sécco,  polyspermo  e  bi-locular ;  e  que  a 
dehiscencia  é  septicída,  isto  é,  pela  sutura  ventral  ou  afas- 
tamento dos  bordos  de  cada  folha  carpellar. 

Tudo  isto  exprime  Velloso  por  outros  termos  que  não 
são  usados  actualmente.  Mais  uma  deficiência :  os  géneros 
einchona  das  quinai,  e  eephelis  da  ipecacuanha,  lambem 

(a)  Canpanolado. 
tb)  Iníundibulifonne. 


D,c,t,zedbyG00g1« 


-  IW  -  . 

dífliSTem  p^i  infloresceoeis :  copitolo  para  a  segunda,' 
racimo  pars  a  primeira  ;  eatretaoto  não  foi  este  facto  men 
cionado  dob  caracteres  genéricos  das  qninss. 

Pata  apreciar-se  devidamente  esle  útil  trabalho  sen 
DOcessario  que  nos  afastássemos  dos  limites  dentro  dos  quae 
deve  gjrar  a  mão  do  biogrspbo,  analisando  pagina  pc 
pagiDa,  e  deroorando-nos  em  apresentar  todos  os  pre 
dicados  que.em  Dumero  avultado,omamentam  esta  prodac 
(io.  CoDlentar-nos-hemos,  pois,  em  indicar  os  pontos  mai 
essenciaes  dos  estudos  das  diversas  quinas,  Uo  bem  collet 
cionadas  pelo  padre-mestre  Fr.  Velloso. 

A  quina  officioal,  cinchona  officmoXiM,  occupa  o  primeir 
lugar  na  ordem  das  descripções  quiaographicas.  Todos  o 
seus  príncipaes  órgãos  estão  iacluidosna  exposição,  princi 
piando  pelo  tronco,  cujas  dimensões  slo  apontadas,  assio 
como  os  traços  que  distinguem  a  casca,  como  sejão  :  a  cõr 
grossura,  gretamento,  rarnosidade  e  aspereza.  Os  impor 
tantes  meios  para  o  reconhecimento  da  quina  d'esta  especif 
são  apontados  por  menor  e  com  todo  o  cabimento,  por- 
quanto ninguém  ignora  os  serviços  que  ella  tem  prestado,  t 
continuara  a  prestar  na  cura  das  enfermidades,  para  as 
quaes  é  considerada  como  o  primeiro  dos  remédios.  Todas 
estas  circumstancias  augmeolam  a  importância  doestas  labo- 
riosas pesquiza8,e  auxiliam  efScazmente  a  quem  entrega-se 
por  amor  ao  útil  estudo  dos  seres  organizados  do  reino 
vegetal. 

O  gretamento  transversal,  a  aspereza  e  escabrosidade  são 
elementos  que  distinguem  a  casca  da  melhor  quina  d'ests 
espécie ;  assim  como  outros  traços  tirados  da  cõr  exterior  e 
interior,  qne  variam  :  poUegada  e  meia  para  grossura  ;  uma 
linha  paraa  espessura  da  parte  carnosa;8COOSÍstencia  com- 
pacta ;  o  sueco  gommoso  e  resinoso ;  aroma  bem  pronun- 
ciado ;  fractura  da  casca;  e  sabor  amargo.  A  presença  do 


Dictzedby  Google 


-  185  — 

prioeipio  activo  fuinttta,  no  envoltório  cellular  das  qui- 
nas, ou  cascarilbas  comoaschamaTam.quelaotoas  recom- 
menda  pela  sua  propríeclade  aoti-febril,  justifica  a  mi- 
nnciosidade  que  todos  observavam  do  estudo  doestas  cascas. 
Vem  em  segundo  lugar  a  quina  delgada,  ou  dnehona 
temas,  que  tem  as  folhas  meoores  e  mais  carnosas  do  que 
qualquer  das  outras.  Observa  o  mesmo  melhodo  na  des- 
cripção  d'esta  espécie,  que  nio  se  vulgarizou  tanto  pela 
difiiculdade  com  que  extrabiam  a  sua  casca. 

A  quina  lisa,  cinchona  glabra,  que  os  kespanhóe»  deno- 
minavam cascarilho  bobo,  por  lhe  faltar  d%  suas  cascas  a 
e&r  exlema  e  interna,  tão  communs  nas  outrai  espécies,  e 
çue  habitam  em  lugares  montanhosos^  é  tão  util  á  medi- 
cina, como  qualquer  das  duas  plantas  precedentes,  embora 
alguns  contestassem  este  facto. 

Outro  tanto  não  acontece  com  a  quinamorada,  cincho- 
na purpúrea,  como  se  poderá  ver  pelo  seguinte  trecho,  que 
transcrevemos  :  c  Os  cascareíros  misturam  as  cascas  doesta 
espécie  com  as  das  três  anteriores,  e  assim  as  vendem  aos 
commerciantes  ;  pois  são  mui  ratos  os  que  as  saibam  dis- 
tinguir com  perfeição  ;  mas  os  mesmos  cascareiros  e  peões, 
pelo  uso  e  pratica  que  tdm,  as  distinguem  com  muita  fa- 
cilidade. > 

Sem  embargo  de  que  estas  cascas  nío  estejam  admittí- 
daspor  si  sós  no  commercio,  podem  muito  bem  snpprír  a 
falta  das  três  antecedentes  pela  efficacía  da  sua  virtude  me- 
dicinal, ainda  quando  os  facultativos  e  droguistas  as  pre- 
ferem ás  outras  anteriores  ;  no  que  se  equivocam  e  não 
procedem  com  a  intelligencia  que  deviam  ter  n*esta  parte  ; 
pois  ainda  que  a  cdr  interior,  cheiro  e  sabor,  requisitos 
principaes  doestas  cascas,  sejam  muito  bons,  é  necessário 
para  aa  qualificar  de  superiores,  qoe  correspondam  seus 

TOMO  XXXJ,  P.    II  24 


Dictzedby  Google 


—  186  — 

effeiíos  depois  de  ama  contiDuada  experíeacia  ao  apreço, 
que  d'eUa  fazem  e  á  superioridade  que  lhe  querem  dar.  ■ 

Em  todo  o  caso  é  um  regelai  util,  e  tauto  o  reconhece, 
que  o  descreve  com  a  mesma  minuciosidade,  não  esca- 
paodo-lbe  todos  os  sigoaes  distioctivos  do  envoltório  corti- 
cal dos  melhores  iodividuos  d'esta  espécie. 

Segue-se  a  quina  amarella,  ànchona  Uitetcent  (de  cuja 
descrípçSo  também  abstrahiremos),  e  que  D'aquella  épocha 
Dão  figurava  com  igual  valor  no  commercio,  sendo 
certo  que  seu  extra  cto  fora  applícado  com  vaolagem  no  tra- 
tamento de  certas  enfermidades. 

A  quina  pallida,  cinchona  palescena,  prima  como  a  pre- 
cedente, pela  grandeza  das  folhas ;  mas  a  sua  casca  oio 
era  admittida,  o  que  prova  a  sua  menor  importância  rela- 
tiva. E  o  respeito  da  çuina  partia,  cíncAona^ca,  escreveu 
o  illustre  autor  :  ■  Até  hoje  não  tem  uso  algum  em  medi- 
cina, nem  ainda  os  iudíos  a  reconhecem  por  quina. 

I  Quando  esta  arvore  está  em  flor  faz  uma  formosa  vista, 
pela  abundância  das  suas  fiares  racemosas,  e  pela  frondo- 
sidade  de  suas  folhas.  As  índias  se  servem  d'aquel[as, 
para  ornarem  as  suas  imagens  e  capellas. 

t  E'  perseguida  por  uma  espécie  de  formigas,  a  que  os 
DBluraes  chamam  tragineiras,  isto  é  carregadeiras  ou  ar- 
rieiras. Do  uão  que  estas  fazem  das  suas  folhas  se  iafere 
que  ellas  terão  alguma  virtude,  que  não  sabemos.  ■ 

Quaotos  beneficios  não  tem  colhido  a  sociedade  do  co- 
nhecimento d'esta  planta,  que  todos  consideram  como 
maravilhosa  nas  applicações  therapenticas  ?  Como  osta 
existirão  muitas  outras,  de  grande  utilidade  para  a  huma- 
nidade, disseminadas  pelo  interior  das  nossas  florestas, 
que  ainda  não  foram  exploradas,  e  que  não  serão  tão  cedo 
por  ser  mui  limitado  o  numero  de  pessoas  que  não  duvi- 


Dictzedby  Google 


—  187  - 

dam  sacrificar-se  pelo  estudo  dos  productos  do  nosso  fortíl 
e  extenso  território. 

A  parte  menos  completa  doeste  trabalho  é  a  que  se  refere 
á  aaaijse  cbimiea  da  quina;  por  isso  que,  pelos  conbeci- 
menles  que  tinham  da  analyse,  que  depois  aperfeiçoou-se 
d'um  modo  admirável,  apenas  puderam  determinara  exis> 
tencia  d'algumss  substancias,  que  foram  encontradas  nos 
licores  que  restaram  d'6lgumas  experiências  pretimioares, 
e  em  que  se  fizeram  as  decocções. 

Quem  recorrer  á  cbimiea  orgânica  de  Justus  Liebig, 
volume  S°,  pagina  575  e  seguintes,  ficará  sciente  do  quanto 
se  sabe  a  respeito  do  alcalóide  quinina,  sdbre  o  estudo  do 
qual  não  encontramos  uma  única  palavra  na  obra  que  pre< 
sentemente  díscatimos.  Esta  aponta  simplesmente  a  mu- 
cilagem,  muriato  calcareo,  magnesia,  greda,  acido  gallico, 
potassa  e  ferro,  como  princípios  dos  licores  que  analy' 
saram.  Jfustus  Liebíg  começa  dando  a  composição  da  qui- 
nina C."  H."  N.^  O.',  isto,  é  a  natureza  dos  componentes, 
carbono,  hjdrogenio,  azoto  e  oxigénio,  e  as  proporções 
em  que  elles  sa  unem  para  formar  o  composto  quaternário 
conhecido  por  qmnina.  Expõe  o  processo  que  se  deve 
seguir  para  obtél-a,  a  sua  crystallização,  os  meios  para  se 
reconhecer  si  uma  especía  do  quina  poderá  fornecer  uma 
maior  ou  menor  dose  do  principio  activo,  por  ser  lacto 
sabido  que  algumas  apenas  a  contém  em  tão  pequena 
quantidade  que  não  vale  a  pena  ser  extrahida ;  meio  de 
separar-sa  o  alcalóide  do  acido,  com  o  qual  pôde  estar 
combinado,  assim  como  com  uma  matéria  corante  de  cdr 
vermelha;  acção  dos  alcalis  mineraes  sabre  ella,  como  se 
comporta  peta  acção  do  calor  e  d'agua,  suas  propriedades 
(undamentaes ;  acções  dos  ácidos  sulfúrico  e  nítrico,  da 
potassa  e  do  álcool,  propriedades  dos  saes  de  quinina,  e 
meios  de  obtel-os,  hydrochiorato  de  quinina,  chlorato. 


ídbyGodgíi^ 


—  188  — 

hydriodalo,  iodatOi  sulfato,  byposulfato,  pbosphato,  oxslato 
básico,  tartratos,  citrato,  ferro-cyanbydralo,  acetato,  gal- 
lalo  e  qainato  da  quiaioa. 

Deseavolver  ídéas  Ião  importantes  seria  repetir  o  que 
Liebig  explica  com  proficiência  na  sua  obra  citada.  Bastam 
estes  apontamentos  para  que  se  confronte  o  estado  de 
adiantamento  d'estes  conhecimentos  com  os  que  existiam 
na  épocba  em  que  os  principies  activos  das  plantas  medi- 
cinaes  jaziam,  pela  maior  parte,  na  mais  absoluta  obscu- 
ridade. Assim  como  os  antigos  gregos  consideravam  como 
pernioiosai  todas  as  plantas,  que  hoje  em  lugar  de  matar 
curam,  também,  mas  com  menos  ignorância,  os  homens 
do  fim  do  século  passado  souberam  das  virtudes  parti- 
culares de  certos  vegetaes  d'um  modo  puramente  empy- 
rico,  levando-se  unicamente  por  um  certo  numero  de 
tentatÍTas,  sem  indagar  scientificamente  quaes  os  corpos 
que  communicam  tão  maravilhosas  propriedades  As  plantas 
que  os  contam. 

Estas  redexões  nos  foram  suf^erldas  pelo  desejo  ardente 
e  sincero  de  sermos  exacto  na  apreciação  d' este  trabalho 
succulento,  exaltando  as  suas  boas  qualidades,  e  apresen- 
tando algumas  lacunas  que,  em  grande  parte,  provém  do 
estado  menos  perfeito  das  sciencias,  que  elles  cultivaram. 
O  adiantamento  diurna  sciencia  não  deixa  os  traços  mais 
profundos  da  sua  marcha  progressiva  senão  no  decorrer 
dos  séculos ;  e  percebe-se  o  seu  maior  ou  menor  estado 
de  perfeição  recorrendo-se  á  historia,  que  nos  attesta 
todas  as  phases  de  seu  desenvolvimento  e  os  inlervallos 
de  tempo  que  as  separam.  Os  nossos  vindouros  farão  o 
mesmo  raciocínio  quando  quiserem  compenelrar-se  do 
estado  actual  dos  nossos  conhecimentos,  comparsudo-os 
com  os  que  possuírem  sobre  qualquer  dos  productos 
creados  pela  íntellígencia  superior  que  nos  dirige. 


Dictzedby  Google 


—  189  — 

Voltemos  á  qaíoographia  do  nosso  illustre  compatriota, 
e  vejamos  outros  elementos  que  ella  coDtém,  e  dos  qaaes 
aioda  não  dos  occupámos. 

Tudo  quanto  falta-nos  mencionar  consiste  ainda  na 
descripção  d'outras  espécies  de  quinas,  exaltação  das  pro- 
priedades d'BqueUa8  que  as  possuem,  os  lugares  d'onde 
foram  tiradas,  traços  exteriores  que  as  distinguem,  e  apon- 
tamentos sdbre  os  seus  usos.  Ãs  quina»  colorada  ou  ver- 
melha, a  quina  da  Jamaica,  e  de  Santa  Luxia  ou  quina 
pitou,  completam  a  primeira  parte  d'esta  memoria ;  so- 
bresahindo  a  ultima,  que  o  autor  reconhece  coara  ums 
verdadeira  quina,  depois  de  examinar  os  caracteres  dis- 
tinclivos  dos  principaes  órgãos ;  e  também  como  uti)  á 
medicina  pelos  resuUados  que  alguns  colheram  da  analyse 
da  casca,  e  das  curas  que  obtiveram.  Não  daremos  asta 
analyse  em  sua  íntegra  por  julgarmos  desnecessário;  mas 
convém  saber  que  por  ella  concluíram  que  a  agua,  fria  ou 
aquecida,  basta  para  extrabir  os  principios  activos;  qae 
existe  um  principio  adstringente  nas  camadas  corticaes  ; 
existência  de  aroma,  ausência  de  matéria  salina  e  Terru- 
gínea.  E  dos  sem  usos  como  remédio  concluem  que  é 
purgativo,  que  sua  acção  é  prompta,  útil  nas  febres  inter- 
mittentes,  etc. 

Muitas  memorias  encontramos  a  respeito  da  quina  de 
Santa  Luzia,  e  por  ellas  passaremos  sem  observação  alguma, 
assim  como  sAbre  outras  espécies  do  género  cíncbona, 
conhecidas  por  quinas  espmhotas  de  Santa  Fé,  alaran 
jada,  pmujenta,  rAxa  e  branca,  que  nio  occupam,  pela 
maior  parte,  um  lugar  tão  distíncto  como  as  precedentes. 
N'este  numero  incluiremos  também  as  quinas  de  folha 
estreita,  corimbeira,  quina  real,  de  Surinaro,  de  três 
Qdres,  sobre  florida,  de  pequeno  fnicto. 

Ao  todo  33'especies,  muitas  das  quaes  merecem  menção 


Dictzedby  Google 


—  190  — 

especial  por  sens  notáveis  attríbutos,  e  pelo  immeDso 
aaiílio  qoe  t£m  prestado  á  therapeutica  como  remédios 
efficazes  eootra  a  permanência  de  certas  enfermidades. 

Estas  sio  as  quinas  chamadas,  por  Yelloso,  verdadeiras, 
para  distiagaír  de  outras  plantas  conhecidas,  «té  certo 
tempo,  peto  mesmo  nome,  e  que  hoje  são  designadas  por 
falsas  quinas,  como  a  carqueija  do  Brasil,  planta  resinosa 
e  medicinal;  a  guinado  Píaoh;  ou  quina  ciregeira,  envia- 
da para  a  cArte  de  Lisboa  por  ordem  do  rei  o  Snr.  D.  João  VI; 
e  outra  que  habitava  em  toda  a  costa  do  Brasil,  e  cuja 
casca  (Ara  applicada  contra  as  sezões,  na  provincia  de 
Pemambaoo;  e  a  quina  d«camamú,  que  foi  remettida  pelo 
governo  da  Bahia,  e  mtregue  em  Lisboa  no  musâo  do 
Real  Jardim  d'Ajuda.  As  quinas  do  campo  também  são 
plantas  anti-febris.  (Slrychnos  pseudo-quina) ;  solanum 
pseudo-quina ;  exostemmas;  evodia. 

A  ultima  parte  d'esle  trabalho,  de  tão  alto  merecimento, 
consiste  na  indicação  do  meio  pelo  qual  se  deve  certificar 
do  bom  estado  da  planta,  cuja  casca  tem  de  ser  destacada 
para  os  usos  convenientes.  Apresenta  a  cAr  roxa,  que 
adquire  o  interior  doeste  envoltório  quando  praticam-se  in- 
cisões nos  ramos  e  no  caule,  como  indicio  certo  de  que  o 
principio  adstringente  e  os  suecos  gommoso  e  resinoso 
estio  completamente  formados.  Quando  não  se  satisfaz  a 
esta  condição,  todos  os  requisitos  citados  anteriormente 
deixam  de  existir,  ou  não  se  patenleam  do  mesmo  modo. 
Todas  as  outras  considerações  referem-se  aos  processos  e 
instrumentos  necessários  para  obter-se  a  parte  da  planta 
que  preenche  o  fim  humanitário  em  que  já  falíamos. 

Eis,  em  substancia,  um  dos  fructos  dos  constantes  tra- 
balhos de  Pr.  Velloso.  Sempre  prompto  a  obedecer  aos 
dictames  do  espírito  nimiamente  patriótico  do  seu  pro< 
tecior  S.  A.  Real,  procurou  reunir  todos  os  trabalhos  par- 


Dictzedby  Google 


—  191  — 

cises  reUtiTOi  i  esta  planta  maraTÍlhoM,  cujos  bene&cios 
tio  reconhecidos  e  atlestadoa  pelos  cultores  das  scieucias 
medicas. 

Weddell,oaotor  moderuoda  historia  natural  das  quinas, 
OD  da  monograpbia  do  género  cinehona,  resultado  das  suas 
excursões  pelo  território  daimerica  do  Sul,  em  um  raio 
de  latitude  de  S9*  (extensão  geographica  das  verdadeiras 
cincbonas),  exclue  algumas  espécies  estabelecidas  a  men- 
cionadas por  Telloso,  e  as  substituo  por  outras  que  oc- 
cupam  hoje  o  primeiro  lugar  na  extensa  lista  das  plantas 
doeste  género  de  rubisceas.  A  einehona  caliiaya,  e  a  es- 
pécie congénere  C.  condamínea,  são  as  mais  importantes, 
segundo  o  pensamento  de  Weddell,  e  constituem  a  princi- 
pal riqueza  de  exportação  dos  terrenos  de  algumas  repu- 
blicas do  Pacífico.  &  sua  cultura  nas  colónias  neerlandesas 
e  nas  Índias  inglezas  é  boje  um  facto  consummado,  que 
deveria  'ser  imitado,  e  em  grande  escala,no  território  brasi- 
leiro, para  que  possamos  enviar  um  dia  ao  commereio  do 
estrangeiro  esta  immensa  riqueza  tberapeutica. 

Valioso  reconheceu  a  importância  das  quinas.  Weddell 
ordenou  o  seu  estudo  botânico,  alterou-o,  amplificou-o. 
St.  Hilaire  transmiltiu  aos  europfios  alguns  substitutivos 
anti-febrís,  dos  terrenos  do  Brasil,  laes  como,  a  guina 
do  campo,  a  larangeira  do  maio  (evodía  febrífuga],  o  so- 
lanum  pamdo  quina,  e  outras,  sAbre  as  quaes  deve  reca- 
hira  altenção  dos  médicos. 

CAPITULO  IX 

Os  serviços  prestados  pelo  nosso  conspícuo  compatriota 
com  a  iraducção  do  Compendio  sobre  a  Canna,  do  medico 
francez  Dulrone,  foram  recahir  sobre  a  lavoura,  que  ainda 
luta  hoje  com  todos  os  inconvenientes  da  rotina. 


DictzedbyGoOgtS 


—  192  — 

Attendamos  ao  uliíino  paragrapho  d«  sua  dedintoria  ao 
Priocipe  R^nte : 

■  Mas  eu  devo  confessar  juoto  ao  throoo  de  V.  A. 
Real,  que,  apezar  da  imperfeição  da  minha  traducção, 
tem  sido  tal  o  effflito  das  soberanas  e  efficazes  ordens  de 
V.  A..  Real,  que  os  povos  do  Brasil  se  tém  acoro- 
çoado  a  grandes  reformas  oas  suas  praticas  ruraes.  Os  Ta- 
brícantes  de  assacar  I4m  melhorado  as  saas  moendas,  e 
fornalhas  por  toda  a  soa  marinha,  e  a  sua  notória  utilidade 
acabará  a  obra.  Si  eu.  Senhor,  tenho  recebido  cartas  de 
pessoas,  que  me  são  desconhecidas,  de  agradecimento, 
sendo  d'isto  um  instrumento  meramente  passivo,  quaoto 
ntodeve  ser  a  obrigação  para  com  V.  A.  Real,  á  cuja 
illuminada  providencia  tudo  se  deve  t  ■ 

Basta  lèr-se  um  parecer  da  Academia  Real  das  Sciencias 
com  data  de  Si  de  Maio  de  1788,  assignado  por  Darcet, 
Fougeroui  deBouderoy,  e  Bertholet  de  Fourcroy,  assini 
como  o  decreto  da  faculdade  de  medicina  na  Universidade 
de  Paris,  para  preparar  o  espirito  de  modo  a  receber  as 
impressões  agradáveis  de  um  livro  tão  interessante,  que  os 
homens  mais  entendidos  rscommendavara  a  sua  leitura,  e 
a  realização  das  idéas  nVIe  indicadas  com  esmero  e  pro- 
ficiência. 

O  primeiro  capitulo  é  consagrado  á  historia  minuciosa 
da  canna  e  do  assucar  ;  reconhece  as  índias  Orientaes 
como  sua  pátria;  a  sua  cultura  pelos  chins,  egypcios, 
phenicios,  e  por  outros  povos  que  com  ella  commercia- 
vam ;  e  outras  muitas  circumstanclas  que  esclarecem  a  sua 
disseminação  por  differentes  pontos  do  globo,  com  a  ex- 
posição dss  pessoas  que,  desde  épochas  bem  remotas, 
coDlribuiram  para  qu»  ella  se  divulgasse  e  Tosse  conhecida 
dos  habitantes  de  outras  parles  do  mundo,  que  ainda  nSo 
tinham  aproveitado  do  seu  beneficio. 


Dictizedby  Google 


£'  uma  fonte  rica  de  coabecirnsiitos  históricos,  a  que 
de?e-se  recorrer,  com  certeza  de  BproYeitamento  e  utili- 
dade. 

Lembra-D03  uma  idéa  quenno  eacontramos  oa  exposi- 
ção que  elle  fez  do  caule  da  caona,  seus  nós,  entrenós, 
folhas,  reproducçío  por  estaca,  raízes,  etc.  Anaiysaado  a 
casca  nada  diz  sobre  a  existência  da  silica,  que  também  é 
commum  em  outras  gramíneas,  e  que  por  ser  iafuslvel  é  a 
uDÍca  causa  de  não  alterar-se  ptofundamente  qualquer 
doestas  cascas  depois  de  uma  forte  calcinação  :  a  sua  forma 
primitiva  subsiste.  N3o  podendo  penetrar  pelas  raizes  de 
qualquer  vegetal  senão  os  princípios  cbímicos  que  se  po- 
derem dissolver  completamente  n'agua  que  os  tem  de  con- 
duzir, devemos  concluir  da  presença  da  sílica  no  interior 
das  plantas  que  ella  é  solúvel,  no  quo  muitos  nno  acredi- 
tavam até  certo  tempo. 

Os  nós  do  um  colmo  tãm  uma  tal  ou  qual  importância 
na  physiologia  das  plantas  ;  bnstn  considerar-se  que,  sendo 
elles  o  resultado  de  incruslnções  miiieraos,  produzem  a 
estagnação  de  uma  parte  da  seiva,  que  tem  de  circular  por 
todo  o  vegetal  a  fim  de  nulril-o  convenientemenle.e  por  este 
facto  os  gomoaosque  ahi  se  formam  vão  nulríndo-se  á  custa 
doeste  deposito  de  alimento,  até  que  as  necessidades  da 
planta  os  obriguem  a  expandír-se  em  ramos  e  folhas,  ou, 
como  na  canna,  em  um  novo  colmo  contendo  a  todos  os 
órgãos  superiores,  quando  se  introduz  na  terra  um  frag- 
mento do  mesmo  caule. 

Estas  duns  observações  escaparam  á  dissertação  de  Du- 
trone.  Convém  agora  estabelecer  com  a  maior  clareza  po»- 
sível  uma  proposição  por  elle  enunciada  e  de  algum 
modo  desenvolvida,  que  no  estado  actual  dos  nossos  co- 
nhecimentos deve  ser  qualificada  da  inexacta,  porque  fere 

TOHO   XXXI,    P.    II  25 


Dictzedby  Google 


oa  prÍDcipios  fundamenUes  da  chimica  agrícola  e  uma 
das  bases  da  physiología  vegetal. 

Procuremos  ser  exacto  na  aprecia{4o  que  fizermos.  Vel- 
toso,  D'esta  traducção,  yaleodo-se  das  experiências  de  Du- 
hamel  e  Bayle,  nega  que  a  terra  intervenha  com  os  elemen- 
tos que  a  compõem,  na  vida  das  plantas,  a  não  ser  con- 
servando e  cvdendo  a  agua  ao  poder  absorvente  das  raízes, 
a  qual  penetra  no  vegetal  sem  conduzir  nenhum  dos  cor- 
pos componentes  do  terreno,  que  supporta  o  mesmo  vege- 
tal. Qual  o  fundamento  para  tal  opinião?  Exp6l-o-hemos 
em  breves  palavras. 

Bayle  seccou  uma  porção  de  terra  vegetal,  e  fez  germi- 
nar algumas  sementes  de  uma  planta  das  cucurbitaceas  ; 
pezou-a  depois  do  crescimento  da  planta,  e  não  achou  que 
ella  tivesse  diminuído. 

Duhamel  fez  germinar  em  esponjas  ensopadas  semen- 
tes do  castanheiro  e  amendoeira,  e  obteve  individues  que 
fizeram  progressos  tão  grandes  nos  primeiros  annos,como 
se  tivessem  sido  ereados  em  ferra.  Um  carvaUta  subsistiu 
por  oito  annos.  PPesta  idade  tinha  de  quatro  a  cinco  ramoi 
que  sahiam  de  uma  haslea  de  dezenove  linhas  de  circumfe- 
rencia  e  de  dezoito  pollegadas  de  altura,  O  lenho  e  a  casca 
estavam  bem  formados,  e  todos  os  annos  se  cobriam  de 
bellas  folhas.  Estas  pequenas  arvores,  submettidasa  ana- 
lyse,  deram  os  mesmos  productos  que  outras  pequenas  ar^ 
vores  da  mesma  idade,e  da  mssma  espécie  que  foram  erea- 
dos comparativamente  em  pura  terra. 

1*  OBJECÇÃO.—  Nos  numerosos  estabelecimentos  agrí- 
colas de  Campos  foi  sempre  cultivada,  e  com  vantagem,  a 
canna  de  Cayenna,  de  preferencia  á  canna  râxa,  porque 
aquella  continha  muito  maiorquantidade  de  matéria  sac- 
charina.  Mas  hoje  qual  é  o  lavrador  que  não  apressa-se  om 
substituir  a  primeira  pela  segunda,  convencido  da  ínuttU- 


Dictzedby  Google 


dade  da  que  oulr'ora  era  a  fonie  uaica  do  assucar  pop 
ellos  exportado  7  Qual  a  explicação  d'este  facto  ?  Os  terre- 
nos em  que  ella  foi  cultivada  ficaram  exhaustos  porque 
tiveram  de  ceder,  por  muitos  annos  consecutivos,  os  pria- 
cipios  chimícos  indispensáveis  ao  crescimento  da  canoa 
cayanna.  Por  perdas  pwciaes,  durante  muitos  annos,  tor- 
nou-se  impróprio  paraa  cullara  doesta  planta  ;  e  a  agricul- 
Xura,  n'este  bello  torrão  da  província  do  Rio  de  Janeiro, 
não  seria  mais  uma  realidade,  si  os  lavradores  nâo  tives- 
sem lançado  mão  da  canna  rôiji,  que  pôde  viver  no  mesmo 
terreno,  á  custa  dos  elementos  que  nSo  foram  utilizados 
pelo  outro  vegetal.  Mas,  si  os  processos  para  a  fertilização 
do  solo,  nâo  forem  por  elles  aproveitados,  tempo  virá  em 
que  o  mesmo  terreno  tornar-se-ha  completamente  estéril 
para  esta  ultima,  como  já  o  ó  para  a  primeira. 

3*  OBJECÇÃO. —  Em  consequência  de  perniciosa  rotina 
dos  nossos  fazendeiros,  desde  que  um  terreno  não  se 
presta  mnisá  cultura  de  uma  planta,  elles  o  abandonam 
por  algum  tempo,  convencidos  de  que  poderá  adquirir  a 
sua  primitiva  fertilidade,  após  um  descanso  de  quatro  ou 
cinco  ou  mais  annos.  Qual  será  a  explicação  scientifíca 
d'esle  facto  ?  As  rochas  existentes  no  terreno  vâo  desaggre- 
gando-seedecompondo-se  soba  influencia  da  humidade 
e  dos  agentes  atmospliGricos,  e  as  matérias  que  resultam 
dissolvem-se  na  agua,  e  são  transportadas  para  differontes 
pontos  do  terreno  eihauslo,  enriquecendo-o,  e  sanando 
assim  asfaltas  produzidas  pelas  successivas  culturas  de  um 
mesmo  vegetal.  A  planta  que  não  pódpmais  viver  no  pró- 
prio terreno,  em  que  por  muitos  annos  deseovolveu-se 
com  todo  o  vigor,  e  que  após  o  lapso  de  tempo  em  que 
tém  lugar  as  acções  cbímicas  que  citamos,  continua  a 
prosperar  no  mesmo  solo  por  ella  exhaurido,  não  attesta  do 
modo  o  mais  evidente  que  a  sua  conservação  e  o  seu  cres- 


Dictzedby  Google 


_  196  — 

«moito  dependem  em  paile  dos  elementos  de  que  elle  se 
compõe? 

3'  OBJECçiLo. —  CalcÍDando-sa  a  raiz,  o  lenho,  a  casca, 
os  ramos  e  as  folhas,  emRm  qualquer  órgão  de  uma  plaala, 
despreodem-se  acido  carbónico,  vapor  d'8gua  e  outros 
gazes,  obtem-se  um  excesso  de  carvão  que  oão  se  volatili- 
zou, e  ciuus  que  são  íormadas  exclusivamente  por  princí- 
pios mineraes. 

Aconselham  os  homens  de  sciencia,  como  elementos 
fertilizadores,  não  só  as  partes  da  planla  de  mais  fácil  de- 
composição, como  principalmente  as  cinzas,  porque  estas 
restituem  ao  teneno  os  saes  que  lhe  foram  roubados  pela 
propria  planta,  que  tem  de  ser  novamente  cultivada. 

4'  OBJECÇÃO.  —  Os  homens  práticos  sabem  perfeita- 
mente que  uma  terra  que  se  tornou  estéril  para  um  vegetal 
é  muito  adequada  á  vida  de  outros,  que  elles  procuram 
cultivar,  obtendo  vantajosos  resultados.  Este  facto,  que  a 
sciencia  prevft,  e  que  a  pratica  conQrma,  prova  exube- 
rantemente que  em  um  mesmo  terreno  existem  diversos  ele- 
meatos,  os  quaes  não  são  absorvidos  por  uma  mesma 
planta  ;  os  que  convém  a  uma  podem  não  servir  a  outra; 
no  primeiro  caso  penetram  em  dissolução  na  seiva,  e  no 
segundo  são  abandonados,  e  íicam  como  elementos  de 
fertilidade  para  outra  qualquer  planta  que  d'elles  necessita. 

5*  OBJECÇÃO.  —  Nas  plantas  que  vegetam  nas  proximi- 
dades do  mar,  a  aualyse  chimíca  accusa  geralmente  uma 
dose  mais  ou  menos  avultada  de  chiorureto  de  sódio  ;  e 
nas  que  vivem  em  pontos  longínquos  da  custa,  encontra-se 
ausência  de  saes  de  sodia  e  mais  abundância  de  saes  de 
potassa. 

A  primpira  não  poderá  viver  no  terreno  em  que  a  se- 
gunda deseovolver-se,  nem  esta  na  da  primeira,  ó  isto 
exacto  para  alguns  vegeíaes.  A  vida  de  cada  uma  (festas 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  IW  — 

plantas  oio  eslará  em  relação  immediata  com  os  compos- 
tos cbimicos  que  coosUtuem  a  differeoça  fundamental  dos 
dois  terreoos,  i  custa  dos  quaes  ellas  alimentaiam-se  ? 

6'  oBJBCçiLo.  —  D'oQde  tiram  as  plantas  o  acido  carbó- 
nico para  a  sua  subsistência  e  deseoTolTÍmeoto  ?  Nfto  é 
somente  da  atmosphera  pela  influencia  da  luz.  Todos  os 
carbonatos  que  penetram  no  vegetal,conduzldos  pela  agua, 
cedem  o  seu  acido  carbónico,  que  é  decomposto  nas  fo- 
lhas pela  influencia  do  mesmo  agente.  As  matérias  orgâni- 
cas, que  accumulam-se  na  terra,  a  que  tanto  a  fertilizam 
pela  acção  do  oxj^genío  do  ar,  que  pôde  banhar  as  raizes, 
quando  o  terreno  é  fdfo.se  pulrefazem,  e  o  acido  carbónico 
é  um  dos  productos  d'esta  acção  chimica.  Estes  priocipios 
são  arrancados  do  solo  pelos  fibras  radicaes. 

7*  oBJECç\o.  —  À  caseína  tem  por  elementos  componen- 
tes :  o  oiygenio,  hydrogenio,  azoto,  carbono  e  enxofre;  a 
fibiina  :  os  quatro  primeiros,  com  uma  molécula  de  en- 
xofre e  uma  de  pbosphoro;  e  a  albumina,  além  dos  qua- 
tro primeiros  metalloides,  duas  de  enxofre  e  uma  de  pbos- 
phoro. Estes  Ires  corpos  são  encontrados  nos  v^taes,  e 
não  se  poderiam  formar  si  a  seira  não  contivesse  sulfatos 
e  phosphatos  em  dissolução. 

8*  OBJECçJlo.  —  E*  um  facto  averiguado  que  certas  plan- 
tas particulares  de  um  terreno  não  vivem,  ou  vivem  di0i- 
cilmenteem  outro  de  composição  diversa. 

Seria  ocioso  mostrar  com  mais  alguns  aqumentos  o 
quanto  tem  de  inexacta  a  proposição  de  que  se  fez  patrono 
Fr.  Velloso,  embora  procure  elle  apadrinhal-a  com  as  ex- 
periências de  Ba;le  e  Dubamel,  que  nío  (Am  o  valor  que 
elle  Ibes  quer  dar.  A  agua  chimtcamenie  pura  convirá  á 
vida  da  planta  7  De  certo  que  não.  Outra  qualquer  agua 
lem  certos  principies  em  dissolução  em  maior  ou  menor 
dose  que  foram  tirados  do   solo,  e  estes  são  aproveitados 


ídbyCoO' 


N 


—  198  - 

pelas  plantas  qae  os  recebem  no  interior  de  seas  o^os. 
As  substancias  minoraes  facilitam  as  reecções  que  operam- 
se  oo  organismo  dos  vegetaes  :  s2o,  pois,  necessários  e  abi 
sio  sempre  encontrados  ;  e  si  ama  planta  pôde  viver,  se- 
gando as  experiências  de  Duhamel,  &  custa  da  agua  embe- 
bida em  uma  esponja,  é  porque  este  liquida  continha, 
certamente  em  menor  quantidade,  muitos  dos  elementos 
que  teria  de  encontrar  no  terreno  que  conviesse  a  soa 
cultura.  Si  porventura  alguns  factos  nos  fossem  apresen- 
tados como  provas  irrecusáveis  de  que  uma  ou  duas  plan- 
tas poderiam  viver  com  os  elementos  fornecidos  pelo  ar 
e  á  casta  de  uma  seiva  de  composição  extremamente  sim- 
ples, não  duvidaríamos  acei(al-os  como  verdadeiros,  mas 
com  a  intima  convicção  da  sua  excepcionalidade,  ede  que, 
se  fossem  cultivadas  em  outras  círcumstancias  mais  favorá- 
veis, como  em  um  terreno  naturalmente  fértil,  ou  prepa- 
rado segundo  os  processos  que  a  sciencia  ensina,  apresen- 
tariam outro  vigor,  mais  probabilidades  de  longa  existên- 
cia, e  as  suas  propriedades  muito  mais  pronunciadas.  Não 
si  deve  estabelecer  como  regra  geral  o  que  não  passa  de 
uma  má  interpretação  dos  factos. 

Apresento  um  argumento  que  tem  applicaçSo  :  o  calor 
exerce  uma  íafluencia  directa  na  formação  das  resinas,  dos 
suecos  lacleceotese  dos  princípios  voláteis,  mas  si  estas 
plantas  forem  cultivadas  ao  abrigo  da  acção  directa  dos  raios 
solares  em  lugares  sombrios  formar-se-bão  sempre  os 
mesmos  suecos,  porém  em  menor  quantidade. 

Na  zona  temperada,  por  exemplo,  em  Europa,  onde  a 
temperaturaé  muito  mais  benigna,  onde  sente-se  um  io- 
verno  rigoroso,  também  existem  plantas  resinosas  e  lac- 
tescenles.  Dever-se-ha  concluir  por  estes  dois  factos  que 
ocaloraãoBugmeata  a  secrepíod^ertas  substancias  ? 

Conlentaroo-nos  com  estas  reflexões,  que  bastam  paro  o 


Dictzedby  Google 


—  IW  — 

ascUrecimeolo  do  aosso  peasamento.  Vejamos  outras  iàéàs 
imporltiQtes  de  Dulrone,  ioterpreUdas  pelo  coospicoo 
Velloso. 

Em  uma  serie  de  capítulos  occupa  -se  ds  estruclura  ana- 
tomica  docolmodacsona,  o  aumero  de  vasos  qae  como 
orf^s  traosmissores  leram  o  sueco  absorvido  pelas  fibras 
radicacs  a  todas  as  partes  da  planta,  para  nutril-as  depois 
de  coDveDJentementA  elaboradas  nas  foibas,  caracteres 
(I'este  sueco  depois  de  purificado,  as  modificações  que 
soffre  no  interior  do  vegetal,  acções  de  diveisos  ageates 
sdbre  o  sueco  exprimido, incluindo  o  calor,  os  alcalis,  o  ar, 
o  álcool,  os  ácidos,  etc,  fermentação  acida  e  espirituosa 
e  outras  considerações  de  grande  interesse,  que  não  de- 
vem ser  mencionadas,  porque  o  estudo  da  canoa  se  tem 
divulgado,  e  poucos  ignoram  as  circumstaaciss  que  accom- 
{Mobam  as  diversas  manipulações  exigidas  para  a  extrac- 
ção do  assucar. 

Os  diversos  compartimentos  de  um  ongenho,  a  passagem 
da  canna  petas  moendas,  o  seu  transporte  desde  os  canna- 
viaes  até  aos  engenhos,  o  numero  de  cylindros  de  ferro 
fundido  necessários  para  expremer  a  canna,  a  utilidade  e 
o  estado  cm  que  sabe  o  bagaço,  a  c^sa  que  Ibe  serve  de 
deposito,o  movimento  ds  sueco  d'esta  plsnta  até  os  reserva- 
tórios em  que  tem  de  ser  purificado,  e  os  motores  empre- 
gados n'aquelle  tempo,  são  mencionados  com  exactidãoe 
clareza. 

Se  83  descobertas  de  Papin,  Seguin,  Savart,  Jouffroy, 
Fulton  e  Watt  tivessem  apparecido  D'Bquellaépocha  com  o 
gráo  de  importância  que  todos  apressam-se  em  reconhecer 
na  actualidade,  a  obra  habilmente  escripta  por  Fr.  Velloso 
ainda  nos  poderia  ser  hoje  útil,  como  o  fAra  nos  tempos 
coloniaes  ;  mas  com  a  introducção  das  macbinasa  vapor 
nas  diversas  industrias,  e  com  o  seu  rápido  aperfeiçoa- 


DictizedbyGoOgle   . 


nenio,  cadaesram  em  maiios  dos  nossos  eslabelecimen- 
t09  Bgricolas    os  antigos  o   imperfeitos  processos  para  o 

esmagamento  da  canna,  os  quaes  sSo  apontados  na  obra 
de  que  nos  occnpamos. 

As  macbioas  a  vapor  foram  creadas  com  o  flm  de  faci- 
litar o  esgoto  das  minas,  que  podiam  coater  uma  tal 
quantidade  d'agua,que  servisse  de  forte  obstáculo  á  eiplo- 
raçlo  e  utilização  das  suas  riquezas  raiaeraes.  A  primeira 
machina  que  se  construiu  apenas  serviu  para  dar  uma 
idáa  approximada  do  etfeito  produzido  pela  fArça  elástica 
do  vaper  d'agua.  (Jm  simples  embolo  contido  em  um 
cilindro,  e  cujo  movimento  ascendente  era  determinado 
peta  acçio  do  vapor  d'agua  sobre  a  sua  face  inferior ;  para 
a  descida  do  embolo  afastava-se  a  origem  csloriflca  afim 
de  obler-se  a  condensaçno  do  próprio  vapor,  que  imprimira 
o  primeiro  impulso.  Repetindo-se  sempre  este  processo, 
obtínba-se,  com  uma  lentidão  extrema,  o  movimento  da 
macbina,  que  só  preonchiu  o  fim  da  sua  creação  d'um 
modo  assis  imperfeito.  Savart  tomou  este  movimento 
menos  lento,  fazendo  injecções  d'agua  fria  sdbre  o  vapor 
formado  com  inlermittencia  para  o  levantamento  do  embolo. 
Walt  coltocou  um  peso  na  extremidade  opposta  do  balan- 
cim.  fazendo  desapparecer,  em  parte,  o  grande  incoa- 
venienle  doestas  macbínas  a  simples  elTeilo;  inventou  as 
de  duplo  effeito,  -pie  differem  das  primeiras  em  que  o 
vapor  actua  alternadamente  em  ambas  as  faces  do  embolo; 
introduziu  diversos  melhoramentos,  entre  os  quaes  cita- 
remos o  moderador  &  força  centrífuga.  Vieram  as  machinas 
de  alta  pressfto   (quando  as  precedentes  eram     de   baixa 

pressfio  ou  munidas  de  condensadores  para  o  vapor  que 
sabia  do  cylíadro),  que  têm  a  imm  ensa  vantagem  de  occu- 
par  menos  espaço,  e  de  serem  mais  poderosas  nos  seus 
efTeilos.  De  aperfeiçoamento  em  aperfe  içoamento,  surgiram 


Dictzedby  Google 


—  201  — 

o  sjstema  HsucIsIb;,  no  qual  o  volaote  executa  muito 
maior  aumero  de  circumvoluções,  porque  o  niovimento  da 
arvore  é  produzido  por  duas  manivellas;  o  systema  Fleau 
é  modernissimo,  d'um«  fôrça  cousideraTel,  com  o  cylindro 
horizontal,  e  com  dimensões  notavelmente  pequenas. 

Que  immenso  impulso  para  a  nossa  agricultura !  Reflec- 
lindo-se  maduramente,  e  ohservando-se  com  attenç8o  os 
progressos,  embora  lenlos,  da  lavoura  no  Brasil  é  que  nos 
podemos  compenetrar  do  atrazo  da  agricultura  na  époctia 
em  que  viveu  o  botânico  Velloso.  Cita,  para  as  colónias 
inglezas,  o  ar  como  motor;  a  agua,  para  outros  estabele- 
cimentos; e  as  fastidiosas  almanjarras,  movidas  por  ani- 
mães,  como  as  mais  usadas  oa  generalizadas  !  Infelizmente 
ainda  temos  encontrado  este  ultimo  systema  em  algumas 
fazendas;  mas  este  facto  pôde  ser  explicado  ou  porque  os 
seus  donos  nâo  são  muito  favorecidos  da  fortuna,  ou  pela 
perniciosa  rotina  que  os  ha  deaccompaahar  até  a  sepultura. 
Em  compensação,  muitos  outros  procuram  introduzir  os 
melhoramentos  que  a  intelligencia  humana  tem  descoberto 
nas  suas  constantes  peregrinações  pelo  caminho  que  nos 
conduz  ás  verdades  úteis.  Abandonaram,  a  maior  parte,  o 
antigo  systemn,  que  foi  substituído  pelas  grandes  rodas 
movidas  pela  agua,  ou  por  três  ou  quatro  animaes  collo- 
cados  no  seu  interior;  experimentaram  as  machinas  a 
vapor  de  Watt,  começando  pelas  de  du;^-l'o  efleito  a  baixa 
pressão,  e  hoje  trabalham  com  as  de  duplo  effeito  a  alta 
pressão,  com  todos  os  meios  de  segurança  e  melhora- 
mentos que  a  sciencia  aconselha.  Tempo  virá  em  que  esta 
revolução  se  estenda  a  todos  os  grandes  estabelecimentos 
agrícolas  do  Brasil. 

Velloso  aconselha  que  se  utilize  o  bagaço  da  cnnna 
como  combustível. 

Hoje,  os  nossos  lavradores  que  não  possuem  muitas 

TONO  XXXI  P,  II  36 


Dictzedby  Google 


nulas,  que  lhas  forneçam  a  lenha  necessária  para  o  con- 
sumo diário,  lançam  mão  do  primeiro  combustível,  não 
só  no  aquecimento  d^agua  das  caldeiras  das  macbinas, 
como  lambem  para  os  bangués.  A  sciencia  vai  mais  longe: 
indica  que  do  bagaço  da  canna  pôde  o  lavrador  eilrahir 
um  gaz,  o  carbureto  de  hydrogenio,  que  servirá  para  a 
illuminação  do  seu  estabelecimento.  SAbre  este  ultimo 
facto  apenas  diremos  que  auxiliámos  ao  illustre  Dr.  Paula 
Cândido,  de  saudosa  memoria,  nas  suas  experiendas,  e 
que  03  resultados  não  corresponderam  á  nossa  eipeclativa  ; 
a  pouca  intensidade  da  chamma  que  obtivemos  nos  fez 
appeltar  para  aovas  experiências,  que  infelizmente  não  se 
repetiram  pela  fatal  resolução  que  o  levou  longe  da  pdtria, 
que  nunca  mais  tornou  a  vér. 

Vejamos  si  o  trabalbo  de  Dutrone  ainda  nos  proporciona 
um  meio  pelo  qual  possamos  perceber  o  adiantamento  dos 
tempos  que  correm,  volvendo  os  olbos  pêra  o  passado. 

As  phases  pelas  quaes  passa  o  caldo  da  canna  até  o 
ponto  em  que  o  assucar  crystalliza-se  são  apontadas  como 
as  que  aindn  buje  observamos;  mas  com  a  invenção  das 
turbinas,  que  vSo-se  vulgarizando,  a  separação  do  assucar 
é  muito  mais  rapída,  e  não  exige  o  longo  e  prejudicial  pro- 
cesso das  formas  de  madeira  ou  de  argilla.  O  emprego 
d'osta3  é  baseado  no  principio  de  Vauquelin  de  que  a 
agua  dissolvendo,  até  a  saturação,  qualquer  corpo  não  po- 
derá exercer  a  sua  acção  dissolvente  senão  sobre  os  outros 
principios  eslranbos  que  estiverem  em  mistura  com  o  pri- 
meiro. Collocando-se  pois  uma  camada  de  barro,  pre- 
viamente humedecido,  sdbre  os  vasos  em  que  o  assucar  tem 
de  cr;stallizar-se,  a  agua  ir-se-ha  impregnando  de  assucar 
até  saturar-se  completamente,  ponto  em  que  começará 
a  sua  acção  sfibre  os  corpos  estranhos.  A  primeira  pro- 
priedade  toma  a  ser  adquirida  depois  de  segunda  acção 


Dictzedby  Google 


—  203  — 

dissolvente,  o  que  augmeota  o  prejuízo  da  malería  saccha- 
rÍQa  ecD  cada  vaso.  Além  doeste  íDcoDvenieDte,  aponta- 
remos o  do  loogo  tempo  que  é  necessário  esperar,  e  o  da 
necessidade  rigorosa  de  conslruir-se  em  cada  engenho  um 
grande  teodal  que  o  emprôgo  das  turbinas  dispensa.  M'es- 
tas  oblem-se,  por  um  simples  .movimento  gyratorio  com- 
municado  pela  mesma  machiaa  que  produz  o  movimento 
ás  moendas,  14  kilogrammas  d'assucar  por  minuto,  sem  o 
emprego  da  argilla  humedecida,  e  a  sua  cAr  depende  da 
maior  ou  menor  quantidade  de  álcool  que  se  introduz  oa 
turbina.  E  em  que  principio  se  basâa  esta  ultima?  Tão 
somente  na  ÍArça  centrifuga ;  as  moléculas  de  assucar  de- 
posilam-se  na  parede  interna  do  cylindro  interior  da 
turbina,  passando  a  parte  liquida  pelos  intervallos  das 
malhas  da  rede  de  que  se  compõe  o  cylindro  de  menor 
diâmetro.  Estes  melhoramentos,  que  já  vão  sendo  utili- 
zados no  Brasil,  fazem  com  que  a  obra  por  nós  analysada, 
e  que  devemos  a  Velloso,  não  seja  tão  considerada  como 
o  fora  ao  principio  d'este  seculo;  porquanto  Q'este  tempo 
ainda  estavam  para  ser  concebidas  muitas  idéas  que  vie- 
ram servir  de  grandes  beneGcios  á  agricultura  no  Brasil. 
Façamos  entretanto  justiça  ao  seu  merecimento.  Em  rela- 
çãti  aos  conhecimentos  d'aquella  épocba.a  obra  que  Velloso 
nos  fez  coahecida  encerra  um  grande  cabedal  de  idéas 
mui  aproveitáveis,  quer  debaixo  do  ponto  de  vista  histórico, 
quer  sAbre  a  anatomia  e  pb}'siologia  da  canna,  e  principal- 
mcDle  no  que  diz  respeito  á  sua  cultura,  e  minuciosas 
informações  relativas  aos  estabelecimentos  que  a  cultivam, 
e  aos  processos  que  devem  ser  empregados  para  extracção 
do  caldo  e  preparação  do  assucar.  Não  deixaremos  de 
mencionar  outros  pontos  bem  importantes,  para  que  não 
fique  totalmente  incompleto  este  esboço  d'uma  producção 
tão  succulenta.  Com  aquella  certeza  que  distingue  os  espi- 


Dictzedby  Google 


—  204  — 

ritos  pensadores  e  profundos,  Telloso  atirava-se  sdbre  os 
trabalhos  dos  quaes  pudesse  colhei  alguma  lui  para  si,  e 
utilidade  para  o  seu  paiz,  no  que  foi  sempre  auiiliado, 
senão  impellido  pelas  vistas  allamente  patrióticas  de  quem 
lhe  prodigalizara  tão  grande  somma  de  beneficies,  como 
lesteinunhos  de  estima  e  pouco  vulgar  coasíderação.  Em 
todos  os  outros  trabalhos  que  formos  analisando  acha- 
remos a  confirmação  mais  exacta  do  pensamento  que  lemos 
enunciado. 

Faz  ligeiras  considerações  sAbre  a  fermentação  e  distil- 
lação  do  mel,  producçio  de  aguardente,  e  passa  a  histo- 
riar os  meios  empregados  nas  colónias  francesas  para  a 
extracção  do  assucar,  emprego  dos  alcalis  na  purificação 
do  caldo,  como  prova  da  existência  de  um  acido  n^este 
liquido,  sua  neutralização,  natureza  das  caldeiras,  seus  in- 
convenientes. 

Não  são  menos  importantes  os  dados  fornecidos  sAbre  a 
maior  ou  menor  pureza  do  assucar,  conforme  a  dose  de 
matérias terrosasefeculentas que encerra;a  separação  d'es- 
tas  pela  seção  do  calor  e  pela  ca],potassa  etc,  acção  das  es- 
cumadeiras,  e  emprét;o  mais  vantajoso  das  caldeiras  de 
cobre.  Todas  as  outras  particularidades  d'esta  industria 
não  escaparam  ao  seu  espirito  investigador,  e  são  tão  co- 
nhecidas na  actualidade  que  tomar-nos-hiamos  fastidioso 
si  consagrássemos  mais  algumas  linhas  ã  enumeração 
d'ellas.  Alguns  princípios  da  chimica  são  apontados  como 
auxiliares. 

Resta-nos  incluir  a  parte  que  trata  das  propriedades  do 
assucar,  e  apresentar  algumas  refiexões  sAbre  o  linal  do 
trabalho  que  analisamos,  as  relativas  a  diversas  considera- 
ções sobre  as  fazendas  das  colónias  da  America. 

Quanto  ás  primeiras,  resumem-se  na  acção  do  assucar 
sdbre  o  paladar.diversos  grãos  de  sabor,  segundo  o  seu  es- 


/ 


D,i.,.db,  Google 


—  205  — 

tado  de  pureza,  aphosphorescencia,  facilidadede  queimar, 
producção  do  acido  oxalicu  pela  acção  do  acido  azolíco, 
sua  alteração,  em  dissolução  na  agua  distillada,  pelo  cod- 
taclo  do  calor;  influeacia  de  um  alcali;  separação  de  uma 
substancia  glutiaosa,  que  dá,  pela  dessecação  e  disliliaçâo, 
o  ammoniaco,  quando  abandona-se  o  sueco  extrahido  da 
canna;  emprego  do  assucar  nos  remédios,  enos  alimentos, 
o  que  o  eleva  ao  nível  dos  productos  vegetaes  mais  estima- 
dos e  úteis. 

Além  d'estes  resultados,  que  a  chimica  orgânica  hoje 
confirma,  existem  muitos  outros  devidos  aos  fructiferos 
trabalhos  de  Liebige  de  outros  cbimícos  Dão  menos  cele- 
bres do  nosso  século,  que  abrangem  uma  somma  pioduc- 
liva  de  conhecimentos  que  illustram  o  importante  estudo 
da  canna  ,  saccharum  officinarum,  e  das  espécies  do 
mesmo  género,  S.  violaceumB  S.  sinense.  Justus  Liebig  e 
outras  ootabilidades  levaram  ainda  mais  longe  as  suas 
indagações  relativas  a  este  producto  :  não  só  estudaram  o 
assucar  contido  na  seiva  da  canna,  debaixo  de  lodos  os 
pontos  de  vista,  como  também  estenderam  a  sua  analj^se 
ao  assucar  contido  aos  órgãos  de  outros  vegetaes,  e  escre- 
veram sAbre  a  diversidade  da  composição  ;  depois  por 
uma  aualyse  quantitativa  e  por  um  serie  de  experiências 
reconhecer  ara  as  difíerenças  nas  suas  propriedades.  O  os- 
sucar  chamado  de  resina  e  que  forma-se  nos  fructos  das 
parreiras  ou  uvas,  vitis  vinifera,  não  gosa  dos  mesmos 
predicados  que  o  da  canna,  e  a  sua  composiçSo  varia 
quanto  ás  porporções  dos  elementos  que  entram  na  com- 
binação, e  o  mesmo  poderemos  dizer  a  respeito  do  pro- 
ducto sacchariao  da  niz  á&beltavulgaris  dos  fructos  na 
épocha  do  seu  completo  amadurecimento,  e  do  assucar 
queencontra-se  nas  intumescências  das  plantas  que  tém 
raizes  toberosas. 


Dictzedby  Google 


-  206  - 

Faltoo  ao  celebre  naturalista  o  completar  o  seu  trabalho 
com  o  estudo  botaoico  das  espécies  do  género  aacefuvnun. 
Segundo  os  conhecimentos  que  possuímos  existem  somente 
três  especíces  d' este  género  : 

Saccbarum  officinarum Catma  eayenna. 

S.  Yiolaceum Ccmna  roxa. 

S.  Sinense Cannacreôla. 

Com  um  grande  numero  de  variedades,  para  cada  uma 
das  quaes  existe  um  nome  vulgar. 

aPITULO  X 

Em  1800,  um  anno  antes  da  publicação  da  precedente 
obra,  Fr.  Velloso  imprimiu  na  typographis  cbalcograpbica 
e  lilteraria  do  Arco  do  Cego  um  extracto  sdbre  os  engenhos 
de  assucar  do  Brasil,  tirado  da  obra.  Riqueza  e  opulência 
do  Brasil,  pela  qual  passaremos  rapidamente  :  muitas  idéas 
actiam-se  consignadas  no  trabalho,  que  acabamos  da  ana- 
lisar. 

Deparámos  no  primeiro  capitulo  com  uma  apreciação 
do  pessoal,  materiaes  e  importância  dos  engenhos  d^aquella 
épocha.  Suppomos  que  o  numero  de  cento  e  cíncoeota  bra 
ços,  calculado  para  os  maiores  engenhos,  não  é  de  uma 
exactidão  rigorosa  ;  porquanto  muitos  houve  que  possuíram 
quinhentos,  mil  ou  mais  escravosqueviriara  em  completa 
ociosidade  ;  os  serviços  da  lavoura  não  eram  tantos,  que 
exigissem  o  emprego  de  todos  os  braços,  de  que  dispu- 
nham. Ainda  hoje,  que  não  testemunhamos  mais  o 
escandaloso  e  anti-humanitario  tralico  d'estas  creaturas  in- 
felizes, em  muitos  estabelecimentos  agrícolas  conta-se  o 
numero  de  duzentos,  treieiAos  e  mais. 

Facto  importante.  O  autor  já  lamentava  em  princípios 
d'este  século  o  que  hoje  presenciamos  em  larga  escala  na 


Dictzedby  Google 


—  207  — 

Dossa  indastria  agrícola,  e  que  muito  contribue  para  o  seu 
atrazoe  decadência.  O  lavrador  que  tem  de  lutar  com  um 
sem  numero  de  difficuldades  para  collocar  o  seu  estabele- 
cimento em  certo  pé,  afim  de  obler  algum  interesse  em 
Rompensação  do  trabalho  que  emprega,  nem  sempre  o 
poderá  conseguir  sem  o  auxilio  directo  de  quem  lhe  for- 
neça 03  capitães  in  dispensáveis  ;  contrahe  uma  pequena 
divida,  da  qual  nem  sempre  se  desembaraça,  porque  os 
interesses  da  agricultura  são  prec  arios  e  estão  sujeitos  a 
muitas  circurostancias  que  não  dependem  da  sua  vontade. 
O  seu  compromisso  augmeata  de  valor,  pela  accumulaçSo 
mensal,  temestral  ou  annual  dos  juros  ;'  e  d'islo  resulta 
que  DO  fím  de  alguns  annos  o  próprio  estabelecimento  com 
todos  os  matetiaes  e  escravos  não  são  sufficientes  para  o 
pagamento  da  divida  ! 

Ainda  não  é  tudo.  Muitos  dos  nossos  senhores  de  enge- 
nho não  calculam  as  suas  despezas  pelo  rendimento 
annual  que  d'elle  tiram,  consomem  o  producto  deuma 
colheita  ootavol,  sem  se  lembrar  de  que  a  do  anno  se- 
guinto  poderá  ser  menor,  ou  quasi  nuUa,  o  que  é  verdade 
não  só  para  um  anno  como  para  muitos  consecutivos. 
Estes  deBcits  accumutsdos  acabam  por  arruinal-os  comple- 
tamente. 

No  2*  capitulo  oiTerece  um  certo  numero  de  conselhos 
para  os  que  t£m  de  comprar  terras  ou  arrendal-as,  meios 
de  livral-os  das  falsidades  dos  vendedores,  garantias  plenas 
nas  Iransacçítes,  pontualidade  nos  pagamentos,  etc. 

Em  outras  paginas  eaconlrãmos  os  defeitos  de  que 
devem  cobibir-se  os  senbores  de  engenho,  como  sejam  o 
despotismo  nas  acções,  arrogância  e  soberba  para  com  Os 
que  d*elies  dependem  mediata  ou  immediatameate.  Dire- 
mos de  passagem :  seria  bom  que  alguns,  que  merecem 
antes  o  nome  de  malfeitores,  fossem  beber  n'e8te  livro  ss 


DictizedbyGoOJ^IC 


idéas  mortes  e  DímUmeQte  sociaes  que  d'elle  trnnsluzao, 
e  que  são  uma  lição  para  os  que»  ainda  em  nossos  días> 
afastam-se  dos  seus  deveres  para  com  os  semelbaotes,  ^ 
em  relação  aos  seus  subordinado  s. 

A  missão  do  sacerdote  uas  fazendas  é  especificada  d'um 
modo  rigoroso,  severo  e  diguo.  Si  estes  esclarecimentos' 
dictados  por  puros  sentimentos  religiosos,  fossem  obser- 
fados  com  o  aecessarío  escrúpulo,  a  simples  presença  d** 
sacerdote  serviria  para  prevenir  muitos  abusos,  que  uns 
praticam  por  ignorância  das  obrigações  que  a  religião 
ímpfie,  e  outros  por  uma  tendência  para  o  mal,  que  só 
poderia  ser  aniqu'^tada  por  uma  educação  severa  e  pro- 
veitosa. 

Estão  igualmente  estabelecidas  as  atlribuições  de  cada 
um  dos  outros  empn^ados,  assim  como  a  moralidade  que 
deve  accompanhar  a  todos  os  actos,  em  relação  aos  seus 
inferiores.  Procedimento  do  cbefe  no  governo  da  sua  casa. 
economias  a  realizar,  preceitos  a  observar  pnra  com  os  que 
se  utilizarem  da  sua  hospitalidade,  e  com  outras  pessoas 
com  as  quaes  alimenlero  relações  commerciaes. 

Julgamos  desnecessário  discutir  o  objecto  de  cada  um 
dos  outros  artigos,  porque  já  foram  tratados  no  outro 
trabalho,  principalmente  o  que  diz  respeito  à  preparaçSo 
do  assucar.  Contentar-nos-hemos  com  apresentar  ou  indi- 
car os  pontos  desenvolvidos,  á  excepção  do  capitulo  XIX, 
que  merece  ser  transcripto. 

Escolha  do  terreno  para  o  plantio  da  canan,  e  outros 
vegetaes  alimenticios ; 

Preparação  de  terra,  depois  de  escolhida,  para  que  a 
canna  possa  deseavolver-se  com  vantagens;  as  limpai, 
queimadas,  etc.  ; 

Inconvenientes  das  grandes  chuvas ;  das  séccas  prolon- 
gadas ;  mexes  em  que  a  chuva  torna-se  necessária ;  dos 


Dictzedby  Google 


obstáculos,  para  a  canna,  da  presença  de  certos  vegetaes 
e  animaes  nos  caDnav íaes ; 

ladicações  para  o  corte  da  canoa,  numero  de  braços 
que  devem  ser.empregados  n^esse  serviço,  épocha  do  corte, 
distrihaiçlo  do  serviço  pelos  escravos  de  ambos  os  sexos, 
modo  de  cortar,  transporte  da  canna  ; 

Descripçâo  d'um  engeobo,  tomando  por  typo  um  obser- 
vado na  província  da  Babia ; 

Modo  de  moer  a  canoa  ;  tempo  necessário  para  moer 
uma  certa  quantidade  de  caules,  perigos  das  moendas, 
numero  d^escravos  para  este  trabalho. 

Abramos  um  parentbesis  para  as  interessantes  paginas 
68.64  e  6S : 

«  Antes  de  passar  das  moendas  para  as  fornalhas  e  casa 
das  caldeiras,  parece-me  necessário  dar  noticia  dos  páos 
e  madeiras,  de  que  se  faz  a  moenda  e  lodo  o  mais  madei- 
ramento do  engenho,  que  no  Brasil  se  pôde  fazer  com 
escolha,  por  não  haver  outra  parte  do  mundo  tão  rica  de 
páos  selectos  e  fortes;  nio  se  admittindo  n'esla  fabrica 
páo  que  náo  seja  de  lei,  porque  a  experiência  (em  mos- 
trado ser  assim  necessário.  > 

A  estas  palavras  accompanham  outras  sdbre  a  dífll- 
nição  de  páos  de  lei,  comprebendendo  n'esle  numero:  a 
sapucaia,,  o  vinhalico,  pdo  d'arco,  pdo  brasil,  jacarandá, 
pdo  d'oUo,  picai,  jetai  amarallo,  jetai  preto,  maçaran- 
dvba,  metsetauba,  sapupira,,  sapupirit  cari,  sapupira  miritn 
e  sapupira  açú. 

Estes  nomes  de  sapupira  e  massetauba  não  sfiu  mu' 
adoptados  actualmente;  cremos  que  o  autor  refere-se  á 
Dossa  sucopira,  bowdícbia  vírgilioides  das  leguminosas,  e  i 
mocitayba  ou  muçutuayba,  zolleroia  mocitayba,  da  mesma 
familia. 

Fallaodo  na  maçaranduba,  aponta  a  sua  applicaçÂo  em 

TOMO  XXXI,  P.  II  37 


Dictzedby  Google 


frechaes,  sobrefrechaes,  tesouras,  tiranles,  espigões,  ele., 
coDstrucção  dss  diversas  partes  d'iini  engenho  ;  coosídera 
as  boas  qualidades  d'esta  bella  madeira,  e  iudica  os  poa- 
los  do  Brasil  em  que  pôde  ser  encontrada :  em  toda  a 
costa  do  Império  e  na  proviocia  da  Babia. 

Tudo  quanto  diz  é  verdade,  mas  nâo  diz  tudo,  e  sem 
que  nos  venha  o  pensamento  de  repetir  a  descripção  que 
já  fizemos  d'esla  importante  arvore,  entendemos  dever 
accrescentar  duas  palavras.  O  emprego  da  madeira  é  boje 
muito  mais  lato  do  que  o  suppunham  em  épocbe  mais  re- 
mota ;  é  muito  procurada  para  es  construc{ões  navaes, 
sob  a  forma  de  quílba,  sobrequilha,  vdos  e  cavilhas ;  nas 
obras  immersas  é  perdurável,  embora  existam  outras  de 
maior  duração  como  o  jacarandá-tan,  ipés,  sucopira,  ele. ; 
em  esteios  á  utilizada  frequentemente,  e  racba  com  faci- 
lidade. Quanto  aos  lugares  em  que  pôde  ser  encontrada, 
diremos  que  em  muitos  outros,  que  não  estão  mencio- 
nados n'esla  obra  que  analisamos ;  por  eiemplo  :  em 
muitas  florestas  por  nós  percorridas  de  diversos  muni- 
cipios  da  provinda  dr>  Rio  de  Janeiro,  e  em  outras  pro- 
víncias do  Norte,  pelas  informações  que  temos  coibido. 

Ha  uma  tal  ou  qual  deficiência,  no  mesmo  capitulo, 
a  respeito  d'oiitras  madeiras,  que  não  podemos  passar 
por  alto  desde  que  assumimos  a  grave  responsabilidade 
de  emittir  o  nosso  juízo  sobre  os  gloriosos  trabalhos  do 
digno  Fr.  Velloso. 

Mencionando  as  madeiras  e  suas  applicações,  expri- 
me-se  do  seguinte  modo  : 

(  Os  eixos  da  moenda  se  fazem  de  sapucaia,  ou  de  sapu- 
pira  cari :  a  ponta,  ou  cabo  do  eixo  grande,  de  páo  d'arco, 
ou  de  sapupira ;  os  dentes  dos  Ires  eixos  da  moenda,  do  ro- 
deie e  dd  volandeira  são  de  messetauba.  As  rodas  da  agua» 
de  páo^de  arco,  ou  de  sapupira,  ou  de  vinhatico.  Os  arcos 


Dictzedby  Google 


—  211  — 

do  rodeie  e  Tolaadeira,  as  aspas  e  contraspas,  de  sapupíra. 
As  ri^ens  e  mais  esteios  e  vigas,  de  qualquer  páo  de  lei. 

Os  carros,  de  sapiipira  merim,  ou  de  jetaí,  ou  de 
sapucaia.  A  calíz,  de  vitibalico.  As  candas,  de  picai, 
joairana,  jequilibd,  utussica  e  angeli.  As  cavernas  e  bra- 
dos das  barcas,  de  sapupíra,  ou  de  laudim  carvalho, 
ou  de  sapupira  merina ;  a  quilha,  de  sapupira,  ou  de 
paroba;  os  forros  e  costados,  de  utim,  paroba,  buraiém, 
e  unheúba :  os  mastros,  de  inheúbataa ;  as  vergas,  de 
camassari ;  o  leme,  de  averno,  ou  aogeli ;  as  curvas,  e  as 
rodas  de  proa  e  popa,  de  sapupira,  com  seus  coraes 
mettidos :  as  varas,  de  maogue  branco ;  e  os  remos,  de 
lindírana,  ou  de  genipapo.  i 

K"  necessário  partir  da  base,  que  estes  nomes  são  os 
que  applicam-se  actualmente  ás  mesmas  madeiras,  salvo  as 
alterações  na  orthographia ;  n'este  caso,  observaremos  que 
estio  muito  longe  dos  verdadeiros  nomes  iudigenas,  que 
exprimem  sempre  qualidades  ou  propriedades  de  cada 
vegetal. 

Si  esta  dissertação,  sobre  o  emprego  das  madeiras, 
refere-se  somente  a  uma  localidade  etn  que  foi  observado, 
toda  e  qualquer  retleino  será  mal  cabida  \  mas,  si  esten- 
der-se  aos  seus  usos  geraes,  seremos  forçados  a  reconhecer 
muito  atraso  no  conhecimento  d'estes  vegetaes,  compa- 
rando-os  com  os  dados  que  possuímos,  o  que  se  l&m 
utilizado  nos  diversos  ramos  da  engenharia.  Actualmente, 
os  costados  das  candas,  barcas,  lanchas,  botes  e  esca- 
leres são  de  peroba,  lapinhoã,  ou  cedro ;  nas  grandes 
embarcações,  são  de  taboas  de  peroba  vermelha. 

I^os  engenhos  do  Brasil  as  moendas  .^são  de  ferro  , 
salvo  as  de  algumas  engenhocas,  que  são  de  jatobá. 
As  candas  que  navegam  em  nossos  rios  são,  pela  maior 
parte  de  peroba  branca,  oiti-cica,  tapinhõa,  cedro,  gamel- 


Dictzedby  Google 


—  312  — 

leira  e  outras.  Lonibraremos  aioda  outros  TOgelaes  utiliza 
dos  na  arte  naval,  e  que  nlo  estfio  incluídos  na  obra  de 
Fr.  Velíoso  :  o  angelina  amargoso,  angelím  pedra,  oangtco, 
a  sucopíra,  o  pinho  da  Suocia,  a  sapucaia  e  algumas  mais. 
Outras  diflerenças  encontramos  n'esla  succinta  exposi- 
ção. O  nome  inhuibatan  é  uua  corrupção  igual  á  de  chi- 
batao,  ubalan,  quibalan  aderne,  da  palavra  ind^ena 
yb-atan,  que  quer  dizer  arvore  ou  páo  duro,  assim  como 
paroba  em  lugar  de  pernba,que  significa  casca  amaina. 

Na  lavoura  fazem  de  óleo  vermelho  os  eixos  dos  carros, 
que  conduzem  o  cafó,  a  canna  e  outras  plantas  Q'ella  cul- 
tivadas, para  o  en:^enho  e  armazéns ;  os  raios  d'estas 
rodas  são  deguarubú,  que  alguns  conhecem  pelo  nome  de 
roxinho.  As  rodas  dos  engenhos  são  muitas  vezes  de  suco- 
pira,  de  jacaraadA-tan  ;  os  dentes,  d' esta  ultima.  Si  pro- 
seguissemos  n'esta  analyse,  afastar-nos-hiamos  certamente 
dos  limites  em  que  nos  devemos  conter,  porque  leriamos 
necessidade  de  apontar  quaes  as  madeiras  que  entram  na 
cODStrucção  dos  nossos  engenhos,  também  os  seus  usos 
nas  construcções  civis  e  navaes.  Dar-nos-hemos  por  satis- 
feito, indicando  quo  uma  parte  das  nossas  madeiras  estão 
classificadas  n&o  só  botanicamente,  como  segundo  os  seus 
usos  nas  obras  internas,  ao  ar  e  immersas.  Entre  as  pri- 
meiras ainda  escolhem  as  que  servem  para  caibros,  ripas, 
tesouras,  traves,  frechaes,  baldrames,  barrotes,  portas, 
portaes,  taboas  para  soalho  o  forro,  caixilhos  e  rodapés. 
Os  lavradores  já  as  applicam  com  algum  acerto  na  cons- 
trucção  das  casas  de  vivenda,  de  engenhos,  psioes,  arma- 
zéns, senzalas,  pontes  e  outras  dependências.  Procuram 
certiScar-se  da  duração  de  cada  uma  d^ellas  em  contacto 
com  o  terreno;  e  com  a  agua  apressam-se  em  empregar  em 
esteios,  por  exemplo,  a  SBpncaÍB,a  ibirauna,  asucopira,  os 
ipés,  e  outras  de  reconhecida  capacidade  e  duração,  e 


Dictzedby  Google 


—  213  — 

possuem  um  certo  numero  de  dados  práticos,  qne  muito 
auxiliam  a  quem  deseja  entregar-se  ao  estado  das  nossas 
arvores.  Esta  r^ra  soETre  algumas  excepções,  que  slo  de- 
vidas ás  vezes  á  impossibilidade  com  que  lutam  na  acqui- 
siçio  de  hons  materiaes  para  as  suas  obras. 

Depnis  de  varias  considerações  sobre  o  fabrico  do  as- 
sucar  apresenta  uma  tabeliã  dos  preços  das  diversas  quali- 
dades d'este  produclo,  qae  nno  eslí  em  perfeita  harmonia 
com  o  qae  se  tem  estabelecido  nos  nossos  dias,  mas  que 
confirma  o  jaixo  queav.mtãmos  sõbte  o  espirito  indagador 
e  relativo  aos  serviços  prestados  pelo  nosso  compatriota. 

Estudou,  em  diversas  obras,  os  processos  para  a  cultura 
da  canna,  eofferton  i  sua  pátria  uma  fonte  para  de  co- 
nhecimentos proveitosos  para  aquella  épocha,  em  que  a 
nossa  agricultura  começava  a  desenvolver-se. 

CAPITULO  XI 

Em  virtude  de  tio  assignalados  serviços  S.  k.  Real,  a 
quem  dedicou  muitos  dos  seus  trabalhos,  ordenou  que  elle 
fosse  galardoado,  como  dissemos,  com  o  titulo  de  padre 
da  província.  Resla-nos  apresentar  os  seguintes  documen- 
tos, extrahído  o  primeiro  do  livro  das  actas  e  eleições  do 
deSnitorio  da  província  da  Immaculada  Conceição  do  Rio 
de  Janeiro,  á  fls.  d.  49  v.  e  50.,  pelo  qual  nos  poderemos 
certificar  do  modo  por  que  eueutaram  a  ordem  supracitada, 
e  que  allesta  mais  uma  voz  a  protecção  que  lhe  fdra  sem- 
pre concedida  por  S.  M.  o  Sr.  D.  João  VI, 

Termo  de  concessfto  de  i»ÍTlIegfo  de  padre  da  proviaoia  ao  irmSo 
ei-leltor  Fr.  José  Harísano  da  CoDcelção  Velloso.confonne  a  ordem 
de  3.  A.  Real,  expedida  pelo  hq  miniitro  d'Eitado  o  Sr.  D.  Rodrigo 
de  Soma  Coatíobo. 

Aos  19  de  Dezembro  de  1800.  —  Estando  nós  l«gittiiM- 


DictzedbyGoOgle 


—  214  — 

mente  congregados  em  mesa  deãnitorial,  apresentou  o 
irmão  ministro  provincial  uma  carta  do  ministro  d'Estado 
em  que  nos  ordena  S.  A.  Real  que  o  irmão  ei-leitor  Fr. 
José  Harianno  da  Conceiçio  Velloso  fosse  contemplado 
como  padre  doesta  proviocia  em  razSo  do  grande  zelo  e 
desinteresse  com  que  tem  servido  ao  Estado  O  que  nós 
em  consequência  de  nossa  fiel  vassalagem  concedemos  ao 
sobredito  padre,  e  desde  agora  o  reconhecemos  e  have- 
mos por  padre  d'esta  provincia  com  todas  as  proeminências 
anoexas  a  esle  titulo.  O  que  tudo  para  que  mais  constasse 
fizemos  este  termo  por  nós  assígnado  no  mesmo  dia,  mez 
e  aono  uf  supra.  —  (Assignados)  —  Fr.  António  de  S.  Ber- 
nardo Monsão,  ministro  provincial.  —  Fr.  António  Agosti- 
nho de  Sanl''Anna,  custodio.  —  Fr.  José  Cariai  de  Jesus 
Maria  Desterro,  definidor.—  Fr.  Yiclorino  de  S.  JosiMa- 
rianno,  definidor.  —  Fr.  João  de  S.  Francisco  Itíendonça, 
definidor.  —  Fr.  Fernando  António  de  Santa  Rita,  —  de- 
finidor. 

Seguado  documeoto  copiado  do  livro  de  registro  du  paslorfteB  e  or- 
dens dos  Rms.  Prelados,  e  A.  oBscapilularesá  Da.  M  v.  eú5. 

Fr.  António  de  S,  Bernardo  Monsão,  pregador,  ex-deS- 
nidor  fl  ministro  provincial  da  provincia  da  Conceição  do 
Rio  de  Janeiro,  etc. 

A  todos  os  religiosos  da  mesma  provincia.assim  prelados 
como  súbditos,  saúde  e  paz  em  Nosso  Senhor  Jesus  Cbrísto, 
que  de  todos  é  verdadeiro  remédio  e  salvação.  Fazemos 
saber  a  VV.  GC.  quepor  carta  do  Illm.  e  Eim.  secretario 
d'Estado  o  Sr.  D  Rodrigo  de  Sousa  Coutinho  nos  foi  or- 
denado que  o  augusto  Príncipe  nosso  Senhor  era  servido 
que  o  irmão  Lente  Fr.  José  Marianno  da  Conceição  Velloso 
fosse  contemplado  padre  d'esla  provincia  em  remuneração 
dos  avultados  progressos  que  tem  feito  nos  inventos  e 


Dictzedby  Google 


-  2Í5  — 

observações  relativas  i  bislorío  nalura),  de  que  lAm  resul- 
tado alo  vulgares  serviços  ao  Estado  e  á  Nação.-  Pelo  que 
desejando  dós  dar  a  S.  k.  Real,  tuna  sincero  testemuabo 
da  nossa  obedieDcía,  que  ser^  sempre  invariável  a  respeito 
das  suas  soberanas  e  sagradas  determinayões,  e  querendo 
lambem  coDcorrer  quanto  aos  é  possível  para  distinguir 
am  sujeito  d'esta  nossa  humilde  corporação  a  quem  o 
mesmo  soberano  se  digna  favorecer  empregando-o  no  seu 
real  serviço,  do  que  recebemos  uma  bem  assignaiada  e  in- 
comparável honra,  havemos  por  bem  eleger,  nomear,  íds- 
liluir  ao  dito  irmão  lente  Fr.  José  Marianno  da  Conceição 
Velloso  em  padre  d*esla  província, ficando  de  boje  em  diante 
gozando  de  todas  as  preeminências,  privilégios  e  isenções 
que  são  annexas  aosque  gozam  d'esle  predicamento  na 
nossa  ordem  e  ao  dito  irmão  lente  Fr.  José  Harianno  da 
Conceição  Velloso  assim  nomeado  e  instituído  queremos  e 
mandamos  a  VV.  CG.  reconheçam  padreda  província,  res- 
peitiindo-oegusrdando-lheemcodose  em  cada  am  dos  con- 
ventos onde  estiver  morador  es  dispensas  e  privilégios  que 
pelos  nossos  estatutos  são  concedidos  aos  rev  e  rendos  padres 
da  província.  £  para  que  se  faça  publica  esla  nossa  reso- 
lução e  prompta  subordinação  ás  ordens  e  mandamenlos  de 
S.  A.Keal,mandaiaos  passar  a  presente  encyclíca,  que  será 
lida  em  plena  communidade,  transcrípla  no  livro  compe- 
tente,remettida  de  convento  em  convento  com  certidão  dos 
respectivos  prelados  locaes  e  discretos,  e  por  ultimo  re- 
mettida'á  nossa  secretaria. — Dada  n'este  covennio  de  S.A.n- 
tonio  do  Rio  de  Janeiro  aos  28  de  Setembro  de  1801.  — 
Sob  nosso  signal  e  sello  maior  da  província.  —  (Asslgnado) 
Fr.  António  de  S.  Bernarda  Mansão,  Ministro  Provincial. 
—Lugar  do  sello.—P.  M.  D.  S.  P.  Rm".  —Fr  AnUmioda 
Natividade  Carneiro,  Ex-DeGnidor  e  Pro -Secretario. 
As  iostituigões  monásticas  são  de  uma  origem  tão  remota. 


Dictzedby  Google 


_  sio  — 

a  Mm  rMJstido  por  lanios  soculos  aos  golpes  da  impiedade, 
que  para  veaeral-as  basta  cooãiderar-se  o  ÍDuneoso  valor 
doestes  dois  títulos.  O  espirito  piedoso  ,que  bebe  dos  dog- 
mas e  preceitos  do  christíanismo  as  ídéas  cardeaes  que 
guiam  a  sua  alma  e  a  equilibram  aas  tremendasoscillações 
doeste  muado,  recoohece  como  necessária  a  oonservaçio 
d'a8(e3  templos  seculares,  em  que  se  commemoraro  dia- 
riameote  os  diviaos  beneficies  que  dos  foram  derramados 
pelo  Salvador  do  mundu,  e  dos  quaes  vamos  procurar  le- 
DÍtivoa  para  as  dAres  que  dos  assaltam,  para  os  males  que 
DOS  aotbroDbam. 

Si  areligiioaagmenla  de  valor  do  espirito  do  povo, 
toda  a  gloria  deve  ser  para  os  que,  em  todos  os  tempos 
readeram-lhe  um  culto  constante,  propagando  os  seus  prio- 
ãpiosnimiameDlesalutaresemoralizadores.Blóem  épochas 
bem  tristes  para  a  humauidade,  porque  recordam  sceaas 
saDguÍDolentas,em  que  o  direito  foi  s  upplantado  pela  fArça^ 
a  justiça  pelas  coDveniencias,  a  verdade  pela  mentira,  o 
sagrado  pelo  sacrilégio  I 

Qual  é  o  primeiro  fondamento  para  uma  sociedade  que 
deseja  prosperar,  garantindo  o  bem  estar  e  os  sagrados  di- 
reitos dos  seus  membros?  A  moralidade,  assim  como  a 
moral,  tem  por  única  base  a  religião.  Esta  engrandece-se  e 
euraiza-se  no  espirito  dos  povos  pelos  esforços  dos  seus 
ministros,  e  os  bons  sacerdotes  não  podem  sercreados  nos 
embales  das  praças  publicas,  nem  nas  festividades  dos  vi- 
oios  e  muito  menos  no  turbilbão  das  paixões.  A.  solidão  é 
luberente  á  vida  do  verdadeiro  sacerdote  e  essencial  á  alta 
missão  que  tem  de  desempenhar. 

NSo  se  deve  atacar  um  principio  reconhecido  por  tantssge- 
rações.e  que  os  séculos  nos  tra  nsmittem,  por  causa  d'8lgUDs 
abusos  apontados  oo  seu  progressivo  desenvolvimento,  e 
que  sío  devidos  a  um  oo  outro  que  se  tem  afastado  das 


Dictzedby  Google 


—  317  — 

regras  qae  foram  rígocosameDte  estabelecidas  como  aormas 
invariáveis  de  seu  proceder.  Estes  abusos  desapparecerão 
perante  a  efScacia  de  fortes  medidas  correccioaaes,  que  po- 
derão ser  impostas  pelos  poderes  competeoles. 

Segundo  alguns  a  existência  dos  claustros  tocou  ao  seu 
termo,  porque  actualmente  já  não  podem  preencher  os 
fins  para  que  foram  destinados  I 

Quantos  bomens  itiustres  bbo  tem  aquecido  a  sciencia 
por  elles  adquirida  com  o  modesto  e  solemne  habito  de 
religioso  ?  Em  lodos  os  ramos  dos  conhecimentos  huma- 
nos Xèm  apparecido  vultos  notareis  que  desenvolveram  a 
sua  intelligencia  no  silencio  eloquente  de  uma  cella, 
contemptandoa  suprema  intelligencia  do  autor  do  Universo 
na  indagação  das  leis  da  natureza.  Longo  do  ruido  do 
mundo  e  das  distracções  que  elle  acarreta,  a  disposição 
para  o  estudo  augmenta  ;  forma-se  ou  nasce  uma  inclinação 
para  qualquer  sciencia,  que  com  o  tempo  poderá  produzir 
seus  fructos.  A  nossa  tribuna  sagrada  tem  brilhado  sob  o 
peso  de  sãos  e  eloquentíssimos  discursos  pronunciados  por 
intelligeocias  robustas,  que  deveram  o  seu  saber  ao  retiro 
do  claustro.  Muitos  já  não  existem  n'este  mundo,  roas 
descansam  no  outro,  onde  terão  recebida  a  devida  recom- 
pensa pelas  suas  virtudes  ;  e  a  memorin  il"  c.i'^  um  d'elles 
é  e  será  lembrada  o  sempre  avivadn  n  >  ;ias  da  nossa 

historia.  A  poesia,  a  pintura,  as  math-'  ..-  is,  as  sciencins 
pbysicas,  a  lilteratura,  a  pbilosopbia,  u  uutros  ramos,  tem 
sido  por  elles  cultivadas  com  esmero  e  com  proveito  para 
a  sociedade,  e  os  seus  conhecimentos  se  patenteam  nas 
obras  que  legaram  á  posteridade. 

Nos  conventos  podem  ser  guardadas,  como  de  focto  o  são, 

muitas  relíquias  de  incontroversa  utilidade  para  a  historia 

do  paiz.  Encerram  documentos  valiosos,   que  são  uma 

foote  fecunda  de  illustração  para  os  que  desejam  possuir 

TOMO  XXXI,    P.  II.  28 


DictizedbyGoOJ^IC    . 


—  918  — 

dados  exactos  sAbre  homeos  illustresdeépochas  mais  remo- 
tas, os  quaes  honram  a  leira  em  que  TÍreram,  augnaentam 
coosideraTelmente  a  sua  importância. 

A  pobreza  encontra  sempre  um  abrigo  na  caridade  que 
os  distingue ;  o  espirito  religioso  procura  consolações  no 
cumprimento  dos  diversos  preceitos  da  religião,  a  qae 
elle  se  impõe. 

Suppondo  pro?ados  os  benefícios  que  a  sociedade  po- 
derá colher  da  uma  ordem  monástica  estabelecida  sobre 
solidas  bases,  não  insistiremos  mais  D'esta  discussão,  alias 
estranha  ao  propósito  eé  natureza  do  presente  trabalho. 

Fr.  JoséMarianno  da  Conceição  Velloso  é  um  eiemplo, 
que  conGrma  o  pensamento  que  enunciamos.  Os  primei- 
ros priocipios  foram  apanhados  depois  da  sua  profissão. 
Na  solidão  om  que  viveu  por  alguns  aanos  levo  por  único 
encanto  a  leitura  de  diversos  livros,  que  lhe  forneceram  as 
primeiras  bases  para  os  seus  estudos  posteriores ;  tinha  por 
única  distracção  a  companhia  de  alguns  amigos,  e  os 
conhecimentos  que  diariamente  adquiria.  Pouco  a  pouco 
foi  se  desenvolvendo  a  sua  inlelligencía  e  identilicando-se 
com  o  trabalho,  de  sorte  que  de  1789  cm  diante  achou- 
se  convenientemente  preparado  para  desempenhar  os  di- 
versos deveres  que  lhe  foram  prcscriplos,  não  só  pola  nobre 
missão  de  ser  útil  á  pátria,  como  pelo  seu  constante  bem- 
feítor  S.  M.  o  Sr.  D.  João  VI.  Tomou-se celebre  peta  íllus- 
tração  e  serviço.s,  como  um  notável  servidor  do  Estado 
pelas  obras  que  publicou.  Honrou  a  ordem  dos  francisca- 
nos, a  que  pertenceu,  pelas  virtudes  e  pelos  fruclos  de 
suas  lucubraçSes. 

CAPITULO  XU 

Aloyraphia  dos  alkaíis  fixos,  segundo  as  meViorts  me- 
moriai estrangeiras  que  se  têm  escripto  sobre  este  assumpto: 
eis  o  titulo  de  uma  das  producçies  de  Velloso. 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  819  — 

EDcarregado  de  escrever,  em  idioma  porlt^ez,  lodos  os 
trabalhos  concerneotes  i  extracção  de  alguas  alkalis,  exis- 
tentes em  plantas  do  Brasil,  Velloso  conseguiu,  do  espaço 
de  três  mezes,  reunir  e  publicar  os  dados  que  colheu  das 
suas  pesquisas.  Para  tomar  o  seu  trabalho  mais  completo, 
anaexou-lbe  os  desenhos  dos  vegetaes  mais  importantes, 
que  constituem  a  segunda  parte  d' este  volume. 

Na  primeira  dedicatória  ao  seu  Protector,  mencionava  as 
vantagens  a  aproveitar-se  d' este  estudo  para : 

A  agrictUtura,  pharmacia,  chimica,  tinturaria,  saboa- 
rias,  vidrarias  e  brangiieariat. 

Na  segunda,  encontrámos  novas  provas  do  quanto  era 
Velloso  reconhecido  aos  benefícios  que  lhe  prodigaUzavam. 
Um  documento  tão  valioso  merece  um  lugar  dístincto  Doesta 
biographia,  e  para  elle  solicitamos  a  benévola  attenção  do 
Instituto : 

Senhor.— £i«/epar«wpaírtí5,  princeps pius,  mgeJoan- 
nes  noslrum  cura,  decus,  gloria,  fautor,  honos. 

(  Desde  os  mais  remotos  e  confusos  séculos,  ainda  lendo 
os  illustres  Phidias  e  Praxiteles  lavrado  os  mármores  o 
fundido  os  bronzes,  a  humanidade  verdadeiramente  agra- 
decida, em  despeito  d'estes  padrões,  que  o  devorador 
tempo  deslroe,  conservou  o  costume  de  erigir  estattus  de 
vivos  vegetaes  á  memoria  de  seus  íltustres  hemfeitores. 
Quem  não  vê  que  estas,  pela  sua  succcssivareprodiicção, 
e  multiplicação,  contra  as  quaes  uão  tem  o  tempo  podei 
algum,  são  mais  capazes  de  levar  á  ultima  posteridade  o 
nome,  que  se  quer,  perennal? 

«  Ah  !  Revolvidos  milhares  de  séculos,  quando  já  Mem- 
phis  das  suas  soberbas  maravilhas  nem  as  ruiaas  pôde 
apreseiilar-Qos,  si  Flora  nos  convida  a  visitar  os  seus  ame- 
nos vei^eis,  n'estes  encontraremos  erguidas,  e  respeitare- 
mos tantas  augustas  vegetaes  estatuas,  quantas  foram  as  que 


Dictzedby  Google 


—  aao  — 

n'esse3  prímitiTos  tempos  se  ÍDaagararam  aos  seus  gracio- 
sos soberanos,  e  a  outros  illuslres  persooagens.  Elias 
ainda  despregam  com  a  mesma  loQçania  todo  o  subido  ma- 
tiz das  cAies,  que  tiveram  quando  foram  inauguradas,  eves- 
tidas  de  régias  purpuras :  ainda  deixam  lâr  escriptas  nas 
suas  fldres,  com  indeléveis  caracteres,  os  augustos  Domes 
dos  seus  Ludigetes :  de  Clymeoo(a),  de  Gupator(&),  de 
Gencio(c),  de  Lysimaeho(íQ,  de  Phamaceon  (e),  de  Tele- 
ptaioi/*),  de  TeaorÍo(9),  de  Valerio(/i),  de  Arlemisia{i),  de 
Althea(fc),  de  Helena  (Q,  de  Bellis(m],  de  Carlos  V(n). 

■  Para  haverem  de  fazer  esta  representação  augusta,  t^m 
eltas,  em  st  próprias,  nobreza  sobeja  sobre  toda  a  preciosi- 
datle  dos  metaes.  Estes  unicamente  são  nobres,  emquanto 
a  nossa  phantasia  quer  que  elles  representem  os  bens,  que 
só  as  plantas  nos  podem  dar,  e  pelos  quaes  privativamente 
d'ellas  dependemos.  Na  grande  escada  da  natureza  os  cor- 


(a)  Príncipe  da  Arcádia. 
(6)  Rei  do  PoQlo. 

(c)  Rei  de  Hlyría. 

(d)  Priacipe  de  Sicilia. 

(e)  Rei  de 

íf)  Rplde  Mysta. 
(g)  Rei  de  Troya. 
(A)  CoqsdI  Romano, 
(í]  Rainha,  mulfier  de  Maosolo. 
(t)  RaÍDiía,  mulher  de  Eoeo. 
(I)  Ramba,  mulher  de  Heoeláo. 
(m)  Príncipe  da  Diuanuu^a. 
(n)  Carlos  V. 


Dictzedby  Google 


-  321  — 

pos  orgânicos,  que  se  ai^imentam  por  inias  tuiceptionem, 
como  vegolantes,  mais  próximos  aos  animados,  a  todos  su- 
periores, tém  um  melhor  lugar  do  que  os  corpos  iaorgaai- 
cus,  que  crescem  por  extra  positioaem,  e  que  ficam  do  seu 
ultimo  degráo. 

«  Talvez  poresle  motivo  os  antigos  se  houvessem  de  en- 
thusiasmar  tanto  pelas  plantas,  que  chegaram  a  suppdr,  c 
ainda  a  crer,  ou  que  nSo  havia  planta  alguma,  que  não  re- 
presentasse,  e  a  que  não  correspondesse   um  benéfico 


/VíBsetiíem  referat  qucelibet  herba  Deum 

ou  que  não  a  protegessem  por  uma  particular  escolha  sua 

Quas  vellent  esse  in  sua  potesíate 

Divi  iegervnt  plantas.— (Vhedro,  liv  3,  fab.  17. ) 

ou  que  a  ellea  se  não  poderia  Tazer  maior  obsequio  do  que 
respeital-os  nas  plantas,  que  lhes  eram  consagradas.  Tal 
foi  o  carvalho  consagrado  a  Júpiter,  ta)  a  oliveira  a  Mi- 
nerva. 

«  O  seguinte  facto,  Senhor,  mostrará  decidida  a  questão 
da  duração  a  favor  dos  vegetaes.  António  Huza  e  Eupbor- 
bio  foram  irmãos,  e  ambos  médicos  de  dois  soberanos  dif- 
ferenles,  o  primeiro  de  Augusto,  e  o  segundo  de  Juba  ;  e 
tendo  cada  um  curado  aos  seus  respectivos  soberanos  de 
enfermidades  graves,  foi  decretado  a  Huza  uma  eril  estatua 
por  Augusto,  e  a  Eupborbío  uma  vegetante  planta  por 
Juba.  A  estatua  de  Huza  periitl  evanuiti  a  de  Eaphorbio 
perdurai  /  perermat  I 

a  O  cavalheiro  Uma,  reformando  a  relaxação  introduzida 
Da  botânica,  a  respeito  da  inauguração  d'esta8  vegetaes es- 


Dictzedby  Google 


tataas,  ou  reproductivos  monumeotos,  propõe  aos  outros  o 
sen  exemplo  por  norma 

Nomina  genérica....  Regum  eontecrata  eteorwn.qai 
boianicam  promoverunl,  ntituo 
persuadido  de  que,  não  offerocendo  a  botânica  lucros  al- 
guns aos  que  a  ella  se  applicam,  e  só  trabalhos,  si  os  mo- 
oarchas  nlo  a  tomassem  debaixo  de  sua  protecção,  e  aos 
seus  professores,  não  poderiam  estes  jamais  fazer  alguma 
fortuna  brilhante  pelas  immensas  despezas  que  seriam 
obrigados  a  fazer,  a  não  serem  auxiliados  pelo  seu  pode- 
roso braço : 

NUi  Reges  arti  opem  adferant,  sumptibusque  necessariis 
siibUvml,  pauci  existerant  digni  botânico  namine. 

f  Ora,  si  eu  devo  ter  a  qualidade  de  botânico,  mais  do 
que  aos  meus  débeis  estudos,  o  confesso  devera  V.  Á. 
Real,  que  tantas  vezes  me  tem  honrado  com  a  sua  real 
firma.  Eu  seria,  Senhor,  ingrato,  si  uma  vez  me  não  visse 
o  mundo  prostrado  no  supedaneo  do  real  Ihrono  de  V.  A. 
Real,  confessando  a  minha  divida;  si  não  procurasse  per- 
petuar fl  minha  conlissão  pela  inauguração  de  uma  vegetal 
estatua,  que  hnja  de  transmittir  á  posteridade  o  augusto 
nomo  do  V.  A,  Real,  denominando-a  Jfoannena. 

■  Os  botânicos  estranhos  so  tõm  lembrado  de  perpetuar 
os  nomes  dos  seus  soberanos  em  plantas,  quo  espontanea- 
mente nascem  no  Rrasil,  sem  terem  um  direito  tão  sagrada 
a  esta  província.  Acham-se  já  nos  seus  catálogos,  postas 
com  o  nome  de  Caroiinea  Princeps  (a),  e  outra  insignii,  e 
de  Giistavia  itigusla  a  japarandiba  e  o  embíruçà  dos  bra- 
sileiros, dedicadas  á  prioceza  D.  Sophia  Carlota,  marqneza 
de  Baden,  e  a  Gustavo,  rei  de  Suécia  ;  e  os  nossos  botâni- 
cos atá  aqui  se  não  tAm  lembrado  de  tributarem  este  censo 

t»)  Hoje  Pachira  Prinr^i. 


Dictzedby  Google 


aos  seus  soberanos,  que  tanto  tém  promovido  entre  dós 
esta  scíeacia,  com  cadeiras  em  que  se  ensinem,  rxim  hor- 
tas, em  que  se  cultivem;  com  viagens  em  que  se  obser- 
vem, etc. 

I  Eu  me  não  devo  p6r  a  par  d^elles,  emquante  ao  mereci- 
mento ;  imitando,  porém,  aos  estranhos,  introduzirei  nu 
botânica  o  novo  género  de  Joannesia,  sendo  V.  A.  Real  o 
augusto  typo,  o  seu  soberano  iadigílo. 

Euge  parem  pátria,  e/c. 

■  E  para  que  ceremonia  alguma,  das  que  observam  os 
botânicos  n'estas  dedicações,  me  não  falte,  passo  e  etpdr 
a  analogia,  que  descubro  entre  este  vegclal  estatua  eV.  A 
Real,  para  verificar  a  pretendida  conveniência  do  nome. 

<  Connexio  nominis  a  botânico  derivaticum  planta,  nulla. 
vulgo  credi/«r,  atqui  rei  leviler  in  kiitoria  litteraria  ver. 
satus,  fadle  vincvlum  quo  connectot  nomen  et  plantam 
repariet,  imo  cum  tanta  suavitale,  e/c  — (Lin. ) 

1  Julga  este  sábio  que  as  baubinias  são  semelhantes  aos 
dois  irmãos  Bauhinios,  ambos  iguaes  botânicos,  em  te- 
rem íguaes  os  dois  lobos  das  suas  folhas.  A  scheuchzeria 
aos  dois  irmãos  botânicos  Scheuchzerios,  em  o  serem  am- 
bos eicellenles,  um  no  conhecimento  das  grammas,  outro 
uo  das  plantas,  etc. 

■  Querendo,  portanto,  discorrer  á  maneira  d'este  sabío, 
descubro  as  três  seguintes  connexões  :  1.*  Nas  folhas  digí- 
taes,  umas  mãos  abertas,  quaes  têm  sido  as  de  V.  A.  Real 
para  favorecer  aos  beneméritos.  2.*  No  fructo  lenhoso,  em 
figura  de  coração,  e  cicatrizado,  um  coração  constante, 
mas  assignatado  pelos  sentimentos  das  desgraças  politicas 
da  ultima  dccaila  doeste  século.  3.*  Nas  duas  sementes,  que 
encerro  o  fructo,  os  dois  bens  da  religião  e  da  monarchia. 
que  V.  A.  Real  tem  no  coraç&o.  E  também  os  dois  objec- 


Dictzedby  Google 


—  asi- 
los de  am  amoi  ipul,  o  reino  e  o  principado.  Ah !  &à  in- 
terprete de  ambos,  eu  lavro  já  uo  pedestal  doesta  eslataa, 
para  que  presentes  e  vindouros  létm ; 

Euge  parens  paírioB,  princeps,  eage  Joannes 
Félix  mb  tanto  príncipe  turba  sumus. 

Fr.  José  Harianno  da  Conceição  Velloso. 


DEFPlinçÃO  DA  PALAVRA   SAL 

A*  duas  idéu  mais  commuiis  ou  geraes,  que  Ibe  podem  pertencer. 

b30'.  1*  o  sabor,  3*  ser  solúvel  em  agua Concluindo:  Que  toda 

a  substancia,  que  fõr  solúvel  em  agua,  e  capai  de  alTeclar  pelo  seu 
sabor  o  orgSo,  pôde  com  Ioda  a  segurança  ser  chamada  sal. 
Estas  duas  proposições,  embora  tenham  um  grande  fun- 
damento, comtudo  sofTrerei  excepções,  que  deviam  ter  sido 
attendidss,  e  que  podemos  apontar  em  qualquer  das  duas 
classes  dosaes  — amphHos  a  haloideos.  Todos  os  sulfatos 
são  solúveis,  exceptuando  o  de  barjta  ( barytina  dos  mine- 
ralogistas),  o  de  eslronciana  ( celestina)  e  o  de  chumbo 
{anglesites).  De  todos  os  carbonatos,  os  que  se  dissolvem 
facilmente  são,  os  de  potassa  e  soda :  o  de  lilhina  é  pouco 
solúvel;  os  alcalinos  terrosos  só  dissolvem-se  em  uma 
agua,  que  contenha  acido  carbónico,  porque  fórma-se  um 
bicarbonato;  os  outros  são  completamente  insolúveis.  Na 
classe  dos  saes  haloideos,  lemos  alguns  chlorurelos  insolú- 
veis, assim  como  bromurelos  e  ioduretos  ;  sirvam  de  exem- 
plo o  chlorureto  de  prata,  os  bromuretos  e  ioduretos  do 
mesmo  metal ;  o  calomelauos  ou  proto-chlorureto  de  mer- 
cúrio, e  alguns  mais. 

Quanto  á  propriedade  organoleptica,  diremos  também 
que  nem  todos  os  saes  tdm  um  sabor  pronunciado  :  alguns 
são  amargos,  outros  de  sabor  adocicado,  e  certos  saes  são 
mais  ou  menos  insípidos. 


Dictzedby  Google 


Nem  sempre  é  sal  acido  aquelle  que  lem  a  propriedade 
de  envermelhecer  o  papel  azul  de  gyrasol.  Muitas  vezes 
o  excesso  de  acido  em  um  sal,  mais  do  que  é  necessário 
para  neutralizar  a  base,  é  a  causa  única  da  mudança  de 
côr  que  opera-se  n'aquelle  reactivo,  quando  em  contacto 
com  o  mesmo  sal ;  mas  acontece  que,  tendo  sempre  o  acido 
mais  afíinidade  para  a  base  do  papel  de  gyrasol,  do 
que  para  o  oiydo,  com  o  qual  está  combinado,  forçosa- 
mente deixará  a  segunda  pela  primeira,  e  immediata- 
raente  mudar-se-ba  a  côr  do  reactivo,  de  azul  para  verme- 
lha, sem  que  este  pheooraeno  seja  devido  a  um  excesso  de 
acido ;  esta  acção  poderá  dar-se  com  alguns  saes  neutros. 

Concordamos  em  que  seja  difficil  achar-se  uma  exacta 
dermição  para  a  palavra  sal.  Emquanlo  a  classe  d'estes 
compostos  cfaimicos  comprefaendia  apenas  os  que  boje  são 
chamados  saes  ampbidos,  como  sejam  os  sulfatos,  carbo- 
natos, nitratos,  phospbatos,  etc.,  etc,  a  deliniçâo  poder- 
se-bia  circumscrever  a  um  gráo  certo  de  combinação  ( me- 
tal, oxygenio  e  um  metatloide),  sempre  um  acido  e  uma 
base  ou  oxido  metallico,  ambos  compostos  binários,  ajun- 
tando algumas  propriedades  fundamentaes,  assim  como  a 
indicação  do  elemento  eleclro-negativo  e  a  do  corpo  elec- 
tro-positivo.  Hoje,  porém,  que  se  incluem  sob  a  denomina- 
ção de  saes  as  combinações  binarias  de  qualquer  dos  halo- 
géneos :  chloro,  bromo,  flúor,  iodo,  enxofre,  selenio  e 
tellurio,  com  os  metaes,  toda  e  qualquer  definição  deverá 
começar  pela  eiactu  dislincçSo  dos  dois  grandes  grupos,  e 
ós  traços  particulares  de  cada  um  d'ulles.  A  propriedade 
electro-chimica  já  não  pôde  servir  de  característico  funda- 
mental e  distinctivo ;  porquanto  ser-nos-ha  fácil  provar  que 
etla  eslende-se  aos  hydrscidos,  oxydos,  ácidos  e  saes,  se- 
gundo os  principies  estabelecidos  na  electro-chimica  por 
Gavarrel,  Daguin  e  muitos  outros  physicos  notáveis. 

TOMO    XXXI,    P.    11  29 


Dictzedby  Google 


o  oxydo  de  potássio,  submettido  i  acção  de  uma 
correole  eléctrica,  em  um  apparelho  coDTenieDtemente 
disposto,  decompõe-se;  o  oxigénio,  como  etemeDlo  elec- 
tro-negatÍTO,  diríge-se  para  o  polo  positivo  da  pilba,  e  o 
metal,  sendo  eleclro-posilivo,  para  o  polo  Dt^ativo. 

Em  todos  os  ácidos,  o  radical  é  sempre  electrízado  posí- 
tivameote  na  decomposição;  assim  como  o  são  os  metaes 
que  formam  oi;dos,  combÍDando-se  com  o  oxjgenio,  e  saes 
haloideos  em  combinação  com  os  metalloides  das  duas  clas- 
ses dos  sulfuroideos  e  cbloroideos. 

Nos  saes  amphidos,  os  ácidos  são  sempre  os  elementos 
electro-oegatÍTOs.  Nos  hydracídos,  o  bydit^enio  na  de- 
composição electro-cbimica,  electriza-se  positivamente  ; 
mas  na  eIectrolysed'agua,  toroa-se  etectro-positivo  em  re- 
lação ao  oifgeoio. 

Eis  tudo  quanto  nos  convém  dizer  sobre  as  duas  prima- 
ras paginas  d'esta  obra.  Tornando-se  fastidiosa  a  descrip- 
Ção  dos  processos  para  a  extracção  dos  alcalis,  contentar- 
nos-bemos  com  apontal-os. 

Occupa-se  em  seguida  da  verdadeira  significação  da 
palavra  alkali,  (a)  que  segundo  uns  vem  da  planta  kaii,  ou 
do  grego  kalos,  que  quer  dizer  sal;  e  diversas  plantas 
marítimas  taes  como  o  kali,  o  kelp,  a  barrílba,  de  cujas 
cinzas  tAm-se  extrabidu  diversos  saes  alcalinos,  com  a 
exposição  dos  processos  para  obter  os  alcalis,  assim  como 
(a)  Na  opínicEo  do  meu  antigo  o  illusirsdo  Dr.  fienjamim  FraolcliD 
Rsmia  Galvão : 

Parece  que  o  vocábulo— alca/i—escrípto  por  algoos — alkali—,  tem 
sua  origem  elymologica  aates  no  árabe  do  que  no  grego;  como 
opjaam  Constâncio  e  o  Sr.  D.  J.  de  Lacerda  a  palavni  vem  do  artigo 
ai  e~haii  ou  cali—  nome  de  uma  planta  cujas  cinzas  Forneciam  soda. 
Para  faièl-a  provir  do  grego,  fora  necessário  torcer  elymologias;  em 
todo  o  caso  não  pudera  ser  kaloí,^  como  dá  Fr.  Velloso,  mas  kaU, 
kaiót  que  signi6ca—  o  ttU. 


Dictzedby  Google 


as  proporções  obtidas;  calcinação  ou  carbonizaçlo  de  al- 
gumas madeiras  para  das  suas  cinzas  eitrahir  a  potassa  ; 
origem  do  tarlaro,  sua  differença  do  cremor  de  tártaro ; 
propriedades  do  sal  de  tártaro;  terminando  por  uma  sue- 
cinta  exposição  sdbre  os  saes  Deulros. 

Esta  primeira  memoria  de  que  occupoa-se  o  conspícuo 
Velloso  é  original  de  Watson,  professor  régio  de  theologia 
da  uDirersidade  de  Cambridge.  (Cbemical  Essais,  Tomo  1. 
Essais  111.) 

Á  segunda  parte  comprebende  o  estudo  de  diversos 
corpos  cbimicos,  que  estão  hoje  muito  bem  estudados, 
e  cujo  conhecimento  se  tem  vulgarizado,  como  sejam :  os 
ácidos  sulfúrico,  azotico,  bórico,  fluorico,  ele. ;  as  bases : 
potassa,  soda  e  &mmoniaco,  e  diversos  saes  como :  o 
sulfato  de  potassa,  o  de  soda  (sal  de  Glauber),  de  ammonia, 
de  magnesia,  e  com  outros  oxydos;  muriatos,  nitratos, 
boratos  e  carbonatos. 

As  propriedades  e  processos  apontados  não  são  des- 
conhecidos na  actualidade ;  pelo  contrario,  a  sciencia 
de  hoje  possue  idéas  muito  mais  desenvolvidas,  e  que 
não  eram  bem  conhecidas  n'aquelle  tempo.  Menciona- 
remos também  algumas  cartas  publicadas  em  seguida, 
todas  relativas  aos  meios  para  obter  a  potassa,  e  ao  sea 
estado,  o  que  prova  de  sobejo  o  espirito  pesquisador  de 
nosso  compatriota,  que  esforçou-se  em  colligir  todos  os 
documentos  valiosos  sdbre   este  importante   objecto. 

Occupa  também  um  lugar  dislincto  o  extracto,  sobre 
o  melbodo  de  se  preparar  o  oxjrdo  de  potássio,  tirado  da 
enciclopédia  melhodica,  que-  passaremos  por  alto  por 
suppâl-o  muito  conhecido;  merecendo  particular  men- 
ção as  diversas  appIJcações  das  substancias  alcalinas  nas 
artes,  na  branquearão,  e  m(Ueria$  colorantes  dat  linhas, 
por  Richard  Kirnau;  e  outros  elementos  que  são  des- 


Dictzedby  Google 


-  228  - 

tinsdos  a  preencher  ou,  confirmar  o  titulo  d'e5te  tra" 
balbo. 

A  segunda  parle  é  intitulada  —  Flora  Alograpttíca  —  ou 
exposição  e  descripçjlo  de  alguns  vegelaes  do  Brasil,  e 
de  outros  que  são  mencionados  na  primeira  parta  d' esta 
obra,  e  dos  quaes  póde-sa  extrahir  o  alcali,  de  que  nos 
temos  occupado. 

As  estampas  são  nitidas;  os  característicos  botânicos 
laconicamente  enunciados,  e  são  accompaahados  d'uma 
exposição  sobre  as  propriedades  de  cada  uma  das  plantas. 

Começa  pelo  andauçií,  Joannesia  Princeps  (Aada  Go- 
mesii),  cujas  propriedades  medicinaes  residem  no  óleo 
graio,  que  se  forma  no  interior  do  pericarpio,  etc.  O  de- 
senho é  claro,  e  contém  todos  os  orgSos  fundamentaes  nas 
suas  posições  respectivas,  e  lambem  separados  para  que 
a  planta  possa  ser  estudada  em  todos  os  seus  pormenores. 

Vem  em  seguida  a  alfavaca  de  cobra  —  parielaria  offi- 
cinalís;  o  —  trevo  d'agua  —  menyanthes  trifoliata ;  o  — 
gyrasol — helianlhus  annuus  ;  a —  iosna— artemisia  absin- 
thium;  —  a  herva  malarinha  —  fumaria  ofllcinalis;  —  a 
embaiba  ou  ambaybn —  cecropía  peltata ;  —  o  fumo —  ni- 
cotiana  tabacum ;  o  —  verbasco  branco  —  verbascum  tha- 
psus;  o  — castanheiro  da  índia;  o —  milho;  o  —  marroio 
vulgar;  a — bananeira  da  terra ;  o  — pdo  d' alho  ou  guara- 
rema ;  a  —  samambaia ;  a  —  ortiga ;  o  —  meimeru^o ;  a — 
douta;  o — keltotropio ; — e  a  borragem.  Os  nomes  botânicos 
d'essas  plantas  foram  substituídos  posteriormente;  ellas 
acbam-se  hoje  classilicadas,  segundo  o  metbodo  de  Jussieu, 
em  famílias  naturaes,  por  exemplo:  o  heliotropio  e  a 
borragem —  na  familía  dos  borragineas ;  o  gyrasol  e  a  losna 
na  extensa  família  das  synantbereas ;  u  fumo  na  das  sola- 
naceas:  a  embaiba  nas  artocarpeas;  o  milho  nas  gra- 
míneas; a  bananeira  nas  musaceas;  o  páo  d'albo  ou 


Dictzedby  Google 


—  929    - 

guararema, (a)  o — Gatlma ícot^ododmdrwn  —  Css.;  oaa- 
dauçú  nas  euphorbisceas  ;  a  ortiga  nas  urtLcaceas.  elo. 

Resta-nos  fizer  duas  observações.—  O  trakiá,  que  per- 
tence ao  grupo  das  capparidoas,  deréra  ser  incluído  qo 
numero  dos  vegetaes,  que  contam  na  casca  uma  grande 
dose  de  potassa. 

A  descripção  da  enAaiba  é  tanto  menos  completa  quanto 
não  contempla  o  curioso  pbenomeno  que  apresentam  as 
antbéras,  na  épocba  da  fecundação,  o  que  foi  tão  bem 
observado  e  descripto  pelo  itlustre  botânico  Dr.  Francisco 
Freire  Allemão. 

CAPITULO  XIII 

Diremos  algumas  palavras  sAbre  um  opúsculo  publicado 
em  1800  pelo  padre  Mar.*  Velloso,  e  que  tem  por  titulo 
Naturalista  iiistruião  nos  diversos  methodos  antigos  e 
modernos  de  ajuntar,  preparar  e  conservar  as  producções 
dos  Ires  reinos  da  natureza. 

A  zoologia  é  uma  sciencia  vasta,  para  o  estudo  da  qual 
a  vida  do  bomem  não  é  sulGciente.  Dividida  segundo 
Cuvier  em  quatro  grandes  ramos,  cada  ramo  em  um  certo 
numero  de  classes,  as  classes  em  ordens,  estas  em  famílias 
até  aos  géneros ;  quantos  annos  nâo  são  necessários  para 
aprofundar-se  o  estudo  de  uma  classe  de  aoimaes?  Um 
verdadeiro  zoologo,  reconhecendo  a  impossibilidade  de 
tornar-se  especial  em  todos  os  íamos  da  sciencia,  procura 
colher  um  grande  numero  de  conhecimentos  sdbre  cada 
uma  das  suas  divisões,  e  entrega-se  com  mais  afinco  ao 
estudo  de  uma  clasn  deanimaes;  restringe  d'esse  modo 
o  campo  de  suas  investigações. 

Outro  tanto  acontece  com  a  sciencia  dos  vegetaes.  Não 
ha  quem  possa  ser  profundo  em  todas  as  divisões  dos  Ires 

(a)  Nas  Phjtolacaceas. 


Dictzedby  Google 


gnBdes  ramos :  aoo^edoneo,  monocotyledoDeo  e  dícot;- 
ledoneo. 

Qualqaer  dos  tres  comprebende  am  grande  Qumero  de 
famílias,  cada  uma  das  quaes  pôde  constituir  uma  especia- 
lidade ;  e  actualmente  a  botânica  ollerece  outros  campos 
para  ioTestigaçdes  de  grande  interesse  e  importância,  taes 
como :  a  analomia  elementar,  a  anatomia  descriptiva  ou  or- 
ganographia,  a  ph^siologia,  a  teratologia,  a  organt^nia,  a 
distribaiçAo  geograpbica  das  plantas,  etc,  etc.  Quantos 
factos  nSo  existem  desconhecidos  e  por  descobrir?  Que 
my sterios  nio  occultam  verdadeiras  maravilhas  1 

Sendo,  pois,  uma  verdade  inconcussa  o  que  acabámos 
de  dizer,  resta-nos  um  único  pensamento.  Os  grandes 
musèos  são  estabelecidos  com  o  fim  de  fornecer  aos  homens 
de  estudo  o  material  necessário  para  a  illustração  de  sen 
espirito. 

D^ahi  nasce  a  necessidade  das  grandes  coUecções,  per- 
feitamente  coordenadas  e  methodizadas.  E  como  conservar 
os  animaese  vegetaes  que  se  corrompem  desde  que  deixam 
de  existir?  E'  forçoso  loQçar  mâo  do  artificio  para  que  estes 
seres  organizados  possam,  depois  de  mortos,  figurarão 
lado  dos  corpos  Inorgânicos  ou  mineraes,  e  ser  observados 
e  estudados  com  proveito  pelos  que  se  dedicam  á  historia 
natural. 

Esta  é  a  idéa  que  Frei  Velloso  procurou  realizar,  contri- 
buindo com  a  valiosa  offerta  das  suas  pesquizas. 

Principia  expondo  a  preparaçSo  dos  quadrúpedes  e 
reptis,  das  tartarugas,  lagartos,  sapos  e  pássaros  ;  os  pro- 
cessos para  abrir-se  cada  um  dos  anímaes,  e  para  enchél-os. 
Descreve  minuciosamente  o  modo  de  abrir-se  o  animal,  por 
incisões  longitudioaes,  ou  transversaes ;  indica  os  meios 
de  preparar  parcialmente  cada  o^ão,  separando-o ,  des- 
tacando coED  cuidado  a  pelle ,  extrabindo  os  músculos  cd- 


Dictzedby  Google 


taaeos  e  agordura,  assim  como  outros  dados  iodispensaveis, 
que  são  hoje  conhecidos.  Cita  os  diversos  ingredientes  que 
deTom  ser  introduzidos  em  cada  grupo  dos  animaes  acima 
cilados,  e  a  proporção  de  cada  um.  Eipõe  o  methodo  de 
preparar  as  pelles  séceas,  e  a  composição  do  liquido  para 
amotlec61-as.  Em  substancia,  eis  o  pensamento  cardeal 
d'este  opúsculo. 

CAPITULO  XIV 

Consagremos  algumas  linhas  i  Memtria  sobre  a  cuUur 
da  urumòeòa  e  sobre  a  creação  da  cochonilha,  extrahida 
por  Ba'tholet  das  observações  feitos  em  Guaxaca  por 
Thierry  de  MononvillCj  e  copiada  do  5"  tomo  dos  armaes 
de  chimica  por  Frei  José  Marianno  da  Conceição  Velloso. 
fl  Espero  que,  sendo  esta  memoria  espalhada  pelo  Brasil, 
e  particularmente  pelos  poros  de  beira  mar,  que  possuem 
tantos  tratos  arenosos,  inúteis  a  toda  outra  planta,  excepto 
esta,  haja  de  produzir  um  maravilhoso  effeito  no  commercio 
nacional,  pela  graude  feita  que  se  experimenta  doeste  gé- 
nero, assim  na  Europa  como  na  Ásia.  Que  ella  se  dè  bem 
nas  arãas,  é  um  facto  da  nossa  agricultura  do  Brasil ;  pois 
governando  o  Rio  de  Janeiro  o  Exm.  Luiz  de  Tascoo- 
cellos  e  Sousa,  animou  tanto  a  sua  cultura  nas  fregue- 
zías  que  ficam  pela  praia  ao  norle  da  mesma  cidade,  isto  é, 
Taipú,  Maricá,  Saquarema  e  Iraruama,  de  que  se  lembra 
a  Relação  do  inglez  Fauton,  que  não  só  chegou  a  mandar 
grandes  partidas  para  esle  reino,  compradas  pela  real  fa- 
zenda, como  também  a  dar  um  tom  de  vida  a  estes 
ichthyophagos  povos,  que  só  viviam  dos  peixes  que  pescam 
nas  grandes  lagoas,  em  cujas  margens  eslAo  aquellas  fre- 
guezias,  e  os  vendem  na  cidade.  A  longitude  de  18  léguas, 
que  ha  entre  as  duas  cidades  de  S.  'Sebastião  e  da  As- 
sumpção deCabo-Frio,  sem  contar  o  mais,  e  menos  dalar> 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  a32  — 

gura,  como  roubada  pela  eafiada  de  lagoas,  que  se  poderiam 
contar,  e  fazer  navegáveis  até  ao  Rio,  seodo  coberto  de 
urambebaes,  plaotados  e  cullívados  em  regra,  quanta  ri- 
queza não  deveriam  esperar  de  um  semelhante  estabeleci- 
mento ?  > 

O  primeiro  facto  é  o  que  foi  observado  pelos  hespanhóes 
quanto  aos  usos  que  os  índios  do  Meiíco  faziam  da  cocho- 
nilha, da  qual  serriam-M  para  tingir  o  algodáo  e  na  pintura 
das  suas  casas.  Foi  Reaumur  quem  lembrou  ao  príncipe 
regente  de  França  a  vantagem  de  desenvolver-se  a  co- 
cbonilba  nas  colónias  francezas ;  e  coube  a  Henonville  a 
glória  de  vir  ao  México  em  procura  do  insecto,  cujas  qua- 
lidades eram  por  muitos  apregoadas.  De  Vera-Cruz  dirígiu- 
se  a  Guaxaca  vencendo  mil  obstáculos  materiaes;  illudia  a 
vigilância  das  autoridades,  misturando  a  urumbeba  com 
outras  plantas,  para  que  todos  attribuissem  um  Tim  botânico 
â  sua  viagem,  e  d'esse  modo  conseguiu  embarcar  depois  de 
attingir  o  alvo  da  sua  espinhosa  missão.  Mas  não  transpAz 
o  oceano  sem  lutar  com  outras  contrariedades.  Este  im- 
menso  sacrilicio  não  obteve  a  recompensa  devida,  e  em 
1780  succumbiu  sob  o  peso  de  um  profundo  desgosto. 

O  estudo  da  urumbeba  é  importante,  porque  sobre  ella  e 
á  sua  custa  vive  o  insecto  de  que  temos  fatiado.  E^  uma 
planta  da  famitia  das  cacíaceo^,— espécie  — Cacíiu  coccinil- 
lifer ,  cujo  caule  e  cujos  ramos  são  articulados  entre  si> 
parecem  nascer  um  dos  outros  o  são  de  um  comprimento 
regular.  Na  opinião  do  autor,  a  seiva  é  muàlaginosa,  como 
uma  gomma  opaca,  branca  ou  amarellaj  e  com  mais 
outros  traços  característicos. 

Na  descripção  summaria  das  follias  nota  a  existência  de 
muitos  espinhos  na  axilla  de  cada  uma  d'ellas;  espinhos  de 
diversas  câres,  de  C  a  30  linhas  de  comprimento,  duros  e 
agudos,  que  se  prolongam  em  sedas ;  nada  diz  quanto  é 


Dictzedby  Google 


—  238  — 

origem  d' estas  armas  de  defesa.  Não  conhecemos  a  ptenta 
senão  em  desenho  ;  mas,  pelo  raciocinio,  talvez  possamos 
esclarecer  mais  o  fado,  ainda  que  ligeiramente. 

r  facto.  Um  espinho  p6de  ter  por  origem  uma  esti- 
pula, como  em  uma  planta  leguminosa  conhecida  por  tapa- 
pipa.  Estudando-se  alguns  ramos  d'esle  vegetal,  nota-se 
que  algumas  estipulas  são  foliaceas  ou  membranosas,  e 
que  as  de  cima  tCm  mais  consistência,  augmentando  até 
ura  gráo  de  considerável  rigidez.  Estas  ultimas  são  tão 
duras  que  os  tanoeiros  servem-se  d^ellas  para  brocar  as 
pipas. 

â.*  Abainha  d'espada  (iheophrasteas imperiali3?i  assim 
como  a  pequena  arvore  grumamé  ou  Santa  Luzia  daseu- 
phorbiaceas,  (em  os  bordos  das  folhas  guarnecidos  de  agu- 
dos espinhos,  que  são  formados  pelo  próprio  tecido  Sbro- 
vascular  das  nervuras  secundarias,  que  se  prolonga  alòm 
das  ortas  das  respectivas  folhas. 

3."  No  joá,  da  familia  das  solansceas,  as  armas  de 
defesa  nascem  do  dorso  de  cada  folha,  e  por  isso  ofTendem 
aos  que  ignoram  a  sua  existência.  Tèm  uma  relação  ím- 
mediata  com  a  estructura  anatómica  das  nervuras  de  que 
provém. 

4."  Na  linguaciba  (xanthoxylum  spinosum),  da  família 
da  rutaceas,  os  espinhos  são  constituídos  pelo  tecido  sube- 
roso  da  casca  dos  ramos ;  elles  na  roseira  tomam  o  nome  de 
aculeos. 

5."  No  citrus  aurantrium  provém  da  parte  lenhosa  dos 
ramos,  ou  dos  feixes  fibro-vasculares  que  a  constituem ; 
de  sorte  que  é  necessário  maior  esforço  para  destacar-se 
um  d'estes  do  que  um  ecúleo. 

6."  Assim  como  o  peciolo  de  certas  folhas  transfor- 
ma-se  em  gavinha  ou  mãozinha,  como  em  algumas  bígno- 
niaceas,  lambera  pôde  produzir  uma  arma  de  defesa. 
TOMO  KXXI  p.  n  30 


Dictzedby  Google 


—  23*  — 

T.*  Um  itmo  abortado  n^axiUa  d'ama  Coíba  pôde  (ansfor- 
ma>se  oa  em  orgio  de  appreheosSo  como  em  algumas 
passiíloreas,  ou  em  arma  defensiva. 

8.*  Á  nervura  mediana  de  cortas  folhas  lambem  pôde 
produzir  os  dois  órgãos  já  citados,  do  mesmo  modo  que 
as  Unhas  medianas  de  alguns  sepalos,  bracteas,  etc. 

Regra  geral:  todo  o  elemento  d'um  vegetal  que  tiver 
a  propriedade  de  transformar^se  em  qualquer  dos  dois 
orgfios —  gavinha  ou  em  arma  de  defesa,  poderá  apresea- 
tar-se  sob  a  forma  do  outro. 

Appliquemos  estes  princípios  á  urumbeba. —  Nas  cacla- 
eeas  (a)  ha  ausência  da  folhas,  que  representam  os  pulmões 
e  o  estômago  dos  animaes ;  de  maneira  que  a  respi- 
ração n'essas  plantas  faz-se  pelos  slomas  da  epiderme  do 
•  caule,  que  é  d'um  verde  distincto,  muitas  vezes  ca)'noso, 
e  guarnecido  como  na  fldr  da  noite  ou  do  baile,  e  nas 
opuntiat  mamillarias,  etc,  de  espinhos  agglomerados  de 
distancia  em  distancia.  A  presença,  pois,  d'este  oi^ão 
n'axílla  das  folhas  da  urumbeba,  onde  formam-se  e  deseo- 
volvem-se  os  gommos,  indica  uma  tal  ou  qual  ligação 
com  os  órgãos  que  estes  encerram.  Um  gommo  contém 
um  pequeno  ramo  em  miniatura,  e  uma  serie  de  folhi- 
nhas em  rudimentos,  cujos  merilhallos  são  nullos,  arran- 
jadas de  diversos  modos.  Si  estes  elementos  foiiaceos  não 
se  desenvolverem,  as-suas  nervuras  principaes  poderão 
subsistir  sob  a  forma  de  espinhos,  si  tiverem  adquirido 
a  necessária  consistência.  Só  vimos  o  desenho  da  planla  ; 
por  isso  não  afQrmaremos  qual  a  verdadeira  origem  d'elles, 
embora  estejamos  inclinados  a  explical-a  como  ha  pouco 
o  fizemos. 


(a)  Fazem  ezcepQ&o  as  espécies  do  género  peresiia, 
quaes  eDContromos  nos  arrabaldes  do  Rio  de  Janeiro. 


Dictzedby  Google 


o  estudo  d'estes  orgSos  accsssorios  cresce  de  impor- 
taocia,  porqae  muitas  vezes  auxilia-DOS  Da  classificação 
das  plantas,  que  os  contam ;  citaremos  quatro  exemplos. 
Na  Tamllia  das  passifloreas,  cada  gavinha  nasce  da  axilla 
d^uma  folha,  porque  provem  do  aborto  d'um  ramo. 

As  plantas,  como  as  parreiras,  que  possuindo  gavinhas, 
as  apresentam  na  posi^o  do  pedúnculo,  tiram  d'fllle 
a  sua  origem.  Na  vitis  víniftra  a  inflorescencia,  e  a  gavinfaa 
(mais  tarde],  são  oppostas  ás  folhas. 

Nas  cucurbilaceas  as  mãosinhas  nascem  de  diversos 
pontos  do  caule,  que  é  volúvel.  Segundo  De  Gandolle* 
em  alguns  casos  resultam  das  estipula)!,  o  que  nSo  se  ap- 
plica  ás  plantas  que  temos  observado,  como  sejam :  as 
espécies  de  cucumis,  cucurbita. 

Finalmente  em  algumas  bignoniaceas  os  pecioios,  depois 
da  queda  das  fuibas,  torcem-'se  em  espiral,  constituindo 
verdadeiras  gavinhas,|qtie  prcndem-se  ás  plantas  visinhas 
afim  de  sustentar  o  vegetal  a  que  pertencem. 

Continuemos  a  nassa  aaalyse.  Depois  de  descrevei  a 
ildr  da  urumbeba,  comprehendendo  os  quatro  órfãos  que 
a  compõem,  aponta  diversas  espécies  de  urumbebas,  como 
sejam;  a  tuna,  ou  raqueta  da  bordado  mar  na  phras^ 
dos  colonos  de  S.  Domingos;  a  pata  de  tartaruga,  em 
cujo  caule  encontram-se  longos  espinhos, -e  sobre  o  qual 
vive  a  cochonilha  silvestre;  a  raqueta  kespanhola,  cujo 
crescimento  é  notável ;  o  nopal  silvestre,  arbusto  de  18 
a  20  pés  de  altura ;  —  considerando  como  melhores  as 
urumbebas  de  Castella  e  do  Jardim  do  México,  primando 
aquella  pela  sua  belleza.  As  menos  espinhosas  favorecem 
mais  a  colheita  da  cochonilla,  comquanlo  algumas,  que 
possuem  muitas  armas  de  defesa,  sejam  adequadas  i  nu> 
trição  doeste  insecto. 

Os  apontamentos  que  em  seguida  esboçamos,  alguns  dos 


Dictzedby  Google 


—  236  - 

qiues  o&o  escapvam  ao  autor  da  obra  que  discatimos, 
tém  por  fim  presncber  as  pequenas  lacunas  qae  tt^ella 
eacontráiQOs. 

A  classe  dos  insectos,  do  grande  ramo  dos  articulados, 
compde-se  das  seguintes  ordens,  s^undo  a  classificação 
do  immortal  Cuvier : 

Hymenopteros,  Uemipteros,  Coleopteros,  Nevropteros, 
Ortbopteros,  Lepidopleros,  Dipteros,  Anoploios,  Rhipí- 
pteros  e  Tbysanureos.  —  Ao  todo  10  ordens:  cada  uma 
d'estas  ainda  se  divide  em  famílias. 

A  cochonilha  é  um  insecto  da  ordem  dos  bemipleros, 
da  família  dos  gailínseclos;  e  vem  do  grego  cocànos, 
que  quer  dizer  cõr  escarlate.  Pertence  ao  género  coccus ; 
e  a  espécie  mais  importante  é  o  cocctu  .cacíi.  Vive,  em 
geral,  sobre  a  urumbeba  e  á  custa  do  seu  sueco,  que  elte 
absorve  com  a  pequena  tromba  que  possue ;  prefere  as 
articulações  d'esla  planta,  e  a  que  tem  menos  espinhos. 
As  parles  principaes  do  seu  corpo  consistem:  em  duas 
antenas,  que  alguns  consideram  como  o  órgão  da  audíçfto ; 
tem  C  pés  curtos  e  duas  azas  {a  do  sexo  masculino), 
cabeça  pequena,  e  duas  sedas  na  extremidade  inferior  do 
abdómen.  Quando  se  quer  cultivar  a  cochonilha,  prepa- 
ram-se  previamente  os  urumbebaes,  distribuindo  sobre 
cada  individuo  d'esta  espécie  um  certo  numero  de  ninhos 
fabricados  com  o  tecido  utricular  das  folhas  das  palmeiras, 
e  repartindo  por  elles  os  pequenos  insectos  afim  de  serem 
fecundados.— Depois  de  um  mez  contado  da  épocba  da  fe- 
cundação, apparecem  os  cachos  formados  pelos  insectos, 
que  por  algum  tempo  abrigam-se  no  abdome»  de  quem  lhes 
deu  o  ser,  e  pouco  a  pouco  vão-se  desenvolvendo  e  pro- 
curando por  si  mesmos  o  alimento  de  que  necessitam  na 
própria  planta,  sabre  a  qual  passam  todas  as  phases  de  sua 
curta  existência,  ou  até  o  momento  em  que  o  bomom  julga 


DictizedbyGoOJ^IC 


opportuaa  a  sua  colheila.  À  vida  do  iaseclo  do  seio 
mascuIÍDo  leriiiina  pouco  depois  da  focuadação;  e  a  da 
fêmea  proloaga-se  até  ao  nascimento  dos  seus  Slbos. 

A  colheita  doeste  insecto  consiste  em  tirai-o  do  vegetal 
que  o  sustenta,  raspando-se  a  epiderme  com  um  instru- 
mento não  muito  cortante.  Introduz^se  n'agua  em  ebul- 
lição,  e  depois  de  morto,  deixa-se  seccar  ao  sol,  até 
adquirir  o  aspecto  d'ura  pequeno  grão  escuro.  A  sua  im- 
portância reside  no  principio  corante  que  elle  contém, 
e  que  as  artes  utilizam  com  o  nome  de  carmim.  Si  pu- 
zcrmos  em  contacto  com  a  agua  os  grãos  que  vendem  no 
mercado,  no  (tm  de  algum  tempo  augmentarào  de  volume, 
o  poderão  apresentar  alguns  traços  da  estructura  anató- 
mica do  insecto  que  foi  transformado. 

Alguns  preferiam  cultivar  a  cochonilha  fina,  de  prefe- 
rencia é  cocbonilha  silvestre,  por  ser  a  primeira  muito 
mais  rica  de  matéria  corante ;  mas,  em  compensação, 
a  segunda  resiste  melhor  ás  chuvas  e  ás  inconstancias 
dos  climas,  e  exige  menos  trabalho  para  a  sua  conservação. 

A  cochonilha  contém,  além  do  carmim,  uma  matéria 
azotada,  saes  de  potassa  e  de  cal,  e  uma  substancia  graxa. 

A  lã  e  a  seda  tornam-se  escarlates  pela  acção  do  prin- 
cipio corante  já  citado ;  também  certos  pós,  tintas*e  alguns 
licores  devem  a  ello  a  sua  câr  carmesim.  Os  alcalis  tém 
a  propriedade  do  mudar-lbe  a  cõr. 

Accrescen taremos  mais  algumas  idéas,  antes  de  darmos 
por  anda  esta  succinta  analyse  : 

Não  nos  consta  que  o  algodão  segregado  no  corpo  d'esle 
insecto  tenha  sido  aproveitndo  para  qualquer  fim  notável - 

Este  insecto,  que  se  procurou  introduzir  no  Brasil, 
graças  também  aos  esforços  do  nosso  digno  compatriota, 
tem  por  pátria  o  México,  onde  o  distinguiam  em  cochonilha 
fina  e  silvestre;  foi  cultivado  na  ilha  de  S.  Domingos,  eos 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  238  — 

europõos  o  coabecena  desde  1523,  pouco  mais  ou  menos. 

A  acção  do  alun  é  necessária  para  obter-se  o  carmim 
do  animal,  que  o  encerra. 

A  sua  preparação  foi  descoberla  por  um  monge  fran, 
ciscano,  segundo  alguns  afBrmam. 

O  merecimento  d'esle  trabalho,  ainda  que  pouco  ex- 
tenso, é  percebido  por  quem  lè  cada  uma  das  suas  pagi- 
nas com  todo  o  escrúpulo  e  decidido  interesse. — O  estudo 
da  urumbeba  augmenta  de  valor  pelo  auiilio  indispen- 
sável que  ella  ptijsta  á  cocbonilba,  a  quem  cede  o  alimento 
necessário  á  sua  subsistência.  A  importância  d'este  inse- 
cto reside  do  princípio  corante  que  d'GlÍp  se  oxtrabe  e  que 
a  sociedade  aproveita  para  fms  diversos.  Temos  além 
disso  a  descripção  do  vegetal,  que  é  de  grande  interesse 
para  o  botânico  que  deseja  cnnbecer,  assim  como  os 
traços  caracteristicos  da  cochonilha,  que  são  de  ímmenso 
valor  para  os  que  estudam  a  zoologia,  principalmente 
para  quem  se  fizer  especial  nos  conhecimentos  da  classd 
mais  importante  do  grande  ramo  dos  articulados. 

CAPITULO  XIV 

Em  Lisboa  publicou  Fr.  Veiloso  diversas  memorias, 
sobre  a  pipereira  negra  ou  pimonta  da  Índia,  do  go- 
vernador da  índia  (a),  de  Guilherme  Piso,  de  Savary,  e 
de  Edward,  guiado  pelo  pensamento  de  facilitar  a  sua 
cultura  no  território  do  Brasil.  Accompanha  uma  única 
estampa,  em  que  facilmente  se  observa  a  forma  e  inserção 
das  folhas,  a  grandeza  relativa  dos  peciolos,  a  conlinuidade 
dos  bordos,  e  a  nervação ;  articulação  dos  ramos,  a  in- 
florescencia,  a  forma  do  cálix,  numero  de  dentes,  a  Qôr 

(a)  tioveraador  e  capilio-general.  Francisco  da  Ciinha  MeDeies. 


Dictzedby  Google 


aberta,  e  o  fniclo  situado  sabre  o  pedúnculo.  O  deseoho 
Dão  é  completo,  por  isso  que  não  comprehende  os  estames, 
nem  o  fructo  e  o  ovário  abertos,  para  que  se  reconheça 
o  numero  de  lojas  e  «  disposição  dos  grãos,  nem  o  numero 
de  carpellos,  e  outros  pormenores,  que  facilitam  muito  o 
estudo  de  qualquer  planta. 

As  applicacões  da  pípereira  são  conhecidas,  quer  na  me- 
dicina, quer  nos  alimentos.  No  commercio  da  índia  sempre 
figurou  como  um  dos  productos  de  eiportação  para  di- 
versos pontos  do  globo;  todos  apreciaram  as  suas  pro- 
priedades, e  d'ella5  utiliza ram-se  em  larga  escala.  E'  o 
Piper  nigrum  da  família  das  piperaceas,  a  respeito  da  qual 
Achilles  Ríchard  exprime-se  do  seguinte  modo  na  sua 
Hisloi'ia  Nali^al  Medica  (a) : 

--  Cette  petíte  famillu  doit  étre  rangée  parmi  celies  òu 
les  propriéiés  médicales  presenteai  runiforinilé  la  plus 
grande.  > 

Diz  o  mesmo  illusire  botânico  que  a  pimenta  da  índia, 
em  mistura  com  os  alimentos,  excita  as  forças  diges- 
tivas e  favorece  a  digestão  de  certas  siAstancias,  çue 
sem  ella,  este  órgão  não  poderia  supportar.  —  E'  um  dos 
medicamentos  excitantes  mais  enérgicos,  aconselhado  con- 
tra as  febres  intermiltonles  e  contra  outras  moléstias. 

Analyse  do  fructo  por  Pelletier.  —  Estos  dados  não  são 
encontrados  nas  memorias  publicadas  pelo  illustrado  Fr. 
Velloso,  e  por  isso  apressamo-nos  em  patentaal-os  (b). 

Uma  substancia  crystallina,  insípida,  que  não  se  com- 
bina com  os  ácidos,  designada  por  piperina; 

Oleo  concreto,  esverdeado  e  de  sabor  acre ; 
Óleo  volátil  balsâmico ; 

(a)  Botânica  de  Acliiltes  Ricbard. 
tít)  Tomo  I[,  pagiaa  2^1- 


Dictzedby  Google 


—  240  — 

SobsUncia  gommosa ; 

Saes  terrosos; 

Principio  extractivo; 

Ácidos  malico  e  uríco ; 

Bassorioa . 

A  pimenta  cresce  naturalmente  na  Índia,  mas  tem  sido 
cultivada  vantajosamente  em  outros  lugares;  citaremos 
como  exemplos :  nas  ilbas  de  Java,  Malaca,  Sutnalra  e 
Bornéo. 

A  ausência  d'estes  elementos  no  trabolbo,  que  nos 
occupa  n'este  momento,  torus-o  menos  romplelo;  mas 
sobresabem  outros  pontos  não  destituidos  de  interesse, 
em  que  toraremos  ligeiramente. 

As  dimensões  do  caule,  assim  como  os  caracteristicos  das 
folbas,  elementos  do  fructo,  épocba  da  colbeita,  modo  de 
colber  as  semeates,  o  plantio,  influencias  do  clima  e  do 
terreno,  são  os  principaes  dados  para  o  estudo  doesta 
plania,  que  encontrámos  na  primeira  memoria. 

Mio  descreve  o  fructo  [que  é  uma  baga),  em  todas  as 
suas  parles,  e  passa  muito  por  alto  no  exame  da  Qõr ; 
menciona  as  arvores  em  que  ella  se  apoia  ;é  de  opinião 
que,  nos  terrenos  arenosos  de  Gõa,  esta  pimenta  não 
prospera;  prefere  os  terrenos  argillosos,  vermelhos  na  cõr, 
ou  d'um  vermelho  escuro,  ou  lodosos.  A  mais  aromática 
provém  de  Bragare,  Talicheira,  e  Catecut ;  mas  a  saa 
cultura  estendía-se  a  outros  pontos,  como  Salcete,  Panda, 
GAa,  Bardez,  etc. 

Não  é  esta  a  única  planta  das  piperaceas  que  goza  das 
propriedades  supracitadas.  Além  da  pimenta  da  índia, 
temos  a  de  Madagáscar  conhecida  pelo  nome  cubeba, 
ou  pimenta  rabada,  e  a  pipereka  da  China;  ambas  ollas 
são  ciladas  n'eslo  trabalho,  porém  não  estão  descriptos. 

Segundo  Acbilles  Richard,  os  fructos  da  piper  cubeba. 


Dictzedby  Google 


-  Ml  — 

sjo  esphericos,  d'um  pardo  escuro,  carnosos,  com  liabas 
saliflDles  na  superficie  e  longamente  pedicellados ;  um 
pouco  menos  aromático  e  de  sabor  menos  pronunciado  que 
o  da  pimenta  da  índia ;  maito  efficaz  contra  as  blenorrha- 
giat  uretbraes,  segundo  os  resultados  obtidos  pelos  Drs. 
Grawford  e  Barda;,  em  In^aterra,  e  depois  por  Velpeau 
e  CuUeríer,  em  Paris.  O  principio  activo  da  cubeba,  que 
lhe  dá  o  sabor  acre,  foi  descoberto  por  Cassola  e  por  elle 
denominado  cufre&tna. 

Vauquelia  anaiysou-a  (a) ;  e  correm  impressos  os  resul- 
tados das  suas  experiências.  Exislé  na  índia  uma  outra 
espécie  —  o  piptr  Umgum  que  muilo  se  approxima  da 
precedente;  ofmclo  é  escoro,  accompAobadopor  um  certo 
numero  d^esoamas  do  caiii,  e  empregado  na  medicina. 

O  piper  angusHfolliam  do  Peru  (b),  quer  em  infusio, 
quer  em  tintura,  foi  empregado  com  vantagem  no  Irata- 
mento  da  leucorrbéa  chronica.  —  Os  índios  serfiam-ae 
d'esta  planta  para  estancar  o  sangue  de  qualquer  ferida. 

A.  bebida  conhecida  por  ava,  que  éra  usada  em  algumas 
ilbas  do  {c)  Oceano  Pacifico,  prepara-se  com  a  raÍE  do 
piper  metítysiieum.  —  Humedece -se  primeiramente  com  a 
saliva,  e  depois  fermenta-se,  ajuntando-lhe  o  leite  do 
coco. 

A.  substancia  que  os  habitantes  das  ilbas  de  Sonda  mas- 
tigam é  uma  mistura  das  folhas  do  jnper  betei,  da  índia, 
com  alguns  príncipios  adstringentes,  cal  e  noz  da  Areca 
catechu;  segundo  as  indicações  do  eminente  botânico 
francez  A.  Ricbard. 

Estas  poucas  linhas  sSo  mais  que  sufficienles  para  que 

ia)  Pagina  iUiO  da  HMoria  Natural  MtiieaX  de  A.  Ricbard,  T  voL 
(6)  Pagina  3ãl  da  Ralaria  Natural  Medicai  de  A.  Ricbard,  S*  vol. 
[c]  PagÍDa  341  da  Hiitoria    Natural  Medicai,    <le  A.  Ricbard, 
2»  vol. 

TOHU  XXXI     P.  II  31 


Dictzedby  Google 


p  essamos  ajuizar  coDScieaciosanieQle  do  ralor  das  Memorias 
publicadas  por  Fr.  VeUoso;  e  para  o  cooseguii  frisi- 
mos  bem  o  grio  de  importância  da  pbota  que  elte  teve 
em  TÍsIa  vulgariíar,  patenteando  ao  mesmo  tempo  dodos 
interessantes  sdbre  outras  piptreiroã,  que  não  estão  in- 
cluídas no  seu  opúsculo,  mas  que  hoje  rnriquccem  as 
paginas  de  diversas  obras  monumenlaes  de  botânica.  Si 
não  foi  completo  o'esta  parle,  primou  pela  exactidão  e 
pelos  conhecimentos  uteia  que  ahi  accumuloa. 

CAPITULO  XV 

No  qaadro  das  obras  que  foram  traduzidos  pelo  sábio  Tel 
loso  incluiremos  a  Belminlhologia  Portvgveaa  de  Jacques 
Barbut,  ou  o  estudo  de  diversos  articulados,  alguns  zoophj- 
tos  e  molluscos,  com  bons  desenhos  ootoridos,  e  enume- 
ração de  muitas  espécies  já  descriptas.  O  estudo  d'ellas 
não  offerece  taoto  interesse  ;  estes  animaes  oecupam, 
pela  sua  organização  imperfeita,  os  gráos  inferiores  da 
escala  zoolc^ica.  Teltoso  reconhece  esta  verdade  em  sua 
dedicatória  a  Sua  Magestade  o  Sr.  D.  João  VI.  Para  os 
que  lém  cultivado  a  zoologia,  este  trabalho  não  será  uma 
fonte  de  idéas  novas,  porque  foi  publicado  quando  a 
sciencia  ainda  não  apresentava  o  desenvolvimento  que 
boje  apptaudimos.  Entretanto,  si  considerarmos  somente 
os  conhecimentos  helminthologicos  d'oulro5  tempos,  se- 
remos obrigados  a  prestar  homenagem  á  importância  scien- 
tífica  â'esla  prodocção. 

Mais  uma  vez  notaremos  a  confusão  de  certos  animaes 
em  grupos  próximos,  os  quaes,  presentemente,  formam 
divisões  distinctas,  que  baseam-se  no  estudo  profundo  dos 
seus  característicos  anatómicos.  Já  discutimos  em  outro  lu- 
gar o  quonto  tioba  de  imperfeito  o  syslema  estabelecido  por 


Dictzedby  Google 


—  2*3  — , 

Lianéo,  qae  de  modo  algum  podia  abranger  as  diffflrenças 

fundamentaes  que  distinguem  mais  naturalmeale  os  seres 
oigaaizados  do  reiao  aoimal.  Os  qusiro  typos  de  organi- 
zação que  serrem  de  liase  á  classificação  de  Cuvier,  hoje 
aperfeiçoada,  são  representados  pelos  animaes  de  cada 
um  dos  grandes  ramos,  e  alids  reconhecidos  até  pelos 
que  adquiriram  somente  idéas  geraes  sftbre  esta  scieacia. 
O  homem,  como  o  primeiro  dos  vertebrados,  ou  outro 
qualquer  ser  d'uma  das  quatro  classes,  afasla-se  comple- 
tamente d'uma  abelha,  que  é  um  articulado  da  classe  dos 
insectos,  assim  como  esta  afasta-se  manifestamente  d'uma 
ostra  (mollusco  acepbato],  e,  principalmente.  d'um  radiado 
echinoii»rino — como  ú  ouriço  do  mar,  e,  d  fortiori,  d^ou- 
Iros  zoopbylos  de  organização  ainda  mais  imperfeita. 

K  sciencía  passou  por  muitas  phases,  que  a  historia 
commemora,  e  que  constituem  os  diversos  degráos  do 
monumento  scienlifico  que  os  séculos  nâo  deslruiram, 
atteslando  os  embates  vigorosos  de  muitos  espiritos  labo- 
riosos e  profundos  nas  suas  indag-tções.  Doestas  tenta- 
tivas resultaram  desejos  de  emprebender  outras  ainda 
mais  profícuas;  e  todos  estes  elementos  reuuidos  serviram 
de  solido  fundamento  para  o  descobrimento  da  verdade, 
único  alvo  e  a  mais  legitima  aspiração  dos  profundos 
observadores  da  natureza. 

Este  defeito  que  apontamos  na  obra  de  Barbut,  e  que 
Velloso  não  discute,  tem  uma  explicação  bem  plausível  nas 
palavras  que  acabámos  de  escrever.  Agora  só  nos  resta 
apontar  a  natureza  do  trabalho,  assim  romo  as  suas  divi- 
sões e  subdivisões,  algumas  das  quses  não  estão  muito  em 
harmonia  com  os  conhecimentos  acluaes. 

Estes  animaes  imperfeitos  foram  por  elle  distribuídos 
em  cinco  ordens :  intestinos,  molUs,  testaceos,  lHhophytOê 
e  zoopbyiús,  isto  6,  animaes  molluscos  e  articulados,  que, 


Dictzedby  Google 


—  ai4  — 

segundo  o  melhodo  natoral  bcqe  admittido,  formam  dob 

grandes  ramos. 

A  ordem  dos  intettinoi  cootém  aaimaes  rimpUi,  nús  e 
sem  nwmòrt»,  e  comprebeode  sete  géneros  a  que  perteo- 
com  as  espécies  que  vamos  mencioDar. 

O  gordio  ou  aú>eUo  aquático,  que  tira  o  seti  nome  do  as- 
pecto filiforme  do  corpo,  que  é  Uso,  arredondado  e  Ião 
delgado  como  um  fio  de  cabetlo.  Vive  em  tenenos  aigillosos 
ou  em  aguas  doces. 

O  gordio  d'argilla  tira  o  seu  nome  do  fado  de  ser  sem- 
pre encontrado  no  barro,  e  differe  do  primeiro  pela  cdr 
amsrella  das  suas  extremidades. 

O  gordio  mufcuíar  procura  de  preferencia  os  músculos 
dos  braços  e  pernas,  e  é  natural  das  índias,  onde  encon- 
trasse no  orrslbo  da  manha. 

O  gordio  do  mor  tem  o  corpo  em  espiral ;  vive  n^agua 
aalgada  e  ataca  aos  peixes,  como  o  gordio  muscular  ao 
homem. 

Ogenero  asearis  6  notável  por  uma  espécie aacarídavér- 
mieular  ou  lombriga,  que  introduz-se  pelo  tubo  intestinal, 
e  é  considerado  como  verdadeiro  flagello,  por  ser  a  causa 
de  sérios  incomraodos  e  de  diversas  moléstias,  que  tomam 
máo  caracter  nas  idades  pouco  avançadas.  Tem  o  corpo 
comprimido  nas  duas  extremidades. 

No  reino  vegetal  os  médicos  encontram  poderosos  venni- 
fogos  e  os  utilizam  vantajosamente ;  e  entre  eites  citaremos 
iandira  vtrmifaga  e  a  anthelminthicai  papilionaceas,  esta 
é  acoohecido  vulgarmente  por  aogelim  amargoso,  por  que  « 
madeiratemum  amargo  ínaupportavel  e  duradouro;  ob- 
lem-se o  podo  cerne,  mistura-se  com  leite  e bebe-se  para 
expellir  os  Termes.  Na  família  dos  artocarpeas  encontramos 
a  gamelleira,  urostigma  dolliariumy  cujo  sueco  toma 
a  oArde  breu,  em  contacto  com  a  atmospbera. 


Dictzedby  Google 


—  JW  — 

Das  ulsolaceas  utilizamos  os  cheDopodims ,  cujos 
effeitos  aão  salutares,  mas  que  nem  sempre  são  usados  pelo 
seu  sabor  repugaaote :  é  o  <^unopodium  ambrosioides  de 
LioDèo,  «te.  Como  medicamento  mais  brando,  muitos 
aconselham  a  infusão  das  fotbas  de  ortetã,  planta  da  famí- 
lia natural  das  tabiadas^  tão  commum  nos  nossos  jardins  o 
hortas. 

O  autor  aponta  os  meios  de  debellar  os  males  produzi- 
dos pelo  gordio  muscular ;  mas  nada  diz  quanto  á  outra  es- 
pécie, e  esta  lacuna  justificará  as  nossas  ultimas  obser- 
Tacões. 

O  género  lun^ricw  tem  os  seus  caraclerislicos  substanci- 
almente enunciadas,  assim  como  os  das  duas  espécies 
descriptas,  que  podem  ser  verificados  no  desenho  que 
accompanha  a  descri pção. 

Os  armeiida»  mais  importantes  sSo,  sem  conlestaf^o,  as 
sanguesugas,  porque  prestam  uno  immenso  auxilio  á  medi- 
cina, e  distioguem-se  em  sanguesvga  medicinal  dos  caral- 
los,  geometra  e  ouriçada.  Menciona  um  certo  numero  de 
signaes,  mas  olvida  alguns  elemenios  interessantes  para 
a  sua  historia. 

Os  antigos  não  ignoravam  a  faculdade  que  íém  estes  ani- 
inaes  de  sugarem  o  sangue ;  mas  o  seu  emprego  na  medi- 
cina foi  conhecido  annos  depois  de  se  ter  vulgarizado  este 
facto.  Eram  importados  da  Asia-Meuor,  da  S;ria  e  da  Geór- 
gia, para  a  Europa. 

Náo  ha  quem  desconheça  o  sen  modo  de  viver,  os  seus 
usos,  a  maneira  deapplical-os  e  os  dados  analomicos  que 
fornecem.  E'  a  sanguesuga  officinalis  da  pequena  familia 
dashirudineas. 

A  sua  segunda  classe  é  muito  impropríamenie  designada 
por  motluscot,  como  si  a  estrella  do  mar  e  o  ouriço  do 
mor,  que  elle  contempla  só  debaixo  d'esta  denominação. 


Dictzedby  Google 


—  aw  — 

nSo  tiressem  uma  textura  radial,  como  outros  aoimaes  do 
grande  ramo  dos  zoopbjrtos,  e  aos  quaes  estão  igualmente 
ligados  por  outros  pontos  de  semelhança  ! 

Nos  dezoito  géneros  descriptos  Sgoram  muitas  espécies 
conhecidas,  embora  separadas  dos  grupos  naturaes  a  que 
hoje  pertencem,  com  as  suas  competentes  figuras  e  tragos 
dislÍQCtivos. 

Eis  o  quadro  de  algumas  espécies  da  segunda  classe ; 
Asterias  ou  estrellas  do  mar. — Estrells  lua,  estrella  empo- 
lada ou  de  mamillos,  estrella  purpúrea,  estrella 
reticulada,  estrella  nodosa,  estrella  equestre,  es- 
trella lisa,  estrella  cauda  colubrina,  estrella  pesta- 
nuda,  estrella  com  pente,  estrella  cabeça  de  Me- 
dula. 
Ouriço  (echinus). — Ouriço  comestível,  ouriço  das  pedras, 
ouriço  diadema,  ouriço  turbante,  ouriço  de  ma- 
millos,  ouriço  do  mar  negro,  ouriço   enxada, 
ouriço   lagda,   ouriça  rosa,   ouriço  rAde,  ouriço 
balo.  ouriço  circular. 
Medusa. — Medusa  encruzada,  medusa  de  orelhas,  medusa 
cabelluda,  medusa  barrete,  medusa  oral,  medusa 
globosa,  medusa  ondeada,  medusa  bolsa,  medusa 
de  véo,  medusa  parda,  medusa  tuberculads. 
Ciba,  cinco  espécies;  clio,  duas;  scilea,  uma;  lemea, 
trez;  tritão,  uma  ;  berbequim  (tefebelia),  uma  ;  bolotha- 
ria,  cinco ;  IhetiB,  uma  ;  actinia,  trez ;  ascidia,  quatro ;  ne- 
reida, rinco;  apbrodíta,  quatro;  limão  domar,  trez;  lebre 
do  mar,  duas ;  lesma,  quatro. 

Bem  diz  o  padre-meslre  Velloso  aa  dedicatória  ao  seu 
bemfeitor,  quando  procura  realçar  a  importância  d'este 
trabalho  :  ■  Isto  supposto,  Senhor,  o  estudo  d'este3  dimi- 
nutos animalejos  não  é  d'aquelles  que  s6  se  devem  fazer 
por  um  simples  recreio  ou  mera  especulação,  roas  sim  por 


;dby  Google 


-  247  - 

necessidade.  Porquanto,  si  o  seu  útil  nSo  lem  taota 
extensão  quo  os  faça  credores  de  grandes  resultados,  sem- 
pre se  lhe  earontra  algum,  que  pôde  muito  bem  despertar 
a  nossa  sensibilidade  e  estimação.  Quem  olhari  coro  apa- 
tbia  as  sangradouras  sangueaugas  em  muitas  moléstias,  a  que 
são  applicadaa  e  propriasT  Qoem  será  insensível  ao  beneficio 
que  Cizem  os  gordios  ou  cabetios  aquáticos,  rompendo  a 
argilla  e  guiando  a  agua  pelos  meatos  iatraterraneos,  que 
acabaram  de  abrir?  para  o  ouriço  comestível,  de  que  se 
alimentavam  os  antigos  romanos,  e  ainda  lioje  os  franceses 
de  Marselha,  que  os  vendem  como  mariscos? 

t  Mas  o  damnoso  dos  da  primeira  ordem,  chamados 
intestinaes,  certamente  requer  que  os  esmerilhemos  até 
onde  puder  chegar  a  nossa  penetração,  s 

Muitas  outras  linhas  d'esta  dedicatória  foram  consagra* 
das  por  Fr.  Velloso  i  apologia  do  Príncipe  regente,  cujo 
espirito  bemfazejo,  altamente  patriótico,  e  sempre  iucli- 
nado  a  beneficiar  com  profusão  aos  homens  de  leiras  e 
laboriosos,  foi  por  elle  lembrado  com  a  mais  profunda  Te- 
neração,  e  com  o  mais  acrysolsdo  reconherameoto. 

Deploramos  que  o  nosso  compatriota  não  tivesse  publi- 
cado outros  trabalhos,  que  provassem  os  conhecimeo- 
tos  por  elle  adquiridos  em  pbilosopbia,  nas  matérias 
ecciesiastieas,  estudos  que  mereceram  igualmente  a  alten- 
Ção  de  Velloso  em  todas  as  epocbas  de  sua  vida  monástica. 
Como  pregador,  assim  nos  lega  a  tradiçio,  a  sua  erudição 
maaifestou-se,  mais  de  uma  vez,  em  diversos  sermões  bem 
elaborados,  os  quaes  foram  sempre  dictados  pelo  sentimento 
da  religião  que  abraçara,  e  pela  fé  robusta  nos  dogmas  e 
preceitos  do  cbristianismo. 

Na  ausência  de  mais  estes  documentos,  que  seriam  ver- 
dadeiros títulos  de  gloria  para  a  nobre  fronte  do  Uluatre 
franciscano,  sobejam-nos  outras  provas  irrecusáveis  de  sua 


Dictzedby  Google 


—  S48  — 

Tflita  UlastraçSo  a  da  vigorosa  iatelligoBoii  qae  a  oatanu 
lfa«  coneedâra.  Alada  afio  percorremos  todos  os  opusoolos 
dados  por  elle  A  luz  da  publiúdade.  E  si  a  ooisa  tigetn 
analyse  nio  pôde  abranger  a  totalidade  dos  seus  esraiptos, 
s  eansa  reside  na  iminensa  diffieoldade  de  os  reaair. 

Os  manosoríptos,  e  os  livros  qae  enooolraratn  depois  da 
sna  morte,  foram  offerecidos  peto  vigário  provincial  Fr.  An- 
tooin  Agostinho  de  Sanl^Anna  a  S.  A.  Real,  qae,  por  um 
aviso  de  8  de  Novembrode  1811,  assiguado  pelo  aoade  de 
Aguiar,  hoove  por  bem  aceital-os  e  maodar  depositar  ns 
redl  bibliotheca.  Provavelmente  El-rei  levou-os  para  Porln- 
gal,  como  homenagem  á  memoria  do  sobdilo  Sei  a  quem 
sempre  cobrira  com  o  seu  maato  protector. 

CAPITULO  XVI 

AAaljse  do  tratado  «obre  a  cultura,  nso  e  ntllidade  du  batatas,  oa 
papas,  do  HetpBDbol  [>.  Henrique  Dojie. 

Fr.  Velloso,  depois  de  reunir  Iodas  as  informacdes  qae 
colhAra  do  estudo  d'essB  obra,  publicou  em  portuguez  o 
seu  conteúdo  com  o  fim  de  valgarizar  a  utilidade  e  usos 
do  Solanvm  tuAaromtm.  A  agricultura  do  Brasil  recebeu 
das  mãos  do  illusire  botânico  mais  este  importante  serviço, 
gozando  dos  beneficies  que  elle  soube  descrever  a  respeito 
d^esteoroamenlo  do  mundo  das  plantas. 

Na  phrase  de  D.  Henriquo  Doyle  :  No  ai  rengUm  d»  la 
agricultura,  detpue»  dei  trigo,  tjue  maviça  mat  aíífrUion 
para  la  conservacion  y  aumento  de  la  poblaeion  dd  pais 
que  »ea  que  el  cultivo  de  las  batatas. 

Faremos  sobresahir  o  pensamento  cardeal  d'esle  útil 
trabalho;  começaremos,  porém, por  algumas  consideracOes 
que  Tellosoesqueceu-se  de  mencionar  na  sua  Iraducçio. 


Dictzedby  Google 


-  8*9  - 

O  Sokmum  UAeroiwn  é  originário  da  parte  da  cx)rdi- 
Iheirados  Andes  pertencente  á  republica  do  Peru.  Nos  ar- 
redores  da  cidade  de  Lima  foienr,ontrado  em  estado  selva- 
gem. O  nome  de  Parmentière,  pelo  qual  era  coubecida  em 
outros  tempos,  faz  lembrar  o  de  Parmsntier,  a  quem  a 
França  deveu  o  grande  desenvolvimento  da  cultura  doesta 
planta  e  o  conhecimento  dos  seus  usos. 

Transporlaram-na  para  a  Europa  no  fim  do  século  XVI. 

E'  cultivada  com  vantagem  em  diversas  latitudes,  tanto 
nos  paizes  situados  na  zona  temperada,  como  entre  os  tró- 
picos ;  cresce  em  diftereoles  alturas  de  montanhas  eleva- 
das eem  pontos  taes  que,  pela  sua  baiia  temperatura,  não 
comportam  a  cultura  de  muitas  outras  plantas, Cresce  em  ter- 
renos de  composição  diversa.comtantoque  não  sejam  com- 
pactos, para  que  os  seus  ramos  inferiores  possam  in- 
Iroduzir-se  na  terra  e  encher-se  de  fécula  iiu  certos 
pontos.  Estas  intumescências  de  amido  são  conhecidas 
pelo  nome  de  tubérculos. 

Em  outras  plantas  muito  usadas,  como  o  inhame  ou 
taioba  (a),  o  cará  [b),  a  mandioca  (c),  a  batata  doce  (d),  o 
aipim  [e),  a  dahlia  (/),  etc,  as  raízes  são  tubetosas,  por- 
que os  depósitos  de  fécula  ou  tubérculos  são  encontrados 
na  porção  inferior  do  axophyto,  emquanto  na  batata  in- 
gleza  existem  nos  pequenos  galhos  que  nascem  da  porção 
inferior  do  caule,  os  quaes  penetram  no  terreno,  confun- 
dindo-se  d'este  modo  com  as  raizes  propriamente  ditas. 
Nas  plantas  que  (6m  tuberas  o  deposito  de  fécula  faz-se 

{□)  Caladiam  eículentum  da  família  das  aroideas. 

{b)  Dioscorea  alata  das  dioscoreas. 

(c)  Hanihotutilisaimadas  euphorbiaceas. 

Id)  CoDvolvuIus  batatas  das  cODVolvulaceas. 

{e)  Manitiot  aipim  das  eupliorbiaceas. 

(/)  Dahiia  dae  s^naolhereas. 

TOMO  XXXI,  P.  1[  32 


Dictzedby  Google 


ou  DO  rhizdma,  ou  raiz  mestra,  nas  fibnu  radieaet,  ou  nas 
raizei  adventidai. 

Estes  tubérculos  são  usados  em  lai^a  escala  como  sLi- 
mento  muito  outriente,  quer  isoladamente,  quer  em  mis- 
tura com  outros  alimeo  tos.  Além  da  fécula,  contém  maté- 
rias graxas,  mioeraes,  azotada,  cellulosa,  agua,  dextrina, 
etc,  ele. 

Em  qnasi  Iodas  as  obras  de  botânica  figura  a  descrípção 
das  folhas,  flâr,  fructo ,  caule,  raiz,  e  por  isso  nada  diremos 
a  este  respeito. 

A  fécula,  em  rela^io  aos  vegetaes,  tem  a  mesma  utilidade 
que  s  gordura  nos  animaes;é  um  depósito  de  alimento, 
á  custa  do  qual  elles  nutrem-se  quando  estão  impossi- 
bilitados de  o  procurar  nos  meios  em  que  vivem.  As 
sementes  da  batata  ingleza  não  são  abortivas;  podem  ger-. 
minar,  pKduzindo  novos  individues,  mas  a  sua  cultura 
funda-se  também  na  reproducção  por  gommos;  introdo- 
zindo-se  um  tubérculo  no  solo,  o  olao  ou  gommo  expan- 
de-se  á  cu9ta  do  amido  que  elle  contém,  e  produz  um 
caule,  que  cobre-se  de  folhas,  que  floresce  e  fructifica. 
"  Todos  os  embriões,  endospermicos  e  epíspermícos,  en- 
cerram uma  certa  dése  de  grãos  de  fécula  nos  utriculos 
do  endosperma,  ou  nas  cellulas  das  cotilédones;  esta 
fécula  transforma-se  em  dextrina,  e  depois  em  assucar, 
que,  dissolvido  n'agua,  constitua  o  primeiro  alimento  do 
gérmen  reproductor.  Terminado  o  periodo  da  germinação, 
as  raízes  passam  a  exercer  as  suas  funcções,  absorvendo 
do  terreno  o  sueco  mecessario  á  vida  da  planta. 

O  autor  abstrahe  d'algumas  d'estas  considerações;  e 

principia  exultando  as  óptimas  qualidades  da  planta,  sua 

importância  como  alimento,    comparao^o-a   com  outras 

substancias  nutritivas. 

No  capitulo  3°  menciona  as  condições  de  fertilidade 


Dictzedby  Google 


—  251  — 

do  (erreoQ ;  considera  a  terra  arenosa  como  não  pre- 
judicial ao  desenvolvimeoto  d'esta  planta,  e  como  per- 
niciosa a  qae  peia  sua  compacidade  obstar  á  livre  expaosSo 
das  raizes  ;  nota  as  vantagens  dos  adubos,  e  a  indicação 
dos  meios  de  preparar  o  terreno  para  a  cultura  da  batata 
nas  provindas  da  Hespanba.  De  todos  os  tnetbodos  o 
que  elle  aconselba  como  mais  conveniente  e  vantajoso  é 
o  de  abrir  regos,  d'um  pé  ou  mais  de  profundidade,  com 
um  e  meio  de  largura,  di<:tantes  uns  dos  outros  dez  pal- 
mos, sondo  fertilizados  com  uma  camada  d'estrume.  As 
sementes  devem  ser  envolvidas  por  uma  certa  quantidade 
de  adubo,  não  só  para  favorecer  o  seu  desenvolvimento, 
como  também  para  abrigal-as  contra  o  rigor  do  inverno. 

Cila  o  facto  das  Ires  colheitas  em  um  auno,  na  ilha  das 
Canárias,  com  ires  plantaçõesem  mezes  diversos:  Janeiro, 
Setembro  e  Novembro ;  e  o  rendimento  de  mais  de  16,000 
pesos,  obtido  na  ilha  de  Tenerife. 

Os  pães,  que  alguns  povos  utilizavam  como  alimento 
mui  substancial,  eram  feitos  rom  fécula  das  batatas.  Para 
isso  escolhiam  as  mais  fariohosas;  depois  de  cozidas, 
separavam  as  duas  partes  amarella  e  branca  da  polpa, 
e  obtinham  essira  duas  qualidades  de  pão,  a  primeira  das 
quaes  era  mais  delicada  e  appotecida. 

I'ara  tornar  o  seu  trabalho  mais  completo,  o  autor  soli- 
citou do  Dr.  Timotheo  O.  Scaulau  o  seu  parecer  a  respeito 
da  utilidade  doesta  planta,  que  consta  d'uma  carta,  em  que 
foram  incluídas  as  observagões  de  Parmantier. 

Os  habitantes  ds  Irlanda  foram  os  primeiros  que  a  cul- 
tivaram na  Europa,  pelo  facto  de  terem  encontrado  as  raizes 
espalhadas  em  alguns  pontos  dn  costa  occidenta)  da  Irlanda, 
onde  foram  lançadas  casualmente  pelo  navio  em  que  via- 
java o  almirante  ingl«z  Walter  Raleyg,  em  consequência 
de  am  forle  temporal  qne  sobreveiu  antes  do  termo  da  sua 


Dictzedby  Google 


—  J5a  — 

viagem.  Transportou-as  d' America;  e  os  seus  usos  vulga- 
rizaram-se  Da  Irlanda,  e  em  outros  paizes  de  Europa. 

Para  provar  o  quanto  tem  de  succuleulo  este  alímeato, 
lembra  a  robustez  e  boa  saúde  dos  habitantes  d'8quella  ilha, 
a  maior  parte  dos  quaes  nutría-se  principalmente  á  cust& 
dos  tubérculos  do  solanum  tvberosum.  Menciona  as  diversas 
applicações  da  batata ;  quaes  os  alimentos  que  a  continham, 
quer  entre  as  pessoas  abastadas,  quer  nas  classes  menos 
favorecidas  da  fortuna. 

Partnentier,  a  quem  se  devem  tantos  estudos  sobre  esta 
planla,quiz  fazer  conhecidos  os  seus  usos;  para  o  conseguir 
reuniu  seus  amigos  em  um  banquete,  cujos  guisados  com- 
punham-se  exclusivamente  d'estes  tubérculos  preparados 
de  differentes  modos;  lembrou-se  do  fructo  para  a  com- 
posição de  uma  bebida  que  substituísse  ao  café. 

Louva  a  sua  acção  contra  o  escorbuto,  e  em  mais  outras 
alTecções  do  nosso  organismo.  Ao  excesso  d'agua,  que  in- 
dicámos  na  analyse  chimica  da  batata,  attribue  elle  a 
grande  facilidade  com  que  é  digerida,  pelo  facto  doeste 
líquido  conservar  os  princípios  componentes  em  estado 
de  extrema  divisão. 

Em  razão  da  prodigiosa  riqueza  d'e5tas  tuberas  a  sub- 
sistência dos  povos  está  garantida  contra  a  escassez  das 
más  colheitas;  o  consumo  do  trigo  pôde  diminuir;  ou- 
tros animaes  nutrem-se  á  custa  das  suas  folhas,  e  da  pró- 
pria raiz;  e  tudo  isto  não  depende  de  grande  extensão 
territorial  para  a  cultura ;  porquanto  os  factos  provam  que 
de  cada  um  dos  indivíduos  obtem-se  um  peso  considerável 
de  matéria  atimenticia. 

Outras  idéas,  que  engrandecem  a  utilidade  d'este  tra- 
balho, foram  bebidas  nas  observações  de  diversos  homens 
notáveis,  aos  quaes  não  escapou  a  importância  do  vegetal 
em  questão. 


Dictzedby  Google 


—  453  — 

No  anão  ãc  1786,  o  Dr.  Adam  Snilh  publicou  em 
Londres  uma  obra,  que  tem  por  titulo  a  BiqMza  das 
naçõet,  onde  incluiu  as  suas  observações  sobre  a  cultura 
8  propagação  das  batatas.  Eialta  as  vantagens  e  proprie- 
dades d'esla  planta;  aponta  como  inconveniente,  que  não 
estende-se  ao  S.  tuberosum,  o  estado  de  extrema  humi- 
dade a  que  se  reduziam  os  terrenos,  em  que  cultivavam 
o  arroz  {a)  (comquanto  reconheça  o  seu  préstimo  e  uti- 
lidade), o  que  não  acontecia  com  a  batata  ingleza,  cuja  cul- 
tura éra  adequada  a  todos  os  climas  e  a  lodos  os  terrenos. 
Em  sua  opinião,  uma  certa  porção  de  terra  que  fornece, 
por  exemplo,  doze  a  treze  mil  arráteis  de  peso  de  tubér- 
culos, não  poderá  produzir  mais  de  dois  mil  arráteis  do 
melbor  trigo. 

Prova  a  superioridade  do  pão  de  trigo  sAbre  o  de  aveia, 
assim  como  as  vantagens  do  pão  de  balata,  comparando 
a  robustez  dos  habitantes  da  Inglaterra,  da  Escossia  e 
Irlanda,  que  os  procuravam  como  alimentos  substancíaes 
e  de  difficil  substituição. 

A  sociedade  de  Agricultura  de  Paris  recompensou  o< 
esforços  feitos  por  Parmantier  n'este  sentido,  approvando 
em  um  resamido,  mas  luminoso  parecer,  assignado  por 
Thovin,  e  Cadel  de  Vauí,  a  obra  por  elle  publicada, 
o  que  se  deprebende  do  certificado  passado  pelo  secre- 
tario perpetuo  Mr.  Brossunet.  Conveacendo-se  todas  as 
classes  dos  povos  agrícolas,  que  não  cultivavam  os  cereaes, 
do  facilidade  com  que  se  obteriam  vantajosas  colheitas 
d'umB  planta  tão  alimonlnr,  quanto  não  pouparíam  na 
importação  d'outros  produclos  que  eram  consagrados  á 
nutrição  do  homem?  Melhorar  esta  industria  agiicola  i 
incutir  no  espirito  da  população  a  intima  convicção  dos 

(a)  Orysa  eatlva  da  família  das  gramÍDeas. 


Dictzedby  Google 


—  354  — 

seus  effeitos  salutares;  poupar  ao  Estado  maiores  sacri- 
fícios pecuniários  com  a  compra,  no  estrangeiro,  das 
sementes  do  trigo,  e  outros  elementos  pata  a  sua  subsis- 
tência ;  tornar  conhecidas  as  propriedades  fundamentaes 
da  preciosa  planta,  que  encerra  nos  seus  org&os.  ■  Uma 
substancia  igualmente  nutriente  e  de  fácil  acquisição  ■,  taes 
foram  as  idéas  capitães  e  patrióticas  que  determinaram 
a  coordenação  de  todus  os  trabalhos  parcíaes,  que  estão 
reunidos  n'esta  obra,  que  Fr.  Velloso  traduziu  com  o  sen- 
timento profundo  de  generalizar  os  benefícios  incontes- 
táveis de  sua  cultura. 

O  principio  económico  consistia  em  fabricar  o  pSo  das 
batatas,  consumindo  uma  dose  bem  diminuta  de  farinha 
de  trigo :  a  quarta  parte,  ou  menos  ainda,  do  peso  do  trigo 
seria  sufficiente  para  a  subsistência  diária  da  população  I 
O  processo  resume-se  em  oito  operações  :  o  cosimeoto  das 
batatas  cruas  pelo  calor  do  vapor,  que  desprende-se  da 
agua  em  ebullíçAo;  separação  ou  extracção  da  pellicula 
que  envolve  cada  tubérculo ;  esmagamento  das  tuberas  por 
veio  de  um  cylindro  e  por  tempo  não  determinado ;  a  fer- 
mentação ;  addição  do  fermenlo,  farinha  e  batatas ;  forma- 
ção dos  pequenos  pães  ;  sua  introducção  no  forno  para 
perderem  pela  evaporação  uma  parle  da  humidade ;  e,  fi- 
nalmente, o  resfriamento  gradual  ao  abrigo  de  qualquer 
compressão. 

A  preparação  do  chunho  branco  e  do  chunho  negro  pela 
acção  do  gelo,  expondo-os  por  muitas  noites  successivas  á 
acção  de  um  frio  rigoroso,  protegendo-os  durante  o  dia 
contra  a  influencia  dos  raios  solares,  separando  os  seus 
envoltórios  e  amassando-os  com  certos  intervallos,  para 
que  a  humidade  desappareça  e  as  papas  tornem-se  contí- 
nuas, (ai  é  o  objecto  de  uma  carta  escripta  por  D.  Ramon 
deMaya.  Mas  no  numero  doestes  elementos,  Ião  importan- 


Dictzedby  Google 


—  S55  — 

tes  para  o  estudo  de  um  dos  vegetaes  mais  úteis,  depará- 
mos com  uma  deficiência,  que,  para  maior  gloria  do  itlus- 
tre  autor,  seria  melhor  que  uão  existisse. 

Todos  estes  altributos  tão  maravilbosos  do  vegetal  em 
questão,  t6m  por  principal  causa  a  fécula  contida  nas  tube- 
ras;  logo  o  estudo  d'esta  substancia,  que  se  presta  tarabem 
a  outras  applicações  que  elle  não  aponta,  deveria  ter  atlra- 
bido  a  sua  attenção,  porque  é  digno  de  meação  mui  espe- 
cial. E  como  a  sciencia  de  boje  nSo  é  a  mesma  que  a  dos 
tempos  em  que  elle  viveu,  julgamos  conveniente  appellar 
para  uma  das  primeiras  notabilídades  cbimicas  da  Allema- 
nha,  o  mestre  por  eicellencia  Justus  Líeb^  (a). 

Os  grãos  de  fécula  da  batata  ingleza  são  mais  brilhantes 
e  volumosos  que  os  do  trigo  ;  e,  para  obtèl-os,  machuca-se 
ou  moo  se  fortemente  cada  tubérculo,  sujeitando-o  a  sue- 
cessivas  lavagens,  até  que  adquira  um  aspecto  leitoso, 
passando  por  uma  peneira  mui  lina  ;  o  deposito  da  fécula 
obtem-se  logo  em  seguida.  Os  grãos  são  inodoros,  insipi- 
dos,  sem  cAr,  de  forma  espherica,  oval  ouangulosos^  ode 
dimensões  variáveis.  A.  sua  purifica^So  consiste  em  faz£l-a 
ferver  em  uma  dissolução  de  uma  parte  de  potassa  cáustica 
em  cem  parles  de  álcool,  e  depois  em  laval-a  com  agua 
pura  ou  álcool. 

A  gomma  não  é  roais  do  que  o  amido  em  dissolução 
n^agua  quente;  a  frio  não  se  dissolve.  Si  deitarmos  30 
partes  de  agua,  na  temperatura  de  72°  a  100%  sAbre  uma 
parte  da  fécula  extra hida  do  soíanum  íuÒerosum,  obtere- 
mos uma  massa  muito  mais  gelatinosa  do  que  a  que  se 
produz,  em  iguaes  circumstaocias,  com  a  fécula  do  trigo  e 
do  arroz,  cujos  grãos  são  menores. 

Quem  procura  reconhecer  a  presença    de  amido   em 

(a)  Tratado  de  chimica  orgânica,  3*  vol. 


Dictzedby  Google 


-  aM  — 

qualquer  utricnio  vegetal,  lança  mSo  do  iodo,  que  lhe  com- 
municaama  cdr  azul  característica,  formaudo-se  o  iodurelo 
de  amido.  Sdbre  esla  reacção  baséa-se  a  determinação  da 
ozona  na  atmosphera.  Os  papeis  de  ozona,  laes  quaes  os 
preparamos  para  as  nossas  observações  no  Rio  de  Janeiro, 
compoem-se  de  amido  e  iodureto  de  potássio.  O  oxyge- 
QÍo  electrizado  decompõe  o  segundo  e  apodera-se  do  radi- 
cal ;  o  iodo  permanece  em  presença  do  amido,  com  o 
qual  combinasse  em  presença  da  agua  ;  e  pela  cdr  mais  ou 
menos  intensa,  que  se  observa  n'esla  ultima  reacção,  con- 
clue-se  a  maior  ou  menor  quantidade  de  ozona  que  ha  na 
«tmospbera;  o  grão  de  ozonização  nos  é  indicado  pelo  ozo- 
Dometro  de  Schoenbein.Jã  publicámos  um  pequeno  traba- 
lho a  este  respeito,  e  não  vem  muito  a  propósito  repetir  os 
nossos  apontamentos. 

Ainda  mais  outra  propriedade  das  batatas.  Scaulan  diz 
que  os  escossezes  extrahiam  d'ella3  um  licor  semelhante  á 
agua  ardente  ;  o  celebre  chimico  Payen  obteve  de  suas  ex- 
periências um  resíduo  oleoso,  que  continha  um  corpo  graxo 
crjstallizavel. 

Segundo  Liebig,  submettendo-se  a  fécula  doestes  tubér- 
culos á  acção  de  uma  temperatura  de  ãO!>%  depois  de  bem 
sécca,  ella  poderá  dissolver-se  n'agua  fria,  formando  um 
liquido  mucilaginoso.  Mas  si  a  operação  fór  feita  em  um 
vaso  hermeticamente  fechado,  em  razão  da  agua  que  con- 
tém, haverá  fusão  em  uma  massa  diaphana  e  homo- 
génea. 

Mais  um  attributo.  A  fécula,  a  cellulosa  e  a  dextrina  são 
três  corpos  isomeros,  isto  é,  compostos  dos  mesmos  ele- 
mentos (carbone,  hydrogenio  e  oiygenío }  nas  mesmas 
proporções,  mas  que  gozam  de  propriedades  differentes. 
A  cellulosa  é  insolúvel  a  frio  e  a  quente  ;  a  dextrina  dissol- 
ve-se  com  facilidade  em  ambos  os  casos.  A  fécula,  já  o 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  257  — 

dissemos,  só  pelo  aDxilio  do  cslor  poderá  ser  dissolvida ; 
Dão  resiste  á  acção  da  agua  n^umacerla  temperatura;  é  ata- 
cada pelo  iodo  e  bromo;  os  ácidos e  alcalis  a  transformara 
em  deitrÍDa(a).  1,000  parles  de  amido  das  batatas,  mistu- 
radas com  60  partes  de  acido  tarlarico,  a  135"  de  tempera- 
tura, dão  peta  concentração  uma  massa  transparente  e  ge- 
latinosa, com  textura  concboidaa,  e  a  parte  insolúvel  no 
álcool  é  a  dextrina,  que  tem  a  propriedade  de  desviar  para 
a  direita  um  raio  qualquer  de  luz  palarízada. 

Poderíamos  ir  mais  longe,  substanciando  as  particulari- 
dades que  accompanham  o  estudo  d'esta  substancia,  as 
quaes  ofTerecem  um  amplo  interesse  sciantifico,  sem  que 
apresentem  uma  relação  ímmedíata  com  o  objecto  princi-  . 
pai  do  nosso  trabalho.  Contentam  o-aos  com  as  idéas  que 
enunciámos,  e  coro  a  exposiçSo  exacta  de  todos  aquelles 
pontos,  que  porventura  lizerem  realçar  o  merecimento  da 
obra  que  Velloso  traduziu. 

Em  consequência  do  alto  preço  a  que  chegou  o  trigo  ao 
anno  de  1795  em  Londres,  a  real  junta  da  agricultura, 
allende&do  á  necessidade  de  urgentes  medidas  que  favore- 
cessem a  população  contra  a  crise,  que  ameaçava  enfraque- 
cél-a,  publicou  uma  longa  lista,  em  que  se  contam  70  clas- 
ses de  pães,  confeccionados  com  ingredientes  novos,  e 
misturados  entre  si  em  doses  determinadas,  muitos  dos 
quaes  seriam  obtidos  á  custa  de  pequenos  saciilicins  pi.>cu- 
niarios. 

O  pão  sem  mistura  abrange  as  seis  primeiras  classes, 
occupando  o  primeiro  lugar  o  de  trigo,  eera  seguida  o  de 
cevada,  centeio  e  aveia.  Seguem-se  os  que  deviam  ser 
feitos  míslurando-se  estes  elementos  entre  si,  e  outros  que 
apontaremos. 

(o)  Tratado  de  chimira  orgânica  de  J.  Ltebi^',  vol.  3*.  pag.  10. 
TOHO  XXXI,  P.  II  33 


Dictzedby  Google 


Em  moitas  classes  a  bauta  entra  ccHno  parle  iategrante, 
occupaudo  quasi  sempre  a  terça  parte ;  ora  com  grãos  de 
trigo  e  ceateío,  ora  com  o  primeiro  e  cevada  ;  com  o  milho, 
arroz,  etc. ;  para  cada  pão  duas  ou  Ires  plantas  em  quanti- 
dades variáveis  das  que  em  seguida  enumeramos  :  trigo,  ar- 
roz, batatas,  milho,  favas,  centeio,  cevada,  trigo  inferior, 
aveia  e  bico.  Emfim,  quasi  lodos  cereaes,  plantas  da  famí- 
lia natural  das  gramíneas,  que  encerram  ^íuíen  nas  suas 
sementes ;  as  favas  tèm  abundância  de  fécula  nos  seus 
grãos,  e  as  batatas  são  um  poderoso  alimento  pelo  amido 
que  contém. 

Aproveitando-se  todas  estas  sementes  alimeaticias,  co- 
lhiam uma  dupta  vantagem  :  a  de  diminuir  o  consumo  do 
trigo,  poupando-se  o  dispêndio  de  grandes  sommas  na  sua 
importação ;  e  a  de  augmentar  consideravelmente  a  cultura 
de  muitos  vegetses  uleis,  promovendo  o  interesse  pela  in- 
dustria agrícola,  e  ministrando  à  população  os  necessários 
recursos  para  a  sua  subsistência  por  preços  módicos,  e  em 
relação  com  as  posses  mais  ou  menos  vantajosas  dos  diver- 
sos grãos  da  hiersrcbia  social. 

Da  Encyclopedia  Britanka  vêm  á  luz  maís algumas  idéas, 
que  ainda  não  foram  referidas,  sobre  os  usos  da  planta  em 
questão.  Todo  o  terreno  em  que  se  cultivam  as  batatas  nada 
perde  da  sua  primitiva  fertilidade,  porquanto  os  restos  do 
vegetal  que  não  forem  utilizados  poderão  restituir  muitos 
princípios  mineraes,  que  foram  roubados  durante  o  período 
da  vegetação. 

O  leite  dos  animaes,  que  se  sustentam  em  parte  á  custa 
d'aquelle  alimento,  nada  perde  das  suas  boas  qualidades  ; 
pelo  contrario  torna-se  ainda  mais  próprio  para  os  Qns  a 
que  ó  destinado.  Os  factos  confirmam  esta  asserção. 

Dando-se  bera  em  qualquer  terreno,  até  nos  mais  esle- 
reis  ou  silicosos,  convém  que  o  agricultor  aproveite  os  de 


Dictzedby  Google 


maior  fertilidade  no  plantio  de  outras  sementes,  cuja  ger- 
minação depender  da  composição  chimica  do  solo.  De- 
vendo notar  que  as  batatas  cultivadas  em  lugares  descam- 
pados, sob  a  influencia  dos  raios  solares  e  das  correntes  de 
ar,  são  superiores  ás  que  desenvolvem-se  nos  valles  ou  em 
terrenos  baixos. 

Avultam  outras  considerações  de  peso,  que,  a  serem 
enumeradas,  tornariam  o  nosso  trabalho  por  demais  ex- 
tenso, contra  o  pensamento  que  presidiu  á  sua  confecção. 

Seja-nos  permillido  contemplar  esta  utit  producção  no 
quadro  imponente  das  que  primam  por  um  grande  numero 
de  predicados,  que  as  recomraeudam  á  attenção  dos  ho- 
mens entendidos.  Os  documentos  que  a  accompanham  são 
uma  origem  notável  de  numerosos  conhecimentos,  que  íl- 
luslram  o  espirito  de  quem  interessa-se  pelo  estudo  do 
reino  vegetal ;  e  vêm  confirmar  o  juizo  que  sempre  susten- 
támos, de  que  a  scioncia  das  plantas  seria  de  nenhum  pro~ 
veito  para  qualquer  sociedade  constituida,  si  não  abran- 
gesse as  minuciosas  indagações  sobre  todas  as  proprieda- 
des de  cada  planta  em  particular.  Elias  foram  creadas 
para  diversos  fins;  e  ao  botânico  compete  discriminar  as 
que  se  prestam  a  certos  usos  das  que  são  susceptíveis  de 
menor  applicação,  estudando-as,  descrevendo-as,  classifi- 
cando-as  e  indagando  quaes  os  seus  usos  nas  artes,  in- 
dustria e  medicina. 

CAPITULO  XVII 

A  solicitude  do  illusire  botânico  Velloso  pelo  estudo  dos 
vegetaes  úteis  seta  mais  uma  vez  comprovada  pela  publica- 
ção de  outras  obras.  Sirva  de  exemplo  a  Memoria  sobre  a 
culfura,  maceração  e  preparação  do  cânhamo,  apresentada 
á  real  sociedade  agraria  de  Turim,  e  traduzida  do  italiano 


Dictzedby  Google 


-  9«0  — 

pelo  Dosso  dislJQCto  compatriota,  com  o  justo  fim  de  bene- 
ficiar a  ioduslria  cora  mais  um  fructo  de  suas  lucubraçdes. 

Haverá  quem  desconheça  o  préstimo  da  fibra  do  cânhamo 
e  05  usos  das  sementes  t 

Linnéo  classillcou-o  na  família  das  urticaceas  :  é  o  can- 
nabis  saliva  da  Pérsia  e  de  ha  muito  conhecido  oas  manu- 
facturas da  Europa  ;  planta  annual,  cujas  fiòres  são  unise- 
xuaes  dioicas,  e  como  taes  imperfeitas. 

Carlos  Linnéo,  em  sua  obra  Systema,  genora,  spedes 
plantaram,  pagina  975,  apresenta  os  signaes  dístincli- 
vos  dos  dois  indivíduos  masculino  e  femiaino,  mas  nãu 
se  occupa  das  suas  propriedades  (a). 

(o)  TranscrcvemoB  as  palavras  do  Dr.  Matliui,  iosertas  nas  pagi- 
nas 311  e  312  do  fascículo  12' : 

■  Gannabis  saliva  (cânhamo  liisit. ),  ei  Europa  allata,  indicam  suam 
vim  narcoticam  sub  fervida  Brasilife  ccolo,  denuo  adipisri  videlur. 
■  Raro,  inquil  Marliiis  (Syst.  Uat.  taed.  bras.  121]  in  parle  imperi' 
quHm  maxime  versus  Austram  sita,  a  colotiisnoQDuIltscolilur,  nec 
eam  bic  commemoramus  ob  semínuiu  indolem  oleosam,  sed  propterea 
quod  herba  pollel  matéria  quadani  volatili  narcótica.  Medicaster  cinga- 
rus,  quem  Soleropoli  nobilis  arlis  ntedlcce  viilirous  vices  eipleolem, 
tam  liujus  berke  qiiam  Daluríe  StmmoniimultipMcea  usus  nobt«  lau- 
davil.  Neque  fihiopes  herbce  et  extracli  ex  ea  parati  vires  toxicas  et 
anodyaas  iíioorant  quippe  qui,  alia  ut  sileam,  su<Timeola  Toliorum  opti- 
mum  esse contracrapulam  remediam  perhibent. D  Quanta aui«msilnar- 
cotici  hujus  atirpis  principii  in  Asíe  auslraliaris  plagis  eoergeia,  vetus 
jam  fama  est,recentioruinobservnlionibu3  compro  bata.  Maiimuaeslfo- 
lioruiD  per  oranem  orientem  ad  parandag  ofTas  opíatas  (vulgn  Bhaugh, 
Subxee,  Haschisch,  Molak)  usus.  In  plante  apiid  indoscults  rdiis 
inlerdum  materies  narcótica  sub  glandulanim  resinorum  forma  (vulgo 
Gberris]  secernitur,  farins  simills,  ob  virtutis  vehementiamsummo 
belluonumglQdioqussiln.  E  cannabis  seminibus  pneter  resinam,  albu- 
minam,  muco-saccharum,  el  aubstantiam  extractivam  gumraosam  olei 
siccativi  ffEtidi  speolss,  in  inlegumento  inleriore  (enilopleuro)  potissi- 
mum  residens,  obtinetur.  Quíc  ei  ejusmodi  semine  in  oRicinis  paran- 
tur  emulsiones  etinfusa,  viribus  sedantibiis,  involventíbus  et  lenien- 


Dictzedby  Google 


—  261  — 

Além  da  immensa  vantagem  da  abra  cortical,  menciona- 
remos desde  yí  nutras  qualidades  que  o  tornam  ainda  mais 
apreciável.  Alguns  querem  que  o  carvão  que  eitrahem  do 
caule  seja  leve  e  muito  combuslivel.  As  sementes  contém 
um  óleo  graio  nas  cellulas  da  amêndoa,  branco  e  adoci- 
cado, que  aconselbam  p:ira  a  pintura  e  illuminação.  Os 
médicos  as  empregam  em  emulsões,  como  calmantes,  eem 
certas  infla mmações. 

Occupa-se  da  natureza  do  terreno  mais  adequado  á  cul- 
tura do  cânhamo,  e  diz  ser  preferível  o  que  se  quebra  ou 
esmigalha  com  mais  facilidade,  o  que  tem  a  propriedade 
de  conservar  a  bumidade  por  mais  tempo  e  a  que  chama 
terra  gorda. 

A  presença  da  arâa  cm  qualquer  terreno  nimiamente 
argílloso  é  ás  vezes  uma  condição  para  quo  o  excesso  de 
humidade,  que  a  segunda  substancia  podo  conservar  ( o  que 
é  nocivo  á  vida  das  plantas),  desappareça  em  parte,  por 
isso  que  as  partículas  da  agua  em  contacto  com  a  silica  não 
se  poderão  lixar  facilmente,  e  muitas  passarão  a  estado  de 
vapor, 

A  presenga  de  pedras  em  um  solo  por  demais  argílloso 
tem  uma  vantagem  que  devemos  assignalar.  O  barro, 
quando  exposto  por  muitos  dias  á  acção  dos  raios  solares, 
vai  perdendo  successi vãmente  a  agua  que  accumulára 
nos  seus  poros,  acaba  por  se  tornar  tão  compacto,  que  o  ar 
Dão  poderá  mais  penetrar  até  ás  raizes,  dissolver  o  seu 
acido  carbónico  na  seiva,  e  accelerar  a  putrefacção  das 
matérias  orgânicas  pela  acção  do  seu  oxygenio.  Mas,  si  em 
um  terreno  de  tal  nnturezn  existirem  fragmentos  de  al- 
gumas rochas  de  origem  ignea,  formar-se-b2o  fendas  pela 

tibus  imprimia.  íd  varíis  orgaDOnim  urinam  parantium  et  evehenlium 
passionibug.  etiam  ablndomm  medíeis  commendaDtur.  ■— Eudliclier 
EDClierid.,  paB.172, 173. 


Dictzedby  Google 


influencia  de  ura  calor  inleaso  e  prolongado,  e  por  ellas 
o  ar  passará  afim  de  banhar  bs  raízes  dos  vegetaes  que 
desenvolveram-se  a'este  terreDO  argillo-pedregoso. 

ÀpoQlaremos  mais  outra  vantagem.  Si  estes  fragmeatos 
porteDcereai  a  rochas  graníticas,  s  huraídade  e  o  C  ^  são 
suOicieDtes  para  transformal-os :  o  feldspatho  separar-se-ha 
oos  seus  dois  componeales  —  silicato  d'aluiDÍaa,  e  silicato 
de  potassa  (si  o  feldspatho  íòt  o  orthoclasto  ou  orthosio)  — 
o  quartzo  produzirá  a  aréa.  Já  tratámos  da  utilidade  do 
culcareo  e  outros  compostos. 

Estas  idéas  são  susceptíveis  de  grande  desenvolvimeolo ; 
e,  comquanto  não  tenham  sido  tratadas  com  amplitude 
pelo  autor  ds  presente  memorio,  têm  comtudo  manifesta 
relação  com  as  proposições,  que  n'el]a  encontrámos,  no 
capítulo  que  se  refere  ú  composição  dos  terrenos  em  que 
o  cânhamo  deve  prosperar,  " 

Todas  as  outras  considera^;ões  são  relativas  d  maior  ou 
menor  inclinação  do  terreno,  ao  esgdto  das  aguas,  ao 
lavrar  da  terra,  sua  preparado  e  estrumes. 

N'esta  traducção  estão  assjgnados  outros  princípios  úteis 
que  serão  consultados  com  proveito  por  aquelles  a  quem 
interessar  o  estudo  d'es(a  importante  urticacea.  Descreve 
as  condições  que  devem  ser  attendidas  na  escolha  das 
sementes :  a  còr  do  episperma,  o  peso  da  semente  e  o  seu 
sabor,  e  outras  qualidades  tiradas  d'um  trabalho  do 
Dr.  Fabrício  Berti  Centen,  onde  estão  detenninadas  as 
propriedades  que  separam  as  boas  das  más  sementes. 
Militas  outras  considerações  sobre  a  planta,  preparação  dn 
terreno,  e  os  meios  de  abrigal-a  contra  os  anímaes,  afim 
de  obter-se  a  maior  colheita  possível,  não  ofFerecem  tanto 
interesse. 

Não  passaremos  em  silencio  o  capitulo  em  que  elle 
eipõe:  os  signaes  do  completo  crescimento  dos  dois  iodí- 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  263  — 

viduos  masculino  e  íeminino,  e  qae  consistem  no  etíiola- 
vMnlo  das  folhas,  nas  sementes  luzidias  e  pardacentas,  e 
na  cAr  amarelLada  do  caule;  o  methodo  para  a  maceração 
do  cânhamo,  ou  separação  da  casca,  e  das  fibras  libe- 
rianas. Para  maior  clareza  doesta  ultima  questão,  o  autor 
faz  um  resumo  histórico  de  alguns  processos  adoptados 
em  cortas  épocbas,  os  quaes  tinham  um  único  fim,  embora 
houvesse  divergência  nos  meios,  —  era  dissolver  a  gomma 
que  serve  de  união  ás  fibras  texlis  do  Cannabis  satíva,  e 
que  liga  a  casca  ao  caule.  Todos  os  nomes  dos  diversos 
personagens,  que  occuparam-se  d'esta  matéria,  são  refe- 
ridos  como  homenagem  aos  seus  esforços  assim  como 
ás  suas  opiniões ;  inconvenientes  e  vantagens  de  cada  uma 
d'eslas  em  particular.  Segundo  o  seu  pensamento,  a  me- 
lhor maceração  se  faz  em  Ianques  (cujas  dimensões  elle 
nfto  olvida)  construídos  nas  proximidades  de  asa  rio,  do 
qual  os  primeiros  recebam  a  agua  necessária  (por  meio 
de  canaes  convenientemente  estabelecidos),  para  a  sepa- 
ração dos  fios  do  cânhamo  nos  feixes  ou  montes  pre- 
viamente collocados  n'eslas  bacias  artificiaes.  Um  excesso 
d'agua  poderá  damnificar  os  fiosje  a  deficiência  d'este 
liquido  deiíal-os-ha  impregnados  d'um  excesso  de  substan- 
cia mucilaginosa,  que  convém  separar  antes  de  serem  em- 
pregados na  industria.  Aponta  as  precauções  para  a  sécca 
dos  feixes,  ou  a  evaporação  d'agua  logo  depois  de  termi- 
nada a  primeira  operação;  os  diversos  modos  de  separar 
a  casca  do  pequeno  tronco  ;  a  arte  de  assedar  e  afinar  o 
elemento  têxtil,  e  quaes  os  instrumentos  mais  adequados 
a  esta  industria.  Sentimos  que  n'este  opúsculo  tão  interes- 
sante não  fossem  contemplados  o  desenho  da  planta,  e  os 
seus  característicos  botânicos  mais  fundamentaes.  Houve 
omissão  completa  d'estes  dois  elementos,  que  não  deviam 
ter  escapado  ao  génio  investigador  do  illustre  traduclor  o 


Dictzedby  Google 


—  2C4  — 

padre-mestre  Fr.  Velloso.  Devemos  confessar,  entretanto, 
que  prestou  mais  um  serviço  á  industria  vertendo  para 
a  Ung;ua  porttigueza  esta  serie  de  conhecimentos  sAbre  um 
vegetal,  cuja  fibra  é  de  tantos  recursos  para  a  industria 
manuractureira  e  de  cordoaria,  e  cujas  sementes  encerram 
propriedades  tão  importantes  coiuo  as  que  enunciámos 
nas  primeiras  linbas  d'estQ  capitulo. 

Mas,  hoje,  que  as  nações  cultas  tém  dado  um  vigoroso 
impulso  ás  sues  manufacturas,  as  idéas  contidas  n^este 
opúsculo  ficam  a  quem  dos  conhecimentos,  que  se  traos- 
mitlem  aos  povos  agricolas.  O  processo  de  maceração  do 
cânhamo  em  tanques,  e  em  seguida  a  fermentação,  tinham 
o  iDConveoiente,  embora  separassem  as  fibras  das  matérias 
glutinosas,  de  produzir  uma  tal  ou  qual  deterioração  nos 
fios,  pelo  que  não  podiam  ser  applicadas  com  a  mesma 
vantagem,  que  dVlas  se  poderiam  colher  em  outras  cod- 
dições.  Doeste  fado  nasceu  a  necessidade  de  se  descobrir 
outro  processo,  que  tivesse  por  Rm  decompor  a  substancia 
glutinosa,  de  modo  que  a  mesma  decomposição  não  se  es- 
tendesse ás  fibras,  que  deviam  ser  utilizadas  em  estado  de 
perfeita  conservação.  Appareceram  diversos  modelos  de 
machinas,  que  na  pratica  não  provaram  bem,  assim  como 
o  processo,  seguido  por  algum  tempo,  de  separar  as  fibras 
das  matérias  estranhas  e  nocivas  que  as  accompanhavam, 
por  .meio  de  diversos  agentes  cbimicos,  que  cora  ellas  se 
combinavam. 

ú  autor  cita  que,  na  Sabóia,  expunham  os  feixes  de 
cânhamo  ao  orvalho,  ao  sereno,  is  chuvas  e  ao  sol,  occa- 
sionando  uma  decomposição  das  fibras  ainda  mais  intensa, 
do  que  a  que  se  operava  nos  apregoados  tanques  de  mace- 
ração. O  melhor  melhodo  deve  consistir  pois  na  separação 
das  fibras  por  meio  de  machinas,  com  o  emprego  das  quaes 
desapparecerá  o  inconveniente  do  contacto  com  a  agua. 


Dictzedby  Google 


—  865  — 

Actualmente  a  proparação  do  cânhamo  consiste  em  trez 
processos,  para  rada  am  dos  quaes  a  industria  fabril 
fornece  uma  macbina  especial :  reducçio  da  casca  em 
pequenos  fragmentos,  fazendo-a  passar  por  dois  oylmdros 
de  ferro,  raiados;  separação  dos  ãlamentos,  dos  frag- 
mentos lenhosos,  por  meio  d'uma  segunda  raachína,  com- 
posta de  dois  tamboret  guarnecidos  de  braços  que  se 
cmsatn  e  gyram  no  irUmor  d^uma  caixa,  em  sentidos 
oppostot;  finalmente,  em  uma  terceira  machina  conse- 
gae-se  amadal^as,  assedai-m  e  limpal-as. 

O  processo  belga,  de  Lefebure,  applícado  ao  linho  e  ao 
cânhamo,  estende-se  igualmente  ás  outras  matérias  textís 
do  Brasil ;  guaximay  mungidta,  carrapicho,  etc.  Desappa- 
rece  igualmente,  graças  a  esta  invençSo,  o  grave  incoa- 
veniente  das  moléstias  adquiridas  nos  campos,  em  que 
maceravam  aqaellas  abras,  pelos  (rabalbadoras  que  res- 
piravam o  ar  corrompido  pela  putrefacção  dos  corpos 
orgânicos  inberenles  a  estes  vegetaes. 

CAPITULO  xvni 

A  conversão  das  moedas  estrangeiras  em  dinheiro  por- 
tuguezé  um  trabalho  original  de  Telloso,  por  elle  publi- 
cado em  Lisboa  com  o  fim  de  baneciflar  ao  commercio 
portuguez. 

Muitas  noções  económicas  servem  de  ornamento  a  este 
opúsculo  :  padrão  monetário  de  diversos  paízes  :  China, 
Japão,  índias,  etc.  ;valor  intrínseco,  e  extrínseco  da  moeda; 
divisões  e  nomenclatura  do  dinheiro  portuguez  ;  idéa  de 
cambio. 

Percorre  as  moedas  de  circulação  em  outras  nações,  taes 
como  o  ouro,  a  prata  e'o  cobre,  e  estabelece  qual  o  seu 
equivalente  era  moeda  portugaeza.  E'  una  trabalho  ioteres- 

TOHO  XXXI,  P.  11  34 


Dictzedby  Google 


—  368  — 

saote  porque  abraoga  o  valoi  relativo  das  moedas  eoi  di- 
versas regiões  do  globo,  ao  passo  que  conserva  as  divisões 
e  subdivisões,  particulares  a  cada  uma  das  nações,  iodi- 
caodo  os  termos  adoptados  aas  diversas  liaguagens  moae- 
larias.  N'esle  quadro  figuram :  as  moedas  de  Inglaterra, 
França,  Hespanha,  Rússia,  Áustria,  Prússia,  Amsterdam, 
Toscana,  Dinamarca,  Saxonia,  Hamburgo,  Baviera,  Hano- 
ver,  Suécia,  Veaaza,  Polónia,  Milão,  Roma,  Génova,  Ná- 
poles, Malta,  Turquia,  Tunis,  Argélia,  colónias  portuguezas 
d'Africa,  Pérsia,  Cbíoa.  Japão,  America  (principalmente  o 
Brasil.) 

Ricaf  de  considerações  ^ometricas  são  :  a  traducção 
por  Velloso,  da  sciencía  das  sombras  relativas  ao  desenho, 
de  Dupaín,  para  estudo  dos  que  se  de  dicavam  á  pintura  e  & 
arctxilectura  ;  e  a  cópia  do  Mineiro  Livelador,  ou  Bydro- 
meira  de  Febure. 

Com  a  publicação  da  primeira  brochura  o  íUustre  natura- 
lista teve  em  vista  :  reunir  bons  elementos  para  o  desen- 
volvimento.em  sua  pátria,  das  bellas-artes,  estatuária,  pin- 
tura e  archilectura.  Os  pontos  essenciaes  são  os  seguintes  : 

Projecção  das  sombras.  Queda  dos  raios  solares  em  uma 
superfície  dada  de  posição  invariável,  accompanhando  o 
observador  o  deslocamenlc  do  sol  scinia  do  horizonte. 
Intensidade  da  luz  variando  com  a  maior  ou  menor  obli- 
quidade  dos  raios  solares  ;  isto  para  as  superfícies  planas. 
Sombras  produzidas  em  uma  superQcie  abahulada,  que  re- 
cebe.em  alguns  dos  seus  pontos,  os  raios  de  luz.  Acção  dos 
raios  solares  sobre  as  superEcies  concavas.  Meios  para  de- 
terminar a  largura  e  longitude  das  sombras.  Natureza 
d'estas  sobre  o  capitel  e  base  de  uma  columna.  Applicações 
dos  princípios  deduzidos  das  experiências.  Desenhos  expli- 
cativos. Eis  a  synopse  d'esta  obra  ;  as  quatorze  estampas  que 
a  accompanham  augmentam ainda  maisa  sua  importância. 


Dictzedby  Google 


—  267  — 

A  s^unda  brochura,  a  que  nos  referimos,  comprebeode 
todos  os  processos  para  o  livelamento,  com  a  descrípção 
dos  instrumeulos  de  Picard,  etc,  adequados  a  esle  fim, 
sobresahiodo  grande  numero  de  cousideragões  geométricas 
tendentes  A  maior  clareza  das  questões  figuradas  por  Febure. 
N'esta  brochura,  cuja  substancia  Dão  era  tão  familiar  á  in- 
telligeocia  do  P,  H.  Velloso,  existem  somente  as  idéas  do 
seu  autor.  O  naturalista  brasileiro  copiou-as  por  ordem  da 
S.  A.  o  Príncipe  Regente,  cabendo-lbe  a  glória  do  traba- 
lho material  da  cópia  e  o  da  impressão. 

Figuram  igualmente  entre  os  fructos  dos  seus  labores  as 
instrucções  que  çlle  publicou  para  o  transporte  por  mar 
das  sementes,  arvores,  plantas  vivas,  etc.  N'esta  producção 
falia  o  naturalista  eminente,  aos  que  tiverem  de  enviar  para 
pontos  longínquos,  os  elementos  dos  seus  estudos.  São 
conselhos  práticos  relativos  também  às  indicações  que 
devem  accompanhar  as  plantas  ;  seus  usos  ;  procedência  ; 
épocha  em  que  a  planta  foi  colhida  ;  formação  dos  catálo- 
gos ;  collocação  dos  rótulos ;  acondicionamento  das  plantas 
vivas,  que  teriam  de  ser  transportadas,  e  bons  esclareci- 
meatosa  respeito  de  outros  objectos  de  historia  natural. 

Na  traducção  do  trabalho  de  Pattdlo,  relativo  ao  me- 
lhoramento das  terras,  não  escapou-lhe  o  principio  salu- 
tar, e  o  mais  importante  em  relação  i  agricultura,  sobre  os 
melhoramentos  dos  terrenos  pelas  applicações  dos  elemea- 
tos  fertilisadores,  A  fertilisação  artificial  do  solo  para  as  ne- 
cessidades agrícolas  é  ponto  já  esclarecido  pela  cbimica 
agrícola.  A  sciencia  nos  tempos  que  correm  não  é  a  sciencia 
do  principio  d'este  século:  estudos  novos  e  proficuos  vie- 
ram coroar  os  esforços  dos  chímicos  dos  tempos  actuaes. 
Estas  leis  são  conhecidas  ;  seria  ocioso  repetil-as.  Oxalá 
que  os  lavradores  do  Brasil  d'ellBs  se  aproveitassem  para  o 
uso  constante  da  mesma  área  de  terreno  que  a  sua  cultura 


Dictzedby  Google 


—  868  — 

abrange,  prolegendo  doesse  modo  as  oossas  florestas  es- 
plendidas contra  os  golpes  destruidores  do  macbado. 

Finalmente,  a  memoria  do  Jfosnic— Qualidade  e  emprego 
dos  adubos ;  a  de  fwírond— Tratado  d'agua  em  relação  á 
economia  rural ;  a  do  Freire  Aragão — ^Tratado  das  abelhas ; 
o  discurso  de  Moraes  Navarro ;  a  memoria  sobre  os  queijos 
de  Roehefort ;  trabalhos  estes  originaes  dos  autores  citados, 
foram  por  elle  publicados  ou  traduzidos. 

Duas  palavras  acerca  da  obra  de  Murei.  Velloso  a  tradu- 
ziu por  ordem  do  governo  portuguez,  conservando  o  titulo 
Moedvra  de  grãos.  Da  leitura  d'este  opúsculo  sobra  o  pen- 
samento de  divulgar  os  processos  para  a  preparação  da  fa- 
rinha de  trigo,  etc.  Os  fructos  do  trilicMm  aalivwn  sSo  o 
alvo  d'estas  investigações.  Além  da  enumeração  dos  pro- 
cessos, deparámos  com  diversas  considerações  sobre  moi- 
nhos, fornos,  fabrico  do  pão,  etc,  sendo  ellas  acompauba- 
das  de  um  grande  numero  de  dados  estatísticos  e  de  longas 
tabeliãs,  que  Muret  orgaaisou  com  os  elementos  colhidos 
de  diversas  localidades  a  respeito  do  preço  das  sementes. 
Eis  o  titulo  das  tabeliãs :  Preço  proporcional  dos  grãos  con- 
forme as  medidas  de  cada  lugar. 

Um  certo  numero  de  çuodroa  refere-se  ás  experiências 
sobre  03  moinhos  j  cálculos  relativos  ao  peso,  em  arraieis 
e  em  onças,  dos  grãos  moidos  para  comparação  com  o  peso 
da  farinha  obtida  e  dos  pães  fabricados. 

Finalmente,  os  resultados  das  experiências  quanto  á  co- 
xetktra  das  sementes  constituem  o  objecto  de  outras  ta- 
beliãs. 

Velloso  teve  somente  a  parte  de  traductor.  "Ho  fronlespi- 
cio  d'este  opúsculo  figura  a  sua  dedicatória  ao  Príncipe 
Regente,  onde  deixa  perceber  a  idéa  cardeal  que  pairou  no 
espirito  do  governo  de  Portugal.  Tornando  conhecidos  ao 
reino  os  processos  mais  adequados  á  preparação  da  farinha 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  269  — 

de  trigo,  craava-se  d'este  modo  a  eoonomia  Ateste  ramo  da 
industria  agrícola,  preveaindo  para  o  futuro  que  não  fosse 
mais  importada  a  farinha  do  commercio  estrangeiro.  Re- 
sotvia-se  assim  uma  questão  económica  coro  os  esforços  do 
benemérito  Fr.  Velloso. 

Dos  trabalhos  botânicos  importantes  traduzidos  pelo 
coDspicao  Velloso  só  não  analysaremos :  A  culiura  dos 
algodoeiros  de  irrufía  tia  Camará,  porque  algum  dia  apre- 
sentaremos uma  memoria  sobre  a  vida  d*este  phytologista 
brasileiro. 

O  trabalho  de  Persoon  sobre  os  Fetos,  que  também  está 
incluido  no  numero  das  suas  traducções,  ó  hoje  raro  nas 
nossas  bíbliothecas.  Consola-nos,  porém,  o  facto  de  que  a 
familia  dos  Fetos  virá  í  luz  da  sciencia  com  todo  o  esplen- 
dor das  monograpbias  modernas.  Payer  escreveu  sobre 
esles  vegetaes  na  sua  Cryptogamia.  Outros  botânicos  da 
Europa  preparam  obras  monumentaes  em  que  brilharão  os 
conhecimentos  adquiridos  em  relaç&o  aos  ornamentos  d'este 
girupo. 

CAPITULO  XDt 

VELLOSO   E   BOCAGE 

A  mão  generosa  do  virtuoso  Velloso  tocou  as  fibras 
do  coração  do  insigne  poeta  portuguez  Manoel  Maria  de 
Barbosa  du  Bocage.  As  suas  relações  d'amizade  crearam-se 
em  Lisboa,  onde  Bocage  admirava  os  (alentos  do  natu- 
ralista americano,  em  troca  do  sentimento  de  respeito  que 
inspirava  ao  iltustre  brasileiro  o  talento  raro  do  poeta 
portuguez.  Nos  momentos  mais  dilSceis  da  sua  vida,  Bocage 
apertava  a  mão  piedosa  do  sábio  botânico,  offerecendo-lhe 
o  mais  puro  sentimento  de  gratidão. 


Dictzedby  Google 


-  «70  — 

Lega-Dos  a  tradiçSo  este  facto,  que  alíAs  é  corroborado 
pelas  poesias  que  Barbosa  du  Bocage  dedicou  ao  dosso 
conspícuo  compatriota.  No  primeiro  volume  dos  suas 
poesias  deparámos  com  um  soneto,  com  o  titulo : 

ios  Amigos, 

{em  agradeãmenlo) 

em  que  se  transluz  o  pensamento  que  avançamos  n'eslas 
linhas. 

E'  etla  dedicada  a:  Fr.  Valioso  {Soeio  de  Flora). —  João 
Vicente  Pimentel  {Maldonado.  —  Desembargador  Vicmte 
Joii  Ferreira  Cardoso  da  Costa.~Diogo  José  BlanchevOle. 
— ittrsjío  Rodrigues. —  Alvares,  etc. 

Temo  Paz,  bom  Maneschi,  Aurélio  Charo, 
Alvares  extremoso,  Almeida  humano, 
Ferrão  prestante,  Valedar  Montano, 
Moniz,  que  estiraes  teu  nome  ao  (empo  avaro  I 

Freire,  Vianna,  BlancbeviUe,  oh  raro 
Moral  tbesouro,  que  possue  Elmano  ; 
Soão  de  Flora,  e  tu,  de  som  (hebano 
Oh  cysne;  e  tu,  Cardoso,  em  letras  claro! 

Monumento  honrado  da  humanidade, 
(Se  o  fado  me  sumir  da  morte  no  ermo) 
Grata  vos  deiío  cordeal  saudade ; 

Ireis  nos  versos  meus  do  globo  ao  termo, 

Por  serdes  com  benéfica  piedade 

Kuncios,  núncios  de  um  Deus  ao  vate  enfermo  I 

Sob  a  direcção  de  Velloso  imprimiu-se,  na  typographia 
do  Arco  do  Cego,  uma  das  ultimas  producções  do  poeta 
^silano,  escripta  no  leito  da  morte,  e  por  elle  dedicada  ao 


Dictzedby  Google 


sen  amigo.  Referimo-nos  ao  drama  :  ^1  virtude  laureada^ 
precedido  de  uma  dedicatória,  em  Epistola,  que  figura 
□o  3*  volume  das  suas  poesias : 

Ao  Revm.  padre  mestre  Frei  José  Mariaoao  daCoDceição 
Velloso. 

Qual  d^eutre  as  rolas,  naufragas  cavernas 
Oo  lenho,  que  se  abriu,  desfez  nas  rochas. 
Colhe  affanoso  deplorável  nauta 
Relíquias  ténues,  com  que  a  vida  estde. 
Em  erma,  ignota  praia,  a  que  aboiaram. 
E  onde  a  custo  o  remiu  propicia  antena : 
Tal  eu,  que  da  existência  o  pego,  o  abysmo 
(De  que  assomam,  rebentam,  surgem,  fervem 
Rochedos,  escarcéos,  tufões,  e  raios) 
Tal  eu,  que  da  existência  o  mar  sanhudo 
Vi  romper  meu  baixel,  e  arremessar-me 
A  ínhospitos  montões  de  estranha  aréa. 
Triste  recolho  os  miseros  sobejos 
Com  que  esvaido  alento  instaure,  esforce, 
E  avive  os  dias,  que  amorteço  em  magoas. 
—  Em  ti,  constante,  desvelado  amigo. 
Do  mundo  contra  a  sorte  asylo  e  sombra  ; 
Oh  das  musas  fautor,  de  Flora  alumno  I 
(Rasgado  o  véo  da  allegoria)  estende 
Ao  metro,  que  desvale,  a  mão,  que  preste. 
Se  azas  lhe  deres,  em  suave  adejo 
De  Lysia  ao  seio  que  a  virtude  amima, 
D^ella  cultores,  voarão  meus  versos, 
E  o  pátrio,  doce  amor,  ser-lhe-ha  piedoso. 

M.  M.  DB  B.  Du  Bocage. 


Dictzedby  Google 


CAPITULO  XX 

Basta.  Para  qoe  Velloso  seja  em  todos  os  tempos  um 
heróe  DO  trabalho,  e  um  vulto  no  mondo  da  scíencia,  não 
exige  esta  noticia  qae  mais  um  só  dos  seus  talentos  seja 
lembrado.  Foi  um  typo  do  dever  —  pela  sciencia ;  nm 
coraçio  com  om  throoo  para  a  gratidão ;  —  uma  alma 
grande  para  o  exercicio  da  piedade ;  um  caracter  sincero 
e  expansivo— para  os  amigos  extremosos;  um  espirito 
forte  e  inabalável  pelas  virtudes  christAs  I 

Os  acontecimentos  que  realizavam-se  na  Europa,  em 
convulsão  com  as  marchas  progressivas  do  exercito  francez 
pela  península  ibérica,  determinaram  a  partida  da  cdrte 
portugueza  para  a  cidade  do  Rio  de  Janeiro.  Em  1809, 
Velloso  seguiu  os  passos  do  seu  bemfeítor,  S.  M.  o  Bei 
D.  João  TI.  Atravessou*  o  oceano  em  busca  da  pátria, 
ambicionando  o  repouso  para  os  últimos  annos  da  sua 
vida;  dilatou-se-the  a  alma  ao  contemplar  a  modesta 
cella  em  qoe  passara  os  primeiros  tempos  da  sua  existên- 
cia !  Deus  não  contrariou  a  sua  ultima  vontade  I 

Limilou-lhe,  porém,  o  gozo  do  patriotismo!  A  13  de 
Junho  de  181 1,  á  meÍa-noÍte,  a  sombra  implacável  da  morte 
penetrou  na  eoTermaria  do  convento  de  Santo  António, 
do  Rio  de  Janeiro,  e  roubou  ao  mundo  a  sua  alma  pu- 
rificada pelo  bálsamo  do  Sagrado  Tiatíco  !  Telloso  passou 
ã  mansão  dos  justos! 

Na  phrase  eloquente  do  maior  vulto  do  púlpito  francez, 
o  illastre  Bosiuet,  as  honras  e  as  glorias  confandem-se 
no  sbysmo  profundo  da  sepultura,  como  as  aguas  dos 
mageslosos  rios,  de  par  com  as  dos  modestos  ribeiros, 
desapparecem  na  immensidade  do  oceano ! 

Verdade  fecunda,  mas  que  não  aniquila  a  quem  lança 
os  olhos  para  a  sentença  da  posteridade.  No  pensamento 


Dictzedby  Google 


—  S78  — 

grandioso  do  poeta  americano,  Alvares  d'Agevedo,  o  admi- 
rador das  sublimidades  poéticas  de  Byron  t  de  Goethe, 
encoDtra-3e  o  lenitivo  para  a  memoria  dos  que  deixam 
a  vida  finita.  Dizia  Alvitres  d" Azevedo  : 
O  sol  d'além  dos  tumalos 
não  é  do  morto  a  lâmpada  sombria. 

Velloso  já  DÍo  existe  I  Perduram,  porém,  os  traços  pro- 
fundos da  sua  vida  illustre,  sobre  o  thrdno  que  os  vin- 
douros lhe  erigiram, 

Seja  seu  epitaphio : 

Amor  pela  sciencia !  Gratidão  ao  rei !  Fé  immaculada 
para  cora  o  Supremo  Arbitro  do  Universo  1 

José  de  Saldanha  da  Gaha. 

Rio  de  Janeiro,  8  de  Junho  de  1868. 


TOHOXZXI,    p.  n 


;dby  Google 


—  2H  — 

Géneros  {a)  creados  por  Fr.  José  Marianoa  da  ConceiçSo  VelIoM 
para  a  flora  firtutíeirn.— Dados  colliidoj  oa  Flora  Brasileira  i 
Dr.  Uartius;  no  Gen  planlanim  d'IIookce  Blh  :  e  no  de  Eadlidui 
ele,  etc.,  moDographias,  etc.,  eic 

I  Aadisous  (hoje,  Auda)  Enphorbiaceas. 
3  Anligona  (boje.  Casearia)  Samydaceas. 
3  Eachrjon  (hoje,  Pícrena)  Simarubeas. 

&  Benjamiaia  (hoje,  Dictfoloiua)  SJmnrubeus. 
6  Boca  (boje,  Banara)  Samydaceas. 

6  Braddleya  (boje,  Amphina)  Violareas. 

7  Brolera  (boje.  Lufaea)  Tiliaceas. 

8  Brya  (boje,  llirleila)  Chrysobolaneas. 

9  Buchosia— Arrab.  (Alguns  o  atlribiiem  a  Vclloso.) 

10  Bragantia  (de  Volloso  ou  de  Loureiro?)  Arislolochías. 

II  Bessera.  (Não  cremos  que  seja  de  Velloso.) 

12  Barberina.  (Idem.) 

13  Coesia  (hoje,  Carmooema)  Ithamnaccaa. 
IA  CanicidÍa'(hojc,  Rourea)  (3onnaraceas 
iS  ChODielia  [hoje,  Ilex)  lliceas. 

16  Ctercia  ihoji?,  Salacia)  Cfla?lniieas, 

17  Correia  (hoje,  Goniphia)  Ochnaceas, 

18  Cosia  (hoje,  TÍOTrea)  Rulnceas. 

19  CavantUa  (hoje,  Caperooa)  Euphurblacens. 

20  Coletía  (hoje,  Mayaca)  Xyridcas. 
31  Columella? 

23  Danpervilla  [hoje,  Galipea)  Rutaceas. 

23  DigonocarpuB  (hoje,  Cupnniaj  Saplndaceas. 

24  Dulacia  (boje  Líriosma)  Olacineas. 

26  Desfonlanea  (adoptado)  Euphorbiaceas. 

26  Dicknekeria  (hoje,  Hhopala)  Proteaceas. 

27  Dupatya  (Eriocaulon)  Eriocauleas. 

28  Epigeuia  (SlyraxT)  Slyraceas. 

29  Enydrja  (boje,  Myriophylluni)  Halorageas. 

30  Forsgradia  (boje,  Combretum)  Combretaceas. 

31  Hieronia  (hoje,  Davilla)  Dilleneaceas. 
33  Hesioda  (hoje,  Heistería)  Olacineas. 
33  Uillería  (hoje,  Mablana)  phytoiacaceas. 

tí)  Algnna  fbrun  attríbaidas  a  Velloeo,  peto  fneto  d«  terem  lido  mearionidoa 
na  sua  Plvra  Fluminttm. 


Dictzedby  Google 


—  275  — 

^  j?^^  líioje.  Mjrslna)  Myrsineas. 
cSis  j-  ^     '"*esia  (o)  (Aada)  Eupborbiaceas. 
3^  .aJ*^****  lliojfi.  Bougalnvilka)  Níctagineaa. 
5[f  ^     '''^Oonia  (hoje,  BeiaDgera)Saii[ra6a3. 
Í9  _^^*'-^«<Jia  (Adoptado)  Violareas. 
-■J  i(j     ^''O  {hoje,  Mappia)  Olacineas. 
M    (kj„'?*^*icidia  [hoje,  ADdira)  Leguminosas. 


43    Ma***,^*  Euphorb.  (Incerta  sedis ) 

^^Ua  (hoje,  Slerculia)  Slerculiaceas. 


4â 

45 


j^^^^-ííiieraíboje,  Kielmeyera)  Ternslremiaceas. 
IVj        ^^lia  (hoje,  Slerculia)  Slerculiac'""' 
H^**^«*ia  (Adoptado)  Samydoceas. 


^^    -IV^   **<Íozia  (Aíiiptado)  Acanlhaceas. 
^^    «:>»^^**.via  (lioje,  jch  uidelia)  Sapindaceas. 
^*     :t:»i^^^*:*tanla  (hoje,  Galipea}  Rutaceas. 
^®     **■&.»  ^'^**  (hoje,  Sabicea)  Itubtaceas. 
oí>      t*»n     ^^^■vana  (hoje,  Gloxinia)  Gcsnetaceas. 
5*-      "^rfcj    ^^itia   (hoje,  Myreiae)  Myrsiocas. 
&*       t>j*^^Tda  (hoje,  MlcrantUemum.) 
5*       ^-^    *^<ihia  (hoje,  Uicliilanlhera)  Sapotaceas. 
6A       ^^  ^  *~Cískia  (6)  (Adoptailol  Celastrineas. 
6*       t*  ^*- '^''«snia  (nílo  adoptado)  Rulaceas. 
5*       j^fc^^^^eveura  (hoje,  Hrpericuru)  (ifpericineaB. 
í^      j^^^^ssenia  (hoje,  Oalipej)  Rulaceas. 
&^      .^ç^^^^cia  (hojo,  Zonaria)  Algas. 
'íí^     i^~*^\»warl2Ía  (hoje  Korentea)  Marcgraveas. 
60      ^^'X.rukcria  (hoje,  Vochysia)  Vocliysiaceas. 
«1       ^^^-^.rdinia  (hoje,  Guettarda)  Rubiaceas. 
aa       ^^^^ilvia  (hojfi.  Escobedia)  Scrophularineas. 
6a         ^^^onza  (hoje,  Sisyrinchjum)  trideas. 
6^  -^^^igonocarpus  (hoje,  Cupania)  sapindaceas. 

6^         ^^^■ismia  (Adoptado)  HypericiDcas. 
«^  Tigiera  {hoje,  Escallooia)  Saiitrogaa. 

/»^  -^acyniha  (Myrsine)  MyrsiQeas. 

""^■^^  grUB  seãii :  —Romana. 

Bulilia.— Thevelia— Torrubin. 
AdhuDÍa.  ~  Casania.  — cbcbula. 
(  cynolOKÍcum,— Democritca.— Ivonia.,  ele. 

•   J  ^-^^    ■^-   pj._  BaUlonii»«-°'»''e™P"i«.<iiat*''*'*"'*"'°   Pftra  adoptar* 

*  *°^  oBto  nomo  ha  um   Bsnero  de  Mill.  MB  CactaceM. 


Dictzedby  Google 


—  ÍT8  — 
HiDtu  cUMiOcadaa  por  Velloao,  que  evnsUm  da  floro  ffroifleiro. 

FIMILU  DU  GBMUUCSiS 

1.  OrobBDCbe  hirta  (é  boje  o  Gesoera  Allogophf lis].  Eacontn-M 
em  Hinai,  Uootendéo.  E'  ddm  peqneoa  planta,  cujo  caule  lem  de  1 
i  8  péi  de  eomprimuilo. 

3.  Orobancl»  ipieaU  (Gesnera  Tribracteata].  Habita  em  Hinat- 
Genes  perlo  de  Ouro-Preto. 

3.  Orobaoche  ambellala  (Gesnen  CouferlifoliaJ.  Planta  herbácea, 
cujo  caule  tem  1  A  3  pés  de  comprimento.  Habita  naa  províncias  tnh 
picaei  do  Brasil. 

a,  Orobaoche  verticillata.  (Gesnera  macalala}.  Provindas  de 
S.  Paulo  e  Rio  de  Janeiro ;  serra  da  Bslrella.  Floresce  de  Deiembro  a 
Janeiro. 

5.  Orobaoche  tubalosa  (Geanera  Donglasii).  Proiimldades  do  Rio 
de  Janeiro.  Floresce  no  mez  de  NoTembro. 

6.  Orobancbe  ceroua  (LigeríaSpecioM).  Serra  dos  OrgSos.  Rio  de 
Janeiro ;  Pernambuco.  Planta  de  caule  curto. 

7.  Orobaoche  perianthomeya  [AUoplectua  Dichrus).  Tem  sido  en> 
Gontrado  na  provinda  do  Rio  de  Janeiro,  Sumidouro,  Paquequer, 
perto  de  Caotagallo  ;  em  Goyaz  (Villade  Santa  Crai) ;  em  Hioas  (Agua 
Limpa) ;  Villa  do  Presidio.  Floresce  em  Fevereiro. 

8.  Ombancbe  veotricose  (Codonantbe  Gracilis).  Habita  em  luga- 
res paludosos,  perto  do  Rio  de  Jaaeiro  ;  Lagoa  de  FrdLas  ;  Lage  de 
JacarepagoA ;  perto  de  Oeiras,  proviacía  do  Plaaby  ;  no  Haranliio ; 
Pará ;  Barri  do  Rio  Negro.  Floresce  e  fructiUca  em  Abril,  Junbo  e 
Novembro. 

9.  Orobanche  carnosa  (Codonaalhe  Carnosa  de  Gardner).  Habita 
noCorcovado.  Floresce  em  Setembro, 

ruailk  SiS  LECTTHIDIAS 

10.  Lecjthis  Ollarja  (Foi  substiloida  por Lecylbis  Pisonts).  Este  ve- 
getal fomec«  uma  óptima  madeira  para  as  construci.íles  ;  cAr  verme- 
lha. A  amêndoa  é  medicinal,  oleosa  e  comestível.  Floresce  em  OuIih 
bro.  Habita  na  província  do  Rio  de  Jandro ;  e  nas  florestas  proiimis 
do  RioDoce,na  proviociadoEspirito-Santo.E"  uma  arvore  corpolenta, 
elevada  e  conhecida  por  sapucaia. 


Dictzedby  Google 


—  277  — 

11.  LeeyUtbiniDordlaije  conhecida  por  LecTtLlsISDceohU).  Sapo- 
caja  mirim,  Provioch  do  Rio  de  Janeiro ;  liba  Grande.  Ftoreice  em 
Asosto. 

12.  Iiecfthis  compressa  (l^ecjlhis  angustirolia).  Ibiribi-raoa  é  o 
nome  vulgar.  Floresce  de  Uarço  a  Junbo.  Fdí  eaconlrada  no  Core»- 
vadoi  e  em  pontos  proiimos  do  roar.E'  uma  arvore  de  dimensOes  mais 
aponcadasdo  qae  qualquer  das  duas  anteriores. 

13.  Lecrtbis  pjramidata  (Lecy  tiiopsis  ruíescens).  E'  uma  arvore  que 
babila  nu  matas  prodmas  do  litoral.  Floresce  em  Maio,  e  a  fdrmi 
mais  ou  meaoa  de  uma  prraaiide  triangular  é  que  di  o  nome  i  es- 
pecie, 

MTRIACBiS 

i&.  Eugenia  Dítida,  acha-se  snbatituida  por  Gomid«$Ía  Ci^mlfteatui. 
(o género  Gomidesfa  Foi  estabelecido  em  bonra  doDr.  Gomides  aulor 
do  Mappa  da$  Plantas  do  Brasil ;  suas  virtudes  e  lugares  em  qtu 
floretcem)  (Nota  do  Dr.  Martius).  Província  do  Rio  de  JaneU-o.  Fio- 
(resce  em  Jonho. 

15.  Eugenia  ampleiicanlís.  ou  gomidesia*  ampleiicaulis.  Província 
do  Rio  de  Janeiro ;  maUs  de  Santa  Craz.  Floresce  em  Agosto. 

16.  Prímia  crocea  (Goroidesia  Jacquiaiana).  Dá  flAret  em  Margo. 
Foi  acbada  em  Santa  Cnii  por  Veltoso. 

17  Hjrlns  rufa  (Harlierea?  rata).  Provincia  do  Rio  de  Janeiro. 

18.  Ujrtns  racemosa  (Eugénio  opals  Carmaerolí&).  Provinda  do  Rio 
de  Janeiro. 

10.  UyrtDs  sylveslrís  (Ufrcia  Brevipes).  Floresce  em  Setembro. 
Província  do  Rio  de  Janeiro. 

20.  Eugenia  humilis  (Eugenia  Hypericifolia].  Serra  dos  Org3os. 
Floresce  em  Março. 

91.  MyrIuB  decussata  [Eugenia  axlllaris).  Nas  matas  próximas  da 
Cõrle.  Floresce  etn  Dezembro. 

32.  Eugenia  arvenslB  (Engenia  Oxfphjlla).  Província  do  Rio  de 
Janeiro. 

33.  (A  espécie  Eugenia  Vellozil  Tol-lhe  oITerecida  por  Berg). 

34.  HrrtQS  terticlllata,  (Eugenia  Riedeliana].  Serra  da  Estrella; 
Santa  Cruz ;  Qoresce  em .... ;  fructiflca  em  Maio. 

35.  Eugenia  monoeperma  (Eugenia  Compaclidora).  Habita  no  Cor* 
GDvado ;  perto  da  I.  F,  de  Ponta-Cruz.  Floresce  de  Junho  a  ^osUi- 


Dictzedby  Google 


—  a78  — 

36.  HttIus  gtabra,  (Eugenia  Badla).  Floresce  em  Janeiro  on  Feve- 
reiro, SiDta-Cnii. 

27.  Myrtas  quadriOora  [Eugenia  laDceolata).SanlaCnii.  Província 
do  Rio  de  Janeiro.  Di  flores  em  Setembro. 

2B.  Hjrlus  albida  (Eugenia  parvifolia).  Proviocia  do  Rio  de  Janeiro; 
perto  do  mar. 

29.  Hjrtusnitida  (Eugenia  Candollcana],  Provinda  das  AlagOas. 
Floreace  em  Agosto. 

30.  Myrtns  qnadrispcrma  (Eugenia  Uikaniana).  Provinda  do  Rio 
de  Janeiro. 

31-  Eugenia  axillaru  (Engenlasupraaiillaris).  Província  do  Rio  de 
Janeiro,  Corcovado  e  Itagoabr  (rio).  Floresce  do  Jonbo  a  Agosto. 

33.  Eugenia  díspcrma  (Eugenia  Pbaca).  Serra  Negra  da  provincfa 
de  Miaas-Geraes,  c  na  do  Rio  de  Janeiro.  Floresce  em  Julbo. 

33.  Eugenia  bracleata  (Pb;lloca];x  iQvolucratus).  Rio  Taguaby. 
Provinda  do  Rio  de  Janeiro.  Floresce  em  Julho. 

34.  Hyrlus  aggregala  (  Pb^llocalfi  CcraslDorus).  Proviocia  do  Rio 
de  Janeiro. 

35.  Pliaia  rubra  (Steoocalyi  Hicbellí) .  Vulgo  Pilnnga  (Eugenia  Mi- 
cbelii  de  Lamarcli)  Nos  trópicos,  provinda  do  Rio  de  Janeiro ;  Calcula, 
Cbina. 

30.  Eugenia  gramixanu  (Sieaocalyx  brasilfensis)-  Vulgo,  grumi- 
xama.  Provinda  do  Rio  de  Janeiro  (alguns  lugares] ;  Uangaratiba  e 
lllia  Grande.  Provinciade  Pernambuco. 

37.  Ujrtus  jaboliuaba  (  Hfrciaría  Jaboticaba ).  Provindas  de 
S.  Paulo  e  Rio  de  Janeiro.  Nos  campos,  pequenos  matos,  e  nas  flores- 
tas. 

38.  Eugenia jE'iulÍ3{M.  Plicatu  Costali)Vulgo  cambLicá.  Floresce  em 
Selembro  e  rnii'IÍGca  em  Novembro.  Província  do  Rio  de  Jandro. 

39.  Jambosa  vulg^ris  (e  o  Eugenia  Jambos  de  Velloso  e  oulros).  Flo- 
resce em. agosto.  Província  do  Rio  de  Jaoeiro,  Veaeziiela,  Guatemala, 
Antilbas,  enaBabia. 

AO.  Psidium  pilosum.(M.  p9Ídium  rufum,  deMartius).  Em  alguns 
campos  da  provinda  de  Miuas-Gerses ;  e  toi  encontrada  porTelloso 
em  Santa-Crut.  Floresce  em  Outubro. 

41.  Psidium  pjriferum  (Psidium  guayava  de  Raddi).  México, 
Jamaica,  s.  Domingoa,  Santa-Cruz,  Hartinicn,  Guatemala,  Veneznelii 
Gojaaa,  Bahia,  Hinat,  Rio  de  Jandro.  Vulgo  Goiabeira, 


Dictzedby  Google 


—  279  — 

&3.  Piidium  arboreuna  (Psidium  Sellowiaaurn).  Provincii-  do 
Bio  de  Janeiro.  Velloso  designa  por  Araçi. 

63.  Pdiíiium  hufflile  fPiiJium  Coriaceum).  Floresço  em  Ouliibro. 
Proviotía  do  nio  de  JaDeiro,  província  de  5.  Pauto. 

64.  PBJdium  anlliomega  (nio  foi  substitaida).  Phra  Fluminense, 
pag.  21H. 

A5.  Mirrtns  cai7opbilíaU  [Psendo  Caryophillasseriraus).  Provincia 
do  Rio  de  Janeiro,  em  S.  Gonçaio,  Boa-Visla  (aos  campos).  Em  Minas. 

46.  Psidinm  dulce  (Abbeviliea  intennedia).  Provincia  de  Minas. 

hl.  Psldium  MediterraDeam  (GampomaDesia  Mediterrânea).  Araci 

do  campo.  Floresce  em  Outubro.  Foi  encontrada Provincia  do 

Rio  de  Janeiro, 

A8.  Psidium  racemoíum  (Gampomaneeia  racemosa).  Floresce  em 
Setembro.  Província  do  Rio  de  Janeiro. 

Ú9.  pgidiuffl  rniclicosum  (Campomanesia  belicosa).  Ftoresce  de  Se- 
tembro a  Outubro.  Província  do  Rio  de  Janeiro. 

50.  Psidium  apricum  (Campomanesia  apríca].  Guabiroba-mirira. 
Floresce  de  Selembro  a  Outubro. 

51.  Psidium  TransaJpinum  (Campomanesia  Transalpina).  Guabiroba. 
Provincia  do  Bio  de  Janeiro.  Floresce  em  Outubro. 

52.  Psidium  Terminale  (Acrandra  lauriroliaj.  Velloso  encon(roa-a 
no  Cónego  secco,  hoje  cidailede  Petrópolis.  Floresce  em  Fevereiro. 

LECUHIItOSAS.   Til.   OAS  PAPtLIOHACBiS 

63.  Crolalaría  oerolea  (LnpfnQS  velutinas,  de  Benlbam).  Proiin- 
cia  de  Mioas.  serra  do  Caraça;  vílla  da  campanha;  Rio  S.  Francisco ; 
nas  proximidades  da  fazenda  da  Fortaleza  em  S.  Paulo. 

M.  Cylisus  heptaphytius  (Lupinus  hiiarianus.}  Provincia  do  Rio 
de  Janeiro;  Montevideo;  rios  Paraná  e  Uruguay. 

65.  Crolalaría  sagiltalis  (Crotalaria  stipularia).  America  Meridional. 
Proviucía  do  Rio  de  Janeiro.  Floresce  de  Agosto  a  Seplembro. 

56.  Crotalaria  racemosa  (Crolalaría  Paulina),  Schraock).  Província 
de  Goyaz,  Minas,  ele. 

57.  Crotalaria  difusa  (Crolalaría  lucana,  Linnèo).  Em  differenles 
pontos  do  Brasil. 

68.  Crolalaría  slípulala  [Crotalaria  anagyroides).  Em  muitos  pontos 
do  Brasil. 


Dictzedby  Google 


59.  entalaria  lrlph;)U  (Crotalaria  Bracb;itachra].  Benl.  Prarloeia 
de  Piauhj ;  Bahia ;  Goyaz ;  Minas  e  5.  Panlo. 

60.  LoloB  PaluEtTiB  [Sesbaoia  exaspenla}.  ProTiadaa  do  Rio  de 
Janeiro;  Gojai;  Piauhf;  Peroambuco  e  S.  Paulo.  Gojaiia  Ingteia; 
Jamaka ;  Gnalemala  e  Venezuela. 

61.  Hodfsannn  frncticosnm  (ílBchinomene  Sellolj.  Provincía  do 
Rio  de  Janeiro. 

63.  £schiaomeae  flamlneniis  (Foi  conservado).  Província  do  Rio 
de  Janeiro. 

63.  Uedraanim  dilTusnin  (iEscbinomene  Atlcata).  Sena  do  Itambé, 
em  Minas ;  Ria  de  Janeiro ;  província  do  Rio-Oraade  do  Sul ;  Go;ai ; 
Bahii. 

6à-  Hedysanim  hirtum  (fichinomeDe  brasilisBa],  Andaraby,  na 
cidade  do  Rio  de  Janeiro;  Pari;  Bahia;  Hinas;  e  perto  de  Oelras; 
no  Piaoit;. 

65.  Coronilla  hinuta  (leodesmia  tomentosa).  Foi  acbada  por  VellosB 
Aaaem  doa  Orgios,  Rio  de  Janeiro;  e  em  Hinas  por  S.  Htlaire. 

66.  Coroniila  Scaodens  (Chactocaifx  braslliensls).  lUo  Negro,  Iri- 
bntatjo  do  Amazonas,  ele. 

67.  Hedysarum  procumbens  (Desmodium  barbatam).  Floresce  em 
Outubro.  Peru,  ftúil,  Colnmbla,  GoyBna,  ele. 

es.  Hedysarum  «iolaceum  (Desmoodíam  axUlare).  Rio  Itapicuni; 
Rio  de  Janeiro ;  outros  pontos  da  America  Meridional ;  índia  Ocddeatal. 

69.  Heâysaram  ereclnm  (Desmodíom  leiocarpnm).  Nas  proximi- 
dades do  Rio  de  Janeiro;  No  sul  do  Brasil;  em  Minas;  entre  Campos 
e  a  capital  do  Espirlto-Santo  (Victoria) ;  e  Caravellas. 

70.  Lotus  fluminensis  (Clilorla  cajanifolíaj.  Em  lugares  arenosos 
do  Rio  de  Janeiro ;  Ceará ;  Peroambuco ;  fithia.  Outros  pontos 
d' America. 

71.  ClUoria  Qamloensls  {Ceolrosema  plnmieri).  Santa-Cnu  e  CArte ; 
Pari;  Rio  Amazonas;  America  Central ;  Columbia ;  Peru,  Goyana.... 

72.  Clitoria  genuina  {Ceutrosema  Virginianum).  Nos  subúrbios  do 
Bio  de  Janeiro;  Hinu;  Babia;  e  outros  pontos  d' America. 

73.  Glycyrrblia  mediterrânea  (Pcríandra  dulcis).  Províncias  do 
Geará,  Mtnas,  S.  Paulo,  e  Babia.  | 

7ú.  Lotus  amerlcanuB  (CoUtea  speciesa).  Floresce  cm  Novembnk 
Província  de  Hinas,  &  Paulo,  Bolívia  e  Peru. ' 

75.  Cylisua  boa  vista  (CoIloBa  Grewiaerolia).  Encontra-se  nos  campos, 
Hioas,  ele. 


Dictzedby  Google 


—  281  — 

76.  Dolíchos  allissimusi  (Díoclea  violácea).  Floresce  de  Dezembro 
a  Junho;  perto  do  Bio  de  Janeiro;  Pará;  Ceará;  Mucury;  Curral 
Falso,  Santo  Aotonio  e  S.  Jo3o  Marques. 

77.  Clitoría  brasiliana  (Canavalia  gladíaia).  Nas  malas  proxlmaa 
da  barra  do  Rio  Negro;  nas  regiões  tropicaes;  Bahia  e  Piauby. 

78.  Dolicboa  liltoralis  (Canavalia  obtusifolia).  Floresce  em  Agosto. 
No  litoral;  uos  trópicos;  lagares  arenosos. 

79.  Lotus  marHiiDUs(Phaseolu3lathycoides].  Floresce  em  Novembro. 
Província  do  Rio  de  Janeiro ;  Alio  Amazonas,  etc. 

80.  Pterocarpus  fniiescens  (Dalbergia  varlabilis).  Gommum  nas  flo- 
restas do  Brasil;  perto  do  Rio  de  Janeiro;  P.  do  Rio  Grande;  P.  de 
S.  Paulo;  Minas;  Bahia;  nas  matas  do  Ceará,  proiimas  ao  Orato, 
Goyana  Ingleza,  no  Penl. 

81.  Pterocarpus  niger  (natbergia  nigra,  Freire  Alleroão).  Misco- 
labium  nigrura).  Cabiuna ;  jacarandá  una.  Provinda  do  Rio  de  Janeiro; 
pj  de  Minas.  Arvore  procurada  e  mui  estimada. 

83.  Pterocarpus  ecastaphylbum  (HecaB'apbylInm  Brownei).  Rio  de 
Janeiro;  Cabo-Frío;  nas  malas  da  Bahia;  em  Minas;  e  em  outros 
pontos  da  America;  índia,  e  AMca. 

83.  Pterocarpus  querciuus  [Secastopbyllura  monetária].  Amazonas; 
Rio  Negro ;  e  em  outros  lugares  do  Brasil. 

84-  Nissolia  uncinata  (Hachsrium  uncinatum).  Floresce  em  Se- 
tembro. Rio  de  Janeiro;  Santa-Cruz. 

85.  Nissolia  hirta  (Mncbairium  eriocarpnm).  Provinda  de  Mato- 
Grosso,  perto  de  Cuiabá, 

86.  Nissolia  declbata.  (Hacfaierium  discolor).  Provinda  do  Rio 
de  Janeiro. 

87.  Nissolia  aculeata  (Machaerium  Vellosianum).  Offerecido  a  Velloso 
por  Bertham.  Floresce  em  Dezembro.  Porto  do  Rio  de  Janeiro. 

88.  Nissolia  níclitans.  (Machaerjum  niclilans'.  Foresce  de  Agosto 
a  Setembro.  Vive  nos  campos. 

89.  Nissolia  incorrupiibilis  (MachaBrium  Incorruptlbile  de  Freire 
Alleroão].  Jacarandã-tan.  Enconlra-se  nas  florestas  de  muitos  munt- 
cipios  da  provinda  do  Rio  de  Janeiro,  Uma  das  primeiras,  senão 
a  primeira  (IJ,  du  Brasil. 

90.  Nissolia  firma  (Machaeríum  flrmum).  Jacarandá  roxo.  Nas 
florestas  da  provinda  do  Rio  de  Janeiro.  Arvore  menos  prestimosa 
que  a  precedente. 

TllHO  xtxi.  P.  II  36 


Dictzedby  Google 


9t.  Nissolia  legalis  :Machaeríum  legale).  Outro  venial  a  qae  tam- 
bém dUo  o  aome  de  jacaraadá,  na  província  do  Rio  de  Janeiro. 

93.  Nissolia  lauceolata  (UacbaerJum  secimdiQoruraJ.  ProvíDcia  do 
Rio  de  Janeiro. 

93  \issolia  debilis  [Uar,liaeríum  pedioellatum).  Hontaoba  do  Cor- 
covado;  rio  Tagualiy.  [Rio  de  Janeiro). 

9à.  NiaaoUa  fructicosa  (Macbaeríum  nlgnim).  Provinda  do  Rio  de 
Janeiro :  Porto  da  Estrella. 

95.  Nissolia  robugla  {Centrolobium  robostomi.  Iríribá,  ou  iríríbá 
roxo.  Provinda  do  Rio  de  Janeiro;  uliatuba;  Cantagallo;  Larangeiras. 
Miideiía  de  cooBtrucção,  ealimada. 

9t.  Nissolia  reticulaia.  (Pterocarpua  violacens).  Nas  matas  que 
sao  viziobas  do  Rio  de  Janeiro.  E'  uma  arvore. 

97.  Pierocarpus  luteua.  (Ptaljmigcium  majua  .  Floresce  em  Janeiro. 
Sanla-Cniz;  Rio  de  Janeiro;  Engenha  da  Vai^m;  nas  matas  pro- 
limas  do  rio  Parab;ba. 

■  O  género  Lumbriãdia,  estabelecido  por  Velloso,  acba-ae  boje 
BObítiluido  por  Andira^  de  Lemarck.  ■ 

9)i.  Lumbricida  legalis  'Amlira  stipulacea).  (Bentham).  Anftelim 
doce.  Alguns  conhecera  por  angeliin  coco,  ou  urarema.  Pontos  pró- 
ximos do  Rio  de  Janeiro;  de  Cantagallo. 

99.  LumbrÍcidiaantbelmia(AndiraanlhelminthJca).  Angelímamar- 
goso.  Província  do  Rio  de  Janeiro. 

100.  Sophora  occidentalis.   (Sopbora  tomentosa).  Brasil, 

tOl.  Abrus  arboreus.  [Ormosia  nilida].  Ftoreataa  da  província  do 
Rio  de  Janeiro. 

102.  Piscidta  crythrina.  (Caiaptosema  primatiím).  B.  Floresce  em 
Agosto.   Provinda  de  Minas. 

FiHILIA  OAS  SáLSOLiCCAS,  00  CHEDOPOniACEAS 

103.  Cbonopodium  Saneia  Maria.  (Chenopodinm  ambrosioides,  de 
Linneo,  denuta  (?).  Herva  de  Santa  Uaria.  Em  dilTercnles  pontos 
da  America,  e  no  Brasil. 

WinTERACEAS,  PARTE    DAS   lIAGtlOI.UCBjlS. 

lOíi-  DrirrvB  Winteri.  (Drimjs  GranHtenafs).  America  Cenlral 
Auslral ;  do  estreito  de  Magellan  até  o  México ;  existem  outras  espé- 
cies do  mesmo  género  Drimys,  classiãcadas   por  diversos  botânicos. 


Dictzedby  Google 


ProviíMia  de  5.  Paalo,  em  M(^y  tias  Cruzes;  P.  do  ItitMirande  do 
Sal;  Rio  de  Janeiro,  Serra  dos  Or^iios,  ríoParahjba;  P.  de  Miaas, 
Barbacena,  Ouro-Preto,  e  outros  pomos,  ParacaW,  Cachoeira  do 
Campo^  Pico  d'[tabira,  etc.  Nome  vulgar :  casca  d'ADla. 

r.  UNDNCOLACKAS 

106,  Clemalis  dentlculata  (Clemalis  Holeríl).  VelloBo  encontrou-a 
nas  mtízt  da  P.  do  Rio  de  Janeiro.  Eiiste  também  oa  Banda 
OrieDlal,  Arroios  do  ftoaario  e  Santa  Luzia.  Floresce  de  Novembro 
a  Fevereiro. 

106.  Ciematis  iniegra  (ClematÍB  dioica  de  Línaéo,  ou  Brasiliana?  ) 
America  Central,  Anlilbas,  Venezuela,  NoTa-<;ranada,  Província  de 
S.  Paulo,  Rio  de  Janeiro,  Minas  e  Bahia. 

KEHISPIiaHACEAS 

107.  Cissampelos  convexa  e  G.  tomentosa  [Abuta  rurescens).  O  gé- 
nero Cissampeloa  foi  creado  por  Velloso.  Província  do  Rio  de  Janeiro, 
Serra  de  Tinguí,  Provinda  do  Pará,  em  outros  lugares. 

108.  Cissampelos  ovata  (Abuta  Selloana).Em  algumas  localidades  do 
Brasil 

109.  Cissampelos  Parreira  (Cissampelos  glaberríma],S.  Hilaire.  Pro- 
víncias do  Rio  de  Janeiro  e  Uinas,  rios  Macacú  e  Urubu  em  Mato- 
GrOBSO.  Floresce  de  Novembro  a  Jaoeiro. 

110.  Cissampelos  Caa peba  (Ciiisain pelos  rasciculala).  Provit.cias  de 
S.  Paulo,  Mioas.  Rio  de  Janeiro  (Cantagítilo).  Proiimidades  do  lapurd 
tributário  tio  Alto-Amazonas.  Coyana  iogleza. 

111.  Cissampelos  llennandia.  EsiH  espécie  de  Velloso  o  Dr.  Marlius 
considera  como  duvidosa.  Província  do  Rio  de  Janeiro. 

ii'l.  Cissampelos  Abiitua  (Botryopsis  Piatyphylla.)  Província  do 
Riu  de  Janeiro  ;  Serra  do  Mar  ;  Cantagallo;  Minas  Novas  etc.  Floresce 
em  Abril. 

FAHILIA  DAS  OILLEUEACEAS 

113.  Ilieronlascabra  (Davilla  rugosa).  Tem  sido  encontrada  em  la- 
gares arenosos.  Piovincta  do  Rio  de  Janeiro ;  Rio-Doce,  Província  de 
Santa  Catharina;  Proviocia  de  S.  Paulo  ;  Minas  i  Babia  ;  Pernambuco 
e  no  rio  Amazonas,  elcCambaibinha. 


Dictzedby  Google 


UPOTACEAS 

U&.  Pometialacteacens  [Lucumauu  Gtirygophyllum  ?)  TomaraDi  pelo 
GhrysophirUum  Buranhem  de  Riedel.  Nome  vulgar:  Guaraolièu.  Habita 
em  muitos  lugares  da  provÍDCía  do  Rio  de  Janeiro  (Corcovado),  etc.  O 
Dr.  Marlius  enganou-eei.não  é  o  Chrysophyliam  glyvy^^úamm.  Gasaretb. 

MALPIGHUCEAS 

115.  Maiptghia  crassifolia  (ByreoQÍma  verbascifolia).  Tem  sido  en- 
contrada em  campioas  de  diITt-rentea  {trovincius  do  império,  e  Leiu  va- 
riedades. 

HO.  Malpighiahir8nt&(Byr80DÍ[DaPacb]rpbyUa).De Setembro aOutu- 
bn> ;  aos  campos  da  proviocía  de  Minas  e  da  deGoyaz. 

117.  Malpighia  marítima  (Bunchosia  Ourninensis).  Província  do 
Rio  de  Janeiro,  Tfjuca;  eS.  Paulo. 

lis.  Banisteria  mutabílís  (Tliryallis  Brachystacliys].  Província  do 
ttio  de  Janeiro,  Santa-Grnz,  entre  Gabo- Prío  e  o  Espirito-Saalo,  Serra 
dos  Órgãos  e  s.  Paulo. 

119.  BanÍBturia  ni(ida{5tígmapbyllonciliatum).  Floresce  em  Novem- 
bro- Província  do  Maranhão  e  Rio  de  Janeiro. 

HO.  Banisteria  megac^trpos  (Slígmapbytlon  tomcntosum).  Floresce 
de  Janeiro  a  Fevereiro,  segundo  as  índicaçSes  de  Velloso,  em  Sanla- 
Cruz.  Províncias  do  Rio  de  Janeiro,  Minas,  5.  Paulo  e  Bahia. 

121.  Banisteria  angulala  (5  igmaphyllon  affine).  Floresce  em  Pio- 
vembro.  Proviucias  do  Rio  de  Janeiro  e  Babia,em  lugaree  arenosos 

133.  Banisteria  uoialata  (Hanisteria  ferruginea]-  Província  do  Rio 
de  Janeiro  e  em  aiguus  puntos  d'Anieríca  Austral. 

1S3.  Banisteria  áurea.  {Banisteria  Gardneriana).  Em  Paranaguá, 
províncias  do  Piauhy  e  do  Rio  de  Janeiro. 

134'  Banisloría  macroslachya  (Banisteria  Clausseníana).  Províncias 
do  Rio  de  Janeiro,  Mínas-Geraes  [Congonhas.) 

12S  Banisteria  triflora  (Banisteria  CrotoníFoJia).  Fruclífica  no  mez 
de  Abril.  Em  Itacolumi,  perto  de  Maríanna  na  província  de  Mínas-Ge- 
raes, e  na  do  Rio  de  Janeiro. 

136.  Banisteria  fructicosa  (Heteroplerís  umbellata).  Em  Ipanema, 
província  de  S.  Paulo;  provinda  de  Minas ;  Congonhas  do  Campo,  etc.; 
província  do  Rio  de  Janeiro,  Santa-Cruz. 

1^7.  Malpighia  (nictícosa  [tleleroptarís  Sal ig na). Floresce  de  Novem- 
bro a  Dezembro,  província  da  Babia,  sul  do  Brasil. 


Dictzedby  Google 


128.  Baotatería  moDOptera  (MetiiMpierí^  cbrjsophrIU).  Em  poDtoe 
próximos  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro. 

1S9.  Baotatería  Cordata  (Tetra pteris  rotundltolia) .  Ao  mez  de  Se- 
tembro, em  BotafoRO.  Serra  dos  Oi^Sos.  Gabo-Frío.  As  outras  varie- 
dades, em  diversos  pontos  do  Brasil,  Coram  observadas  por  outros  bo- 
ta dícob. 

130.  Banistería  egiandulaia  (Tetrapterís  CrebriOora).  Proviocias  de 
tlinase  Rio  de  Janeiro 

131.  Baaisteria  muilialata  (Tetrapterís glabra).  Em  pontos  proiimos 
da  cidade  do  Rio  de  Janeiro;  Minas-Geraes. 

133  Banistería  solilaría  (Hínea  Salzmanoiana}.'  Babia. 

133.  Banistería  hexaodra  (Scbnannia  elegaaa).  Em  Malo-Orosso, 
proiimo  á  cidade  de  Cuyabd  ;  Em  Ipanema,  província  de  S.  Paulo. 

134.  Banistería  mediterrânea  (Jaroesia  mnricata).  Floresce  em  NOi 
vembro.  Acbou-a  na  província  do  Rio  de  Janeiro . 

135.  Uaipighia  singularis  (Oamarea  afSnis).  Em  Ouro-Prelo,  Mínas- 
Oeraes;  noyaz  (próximo  á  capital) ;  Em  Guaralinguelá  e  Taubalé,  pro- 
víncia de  S.  Paulo,  e  na  da  Babia.  Floresc«  de  Outubro  a  Novembro. 


136.  Eahites  isibmica  (Condyiocarpon  Istbmicum).  Floresce  em 
Agosto.  Santa-Cruz,  província  do  Rio  de  Janeiro. 

■  O  género  Tibememontana  de  Velloso  nSo  está  mais  adoptado 
para  as  espécies  que  elle  descreve-o  na  sua  Flora  Fluminaise.  Vigora  o 
geuero  Geissospermum  do  Dr.  Freire  Allemio,  para  aquellas  espécies. 

137.  A  espécie  Tabememontana  laevis,  de  Velloso,  foi  substituída 
por  tieiasospermum  Vellozií,  do  Dr.  F.  Allemio.  a  qual  Ibe  foi  dedi- 
cada pelo  segundo  botânico.  Foi  encontrada  nas  malas  da  serra  do 
Jeracuino.  Floresce  em  Agosto,  província  do  Bio  de  Janeiro. 

138.  Malooetia  sessilis  (Echites  sessilis  de  Velloso).  Floresce  em 
Outubro,  província  do  Rio  de  Janeiro. 

139.  Echites  pilosa  [Forsteronia  pilosa). 

lúO.  Ecbites  Ibyrsoidea  (Forsteronia  Ibyrsuidea).  Santa  Crui. 

lAl.  Ecbites  bracteata  (Forsteronia  bracteala).  E' o  Ecbites  Vello- 
siana  de  De-Candolle. 

U2.  Ecbites  Coalita.  Espécie  hoje  admiilida,  de  Velloso  na  Flora 
Bratileira  do  Dr.  Martins.  Província  do  Bio  de  Janeiro,  Serra  dos 
Oi^loB.  S.  Paulo,  Mbag,  Babia;  Gojaz  e  Ceará. 


Dictzedby  Google 


-m- 

U3.  EcbJlea  DUtiu.  Provlociailo  Rio  de  aDelro.(AdmílUdo.) 

Hà.  Ecbitea  odorUen.  PtovÍdcíh  <Iu  EUo  de  Janeiro.  (Admittida.) 

U6.  Ecfaites  Tlolaeea.  Provinda  do  Rio  de  Jaoeiro,  provÍDcia  de 
S.Panlo,  em  S.Carios,  província  da  BabU,  perto  do  rio  S.  Francisco, 
pravincla  de  HÍDaa.  (Espécie  admiltidaj, 

1&6.  Echitea  iDtea,  Provinda  do  Rio  de  Janeiro.  Também  nio  foi 
sdbatitoida. 

U7.  EdiitM  peluis.  Floresce  em  Fevereiro.  Provincia  do  Rio  de 
Janeiro,  Cantagallo;  provincia  de  Minas,  etc.  [aj 

1A8.  Ecliítes  suberosa.  (Hemadictron  Gaudichaadii).  FloreKce  em 
Agosto.  Velloso  ençoDtrou-a  na  fuenda  imperial  de  Santa-Cniz,  onde 
aconheciam  por  cipó  carneiro.  Kabarra  do  Bio  Negro  Qoresce  em  Ou- 
tubro. 

1^9.  Echiles  denticulala  (Hsmadfctyon  macroneurnn).  Provinda 
do  Aiode  Janeiro.  C.  no  ríoJapuri  provinda  do  Allo-Amazoaas. 

160.  Echitei  megragor  (EIaemadict]roD  Hegalagríon].  Na  fraguezia 
de  Campo  Grande,  munidpjo  neutro  da  provinda  do  Rio  de  Janeira 
Floresce  em  Março. 

BIGONUGUB 

151.  Begónia  buUta  (Begónia  angalaris).  S.  JoSo  Marcos,  serra  da 
Eslrella,  na  proviocia  do  Bio  de  Janeira. 

152.  Begónia  angulaU.  NKo  foi  lubititnida.  Pd  encontrada  no 
aqueducto  ds  Carioca;  serra  da  Estrella;  nas  protimidades  da  cidade 
do  Bio  de  Janeiro ;  na  provincia  de  Minas,  ele. 

163.  Begónia  acida.  Foi  conservada.  Provinda  da  Babia. 
15&.  B^onla  genículata  (Begónia  convolvulacea).  I>rovindaa  do  Rio 
de  Janeiro,  Minas,  Bahia.  .. 

156.  Begónia  tnincala.  (Begónia  Vitifolia)  Scholt.  Rio  Abaelé.  Pro- 
vindas de  Minas,  Bahia,  etc 

166.  Begónia  vertidllau  (Begónia  digitata).  Serra  dos  OrgSos  e 
Pelropolis.  Outros  ponlos  da  provincia  de  Uiaas. 

157.  Begónia  vaginans  (Begónia  tomentosa).  Tijuca  e  Pelropolis. 

158.  Begónia  diinídiata  (Begónia  arborescena].  Nas  metas  da  lijnca, 
ddade  do  Rio  de  Janeiro,  Corcovado ;  Pelropolis;  Serra  dos  Or^B.... 

169.  Begónia  herbácea.  Foi  conservada  por  Martius,  na  pagina 
383  do  aiCDlo  17.  •> 

(a)  Em  S.  Paulo  chamam  ctpd  copodor. 


Dictzedby  Google 


-aí»  - 

160.  Begónia  laoceolala.  (Begooia  alleDuaU).  Vive  Bobre  o  tronco 
das  arvores.  Petrópolis,  serra  da  Estreita,  e  Rio  de  Jaoeiro. 

161.  Begónia  repens. 

162.  Begónia  acetosa. 

163.  Begónia  cordata. 
16A.  Begónia  cruenta. 
166.  Begónia  declinata 

166.  Begónia  dúbia. 

167.  Begónia  erecta. 

168.  Begónia  obiiqoa. 

169.  Begónia  procumbens, 

170.  Begónia  radicans. 

171.  Begónia  renifonnis. 

172.  Begónia  rotundata. 

173.  Begónia  scandeoa. 


174.  Prinos  inlegerrimus  (llei  iotegerríma).  Floreace  em  Agosto. 
Foi  encontrada  em  Botafogo,  província  do  Rio  de  Jaoeiro. 

175.  Prinos  serratus  (llex  acrodonta).  Protincias  de  Minas  e  Rio 
de  Janeiro,  {Cachoeira  do  Campo,  na  primeira). 

176.  Cbomella  amara  (llex  panguariensis,  oo  acutffolia  (T).  Foi 
encontrada,  assim  como  algnmas  variedades,  nos  seguintes  lugares : 
Serra  dos  Orgàos ;  Jardim  Botânico ;  Lagoa  de  Freitas ;  lljuca ;  cidade 
de  Coritiba;  em  alguns  pontos  da  província  da  Babia:  e  em  outras 
localidades  do  Brasil. 

177.  Prinos  glaber.  (Espécie  duvidosa).  Floresce  em  Outubro  ou 
Setembro. 

UuifBACUS 

O  género  Caula  de  TelItfM  foi  lubatHoido  por  Com&nmo  úe 
Reiss. 

178.  Caesia  ipinosa  (Gonnonema  splnosa).  E'  um  arbusto.  Esta 
espécie  floresce  de  Maio  a  Jnnbo.  Provinda  do  Rfo  de  Janeiro ;  cOrte. 
As  variedades  (ém  sido  encontradas  em  outros  pontos  do  Brasil. 

Eis  o  que  Fr.  Venoso  dfi  na  sua  Flora  Ptuminaue  a  respeito 
do  género  caesia :  ■  In  memoriam  Frederícl  Caesii  SUtctl  Angeli  Prio- 
cipis  botânicas  tabulas  constnienlls.  » 


Dictzedby  Google 


179.  Gelastnia  ipicatus  (GouaoU  corylifólia).  Radd.  Velloso  encon- 
troada ns  fregaeaa  de  CampMirande.  Existia  também  do  Corcovado ; 
Ssqnareina,  e  outros  pontos  da  província  do  Rio  de  Janeiro.  O  fnicto 
madurece  de  Fevereiro  a  Março. 

180.  Celastnis  lunbeilattu  [Reissekia  Gordifolia),  Em  muitos  logarea 
próximos  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro.  Provincia  da  Bahia.  P.  do 
PiSDbf,  perto  de  Oeiras.  Floresce  em  Maio. 


181.  (^ÍQOpodium  repens  (Peltodoo  radícans).  Floresce  em  Abril. 
Província  do  Bio  de  Janeiro,  e  em  algumas  malas  da  província  de 
Mina»-Geraes.  Velloso  esiudou-t  na  primeira  das  doas  províncias. 

182.  GlJnopodlum  albidum  (Hjptis  paludosa]  S.  H  Provinda  do 
Espirito-Sanlo ;  e  Rio  de  Janeiro.  Floresce  de  Maio  á  Junho. 

183.  Clinopodium  imbrícaium  [Hyplis  pectinata).  Enire  a  capital 
do  Espirtto-Santo,  e  Bahia ;  em  lugares  seccos ;  em  Sanla  Calharína ; 
em  Sanla*Cnu;  bzenda  do  Ribeiro  Manso,  etc.  Floresce,  segundo 
Velloso,  de  Julbo  a  Agosto. 

184.  SIacbfs  flumioeiísis.íLencas  marlinlcensis).  E' conhecida  vul- 
garmente por  cordão  de  frade,  ou  cordão  de  S.  francisco  Encontra-se 
nos  campos,  mais  ou  menos  afastados  das  florestas.  Floresce  durante 
08  mezes  do  verão. 

185.  Stacbys  Mediterrânea  (Leoootis  Nepeterolia).  Floresce  em 
Setembro.  Sepítiba;  nas  margens  do  Parabjba ;  e  em  alguns  lugares 
da  província  da  Bahia. 

SGROPHOLiHIKBiB 

186.  Besleria  inodora  (Brunfelsia  panciflora).   Província  de  Minas. 

187.  Besleria  bonodora  (Brumíetia  latifolla).  Pravincia  do  Rio  de 
Janeiro,  serra  da  Estrella ;  entre  Campos  e  capital  do  Espiríto-Santo ; 
em  algumas  mootanhas  da  província  de  Mlnas-Geraes. 

188.  Silvia  curialis  (Escobedia  scabrifolia).  Floresce  de  Outubro 
a  Novembro.  Hablla  nas  províncias  de  S.  Panlo,  Minas  e  Goyaz. 

Nola:  O  género  Silvia  foi  oITerecido  por  Velloso  ao  Dr.  Barlbolomêo 
da  ^Iva  Lisboa,  como  se  vi  dss  seguintes  phrases  tiradas  da  sua 
Flora  Fltaninensis :  ■  In  memoriam  Birlhotorosl  da  Silva  Lisboa,  Do- 
clorís  in  utroque  jure,  et  in  Historia  Nalurall  Auctoris  cujusdam 
Libelll  de  progressu  Historie  Naturalis  in  LusitaDia ;  nunc  vero  judieis 


Dictzedby  Google 


FOreosis,  el  tVnsidis'SeDtliis  FInmineoBis  locum  occu^aotÍB,  et  de 
RebuB  NaluralJhuB  BrasiBa  scnbonij»  diii,  ■ 

1S9  Scropbularia  DumiDeiisis  (Aleclrff  brasUtoDUB).  Floresce  de 
Fevereiro  a  AdosIo.  Foi  encontrada  na  proviocia  do  Aio  de  Janeiro; 
Serra  do  Tingui .  Macahé,  Cabo-Frio ;  proviacia  de  Mioas  (Congonhas 
*>  Campo) :  província  de  S.  Paulo ;  rio  Paraod ;  em  lugares  húmidos ; 
províncias  d«  Go^ez,  Minas  i;  Vliiraabiu.  Velloso  estailou  esta  para- 
sita na  primeira  das  províncias  ciladas. 

190.  Buddleia  auslralia  [  Buddleia  bruailiensis ,  Província  do 
Rio  de  Janeiro:  Porto  da  Estreila,  Corcovado,  na  raiz  da  Serra  da 
Estrella;  na  fa^nda  de  5.  Beato* [inuaici pio  de  Campos],  e  no  morro 
Qneibado   Nova-Frlburgo .   Província  do  Minas-Geraes.  (Verbasco). 

19t.  nomana  Campeslrís  íBuddlela  píegans).  Barbaceoa,  em  Minas. 
S.  Paulo,  etc.  Floresça  nos  mezes  de  SeiPDibro,  Outubro  ou  Novembro.  . 

193.  finarda  repens  (Micratithemum  orbiculatum).  Rio  de  Janeiro 
e  província  da  Bahi  i.  Ftoresr^  de  Janeiro  a  Fevereiro. 

193.  .Scropluilaria  subliastata  (Stenotlia  sutihastata).  Rio  de  Janeiro. 

19Ú.  Scropbularia  proqimbeos  iHerpestes  lanígera).  Florasce  em 
Janeiro.  Velloso  encoolrou-a  em  lugares  humiitoa,  e  em  aguas  SBla- 
gnadasda  proviocia  do  nio  de  Janeiro.  Também  perlo  de  S.  Chrístovão* 

riMILU   D&S  BBIOCADLACaM 

195.  Dupatja  acqualb  (Pi^anthus  Blepharocnenís).  Províncias 
de  &  Pauto,  Minas  e  Rio  de  Janeiro. 

196  Dupalya  hirsuta  (Pxpalanlbus  Dupalfa).  Fevereiro.  Provín- 
cia de  s.  Paulo:  serra  do  Cubatio,  entre  as  cidales  de  Santos  e  de 
S.  Paulo. 

197.  DupBt;a  ligulala  (Eriocsuloir  Kunlhii).  Rio  das  Pedras,  ele. 

CONIPBRAS 

198.  Pinus  dioica  (Araucária  brasiliana).  Pinho  do  Brasil,  ou 
Pinbeiro-  Enconlra-se  entre  15*  e  30°  de  latitude  austral.  Províncias 
de  Santa  Catharina,  Uinas,  S.  Paulo,  Río-Grande  do  Sul.  Arvore  mui 
corpoienta  e  elevada;  fornece  uma  madeira  estimada  e  procurada 
para  certas  obras. 

BRIGA  r.BAS 

199.  Andromeda  hirsata  (Gaullliería  lerrqginea}.  Serra  doe  Órgãos; 
TONO  XXXI,  P,  II  37 


Dictzedby  Google 


—  aw  - 

Nota  Frlbnrgo,  P.  do  ftio  de  Jaaeiro.  Pronncia  de  Mioas:  Itacolsni, 
m.  do  Oaro  Branco,  da  Piedade,  V.  Rica ;  a  uma  allura  de  4,000  s 
5.000  péí.   Floresce  de  Março  a  Agosto. 

300.  Andromeda  serraU  (GaiiKheria  elliptica].  Alto  da  Boa-Viíts, 
e  em  raajs  algnni  togares  da  protincia  do  Rio  de  Jaoeiro. 

201.  Andranieda  lanceolata  (LeucoUioe  multiflora ).  Cidade  A 
UiamanliDa  era  Ulaaa-Geraeg.  E*  uma  variedade  da  espécie  muIU/Iora 
de  De  Caadolle. 

SOS.  Andromeda  nítida  [Espede  Leaocttate  revolula  de  De  Caudolle). 
Nus  arredores  do  Rio  de  Janeiro  e  na  provinda  da  Bahia. 

OPBIOGLOSSEAS 

908.  Ophioglonum  retlcalatum  (Linneo,  mencionada  por  Veltoso). 
frovlncia  do  Rio  de  Janeiro :  serra  da  Eafrella.  Em  ouins  paiies 
da  Amerira  e  na  Jamaica. 

*  E'  nma  peqnena  tamflla,  e  por  isso  nio  admira  qne  o  nome 
de  Fr.  Velloso  n3o  appareça  repetldaa  veze%  • 

SGHIEAEACEAS 

30A.  OphioglosBum  sca adens  (Ljgodium  hastatum).  Proviacias  do 
Aio  de  JaDeiro,  Minas  e  Babla. 

305.  Horta  KpjQoga  (Clavijainacro|Aylla).  Floresce  no  mcz  de  De- 
zembro, Corcovado,  Copacabana  provinda  do  Rio  de  Janeiro.  Eiisle 
também  na  província  do  Cará;  no  Aio  Negro,  iribiilario  do  Amazonas, 
floresce  em  Outubro. 

206.  Zacyntba  nutans  (  Clavtja  integrifolia ).  Rio  Panhjbnna, 
Bocalna,  etc 

S07.  (*eGkia  vertidllala(UfbyaniliU3  cuoeirolius).  Floresce  no  mei 
de  Outubro    Rio  de  Janeiro,  Corcovado,  eic.,  etc. 

SIHPLOCiCUS 

SOS.  Epigeniacrenala  (Sfmptocos  crícophtea.)  Proviocia  de  Goyai. 
•  /n  mewtoritxm  Epigenis  Rhoiii  de  Be  natica  seribaUi»  a .  {Flora 
Fluminense,  pag    183.) 

209.  Barberína  hirsuta  rSjmt^ooos  bírsula.)  «  In  memoriam  iuirdi- 
nalis  Barberini  raaguiflci  Horli  Bolanici  Constructorís.  ■  (FioraFlu- 
\  de  Velloso  pag.  S35.) 


Dictzedby  Google 


AUTRAMBRUB 

910.  Alstrsmeria  salsilla  [Boraarea  B^eclabilÍB,  ou  parvifulia  1) 
211.  Alstrameria  cuulia    i^^io   foi    subatiluida    por  Martins,  na 

sua  Piora  BrasUieraif).  Floresce  de  Agosto  u  Setembro.  Perto  de  S.  JoSo 

das  Aolaa 
312.  Aistrxmeria  Pelcgrino  (AUtiamería  caryopb;Ilea].  Perto  de 

Cabo-Frio. 

C01IHELIN£*S 

213.  GODvallarie  ditriisa(Dichorgaiulra  Luscbnathiaiul).  Serra  dos 
Orgios,  e  moDtaatid  do  Corcovada. 
21Ú.  Tradescaiitiacapiiata(CampelÍBZaaoaia). 
3iã.  Tradescaolia  fltiminensis  {Tradescantia  Modula).  Sul  doBrasil. 

216.  Tradescaotia  Gummelina  (Tradescantia  SellowiaM).  Enlre  « 
cidade  da  Vicloria  e  Babla. 

217.  Tradescantia  geniculala  (C.  que  foi  congerrada). 

318.  Oommelina  conununensis  (CammeliDa  agraria).  Perto  de 
5.  CbristovSo. 

POLTGOKACBAS 

219.  Polygonum  marltimiira  (Polygonum  acre).  Província  do  Rio  de 
Janeiro  ;  da  Bahia;  Pará  (margens  do  Arnazonasj ;  riodcS.  Francisco; 
llio^irande  do  Sul.  America  do  .Norte  ;  e  em  algumas  republicas  da 
America  do  Sul. 

220.  PolfgoQum  ereclum. 
321.  Poljgonum  scaodens. 

222.  PoljgoDum  declinatum  [Goccoloba  declinata,  ou  Velloiiana  t 
Provinda  do  Rio  de  Janeiro.  Taubalée  MndamonliaDgaba  na  provia] 
cia  de  5.  Paulo. 

223.  Polfgonum  frutescens  (Coccolaba  Gardoeri).  Serra  doe  Orgloe ; 
província  do  Rio  de  Janeiro. 

230.  Polygonum  arbarescens  (Coccolaba  nitida).  Rio  de  Janeiro  : 
Joazeiro,  província  da  Bahia,  Províncias  do  Piauby,  Bahia.  Rio  Mag- 
dalena.  (Mageniascandens). 

THrHBLAEACEAS 

335.  Bosca  stupacea  (Fnnitera  ulilis).   Conhecem  alguns  por  en 


Dictzedby  Google 


bira  bnnca,  oa  dm^esmeDle  embira.  Floresce  no  mei  de  Julho.  Nas 
matas  praiitnis  do  Rio  de  Janeiro. 


PROTEACtAG 

336.  Diaeckaria  [egalís  [AdeDoslephnnDsSellowií}.  Sul  do  Brasil. 
Floresce  de  Julho  a  Agosto.  Velloso  diz  que  a  conhecem  por  Cuticaem 
■  In  roemoriaiD  D.  Dicrecker  diii.  a  (Pag.  U2  da  Piora  Flumirunse). 

ORTICáCElS 

137.  Picus hirsuta.  (UroetigoN  birautum).  Praviocia  do  Rio  de  Ja- 
neiro; Serra  do  língua;  no  caminho  de  9.  Clemente. 

33S.  Gecropia  peltata  (Gecropia  Adeoapua)  Hartius.fíreace  nos  cam- 
pos, DBS  capoeiras,  e  nas  margens  dos  rios,  em  difTerenles  pontos  do 
Brasil,  e,  principalmente,  na  província  do  Rio  de  Janeiro.  Río  de 
S.  Francisco ;  rio  Amazonas,  seu  atQuenle  Rio  Negro  ;  e  em  Mioas- 
Geraesi.  Gonliecem  vulgarmente  porEmbiiiba. 

239.  Horus tinctoria  (Uaclura  tiiictoria)..ProvÍDcia  de  G«f az,  Ri- 
beiíito  d' Anta. 

330.  MorOB  latalba  (Madura  Hfflnis).Cresce  em  Cabo-Frlo,  etc.  etc. 

Nota  :  U  género  Morus  pertencia  a  antiga  tríbu  das  Moréas  do  ex- 
tenso grupo  das  Urticaceas ;  e  esta  tríbu  coosLiLue  hoje  a  iamilia  dns 
Moréas  á  qual  pertence  a  tatajaba  e  outras  que  primam  pela  tinta 
amarella  que  pruduzem,  pelo  cerne  ainarello,  e  pelo  lefle  que  a  casca 
coutem.  ■ 

231.  Oorstenía  erectii  (Foi  conservada  peto  Ur.  Martins).  Em  difTe- 
renles pontos  do  Bruaíl. 

332.  DorsiMia  caulescens  ([)or&lenÍ)i  nervosa).  Serra  do  Mar.  Foi 
também  encontrada  na  fazenda  de  Malhjas  Ramos,  e  abaixo  da  Serra 
do  Tjnguá. 

233.  Dorsienia  Ticus  (Dorsteuia  multiroriDÍs;  Foi  encontrada  em 
lugares  jiroxi IDOS  do  Rio  de  Janeiro. 

a3ú.  Dorsienia  cyperus  (Nio  sei  se  foi  conservada).  Foi  encon- 
trada em  lugares  próximos  do  Rio  de  Janeiro.  Abaixo  da  serra 
do  Tioguá ;  nu  Corcovado ;  freguezia  do  Campo -Grande ;  em  Marapicú ; 
e  no  Jerissinó. 

235.  Dorstenla  Drakena  (Dorstenia  pitmaiifida,  variedade  da  espé- 
cie Dontrnia  arifolia  de  Umarck.  Provindas  do  Rio-Grsnde,  Miuas 
e  (tio  de  Janeiro. 


Dictzedby  Google 


—  293  — 

236.  Urtica  mitis  (Urera  mllis).  Em  alguoB  pontos  do  Brasil. 

iSl.  UrticB  mli<ia  (Urera  armigera).  Mez  de  Julho.  Rio  de  Janeiro. 

338.  Urtica  dioica  ;Ur(ica  urena).  Lianéo.  E'  nma  planta  da  Europa, 
que  cresce  no  Rio  de  Janeiro,  e  em  outros  pontos  do  Brasil. 

239.  Ficut  Indica  de  Veltoso.  (Foi  conservada  (?) 

3Ú0.  Parietaria  offlcinalis.  (Espécie  obscura,  a  respeito  da  qual 
o  Dr.  Mariius  nulre  dpvidas,  conforme  o  modo  por  que  expnuM-se 
na  soa  Flora  Brattiiengis). 


2A1.  Solunum  triptifllum  [Solatium' prunirolium).  Boa-Vista  e  ou- 
Iros  lugares. 

9AS.  Solannm  nigrum  (Velloso  e  Linoío).  Herva  moira.  F^arabjba 
do  Suh  municipio  neulroi  rio  Piabanha  (iributarío  do  Parabyba; 
nasce  em  Petrópolis).  Em  outros  pontos  da  provinda  do  fUo  de 
Janeiro.  Províncias  do  Ceará  e  Minas.  Planta  medicinal 

2&3.  Solanum  dIfTusum.  (Solannm  Aguraquya  (?)  P.  Floresce  em 
Janeiro.  Tem  diversos  nomes  vulgares  e  alguns  coobecem  ímpro- 
priamenie  por  berva-moira. 

'24A-  Solannm  Caavurana  {Foi  conservada).  Nas  matas  do  Corcovado ; 
em  Gabo-Frio.  Província  do  Piauhy.  Floresce..,. 

Ilii.  Solanum  CiBruleum  (Foi  conservada).  Perto  do  nio  de  Janeiro ; 
e,  segundo  Martius,  na  Cachoeira  do  Campo  em  Minas-Geiaes. 

346.  Svianuni  Carmanlhum  (Também  é  admíltida).  Floresce  era 
Março ;  Cachoeira  do  Carapo  em  Minas.  Velloso  encoatrou-a  na 
fazenda  de  Saota-Cruz :  Qoresce  de  Agosto  a  Setembro. 

2íi7.  Solanum  stipnlatum  [Solanum  Rlvulare,  ie  ^jHrtiuB).  Floresce 
em  Fevereiro  (Váloto).  Segundo  o  Dr.'Marlitts,  floresce  de  gelembro 
a  Oulubro,  na  serra  dos  Órgãos.  Sehott  encontrou-a  nq  serra  do 
Tinguá :  e  Sellow  no  .Sul  do  Brasil. 

ihS  Solanum  inequale  (Foi  conservada ).  "Tíjuca ;  Corcovado  j 
serra  dos  Órgãos;  nas  malas  viziobas  do  rio  Taguahy  KVelhuo), 
Floresce  de  Agosto  a  Setembro,  seguiidoo^efíoso;  de  Oulubro  a 
Novembro,  segundo  SíarUiís. 

3^9.  Solanum  Guapbalocarpum  (Idem).  Floresce  de  Oulubro  a 
Novembro.  Serra  da  ERtrelIa,  ele. 

350.  Solanum  lacleum  Jdem).  Floresce  de  Janeiro  a  Fevereiro. 

251.  Solanum  uniflorum  (Solanum  spseudo  capsicum,  de  Linnêo). 
Floresce  de  Setembro  a  Oulubro.  Boa-Vista. 


Dictzedby  Google 


—  »*  - 

352.  Solanum  teminale  (Solannm  iHidyDSiiiani). 

253.  Solanuai  danUtemnm  (SnlsDum  concinonoi,  de  Schotl). 

3Sa.  Solanom  coronalnm  (SoIsduib  ranibanlQorain).  Floresce  de 
Outubro  a  Novembro. 

255.  Solanum  tabaccifolíum  (Solanum  auriculatum; .  CoiibeciíJa  vul- 
garmente por  Caa,  ou  tuino  bravo.  Segundo  VtUoso,  lloreace  em 
Outubro  ou  Setembro.  Eucontram-ae  variedades  d'esta  espécie  em 
ouIraB  provinciaB  do  império. 

356.  Solaoum  Oerouum  [Não  Toi  substituída).  Este  arbusto  tem 
sido  eocoutrado  do  Parabyba,  ParahjbuDa,  «  oa  estrada  i«al  da 
província  de  Minas,  segundo  as  Indicaçdes  do  Dr.  Martíus. 

'257,  Solanum  Bullatum  (Idemj  ■  A  espécie  Solanum  Vellosianum 
de  Dunel  creio  eu  que  foi  dedicada  ao  illustro  botânico  brasileiro 
Fr.  VelloBo.  o 

258.  Solanum  ínodonim  (Solanum  decurlicans].  Floresce  em  Feve- 
reiro. Paraty. 

S59.  Solanum  flaccidum  (Fui  conservada).  Floresce  de  Fevereiro 
a  Março. 

360.  Solanum  odorifenim  (idem).  Floresce  de  Fevereiro  a  Março. 
Tijuca.  ele. 

361.  Solanum  biBssum  [Solanum  sordidum}.  Nos  limites  de  S.  Paulo 
e  Uiaas-Geraes  (Morro  do  Lobo;.  Floresce  de  Dezembro  a  Fevereiro. 

263.  Snlanum  sub-umbellaium  [PoÍ  con^rvada).  O  Sokaum  ter- 
minale,  também  de  Velloso,  creio  que  é  n  mesina,  pelo  que  diz 
o  Dr.  Martins  Entre  S.  Paulo  e  Minas ;  S.  Jorio  d'£l-Roy ;  Itarbacena ; 
Congonhas  do  campo. 

ãC3.  Solanflm  congestum. 

36ã.  Solanum  havanensis. 

265.  Snlanum  arrebenta  (Solanum  aculealissimum).  Conhecida  vul- 
garmenie  porjoa  arrebetiia  cavtJh.  Floresce  e  Iruclilica  de  Agosto 
^  Novembro,  na  montanha  do  Corcovado.  Encontrase  também  em 
Minas-Geraes  e  Goja/.     . 

J66.  Solanum  sinuaiifolium.  (O  Dr.  Martins  considera  como  a 
mesma  espécie  precedente;  e  Velloso  exprime-se,  na  sua  Flora 
Flumintnse,  de  modo  a  confirmar  ou  a  autorisar  o  que  fez  o 
Dr,  Martius:  "  Bacca  eoccinea  Solani  arrebenta  stmitít.  » 

367.  Solanum  billssum  (Solanum  spectabile).  Alguns  conhecem  por 
Jubeba,  ou  Juropeba.  Floresce  em  Deiembro,  entre  Lorena  e  S.  Paulo; 


Dictzedby  Google 


—  ftOK  — 

I^.  Martiut  ;a' vista  da  repelicSo  da  espécie  Solaouin  bifissuv,  deve- 
se  considerar  o  Dumero  261  como  dSo  escriplo). 

968.  Solaaum  multiangulatum  {Foi  conservada). 

269.  Solauum  Ambrosiat^um  Jdem)  Jod  amarello.  Em  Santa-Cniz. 

210.  SolaDum  hexandrum  (Idem.]-  Floresce  em  Dezembro,  Santa 
Cmz ;  Campos  etc. 

271.  Solaaum  edule  (SolaDumBalbisii).  ProviDCia  do  Rio  de  Janeiro, 
onde  é^ntiecido  vulgarmente  jjelo  Dome  de  Joã;  província  de  S.Paalo, 
Martius. 

272.  Soknum  repanduro  (Solanum  variabile).  Rio  de  Janeiro.  Tan- 
balo,  província  de  S,  Paulo  Floresce  na  primeira,  em  Junho ;  e  no 
mez  de  Dezembro  na  segunda. 

273.  Solanum  Jubeba.  (Solanum  insidiosom  ?)  Curral  Falso. 

27íj.  Solanum  subscandens  (Foi  conservada).  Floresce  em  Março. 
Rio  de  Janeiro:  montanha  do  Corcovado  ;  e  em  outros  pontos  da  pro- 
víncia. 

375.  Solanum  Para  tyeuse  [dera.  Província  do  Rio  de  Janeiro :  Pa- 
raly,  Cabo-Frio,  Angra  dos  Rei».  Floresce  em  Outubro  ou  Julho  ? 

276.  Solanum  oleraceum  (Solnnum  Jucíri;.  Província  do  Rio  deJa- 
nejro.  Guaratinguetá,  provtncia  de  S.  Paulo  Ifloresce  em  Dezembro). 
Nas  matas  do  Pirahy,  diz  tíarlius,  que  floresce  lio  mez  de  Fevereiro 
a  Uargo.  Tíjuca.  .Sul  do  Brasil.  «  (Juquerióba  (quod  interprelatur 
planta  spinota,  edulis dicítur.^  Florn   Fluminense,  pag.  89. 

277.  Solanum decurreiís  íNão  foi  substituída).  Floresce  em  Agosto, 
Santa-Cruz,  e  nas  margens  do  rio  ltagualt]r.E'rara  no  Corcovado  e  ar- 
redores do  Rio  de  Janeiro  (Pohl.  j  Serra  Brande  (Scboll.; 

378.  Solanum  elegans. 

379.  Solanum  conicum. 
280.  Solanum  elliptjcum. 

281.  Solanum  fasciculatum. 

282.  Solanum  períantliomega. 

283.  Solaaum  cylindricum.  Estas  espécies,  que  Feí/oso  consagra  na 
sua  obra,  não  são  descrtplas  no  género  Solanum  da  Flora  BrasHimsis, 
do  Dr.  Harlius ;  estSo  incluídas  pelos  géneros  Aureliana  e  Cypho- 
mandra. 

tSU.  Cfphomandra  flciadosljlis  (Solanum  conicum  de  Velloso).  Flo- 
resce de  Julho  a  Agosto.  Mogy-gOassú;  s.  Paulo.  Suldo  Brasil. 

286.  Solanum  elegans  'Cyphomandra  Vellosiana).  Arredores  do  Rio 
de  Janeiro;  província  da  Bahia.  Floresce  de  Janeiro  a  Julbo. 


Dictzedby  Google 


386.  Solanum  elliptlcum  [Cjphomtndra  dlllptici}.  ProriDcfa  do  fUo 
de  Jaoeim 

287.  Snlanum  cyliiKirIcDm  CyphomaiMlra  Cfliadrica).  Proviociado 
Rio  de  Janeiro.  Floresce  deUutiibroa  Novembro. 

i288.  SoInaucD  Ijcopereicuin  Lycupersicum  esnuleulum).  Nome 
vulgar:  tomate.  Planta  cultivada  naa  hortas.  E'  culltvada  em  todo  o 
BraHI. 

3ft9.  Solanum  raiclculatum  (AurBliaoi  fasciculaia).  Florescede  Fe- 
vereiro i  Março.  ProviDciad»  Ríode  Janeiro,  Minas, 

290.  capaicum  Gonixrini  Gapsicum  frnlewena'.  O  capskumortorí- 
ferum,  a  C.baccaLum.que  Velloso  estabeleceu  como  espécies  distioclas 
assim  como  a  primeira,  achSo-se  sobstiiuidas  pelo  Gapsicnm  frulesreos 
de  Wildd.  E'  conhecida  nilgannente  por  pimenta  de  eomary.  E'  cul- 
tivada em  larga  escala  em  muitos  ponLoB  do  Braail. 

291.  Capsicum  conicuni  [Capslcum  baccatum  de  Liunèo) 

293.  Capsicum  sylve'<tre  (Capsicum  anouum,  de  Llnnío).  Floresce 
de  Setembro  a  Oolubro. 

293-  Capsicum  unibilicatum.  Variedade  do  Capsicum  grossum. 

29A-  Capsicum  Axi.  Variedade  do  Capsicnm  cordiforme. 

296.  Capsicum  lorulosum.  Variedade  d>  Capsicum: 

Sho  plautaa  que  encerram  um  príoclpío  acre  no  fruclo,  conhecidas 
por  pimenlas. 

296.  Dalura  scaodena  !S<)laodra  grandiQora)  Floresce  em  Dezembro. 
Hangaratiba. 

997.  Dalura  arl>orea  (De  Velloso,  Línneo,  Willad  e  oulros).  Nome 
vulgar,  Asaucena  do  brejo. 

398.  Daturn  slramnnlum  ;De  Velloso,  Linnto,  Pavon,  Mnrlius  ç 
outros].  Figueira  do  ioreroo  [nome  vulgar).  Cresce  nos  campos,  e  a 
flAr  ã  menor  que  a  da  trombeta,  Datura  factuosa,  qu«  Velloso  não 
menciona. 

299.  Nicotlaoa  tabacum  (Velloso,  Lamark,  Linnío,  ele  ]  Fumo, 
tabaco.  Planta  cultivada  «m  muito*  pontos  do  Brasil,  e  cujaa  follias 
enoerran  a  nicotina,  principio  activo  do  fumo. 

300.  Nicotiana  ruralis  (Mcoliaua  LaogsdorBi).  Foi  encontrada  em 
Minas,  s.  Paulo,  etc,  por  Pohi,  Martins,  Sellow,  e  estudada  também 
por  VeltOBo. 

CESTBIHEAS 

SOL  Gestrum  (a)  sub  sessile  (Cestnim  Schottil).  Serra  da  Eatrella, 
ia)  As  Coeratkts.  no  Rio  de  Janeiro,  sito  do  género  cestroh. 


DictizedbyGoOJ^IC 


-  ím  - 

prorincia  do  Rio  de  Jaotín).  Cuyabd,  capital  da  provÍDCfa  de  Malv 
Grosso. 

303.  Gestrum  aiillare  (Cestrum  Uevigatum}.  Em  lugares  arenosos. 
ProvíDcia  do  Rio  de  Janeiro:  porto  da  Estrella.  Segundo  a  indicação 
do  Dr.  Martins,  Qoresce  de  Agosto  a  Outubro. 

303.  Cestrum  slipalaluia  (Cestrum  bractealum;.  Floresce  em  Se- 
tembro. ProvÍDcia  do  Bio  de  Janeiro;  cidade;  serra  da  Estreita. 
Cresce  em  Setembro. 

30Ú.  Cestrum  arvense  [Espécie  duvidosa,  de  Velloso).  Floresce  de 
Janeiro  a  Fevereiro. 

305.  Lisianthus  opliiorrhiza.  (Hetiernicbia  Principis).  Milcan.  Flo- 
resce de  Novembro  e  Dezembro  a  Janeiro.  Provincia  do  Rio  de  Janeiro : 
Cabo-Frio,  Corcovado,  etc. 

PI  PERECE  AS 

806.  Piper  stellalum  (Peperomia  PerestitEfolia;.  Rio  Paraty,  Santa 
Calharína,  etc. 

307.  Piper  quadrirolíum.  (Peperomia  Valantoides).  S.  Paulo,  etc. 

308.  I>iper  monostachyon  (Peperomia  hederacea).  Cresce  no  Rio 
de  Janeiro:  no  Corcovado;  em  Santa  Catbarina. 

309.  Piper  umbellatum  [Polomorpbe  sidstolia^  Nome  vulgar : 
pariparoba,  ou  caúpeba.  Nas  margens  de  pequenos  rios;  vegeta  em 
lugares  húmidos.  Angra  dos  Reis,  [taguah;  (serraj.  Mungaraliba, 
Rio  de  Janeiro ;  serra  do  Araripe. . . . 

310.  Piper  reticulatum  (Enekea  c^enotliiMia).  Perto  da  cidade 
do  Rio  de  Janeiro ;  e  s.  Jo3o  D'El-Rei. 

311.  Piper  cernuum  (Arthante  spectabilís)  ou  Arthante  caruvaT 

312.  Piper  Iruncatum  (Arthante  polhirolia)  Serra  dos  Órgãos ; 
Rio  de  Janeiro. 

3t3.  Piper  adnncum  (Arthante  olphersiana)  Cidades  de  Campos, 
Victoria  e  Bahia.  Em  algumas  localidades  da  província  de  Goyaz. 

31Ú.  Piper  sylveslre  (Arthante  ampla).  Floresce  em  Outubro. 
Provinda  do  Rio  de  Janeiro:  Corcovado ;  serra  da  Estrella  e  Minas. 

315.  Piper  crasBum  (Arltaante  crassa  (T)  Será  uma  simples  va- 
riedade da  ultima  P 

316.  Piper  jabomndi  (Ottonia  amisum).  Montanha  do  Corcovado; 
e  em  muitas  malas  da  provincia  do  Rio  de  Janeiro,  inclusive  nas 
da  Parahyba  do  SuL 

TOMO  XXXI,  P.  II  38 


Dictzedby  Google 


TBIIBEBACEAS 

317.  Verbens  cunea  (Verbena  pholigiflora,  ou  vulgarls  (T).  Provin- 
eias  de  Hiius,  S.  Paulo  e  Rio~Graade  do  Su),  ele. 

318.  Verbeoa  lobsta  (Foi  cooservada).  Floreace  em  Dezembro. 
Sul  do  Brasil. 

319.  Verbena  quadrangularii  [Verbena  bonarieitifs;.  Floreace  de 
Janeiro  a  Fevereiro.  Sul  do  Brasil.  Santa  Calharias.  Serra  dos 
Oifioe.  ProTincla  de  Uioas.  Em  B.,  Cabo  da  Boa-EBperaoça. 

31o.  Verbena  braailíensis  (Verbena  liloraifsj.  Nome  vulgar;  herva 
do  Pai  Caetano.  Sul  do  Brasil ;  e  em  algumas  republicas  da  America 
(lo  Sul:  Veneiuela,  Penl,  Chile.  Planla  medicinal. 

331.  Verbena  Quminensis  (Bouchei,  pseudo  gerv9o).  Floresce  du- 
rante os  mezea  de  Setemliro,  Outubro  e  Norembro.  Nome  vulgar: 
gervOo  da  folha  grmde.  PrOTiocIas  de  Uinas  e  S.  Paulo. 

332.  Verbena  jamaicensis.  (Slacby tarpha  dicholoma).  Nome  vulgar; 
gervOo  ou  urgtrvOo.  Em  muitas  localidades  da  província  do  Rio 
de  Janeiro.  Nas  provinciae  de  Santa  Cathariaa,  Minas  e  BaUa.  Fm 
lambem  encontrada  na  montanha  do  Corcovado. 

323.  Lautana  spicata  (LaiilaDa  brasillensis.  Cresce  em  abundância 
nos  campos.  Proviacia  de  S.  Paulo:  Ypanema  e  Porto-Felíz.  Ka 
cidade  da  Victoría,  capital  do  Espirito-Santo.  Províncias  do  Minas 
e  Halo-Gnwso. 

3ÍA.  Lantaua  lonleala  (Laotaoa  Camará).  Enconlra-se  em  lagares 
próximos  do  Rio  de  Janeiro;  na  proviacia  de  Minas. . . . 

3â5.  Pétrea  volubilis  (Pétrea  subserrala).  Floresce  em  Setembro. 
Eacontra-se  nas  Qoreslas  da  proviacia  do  Rio  de  Janeiro ;  em  s  Paulo, 
Minas.. . . 

326.  £gipbilit  verticillata.  (£egiphila  tomentosa).  Em  Taubalé, 
província  de  S.  Paulo ;  em  Barbaceoa,  e  outros  ponlos  da  provinda 
de  Minas. 

327.  j£egipbila  flumineasia  (Foi  conservada).  Na  montanha  do 
Corcovado;  na  Copacabana;  e  nas  florestas  da  província  do  Bio 
de  Janeiro.  Floresce  do  Julho  a  Agosto. 

338.  vGegjphiU  bracbiata  (fegiphila  tríantba),  Brasil.... 

339.  .fgipbila  serrata  (.Egipliila  graveoleas],  Martins.  Em  Mogy 
das  Cruzes  e  Taubaté  da  provinda  de  S.  Paulo;  em  alguns  pontos 
do  Rio  de  Janeiror inclusive  ao  Corcovado. 


Dictzedby  Google 


—  Í99  — 

330.  JEgipbila  mediterraDea  [Foi  aceita).  Proiiocia  do  Rio  de 
Janeiro;  em  matas  próximas  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro. 

33).  jGgiphiln  racemosa  £giphila  cuBpIdaU).  Floresce  de  Setembro 
a  Outubro.  Praia  Grande:  Ilaip<i.  Na  proviocia  do  Pará  fructiQca 
em  Setembro ;  fructiflsa  em  Janeiro  para  os  lados  do  Rio-Negro  e 
Japurá,  proviocia  do  Allo-Amazonaa. 

332.  £giphita  abdiícta  [Foi  adoptada'  Provlacia  de  MIimb:  moo- 
tanlia  do  ttacolomi;  serra  dos  Orglios,  e  nas  proilmidadeB     do  Rio 
de  Janeiro. 

ANOn&CUB 

333-  Anona  maricata  [Velloso,  Linnéo,  Swarts  e  outros).  Nome  vul 
gar  Frveta  de  ctmde.  E'  cultivada  em  muitas  hortas,  e  em  diversas 
pontos  do  Brasil  Floresce  de  Setembro  a  Outubro,  e  o  fructo  madu- 
rece  2  ou  3  mezes  depois. 

33Ú-  Anona  reticulaU  (Anona  Pisonis).  Em  malas  próximas  da 
cidade  do  Rio  de  Juaeíro  j  provinda  de  Pernambuco.  Floresce  no  mez 
de  Novembro. 

335.  Anona  sqiiaraosa  (Anona  oblusiflora) 

336.  Anona  silvestris  (Roílinia  xilvatica).  Fruclifica  em  Março.  Foi 
encontrada  por  Velloso,  na  provinda  do  Rio  de  Janeiro  ;  e  por  St. 
Hilaire,  na  provinda  de  Minas  Geraes. 

337.  Anona  eiaibida  Roílinia  eialbida.  Casca  adstringente.  Provin* 
das  do  Rio-Grande,  e  Rio  Oe  Janeiro. 

338.  Uvaria  sessilis  (Duguetia  bracieosa:.  Província  da  Rahia.  Flo- 
resce e  rructldca  nos  primeiros  mezes  do  anno. 

339.  Uvaria monosperma  (Guatteria  aigrescons).  Floresce  efracli- 
fica  nos  últimos  mezes  do  anno  Em  Lorena,  província  de  S.  Paulo ; 
serrado  Tinguá  ;  provinda  do  Riode  Jandro. 

3A0.  Uvaria  hirsuta  [Guatteria  Hilartanal  Províncias  Iropicaes  do 
Brasil. 

341.  Uvaria  brasiliensís  (Foi  adoptada  aa  Flora  BratUienti*  do 
botânico  Marlíus).  Floresce  efructiflca  no  fim  do  anno.  Velloso  estu- 
dou-a  em  algumas  matas  da  provinda  do  Rio  de  Janeiro  ;  lambem 
eiisle  na  província  da  Bahia,  (a) 

3úâ.  Anona  auminensis(Xylopia  sericea.  (u)  lirovindas  de  Minas  e 
Rio  de  Janeiro.  Rio  Amazonas..... 

a)  Nome  vulgar :  Píndahiba. 


Dictzedby  Google 


iCABTHACEÁS 

363.  HendoDcia  albida  (Hendozia  pubenila,  <te  Marlins'.  Provincii 
do  Rio  de  Jaoeiro  ;  urra  dos  OrgAi».  Lorena,  província  de  S.  Paulo. 
Floresce  e  fruclifica  de  Novembro  e  Dezembro  á  JaDeiro.  Nas  Olhos  da 
Agua,  provÍDcia  da  Bahia.  O  género  Mendoncia  ou  Mendoxia  foi  es- 
tabelecido por  VelloBO. 

3A4.  lleDdoiicia>£occÍDea  .Hendoiia  YeUotiaita].  •  Esta  e^iecíe  foi 
dedicada,  pelo  Dr.  Martins,  ã  Velloso.  »  Serra  dos  Orglos ;  cidade  do 
Rio  de  Janeiro.... 

3ú5.  Rouellia  diflusa.  .Neleonia  Pohlil).  Provioclasde  Gojai  ePei- 


aíi6.  Pedicuiaris  sessilis  llygropliila  costaia ,  Em  Paquequer.  E' 
cuilívada  aas  hortas  bolanícas ;  Toi  lambem  eocootradaem  pontos  pró- 
ximos do  cidade  da  Rio  de  Janeiro. 

3íi7.  Bouellia  Bolilaria  (Dipieracanlhus  Bchauerianus).  Foi  encon- 
trada nas  malas  da  Tijuca;  na  montanha  do  Corcovado,  serra  da  Es- 
trella,  ele. 

3ii8.  Rouellia  pilosa  iDipleracanthus)  nesianus).  Floresce  em  Ja- 
neiro. Em  SanU-Cruz.  Goyaz  e  Malo-Grosso. 

3í|9,  Kooellia  hirsuta  (D.  geminiilorus).  Municipio  de  Campos  e 
Cabo-Frio,  m  província  do  Rio  de  Janeiro.  Taubalé,  província  de 
S.  Paulo,  cidade  da  Vlctoria,  capital  do  Espirito- San  to ;  e  nas  provin- 
da da  Bahia,  Minas-Ceraea. 

350.  Pedicalaris  sceptrum  Mariaoum  (Azrhostoirlon  acutangulom). 
Serra  da  Estrella.  perlo  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro,  rio  Parabjba. 
■  In  memoriam  D.Augusiae  sceplnim  Marianum-n  f  íoro  Flumínensís, 
pag.  S70. 

351.  Roaellia  geniculata  .Stemandrium  mandioccarum)  .Copacabana, 
Cabo-Frio,  montanha  do  Corcovado. 

352.  Rouellia  spicaU  (Geiasomeria  distans).  Floresce  em  Janeiro. 
Velloso  encoDlrou-a  nas  matas  de  Santa-Cruz,  província  do  Bio  de 
Janeiro. 

353.  Rouellia  prismática  (Strobilorhachis  prismática).  Serra  da  Es- 
irelta.  Corcovado,  Santa-Cruz  e  era  outros  pontos  da  província  do  Rio 
de  Janeiro. 

554.  Rouellia  colorata  (Lagochilium  montanuro).  Província  de 
S.  Paulo  Santos ,  província  de  Minas-Geraes,  eic. 

355.  Rouellia  coniosa  Aplielandra  squarrosa).  Serra  do  Gubalão, 
província  de  s.  Paulo;  serra  de  Macacií,  província  do  Rio  de  Janeiro. 


Dictzedby  Google 


—  801  — 

356.  Roaellia  qn&draogularii  rAphelaodre  sclophila).  Floresce  oo 
mez  de  Novembro.  Em  alguos  lugares  do  Bradl. 

Nota.  A  espécie  Jostida  Vellosil,  foi  dedicada,  por  SehuU  ao  botâ- 
nico Velloso ;  O  Dr.  MartJas,  na  sua  Piora  BraiUimtu,  subetituiu-a 
pela  Behperone  hirsuta  de  19. 

BtPOXIDBAS 

357.  Anlhericum  eoiifonne  (variedade  da  espécie  HypoBit  decum- 
bens  de  LinDêo. 

358.  O  Antberícum  gramioeum  de  Velloso  serA  idêntico  a  de  LÍd- 
Dèo  7  Floresce  em  Outubro.  Foi  eacootrada  no  Corcovado,  e  em  outros 
lugares  do  Rio  de  Janeiro.  Em  Jacobina,  província  da  Bahia.  Na  pro- 
víncia de  Hlnas-Geraes ;  e  também  foi  estudada  dosqI  do  Brasil. 

A  Tamitia  das  VeUo$ias  foi  dedicada  ao  ilhistre  botânico  brasileiro 
Fr.  Velloso ,  assim  como  o  género  Vellosia,  por  Vandell. 

POnTEDESIACEAS 

369.  Buchosia  aquática  (Heleranthera  reniformis,  de  Pavon  e  R. 
Copacabana ;  província  do  Rio  de  Janeiro.  Floresce  em  Jiilbo.  Gua- 
temala; Peru;  Meiico,  e  n'Aroerica  do  Norte  até  a  Virgínia. 

360.  PoDiederia  aquática  (Eicfafaornía  azurea).  Joazeiro,  e  rio 
S.  Francisco,  na  provinda  da  Bahia.  Provinda  do  Pará;  e  encontra-ae 
também  Kra  do  império. 


^61.  Sagittaria  sagíttilolia  (Alísma  macrophyllum'.  Provinda  do 
ftio  de  Janeiro ;  porto  da  Eairella. 


363.  Aloe  perfoliata  e  (Aloé  barbachnsis).   Provincias  do  R 
Janeiro  e  Bahia.  Floresce  era  Setembro,  segando  Velloso. 
vulgar:  Baboia. 

AHARTLLtDEAS 

3fi3.  Amarjlli4  illugtris  (Amarjllis  Pelllaclna). 

3eã.  Amarfllis  princeps  (Araai7llis  príncipis).  Velloso  i 
Santa-Cruz,   lugar  onde  encontrou-a;  Marliu&  aponta  o  Espírito- 
Santo. 

365.  Amarjllis  Drjades  (GríBlnin   Hfaoínthiaa).   Rio  de  Janeiro. 


Dictzedby  Google 


UiniCDLlIlIAS 


366.  Utrícularía  vulgarú  {iitricularia  oligoaperma;  SI.  Hilaire).  I>ro- 
viQcías  doRiodeJaoeiroeS.  Paulo;  Rio-Negro;  Pará ; Pernambuco. 


367.  Smilax  chÍDa  (Smilai  sfiingoides).  Sul  do  BrasiL 
36S.  Rtgaaia  verticillata  (Herreria  salsaparrilha,  de  Marliat).  E'  cuU 
Ijvada  em  muitos  pontos  do  Brasil). 

DIOSCORCAGEAS 

309.  Dioscorea  conferia  (Oioscoreapiperilblia)  Província  do  Pará,  ele. 

37D.  Dioscorea  subhastata  (Dioscorea  glandulosa  (7)  Será  urna 
simples  variedade  t 

371.  Dioscorea  undecimnervis  (Dioscorea  glandulosa  (?)  Será  lam- 
bem uma  variedade?  Província  do  Rio  de  JaDeíro;  entre  aa  cidades 
de  Campos  e  da  Yiclorla  (capital  do  Espirito-Santoj.  Nas  matas  da 
província  de  S.  Paulo,  etc. 

373.  Dioscorea  ovala  (Dioscorea  adenocarpa,  dtMartiw).  Floresce 
no  mez  de  Abril;  e  o  fructo  madurece  ao  mez  de  Maio,  Troviocia 
de  Minis-Geraes :  S.  Jo3o  d'Et-Rei.  etc. 

373.  Dioscorea  dodecaneura  (Foi  conservada).  Provinda  do  Rio 
de  Janeiro:  porto  da  Estreita.  Provindas  de  Mínaa-Oeraes  e  Uato- 
Gnwso.  Floresce  de  Fevereiro  a  Abril. 

37íi.  Dioscorea  quinquelobata  (Dioscorea  brasiliensiB].  Nas  provín- 
cias mais  ao  norte,  como  o  Pará  ... 

375.  Dioscorea  heptaneura  (Dioscorea  saliva,  do  Linnéo).  Floresce 
de  Fevereiro  a  Março.  Provinda  do  Rio  de  Janeiro;  enlre  Campos 
c  Victoria.  Provincia  de  Mínas-Geraes. 

376.  Dioscorea  siauaia  (Foi  adoptada).  Sul  do  Brasil.  Nas  proximi- 
dades da  cidade  do  Rio  de  Janeiro,  etc.  Floresce  no  mez  de  Maio. 

377.  Dioscorea  tuberosa  (Rajania  brasiliensis;.  Provincia  de  Minas- 
Geraes,  proviocia  de  S.  Paulo,  etc. 

ROSAGB&S 

O  género  Brya  de  Velloso  foi  subsiitnído  pelo  Hirlel/a  de  Linnéo. 

COMBRETÍGEAS 

378.  Bucida  Buceras,  de  Velloso  (Subsiste,  porém,  o  Bucida  Buceras, 
de  Lin.  Mangue  branco,  etc.) 


;dby  Google 


379.  Combretum  aecnudum  (C.  Laeflingfi).  No  Corcovado,  Co- 
pacabana, Ganlagallo,  Macahé,  Cuiabá,  Goyaz,  Mioas-Oeraes. 

3S0.  Porsgordia  Iffivis.  (Combretum  Jacquioii .  Santa-Cruz,  Can- 
tagsllo  ;  (Velloso  colheu  o  specimeo  em  Sanla-Cruz).  A  espécie 
abunda  em  qaasi  todo  o  Brasil  tropical, 

LÃDRIHEAS 

381.  Meoestrata  racemosa.  (Oreodapl)ae  ?  epltiana).  Uoica  espécie 
meficioDada  na  Piora  Brasiliauis). 


383.  cleome  pednnculata  (Gleome  gigantea  Lio).  Proviocia  do  Rio 
de  Janeiro,  etc. 

3B3.  Cleome  dodecaphflla  {C.  dendroides].  Petrópolis.  Canlagallo. 

38à.  Cleome  penlaphylla,  (C.  rósea).  Proviocias  do  Rio  de  Janeiro 
e  de  Miuaa. 

385.  cleome  tripbylla.  (G,  aflQnis  D.  C.)  Botafogo,  Carioca.... 

386.  Capparis  acandens  (Capparis  lineala).  Floresce  em  Oatubro, 
província  do  Rio  de  Janeiro,  ele. 

387.  Capparis  neclarea  (Adoptada).  Velloso  encontrou-a  na  pro- 
víncia do  Rio  de  Janeiro. 

38S'  Capparis  llexuosa  (Adoptada).  Provlnrias  do  Dio  de  Janeiro 
e  do  Espirito-Santo. 

389.  O  capparis  declinala,  de  Velloso,  é  uma  variedade  do  capparis 
cjnophallophora  de  LinnCo. 


390-  SizynlIiriamauviatileCNaslurtlum  olBcina)e)..<9rtdoor(Itn(ino. 
Lepídtura  ameríciDum  [Seoeblera  pemiatifida} . 

GERTUnACEAS 

391.  LisianlhuB  ovalifolius.  (L.  alpestrís-Mart).  Serra  da  Haati- 
qoetra;  Campanba,  etc. 

392.  MenyantheB  brasilica  (Limnanlbemum  Humboldtianum-Gfú. 
S.  ChrísIovSo,  Cabo-Frio,  Minas,  ele. 

Ao  lodo  393  espécies  croadas  por  Velloso,  que  estão  mencionadas 
nos  43  lasciculos  da  Flora  Bnuiliauii  do  Dr.  MaHins.  D'eBtas 
espécies  foram  adoptados  63  nomes  botânicos  estabelecidos  pelo 


Dictzedby  Google 


—  »*  — 

nalnndltta  bnslleiro-  Nos  fulunn  fueicDloa  da  Fbra  BniriHnuú 
serSo  coDUmpladu  as  espécies  ainda  nlo  mencioDadas,  e  por  ellea 
*er-8e-ha  se  foram  ou  dSo  adoptadas. 

O  Andaiífã  é  o  JòAonneiMi  Prineept  de  Velloeo,  das  eapborbiaceas, 
que  alguns  chamam  Anda  Gomtti*.  B  como  oc  precedentes  pode- 
ríamos citar  muitas  oolras,  que  ainda  estio  snjeilas  &  deliberagSo  dos 
[egisladoree  da  botânica. 

O  Dr.  BaiUlon,  professor  de  l>otaQÍca  na  escola  de  medicina  de 
Paris,  publicará  brevemente  o  complemento  da  sua  monumental 
moDOgraphia  das  eupborbiaceas,  onde  serão  mencionadas  as  espécies 
que  Velloso  classifícou. 

Alguns  nomes  botaoicos  creados  pelo  padre  mestre  Velloso,  pare 
plantas  eophorbiaceas  do  Brasil,  foram  adoptados. 

O  insigne  Dr.  fiureau,  aín  olvidará,  na  mia  doscripçâo  das  plantas 
brasileiras,  da  ontem  das  bignoneaceas,  as  espécies  que  Velloso  classi- 
Bcou.  Uma  pane  d'esteB  trabalhos  j&  nos  foi  enviada  de  Paris  pelo 
Dr.  Bureau,  e  abi  encontrámos  as  espécies,  de  Velloso  : 

Bignonia  fascicnlata,  substituída  por  Tfuantbus  laiiflora  de  Uiers. 

Bignonia  cordata,  substituída  por  Lundia  umbrosa  de  Bui. 

Bignonia  longa,  substitQÍda  por  Lundia  longa  de  O,  c,  etc. 

APPENDIGE 

LOGAKIICUS 

Gardénia  trinervisV.  ^StrjchnosTripIJDervIaM.). 
Narda  spinosa  V.  (St.  brasilienses  M,|. 

jisuaKCSàs 

Jasminum  Fluminense  V.  [J.  AzorícumL.). 

strucBis 

Epigenia  integerrima  V.  (St; rax  glabralum  S.;. 

LORAItTHACEAS 

Loranthus  grandlQorus  V.  (Psittacanthas  robustus  M.). 
LoranthUB  emericanus  V.  (Paittacantiiua  Dichorus  M.j. 
Loranthus  oJotiferus  V,  iPhrygilanlhus  Eugenioides  H  ) 
Loraoihiis  vulgarisV.  [Struthauthus  marginatus}. 


Dictzedby  Google 


—  805  — 

APPENDICE  AO  CAPITULO  VELLOSO  E  BOCAGE 

Vellow  é  o  autor  da  Nomenclatura  Linneana  pata  as  planUs  me>  in. 
tt»A»tBO  Poema  de  Bostel:  —  Agrtadtura  —  qus  Bocage  lrad<i/'< 
verso  porlDgaez.  Acha-seno  &.'  volume  das  poesia  de  Bocage,  paginai: 
187,  188,189,  190,  191  e  193. 

No  QcQ  do  1.*  volome  das  poesias  de  Bocage  encoolnunos  aa  se- 
guÍDies  linhas,  relativamente  á  Velloso :  « o  mesmo  homem,  que  rejei- 
tara redonda  mente  de  José  de  Seabra  a  nomeaçfio  para  um  lugar  de 
offlcinl  na  bibliotheca  publica.acbaado  ingupportavel  a  sujeição  do  em- 
prego, melhor  aconselhado  pela  uescessidade  uão  teve  duvida  em 
aceitar  de  Pr.  José  Uarianuo  Velloso,  religioso  arrabído,  e  director 
eniao  daolBcina  chaleographica,  creada  pelo  ministro  D.  Rodrigo  de 
Sousa  Gouliiiho,  o  partido  que  lhe  propôi  de  se  occupar  em  rever 
aluradamente  as  provas  de  obras  apropriadas  a  dlfrundjraÍnatruc(3o, 
applicando  o  resio  do  tempo  as  versões  de  boos  autores  e  a  composi- 
ções origiuaes.  O  ajosle  foi  dos  mais  modestos.  Vinte  e  quatro  mil  réig 
mensaes,  flcando  a  primeira  edição  toda  para  a  casa,  efs  o  que  obteve 
o  grande  poeta,  e  ao  que  se  submetteu  para  grangear  os  soccorros, 
que  a  indigência  tornava  preciosos. 

Sem  este  contraio,  em  que  o  padre  Velloso  se  lios  íigura  mais  favo- 
recido do  que  benifeilor,  como  diz  o  Sr.  Castilho,  a  lltleratura  portu- 
gueza  contaria  de  menos  algumas  primorosaa  traducçSes. 

Homem  de  vasto  saber,  e  amigo  por  nstureza  dos  engenhos  desva- 
lidos, devemos  suppor  que  o  religioso  arrahido  oíTereceu  quanto  lhe 
pormitiiam  as  posses  do  estabelecimento ;  e  o  reconhecimento  de 
Elmano,  conservado  alé  a  morte,  asses  o  atlesta. 

P6de  ioferir-ae  até,  pek  dedicatória  do  drama  «A  Virtude  Lau- 
reada, D  que  a  n^  do  protector  discreto  e  liberal  soube  escolher  as 
occasiOes,  acudindo  com  dadivas  esponUneàs  aos  maiores  apuros  de 
Manoel  Maria. 

Da  transacçSo  com  Velloso  safairam  as  versões  admiráveis  dos  ■  Jar- 
din»  de  Dtliile,  das  Plantas  de  Castel  ;  do  CoMorcio  das  Fbwfs  de 
Lacroixttáo  Canto  de  Tripoti-Cardoso.M 


TOMO  XXXI,    P.   [1 


Dictzedby  Google 


BIOGRAPHIA 

DOS  BRiULEIROS  ILLOSTRCS    POR    ktlMkS,    LETRAS,    VIRTUDiS, 


FRANCISCO  UANOBL  DA  SILVA 


Se  as  leiras,  as  sciencias  tém  fílhos  inspirados,  pu- 
jantes lidadores,  romeiros  dedicados,  que,  sem  sentirem 
os  pés  sangrarem  nas  urzes  da  estrada,  nem  o  fogo  da 
ebre  requeimar-lhes  «  cérebro,  e  minar-lhes  a  existência, 
tSo  caminhando  sempre  como  o  Moysés  do  povo  de  Deus  ; 
se  as  scienciaR  contam  entre  seus  cultivadores  homens 
como  Galiléo,  que,  apezar  das  perseguições  da  inquisiçáo, 
das  penitencias  impostas  pelos  cardeaes,  para  declarar 
heresia  o  systema  de  Copérnico  bateu  com  o  pé  no  chão, 
e  agitado,  inllammado  pelo  amor  di  verdade,  pronunciou : 
t  E  todavia  a  terra  move-se ;  i  Se  apresentam  um  Augustin 
Thierry,  que,  apezar  do  afan  do  estudo  ter-Ihe  apagado 
a  vista  e  prostrado  o  corpo,  repete  estas  memoráveis  pa- 
lavras: «  Ha  ums  cousa  que  vale  mais  que  os  gozos  mate- 
riaes,  mais  que  a  fortuna,  mais  que  a  própria  saúde,  o 
sacrificio  á  sciencia ;  ■  também  as  artes  tém  apóstolos  seus, 
cultores  devotados,  Pygmaleões  que,  eicitados  pela  flamma 
do  amor  artístico,  procuram  dar  vida  á  argiUa,  movimento 
ao  bronze,  pensamento  ao  mármore  ;  génios  como  o  cego 
Affonso  Domingues,  o  architecto  do  convento  <la  Batalha, 
que  sacriGcou-se  pela  arte  perecendo  depois  de  três  dias 
de  jejum  sentado  na  pedra  collocadn  por  ordem  sua 
debaixo  do  fecho  da  abobada  d'esse  monumento,  a  qual 


Dictzedby  Google 


-  307  — 

já  uma  vez  desabara ;  lambem  as  artes  tôm  seus  sacer- 
dotes, e  é  de  um  d'elles,  cuja  ÍDlellígeacia  illuminou 
sempre  o  altar  de  Apollo,  que  vamos  repetir  D'este  recinto 
a  biograpbia  cum  singeleza  desenfeitada,  como  costuma 
ser  a  nossa  locução. 

Aos  21  de  Fevereiro  de  IT95,  na  cidade  deS.  Sebastião 
do  Rio  de  Janeiro,  nasceu  Francisco  Manoel  da  Silva, 
e  na  igreja  parucbial  da  Candelária,  recebeu  as  aguas 
santificadas  pelo  cordeiro  de  Belém ;  foram  seus  pro- 
genitores Josquim  Marianno  da  Silva  e  D.  Joaquina  Rosa 
da  Silva,  que ,  estremecidos  de  amor  por  esse  (ilbo, 
concitaram  esforços  para  dar-Ihe  educação  cuidadosa  e 
ensino  útil.  Cedo  revelou  o  menino  o  espirito  alçando 
vAo  para  a  arte  que  os  poetas  chamam  divina.  Como 
Voltaire  e  Bocage,  que  aos  oito  anãos  de  idade  já  se  ma- 
nifestavam poetas,  em  Francisco  Manoel  pairavam  ainda 
no  semblante  as  graças  pueris,  e  já  a  sua  alma  vibrava 
aos  sons  cadentes  da  Ijin. 

Entregue  aos  cuidados  do  inspirado  musico  o  padre 
José  Maurício,  aprendeu  em  pouco  tempo  os  segredos 
da  arte,  e  mais  (ardo  ouviu  com  aproveitamento  as  lições 
de  Neukotnm,  o  celebre  compositor  do  concerto  composto 
de  três  mil  artistas,  e  executado  na  inaugurarão  da  estatua 
de  Guttemberg. 

Era  muito  moço  Francisco  Manoel  quando  compdz  um 
Te-Deum,  e  oITereccu-o  ao  príacipe  real  D.  Pedro,  que 
prezou  tanto  a  ufTerta  do  novel  compositor,  que  prometteu 
mandal-o  á  Itália  para  completar  seus  estudos  musicaes. 

Pertencia  Francisco  Manoel  á  orcbeslra  da  reat  camará, 
cujo  mestre  era  Marcos  Portugal,  que,  para  roubar  ao 
joven  artista  o  tempo  de  compdr,  passou-o  de  violoncello 
para  o  estudo  de  violino,  ameaçdndo-o  despedil-o  se  aão 
mostrasse  muita  applicação. 


Dictzedby  Google 


—  308  - 

O  cancro  da  iavsja  corroia  a  alma  do  compositor  porlu- 
guez,  e  eis  porque  cerceava  as  azas  d^aquelles  que  cedo  ou 
tarde  podiam  alçar  vAos  altisonos. 

Gado  relumbrou  o  disciputo  como  mestre  oa  arle  de  Eu- 
terpe,  e  por  dar-lhe  maior  cultura  e  estabelecer  couca- 
teoação  BDtre  os  írmlos  da  mesma  arte  fundou,  em  16 
de  Dezembro  de  1833,  a  sociedade  BeDeSceDCÍa  Musical, 
cujo  instattador,  primeiro  sócio  e  orgaoisador  dos  esta- 
tutos foi  elle;  e  em  reconhecimeoto  aos  serviços  pres- 
tados á  esta  associação,  a  junta,  que  administra va-a,  con- 
feríu-lbe,  em  28  de  Abril  de  183&,  a  patente  de  director. 

Em  1838  publicou  Fraacisco  Haooel,  e  dedicou  ao 
Imperador,  para  uso  dos  alumnos  do  collegio  de  Pedro  II, 
um  compendio  de  musica  aonde  estão  conglobados  metho- 
dlcamente  r^as  e  preceitos  da  arte  musical,  tendo-se 
esgotado  diversas  edições  doesse  bem  elaborado  trabalho. 

Essa  arle,  que  no  tempo  do  velho  rei  D.  João  VI  tanto 
se  avantajara  a  concorrera  para  ornamentar  as  repetidas 
e  pomposas  festividades  celebradas  na  real  capella,  e  as 
abrilhantadas  e  régias  solomnidades  da  corte,  foi  deca- 
hindo,  amurlecendo-se-lho  o  brilho  e  fama  em  que  sobre- 
pujara ás  outras;  desappareceram  seus  sacerdotes  mais 
dedicados,  e  com  elles  as  recordações  dos  sons  melodiosos 
que,  soando  dentro  da  alma,  retiniam  nas  naves  da  capella 
real.  Em  1831  foram  despedidos  lodos  os  músicos  da 
capella  imperial,  e  sumiram-se  no  turbilhão  da  politica, 
que  tudo  arrastou  comsigo  e  derruiu.  Mada  mais  era  um 
artista ;  a  palheta,  a  l^ra,  o  escopro,  o  compasso,  tomá- 
ram-se  instrumentos  degradantes,  e  os  icouoclastas  da  arte, 
subindo  ao  primeiro  altar  da  capella  imperial,  apagaram 
com  a  esponja  esquálida  dos  Vândalos  o  painel  de  José 
Leandro!  Felizmente  desraneceram-se  as  nuvens  caligí- 
nosas  que  desluziam  o  horizonte  da  pátria,  iniciando  o 


Dictzedby  Google 


—  809  — 

Dovo  reioado  uma  época  tranquilla  em  que  as  srieDcias  e 
artes  puderam  avoejar. 

O  decreto  de  36  de  Junho  de  1841  bonrou  o  hábil 
artista  DomeandoH}  mestre  compositor  de  musica  da  im- 
perial camará. 

Aproveitando  as  disposições  dos  ânimos,  esforçou-se 
Francisco  Manoel,  para  facilitar  o  estudo  da  musica,  em 
crear  um  conservatório,  e  por  sua  peiseverante  dedicação 
conseguiu  fundar  o  estabelecimento,  aonde  se  deviam  en- 
sinar gratuitamente  todos  os  ramos  da  musica.  O  governo 
louvou  o  patriotismo  a  dedicação  do  artista,  e  por  decreto 
de  27  de  Novembro  de  1841  sanccionou  essa  instituição, 
dotada  com  tantos  recursos  pelo  seu  installador,  que  se  oão 
tomou  pesada  aos  cofres  públicos. 

Devia  estar  satisfeito  o  amor  próprio  do  artista ;  a  mão 
poderosa  do  Estado  erguera  sua  obra  e  dera-lhe  existência 
permanente. 

Ainda  a'esse  mesmo  anuo  deviam  brotar  os  virentes  lou- 
ros da  coroa  de  gloria  de  Francisco  Manoel,  que  revelou-se 
compositor  notável  no  hymno  escripto  pela  coroação  do  se- 
gundo imperador  do  Brasil :  essa  musica  pomposa,  pátrio' 
liça  e  inspirada,  encanta  aos  ouvidos  pela  cadencia  e^rbj 
thmo  da  forma,  e  pela  belleze  e  sublimidade  dos  sons  faz 
pulsar  DO  peito  o  coração  dos  filhos  da  pátria ;  a  nação 
chama  seu  a  esse  hymno,  que  é  de  Francisco  Manoel  o 
hymno  de  gloria. 

Havendo  falleeido  Marcos  Portugal,  foi  nomeadot  por 
decreto  de  17  de  Maio  de  1842,  para  substiluil-o  no  lugar 
de  mestre  da  capella  imperial,  o  artista  Francisco  Manoel, 
e  durante  23  anoos  dirigiu  magistralmente  a  orchestra  nas 
solemnidades  celebradas  na  sé  e  calhedral  do  Rio  de  Ja- 
neiro. 

Compôz,  para  ser  entoado  nas  festividades  e  galas  do 


Dictzedby  Google 


baptisado  do  príncipe  ímperínl  D.  Affonso,  um  pomposo 
bymoo,  que  taolos  gabos  mereceu,  que  o  mioistro  do  im- 
pério João  Carlos  Pereira  de  Almeida  Torres,  depois  vis- 
conde de  Macahé,  em  carta  de  18  de  Fevereiro  de  1645, 
agradeceu  em  nome  do  Imperador  ao  artista  seu  primoroso 
trabalho. 

Os  serviços  prestados  ao  paiz  e  és  artes  pelo  notável  ar- 
tista eram  dignos  de  galardio,  e  o  Imperador  aio  demo- 
rou-sa  em  concedél-o,  boorando  o  musico  com  o  habito 
da  ordem  da  Rosa  por  decreto  de  5  de  Março  de  18i6,  da- 
tado no  palácio  da  cidade  de  S.  Paulo. 

Dotou  o  corpo  legislativo  o  conservatório  de  musica  com 
16  loterias,  cujo  producto  devia  ser  empregado  em  apólices 
da  divida  publica  para  fundo  e  manutenção  do  estabeleci- 
mento, que,  não  lendo  edifício  apropriado  para  funcclonar, 
foi  inslallado  em  um  saUo  do  muséo  nacional  em  10  de 
Agosto  de  1848,  achaado-se  presente  o  ministro  do  impé- 
rio, o  conselheiro  José  Pedro  Diasde  Carvalho. 

Contratada  para  o  Rio  de  Janeiro  uma  companhia  de 
canto  e  baile,  que  em  i8Sl  colheu  npplausos  e  avantaja- 
dos (ucros  no  espaçoso  salfio  do  theatro  provisório,  foi 
Francisco  Manoel  nomeado  seu  director,  e  exerceu  gratui 
lamente  esse  afanoso  cargo,  no  qual  patenteou  seu  amor  e 
dedicação  pela  arte. 

Não  havendo  no  conservatório  uma  directora  a  quem 
fossem  confiadas  as  jovens  que  queriam  applicar-se  á  arte 
musical,  requereu-se  ao  ministro  do  império  paro  estabele- 
cer a  aula  do  sexo  feminino  no  collegioda  íiociõdade  Amanle 
da  InstrucçSo,  tendo-se  oblido  prévio  consnnti mento  do 
conselho  da  mesma  sociedade ;  e  autorisando  o  ministro,  o 
Dr.  T.uíi  Pedreira  do  Couto  Ferraz,  a  remoção  d'essa  aula, 
começou  ella  a  funccíonar  em  10  di;  Novembro  de  1853  na 
casa  n.  10  da  rua  dos  Barbooos,  regoodo-a  interinamente 


Dictzedby  Google 


—  31!  — 

Francisco  Manoel,  e  cnmo  mestre  effectlvo  desde  f(  de  Fe- 
vereiro de  1855. 

Tendo  iacertose  tardios  recursos  e  estando  mal  organi- 
sado,  não  marchava  o  conservatório  desassombradamente  ! 
porém  o  ministro  do  império,  o  conselheiro  Luiz  Pedreira 
do  Coulo  Ferraz,  reorganisou-o  por  decreto  de  23  de 
Janeiro  de  18K5,  ficando  desde  então  esse  estabelecimento 
sob  a  ímmmediata  inspecção  do  ministério  do  império. 
Inaugurou-se  em  H  de  Março  d'esse  anno  a  aula  de  contra- 
ponto, crearam-se  duas  de  iastrumeotos  de  corda  e  duas 
de  instrumentos  de  sopro,  e  ficou  vaga  a  aula  de  canto 
para  opportuoamente  ser  preenchida.  Por  decreto  de  14 
de  Maio  do  mesmo  anno  passou  o  conservatório  a  formar 
a  quinta  secção  da  academia  das  Bellas-A.rtes,  congraçan- 
do-se  em  um  só  templo  a  pintura  com  a  musica,  Apelles 
com  Therpandro,  Raf;iel  com  Rossini. 

O  fundador  e  mestre  do  conservatório  recebeu  do  Impe- 
rador, em  2  de  Abríl  de  1857,  o  oflicialato  da  ordem 
da  Rosa. 

Quando  as  condecorações  premiam  valiosos  serviços 
prestados  ãs  letras,  ás  artes,  ao  paiz,  quando  cabem  em 
cidadãos  de  mérito  lilterario,  artístico  ou  civil,  tém  dupli- 
cada e  refulgente  significação,  illustram  quem  as  dá  e 
quem  as  recebe;  são  como  a  Inz  do  sol,  que  apezar  de 
reilectir-se  em  milhares  de  corpos  não  perde  seu  brilho 
impervio. 

Desejando  tornar  móis  relumbranle  a  festa  inaugural  da 
estatua  equestre  do  fundador  do  império,  prop6z  Francisco 
Manoel  a  celebração  de  um  Te-Deum  executado  em  pleno 
ar  por  grande  instrumental,  e  incumbindo-se  de  dir^ir 
a  orchestra,  composta  de  242  instrumentistas  e  653  can- 
tores, com  tanta  mestria  o  fez  que  o  próprio  monarcba 
elogiou-o. 


Dictzedby  Google 


Apreciando  as  qualidades  arlisticas  e  pessoses  de  Fraocis- 
CO  Manoel,  eaviou-Ibe  a  sociedade  Mosical  Gampesiua, 
fundada  em  13  de  Abril  de  1851,  o  diploma  de  sócio 
hoQorario  em  30  de  Setembro  de  1862.  Um  anno  depois, 
em  IS  de  Março  de  I86S,  assistia  o  artista  ao  lançamento 
da  pedra  fundamental  do  edificio  do  conservatório  de 
musica,  monumento  ei^ido  is  artes  pelos  seus  afanosos 
esforços  e  incessante  dedicação. 

Vibraram  sempre  agitadas  pelo  patriotismo  as  cordas 
sonoras  da  lyra  de  Francisco  Manoel ;  ao  cfa^r  ura  dos 
muitos  balalbões  de  bravos,  quevoluntariamenle  correram 
ao  campo  da  guerra  em  desforço  do  pavilbfio  nadonat,  avoe- 
jou  a  musa  do  artista  entoando  um  hjmno  de  guerra.  Fo- 
ram também  compostas  por  elle  as  matinas  de  S.  Francisco 
de  Paula,  musica  que  em  cada  nota  resvala  melodia. 

Escuipturando  o  vutlo  d'este  artista  nio  devemos  occuU 
lar  por  entre  louvores  e  gabos  sous  defeitos;  não  tinha 
Francisco  Manoel  a  imagina^^,  o  génio  fecundo  do  José 
Mauricio  -,  penoso  estudo  e  aturado  trabalbo  eatretoceram- 
lhe  a  corda  que  cingiu-lhe  a  fronte  j  mas  ha  uma  com- 
posição sua  de  verdadeira  inspiração  artisUca,  é  o  hymno 
nacional.  Ainda  bem.  Os  raios  da  inlell^ncia  divina  illumi- 
naram  a  fronte  do  artista  quando  cantou  o  hymno  da  pátria. 
Eram  eminentes  as  qualidades  moraes  de  Francisco 
Manoel ;  para  elle  a  honra  era  um  culto,  a  probidade  lei 
absoluta  e  a  virtude  uma  fé.  Casado  em  primeiras  núpcias 
com  D.  Mónica  Rosa  da  Silva,  e  em  segundas,  em  36 
do  Jnnho  de  183S,  com  a  vínva  D.  Theresa  Joaquina 
Nunes  dos  Santos,  que  lhe  trouxe  cinco  filhos,  criou-os 
Francisco  Manoel  com  desvelo  e  carinho,  deu-lhes  apri- 
morada educação,  não  mostrando  ter  mais  amor  a  seus 
filhos  que  a  seus  enleados,  o  procedeu  sempre  assim  para 
não  ouvir  o  menor  écho  de  censora  contra  seu  caracter ; 


Dictzedby  Google 


—  313  — 

era  homem  puro,  simples,  affavel  e  Ibano,  e  o  menor  úa- 
gimeoto  DUQca  mascarou-Ibe  o  semblante. 

Em  18  de  Dezembro  de  1865,  na  casa  n.  48  da  rua 
do  Conde,  vía-se  prostrado  em  um  leito  um  velbo  com 
o  roslo  pallido  e  descarnado,  olhos  empanados  e  membros 
lividos  e  inteiriçados-,  observavam-no  os  tilhos  e  amigos 
occultando  lagrimas  e  abafando  gemidos ;  estava  o  ancião 
calmo,  resignado  e  como  enlevado  em  meditação  profunda, 
quando  repentinamente  agitado  pelo  sopro  algido  da  morte 
estremeceu,  agonisou  e  succumbíu.  Acabavam  os  fiibos  e 
amigo:^  de  Francisco  Manoel  de  perder  seu  pai  e  amigo, 
e  a  corporação  musical  do  Rio  de  Janeiro  seu  cbefe. 

No  dia  seguinte  teve  jazida  no  cemitério  de  S.  Francisco 
de  Paula  o  corpo  do  musico  e  compositor  notável ;  a  pátria 
espargiu  flores  sobre  esse  tumulo,  e  incumbiu  ao  Instituto 
Histórico  de  dizer  á  posteridade  quem  era  o  morto  que 
alU  dormia;  ouviu  o  Instituto  a  voz  da  pátria,  e  cumpriu 
sua  missão. 

Dr,  Morara  de  Azevedo. 


TOMO   XXXI,    P,    II 


Dictzedby  Google 


AUTAS  DAS  SESSÕES  EH  186S 

SESSÃO  EXTHAORDIMÍRU  em  5  DE  MARÇO  Dí  1868 

Pntidmeia  do  Sam.  Sr.  amtelkeiro  de  Mitado  visconde 
de  5apuca^ 
A's  6  bons  d&  tarde,  achando-se  reunidos  na  sala  do 
iQBtitato  os  Srs.  visconde  de  Sapocaby,  cónego  Fernandes 
Pinheiro,  Drs.  Sonsa  Fontes,  Carlos  Honório  e  Harqnes 
de  Carralbo,  conselbeiros  Bohan  e  Clandio  Luiz  da  Cosia, 
Coruja,  Drs.  Pinheiro  deCampos,  Pereira  Pinto,  Gabaglia, 
Horeira-de  Azevedo,  Silva  Rio,  Alencastre  e  A.  de  Pascoal, 
o  Sr.  proNdenle  abria  a  sessio,  e  declaroa  qne  a  tioha 
convocado  afimde  nomear  ama  commissSo  do  seio  do 
iDsUtato  para  felicitar  a  S.  M.  o  Imperador  e  com  elle 
coDgratular-se  pelo  brilhante  feilo  das  armas  íraperiaes, 
obtído,  DO  dia  ts  de  Fevereiro  nltimo,  pelas  forças  de 
mar  e  terra  contra  o  Paragiiay,  e  duplamente  pela  memo- 
rável passagem  de  Hamaílá,  effectusda,  com  geral  admi- 
ração, pela  esqaadra  brasileira. 

O  Institnlo,  ouvindo  com  jubilo  as  palavras  do  Sr. 
presidente,  naanimemente  adoploa  a  moçSo ;  nomeando 
eolSo  o  Sr.  presidente  a  referida  comnoissão,  qae  ficoa 
composta,  não  só  de  todos  os  membros  presentes,  como 
de  todos  08  mais  membros  qae  qnizessem  fazer  parle 
d'ella ;  para  o  qae  se  daria  conhecimento  com  a  pabli- 
caçSo  d'es(a  acta. 

Em  seguida,  o  Sr.  Dr.  Pereira  Pinto  tomando  a  palavra 
abandoa  em  patrióticas  coosíderaçoes  sobre  este  mesmo 
assomplo  e  apresentoa  as  segaíntes  propostas : 

l.*  <  Qae  o  lostitato,  cheio  de  admirarão  pelo  brilhante 
feilo  de  Hamaili,  consigne  om  voto  de  profando  e  ardente 


Dictzedby  Google 


—  315  — 

reeonheoimeDto  ao  exercito  e  armada,  aos  bravos  generaes 
marqaet  de  Caxias  e  visconde  de  Inhadoa,  ao  intrépido 
barSo  da  Passagem  e  ao  destemido  capiíao-teoeDle  Ma  uríQr- 

«  Sala  das  sessões,  etc.  > 

c  3.*  Como  testemunho  do  recoabecimeoto  pela  memo- 
ravet  jornada  de  Humailà,  feito  qae  lega  á  historia  pátria 
a  mais  brilhante  [>agÍD  a,  propcobO' para  sócio  honorário 
do  loslituto  ao  visconde  de  Inhaúma,  não  esleadendo  a 
mesma  proposta  quanto,  ao  marqnez  de  Caxias,  porque  já 
é  sócio  honorário  d'este  InsUtuto. 

■  Sala  das  sessões,  ele.  • 

SeDdo  aqaella  primeira  unaoimemeote  approrada,  e 
achando-so  esta  assígnada  por  todos  os  membros  preseo- 
tes,  na  forma  dos  eslatatos,  foi  remetlida  á  commlssSo 
de  admissã')  do  sócios  para  esta  dar  o  respectivo  parecer. 

E  não  havendo  mais  uada  a  tratar,  o  Sr.  presidee- 
te  convidou  a  todos  os  membros,  qoe  quízessem  fazer 
parle  da  commissão.  a  se  dirigirem  ao  pa^o  imperial  de 
S.  Christovão  no  sabbado  7  do  corrente,  ás  S  horas  da 
larde.  e  levantou  a  scssSo. 

Ciwlos  Eonorio  de  Figueirodo 
SBCRETAEIO  SCPHJaiTE 


!•  SESSÃO  EH  8  DE  HAlO  DE  1868 

SONHADA  COM  A  AUGUSTA  PKESBRÇA  DE  S.  H.  O  IIIPERADOR 

Presidência  do  Eam.  Sr.  comelheiro  de  Estado  visconde 
de  Sapucahy 
A's  7  horas  da  tarde,  achaado-se  presentes  os  Srs. 
visconde  de  Sapncaby;  Dr.  Macedo,  Joaquim  Norberto, 
cónego  Fernandes  Pinheiro,  Drs.  Carlos  Honório,  Moreira 
de  Azevedo,  conselheiros  Cláudio  e  Freire  jUlemão,  Coruja, 


Dictzedby  Google 


—  316  — 

Drs.  Homem  de  Mello,  Capaaema.  Marques  de  Carvalho, 
Miguel  Aaloaio  da  Silva,  A.  de  Pascoal  e  teDeote-corooel 
Bolces,  e  PIobeíro  de  Campos,  aDounciando-se  a  chegada 
de  S.  M.  o  Imperador,  foi  o  mesmo  augusto  senhor  rece- 
bido com  as  honras  do  coslume,  e  lomaado  assento  o 
Sr.  presidente  abriu  a  sessão. 

Leu<se  e  approvoD-se  a  acta  da  sessão  extraordinária 
do  dia  5  de  Março  do  corrente  anno. 

O  Sr.  1°  secretario  deu  conta  do  expedient«,  que  constou 
do  seguinte : 

Um  aviso  do  Exm.  Sr.  ministro  do  Império,  coro  data 
de  8  de  Janeiro  do  presente  anno,  declarando,  em  res- 
posta ao  ofticío  do  Sr.  1*  secretario,  de  24  de  Dezembro 
próximo  passado,  que  ficava  inteirado  do  resultado  da 
eleição  a  que  esle  Instituto  procedeu  para  os  lugares  da 
mesa  adminíslrativa  e  commissões. 

Dito  do  Exm.  Sr.  minísiro  de  estrangeiros,  de  28 
de  Novembro  próximo  passado,  declarando,  em  solução  do 
ofiicio  qne  o  Sr.  presidente  d' este  Instituto  lhe  dirigiu,  que 
opportuoamente  expedirá  ordem  para  se  verificar  a  (ras- 
ladação  dos  restos  mortaes  do  desembai^ador  Rodrigo  da 
Silva  Pontes  da  cidade  de  Buenos-Ayres  para  esta  ca- 
pital.—Inteirado. 

Dito  do  Sr.  direclor  geral  da  secretaria  de  estrangeiros, 
remettendo  por  ordem  de  S.  Ex.  o  Sr.  ministro  d'aquella 
repartição,  o  6°  lomo  da  CoUecção  dos  documentos  inéditos 
do  Àrchivo  das  índias. 

Dois  otíicios  do  Exm.  Sr.  secretario  do  senado,  remet- 
tendo ao  Iiistilutonm  volume  úíCollecção  dos  pareceres 
da  mesa  do  senado,  da  sessão  de  1S6T  ;  um  exemplar  da 
Collecção  dos  Annaea  c  um  volume  da  Sytwpse  dos  objectos 
pendsntes  de  deliberação. 

Dilo  do  Sr.  official-maior  da  secretaria  da  camará  do 


Dictzedby  Google 


-  317  - 

senhores  depatados,  eoviando,  por  deliberação  da  mesma, 
a  collecçSo  de  seos  Ánnaes  de  1867,  em  !(  velames. 

Officios  dos  Srs.  presidentes  das  proTincias  do  ParaDá, 
Alagoas,  Rio-Grande  do  Sal,  Bahia,  Aaiazonas  e  Sei^ipo, 
rcmetleodo  rarios  Belatorios  e  coUecções  de  leis. 

Carla  do  Sr.  Dr.  Aolonio  Pereira  Pinto  enviando  ao  Insti- 
(alo  epara  serem  distribuídos  aos  sócios  presentes  á  sessão, 
diversos  exemplares  da  saa  obra  com  o  título  Estudos 
sobre  algwnas  questões  intemacionaea. 

Officio  do  rosso  corsdcío  o  Sr.  Dr.  José  Maarício 
Fernandes  Pereira  de  Barros,  communicando  que  se  retira 
para  a  província  de  Pernambuco,  onde  deseja  ter  occasião 
de  prestar  serviços  ao  Instituto. 

Dito  do  Sr.  Dr.  Maximiano  Marques  de  Carvalho,  accu- 
sando  o  recebimento  do  oHicio  em  que  o  Sr.  1'  secretario 
lhe  commanica  baver  sido  eleito  membro  da  commissão 
de  revisão  de  manuscriptos  do  Institato  na  ultima  eleição 
a  que  procedeu  em  Dezembro  do  anão  passado,  decla- 
rando que  aceitava  o  encargo,  e  que  faria  todo  o  possível 
para  o  seu  bom  desempenho. 

Dito  do  Sr.  Boulanger,  nosso  consócio,  ofterecondo 
au  Inslilulo  um  exemplar  da  obra  Augusls  parmU  de 
lews  Magestés  VEmpereur  D.  Peih-o  II  et  L7mperoírtce 
0.  Tberesa  C^rislina  Maria. 

Diio  do  Sr.  secretario  geral  da  sociedade  Auxiliadora 
(la  Industria  Nacional,  remelteodo,  por  ordem  do  runselbo 
administrativo  da  mesma,  uma  collecção  de  seus  jornaes 
e  publicações  sobro  differentes  assumptos,  e  pedindo  que 
este  Institato  a  contemple  com  uma  collecfão  de  suas 
Revistas. 

Dito  do  Sr.  Luiz  H.  Ferreira  de  Aguiar,  cônsul  geral 
do  Império  do  Brasil  nos  Estados-Unidos  da  America, 
cobrindo  outro  do  Sr.  secretario  do  Instituto  Smithsonian 


Dictzedby  Google 


—  S18  — 

de  WasbiE^D,  em  qne  aecasa  o  recebimento  das  Reristas 
do  tastital')  Histórico  remettidas  pelo  Sr.  1*  socrelarío. 

Dilo  do  Sr.  secretario  porpetao  da  Real  Academia  de 
Sciencias  de  Madrid,  accosando  a  recepção  das  nossas 
Revistas  TMoettidas  iquella  academia  pelo  Sr.  1"  secre- 
tario, e  agradecendo  a  offerta. 

Carla  do  Sr.  Emin.  Uais  remetteado  as  soas  obsenrações 
astronómicas.    ■ 

Dita  do  Sr.  secretario  da  sociedade  de  Archeologia  da 
Bélgica,  coDTidaodo  o  Instituto  a  entrar  em  retaçSe»  scien- 
tifioas  com  aqoella sociedade,  collaborando  para  realização 
dos  Gos  de  sua  instiluição. 

Dez  cartas  do  Sr.  Dr.  Cezar  Anguslo  Marques,  nosso 
consócio  residente  na  provincia  do  Maranhão,  acompa- 
nhadas das  segaiotas  offertas:  Tarios  números  do  Pu- 
bUeador  Saranhmse,  onde  foram  publicadas  as  biogra- 
pbias  dos  1*,  2*,  3°,  4*,  5*  e  6*  bispos  do  Haranhdo ;  vários 
números  'do  Semanário  Maranhense,  contendo  artigos 
sobre  o  canal  do  Arapahy,  Instituição  da  Santa  Casa  da 
misericórdia  do  Maranhão ;  hospiíaes  da  misericórdia,  mi- 
litar e  Laiaros.  casa  dos  expostos,  cemitério  velho,  e  do 
GaviitO;  Relatório  com  que  o  Dr.  Francklin  Américo  de 
Menext»  Dória  passou  a  administração  da  província  do 
Maranhão  ao  Sr.  Dr.  António  Epaminondas  de  MeUo.  — 
MemoriahistoricaàaadminislraçãoprovinciíU  do  bacharel 
Francídin  Américo  de  Menetes  Dória,  no  íforanWo ;  Artí- 
gos  históricos  sobre  a  igreja  de  S.  Pantaleão,  no  Maranhão. 
—Almanak  histórico  delambrançat  brasileircu  \  Carla  con- 
tendo  a  historia  da  capella  da  câmara  municipal  ou  ca- 
pella  municipal  do  Maranhão,  e  um  retrato  do  desembar- 
gador António  Rodrigues  Velloso  de  Oliveira. 

Carta  do  Sr.  Joaquim  da  Silva  Mello  Guimarães,  en- 
viando um  mappa  das  fragatas  portuguezas  que  se  incor- 


Dictzedby  Google 


—  819  — 

poraram  à  armada  do  snl,  darante  os  aonos  de  1774 
até  1776. 

Dita  do  Sr.  Dr.  Sataraino  de  Sousa  e  OlWeíra,  da  cidade 
de  Loanda,  remetteado  os  seus  Elementos  grammaíicaes  da 
Imffua  Bundu. — Essai  de  grammaire  pongwée;  et  Diction- 
naire  (rançais  wolof  e  wolof-français,  par  lesR  R.  P  P. 
Hissionaires,  Dakar,  1865. 

Dita  do  Sr.  AEfonso  de  Castro,  offerecendo  a  soa  obra 
sobre  possessSés  portaguezas  oa  OceaDia. 

OFFERT&S  FEITAS  AO  IKSTITDTO  : 

Pelo  Exm.  Sr.  cooselheiro  JoSo  Máooel  Pereira  da 
Silva:  Le  Brésilcontemporain,  races,  nueurs,  instituíiotu,- 
paysage,  colonisaíion,  efe.,  par  Adolphe  ifAssis,  Paris, 
1867,  ÍD-8; — L' Industrie  modeme  au  champ  de  Mars,  coup 
d^oeii  aur  Pexposilion  wiiversel  de  1867,  in-4 ;  —  Lista  dos 
eoniratoi  que  tem  a  capitania  do  Rio  de  Janeiro,  elC-, 
(maouscripto) ;  Carla  patente,  nomeaado  familiar  do  Santo 
officio  da  cidade  de  Lisboa  a  Aotooio  Borges  de  Carvalho 
em  1761  (maaoscripto) ;  Histoire  de  la  navigation  de  Jean 
Huffuea  de  Linachot,  Hollandois  aux  Indes  orientales,  ete. 
Avec  awwtations  de  B.  Paludanus. — Les  Campagnts  dt 
Duguay — Trouin,  com  estampas.— Le  Nouveau  etgrand 
illuminant  flambleau  de  la  mer^  1684. 

l>elo  Sr.  José  Ricardo  da  Silva  Neves,  Memoria  sobre  a 
cafec/ieH  e  ctvíítsapõo  dos  indioa  do  Braãi,  Maranhão, 
1867,  folheto. 

Pelo  Instituto  da  Ordem  dos  Advogados  Brasileiros,  a 
soa  Beoista  da  Agosto  a  Dezembro  de  1867,  s  vol. 
Pelo  Instituto  de  Coimbra,  o  sen  jornal. 
Pela  reJacção  da  Gazeta  Medica  da  BahiOf  17  nomeros 
do,sea  joroal. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  390  — 

Pela  Sociedade  de  Geographia  de  Paris,  3  nameros  dos 
seus  BoUtint. 

Pelo  lostituto  Histórico  de  França,  3  aumeros  do  Inva- 
tiç^odor,  joraal  do  mesmo  insUlnto. 

Pela  redacçfto  do  jornal  Bahia  lUtatrada,  4  aamerus 
do  seu  jornal. 

Pelo  Sr.  Dr.  Higael  Ferrejra  Vieira,  as  snas  RefUxões 
acerca  do  progretso  materiai  da  provinda  do  Maranhão. 
Pelo  Sr.  José  Silvestre  Ribeiro,  Quadros  de  litteralura, 
das  sfíiencias  e  artes  ruiRussia,  por  It.  Lzovitich,  precedido 
d'nm  rápido  lance  de  vista,  por  José  Silvestre  Ribeiro. 
Pulo  Sr.  Dr.  Anionio  Udnriqaes  Leal,  por  int«rmedio 
do  Sr.  conselheiro  Cláudio,  Curso  de  lilteratura  por 
Francisco  Sotero  dos  Reis,  professado  n.j  Instituto  das 
Uumanidadea  dapromruÀa  do  Maranhão. — Almanak  admi- 
nistrativo para  186% ;  e — Poesias  de  António  Joaqmm 
Franco  de  Sd. 

Todas  as  offertas  o  loslitalo  recebeu  com  agrado. 
Offiuios  dos  E&iDS  Srs.  marquez  de  Caxias  e  visconde 
Inhaúma,  agradeuendn  as  felicitares  que,  por  intermédio 
do  Sr.  1*  secretario,  lhes  dirigiu  o  Instituto,  por  occasião 
da  gloriosa  jornada  de  19  de  Fevereiro  ultimo,  cujos 
teores- são  os  seguintes  : 

c  Commaudo  em  chere  de  todas  as  forças  brasileiras  e 
interino  dos  exércitos  allíados  em  operações  contra  o 
governo  do  Paraguay.  Quartul-general  era  Paré-Cué,  8 
de  Abril  de  1868.  Itlm.  Sr.  —  Com  muita  satisfação  re- 
passado de  profundo  reconheci  mento  recebi  e  li  a  cópia 
da  acta  da  sessão  do  Instituto  Histórico  e  Geographico 
Brasileiro  celebrada  nu  dia  S  do  mez  de  Março  próximo 
passado,  e  qae  V.  S.  me  remeiteu  por  ordem  do  mesmo 
Instituto,  de  que  é  digno  1*  secretario,  em  seu  oilicio 
datado  de  11  do  mesmo  mez. 


Dictzedby  Google 


«  Recebendo  a  delicada  manifestação  de  sens  senlimen- 
tos,  que  pelos  successos  do  dia  4?»  de  Fevereiro  do  cor- 
rente aDno  resolveu  unanimemente  o  Instituto  ITislorino  e 
Geographico  Brasileiro  dirigir-me  e  ao  esercito,  e  agra- 
decendo do  fundo  d'alma  Unta  e  Ião  distincla  honra, 
rogo  a  V.  s.  de,  em  meu  nome,  supplicar  ao  Instituto  a 
graça  de  permitiir  que,  declinaniio  de  mim  todo  o  direito 
a  essa  manifestação,  eu  a  passe  integralmente  ao  exercito, 
que  lenho  a  gloria  e  ufania  de  commandar. 

«Se  o  Instituto  Hislorico  e  Geographico  Brasileiro  en- 
tende em  sua  sabeiloria  qae  o  acto  de  havermos  eu  e  meus 
camaradas  d'armas  cumprido  n'es9e  dia  nosso  dever  me- 
rece ser  elevado  á  altura  de  extraordinário,  tornaodo-se 
por  isso  digno  de  encómios,  se  julga  que  para  a  sanli 
causa  que  «  Brasil  e  seus  alliados  suslenlam  no  Paraguay 
resultaram  d'esse  dia  vantagens,  eu  e  o  exercito  mui  fol- 
gamos por  haver  concorrido  para  que  o  Instituto  Histórico 
e  fteographico  Brasileiro  possa  guardar  no  archivo  de  tra- 
dições gloriosas  para  o  Braail  aqnella,  qne  parece,  se- 
gundo suas  expressões,  estar  ligida  ao  dia  19  de  Fevereiro. 

«  Associandn-me.  dorainailo  p!'la  justiça,  au  profundo  e 
ardente  reconhecimento  que  o  Instituto  manifesta  á  ar- 
mada,aoseucommandante  em  chef«\  visconde  delnhaúma, 
ao  barão  da  Passagem  e  ao  c;>pílão-teoente  Maurity,  o 
agradecendo  em  seus  nomes  ao  Instituto,  terminarei  decla- 
rando que  muito  devidamente  apreciei  a  distincçSo  com 
que  elle  honrou  ao  visconde  de  Inhaúma,  conferindo-lhe 
u  titulo  de  seu  sócio  honorário.  De  certo  eu  invejaria  essa 
dislincção,  se  já  niío  tivesse  a  honra  .subíJa  de  pertencer 
ao  grémio  do  Instituto  Histórico  e  Gengrapbico  Brasileiro. 

«Deus  guardeaV.S.—ífítrguea  de  Coxins,— Illm.eRijvm. 
Sr.  cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fernandes  Pinheiro,  l-se- 
cretariodo  Inslitoto  Histórico  e  Geographico  do  Brasil,» 

TOKO  XIXt,  P.  II  41 


DictzedbyGoOglC 


—  329  — 

<  Cominando  em  chefe  da  rofça  oaval  do  Brasil  em  ope- 
rações coQtra  o  gove>[M  do  Paraguay,  bordo  do  vapor 
iVincexa,  em  freote  a  Curupaíty,  14  de  Abri)  de  1808.— 
Illm.  e  Revm.  Sr.  —  Teobo  presente  a  cópia  da  acta  da 
sessilo  extraordioaria  do  Instituto  Histórico  e  Geograpbico 
Brasileiro,  qne  V.  S.  me  fez  a  bonra  de  enviar  com  o  seu 
officio  de  12  de  Março  próximo  passado. 

«  Á  enfermidade  que  me  retém  no  leito  de  dAr  ba  viole 
e  quatro  dias  não  me  permitte  responder  desde  já  condig- 
namente a  esse  documento,  que  eleva  a  esquadra  do  mea 
commando,  e  a  mim  próprio,  a  uma  altura  invejável  para 
qualquer  cidadão,  qne  ame,  como  nós  amamos,  de  todo 
o  coraçiio  o  sen  (laiz  e  lhe  dedi'|ue  sua  vida. 

I  Posso  afCrmar  a  V.  S.  que  a  esquadra  recebeu  com  o 
maior  prazer  a  importante  demonstraç^ío  qne  lhe  é  diri- 
gida pela  primeira  corpora^^o  scientifica  do  Gslado,  da 
qual  Ibe  dei  conhecimento  opportunamente.  Rogo  à  V.  S. 
que,  como  digno  órgão  d'essa  illustre  corporação,  seja 
perante  ella  o  interprete  da  alta  consideração  e  respeito 
qne  lhe  tributamos,  eu  e  aquelles  que  servem  debaixo  de 
minhas  ordens. 

«  Se  aprouver  ao  Altíssimo  restitnir-me  a  saúde,  terei  a 
honra  de,  com  mais  vagar,  tratar  do  assumpto  a  que  se 
rerere  o  oflicio  que  na  presente  occasião  respondo. 

Deus  guarde  a  V,  S.  —  Visconde  de  Inhaúma,  comman- 
dante  em  chefe.  —  Illm.  e  Revm.  Sr.  cónego  Dr.  Joaquim 
Caetano  Fernandes  Pinheiro,  1*  secretario  do  Instituto 
ní!4lorico  e  Geograpbico  Brasileiro,  t 

finalmente,  foi  rcmellida  á  commissAo  de  fundos  e 
orçamento  a  carta  dirigida  ao  Instituto  pelo  Sr.  commen- 
dador  José  Luiz  Alves,  procurador  geral  da  ordem  terceira 
dos  Hinimos  de  S.  Francisco  de  Paula,  a  respeito  da  tras- 
ladação das  cinzas  do  finado  marechal  Raymundo  José  da  - 


Dictzedby  Google 


—  323  — 

Cunba  Mattos,  que  existem  em  uma  uroa,  o'aqueUa  ordem , 
para  o  seu  cemitério. 

Achaado-se  a  hora  adiantada,  o  Sr.  presídeate,  obtendo 
vénia  de  S.  H.  Imperial,  levaolou  a  sessãii. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo, 
Secretario  supplente. 


2'  SESSÃO  EM  2â  DE  MAIO  DE  1868 

HONRADA    COM    A   AUGUSrA    PRESENÇA    DE    S.    M.   O  IMPKRAW) 

Presidência  do  Exm.  Sr.  senador  barão  do  Bom-Reíiro 

As  6  horas  da  tarde,  achaodo-se  presentes  os  Srs.  barão 
do  Boui-Retiro,  eonego  Fernandes  Piaheiro,  Drs.  Carlos 
HoDoiio,  Moreira  de  Azevedo,  Pinheiro  de  Campos,  con- 
sfilheiros  Freire  Aliemào  c  Cláudio,  senador  barão  de 
S  Lourenço,  Silv;i  Rio,  Drs.  Saldanha  da  Gama,  Capanema 
e  Miguel  António  du  Silva,  lendo  antes  se  retirado,  por 
incommodados,  os  Srs.  Coruja  e  Borges,  aonunciou-se  a 
chegada  de  S.  M.  o  Imperador,  e,  sendo  o  mesmo  augusto 
Senlior  recebido  cora  as  honras  do  eslylo,  o  Sr.  1°  vico- 
presiJente  abriu  a  sessão. 

Lida  a  acta  da  antecedente,  foi  approvada. 

O  Sr.    V  secretario  deo  conta  do  seguinte 

EXPEDIEHTE 

Uma  participação  do  Exm.  Sr.  presidente,  viscoode 
de  Sapiicahy,  de  níio  poder  comparecerá  sessão  por  in- 
commodado. 

Um  otficio  do  Sr.  presidente  da  província  da  Bahia,«- 
mcttcndo  para  a  bibliotheca  d'este  Instituto  um  exemplar 


Dictzedby  Google 


do  Relatório  cem  tine  abriu  a  assembléa  (egislaliva 
cfaqueUa  provinda,  no  dia  1  de  Síarço  do  corrente  anno. 
Dito  du  Dosso  consócio  o  Sr.  Dr  BfiiphaDio  Caadído 
de  Sousa  Pitanga,  agradecendo  a  nomeacSo  de  membro 
da  commissão  de  geograpliia,  para  que  Tora  eleilo  na  ulti- 
ma eleição  a  que  procedeu  o  Instituto  em  Dezembro  pró- 
ximo passado 

Três  cartas  docuDsocio  o  Sr.  César  Augusto  Marques, 
da  1'iilade  do  M.irariliào,  acompanhadas  das  seguintes  of- 
ferlas  :  Planta  da  cidade  de  S.  Laiz  do  Maranhão ;  Retra- 
tos pliulographjcos  do  Exin.  Sr.  visconde  de  Sapucahy, 
quando  presideiiio  du  pruàiui;!  d)  Majanliâo,  e  capitães- 
goneraes  1).  Aotouiu  do  Saldanlia  tia  Garoa,  capitão  de 
fragata  da  anuadu,  real  e  de  Bernardo  da  Silva  Pinto,  por 
antonomásia  o  Dente  d'alho;  e  Folhinha  seaUar  compos- 
ta por  (1.  U.  Dingée. 

Revista  da  Sociedadi!  Auxiliadora  da  Induslria  Nacio- 
nal do  mez  de  Março  do  corrente  anno,  remeltida  pelo 
Sr.   íecrelario  da  mesma. 

O  tomo  8"  do  Diccionario  bibliographico  portuguez, 
renK'tlid.ipi>rscu  autor  o  Sr. Inuocencio  Francisco  daSilva. 
Dois  números  do  jornal  liakia  Illuslrada,  remettidos 
pela  respectiva  redacção. 

Vaiios  follitlos  da  Escola  Central  e  Especial  d'Architec- 
tura  de  França,  oíTencidos  [lelu  Sr.  Dr.  Saldanlia  daGyma. 
(>  Sr  Dr.  Miguel  António  da  Silva  apresentou  por  parte 
dii  Sr.  Dr.  D.  Juan  Villanova  y  Pieri.  professor  de  geolo- 
gia rj  Faculdade  de  Screncias  de  Madrid,  Cartoí  topo- 
graphicas  dos  districtos  de  Madrid,  Garabáncliel  bajo  y 
Titalcia,  levantadas  pela  Junta  Geral  de  Statistica  de  fies- 
panka. 

'Collecção  de  leis  do  Império  do  Brasil,  do  anno  de  18tí7, 
rcmetiida  pelo  Sr.  administrador  da  typograpliia  nacional. 


Dictizedby  Google 


—  32Õ  — 

Varíus  joroaes  e  periódicos  remettidos,  pelas  lespeclivas 
redacções. 

Tutlas  as  ullerlas  são  recebidas  com  agrado. 
ORDEM  DO  DIA 

Lea-se.  e  licou  sobre  a  mesa,  o  parecer  da  commissão 
subsidiaria  de  trabalhos  geographicos,  dado  sobre  o  i(t- 
nerario  da  Cruz  Alta  ao  Campo  Novo  da  provinda  de  S. 
Pedro   do  Sul,    feito  peln  Sr.  Scbotel. 

Leram-se.  e  taciibem  ficaram  subre  a  iiicsii,  dois  parece- 
res da  CDiQDaissão  de  fundos  e  orçamealo;  o  l*  subre 
as  coQlas  du  Sr.  tbesoureiru  d»  aiiQO  fiodu,  e  orçameDto 
da  receita  e  despeia  do  presenie,  e  o  2°  sobro  a  des- 
peza  que  o  loslitulo  tem  de  fazer  com  a  urna  para  en- 
cerrar ns  ciQias  de  seu  fundadur,  marechal  Raymundo 
José  da  Cuiibd  Mattos. 

Ficou  lambem  subre  a  mesa,  para  ser  velado  na  próxi- 
ma st!S3ã'i,  o  paracer  da  cunimissão  de  admissão  de  sócios, 
sobre  a  admissão,  para  membro  bonorario  do  Instituto, 
do  Exm.  Sr.  visconilo  de  luhaúmj. 

Foi  approvado  em  escrutínio  o  parecer  da  u<esm»  com- 
Qiissão  de  admissão  des<icios,  favorável  á  admissão  do  Sr. 
Dr.  Luiz  Francisco  da  Veiga.sendo  este  senhor  proclamado 
pelu  Sr.  presidente,  membro  correspondente  do  Instilalo. 

LEITURA 

O  Sr.  1*  secretario  cónego  Fernandes  Pinlieiro  leo 
uma  parte  da  Biographia  do  general  José  de  Abreu  (  barão 
do  Serro-lMrgo ),  «cripta  e  idTerecida  ao  lnslituto  peio 
Sr.    Dr.  José  Maria  da  Silia  Paranhos  Fillio. 

A's  8  huras  o  Sr.  presidente,  obtendo  vénia  do  S.  H. 
Imperial,  levantou  a  sessão. 

Carlos  HoTiorio  de  Figueiredú, 

SECRETARIO  SVPPLEKTE. 


Dictzedby  Google 


—  326  —  ' 

3*  SESSÃO  EM  5  DE  JUNHO  DE  1868 

ÍHADA  COM    A    AUGUSTA    PRESENÇA    DE   S.    M.  O    lliraRADOIt 

Prcíúíencío  do  Exm.  Sr.  visconde  de  Sapucahy 

A.'s  6  horas  da  tarde,  achando-se  reunidos  os  Srs.  vis- 
ide  de  Sapucahy.  barão  do  Bom-Reliro,  cónego  Fer- 
odes  Pinheiro,  Carlos  Honório,  Moreira  de  Azeredo, 
nselheiro  Cláudio,  Marques  de  Carvalho.  Capanema,  Co- 
ja.  Ribeiro  de  Almeida,  Saldanha  da  Gama.  SilvaBio. 
nheiro  de  Campos,  Pinlo  Júnior  e  Miguel  Anlonio  da 
va,  annunciou-se  a  chegada  de  S.  M.  o  Imperador, 
e  foi  recebido  com  as  honras  devidas.  Em  seguida  o 
.  presidente,  obtendo  vénia,  abriu  a  sessão. 
Lida  e  approvada  a  acta  da  anterior,  passou-se  ao  ejpe- 
onte,  que  constou  do  seguinte  : 
Um  aviso  do  Sr.  ministro  do  império,  remeltendo  para 

Instituto  seis  tomos  da  CoUecção  de  documentos  tneái- 
s  relativos  ao  descobrimento,  conquista  e  organisação 
w  antigas  possessões  hespanholas  da  America  e  Oceanta. 

Três  ofiicios  do  Sr.  Dr.  César  Augusto  Marques,  acom. 
anhados  dos  Semanários  Maranhenses,  onde  se  acham 
opressos  os  seus  artigos,  um  sobre  a  agricultura,  nO" 
ortação,  exportação  e  tributo  do  algodão  da  província  do 
aranhão,  outro  sobre  a  freguezia  e  villa  de  Analajuba, 

o  3"  sobre  o  cemitério  inglez  da  cidade  do  Maranhão. 
em  como  um  exemplar  do  fíeswmo  da  Historia  do  Brasil, 
icripio   por   D.  Herculana  Firmina  Vieira  de  Sousa. 

Dito  do  Sr.  António  Alves  Ferreira,  remetiendo  um  exem- 
lar  da  sua  obra  Hidrologia  geral. 

Offertas  feitas  ao  Insliluto: 

Pelas  secretarias  do  império  e  fazenda,  os  Behlorioí 


Dictzedby  Google 


que  os  Exms.  miDHiros  )l'esias  repartições  apresentaram 
á  assembléa  ^eral  lei^islativa  na  actual  sessão. 

Pelo  Instituto  Histórico  de  França,  um  numero  ilo /n- 
vestigador,  jornal  publicado  pelo  mesmo  instituto. 

Pela  Sociedade  de  Geographia  de  Paris,  os  seus  Bole- 
tim dos  mezes  de  Fevereiro  c  Março  do  corrente  anno. 

Peio  Sr.  Vivien  de  Saint-Martin,  L'Année  géographiqtte, 
reuue  annuelle  des  voyages  de  terre  et  mer,  7"*  année,  Paris, 
1868. 

Pelo  Sr.  Dr.  António  Henriques  Leal,  os  dois  primeiros 
volumes  das  Obrax  posthumas  do  Dr.  Gonçalves  Dias,  de 
que  o  mesmo  oltertante  é  editor. 

Vários  jornaes  e  periódicos,  remettidos  pelas  respecli- 
Tas  redacções. 

Todas  as  oíTertas  são  reci'bidas  com  agrado. 

ORDEM  DO  Dli 


O  cónego  Fernandes  Pinheiro  propòz  para  sócio 
correspímdcnte  do  Instituto  o  Sr.  Vivren  de  Saint- 
Martin.  presidtintii  da  Sociedade  de  Geographia  de  Paris, 
membro  de  outras  socii>dades  e  autor  da  obra  Ann^e  G^o- 
graphique,  servindo-lhe  ellade  Ululo  de  admissão.— Na 
forma  dos  Estatutos,  fui  a  proposta  fumettida  á  commis- 
são  de  admissão  de  sócios. 

PARECERES  APPROTADOS 

Foi  unanimemente  approvado  o  parecer  da  commissão 
de  admissão  de  sócios,  sobre  a  admissão  do  Exm.  Sr.  ?ice- 
almiraote  visconde  de  Inhaúma  para  membro  honorário 
do  Instituto. 


Dictzedby  Google 


Foi  approvado  o  pirecer  da  commíssão  de  faados  e  or- 
çamento, sobre  a  despeza  de  250$,  qae  sr  tem  de  fazer 
para  serem  gaarJadas.  em  jazigo  periielao,  as  cinzas  do 
finndo  marechal  Uaymundo  Jo'4é da  Cunha Matlos,  modos 
fundadore<>  do  Insliluto. 

Foi  igaalmento  approvado  o  parecer  da  mesma  com- 
missio  de  faodos,  dad»  sobre  as  conias  do  Sr.  tbesoa- 
reiro  relativao  an  anno  Ondo,  e  fixando  a  receita  e  despeza 
do  presente  anno  social. 

Finalmente,  foi  remettido  ácommissão  de  admissão  de 
sócios  o  Itinerário  da  Cruz  Alia  ao  Campo  Novo  da 
provinda  de  S.  Pedro,  escriplo  pelo  Sr.  Ambaaer  Sctm- 
tel,  conjuQctamente  com  o  parecer  dado.  sobre  o  mesmo 
Itinerário,  pela  commissão  subsidiaria  de  trabalhos  geo- 
t;raphicos ,  visto  serrir  de  titnio  de  adminsão  o  dito 
Itinerário. 

LEITURA 

O  Sr.  Dr.  Joã»  Ribeiro  de  Almeida  proseii^iu  na  leito- 
ra de  suas  Considerações   sobre  a  acclimataçâo  das  raças 
hitmanas  para  servirem  ao  estudo  da  colonixação  do  fíraail. 
A's  K  hor.is  o  Sr.  presidente,  obtendo  vénia  de  Sua 
Magestade,  levantou  a  scssSo. 

Carlox  Ronorio  de  Figueiredo, 
SECRETARIO  SDPPLEPrrE.      . 


DictizedbyGoOJ^Ic" 


—  8a»  — 

'  4*  SESSÃO  EH  19  DE  JUNHO  DE  18G8 

HONRADA   COM    A   AUGUSTA.   PRESENÇA   DE  S.    H.    O   IHPERADOR 

Presidência  do  Exm.  Sr.  visconde  de  Sapucaf^ 

A's  6  horas  da  tarde,  acbando-se  presentes  os  Exms. 
Srs.  visconde  de  Sapucaby,  cooego  Feraaades  Piabeiro, 
Carlos  HoDorio,  Coruja,  conselheiros  Freire  Allemão  e 
Claadio,  teoentã-coronel  Xavier  de  Brito,  Drs.  Saldaaha 
da  Gama,  Pinheiro  de  Campos,  Miguel  António  da  Silva. 
Bonlanger  eDr.  J.  M.  da  Silva  Paranhos  Júnior,  aimun- 
cioa-se  a  chegada  de  S.  H.  o  Imperador,  que  foi  recebido 
com  as  honras  do  estylo,  e  (omoa  assento.  O  Sr.  presi- 
dente, obtendo  vénia,  abriu  a  sessão. 

Lúu-se  e  approvou-se  a  acta  da  antecedente. 

O  Sr.  1°  secretario  deu  conta  do  expediente,  que  cons- 
tou do  seguinte: 

Participação  do  Exm.  Sr.  barão  do  Bom-Raliro  de  não 
poder  comparecer  ã  sessão  por  incomuodo. 

Um  ofScio  do  Sr.  Jo3o  Carlos  Pereira  Pinto,  cônsul  geral 
do  Brasil  em  Baeaos-Ayres.  declarando  ter,  em  executo 
d'ordeQS  do  miaislerío  de  estrangeiros,  feito  embarcar  a 
bordo  do  vapor  nacional  Recife,  com  destino  a  esta  corte, 
03  restos  mortaes  do  desembargador  Rodrigo  da  Silva 
Pontes:  eremettendo  os  documentos  das  despezas  Teitas. 
por  conta  d' este  Instituto,  com  a  exhumaçSo  e  Iranspurte 
dos  mesmos  restos  mortaes. 

Dito  do  nosso  consócio  o  Sr.  Dr.  F.  T.  M.  Homem  de 
Mello,  enviando  o  Itinerário  da  viagem  feita  pelo  capitão 
Joaquim  António  Xavier  do  Valle  á  provinda  de  Mato- 
Grosso,  pelos  rios  Tibagy  e  Brilhante,  em  1855. 

Dito  do  Sr.  padre  Lino  do  Monte  Carmelo  Luna,  remet- 
tendo  um  exemplar  da  Descripção  das  exéquias  solemnes 

TOKO  XXXI,  P,  II  42 


Dictzedby  Google 


-  830  - 

do  Exm.  general  D.  Venanno  Flores,  ceMtradai  .na  cidade 
de  Pernambuco,  em  ci^o  eiempUr  vem  aaoexa  a  oração 
fuaebre  qae  o  mesmo  Sr.  padre  Lído  recitou,  por  essa 
ocasião,  na  tribaoa  sagrada. 

Uiiu  do  Sr.  Dr.  Antooio  de  Castro  Lopes,  aeompaabado 
d'am  exemplar  de  sua  obra  Musa  lalina,  ou  collecção  de 
Jyrat  de  M.  de  Di/rceu  tradmidat  para  verto  latino,  que 
offerece  ao  iDatiluLo. 

Dois  officios  do  Sr.  Dr.  Gesar  Angasto  Marques,  remet- 
teado  08  Semanários  Maranhenses  ds.  3S,  40  e  41 ,  onde 
vAm  impressos :  um  artigo  sobre  a  historia  do  cdUíto  do 
arroz  em  Maraablio,  e  a  historia  da  Ordem  Carmelitana  da 
mesma  proviocia. 

Pelo  Eim.  conselheiro  J.  H.  Pereira  da  SiWa  foi  remet- 
tido  ao  InstitDlo,  como  contiauação  de  offerla,  o  tomo  7*  e 
ultimo  de  sua  Historia  da  fundação  do  Império  do  Brasil. 

Pela  sociedade  Uaíão  BeneGceacia  Commercio  e  Artes, 
dois  exemplares  do  Relatório  da  mesma,  apresentado  em 
sessio  d'assembléa  geral  de  26  de  Janeiro  do  corrente 
anno. 

Todas  as  offerlas  sSo  recebidas  com  agrado. 
ORBEH  DO  DIA 

Os  Srs.  Drs.  Saldanha  da  Gama  e  Silva  Paranhos  Júnior 
occnparam  a  altençâo  do  InsUtnto,  lendo :  o  1*.  a  Iiitro- 
ducçAo  e  1"  parle  da  Biographia  do  natwalisia  Fr.  José 
Marianno  da  Conceição  Velíoso;  e  O  2*,  am  capiloto  da 
Biographia  do  general  José  de  Abreu  (barão  do  Serro 
Largo). 

Levantoa-se  a  sestôo  ás  8  boras. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo 

SBCHBTAHIO  SUPPLENTE. 


DictizedbyGoOJ^IC 


S*  SESSÃO  EM  3  DE  JULHO  DE  1868 

HONRADA  COH    A    AUGUSTA    PRBSEHÇA    DE    S.    H.  O   IMPERADOR 

Pretidencia  do  Exm.  Sr.  visconde  de  Sapucahy 

A'3  6  boras  dx  tarde,  achando^se  reaoidos  na  satã  do 
Instituto  os  EiDa<i.  Srs.  visconde  de  Sapacabj,  bailio  do 
Bom-KeUro,  Drs.  Macedo,  cónego  Fernandes  Pinheiro, 
Carlos  Honório.  Coruja,  conselheiros  Clandio  e  Freire 
Allemão,  Drs.  Saldanha  da  Gama,  Ribeiro  de  Almeida, 
barão  de  S.  Lourenço,  Braz  Rabim,  Pinto  JaQÍor.Laiz 
Francisco  da  Veiga,  Miguel  António  da  Silva.  Paranhos 
Júnior  e  Epíphanio  Cândido  de  Sousa  Pitanga,  aonuu- 
ciou-se  a  chegada  de  S  M.  o  Impendor,  e  sendo  o  mesmo 
augosto  senhor  recebido  com  as  honras  do  eslylo,  o  .Sr. 
presidente  abriu  a  sessão. 

Leu-se  e  approrou-se  a  acta  da  sessão  anterior. 

O  Sr.  1°  serretarío  deu  conta  do  seguinte 

EXPEDIENTE 

Cirtado  Sr.  Francisco  José  Borges,  cominunicaacto  que, 
por  se  achar  doente,  não  podia  comparecer  à  sessão. 

Officio  do  Sr.  director  da  sticrntaria  d'Estado  dos  ne- 
gócios listrangeiros,  traosmittindo  um  pacote  com  livros 
que  a  Academia  Real  de  Scieaciasda  Bélgica  remette  ao 
Institnio  Histórico  por  intermédio  da  legação  brasileira 
n'aquelle  reino. 

Diiu  do  Sr.  presidente  da  província  do  Amasonns,  re- 
meltendo  dois  exemplares  du  Regulamentado  1*  dê  Âoasto 
de  1867,    que    reformou    a    admii 
^'aqaeila  provinda. 

OIQcio  do  Sr.   Or.  António  Henri 
ao  Instituto    um  exemplar  da  obra 


Dictzedby  Google 


—  3S2  — 

cisco  Manoel  com  o  litnlo  E^cho  politico  em  Portugal, 
e  um  manuscriplo  sobre  a  revolução  e  levaote  em  Per- 
nambaco  dos  anãos  de  1710  e  1711. 


Pela  Sociedade  Geographica  de  Paris  foi  ofTerecidoo 
seu  Boletim  do  mez  áe  Abril  do  corrente  anno. 

Pelo  Sr.  Dr.  Ricardo  Gumbleton  Dannt  The  catue 
poorCatholic  imigrants  pleaded  before  the  catkoliccongrest 
ofBelgiwn.  Seíemfeer,  1867. 

Petas  secretarias  d'Estado  dos  negócios  cslrangeiros  e 
da  jnstifa,  os  Aeía/ortos  que  os  Srs.  ministros  d'eslas  re- 
partições apresentaram  á  assembléa  geral  legislativa  na 
presente  sessão. 

Pela  Sociedade  Auxiliadora  da  Industria  Nacional,  o  sea 
ÂtixUiador  do  mez  de  Maio  do  corrente  aono. 

Pela  redacção  da  Bahia  Illustrada,  o  numero  69  do 
sea  periódico. 

Pelo  Sr.  Dr.  Joaquim  António  Pinto  Júnior,  as  seguin- 
tes obras  :  Uma  excursão  á  comarca  de  Iguape  em  1866  ; 
—  O  charlatão  Expelly  e  a  verdade  sobre  o  conflicto  entre  o 
Bratil,  Buenos-Ayres,  Monlwiàéo  e  o  Paraguay  ;e — Dis- 
curso pronunciado  perante  o  tribunal  do  jury  da  ddadfi 
de  Santos  pelo  Dr.  Joaquim  António  Pinto  Júnior  na 
accQsação  de  Henrique  Begbie  e  seus  13  co-réos  pelo  as- 
sassinato de  Nicoláo  Cbrist,  etc. 

Pela  Academia  Real  das  Sciencias  de  Lisboa :  Quadro 
elsmentw  das  relações  politicas  e  diplomáticas  de  Portu- 
gal co"i  as  diversas  potencias  do  mundo,  pelo  visconde 
de  Santarém,  2  vol.  i' i— Corpo  ãiplomalico  poríugwz, 
Conluudo  os  actos  e  relações  politicas  e  diplomáticas  de 
Portugal,   publicado,  por  ordem  da  Academia  Real  das 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  383  — 

ScieDCias,  por  Luiz  Augusto  Rebsllo  da  Silva,  tomo  2°  ; 
e— Memorias  d'aeademio,  1  vot.  folio. 

Ptíla  Academia  Real  da  Bélgica,  Baletins,  Memorias 
coroadase  Annaes  de  meteorologia,  pablítiados  pela  mesma. 

Vários  ioraaes  e  periódicos,  remelUdos  pelas  respecti- 
vas redacs^s. 

Todas  as  offerlas  são  recebidas  com  agrado. 

ORDEM  DO  DIA 

O  Sr.  Dr.  João  Ribeiro  d' Almeida  coDtinauu  com  a  lei- 
tura da  sua  Memoria  sobre  a  acdimação  das  raças  Au- 
manas,  para  servir  de  est^ido  d  colonisação  do  Brasil ;  e 
o  Sr.  Dr.  Saldaaba  da  Gama  proseguiu  na  leilara  da  Bio- 
graphia  de  Fr.  José  Marianno  ia  Conceição  Velloao. 

A's  8  horas  da  noite  o  Sr.  preaiiíenle,  obtendo  vé- 
nia de  S.  M.  o  Imperador,  levantou  a  sessão. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo 
SBCHETARIO  SUPPLEHTE. 


6-  SESSÃO  EM  17  DE  JULHO  DE  1868 

HUHHADA  CON  &  AUGUSTA  PRESENÇA  DB  S.  H.  O  IMrERADPR 

Presidência  do  Exm.  Sr.  visconde  de  Sapucahy 
A's  O  horas  da  tanle,  acbaiido-su  reunidos  na  sala  do 
Instituto  os  Srs.  visconde  de  Sapucahy,  barão  do  Bom- 
Retiro,  Joaquim  Ttorberto,  Drs.  Sousa  Pontes,  Carlos  Bo- 
uorlo.  Pinheiro  de  Campos,  conselheiro  Cláudio,  Ribeiro 
de  Almeida,  Cunija,  tenente-coronel  Xavier  de  Brito,  Sal- 
danha da  Gama,  Filgueiras  e  barão  du  S.  Lourenço,  an- 
nuncioo-se  a  chegada  de  S.  H.  o  Imperador,  que  sendo 
recebido  com  as  honras  do  costume  e  tomando  assento, 
o  Sr.  presidente  visconde  de  Sapucahy  abriu  a  sessão. 


Dictzedby  Google 


—  33*  — 

Lida  pelo  Sr.  secretario  sappteote,  Dr.  Carlos  Hodo  - 
rio,  a  acta  da  anlecedente,  foi  appmvada. 

O  Sr.  Dr.  Sousa  Pootes,  2*  secretario  servindo  de  V, 
deu  conta  do  expediente,  que  constou  do  seguinte  : 

Um  officio  do  Sr.  1*  secretario  cónego  h'ernaiides  Pi- 
nheiro, em  que  comoiunica  não  poder  comparecer  k  sessão 
por  iocommodado. 

Três  olficios  do  Sr.  Dr.  César  Augusto  Marques,  remet- 
teuão:  o  numero  73  do  Paix,  publicado  no  Maranhão, 
onde  vêm  impressas  as  biographias  de  D.  Jaciutho  Carlos 
da  Silveira,  D.  José  do  Menino  Jesus  e  D,  Juaquim  Fer- 
reira de  Cirvalho,  7*.  8*  e  9*  bispos  do  Maranhão ;  Gii- 
pía  da  ode  composta  pelo  ex-presidunte  da  província  do 
Maranhão,  Pedro  José  da  Costa  Barros,  quando  na  mesma 
província,  em  1836,  se  Tustejou  o  feIJz  annívorsario  de 
S.  M.  o  Impera Jor;  O  Iniice  aiphabetico  das  leis,  de- 
cretos e  avisos  relativos  á  incompatibilidade  na  aecuma- 
lação  dos  cargos  e  empregos  pablicos,  pelo  Dr.  Oví- 
dio da  Gama  Lobo ;  e  os  Pensamentos  e  máximas  do 
Dr.  Frederico  José  Corrêa. 

Relatórios  das  repartições  de  marinha  e  da  agricultura, 

apresentados  á  assemblía  geral  na  presente  sessãa,  re- 

inettídos  au  Instituto  pelas  respectivas  secretarias  d'Estado. 

Catalogo  geral  da  Ej^posição  Univerml  de  Paris,  offert!- 

cido  pelo  Sr.  Ur.  Masiniiaiio  Marques  de  Carvalho. 

Vários  jornaes  c  periódicos,  reineltidus  pelas  respecti- 
vas redacções. 
Todas  as  oftertas  foram  recebidas  com  agrado. 

ORDEM  DO  DIA 

Leu-se.  e  foi  remettida  á  commissão  de  admissão  de 
sócios,  a  seguinte  proposta  : 


Dictzedby  Google 


—  335  - 

Propamos  para  sócio  correspoodeote  do  losUlato  His- 
lorioo  e  Geugraphico  Brasileiro  o  Dr.  Eduardo  de  Sá  Pe- 
reira de  Castro,  eoffareceDaosparaservirile  titulodesua 
admissão  am  eiemplai-  dos  seus  Heróei  Brasileiros,  no 
campanha  do  StU  em  1865  ;  obra  comprehendtda  aa  letra 
dos  estatutos.  Rio  de  Janeiro,  em  17  de  Julho  de  1868.  — 
Ih.  Caelano  Alves  de  Sousa  Filgueiras.  —  Bacharel  Pedro 
Torquato  Xavier  de  Brito.  —  Carlos  Honório  de  Figuei- 
redo. 


O  Sr.  Dr.  Saldanha  da  Gama  cootiauou  com  a  leitura  da 
Biographia  de  Fr.  José  Marianno  da  Conceição  Veiloso. 

A's  8  horas,  o  Sr.  presidente,  obtendo  vénia  de  S.  H. 
o  Imperador,  levantou  a  sessão. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo 

SECRETARIO  SUFPLBNTB. 


7'  SESS.VO  EM  7  DE  ACOSTO  DE  1868 

HONRADl  CUH  A  AUGUSTA  PRESBNÇA  DE  S.  M.  O  IMPERADOR 

Presidência  do  Exm.  Sr.  visconde  de  Sapucaky 

\'s  G  horas  da  larJe,  achaodo-se  reunidos  na  sala  do 
iDslituto  os  Srs.  visconde  di  Sapucahy,  cónego  Fernan- 
des Pinhi'iro,  Drs.  Carlos  Honório,  Moreira  de  Azevedo, 
Pinhuiro  de  Campos,  conselheiro  Cláudio,  Braz  Rubim, 
(enentu-coroniil  Xavier  de  Brito  e  Drs.  Saldanha  da  Gama, 
Luiz  F.  da  Veiga,  e  Corujn,  annuaciou-se  a  chegida  de 
S.  M.  o  Imperador,  que,  sendo  recebido  com  as  honras 
do  estylo,  tomou  assento,  e  em  seguida  o  Sr.  presidente 
abriu  a  sessão. 


Dictzedby  Google 


—  J»8  — 

Lan-se  e  approTou-se  a  acta  da  anterior. 

O  Sr.  l'  secretario  den  conla  do  expediente,  que  constou 
do  seguiiíle : 

Officio  do  Sr.  preâdeoleda  profincia  do  Rio-Grande 
do  Sul,  remettendo  o  Relatório  comqaeo  seu  anteces- 
sor Dr.  Francisco  Ignacio  Marcondes  Homem  de  Mello 
passoQ-lbe  a  administração  da  mesíoa. 

Dito  do  Sr.  presideote  da  proíincia  do  Amasooas,  re- 
mettendo differenles  Relatoriot  da  presidência  d'aquella 
província. 

Quatro  ditos  do  Sr,  Dr.  César  Augnslo  Marques,  re- 
mettendo o  segainte:  ReUtíorio  gue  d  assembléa  provin- 
cial do  Marimfiâo  dirigiu  o  Sr.  Dr.  Manoel  Janten  Fer- 
reira, í*  vtce-preaidmte  da  provinda ;  quatro  números 
do  5emaTMirio  Maranhense,  onde  se  acbam  impressas  a 
bií^raphia  o  bailas  de  D.  Frei  António  de  Padoa,  9* 
bispo  do  MaranhSo ;  Historia  do  Convento  de  Nossa  Se- 
nhora das  Mercês  da  mesma  província ;  —  Direitoi  e  deve- 
res dos  estrangeiros  no  Brasil,  escripto  pelo  Dr.  Ovidio 
da  Gama  Lobo,  e  —  jWuafimos,  sentenças  e  provérbios  do 
padre  CyriUo  dos  Reis  Lima. 

O  Sr.  Dr.  Sousa  Fontes  communica  que,  por  se  acbar 
incomm"dado,  nao  pôde  comparecerá  sessão,  eremette 
os  snguioles  folhetos,  que  seu  autor  o  Sr.  Dr.  Nicoláo 
Joaquim  Moreira  offerece  ao  Instituto  :  Coníiiíwapõesffe- 
raes  sobre  o  suiãdio,  discurso  prommciado  perante  S.  M. 
o  Imperador,  ele.; — Duas  palavras  sobre  a  educação  moral 
da  mulher,  discurso  prommdado  perante  S.  M.  o  Impe- 
rador; —  Oufurso pronunciado  em  nome  da  Academia  Im- 
perial de  Medicina  na  sessão  anniversaria  do  Instituto 
dos  Bacharéis  em  Letras  ;  —  Relatório  da  cwnmissâoespe- 
ci<il  nomeada  pela  Âcadmnia  Imperial  de  Medicina  para 
iníerpâr  seu  parecer  sobre  a  memoria  do  Dr.  José  Luiz 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  337  — 

da  Costa  —  O  que  é  a  sauile  ?  O  que  é  a  doença  ?  e  —  Re- 
latório medico-legal :  Exame  de  sanidade  feilo  pelos  peri- 
tos da  justiça  sobre  a  pessoa  do  Dr.  José  Marianno  da 
Silva  em  13  de  Abril  de  1867. 

0KFERTA8  FBITAS  AO  WSTITUTO 

Pela  secróUria  da  gaerra,  tiin  exemplar  Ao  Relatório 
a,>re3eDtado  á  assemblóa  geral  Da  sessão  do  corrente 
anão,  pelo  Sr.  iDÍDistro  d'aquella  reparlição. 

Pelo  Sr.  tenente-coronel  Pedro  Torqoato  Xavier  de 
Brito,  manascripto  coatendo  Historia  do  assedio  eren- 
dição  da  praça  da  Colónia  do  Sacrannento,  em  31  de 
Miiio  de  1777. 

Pela  Imperial  Sociedade  doa  N:ituralisias  de  Moscow, 
2  volumes  deseus  Boíeítns. 

Peln  Sociedade  Porlugucza  de  Beni'ficeniúa  do  Rio  de 
Janeiro,  o  Relataria  apruseotado  á  mosma  pela  admi- 
nistração 6  parecer  da  commissiio  de  contas. 

Pelo  Sr.  padre  Joaquim  Pinto  de  Campos,  Polemica 
Religiosn,  refutação  ao  Ímpio  opúsculo  que  tem  por  titulo 
O   Deos  dos  JudSns  e  o  Deos  dns  Christãos. 

Peto  Sr.  lenenle  Alfredo  d'Esrngnolle  Taunny,  Scenas 
de  viagem— Exploração  entre  os  rios  Taquary  e  Aquidaua- 
na,  no  distrido  de  Miranda,  em  a  provinda  de  Hnto- 
Grosso. 

Pela  Academia  Re.il  de  Napules,  Memorias  e  actas  da 
mesma,  dosannos  de  1863  a  1867. 

Pelo  Sr.  Dr.  Joaquim  Manool  de  Macedo,  por  parte  do 
Sr.  Dr.  J,  F.  Carneiro,  fazendeiro  da  província  de  Minas, 
vários  aulograplios  do  desembargador  Thomaz  António 
(jonzaga. 

P.;Ia  redac\-íÍoda  Gazeta  Medica  da  Rnkin,  uru  nuTiero 
do  seu  jornal. 

TOMO  XIXI,  p.  11  *3 


Dictzedby  Google 


Vários  jornaea  e  periódicos,  remettidos  pelas  respecli- 
vas  redacções. 
Todas  as  offerbs  são  recebidas  com  agrado. 

ORDEM   DO  DIA 

Leram-se  as  seguintes  propostas  .- 

4.*  Propomos  parasocioscorrespondeolesdo  Inslítoto 
Histórico  e  Get^raptilco  Brasileiro  os  Srs.  Dr.  Joaquim 
Jerooymo  Feroandes  da  Canha,  conselheiro  José  Marti- 
niaoo  d'Aleacar  e  Antooio  Ferreira  Viaooa,  servindo  de 
lilulos  de  admissão  numerosos  trabalhos  de  historia  lít- 
teraria  e  politica,  antiga  e  contemporânea,  eihibidos  na 
imprensa  e  na  tribuna  parlamenlar  e  indiciaria,  e  uma 
coliecção  de  3S  obras  que  offerece  o  1*  proponente. 
Sala  das  sessQes  do  Instítato  Histórico  e  Geographico 
do  Brasil,  em  3  de  Julho  de  1868.  —  Luiz  Franeitco  da 
Veiga.  —  Migwl  Ântomo  da  Sitoa.—  José  Maria  da  Silva 
Paranhoi  Jvnior.  —  Epiphanio  Condido  de  Sousa  Pitan- 
ga. —  Saldanha  da  Gama.  —  C.  H.  de  Figueiredo.  — 
A.  A.  Pereira  Coruja.  —  Remettida  á  commissSo  de 
admissão  de  sócios. 

i.*  Proponho  para  sócio  correspondente  do  Instituto 
Histórico  e  Geographico  Brasileiro  o  Sr.  Alfredo  d'Es- 
cragnolle  Taaaay,  1*  tenente  d'arttlheria,  engenheiro 
get^rapho,  bacbaiel  em  letras  e  mathematicas,  e  aator 
das  Scenas  de  viagem  :  Exploração  entre  os  rios  Taqua- 
ry  e  Aquidauana  no  districto  de  Miranda,  provineia  de 
Mato-Grosso,  pelo  mesmo  senhor  offerecidas  ao  Instítato. 
Sala  das  sessões,  em  7  de  Agosto  de  1868.  —  Cónego  Dr. 
}.  C.  Fernandes  Pinheiro.  A  requerimento  do  autor  fla 
proposta,  foi  o  trabalho  do  Sr.  Taunay  remettiilo  á  com- 


Dictzedby  Google 


—  339  ~ 

dqÍssSo  subsidiaria  de  geographia  para  e$ta  emiltír  sobre 
elle  parecor. 

Foram  lidos,  e  Qcaram  sobrea  mesa  para  serem  vola- 
dosn  a  próxima  sessão,  sete  pareceres  da  commissão  de 
admissão  Je  sócios,  conclainlo  qoe sejam  admittídos ao 
grémio  do  lostituto,  como  sócios  correspondentes,  os. 
Srs.  Heoriqae  AmbaaerSchatel,  José  Maria  Pinto  Peixoto 
Alexandre  Hí^do  de  Castilho,  Cavalleiro  José  de  Lucca, 
Revm.  padre  Brasseur  de  Boorboorg,  Vivien  de  Saint- 
Martin  e  bacharel  Eduardo  de  Sà  Pereira  de  Castro. 

O  Sr.  Dr.  José  de  Saldanha  da  Gama  proseguio  na  lei- 
tura da  Biographia  de  Fr.  José  Marianno  da  Conceição 
VeUoso. 

A'8  8  boras,  oSr.  presidente,  obtendo  a  imperial  ve- 
oii,  levantou  a  sessão. 

ReÍaç,io  dos  livros  offerucidos  pelo  Sr.  Dr.  Laiz  Fran- 
cisco da  Veiga,  a  qne  se  refere  a  proposta  sopra  : 

Noticiai  reconcUtas  sobre  a  Inquisição,  pelo  padre  A. 
Vieira. — Oração  fúnebre  dmemoria  do  senador  D.  A.Feijó. 
— Nitherohy  (poema) ,  pelo  cónego  Januário  da  Cunha  Bar- 
bosa. —  Relatório  da  commissão  de  visOa  ds  prisões,  con- 
ventos e  estabelecimentos  de  caridade.  Bio  de  Janeiro, 
1830. 

Glosaaria  linguarum  brasiliensium. 

Elementos  de  historia  nacional,  de  economia  politica,  por 
CG. 

Le  Koran,  traduction  par  Kasimirski. 

VEurope  révolvÀionnaire,  par  ivanGolovine. 

VAngleterre,    la    France,  la    Rwsie  et    la  Turquie. 

Relação  breve  e  verdadeira  daentrada  do  exercito  jrancez 
em  Porttigal.    Lisboa,  1809. 

L'Empéreur  Piap<^éon  III  et  VAngleterre,  l858. 

La  Lombardie  et  le  Vénetien,  18S8. 


Dictzedby  Google 


—  340  — 

UAtUriche  U  le  prince  Roumain,  18'>8. 
Politique  nationale,  par  «n  ancien  depute,  4859. 
Rome  el  ses  provinces^  IStiO. 

Li  nouvelle  carte  de  VEurope  par  E.  About,  1860. 
La  vériii  sur  les  évenements  de  Candie,  i858. 
La  Question  lonnienne  devatd  i'£urope  par  François  Le- 
normatU,  lK&í>. 
La  nouvelle  altitude  de  la  Frawe,  1860. 
LeUred'un  joumaliste  calkoUqae à  Monseigiieur  Vévéqm 
d'Orléans,  1860. 

Coiidamnotion  de  VAutrirJie,  185  ). 
LesRomaynes,parJ.  de  Saint-Ámand,  1860. 
fAngleterre   et  la  Russie  par  Amédée  de  Cesena,  1859 
L'AvenÍr  de  l''Europe  par  Fred.  d HainaiUt,   1830. 
LEmpéreur  NapoUon  III  et  les  principautés  roumainet. 
Aprés  la  guerre.  Recomtitution  de  Ui  Hongrie  par  Ámadét 
Le  Faure,  1859. 

La  Fruste  et  la  question  ilaiiennc,  18t>9. 
La  Prasse  en  1860  par  E.  Aòout. 
Venise,  complémcnl  de  la  qaetlion  ilaUenne  par  Hr. 
le  Comle  du  Hamel,  1860. 
La  Coalition,  1860. 

La  Hongrie  et  la  gemutnisatMn  aulrkkienne.  1860. 
Est-ce  la  paixf  Est-ce  la  guerre,  1859. 
La  paix  de  Zurich  el  le  nouaeau  congrés  européen. 
Carta  pastoral    do   Exin.  arcebispo   da  Bahia  sobre  o 
spiritismo. 

Corographia  brasílica  pelo    padre   Manoel    Ayres    de 
Casal,  1833. 


Dictzedby  Google 


—  311  — 
8-  SESSÃO  EM  21  DE  AGOSTO  DE  1868 

HONftA.nA    COH    A    AUGUSTA.    PRESENÇA    DE  S.   H-    O    IMPERADOR 

Presidência  do  Exm,  Sr.  visconde  de  Sapucaky 

i\'s  8  huras  da  Quite, achando-se  reuDidos  os  Gxins.  Srs. 
visconde  de  Sapucahy,  D.  l>o<>.iDgos  F.  SarmieDio,  Drs. 
Macedo,  cooego  Fernandes  Pinheiro,  Sonsa  Fontes,  Carlos 
Houorío,  Uureira  de  Azevedo,  conselheiro  Cláudio,  teoeDle- 
corooel  Xavier  de  Brito,  Drs.  Pinheiro  de  Cam|j03,  Fil- 
gueirus,  Paranhos  Júnior,  Saldanha  da  Gama  e  Boulaoger, 
aonuiicioD^se  a  chegada  de  S.  M.  o  Imperador,  que  foi 
recehído  com  as  hooras  do  estylo,  e,  lomando  assento, 
o  Sr.  presidento  ahriu  a  sessão. 

Lida  e  apijroTada  a  acta  da  antecedente,  o  Sr.  1'  secre- 
tario deu  cunta  do  expediente,  qae  constou  do  seguinte: 

Participação  do  Sr.  Comia,  de  não  poder  comparecer 
á  sessão  por  incommodado. 

Omcio  du  Sr.  barãu  do  Agiiapehy,  vice-presidente  da 
província  de  Mato-Grossu,  rcineltendo  am  exemplar  do 
Relatório  que  apresentou  ã  assemblóa  legislativa  d'aquella 
pruviacta  no  acto  de  sua  ÍnstalldV''io  em  3  de  Haio  ultimo. 

Bitu  do  Exm.  Sr.  harão  de  Melgaço,  rcmetieodo  uma 
cópia  da  Tahella  das  "posições  yeographicas  por  eUe  deter- 
minadas astronomicamente  na  província  de  Malo-Grosso ; 
e  um  Mappa  geographico,  chronologico  e  estatistico  da 
mesma  provinda. 

Dito  do  Sr.  Luiz  Aleixo  Boulanger,  romettondo,  por 
parle  do  Sr.  JosJ  Mircellinu  Pereira  de  Moraes,  o  Átlat 
GeograpMco  Universal  (in-folio)  por  Soherto  de  Vaugondy 
e  C.  F.  Deiamarche  \  e  por  parte  do  Sr.  Joaquim  Feliciano 
de  Almoíila  Lousada,  secretario  do  governo  da  provincia 


Dictzedby  Google 


—  s*s  — 

de  Mato-Gro680,  am  livro  manascriplo  contendo  Doca- 
mmto*  officiaet  portu^mxea  e  hôtpanhóet  relativo»  aoi 
limite*  do  Império  na  província  de  Mato-Groeso.  compi- 
ladoi  dé  ordem  do  minielro  da  marinha  pdo  então  capitão 
de  fragata  Avgutlo  Lmerger,  luije  chefe  de  egqiuidra,  barão 
de  Mdgaço,  com  ani  aato  original  da  fundação  do  forte  do 
Priocipe  da  Beira  na  mesma  prorincia. 

Carla  do  Sr.  Dr.  César  Aogosto  Marques,  remetiendo  ao 
Instilato  dois  nomeros  do  PvbUcador  Maranhente,  onde 
sabiram  impressos :  Caiias  desde  Aldêas  Altas  ate  a  creação 
de  sua  respectiva  comarca,  Arsenal  de  Harioba,  Assacar, 
Alfandega  do  Haraoh3o,  Ananaz,  Arado,  Armazém  de 
Pólvora  e  Arredai  do  Príncipe  Regente;  e  o  n.  62  do  Paiz, 
onde  sabin  impressa  a  acta  commemoraliTa  da  cotlocação 
da  4*  pedra  para  a  ediflcaçSo  da  igreja  matriz  de  Nossa 
Senhora  do  Rosário  da  rilla  do  mesmo  nome. 

Rdatorio  apretenlado  á  uuemòUa  geral  dot  afxioaittas 
do  Banco  do  Brasil  na  sua  reitnião  de  1868,  remetUdo  ao 
Instituto  pelo  Sr.  secretario  do  mesmo  banco. 

Reflexões  lobre  a  brochura  do  Sr.  Ch.  Expelly  —  Le 
BrésU,  Baenae-Áyra.  Montevideo  et  le  Paraguay  devant  la 
eivUitatiún,  offerecído  por  seu  anior  João  Carlos  More. 

Algumat  contiderações  a  re^iHo  da  historia  da  Imperial 
Sociedade  Amante  da  InstrucçXo,  etc.,  folheto  offerecido 
por  sen  íiutor  Laiz  José  de  Murínelly. 

Vários  jornaes,  remettidos  pelas  respectivas  redacções. 

Todas  as  oITerlas  são  recebidas  com  agrado 
ORDEM  DO  DIA 

Achando-se  a  hora  adiantada,  resolveu  o  Instituto  qae 
os  pareceres  da  coinmissão  de  admissão  de  sócios,  qoe 
haviam  ficado  sobre  a  mesa  para  serem  votados  n'esta 
ses^,  ficassem  adiados  para  a  seguinte. 


Dictzedby  Google 


—  34;^  — 

o  Sr.  Dr.  Saldanha  da  tiania  terminoo  a  leitura  da 
Biographia  de  Fr.  Joti  Mariarmo  da  Conceição  Velloto,  a 
qual  dedicou  a  S.  M.  o  Imperador. 
Levaotou-se  a  sessSo  às  9  horas  da  noite. 

Dr.  Souta  FonUt 
3*  SECRETARIO. 


d*  SESSÃO  EH  11  DE  SETEMBRO  DE  1868 

HONRADA   COH  A   AOCUSTA  PRESENÇA  DE  S.  H.   O  IHPER4D0R 

Prendencia  do  Bsem.  Sr.  visconde  de  Sapucahy 

A's  6  horas  da  larde,  achando-se  reunidos  oa  sala  do 
tnsliluto  08  Srs.  visconde  de  Sapucahy,  Drs.  Macedo, 
con^o  Fernandes  Pinheiro,  Sousa  Fontes,  Carlos  Honório, 
conselheiro  Cláudio,  Pinheiro  de  Campos,  D.  Francisco, 
tenente-coronel  Xavier  de  Brilo,  Drs.  Saldanha  da  Gama 
e  Paranhos  Júnior,  annuncioo-se  a  chegada  de  S.  M. 
n  Imperador,  qae  foi  recebido  com  as  honras  do  estylo,  6, 
tomando  assento,  o  Sr.  presidente  abriu  a  sessão. 

Len-se  e  foi  approvada  a  acta  da  antecedente. 

O  Sr.  1*  secretario  deu  conta  do  expediente,  que  constou 
do  seguinte : 

Um  oSicio  do  Sr.  Comja,  no  qual  participa  que  não 
pôde  comparecer  k  sessão  por  se  ar.bar  incommoJado. 

Dito  do  Sr.  conselheiro  director  da  secretaria  do  império, 
rogando,  de  ordem  do  Sr.  ministro  d'aqaella  repartição, 
que  o  Instituto  informe  se  possua  o  manoscriplo  on  a  tra- 
docção  em  francez  da  Detcripção  do  Estado  do  Maranhão, 
Pard,  Corvipá  e  Rio  Amazonat,  feita  por  Maurício  Heriarte, 
em  1662  —Ao  Sr.  1*  secretario  para  informar  sobre  a 
requisição. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  3*4  — 

Um  officio  do  Sr.  presidente  da  províocia  da  Bahia,  re- 
melteodo  ara  exemplar  das  Leis  e  r«»oliições  da  assembUa 
legiúahva  provincial,  lanccionadas  e  pubitcadds  no  cor- 
rmUa/nno. 

Dito  do  Sr.  prosideote  da  províocia  do  Amazonas,-  re- 
mettendo  dois  oiemplares  do  relatório  com  qw,  no  dia 
t*  de  Junho  abriu  a  atienUiléa  legiilativa  provincial. 

Dito  do  Sr.  presideate  da  proviDcia  do  Pará,  remelleodo 
um  eiempldr  de  cada  ama  das  CoUecções  de  lãs  d'aqaella 
província,  dos  aonos  de  1866  e  1867,  e  da  3'  parte 
de  1853  e  1856. 

Dito  do  Sr.  presidente  do  Honte  Pio  da  Bahia,  remet- 
tendo  o  Relatório  apreteníado  pelo  contelho  administrativo 
d  assembléa  geral  dos  aecumitlas,  no  corrente  anno. 

Dilo  do  Sr.  conselheiro  Manoel  da  Cunha  GalvSo,  romet- 
tendo  am  cxempUr  da  sua  obra  sobre  o  Melhoramento  do 
porto  de  Pernambuco. 

Dito  do  Sr.  Dr.  Caodído  Mendes  de  Almeida,  remel- 
tendo  um  exemplar  do  SfU  Atliu  do  Imporio  do  Brasil. 

Dito  do  Sr.  secretario  do  lasututo  da  Ordem  dos  Advo- 
gados Brasileiros,  remeltendo,  por  ordem  do  mesmo  (iisii- 
tuto,  o  n.  12  da  sua  Revista. 

UBRAS  OFFBRECIDAS 

Pelo  Sr.  J.  M.  P.  de  Vasconcellos,  um  exmplar  da 
Selecta  BrasUienie,  ou  Noticias,  descobertas,  observações, 
factos,  curiosidades,  em  relação  aos  homens,  á  historia  e 
cousas  do  Brasil. 

Pelo  Sr.  bjcharel  Eduardo  de  Sá  Pereira  de  Castro,  o 
n.  15  dos  seus  Heróes  brasileiros  na  campanha  do  Sul. 

Pela  secretaria  do  império,  os  Relatórios  dos  presídt!Dles 
djs  piovincias  do  Amazonas,  Píauhy  e  AlagAas,  e  CuUecção 


Dictzedby  Google 


—  8*5  — 

de  lei$,  regulamentos  e  outros  actos  expedidos  pelo  governo 
da  provmeia  do  Maranhão. 

Pelo  Eva.  Sr.  D.  Francisco  Balthazar  da  i^ilveira,  am 
fixemplar  do  Relatório  com  que  o  Sr.  presidente  da  pro- 
vinda do  Amazonas  abria  a  assembUa  provincial  no  dia 
i*  de  Junho  vitirrw. 

Pela  Sociedade  de  Geograpbia  de  Paris,  o  sen  Boletim 
do  mez  de  JuDho  do  corrente  anno. 

Pela  redacção  da  BaJiia  lUxutrada,  o  D.  83  do  sen 
jornal. 

Vários  periódicos  remettidos  pelas  respectivas  redacções. 

Todas  as  offertas  sSo  recebidas  com  agrado. 

ORDEM  PO  DIA 

Foram  onanimemente  approvados,  por  escnitioto,  os 
pareceres  da  comraissão  de  admissSo  de  sócios,  favoráveis 
aos  Srs.  E.  de  S.  Pereira  de  Caslro,  Cavalleiro  José  de 
Locca,  Henrique  Ambauer  Schatel,  Alexandre  Magno  de 
Castilho,  Tivien  de  Sainl-Hartin,  Rev.  padre  Brassear  de 
Bonrbourg  e  José  Maria  Pinto  Peixoto,  os  qnaes  pelo  Sr. 
presidente  foram  proclamados  sócios  correspondentes  do 
InstilQto. 

O  Sr.  Dr.  J.  M.  ^a  Silva  Paranbos  Júnior  prosegoiu  na 
leitnra  da  Biographia  do  general  José  de  Abreu  {barão  do 
Serro  Largo). 

Terminada  esta,  o  Sr.  presidente,  obtendo  vénia  de 
S.  H.  .0  Imperador,  levanton  a  sessão  às  8  horas. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo 
SECRETARIO   SUPPLENTE. 


TOMO  XXXI,  p.  n 


Dictzedby  Google 


—  346  — 
10*  SESSÃO  EH  35  DE  SETEMBRO  DE  1868 

BOMHIDI.    COH    Á  ÂUGDSTA   PRESENÇA    DE    S.    H.  O  IHPERADOK 

Pretidencia  do  Etr*.  Sr.  visconde  de  Sapucahy 

Ás  6  horas  da  tarde,  achando-se  reanidos  na  sala  do 
iDstilato  os  Srs.  visconde  de  Sapucaby,  Drs.  Macedo, 
cónego  Fernandes  Pinheiro,  Carlos  Honório,  Moreira 
de  Aze\edo,  Perdigão  Malheiro,  Capanema,  Pinheiro  de 
Campos,  Paranhos  Jaoior,  Braz  Rubim  e  teneole-coronel 
Xavierde Brito, annunciou-seachegada  deS.  H.  o  Impera- 
dor, qae  sendo  recebido  com  as  honras  do  estylo  e  tomando 
assento,  o  Sr.  presidente  abria  a  sessão. 

Lea-se  e  approvoo-se  a  acta  da  sessão  anterior. 

O  Sr.  1*  secretario  deu  conta  do  seguinte 

EXPEDIEtfTE 

Cartas  dos  Srs.  conselheiro  Cláudio  e  Coruja,  partici- 
pando que  por  doentes  não  podiam  comparecer  &  sessão. 

0£ãcio  do  Sr.  presidente  da  província  das  Alagdas, 
remettendo  dois  exemplares  do  Relatório  com  que  o  Sr. 
Dr.  António  Moreira  de  Barros  entregou  a  administração 
da  mesma,  no  dia  23  de  Maio  ultimo,  ao  Dr.  Graciliano 
Aristides  do  Prado  Pimentel. 

Dito  do  Sr.  Dr.  F.  I.  Marcondes  Homem  de  Mello,  re- 
mettendo um  exemplar  dos  seos  Escriptos  Histórico»  e 
lÃtterarios,  recentemente  pnblicados  n'esla  c6rte. 

Carta  do  Sr.  commeudador  Francisco  A.  de  Vambageo, 
do  seguinte  teor: 

«  Vienoa,  20  de  Julho  de  1S68. 

«  lUm.  Sr.  —  Peço  a  V.  S.  se  digne  levar  ao  conheci- 


Dictzedby  Google 


—  3i7  — 

mooto  d'ess6  iDstitulo,  que  na  minha  passagem  por  Paris 
tive  occasião  de  ver  o  mappi  feito  por  Gaspur  Viegas  em 
453i,  de  cuja  existência  o  publico  deveu  jo  Sr,  Fordinand 
Denisjo  ler  conhecimeoto. 

<  Este  mappa  Dada  tem  duorigioal.  Viegas  não  me  pareço 
ter  sido  verJadeiro  autor  du  mappa,  mas  simples  copia- 
dor, como  o  Toi  de  outra  carta  marítima,  que  se  acba  com 
a  do  Brasil,  na  mesma  pista.  N'esse  tempo,  em  lugar  de 
se  gravarem,  como  boje,  taes  mippas.  para  aso  dos  nave- 
gantes, copiavam-se  á  mão  em  vitella  ou  pergaminho  e 
havia  quem  d'isso  quisi  fazia  pro&jsHo. 

c  O  que,  entretanto,  se  coíbe  d'este  mappa,  privavel- 
menie  copiado  por  Viegas,  é  o  verem-se  n'elle  confirma- 
dos os  mesmos  dizeres  que  se  lém  nas  cartas  do  Brasil 
do  Lazaro  Luiz  (4563)  e  de  Vaz  Dourado  (4571),  respec- 
livos  ás  exploiafões  de  Harlim  Affoaso,  Diogo  Leite  e 
anteriores.  Enconiram-se  já  alli,  como  devia  succeder, 
visto  serem  anteriores  a  1534,  época  aliás  importante,  por 
ser  a  da  distribuição  do  Brasil  em  capitanias. 

d  Dois  inappas  sobre  o  Brasil  mais  importantes  que 
essas  cópias  se  encontram,  porém,  na  mesma  pasta  na 
Bibliotheca  Imperial  de  Paris.  São  originaes  e  dizem-se 
feitos  em  Dieppa  por  Jacqucs  de  Vau  de  Claye  em  4579. 

«  O  primeiro  d'estes  mappas  representa  o  Norte  da  costa 
do  Brasil  d'-sde  um  pouco  a  Oeste  do  Maranhão  até  o  rio 
Real.  Esle  mappa  patenlòa  quão  bem  informados  estavam 
os  franceses  acerca  d'esta  parle  da  nossa  costa,  e  nos 
revela  os  projectos  que  elles  tinham  de  guerrear  com 
vantagem  as  recentes  colónias  portuguezas  no  Brasil,  va- 
lendo-se  dos  indios  e  dos  recursos  do  paíz.  Para  outro 
lugar  reservo  o  d»r  d' esle  mappa  mais  individuada  ies- 
cripção. 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  848  — 

f  O  segando  mappa  representa  a  babia  do  Rio  até 
Cabo<Frío:  le  vrai  pourtraicí  de  Geneure  (sic)  et  da  cap 
de  (rie. 

I  Começando  do  Ho  d'Assucar,  a  que  chama  Pot  à 
beurre,  e  nu  cimo  do  qual  se  vè  ama  guarita,  assignala  em 
segaida  (no  Botafogo?)  àS  maisont  d  fere  [sic]  le  eucre,  e 
depois  a  que  se  diz  •  Rivière  d^eau  doulce,  et  »*appeU 
Carioca,  i  Segue-se  «  íci  on  pretUa  V  huille  »  e  logo  a  Olaria 
■  [La  briquetterie).  »  Vem  depois  o  morro  doCastello  com 
17  casas  a  a  igreja,  e  na  ponta  do  Calabouço  tUf&ri  de 
la  rivière.  »  Sobre  0  sacco  de  S.  ChrislovSo  (ao  parecer) 
lé-se  I  /cí  estie  coslé  pour  prendre  Genevre.  ■  Segue-se 
f  En  ce  lieu  sont  force»  sucreries  ■,  o  que  se  repete  sobre 
a  ilba  do  Governador. 

<  No  fundo  da  bahia  do  Rio  eslà  representada  a  aldêa 
<t  Syrisé »,  e  do  outro  lado  a  aldda  da  Jurujuba,  que  abi 
se  escreve  «  Jerijm.  » 

I  Creio  estas  informações  do  maior  interesse  histó- 
rico, e  penso  que  V.  S.  faria  serviço  au  publico,  ao  passo 
que  muito  me  obsequiaria,  se  Ifaes  déssc  lugar  na  nossa 
Reoiíta. 

«  Deus  guarde  a  V.  S.— lllm.  Sr.  serretario  do  Instituto 
Histórico  do  Rio  de  Janeiro.  —  F.  Ad.  de  Vamhagen.  » 


IVla  Sociedade  Etbnograpbica  de  Paris  foi  ufftírecido  ao 
Instituto  o  tomo  1*  da  sua  Revista.. 

Pela  Sociedade  Imperial  dos  Naturalistas  de  Moscou  os 
seus  Boletins  de  1865  e  1866. 

Vários  jornaes  e  periódicos,  remettidus  pelas  respectivas 
redacções. 

Todas  as  oSerlas  são  recebidas  com  agrado. 


Dictzedby  Google 


-  349  — 

ORDEM  DO  DIA 

0  Sr.  Dr.  Perdigão  Malheiro,  como  relator  da  commitóão 
de  admissão  de  sócios,  fundamentou  e  maodoa  à  mesa  o 
s^uinte  requerimento: 

•  Requeiro  que  o  Instituto,  ouvida  a  commiss3o  de  esta- 
Ittlos  (arl.  24  dos  mesmos],  resolva  sobre  as  seguintes 
duvidas : 

«  4.'  Se  em  vista  do  art.  6*  dos  estatutos  basta  a  suffl- 
ciencia  titteraria  do  candidato  para  ser  admittido  sócio 
effectivo  ou  correspondente. 

«  2.'  No  caso  negativo,  se  devem  ser  proferidos  para 
(itnio  de  admissão  trabalhos  próprios  dos  candidatos  e 
espociaes  sobre  historia  e  geographia  do  Brasil,  e  sobre 
ethnographia,  arcbeologia  e  lingoas  dos  seus  indígenas, 
tendo-se  em  attenção  o  fim  da  creação  do  Instituto  (art.  1") 
e  o  que  dispOe  o  final  do  arl.  i:i  combinado  com  o  art.  C* 
dos  estatutos. 

-I  3.*  Sa  a  offerta  para  titulo  de  admissão  deve  s<:r  feita 
pelo  próprio,  ou  basta  que  o  seja  por  algum  dos  sócios 
ou  por  terceiro. 

1  Sala  das  sessOes,  em  25  de  Setembro  de  ]868.  — 
Áyostmho  Marques  Perdigão  Malheiro.  » 

Foi  o  requerimento  remeilidn  á  commissão  de  esla- 
lutos  para  esta  dar  subre  elle  parecer. 

O  Sr.  tenente-coronel  Pedro  Torqualo  Xavier  de  Brito 
propõz  para  sócio  correspondente  do  Instituto  o  Sr.  Dr. 
Cândido  Mendes  de  Almeida,  servindo  de  titulo  de  admissão 
o  exemplar  do  AUas  do  Império  do  Brasil  oiTcrecido  ao 
mesmo  Instilulo  pelo  candidato.—  A  requerimento  do  Sr. 
cónego  Pinheiro  foram  a  proposta  e  o  referido  Atlas  remet- 
tidos  á  commissão  de  geographia  para  emittir  juizo. 


Dictzedby  Google 


—  $50  - 

Passaodo-se  á  segnada  parte  da  ordem  do  dia,  os  Srs. 
Drs.  Moreira  de  Azevedo  e  Paraobos  Joaíor  occaparam  a 
aiteaçSo  do  lastituto,  lendo,  aquelle  a  Historia  da  consti- 
tuição política  do  Brasil,  e  este  a  altima  parte  da  Biogra- 
phia  do  genercU  José  de  Abreu,  barão  do  Serro  Largo. 
As  8  horas  da  noite  o  Sr.  presideote,  obieado  vénia 
de  S.  H.  o  Imperador,  levantoa  a  sessão. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo 
Secretario  sdpplentb. 


11'  SESSÃO  EM  9  DE  OUTUBRO  DE  1868 

BONRADA   COM   A    AOGDSTA    PRESENÇA    DE   S.    H.  0    IMPERADOR 

Presidenàu  do  £xt»,  Sr.  visconde  de  Sapucahy 

Ás  6  boras  da  tarde,  acbando-so  presentes  os  Srs. 
visconde  de  Sapucahy,  Dis.  Macedo,  cónego  Fernandes 
Pinlieiro,  Carlos  Honório,  Moreira  de  Azevedo,  conseibei- 
ros  Freire  AliemSo  e  Cláudio  Luiz  da  Costa,  Drs.  Perdigão 
Malheiro,  Pinheiro  de  Campos,  Copanemii,  lenente-coronel , 
Xavier  de  Brito,  Boulanger  e  Dr.  Paranhos  Júnior,  fal. 
taodo  com  causa  os  Srs.  Dr.  Sousa  Fontes  e  Coruja, 
aniiunciando-se  a  chegada  de  S.  H.  o  Imperador,  [oi  o 
moáfflo  augusto  senhor  recebido  com  us  honras  do  cos- 
tume, e  tomando  assento,  o  Sr.  presidente  em  seguida 
abriu  a  sessão. 

Lida  e  approvada  a  acta  da  antecedente,  o  Sr.  1°  secre- 
tario den  conta  do  expediente,  que  constou  do  seguinte : 

Um  offlcio  do  Sr.  presidente  da  província  do  Río-Grande 
do  Sal,  transmittindo  ao  Instituto  um  exemplar  do  Reiaiorio 


Dictzedby  Google 


com  que  o  Sr.  V  vice-presidente  passou,  no  dia  ii  de 
Julho  próximo  futuro,  a  administração  da  mesma  ao  ^. 
marechal  de  campo  Guilherme  Xavier  de  Sousa. 

Dito  do  Sr.  presidente  da  provÍDcia  do  Espirito-Sanio, 
remettendo  dois  exemplares  do  Relatório  com  qae  foi 
aberb  a  sessão  eitraordioaria  da  assembléa  legislaliva 
d'aquella  províacia. 

Dilo  do  Sr.  Dr.  Domiogos  AntODÍo  Raiol.  remettendo 
um  eiemplar  do  2*  volume  da  obra  qoe  está  pablicando, 
com  o  lilulo  Motins  Politicos  da  Província  do  Pará. 

Dito  do  Sr.  Dr.  César  Augusto  Marques,  remetlondo 
os  os.  50,  &1  e  52  do  Semanário  Maranhense,  oode 
satiíram  impressos  os  seus  artigos  sobre  Mearim  e  Lai^o 
do  Campo  de  Ourique,  na  província  do  MaranbSo,  e  a 
biographia  de  D.  Luiz  de  Brito  Homem,  1 1"  bispo  da  mesma 
provinda.   - 

Pdo  Sr.  João  Baptista  Cortines  Laxe  foi  offerecido  ao 
Instituto  o  Hegimenio  das  Camarás  Muni(npaes,por  elle 
annotado,  com  as  leis,  decretos,  regulamentos  e  avisos  que 
revogam  ou  alteram  suas  disposições  e  explicam  sua  dou- 
trina. 

Pelo  Instituto  dos  Bacharéis  em  Letras,  seis  exemplares 
contendo :  o  Discurso  do  presidente,  Relatório  do  secre- 
tario e  Elogio  histórico  do  orador,  lidos  na  sessão  magna 
d'aqaella  associação,  celebrada  em  2  de  Julbo  do  corrente 
anno. 

Vários  joroaes  e  periódicos,  remettídos  pelas  respectivas 
redacções. 

Todas  as  ofTerlas  são  recebidas  com  agrado. 

ORDEM  DO  DIA 

Foi  lido  e  approvado  o  parecer  da  2*  commissSo  de 
geograpbía,  dado  sobre  as  5c«n<u  de  viagem  ou  Explora- 


Dictzedby  Google 


ÇÕea  entre  os  rioi  Taquary  e  Àquidauana  no  distríOo  de 
Miranda,  na  provinda  de  Mato-Grosto,  offerecídas  ao 
iDstituto  por  soa  antor  o  Sr.  Alfredo  de  Escragaolle 
Taanay,  e  remettidos  à  commissSo  de  admissão  de  sócios 
o  referido  parecer  cooJDQtanieDte  coid  a  proposta  feita  pelo 
Sr.  cooego  Pinheiro,  para  ser  admittido  o  Sr.  Escragpolle 
como  membro  correspoadeote. 

O  Sr.  Dr.  A.  M.  1'erdigão  Malheiro,  como  relator  da 
commissio  de  admissão  de  sócios,  leu  a  Esi^osição  a  esta 
anoexa  com  reierencia  ao  parecer  da  segunda  commissão 
de  geographia,  emittido  sobre  o  Itinerário  da  Crux  Alta 
ao  Campo  Novo,  na  província  de  S.  Pedro,  feito  pelo  Sr. 
H.  A.  Schutel,  e  jà  approvado  em  sessão  de  5  de  Julho 
do  correote  aono. 

O  Sr.  Dr.  Capanema,  como  relator  da  referida  com- 
missão de  geographia,  obt«ndo  a  palavra,  deu  explicações 
a  respeito  da  maneira  por  que  havia  redigido  aquelle  pa- 
recer, oão  se  deprebeudendo  d'elle  a  menor  censura 
feita  á  commissão  de  admissão  de  sócios. 

Resolvea  o  Instituto  que  a  Exposição  fosse  aonexa  a 
esta  acta. 

O  Sr.  cónego  Fernandes  Pinheiro  leu  um  trabalho  seu 
sobre  os  Padrei  do  Palrocvnio,  ou  o  Port-Royal  de  Itú. 

Ás  8  horas,  o  Sr.  preâídeote>  obtendo  a  imperial  vénia, 
levantou  a  sessão. 

Dr.  Sousa  Fontes 


Dictizedby  Google 


EXPOSIÇlO  ANNBXA  A'  ACTA  SUPRA 

Ao  Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro 

Desculpe  o  Instituto  se  lhe  roubo  alguns  momeotos  de 
sua  attCDção.  Mas,  como  relator  da  cominissão  de  admis- 
são de  sócios,  não  posso  deixar  passar  sem  reparo  uma 
pbrase  que  li  em  um  parecer  da  illustre  commissão  subsi- 
diaria de  geographia,  que  acompanhou  a  proposta  do  Sr. 
H.  A.  Schutel  para  sócio  correspondente.  Ahi  se  diz  que 
no  trabalho  d'esle  senhor  ha  matéria  mais  apropriada  aos 
fins  do  Instituto  do  que  a  de  outras  memorias  que  serviram 
de  titulo  de  admissão  á  diversas  pessoas. 

Parece,  com  esse  juizo  comparativo,  fazer-se  alguma 
censura  quanto  à  admissão  d'essas  diversas  pessoas ;  cen- 
sura que  recahiria  sobre  o  Instituto,  sobre  a  commissão 
respectiva,  e  mais  particularmente  sobre  o  seu  relator. 

Se.  com  efTeitn,  houve  intenção  de  fazêl-a,  e  se  ella  se 
refere  a  admissões  do  anuo  de  1859,  em  que  sirvo  de 
relator  da  commissão,  até  agora,  ou  não  declino  da  res- 
ponsabilidade toda  de  laes  admissões.  !N3o  lenho  por  cos- 
tume fazèl-o.  porque  entendo  que  cada  um  deve  supportar 
a  responsabilidade  e  ter  a  coragem  dos  seus  actos. 

Aquella  censura,  porém,  não  é  fundada;  e  o  Instituto  se 
convencerá  pela  ligeira  exposição,  que  peço  licença  para 
fazpr.  da  conducta  que  tenho  tido  como  relator,  e  sempre 
de  accordo  com  os  collefras  da  commissão. 

Com  ofticio  do  digno  secretario  datado  de  13  de  Janeiro 
de  1859  recebi  uma  relação  de  propostas  para  admissão 
de  sócios  correspondentes,  em  numero  de  17.  Dei  pare- 
cer apenas  para  a  admissão  de  9,  que  foram  approvados  e 
admiltidos  n'esse  anno;  ficaram  esperados  8. 

Achei  o  es^lo  de  não  dar  a  commissão  parecer,  desde 

TOMO  XXXI,   P.  II.  45 


Dictzedby  Google 


—  364  — 

que  entendesse  que  o  candidato  nlo  eslava  nas  condições 
de  ser  approvado.  E  o  lenbo  respeitado. 

De  1859  em  diante  até  a  actualidade,  tenbo  successi- 
vamente  dado  pareceres  para  admissão  de  mais  40  sócios 
correspondentes;  ficando  esperados  14  dos  conslaoles 
das  propostas  que  me  foram  remottidas.  D'e8tas  ha  ama 
assignada  por  11  sócios,  e  outra  por  8.  E  todavia  entendi 
-Dão  dever  dar  parecer. 

(^nsta  que  ha  ainda  outras  propostas,  qae  nSo  Tieram 
á  commissSo  por  dependereoi  de  parecer  das  commissOes 
respectivas  sobre  os  trabalhos  oSerecidos  como  títulos 
de  admissão. 

Não  tem  havido  proposla  nem  parecer  para  admissão 
de  sócio  effectivo;  porque  dos  correspondentes  se  preenche 
o  quadro,  na  forma  do  arl.  13  dos  estatutos. 

Para  banorarios  apenas  dei  parecer,  e  foram  approvados 
5,  ficando  esperados  3.  Dos  approvados  4  são  estrangeiros 
e  só  1  é  brasileiro. 

Dos  approvados  correspoudenles  31  s3o  brasileiros  e 
18  estrangeiros.' 

Os  correspondentes  são : 

A.  D.  Pascual. ^ 

Braz  da  Gosta  Rubim ] 

Reybaad 1 

CeroBi / 

(^pitão  de  mar  e  guerra  Lourenço  da  Silva  [ 

Araújo  Amazonas }>  1859 

Padre  Lino  do  Monte  Caimell  •  Luoa.     ...  1 

Dr.  Francisco  Ignacío  Marcondes  Homem  de  i 

Mello 1 

Rodrigo  José  Ferreira  Brees i 

Tenente  António  Maríanno  de  Azevedo.     .    .  / 


Dictzedby  Google 


-  355  — 

loDocencio  Francisco  da  Silva 

Francisco  Evaristo  Leoni 

Jorge  César  de  Figanière 

Dr.  Ernesto  Ferreira  Fraoça 

CoD^lbeiro  FrudeDcíoGiraldes  Tavares  da  Vei- 
ga Cabral 

José  Franklin  Massena  da  Silva 

Dr.  ÀDtonio  Joaqnim  Ribas 

Capítão-tenente  Manoel  António  Vital  de  Oli- 
veira  

Cónego  João  Pedro  Gay 

Joio  Brigido  dos  Sanios 

RuT.  James  C.  Flelcber 

Capitão- tenente  José  da  Costa  Azevedo.     .     . 

Dr.  Manoel  Duarte  Moreira  de  Azevedo.     .     • 

Dr.  José  Vieira  Couto  de  MagalbAes.     .     .    . 

Dr.  Francisco  Ferreira  de  Abrea 

Dr.  Luiz  António  Vieira  da  Silva 

João  Carlos  Pereira  Pinto '.     . 

D.  José  Maria  Torres  Caicedo 

Frederico  Francisco  de  Figanière 

Dr.  tieorge  Martinho  Tho[n;)S 

Padre  Angelo  Seccbi 

Dr.  César  Augaslo  Marques 

Dr.  José  de  Saldanha  da  Gama 

Dr.  Levy  Maria  Jordão 

Dr.  João  Ribeiro  de  Almeida 

Dr.  António  Henriques  Leal 

Dr.  Emmanuel  Liais 

Dr.  Miguel  António  da  Silva  Júnior.     .    .     . 

Dr.  Domingos  António  Raiol 


} 


D,i.,.db,  Google 


—  3ÍS6  — 

Dr.  José  Maria  da  Silva  Paranhos  Junior,     .      \ 
CapiUo  Epifaoío  Caadido  de  Sousa  Pitanga.    .      |  4867 
TeDeale-corooel  Pedru  Torqualo  Xavier  de  Brito      J 

Dr.  Luiz  Francisco  da  Veiga \  * 

Eduardo  de  Sà  Pereira  de  Castro 

José  Maria  Pinto  Peixoto 

Padre  Brasseur  de  Bourbourg \   |ggg 

Cavalheiro  José  de  Lucea 

Alexandre  Magoo  de  Castilho 

Henrique  A.  Scbutel 

Vivien  de  Saiot-Martia 

Os  honorários  são : 

I-  ^«^'^'^ !  i86i 

G.  BaDcrofl ) 

Luiz  Augusto  Ktíbello  da  Silva )  iriis 

Alexandre  llerculaiiu ( 

Visconde  de  Inhaúma 1868 

Não  pôde  censurar-se  a  ;tdmissão  em  lazão  de  grande 
numero.  Em  iO  annos  admiltireni-se  apenas  49  socíos 
correspondentes,  cabem  somente,  termo  médio,  5  por 
anno.  E  5  honorários  no  mesmo  espado  de  tempo  é  1, 
por  cada  bieonio. 

Nem  o  total  de  54  (correspondentes  e  hoi.orarios)  preen- 
cheria os  claros  que  a  morie  tem  aberto  nas  fileiras  da 
phalange  litteraria  d'esle  Instituto;  porquanto  desde  1859 
ate  1867  perdômos  1'2  dos  nossos  consócios,  como  consta 
da  nossa  Revista;  numero  que  se  elevará  provavelmente 
aSO,  ou  mais,  incluiodo-se  os  fallecidos  no  corrente  anno. 

Poderia  talvez  censurar-se  a  desprof^orção  entre  o  nu- 
mero de  estrangeiros  e  o  de  brasileiíos  admiltidos  ao 
Instituto.  Mas  a  commissão  tem  procedido  com  maisal- 


Dictzedby  Google 


—  357  — 

gum  rigor  a  respeito  ilus  nacionaes,  não*  só  porque  é 
d'esle3  que,  por  via  de  regra,  saliem  os  sócios  elíeelÍTOs, 
ubservando  asm  »  disposto  do  art.  ti*  dos  estatutos  com- 
binado coiQ  o  art.  13  e  tendo  eiu  vista  o  fim  da  instituição, 
mas  também  purque,  a  respeito  dos  estrangeiros  distioc- 
tos  que  tém  sido  admitiidos,  reputa  antes  um  titulo  de  apre- 
ço da  sua  iliuslraçilo,  trabalhos,  c  da  consideração  que 
prestam  ao  luslituto,  equivalonle  quasi  a  um  titulo  de 
membro  bonorario  para  não  baratear  esta  elevada  dis- 
lincção. 

As  propostas  de  admissão,  os  pareceres  fundamentados 
da  commissão,  acompanhados,  sempre  que  possÍTel,  de 
noticia  biographica  dos  candidatos,  o  juizo  critico  dos  tra- 
balhos ofierecidos  como  titulo  de  admissão,  quer  das  cora- 
missOes  respectivas,  quer  da  própria  commissão  de  que  sou 
o  menos  digno  relalor  (o  i|ue  tudo  cojisla  dos  archivos 
d' este  instituto  e  até  da  sua  Revista),  põem  fora  de  duvida 
o  escrúpulo  com  que  se  tem  procedido :  sendo  que  a 
commissão  tem  sempre  dado  a  preferencia  a  candidatos 
que,  além  de  suas  Labilitações  iitterarias,  exhibem  Iraba- 
Ihos  próprios  e  especiaes  sobre  a  historia  e  geograpbia 
do  Brasil,  etc,  conforme  os  arts.  1*  e  6°  dos  estatutos. 

Não  se  pôde,  portanto,  com  justiça  dizer  que  a  com- 
missão, ou  antes  o  seu  relator  tem  comprebendído  mal  o 
seu  dever.  Estabelecer  comparação  entre  trabalhos  de  di- 
verso género,  embora  tendentes  (odos  ao  grande  e  patrió- 
tico lim  a  que  mira  o  InsliioLo,  não  é  fácil,  nem  mesmo 
possível.  Não  é  sua  a  missão  do  Insliluto,  nem  da  sua  com- 
missão. O  que  se  deve  é  apreciar  se  o  caodidato  esl&,  por 
suas  qualidades  e  por  seus  trabalhos,  nas  condições  de  ser 
admiltido. 

Parece-me  que  nenhum  dos  approvados  desde  iS59  até 
hoje  desdoura  o  Instilulo.Se  nem  todos  são  summidades,  é 


Dictzedby  Google 


porque  não  ha  propostas,  aem  o  paiz  as  possne.  As  gran- 
des capacidades  eilluslrações  são  raras,  mesmo  noãpaizes 
mais  adiaDlados  e  populosos.  No  Brasil  Ita,  porém,  muitos 
talõDios  modestos,  obreiros  conscienciosos,  e  alguns  íafa- 
Ugaveis-  E'  preferivttl  acintar  o  sea  concurso,  desde  que 
mostrem  boa  vontade  cm  cooperar  para  o  fim  que  o  nosso 
Instituto  almeja.  Eis  o  que  a  commissão  e  o  seu  relator 
não  tém  perdido  de  vista. 

Se  lenho  i^radu,  submelto-me  resignado  à  censura.  E  o 
Instituto  tem  em  suas  mãos  o  remédio;  confiar  Ião  espi- 
nhosa e  ingrata  missão  a  quem  melhor  comprebenda  o  seu 
pensamento. 

Rio,  9  de  Outubro  de  1868. 

Agostinho  Xarqwa  Perdigão  MaVieiro. 


12*   SESSÃO  EM  23  DE  OUTUBRO  DE  1S68 

HONRADA   Cail   A    AUGUãTA   paGSEHQA    l>E   S.    H.    O    IMPERADOR 

Presidência  do  Ea>m.    Sr.  visconde  de  Sapucahy 

A's  6  horas  da  tarde,  achando-se  munidos  na  sala  do 
Instituto  os  Srs.  visconde  de  Sapucahy,  Joaquim  Norberto, 
cónego  Fernandes  Pinheiro,  Sousa  Fontes,  Carlos  Honório, 
Saldanha  da  Gama,  Piíihein)  de  Campos,  Coruja,  conse- 
lheiro Cláudio,  1'eidigão  Malhoiru,  Moreira  de  Azevedo  e 
Capanema,  anounciou-se  a  chegada  de  S.  M.  o  Impei  ador 
que  foi  recebido  com  as  honras  do  costume,  c  tomando 
assenti),  o  Sr.  presidente  abriu  a  sessão. 

Leu-sc  e  approvou-su  u  iicta  da  sessão  anterior. 

O  Sr.  t"  secretario  deu  conta  do  expediente,  que  cons- 
tou do  seguinte : 

Um  aviso  do  Sr.  ministro  do  império,  dando  conheci- 
nionto  da  existência, na  bibliolbeca  imperial  de  Vieooa,  do 


;dby  Google 


—  359  — 

manuscripto  e  iraducçio  franceza  da  Descripção  do  E$tado 
do  Maranhão,  Pará,  Cwupá  e  Rio  Amasonas,  feita  no 
armo  de  1662  por  Maurício  d'Hmarte,  a  fim  de  qae  este 
Instituto  resolva  sobre  a  acquisiçSo  d'e8te  docamentn,  que 
jalga  de  importância  para  a  bisloria  pátria. 

Dito  do  Sr.  director  geral  da  secretaria  da  agricultara, 
remettendo  du  ordem  úo  Sr.  ministro  da  mesma  reparti- 
ção, um  osomplar  do  4"  tomo  do  Relatório  apresentado  a 
S.  M.  o  Imperador  pelo  presidente  da  commissào  frroíi- 
leirajunto  d  ultima  exposição  universal. 

Dito  d»  Sr.  presidente  da  província  da  Babia,  remet- 
tendo um  eiomplar  do  Relatório  com  que  o  Sr.  Dr.  Joié 
Bonifaíno  IVascentes  d' Azambuja  passou  a  administração 
da  mesma  província  ao  Sr,  2'  Vice-presidente  desembar- 
gador António  Laãisldo  de  Figueiredo  Rocha. 

Dito  do  Sr.  presideolií  da  província  do  Paraná,  rumet- 
tendo  um  exemplar  áaCollecçôode  leis  e  decretos  promul- 
gados pela  assembléa  legislativa  provincial  no  corrente 
anno. 

Dito  do  Sr.  presidente  da  província  deS.  Pedro  do  Rio- 
Grande  do  Sul,  remelleiído  o  Quadro  estatístico  egeogra- 
phico,  e  carta  topographica  ãa  mes^ma  província. 


Pela  Sociedade  de  Geugraphia  de  Washington  ,List  ofàts- 
tancesinthe  Vniled-States^  compiledinthis  office,  fromthe 
lalest  information  obtavnable,  1808. 

Pela  Sociedade  de  Ijeogntpbia  de  Paris,  o  seu  BiUletin 
do  mez de  Juabo  do  coireole aiioo. 

Pelo  Instllulo  HisEorico  de  França,  o  seu  jornal  de  maio 
e  juobo  prosimos  passados. 

PeU  Imperial  Sociedade  dus  Nalunlistas  de  Moscow,  o 
seu  Boletim  de  1867. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—   360  — 

Vários  joniaes  c  periodícos,ren]eUiâos pelas  respectivas 
redacções. 

Todas  as  ofTertassSo  recebidas  com  agrado. 

Terminado  o  expedleote,  o  Sr.  Joaqaim  Nurberlo  eipAz 
que  desde  o  dia  7  de  Maio  do  coireote  aono  está  a  coni' 
idIss3o  promotora  da  estataà  de  José  Bonifácio,  qae  tem 
de  ser  erecta  n'esta  cdrte  por  deliberação  do  Instituto  His- 
tórico, privada  de  seu  presidente  pelo  fallecimenio  do 
conselheiro  de  estado  Eusébio  de  Queiroz  Coutinho  Mattoso 
Camará,  e  ponderou  que  a  guerra  actual,  a  viagem  do  pre- 
sidente á  Europa  e  a  moléstia  que  o  levou  á  sepultura  lem 
atèhoje  impedido  os  trabalhos  da  commissão.  Apreseuiou- 
igualmente  a  conta  corrente  da  subscripção  a  cargo  do  the- 
soureiro  o  barão  de  Hauá,  que  apresenta  D'esta  data  um 
saldo  de  45:1293380  ao  qual  ba  de  addicionar-se  iS6$l£íO 
reis  de  juros  vencidos  de  30  de  Junbo  do  corrente  anno  até 
boje. 

Ficou  sobre  a  mesa  para  se  providenciar  a  respeito  na 
próxima  sessão. 

ORDEM  DO  DIA 

Leu-se,  e  foi  remettida  á  commissão  de  admissão  de  só- 
cios, a  seguinfe  proposta:  Atlendendo  ao  alto  mereci- 
mento dos  botânicos  de  França  o  Sr.  Dr.  H.  Baillon,  pre- 
sidente da  Sociedade  Linneana  de  Paris,  e  do  Sr.  Ed.  Bu- 
reau.  vice-presidente  da  Sociedade  Botânica  de  França,  e 
aos  serviços  que  elles  prestam  actualmente  ao  Brasil,  com  a 
classificação  edescripçSo  de  muitas  planiasde  nossa  flora, 
temos  a  honra  de  os  propor  para  sócios  correspondentes  do 
Instituto  Histórico  e  Geographico  Brasileiro. 

Sala  das  sess(1es,23  de  Outubro  de  186S.  /.  de  Saldanha 
da  Gama. — Carlos  ffonono  de  Figueiredo. — Dr.  Sousa 
Fontes. 


Dictzedby  Google 


—  361  — 

O  Sr.  Joaquim  Norberto  leu  um  tnbalbo  sou,  com  o  tí- 
lulo:  —  Beatriz  de  Assis — ,  mais  algumas  paginas  lara  o 
livro  das  Brasileiras  celebres. 

OSr,  Dr.  Moreira  de  Azevedo  terminou  a  leitura  da-  His- 
toria da  Constilui^ão  Politica  do  Império. 

A's  S  botas,  o  Sr.  Presidente,  obtendo  a  imperial  veria, 
levaníou  a  sessão. 

Carlos  Honório  de  Ftgaeredo 

SECRETARIO    -UPPLENTE. 


13'    SESSÃO  EM  6  DE  NOVEMP-RO  DE  1808       ' 

HONRADA    CfM    A    AUr.USTA   PRBSrNeA  DE  3.   «.  O     IMPERADOR 

Presidência  do  Erm.  Sr.  visconde  de  Sapucahy 

A's6horasda  tarde,  achando -se  reunidos  nasalado 
InsliUito  03  Srs.  visconde  de  Sapucahy,  Dr.  Macedo,  Joa- 
quim Norberto,  cónego  Fernand  's  Pínhíiiro,  Drs.  Carlos 
[lonorio,  Saldai  ha  da  Gan:a.  João  Ribeiro  de  Almeida, 
(0^selhei^o  Cláudio,  Rubim,  Dr.  Capan- ma  e  Boulanger, 
annunciou-se  a  chegada  de  S  M.  o  Imperador,  que  sendo 
recebida  com  as  honras  do  cstylo,  e  tomando  assento,  o 
Sr.  prcsideníe  abriu  a  sessão. 

Leu-se  e  foi  approvada  a  acla  da  antecedente. 

Constou  o  expediente  do  s^^gutntr : 

Um  oBicio  do  Sr.  tenente-coronel  P.  T.  Xavier  de  Bri- 
to', communicanJo  que  '  ão  podia  comparecer  à  sessão  ;ior 
incon  modado. 

Dito  do  Sr.  director  geral  da  secretaria  de  estrangeiros, 
remeitendo.de  ordem  de  S.Ex.  o  Sr.  minisiro  d'esta  repar- 

TOMO  XXXI,    P.  II.  46 


Dictzedby  Google 


lição,  o  7"  e  8*  lomos  da  Colleeçãa  de  documentos  inediU 
relativos  ao  discobrimento,  conquitta  e  organUacâo  dt 
aniiga»  possessões  hespanholas  da  America  e  Oceania. 

DÍ(o  do  Sr.  secretario  da  secretaria  da  camará  dos  ã 
piAados,  remelleado,  por  deliberação  da  mesma,  os  ii 
naet  do  2*  aoDo  da  13*  legislalara,  2  exemplares. 

Dilo  do  Sr.  coQselbeiro  Fraocisco Xavier  Bomtempo,  o 
ferecendo  3  exemplares  das  Instnuxões  para  a  navegaei 
do  rio  Amazonas. 

E  pela  83cretaria  do  império  o  Relatoria  com  que  oS 
Dr.  Joaquim  Vieira  da  Cunha,  t'  vice-presidenle  da  pr 
vinda  deS.  Pedro  do  Rio-Grande  do  Sul,  passou  a  adm 
nistraçâo  da  mesma  ao  Sr.  marechnl  de  campo  Guilhem 
Xavier  de  Sousa. 

Vários  jornaes  e  periódicos,  remetlidos  pelas  respi 
clivas  redacções. 

Todas  asofferlas  são  recebidas  com  a-.'ra'lo. 

ORDEM  DO  DIA 

Passando-se  à  ordem  do  dia,  e  oão  havendo  proposii 
oem  pareceres  de  commissões,  o  Sr.  Dr.  João  Ribeiro  ( 
.almeida  occii|)ou  a  altenção  do  Instiloto  lendo  ama  pari 
da  saSí^Memoria  sobre  a  acdimataçào  da^  raças  humana: 
paraservir  deestudo  d  colonisaçlo  no  Brasil. 

A's  7  Va  boras  o  Sr.  presideate,  depois  de  obUda  a  ia 
perial  vénia,  levantou  s  sessão. 

Dr.  Sousa  Fontes 

â*    SECRETARIO. 


Dictzedby  Google 


—  363  — 

14-  SESSÃO  EM  20  DE  NOVEMBRO  DE  1S68 

HONRADA  COM   A   AUGUSTA   PRESENÇA   DE    S.    M.    O    IMPEBADOtt 
Presidência  do  Exm.   Sr.  visconde  de  Sapvcahy 
A*s  6  horas  da  tardo,  achaado-se  presentes  os  Srs.  vis- 
conde do  Sapucaliy,  barao  do  Bom-Retiro,  cónego  Fernan- 
des Piobeiro,  Drs.  Sousa  Fontes,  Carlos  Honório,  Moreira 
de  Azevedo,  consellieiro  Cláudio,  João  Ribeiro  de  Almeida, 
Coruja,  Capanoma,  Braz  Rubim,  l*aranhos    Jnnior,  Fran- 
klin  Massena  e   Miguel  António  da  Silva,  annuncioa-se  a 
chegada  de  S.  M.  o  imperador,  que  foi  recebido  com  as 
hODras  do  esijlo,  e  tomando  assento,  o  Sr.    presidente 
abriu  a  sessão. 

Leu-se  Q  approvou-se  a  acla  da  sessão  do  dia  6  do  cor. 
rente. 

O  expediente  apresentado  e  lido  pelo  Sr.  1°  secretario 
constou  do  seguinte: 

Ura  officio  do  Sr.  lenente-coronel  Xavier  de  Brito,  no 
qual  communica  que,  por  se  achar  incommodadu,  dSq 
pude  compareciT  á  sessão. 

Dito  do  Si-.  Presidente  da  província  de  S.  Pedro  Jq 
Rio-Graiule  do  Sul,  transmillindo  um  exemplar  dos 
Itelalorios,  qni._  por  occasião  de  deixarem  a  adminis^ 
traçãoiraqueila  iiroíincia,  aprcsenláramos  Srs.  marecha 
de  campo  Guilherme  Xavier  de  Sousa  e  Dr.  Israel  Rodri.- 
guês  BarcelJos. 

Dito  do  Sr.   Dr.  Latino  Coelho,  secretario  da  Academia| 

Real  das  Sciencias  de  Lisboa,  accusando  o  recebimento  do 

tomo  30.'  da  ftevim  do  Imtimo,  remettiJo  áquella  aca- 

.demia  pelo  Sr,    i«  secreUrio  eonego  Fernandes  Pinheiro. 

Dito  do  Sr.     or.  César  Augusto  Marques,  remoitendo  ô 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


n.  3i6  du  PMicailor  Maranhense,  onílo  se  acha  pulilicadu 
um  artigo  bistorico,  escriplo  pelo  mcsmu Sr.  sobrú  o  Largo 
i}u  Carmo  do  Maranhão. 


Ptíla  Sociodadú  Auxiliidora  da  Itiduslriu  Naciuaal,  dos 
seusjorQdes  de  Agoslo  e  Soteinbru  do  correDio  anno. 

Pala  Sociodadc  de  Guograpbia  de  Paris,  do  seu  Balletin 
do  mez  de  Agosto. 

Pelo  Sr.  Dr.  José  Joaquim  Tavares  Bulfurt,  de  uraa  col- 
Iccção  dojoraacs,  oud»  o  mesmn  senhor  tem  poblicado 
alguus  lrjbalh')S  sobre  a  eslalislica  da  proviacia  do  Mara- 
nhão. 

Pelo  Sr.  r  sjcrulario  cónego  FernauJos  Pinheiro,  a 
obra  qtie  tem  por  tilulo— O  Brasil  e  a  Inglaterra  ou  o  tra- 
fko  de  africanos,  cscrípla  pulo  Sr.  Conselbeinj  Tito 
Ftancode  Almeida 

Pelo  Sr.  Dr.  Joaquim  dos  R  imodíos  Mouleiro,  por  in- 
lor.nedio  do  Sr.  Dr.  Joiio  Ribeiro  du  Almeida,— i/y(/íene  e 
Educação  da  Infanda. 

Vários  join;ics  o  periódicos,  remellidos pulas  respectivas 
redacções 

Todas  as  offurlas  foram  recebidas  com  agrado. 

DELIBERAÇÕIíS 

O  Sr.  presidente  nomeou  o  Sr.  barão  do  Bom-Reliro  para 
siibsUluir  ao  finado  Sr,  conselheiro  Eusébio  de  Queiroz, 
na  pri-sidencia  da  commissão  nomeada  pelo  InsUlulo  para 
tratar  da  erecção  do  monumento  á  memoria  de  José  Boni- 
Tacio  de  A  idrada. 


Dictzedby  Google 


—   303    — 


Foi  remellido  á  commissão  de  admissão  de  sócios  o  pa- 
recer da  de  G;ograiihia,  dado  sobre  o  Alias  do  Império  do 
Brasil,  du  Sr.Dr.  Cândido  Mendes  de  Alioeída. 

ORDEM  DO  DU 

O  Sr.  Dl.  João  Ribeiro  da  Almeida  prosoguiu  na  Icilura 
da  saà~Meinoria  sobre  a  acciimatação  das  raçashumanas 
para  seimr  de  estudo  á  colonisação  no  Brasil. 

A's  8  horas,  o  Sr.  Presidenle,  obleado  vonia  de  Sua  Ha- 
gAStado  luwDiou  a  sessão. 

Carlos  Honório  de  Figueiredo 

SECRETARIO  SUPPLENTE. 


i5'  SESSÃO  EM  i  DE  DEZEMBRO  DE  1868 

HONRADA  CO»  A  tUGUSTA  PUESBNÇA  DC  S.  ».  O  IMPEUADOH 

Presidência  do  Exm.  Sr.  visconde  de  Sapueahy 

A's  6  horas  ds  tardts,  achando-se  presentes  os  Srs. 
vÍS--ODde  de  Saiiucaliy,  har^o  do  Bom-Rutiro,  Drs.  Macedo, 
cónego  Feruaodes  Pinheiro,  Sousa  Fontes,  Carlos  Honório, 
Moreira  de  Azevedo,  Coruja,  consGUiuiros  Cláudio  e  Poiítcs 
Ribeiro,  tencnle-coroael  Xavier  deBrito,  Pinheiro deCam- 
pos,  SLildanha  da  Gama,  Biaz  Rubim,  Ribeiro  de  Almeida, 
Pereira  de  Caslro,  Filgueiras,  e  Miguel  António  da  Silva, 
aqnunciou-so  a  chegada  de  S.  M.  o  Imperador,  o  qual  fui 
rectíbido  com  as  honras  que  lho  são  devidas.  E)m  seguida,  o 
Sr.  pr>3sídente  abriu  a  sussão. 

Foi  lida  e  approvada  a  acta  da  ultima  sessão. 

Pelo  Sr.  i."  secretario  íoÍ  lido  o  expediente,  que  cons- 
tou do  seguÍDle: 


Dictzedby  Google 


—  Í66  — 

Om  aTÍ8o  do  Sr.  ministro  do  império  de  29  de  Notem- 
bro  ultimo,  tommunicando  ter  expedido  as  necessárias  or- 
dens ao  miuislro  do  Brasil  em  Víeaaa  d'Austria,  para  que 
este  remelti  ao  Instituto  a  traducção  franceza  da  obra— Des- 
cripçâo  do  Estado  do  Maranhão,  Pará,  Corupd  e  rio  Ama- 
zona», por  Mawido  UeriarU,  seodo  a  despesa  descontada 
da  2.'  prestação  que  o  Instituto  tem  de  receber  do  ibesouro 
nacional  no  corronie  exercido.  —  Inteirado. 

Offiiio  do  Sr.  Dr.  José  Manada  Silva  Paranhos  Júnior, 
no  qual  communica  que  deixa  de  comparecer  às  sessões  por 
ser  obrigado  a  retirar-se  lemporíamente  d' esta  cdrle,  por 
incommodo  de  saúde. 

Dilo  do  Sr.  Alexandre  Magno  de  Caslilbo,  agradecendo 
ao  Instituto  a  boora  de  o  chamar  para  o  sen  grémio,  como 
sócio  correspondente. 

Dois  ditos  do  Sr.  Dr.  César  Augusto  Marques,  remet- 
lendo  os  números  do  Publicador  Maranhense,  onde  frz  pu-  . 
blicar  os  seus  ariigos  sobre  a  Alfandega  e  Largo  do  Carmo 
da  provincia  do  Maranbão. 

Dito  do  Sr.  secretario  da  Imperial  Sociedade  dosNatu 
ralisias  de  Moscow,  accusando  o  recebimento  do  vol.  30 
da  Revista  d'esle  Instituto  Histórico,  remeltido  àquella  as- 
sociação pelo  Sr.  V  secretario. 

Dito  do  nosso  consócio  o  Sr.  Dr.  Joaquim  António  Pinto 
Júnior,  oferecendo  20  exemplares  da  Biograpkia  [por  elle 
escripla)  do  Sr.  conselheiro  padre  Manoel  Jcaquim  do 
Amaral  Gurgel. 

Findoo  cxpediciitco  Sr.  Dr.  Eduardo  de  Sá  Pereira  de 
Castro  pedin  a  palavra  e  agradeceu  ao  Instituto  a  sua  ad- 
missão de  sacio  correspondente,  e  leu  um  trabalho  sobre  o 
estado  actual  do  Brasil,  em  rcUção  á  Industria,  Commer- 
cio,  elC' 


Dictzedby  Google 


OADEM  DO  DIA 

O  Sr.  Dr.  Macedo  propòz  para  sócio  corresp  todente  do 
Instituto  o  Sr.  D.  José  Rosendo  Gaterres.  proposto  de  la 
faz.  Da  Bolívia,  e  autor  da  Memoria  sobre  limites  do  Brasil 
com  aquella  republica.— Koi  a  proposta  á  commissSo  de 
admissão  de  sócios. 

O  Sr.  Dr.  Jo9o  Ribeiro  de  Almeida  terminou  a  leiturada 
sua — Hemoria  sobre  a  acclimeUação  das  raças  humanas, 
para  servir  de  estudo  d  coloniiação  no  Brasil. 

Sendo  esia  a  ultima  sessão  ordinária  do  coireate  anno,  o 
Sr.  presideDte  fez  correr  o  livro  das  ioscripcões  pelos  só- 
cios presentes,  e  D'elle  se  inscrevt^ram.para  trabalhos  que 
tém  d?  ser  apresentados  no  próximo  futuro  aono  suciai, 
os  Srs. 

Tenente-coronel  l*edro  Torquato  Xavier  de  Brito,— ffs- 
luãos  geograpkicos  e  estatísticos  sobre  a  provinda  do  Itto 
de  Janeiro. 

Dr.  Eduardo  de  Sá,— o  que  llie  suggerir  sobre  historia 
ou  geographia. 

Dr.  Felizardo  Pinheiro  de  Campos,- Esíudo  histórico  e 
geographico  do  território  da  provinda  de  Minas,  para  ser- 
vir de  introdttcção  a  uma  Memoria  com  o  fim  de  mostrar  a 
necessidade  urgente  de  sua  divisão. 

Dr.  José  de  Saldanha  da  Gama  Filho,  A  Vida  do  botânico 
brasileiro,  o  carmelita  Fr.  Leandro  do  Sacramento. 

Cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Peruandes  Pinheiro,  um 
trabalho  histórico. 

A's8horas.  o  Sr.  presideole,  obtendo  veDÍa  deS.  U. 
o  Imperador  levantou  a  sessão. 


Dictzedby  Google 


SESSiO  DE  AS^EMBLÉA  GERAL  DE  ELEIÇÕES  EM  21 
DE  DEZEMBRO  DE  lf68 

Presidência  do  Exm.  Sr.   conselheiro  d'Estado 
visconde  de  Safucahy 

A's  S  boras  da  tarde,  a(  hando-se  presentes  os  Srs.  Vis  • 
coDde  de  Sapacahy,  cónego  Fernaades  Piíiheím,  Drs.  Car- 
los Honório,  Jo!^o  Ribeiro  il'Almei(Ja,  Felizardo  Pinheiro 
de  Campos,  leneiile-coronel  Pedro  Torquato  Xavier  de 
Brito  e  AntoQÍo  Alvares  Pereira  Coruja,  o  Sr.  presidente 
abriu  a  Sfssão  ^'asseniblèa  geral  para  a  eleição  dos  mem- 
bros da  mesa  e  dsis  commissOes,  que  devem  servir  no  nnno 
social  de  1869;  e  sendo  designados  para  escrutadores  os 
Srs.  Drs.  Carlos  Honório  e  J03o  Ribeiro,  procedeu-se  á 
eleição  na  Tórma  dos  esUilutos,  e  sahiram  eleitos  os  Srs. : 

PREStDCNTB 

Visconde  de  Sapu&iby,  reeleito. 

i°   VICE-PRLSTOENTE 

Barão  do  Bum-Reliro,  reeleito. 

2*  VICE-PRESIDENTE 

Dr  Joaquim  Manoel  de  Macedo,  reeleito. 

3*  VICE-PRESIDENTE 

Joaquim  Norberto  de  Sousa  e  Silva,  reeleito. 

2°    SBCRi.TARIO 

Dr.  José  Ribeiro  de  Sousa  Fontes,  reeleito. 

SECRETÁRIOS  SUPPLENTES 

Dr.  Carlos  Honório  de  Figueiredo,  reeleito. 
Dr.  Manoel  Duarte  Moreira  de  Azevedo,  idem. 


Dictzedby  Google 


OKADOR 

Dr.  Joaquim  Maooel  de  Macedo,  reeleito. 

THESOQKEIEO 

AntoQJo  Alvares  Pereira  Coruja,  reeleito. 

COHHISSiO  DE  FUNDOS  B  OttÇAHBNTO 

João  José  de  Sousa  Silva  Rio,  reeleito. 
Braz  da  Costa  Rubim,  idem. 
Francisco  José  Boi^es,  idem. 

COHHISSÃO  DE  ESTATUTOS  E  REDACÇlO  DA  REVISTA 

Barão  do  Bom-Retiro,  reeleito. 

D.  FraDcIsco  Balthazar  da  SílTeira,  reeleito. 

AdIodío  Alvares  Pereira  Coruja. 

COHHISSÃO  DE    REVISÃO  DE  MANUSCRIPTOS. 

Teneute-corooel  Francisco  José  Boi^es. 

Dr.  Carlos  Honório  de  Figueiredo. 

Dr.  Pellsardo  Pinheiro  de  Campos,  reeleito. 

COMHISSZO  DE  TRABALHOS  HISTÓRICOS. 

Dr.  Joaquim  Manoel  de  Macedo,  reeleito. 

Joaquim  Norberto  de  Sonsa  e  Silva, 

Dr.  Agostinho  Marques  Perdi^  Malheiro. 

COHHUSlO  SUBSIDIARIA  DE  TRABALHOS  HISTÓRICOS 

Dr.  José  Maria  da  Silva  Paranhos  Janior. 

Dr.  Caetano  Alves  de  Sousa  Filgneiras,  reeleito. 

Dr.  João  Ribeiro  de  Almeida. 

TOMO  IXXI,  p.  n.  47 


Dictzedby  Google 


comiumo  de  nUMMOS  geooeuphicos 
Conselheiro  Henpiqoa  de  Beaorepaire  RohM,  rseli 
(.onselhe.ro  Ricardo  José  Gomes  Jardim 
Br.  GnillienneSchacli  deCapaoema. 

COMinSSiO  StlSIDUMA  DE  TBJDmOS  GEOCTAPEIK 

Dr,  Giacomo  Haja  Gabaglia,  reeleito 
Tenente-coronel  Pedro  Torqaalo  Xavier  de  Brilo. 
ur.  José  de  Saldanha  da  Gama  Jnnior,  reeleito. 

COMUlSSiO    DE  »«CHEOI.0<!U   E  ETOMOGIUHU 

Conselheiro  Dr.  Francisco  Freire  illemSo,  reeleilo. 
Conselheiro  Dr.  CUodio  Luiz  da  Cosia,  idem. 
Dr.  Miguel  Antooio  da  Siha,  idem. 

COMUISSÃO  DE  ADMISSÃO  DE  SÓCIOS 

Dr.  Agostinho  Marqnes  Perdigão  Malheiro,  reeleilo, 
Dr.  Manoel  Duarte  Moreira  de  Azevedo,  reeleito. 
Dr.  JoSo  Ribeiro  de  Almeida. 

COHHISSAO  DE  PESOOZA  DE  MAWUSCRIPTOS 

Dr.  António  Pereira  Pinto,  reeleito. 

AntODioDeodoro  de  Pascoal,  reeleito. 

Braz  da  Costa  Rubim. 

A  eleiçSo  do  !•  secretario  nSo  teve  lugar  este  anuo 
ter  sido  feiu  em  1867,  e  ser,  pelus  csututos,  o  caiso 
euual. 

Terminada  a  eleição,  o  Sr.  presidente  declarou  qu. 
Instituto  entrava  em  férias.e  levantou  a  sessSo. 


D,i.,.db,  Google 


—  371  - 

PARECERES 

DE 
OomniissSes  ou  oonuxàlSBarlOB  espeolaes 

PARECER  DA    COHMISSiO  DE    FUNDOS   E  ORÇAMENTO 

IlliD.  Sr.  —  A  conamissão  de  fundos  e  orçamenlo  do 
Insliluto  Histórico  e  Geograpbico  do  Brasil  lem  a  boora 
de  devolrer  a  V.  s.,  os  livros,  coDlas  e  docamentos  de 
receita  e  despeza  do  Sr.  Ihesoareiro,  acompaohados  do 
sea  parecer  sobre  as  mesmas  contas,  e  do  ortameoto  qae 
lem  de  ser  submetlido  á  approTação  do  lostitoto.  —  Dens 
guarde  a  V.  S.  —  Rio  de  Janeiro.  22  de  Maio  de  1868. 

Ulm.  Sr.  Revereodo  cónego  Dr.  Joaquim  Caetano  Fer- 
nandes Pinheiro,  1*  secretario.  —  Os  membrosdacom- 
missão.  —  J.  J.  Sousa  Silva  Rio,  relator.  — Franàíco 
Joié  Borges. 

k  commíssão  de  fundos  e  orçamento,  cumprindo  o 
dever  qne  Ibe  impQe  o  arl.  23  dos  respectivos  estatu- 
tos, procedeu  a  minucioso  exame  nas  contas  do  Sr.  ihe- 
soureiro,  relativas  ao  anno  social  de  1867,  e  acbou-as  em 
todo  exactas  e  conformes  com  os  livros  e  documentos 
qne  Ibe  foram  apresentados. 

Resaiu  d'esse  exame,  que  a  receita  foi  de  R8.8:993f  70», 
excedendo  á  orçada  em  Rs.  72^709  ;  e  arrecadada  pelas 
verbas  seguintes : 

S  1*  Jóias  dos  sócios SOjjiooo 

$2*  Prestações  semeslraes 7l4f000 

$  3"  Cobrança  de  divida  activa 456j;000 

$4*  ÀssignaturaevendadaAeuula.    .    .    .      Í488000 

Somma  1:398^0 


Dictzedby  Google 


—  8Ta  — 

TTiUSpOrte     .     .     -  1:3981000 

$&•  Diridendo  de  acfSes 375Í000 

Jnros  de  apólices 6Ô|000 

$  6*  Jnros  de  dinheiro  em  c/c 39|709 

$  7*  CoDsigaação  do  Thesoaro  NacioDal  7:000|000 

Somma.  8:873f709 

i  qual  tem  de  se   addicionar  o  ágio   na 

compra  de  1  apólice 120|000 

Total.  8:9921709 

qne  com  o  saldo  existente  em  Dezembro  de 

1866,  de 6:88S|0I6 

Importa  em  Rs.  15:877r3S 

A  despeza  effectnoií-se  petas  segaiotes  verbas  : 

$  V  Impressão  e  reimpresso  da  Revista    .  4;39t|200 

$  3*  Compra  de  livros  e  acqoisíçSo  de  ma- 

onscriptos 1:330|600 

S  3*  Ordenados  e  ^encia  ......  2:003S800 

$  i*  Expediente  e  eventaaes  .....  92Í|6K0 

Somma  Rs.  8:t42i([250 

quantia  menor  que  a  fixada  do  orçamento, 

Rs.  K5I|58S. 

Da  receita  acima  demonstrada  de  .    .     .  15:877|72S 

abatida  a  despeza  realizada  de 8:4i3|250 

ResnlUosaldodeRs 7:435|475 

o  qnal  comparado  com  o  do  anno  anterior, 

de 6:88Sl(0t6 

O  excede  oa    qaantia  de  Rs E!t(Oj|í459 


Dictzedby  Google 


—  373  — 

Este  saldo  consta  dos  faDdos  do  iDStituto,  que  foram 
esto  aano  augmeatados  com  uma  apólice  comprada  pelo 
Sr.  tbes)aT^iro,  e  de  dinheiro  em  c/c  Da  Caixa  Ecoao- 
mlca,  ou  em  caixa  pa  a  jccorrer  ás  despezas  do  1"  tri- 
mestre do  aoDo  corrente. 
Consta  elle  do  seguinte  : 
Daas   apólices    da    divida    publica,    de 
Rs.  1:0000000  cada  uma,  e  juro  de 

seis  por  cento 2:000{|000 

âS  acções  do  banco  Rural  o  Hypothecariú 

a  2001000 SiOOOjOOO 

Di  nheiro  om  c/c 430 1 52 

■        em  caixa,  em  31  de  Dezembro 
de  Í867 .    '.         3921323 

Somma  iMi$iTó 

que  passam  á  receita  do  anno  de  1866. 

AVista  do  qno,  é  a  commissão  de  parecer  que  sejam 
as  ditas  contas  approvadas. 

Sala  das  sessões,  em  20  de  Maio  de  1868.  -/.  /.  Sousa 
Silva  Rio,  relator. —  Francisco  José  Borges. 

A  commissão  de  fundos  e  orçamento  tem  a  bonra  de 
submetter  á  approvação  do  Instituto  Histórico  e  Gec^ra- 
pbíco  o  seguinte : 

ORÇAMENTO 

Ari.  1.*  Corçada  a  receita  para  o  anau  social  de  t8(i8 
na  quantia  de  Rs.  16:3860000,  a  saber  : 

§  r  Jóias    de  sócios SOJOOO 

%  2°  Presta);5es  scmsstraes 720<|000 

§  3*  Cobrança  de  divida  activa     .     .    .        4200000 


Dictzedby  Google 


—  874  — 

Transporte 1:320{000 

S  i*  Assignalura  e    veoda    da  RevUta.  180S000 

§  5*  DiTideodo  de  acedes 400f000 

§  6*  Juros  de  apólices ISOfOOO 

§7*      >    de   conta  corrente       .     .    .  308523 

%  8*  Subvenção  do  Thesouro  Nacional.     .  7:000j[000 

8:950f523 

Saldo  du  annu  anlurior.    .    7:43Kf477 
l<t:386|000 


Art.  3.*  E*  fixada  a  despezi  em  8:9501000  dislriboida 
pelas  s^aintes  verbas : 
§  1*  Impressão  e  reimpressão  da  Revisia 

trimental       4:600j000 


%  a*  Compra  de  livrus  u  manuscrípios. 
§3*  Ordenados  e  agencia,  sendo: 

Um  archivista  e  revisor    600j)000 

Um  amanuense.  .     . 

Um  porteiro  .    .     . 

Um  ^ente,  gralificação 

commiss3o 

§4*  Despezascom  o  expediente, 
e  eveotuaes 

Somma.    ,    .   .  Rs. 


60OSO00 

480 $000 

300SOOO 

24«000 


1 :600|000 


ã:004<000 
746t000 


8:9S0$000 


Art.  3.*  As  verbas  de  despezs.  á  excepção  do  §  3*, 
poderão  ser  suppridas  umas  por  ontros ;  e  as  sobres  da 
receita  serio  depositadas  na  Caixa  Económica. 

Sala  das  sess&es,  em  20  de  Maio  de  1868.  =  /■  J. 
Sousa  Silva  Rio^   relator.  —  Francisco  Josi  Borges. 


Dictzedby  Google 


—  sn  — 

qiH  ao  mesmo  lostítulo  dirigiu  o  Sr.  José  Luiz  AItm, 
procurador  geral  da  venerável  ordem  terceira  dos  mioimos 
de  S.  Francisco  de  Paula,  a  respeito  dos  restos  mortses  do 
finado  sócio  fundador  do  nosso  Institato  o  Sr.  marechal 
Raymundo  José  da  Cunha  Mattos,  que  jazem  n'aqueUa  re- 
neravel  ordem ;  e  que  o  Instituto,  i  vista  do  ultimo  periodo 
da  referida  carta,  deseja  ootíf  a  sua  commissfio  d*  fundos, 
para  poder  resoWer  definitirameale. — Deas  guarde  a  V.  S. 
—  Secretaria  do  Instituto  fii^rico,  no  paço  imperial  da  ci- 
dade, em  11  de  Halo  de  1868.  —  Illin.  Sr.  JoSo  José  de 
Sousa  Silva  Rio,  membro  relator  da  commissSo  de  fun- 
dos e  orçamento  do  Instituto  Histórico  e  Geograpbico  Bra- 
sileiro. —  Cónego  Dr.  Joaquim  Caebmo  Fernanda  Pi- 
nAetro.  1*  secretario. 


PABECEKES  DE  ADMISSlO  DE  SÓCIOS 

A  commis^  de  admissão  de  sócios,  tomando  na  de- 
vida consideração  a  proposta  de  6  de  Dezembro  de  1866, 
assignada  pdos  consorios  Drs.  Joaquim  Caetano  da  Silva, 
Carlos  Hiinorio  de  Figueiredo  e  António  Pereira  Pinto, 
é  de  parecer  que  o  candidato  Sr.  Dr.  Loix  Francisco  da 
Veiga  está  no  caso  de  ser  approvado  membro  corres- 
pondente do  Instituto  Histórico  e  Geograpbico  Brasi- 
leiro. 

Sala  das  sessões,  23  de  Novembro  de  1867.  —  O  re- 
lator, Agotlmho  Marques  Perdigão  Malheiro.  —  CluiuHo 
Luit  da  Coita. 

ItOTICIA 

Filbi)  legitimo  do  cummendador  João  Pciro  da  Veiga 

e  D.  Joaquina  Rosa  da  Veiga,  naacea  o  Dr.  Luiz  Fraa- 

TOHO  XXXI,  p.  n  48 


Dictzedby  Google 


J 


—  87«  — 

lD8titato  Histórico  e  Geographico  Brasileiro,  em  resposta 
ao  que  tive  a  hoora  de  dirigir  ao  seu  digno  presidente 
o  Exm.  Sr.  conselheiro  d'EBtsdo  visconde  de  Sapuc&hy, 
commaDÍcaodo-lhe  a  existeocia  das  cinzas  do  finado  ma- 
rechal Raymando  José  da  Cunha  Mattos,  um  dos  fun- 
dadores d'este  lostitQto,  cujas  ciozas  existeai  guardadas 
com  religioso  cuidado  em  uma  uma  ua  igreja  de  S.  Fran- 
cisco de  Paula. 

Nada  me  tem  o  lostitato  a  agradecer,  porqub  serviço 
nenhum  fiz  digno  de  Ião  elevada  honra,  e  se  chamei  a 
atlenção  dos  dignos  associados  d'essa  famosa  arca  da 
sciencia,  foi  não  só  peto  respeito  devido  &s  cinzas  dos 
mortos,  como  para  salvar  da  indifi^ereaçaasdo  dístincto 
servidor  do  Estado  a  quem  taoto  devem  as  letras  pátrias, 
e  para  que  com  ellas  nfto  acontecesse  como  ás  do  famoso 
Piodaro  da  tribuna  sagrada,  com  as  do  cónego  Januá- 
rio da  Cunha  Barbosa. 

O  Instituto  Histórico  mediante  a  quantia  de  250j|IO0O 
poderá  guardal-as  em  jazigo  perpetuo,  no  cemitério 
de  S.  Francisco  de  Paula,  e  assim  transmittir  à  mais  re- 
mota posteridade  sua  gratidão  para  com  um  de  seus  fun- 
dadores. 

Nada  mais  se  me  offeiecé  dizer  ;  só  serei  com  a  mais 
alia  estima,  respeito  e  consideração  —  De  V.  £x.  muito 
respeitador  e  criado.  —  José  Luiz  Alvei,  procurador  geral 
da  ordem  terceira  de  S,  Francisco  de  Paula.  —  Rio  de 
Janeiro,  em  17  de  Uarço  de  1868. 

Illm.  Sr.  —  Em  cumprimento  de  deliberação  do  laslituto 
Histórico  e  Geograpbico  Brasileiro  tomada  em  sessão  de  8 
do  corrente,  tenho  a  honra  de  passar  is  mãos  de  V.  S., 
como  relator  da  commissão  de  fundos  e  orçamento,  para 
esta  dar  seu  parecer,  a  carta  constante  da  còpía  junta, 


Dictzedby  Google 


—  tn  - 
^■^cu™d"r.°M'°""°'°  '^»'"  °  "•  •"»«••"«  ai™.. 

«*«   "ferida  !fj    f  " '°"""'°'  "'""^  'i°  "l""»  ?="»««> 
í>aM  poder  lili "     /í  """"^ '  ™  «"■""■ímío  J»  toíos. 

Secretari?  ?  ,    .      °'''"™'''»-»««»«'»"'«>T.  S- 

«iodo,  em    "    S  r.^'í™"°"«'.  "op-çotoperi.!  di  ci- 
Sousa  Silva  B  V    ""—'"°'-  Sr.JoaoJo.éde 

«íos  e  oream.^'/;     "  ™'"°'  ■•"  «inmiMío  de  fun- 
sileiro,  -_  cl^  iolesfUilo  Histórico  .  GMgr.pbico  Br.- 
ríhtin.   ».  .t?^°  .  ■  ■'"e?'»'»  Coítono  fínioniiM  K- 
•   »     secretano. 


PAKECERE5  DUBwsslO  Dt  SÓCIOS 

Tida  consTrt*"^"!*  "'"''^o  áe  sócios,  tomando  na  de- 
assignad»  ^«'"WO  a  proposta  d«  6  de  Dezembro  de  1866. 
Carlos  a..  J?'  ™  "°»»"'os  Drs.  Joaqnim  Caetano  ,1a  Silva, 
é  de  pare  J?"""  •''«"«iredo  e  intonio  Pereira  Piuln, 
Veiga  esta  ""  ''°°  °  <^°<'W«o  Sr.  Dr.  Lnii  Francisco  da 
pODdenlo  ^^°,'^  "'  "'  "PProíado  membro  corres- 
leiro.  """^  Histórico   e  Geograpbioo  Biasi- 

lalo^  í?^,,^'*^   ''  "•  »ovembr.del867.-Ore- 


líOTIClx 


e  Dl''íoagSi''°"L  '"'  «"""""'Jador  Joio  Peíro  da  Veiga 
'""°  «m,  p.  n  4g 


D,i.,.db,Googlc 

i 


,**.  *f  i;ii,5      ""-^  '^je  direito  I 

j^       **->-iM.»j,  ,1»  qual  recebeae 

-^      '^  a  iv»*.oi  Qomeado  promotor  pi 
*  -^aicn  «  jToy,  cai^o  qne   eierceo  ^ 

- ' '  ^    a  -^g   (Qj  nomeado  2*  officiaJ  da  si 

J**",-  negócios  da  jusliç*.  E  em  Harç 

,^^  jlJâ  secretaria  ã'Estado  dos  negocio 

,'  .'   .,«fflercío  e  obras  publicas,  emprego  qn 

\^    gite- 

y^^rario  do  Instituto  ScienliOcodeS.  Paulo 

.  f^  firevea  elle  alguns  artigos  políticos  no  pe 

j  '  fi  Maio;  d'esta  data  em  diante  pablicoí 

-,;.'  jf  00  Jornal  do  Commercio  e  Correia  Merca» 

vu!*  J  A  ^^^^  collaboroQ  na  redacção  do  Contii' 

j»     «ta  cArte,  e  também  no  Espectador  da  Amt- 

.-•**'#  publicou  algQDS  artigos. 

n.'-  ^  artigos  trouxe-lhe  a  nomeação,  por  parle 

■yis  municípaes  das  províncias  da  Parabyba,  S. 

iir  (oas,  Espirito-Santo  e  Rio  de  Janeiro,  de  mem- 

r> .«mmissões   encarregadas  de  felicitar  o  conde 

í^jupy  pela  defesa  d'esl6  a  favor  da  jasta  causado 

3*'j  conlra  as  pretenções  do  governo  da  Grã-Bíflt»- 

ur 

"'^  18t>2  publicou  em  fotbeto  um  estudo  histoiico  íd- 


Dictzedby  Google 


—  379  — 

Em  1863  deu  á  laz  o  poama  Cartas  Chilenas,  iítti' 
buido  a  Tbomaz  AdIodío  Gonzaga,  com  uma  iDlrodacçío, 
notas  e  epilogo. 

No  mesmo  sddo  pabltcoa  a  comedia  politica  Os  im- 
possíveis. 

Em  18ÕS  foi  impresso  na  typograpbia  nacional,  de 
ordam  do  governo,  o  Repertório  das  leis  e  decisões  do  go- 
verno concernentes  d  2'  directoria  da  secretaria  d''Estado 
dos  negócios  d'agi'iciUtura,  commerdo  e  obras  publicas, 
polo  mesmo  Dr.  L.  p.  da  Veiga  orgaoisado. 

Ainda  em  1S6&  deu  &  publicidade  am  estudo  sobre 
bistoria  e  geograpbia  antiga  comparada  com  a  moderna, 
sob  o  litalo  Ás  nacionalidades  mortas. 

Cm  l86íi  a  Biographia  de  sou  pai  JoUo  Pedro  da  Veiga, 

Em  o  corrente  anno  de  18S7  um  outro  estuda  bislo- 
tiío.  As  Revoluções  jr^  Braiil  desde  1544nl8i8.  Bem  como 
no  Correio  Mercantil  alguns  artigos  sobra  direito  pu'ilico 
constitucional  e  politica  especulativa. 

Rio,  22  de  Novembro  dJ  18t7.  —  O  relator,  ^groííí- 
nho  Marques  Perdigão  Malheiro. 


A  commíssão  de  admissão  de  sócios,  tendo  em  conside- 
ração a  proposta  de  24  de  Outubro  de  1867  do  consócio  o 
Sr.  Dr.  Guitberme  Scbuch  do  Capanema,  e  o  parecer  da 
commíssão  subsidiaria  de  geograpbia  d' este  Instituto,  ap- 
provado  em  sessão  de  5  de  Junho  do  corrente  anno,  sobre 
o  Itinerário  da  Cruz  AUa  ao  Campo  Novo  da  provinda  do 


Dictzedby  Google 


Rio-Grandt  do  Sul,  pelo  Sr.  HonriqQe  Ambaoer  Schulel, 
é  de  parseer  qao  o  candidato  está  do  caso  de  ser  approndo 
membro  correspondente  do  Institato  Histórico  e  Geogn- 
pbico  Brasileiro. 

Sala  das  sessSei.  Rio,  31  de  Jnlho  de  1S68.  O  relator 
Â.  M.  Perdigão  Kalhnro.—Dr.  Hanoel  Duarte  Moreira 
de  Azmsedo, 


Illm.  Sr.— Estando  aoseate  da  cArte,  foi-me  remettido 

officio  de  V.  S-  de  26  de  Oatubro  passado  para  com  os  mais 

membros  da  commissSo  sabsidiaria  de  trabalbos  geogra- 

,  pbicos  dar  parecer  sobre  o  incluso  Itinerário  do  Sr.  Sm- 

baaer  Schatal. 

Qaando  regressei  estava  o  Instituto  em  férias,  por  isso 
sÕ  agora  forneço  as  informações  ao  meu  alcance. 

Conheci  o  Sr.  Schutel  no  Desterro  em  casa  do  sen  tio  o 
illustrado  medico  do  mesmo  nome,  pedi-llie  alguns  escla- 
recimentos sobre  a  proviacia  do  Rio-Grande,  que  ellc  havia 
percorrido:  satisfez-me  cabaimonte:  mais  tarde  pedi-lhe  om 
itinerário  parj  o  distrícto  de  Campo  Novo,  que  tem  Interesse 
geológico  por  eiistirem  alli  jazigos  de  cobre.  EUe  ainda 
n'isso  me  serviu,  e  como  encontrei  ao  trabalho  matéria  mais 
apropriada  aos  Sns  do  Instituto  do  qne  a  de  outras  memo- 
rias qne  serviram  de  titulo  de  admÍss3o  a  diversas  pessoas, 
offereci-o  e  propaz  o  seu  autor  para  sócio. 

O  Sr.  Scbolul  tem  mandado  correspondendas  a  nosso 
favor  para  as  folhas  de  HilSo,  deondeé  filho. 

No  Iienerario  incluso  vâm  apontamentos  importantes  so- 
bre a  produccão,  colheita  e  exportação  do  mate  na  provín- 
cia do  Rio  Grandu  do  Sul,  que  seria  talvez  conveniente 


Dictzedby  Google 


mandar  deseoTolrer  mais  para  estadar  meios  efScazes  de 
melhorar  essa  indaslria. 

Gomo  talreí  ea  a9o  me  possa  enconb^r  com  os  outros 
membros  da  comoiíssao,  rogo  a  V.  S.  se  sirva  dar-lhes  co- 
nhecimento d' estes  esclarecimentos. 

Deos  gaarde  a  Y.  S.  Rio  de  Janeiro,  3  de  Maio  de  1868. 

nim.  e  Revm.  Sr.  cónego  Dr.  Joaqaim  Caetano  Fernan- 
des Pinheiro.  1*.  Secretario  do  Institoto  Histórico  e  Geogra- 
phlco  Brasileiro. — Guilhernu  Sehvch  de  Capanema. 

Concordo.  Era  ntsnpra.— SaídanAa. 

líinerario  da  Cruz  Alta  ao  Campo  Novo  da  Provmeia  do 
Rio  Grande  do  Sul,  a  que  se  refere  o  parecer  acima. 

tllm.  Sr.  Dr.  Guilherme  S.  de  Capanema. —Apresso-me 
a  remetter  osapoolamentos  sobreo  Campo  Novo,  que  V.  S. 
pediu-me,  rogando-lhe  haja  de  desculpar  a  insuISclencla 
do  trabalho,  não  possuindo  eu  conhecimentos  nem  tempo 
necessário  para  melhor  fazM-o,  nem  encontrando  Irabatlio 
algum  que  me  podesso  guiar  sonSo  tradiç-des  verbaes. 

Não  sei  se  será  a  prevenção  algum  tanto  desfavorarel  não 
só  estrangeira  como  nacional  que  circula  contra  a  provio- 
cia  do  Río-Grandedo  Sul,  que  a  tttm  privado  de  nmamono- 
grapbia  exacta;  on  que  não  me  tenha  vindo  ás  mãos  ne- 
nhuma descripçAo  circnmstanciada,  a  n^o  ser  os  Annaei  da 
provvncia  pelo  Sr.  visconde  de  S.  Leopoldo. 

Essa  falia  é  tanto  mais  sonsivel  para  a  província,  que  o 
seu  desenvolvi  mento  tanto  agrícola  como  industrial  não 
tem  tido  o  impnlso  que  poderia  alcançar,  allendendo  não 
só  á  sua  posição  geograpbica,  sen  excetleole  clima,  sua 
admirável  hydrographia  fluvial,  como  ás  suas  ríqnissinias 
prodacç5os  mineraes  e  vegetaes. 

Contrariado  com  a  teitufa  bastante  erropea  e  rigorista 


Dictzedby  Google 


em  deniuia  dealgoos  artigos  dejornaesillostrados  e  scie 
tiScos,  alrevi-me  a  tomar  algumas  huUs  de  mi  Dbas  viagei 
para  poder  contestar  comprovando,  quando  precisjsse. 
Rratetto  o  resumo  d'essas  notas  a  V.  S-,  dando-me  p 
feliz  se  D'ellas  encontrar  o  que  deseja. 

CilVO-me  ao  pequeno  Itinerário  da  Cmz  Alta  ao  Cam 
Novo,  pornãojulgarde  interesse  aigum  para  V.  S.  ore 
da  dcscripcão,  compilada  na  parle  histórica  e  scienlit 
dos  Ánnaes  do  Sr.  visconde  de  S.  Leopoldo  e  de  algi 
jomaes  locaes. 

O  ponto  de  partida  do  meu  lUrurario  é  da  villa  da  Ci 
Alia,  cabeça  da  comarca  do  mesmo  aome,  sitQada  sobn 
plató  que  corda  a  serra  geral,  cordilheira  que  acompanb. 
litoral  com  a  denominação  de  serra  do  Mar  aas  provinc! 
do  N.,  declina  bruscamente  ao  O.  entre  29'  de  lat. 
caoça  a  39'  38',  e  segue  a  mesma  lai.  terminando  em  5' 
10'  delong.  occiílenlat  do  lueridiaooae  Paris. 

Esse  plató  é  considerado  por  Baibi  como  fazendo  pai 
do  grande  plató  que  corda  todo  o  systema  moDtanboso  i 
litoral  brasileiro,  composto  de  umaserie  continua  de  el 
Tac<tes,  mais  oa  menos  marcadas,  c  valles  profundos,  di: 
gindo  quasi  sempre  suas  aguas  a  E.-ES.  O.  OS.  até  a  s 
termioação  oriental  e  occideolalda  mesma  cordilheira. 

A  villadaCruzÀ.ltaacha~secoIlocadaenlre3S°  36' dei; 
meridional e 23'  26' delong.  occídenlaloodeclÍTo  occide 
tal  da  Cochilba-Grande,  d'0Dde  o  plató  declina  insensivi 
mente  terminando  em  planicie  alagadiça  nas  costas  orie 
taes  do  Urngnay. 

As  oitiniOes  dívei^em  sobre  a  formação  da  Cochilt 
Grande,  tida  por  uns  como  prolungação  da  Serra  Gor; 
por  outros  como  cadêa  separada.  .Na  primeira  hypotbese  d 
monstrarta  nm  pbenomeno  importante  na  geologia,  d3o 
pela  sua  pequena  elevação,  deprimida  algum  tanto  na  3| 


Dictzedby  Google 


—  888  - 

proihoaçio  da' Serra  Geral,  a  sQaprolODgac3o  aobre  oplaló 
maDlendo  a  direcçSo  N.  S.,  como  também  a  soa  fonnaí^o, 
domiaaDdo  o  basalto  e  rochas  graníticas  oa  Serra  Geral,  e 
a  argilta,  o  carvão,  e  oatras  slralificaçffes  dos  terrenos  se- 
dimeatares  na  textura  geolc^ica  da  Cocbilha-Graade. 

Os  terrenos  do  litoral,  comprebendendo  a  parle  meridio- 
nal da  províacia,  cortada  pola  Serra  Gera), da  mai^emoccl- 
denlal  das  lagoas  dos  Patos.Goabyba  e  Mírino,  elevam-se  em 
pequenas  ondulações  chamadas  cocbilhas  qnasi  ã  allnra  da 
Cocbilha-Grande,  a  qual  Torma  o  devorlium  aquantm  das 
principaes  artérias  fluvíaes  da  provincia,  escoando  sem 
grandes  obslacntos  nas  lagdas  dos  Patos  e  Mirim  as  orien- 
taes,  e  no  Urugoay  as  occidentaes. 

A  villa  da  Cruz  Alta  é  muito  importante  pelo  commercio 
das  tropas  de  malas  para  as  provincias  de  Minas.  S.  Paulo 
e  ODtras,  e  o  fabrico  e  deposito  da  berra  raatte  dos  berraes 
do  munieipio,  a  qual  forma  um  importantíssimo  ramo  de 
fixportaçSo  para  as  republicas  limitrophes.  E'  um  dos  pon- 
tos mais  ricos  e  avantajados  da  província,  e  sua  p^^siçSo 
permitte  desenvolver  para  o  futuro  o  empório  commercial 
d'aquellas  reeiOes. 

O  municipio  da  Cruz  Alta  acha-se  encerrado  a  E.  peta 
sem  do  Botucarahy,  que  a  meu  ver  não  é  senSo  o  cume 
de  uma  cordilheira  de  remota  formaçlo  ou  continuaçifo  de 
alguma  cadôa  central;  ao  S.  o  versante  meridional  da  Serra 
Geral ;  a  O.  08  bosques  de  Ijuhy  e  Jaguary,  antigos  limites 
das  missões  jesuíticas  do  alto  Druguay;  e  ao  N.  os  inier- 
minuveis  matos  dos  faervaes.  Esses  bellos  campos,  initultos 
em  soa  maior  parte,  possuem  uma  flora  herbácea  das  mais 
variadas,  distincta  da  do  litoral,  intercorlados  por  lagea- 
dosou  riachos  de  aguas  crystallinas,  e  a  temperatura  mo- 
dificada pela  altura  torna  mais  aprazível  o  viajar-se  n' essas 
paragens  do  que  nas  planícies  do  litoral. 


Dictzedby  Google 


—  a»  — 

Soffire  porém  o  elemeDlo  pastoril  com  iSovico3oa  pastos, 
seodo  preciso  dar  sal  aos  aoimaes  bovíDos  e  muares,  sem 
o  qnal  fenecem.  A  Tegeta{So  arboresceote  é  das  m&ísim- 
pooenles,  semeiando  e  encerrando  de  lindos  bosqaes  todo 
o  município.  Duas  estradas  condozem  da  Cruz  Alta  ao 
Campo  Movo,  om  dos  tierraes  ao  N.  do  manicipio :  a  estra- 
da de  baixo  flaaqDeaado  o  versante  da  Gocbilba-Grande.  a 
oatra  de  cima  on  de  carreias  percorrendo  o  come  das  co- 
chílbas.  A  primeira  é  menos  extensa,  porém  muilo  acci- 
dentada  e  perigosa  no  inverno,  a  segaoda  offerece  facU 
viação. 

O  primeiro  pouso  partindo  da  Croz  Alta  em  direcção  ao 
Campo  Novo,  remontando  ao  N.  pela  estrada  de  carretas, 
foi  no  LagoSo,  peqaeno  arrolo  que  tem  nascença  em  uns 
banhados  a  cinco  legnas  da  Cruz  Alta.  Franca  e  attenciosa 
hospitalidade  foi-nos  offerecida  pelo  Sr.  Victor,  proprietá- 
rio da  estancia  do  Lago9o  além  do  passo,  eqoe captou  tanto 
de  meus  companheiros  de  viagem  como  de  mim  mni  grata 
sympatbia.  Não  é  Ião  pródigo  de  liberalidades  o  habitante 
do  plató  paia  com  os  viandantes,  motivo  por  qae  foi-nos 
assaz  seosivel  as  maneiras  do  Sr.  Victor,  reiteiradas  no 
regresso  da  viagem  com  a  mesma  cordialidade. 

Tive  occasião.  durante  minbas  viagens  pela  provincia, 
de  notar  a  differen^  característica,  e  direi  bem  distincta, 
dos  babiiaotes  áoplatá  e  do  litoral.  Parece  que  a  Serra- 
Geral,  cortando  a  provincia  em  duas  partes,  dividiu  o  ca- 
racter e  índole  dos  seus  habitantes,  favorecendo  pybsica- 
mente  ao  serrano,  desenvolvendo  as  faculdades  racíonaes  ao 
campeiro  do  litoral.  Essa  differença  era  caracttirisada  no 
taoipo  da  descoberta  por  duas  tribns  indii;ei>as  da  intelli- 
gente  família  dos  Guaranis;  os  JIftnuanas  em  toda  a  penín- 
sula formada  pelo  Urugnay,  a  Serra  Geral  e  o  mar,'e  os 
Charruas  habitando  o  plató.  Hoje,  que  não  exbtem  sequer 


Dictzedby  Google 


09  vesligius  d^tissas  Iribus,  não  por  toreiu  siJo  absorvidas 
na  mesch  das  laçaii,  mas  sim  por  terem  em  sua  maior  parte 
fenecido  e  emigrado  para  us  republicas  do  ceutro  ;  qual 
será  a  inDuencia  d^ossa  distincção  de  caracter?  Causas  io- 
caes,  teudencias  Iradícionacâ,  uu  effditos  puramente  de  ori- 
gom?  Proopino  [lor  esta  ultima  hypothose. 

O  segundo  pouso  foi  na  invernada  ou  fazenda  (l'um  í^''- 
major  de  origom  franceza,  antigo  oificial  nus  republi- 
cas do  Prata.  Essa  invomada,  ou  campo  fechado  para  en- 
gordo dos  gados,  diiitd  uma  Icgua  do  passo  da  Palmeira, 
pequeno  arroio  que  Lcin  nascença  dos  banliados  e  saugas 
uas  adjacências  da  vlllinha  da  Palmeira. 

Pela  estrada  de  baixo  a  passagem  d'esse  arroio  é  sobro 
uma  pequena  cascata  que  elle  forma,  algum  tanto  perigosa 
quando  está  cheio  pela  rapidez  de  sua  corrente,  molivo 
por  que  preferimos  a  estrada  de  cima,  onde  o  arroio  não 
tem  mais  que  Ires  a  quatro  palmos  de  profundidade  e  com 
pouca  velocidade. 

A  villinha  da  Palmeira  eocontra-se  situada  á  direita  da 
estrada  na  distancia  d'uma  o  meia  milba,  sobre  ama  co- 
cliillia.  E'  centro  da  encruzilhada  dos  hervaes  adjacentes  e 
deposito  das  hervas  que  n^ellea  so  fabricam,  composta  de 
vÍQt'3  a  trinta  casas  e  ranchos  de  palha,  e  uma  capellinha, 
única  om  todo  o  Uistricto  que  tiaha  sacerdote. 

Na  seguinte  noite  peraoitámos  a'um  alpendre  aberto 
por  três  lados,  o  infelizmente  por  um  d'elle9  soprava  um 
venlozinho  acompanhado  de  chuva  fina  e  fria,  que  nos  re- 
gelava até  os  ossos,  e  nos  impossibilitava  de  manter  o  fogo 
acceso.  E'  na  paisagem  do  arroio  por  nome  Novaes,  divisa 
da  estancia  do  mosmu  nume,  à  esquerda  da  estrada,  n'iim 
pequeno  rancho,  habitação  do  posteiro,  tendo  uma  intitu- 
lada venda,  sem  cousa  alguma  alimentícia,  nem  sequer 

TOMO  XXXI,   P.   U  ■  48 


Dictzedby  Google 


um  pouco  de  pbilantropia  do  seu  proprietário  para  n 
veoder  uma  galliaba. 

Passámos  no  dia  s^uinte  pela  encruzilhada  formada  d 
duas  estradas  dos  hervaes,  fazenda  juncção  D'esse  pool 

Os  Èampos,  até  ahi  de  admirável  fecuadidade,  de  terrei 
areenlo,  cessam  completamente,  priocipiando  doesse  poi 
um  terreno  de  argilla  vermelha  mui  escorregadiça  e  fn 
lurada,  entrecortado  de  sangas  barrentas  e  atoleiros.  A  i 
getação  herbácea  cessa  como  por  encanto  succedendo 
aridez  desoladora  para  os  carreteiros,  apenas  algun 
macegas  reverdecem  as  cocbilhas  d'um  verde  amarellad 
Porém  o  que  torea-se  notável  é  a  quantidade  de  codon 
e  perdizes  que  se  encontra,  das  quaes  caçávamos  algum 
a  chicote,  alimentaudo-nos  de  sua  saborosa  carne  i 


Os  bosques  tornam-se  mais  espessos  e  annunciam  ou 
região  não  menos  imponente.  A'  esquerda  vém-se  as  ma 
do  Ijuby  a  perder  de  vista,  limite,  como  já  disse,  : 
missões  jesuíticas,  oude  vinham  das  costas  do  Urugi 
grande  numero  de  índios  fazer  berva  para  o  consumo 
cateclieses,  o  abaslecer  de  quarenta  a  cincoenla  mil  at 
bas  os  mercados  de  Santa  Fé  e  Corrienles. 

Esse  commercio  favorecia  um  dos  módicos  rendimer 
dos  santos  martyres  do  apostolado  calholico  nas  glorie 
missões  do  0ruguay  e  Paraguay,  e  na  desinteressada  i 
bl(3o  do  proselytismo  de  humaDitario  alarde  encontrai 
as  fabalosas  sommas  com  que  affroatavam  os  golpes  do  li 
ralismo  social. 

Centenaresd'e8ses  infelizes  indígenas,  segundo  os  osc 
tos  do  Sr.  visconde  de  S.  Leopoldo  e  Bomplaod,  perecei 
à  fome,  fadigas  ou  perigos  nas  longínquas  matas  dos  \ 
vaes;  outros  eram  capturados  por  quadrilhas  de  pauli 
á  caça  d'eile3  para  vendâl-os  nas  provindas  do  nortt 


Dictzedby  Google 


—  387  — 

outros  emfim  tíTeram  a  gloria  de  combater  pela  inviolabi- 
lidade dathflocratica  repabiica,  contra  a  expedição  de  limi- 
tes, o  qoe  promoveu  segando  aos  a  causa  principal  do 
ramoso  edicto  do  marquez  de  Pombal. 

Lamentável  destiao  d'uma  raça  merecedora  de  melhor 
sorle ;  onde  quer  qne  a  raça  branca  abordasse,  quer  fossem 
audaciosos  conquistadores  de  abjectas  ambioSes,  oa  faná- 
ticos calecbisadores  d'uma  crença  diametralmente  opposla 
ao  evangélico  espirito  persuasivo  do  Divino  Mestre,  o  mí- 
sero índio  sofireu  o  contagio,  perecendo  sem  merecer 
compaixão. 

Tanto  os  matos  de  Ijuby  como  os  do  Botucaraby  a  E-NE 
ligam-se  sem  iaierrupção,  a  não  ser  pequenos  campes- 
tres DO  primeiro,  du  immenso  bosque  do  Campo  Novo, 
antigo  mato  castelhano.  Oceano  grandioso  de  verdura  que 
abrange,  segundo  a  opinião  de  Humbotdt  e  de  Rojer 
n'uma  carta  geographica  das  republicas  do  sul,  toda  a 
região  comprebendida  entre  Uruguay,  Paraguay  e  Paraná. 
A  estimativa  de  algumas  estatísticas  dão  1,70U  léguas  qua- 
draihis  de  bosques  pertencentes  á  província,  porém  joigo-a 
inferior  d'uma  terça  parte. 

Passámos  a  quarta  noite  em  casa  d^uro  velbo  paulista 
á  esquerda,  n*uma  baixada  um  pouco  retirada  da  estrada. 

Esse  senhor,  recommendavel  por  suas  maneiras  francas 
e  cordíaes,  pertencia  á  briosa  populaç9o  paulista  affoíta  e 
exploradora,  a  quem  o  Brasil  deve  a  maior  parte  de  suas  ex- 
plorações no  interior  de  seu  vasto  império,  incluindo  a 
província  do  Rio-Grande,  na  qual  penetraram  por  cima  da 
serra,  apropriando-se  do  que  lhes  fazia  conta.  No  dia 
seguinte  avistámos  o  recanto  onde  existe  a  picada  do  berval 
do  Campo  Novo. 

O  ponto  de  vista  que  se  desenrola  da  proeminência 


Dictzedby  Google 


d'iinia  cochtlha  antes  de  chegar  á  picada  è  dos  mais  gran- 
diosos. 

Por  lodos  os  lados  o  horizonte  é  obscurecido  por  uma 
barreira  verde-nogra  dn  soberba  vegetação  dns  inatas  se- 
culares, e  essa  imponente  perspectiva  era  apenas  iurbada 
pelo  ronco  piar  das  aves  de  rapina.  A  entrada  da  picada, 
por  menos  timorato  que  seja-se,  quando  ó  a  primeira  vez 
que  se  peneira  n'amn  mata  virgem,  sente-se  certa  emoção, 
que  leva  inslinctivamenle  a  revistar  as  armas,  como  se 
fosse  possivrl  divisar  o  perigo  por  enlre  a  espessura  de 
troncos,  Tolhagem  c  cipós. 

No  principio  a  picada  é  boa,  porém  pouco  a  pouco 
torna-se,  na  descida  das  cochilhas,  de  diflicit  transito, 
devido  ã  numerosa  passagem  de  carretas  sobre  o  terreno 
húmido,  não  podendo  os  raios  do  sol  penetrar  por  entre 
as  copadas  arvores.  Graciosos  bosques  do  ulilissimo  taqua- 
russú  bordam  a  estrada,  c  o  bello  itcx-congonha  ostenta 
seu  altivo  porte  e  sua  lustrosa  e  productiva  folhagem. 
Após  dnns  léguas,  pouco  mais  ou  menos,  de  picada  pene- 
trámos por  uma  porteira  no  campestre  do  Campo  Novo. 
denominado  antigamente  Inhocoré-guassú,  de  cinco  léguas 
de  circumpherencia.  Esse  campestre,  segundo  a  opinião 
dos  engenheiros  da  estrada  para  o  alto  Urnguay,  acba-sc 
situado  entro  27"  30°  do  lat.  meridional  c  55' 26"  ác  long. 
occ.  3i  léguas  no  N.  da  Cruz  Alt3,  é  de  árida  appa- 
rencia  como  o  terreno  que  tínhamos  passado,  mui  fractu- 
rado o  não  tendo  pasto  algum  para  os  animaes,  os  quacs 
alimontam-se  dos  vcrtieillos  do  taquarusíi.  Circulando  a 
esquerda  encontrámos  na  encosta  septcrtrional  do  bosque 
oito  011  dez  ranchos,  três  dos  quaos  occnpados  por  enge- 
nhos de  socar  on  moor  lierva  mate.  Um  dos  ranchos  é  a 
venda  d'um  meu  címpatriola  o  Sr.  Pedro  Pagg',  onde  hos- 
pedámos e  recohòraos  franco  acolhimento. 


D,:„l,;cdtv  Google 


Os  engenhos  d'essi]  recanto  servent-sc,  como  todos  os  do 
Campo  Novo,  das  aguas  d'uns  regatos  para  m^itur,  os  qaaes 
aflluem  no  Turvo,  que  serpenteia  na  costa  soplenIrioDal  do 
campestre.  No  dia  soguintc,  costeando  a  margem  do  Turvo 
passámos  polo  Povinho,  aggiomoração  do  dez  a  doze  ran- 
chos o  alguns  engenhos.  O  terrono  Q'usse  lugar  é  pedre- 
goso c  mais  árido  aiodj,  e  por  sua  cdr  indica  a  presença 
de  mincraes  metalifcros.  Não  pude  saber  d'ondo  foi  ei- 
trahida  o  Tragnionto  rle  rocha  cobríÍL-ra  que  tve  a  honra 
de  remetter  a  V.  S.,  porém  não  deve  ser  mui  distante 
d'essa  localidade. 

Do  Povinho  dirigimo-nos  ao  O.  Após  tertnos  passado 
outros  tagcados  allluentcs  do  Turvo  entrámos  no  povo  do 
S.  Xavier. 

Cotiposto  d'uni  grupo  de  trinta  a  quarenta  casas  do 
pobríssimo  aspecto,  o  povo  do  S.  Xavier len  uma  forma 
irregular,  uma  capelltnha  situada  na  extremidade  da  pra^a, 
e  os  engenhos  succedendo-se  á  hcira  d^um  riacho.  Tendo 
deixado  os  pi^es  c  a  cavalhada  antes  de  Iranspfic  o  riacho, 
dirigimo-nos  á  residência  do  Si-,  capilílo  João  Pedro  de 
Campos,  para  quem  eu  traicias  varia.^  cartas  de  recom- 
mondaçAo. 

Apraz-rae  citar  n'cslos  apontamí^nlos  o  nome  do  Sr. 
Campos,  não  só  pelas  delicadas  attençdes  c  coodescen- 
dcnle  bondade,  de  que  usou  (lara  comnosco,  como  pelo 
caracter  enérgico,  reclo  o  humaniiario  que  possuo.  I'ri- 
meira  autoridade  poliria!  do  districto,  merece  os  encómios 
do  governo  imperial  e  a  estima  e  reconbccimcnto  dos 
babilanles  do  Campo  Novo  por  seus  releviínles  serviços. 
Justiceiro  c  harmonisador,  porém  recto  e  inflexível  no  seu 
dever,  é  eite  a  força  moral  que  reprime  os  máos  instinctos 
da  heterogénea  e  pouco  escrupulosa  população  dos  hervaes 
circumvizinhos.   Ilrioso  quão  ínlelligenle,  tem  melhorado, 


Dictzedby  Google 


—  300  — 

quanto  é  possível  a  um  só  homem,  a  Gscalisação  e  aper- 
foiçoamento  de  Ião  productivo  commercio,  alcançando  nas 
bervas  de  seu  fabrico  igualar  a  bondade  e  qualidade  das 
do  Paraguay,  avaotajadas  nos  mercados  do  Praia. 

Á.  população  dos  bervaes  coinpõe-se  em  grande  parte 
de  desertores  dos  batalhões  de  lioba,  de  indivíduos  de 
equívocos  precedentes,  e  mulheres  de  pouquíssima  consi- 
deração, com  quem  vivem  livremente;  elevando-seap- 
proximativameote  a  3,000  iadíviduos  dos  dois  sexos. 
Consciências  elásticas  e  mãos  instínctos  presidem  entre 
ellos  em  seu  commercio.  o  a  impunidade,  que  podem  gozar 
embrenhando-senos  matos  pelo  labyrintbo  de  trilhos  só 
por  elles  conhecidos,  os  incita  a  praticar  actos  reprováveis 
e  algumas  vezes  cruéis. 

O  campestre  do  Campo  Novo,  segundo  me  informou  o 
Sr.  major  Borges,  velho  catharlneta  morador  do  Povinho, 
a  queoi  se  deve  o  reconhecimento  do  alto  Uruguay,  fdra 
descoberto  em  184....  por  uns  caçadores,  os  quacs  leodo-se 
perdido  DO  mato,  viram  a  pcpoena  distancia  levantar-se  a 
fumaça  d'alguma  fogueira,  e  diriginJo-se  D'esse  rumo  não 
encontraram  ninguém.  Altestaram,  porém,  já  ter  tido  lia- 
bitadores  uma  cruz  com  ínscripção  em  portuguez,  uma 
roda  de  carro,  algumjs  teibas  e  traços  d'uma  estrada  de 
carretas.  Uma  caria  gcographica  dos  jesuítas  dava  D'essa 
lat.  nm  campestre  denominado  Vaccas-Brancas.  no  qual- 
a  crença  popular  hr.ià  o  Juposilo  das  riquezas  dos  míssios 
narios,  e  a  moradia  de  uscetícos  anacboretas  de  torturada 
privações.  Nada  foi  eucontrado,  nem  podiam:  o  povo 
apraz-lhe  forjar  formosos  eldorados  e  grutas  de  Monte 
Christo  em  toda  a  parte.  Os  jesuítas  não  eram  uma  ordem 
contemplativa;  ao  contrario,  eminenlemenle  políticos,  não 
lhes  convinha  o  ascetismo,  e  mm  t3o  pouco  accumular 
capitães  ímproductivamente. 


Dictzedby  Google 


o  fabrico  das  hcrvas,  que  eleva-se  aduzenlss  mil  arrobas 
por  safra,  carece  de  severas  medidas  fiscaes,  tanto  para  a 
conservação  de  tão  producUvo  commercio,  quanto  para  a 
bondade  do  sua  qualidade.  O  Sr.  capitão  João  Pedro  de 
Campos  tem  envidado  todos  os  seus  esforços  para  coDveucor 
praticamcDle  que  a  vantagem  das  hervas  do  Paraguay, 
duplamente  pagas  que  as  das  missões,  é  devida  ao  cuidado 
que  tem  o  hcrveiro  no  desgalbar  somente  vegetaes  robus- 
tos, dessecal-os  e  moer  promptamcnte  para  não  perder  a 
fragrância  e  a  c6r,  que  naturalmente  perdem  expostos  ás 
intempéries.  No  eugenlio  requer  lambem  o  caídado  de 
n3o  aventar,  coudicionando-a  e  removendo-a  com  cuidado. 
Nada,  porém,  convence  a  sórdida  e  brulal  ambição  dos 
herveiros.  Destroem  o  regelai  derrubaodo-o  para  o  des- 
gaibar;  deiíam  os  galbos  estacionar  pelo  cbãooo,  lugar 
onde  desgalbaram,  emquanlo  não  tém  quantidade  avul- 
tada para  às  levar  ao  carijó  e  dessecal-os ;  mesclam  diSe- 
rentes  vegetaes  para  terem  maior  provirão,  e  condiciouam 
de  maneira  que  muitas  vezes  purdem  o  fruclo  de  suas 
fadigas. 

Tosco  bastante  é  aiada  o  systema  pelo  qual  remoem  a 
berva,  serviodo-se  de  engenhoj  de  dez  a  doze  pilões  com 
enormes  rodas,  de  moinhos  e  eixos,  movidos  pelas  aguas 
dos  tageados,  as  quaes  conduzem  com  muito  desperdício. 
Servem-se  também  do  monjolo,  o  qual  é  um  pilão  com 
um  braço  em  forma  de  colher,  a  qual  encbendo  o  faz  Ie~ 
vaelar,  recabiado  o  pilão  logo  que  u  receptáculo  derrama  a 
aguj.  Creio  que  não  alcançam  moer  duas  arrobas  de  berva 
por  dia  por  esse  modo.  Esse  ramo  de  comiuercio  escas- 
seará para  o  futuro,  se,  como  ja  disse,  Dão  bouvcr  uma 
fiscalisação  enérgica,  possível  sómeiite  quando  fôr  com- 
preboadida  a  importância  de  t3o  lucrativa  industria.  Enor- 
mes gastos  acarreta  ao  commercio  dos  hcrvacs  a  grande 


Dictzedby  Google 


distaocia  em  que  se  acham  os  bervaes.  mórmeote,  pela 
morosidade  dos  moios  de  Iraosporte.  Carretas  puxadas 
a  seis  e  oílo  bois  não  transportam  mais  de  cem  a  cento 
e  dez  arrobas  de  horva,  e  o  lempo  quo  levam  no  trajecto 
dos  bervaes  missioneiros  ao  passo  do  Ijoly,  o  d'ahi  ao 
passo  do  Itaquy,  e  muitas  vezes  á  Uruguayaoa,  quando  o 
Urugaay  eslà  baixo,  c  de  dois  a  trcs  mezes. 

A  época  da  safra  é  nos  mezes  bibernaes,  om  que  a  vege- 
tação está  em  repouso  e  favorece  a  arrebentação  ua  pri- 
mavera ;  e  isso  ó  um  dos  airazos  ã  rápida  coodncçSo.  Muitas 
vezes  o  carreteiro  vè-se  obrigado  a  descarregar  as  berras 
00  meio  do  campo  por  qualquer  iocídeale  dos  muitos  qoe 
se  dão,  e  a  bumidade  que  possa  penetrar  nas  bervas  é 
sufficíoDte  para  deteríoral-as. 

Dm  grande  inconveniente  para  esse  commercio  é  que  as 
bervas  das  missões  e  Botucaraby  não  cbegam  ao  mercado 
do  Prata  sen&o  depois  d'elle  estar  abastecido  petas  bervas 
do  Paraguay,  o  que  diminue  muitissimo  o  seu  valor,  além 
de  terem  absorvido  maior  despeza.  Estes  contratempos 
foram  previstos  pelo  governo  provincial,  o  qual  ordenou 
a  abertura  d'uaia  estrada  do  herval  da  Guarita  ao  alto- 
Uruguay. 

Mo  foram,  porém,  beni  tomados  os  dados  para  melhor 
j-acilitar  os  meios,  e  essa  estrada  não  pôde  offerecer  van- 
tagem notável,  attendendo  a  que  tem  que  percorrer  nove 
léguas  de  picada,  e  encontra-se  com  o  Uruguay  acima  do 
Salto-Graode,  obslacnlo  enorme  para  a  navegação  fluvial. 
O  campestre  do  Campo  Novo  teria  ofTerecido  menos  dis- 
pendiosa, mais  fácil  e  muito  mais  ulil  realização.  A  dis- 
tancia que  o  separa  do  alto  Uruguay  é  de  seis  léguas 
pouco  mais  ou  menos,  ficando  abaixo  do  Sallo-Grande ; 
utilisando  o  Turvo,  arroio  de  quinze  léguas  de  curso,  lendo 
cinco  legnas  em  igual  direcção  do  Uruguay,  permitlindo 


Dictzedby  Google 


—  3a3  — 

por  meio  de  estacadas  aproveitar  o  volume  de  suas  aguas, 
teodo  juatameate  na  época  da  safra  fundo  suficiente  para 
a  naTsgação  de  cbalanas  ou  mesmo  de  jangadas  á  imitação 
dos  Estados-Unidos.  Uma  estrada  do  campestre  do  Campo 
Novo  ao  alio  Uruguay  não  seria  tão  somente  para  o  com- 
mercio  das  hervas  de  económica  e  urgeale  realizarão, 
desetivolveria  ootrosím  immeasas  vautagens  para  a  ex- 
ploração d'outros  ramos  do  commercio  e  industria.  A  eiís- 
teocia  do  mineral  de  cobre  é  incontestável ;  não  me  sendo 
possível  dar  os  informes  que  V.  S.  pediu-me,  creio, 
porém,  que  a  sua  pasíç9o  deve  ser  exterior,  oào  crendo  a 
pussibilidade  de  que  bajam  foito  excavações  para  obter  o 
frdgmenlo  que  tive  a  honra  de  remelter.  tirande  numero 
de  especuladores  remontam  o  aito  Uruguay,  e  arrancban- 
(lo-se  no  mato  construem  cascos  de  navios,  carregando-os 
de  madeiras  de  lei,  descendo  o  rio  quando  offerece  as  en- 
chentes de  periódica  regularidade.  Essa  fraude,  impossível 
de  obstar  por  ora,  poderia  sâl-o  centralisando  no  Campo 
Novo  ama  guarnição  militar  de  duzentos  a  Iresentos  homens, 
a  qual  protegeria  o  coramercto  das  hervas  o  sua  liscali- 
sa^o,  a  conservação  da  estrada,  manteria  a  ordem  pu- 
blica, e  chamaria  grande  afflueDcia  de  especuladores  em 
pouco  tempo. 

O  Peperi-guassú,  aOluiudo  no  Uruguay  na  loog.  do 
Campo  Novo,  limite  politico  do  Império  com  o  Paraguay, 
oão  tardará  em  ser  por  estes  utilisado  em  via  de  ccmmu- 
nicação,  e  poderão  uSo  só  ser  concorrentes  em  dupla  van- 
tagem ao  commercio  das  hervas,  como  viriam  a  importal-as 
DO  Rio-tirande,  como  acontece  com  o  gado  do  Estado 
Oriental,  que,  além  de  ser  em  concorrência  uòs  charques 
com  as  províncias  do  norte,  a  província  do  Rio-Grande 
lhes  favorece  maior  proveito,  comprando-! bes  o  godo, 
considerado  de  melhor  qualidade. 

TOMO  XXXI,  P.  11  âO 


Dictzedby  Google 


—  39(  - 

Haitisaimas  espécies  de  madeirdS  de  lei  próprias  para 
a  marceaaria,  a  constniccSo  t>aval  e  oatros  ramos  de  ío- 
dQStrja  puilem  ser  fdcilmeDte  extrubidas,  e  offereceriam 
fácil  e  lucroso  commercio  nas  cidades  c  villas  do  longo 
corso  do  Urugoay. 

Resinas  e  gomoias  procaradãs  pela  industria  e  phanna- 
cias  encontram-so  eiii  graode  quantidade,  o  qoe  promove- 
ria  com  vários  fructos  silvestres  um  ramo  imiportaQte  de 
especulação. 

Esses  differentes  géneros  de  exportação  angnieotariam 
a  renda  publica,  o  serviriam  do  attracUvo  a  uma  emigra- 
ção tanto  estrangeira  como  uacioDal  para  esse  ponto  de 
florida  perspectiva. 

Rogo,  porém,  qoe  V.  S.  haja  de  considerar  estas  mlobas 
observações  como  mero  parecer,  descutpando-me  a  íosof- 
flciencia  dos  necessários  conhecimenlos. 

Queira  Trancamente  dispor  do 

De  V.  S. 
Attento  venorador  e  criado 
Hmriqtu  Atéauer  Schuttí. 

Rlo-Grande,  30  de  Selembro  de  1867. 


A  commissão  de  admissão  de  sócios,  aquilaluido  devi- 
menle  a  proposta  de  5  de  Março  do  corrente  anno,  assíg- 
nada  por  todos  os  consócios  presentes  á  sessão  d'esse 
dia,  e  adherindo  inteiramente  á  mesma  proposta,  é  de 
parecer  que  o  Exm.  visconde  de  Inhaúma,  vice-almí- 
rante  Joaquim  José  Ignacto,  está  no  caso  de  ser  appro- 
vado  membro  honorário  d'este  Instituto  por^sua  iUostra- 


Dictzedby  Google 


ção,  emlneales  qualidades  a  relevanlas  serriços  ao  Im- 
pério. 

Sala  das  sessões  do  Instituto  Uisiorico  e  Geograpbico 
Brasileiro,  23  de  Maio  de  Í96S.  — O  rehior,  Agostinho 
Marques  Perdigão  Malheiro.  —  Dr.  Matwel  Duarte  Mo- 
reira de  Azevedo. 


A  cooimissão  de  admissão  de  sócios,  teodo  em  attençio 
a  proposta  de  32  de  J^ovembro  de  1867  do  codbocío  o 
Sr.  cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pinheiro,  é  de  parecer 
que  o  Rerm.  Sr.  padre  Brasseur  de  Bourbourg  está  no 
caso  de  ser  admiUído  membro  correspondente  do  Insti- 
tuto Histórico  e  Geograpbico  Brasileiro.  Sábio  ameríca- 
oista,  autor  de  diversas  obras,  e  especialmente  relativas 
á  archeologia  meiicana,  é  o  candiílalo  um  eiimlo  cultor 
das  letras,  um  espirito  investigador,  sobretudo  das  cousas 
da  America. 

Sala  das  sessSes,  em  31  de  Jutbo  de  1868.  —  O  relator, 
Agostinho  Marques  Perdigão  Malheiro. —  Dr.  Manoel 
Duartfi  Moreira  de  Azevedo. 


A  oommissão  de  admissão  de  sócios,  teaduem  vista 
a  proposta  do  consócio  o  Sr.  cónego  Dr.  J.  C-  Fernandes 
Pinheiro,  de  5  dtijuabo  du  corrente  auno,  é  de  parecer 
que  o  Sr.  Vivien  de  Saint-Martin  eslá  do  caso  de  ser  ad- 
miitido  membro  correspondente  do  Instituto  Hislorico  e 
Geograpbico  Brasileiro.  Vice-presidente  da  Sociedade  de 


;dby  Google 


—  396  — 

Geognpbia  de  Paris,  membro  correspondente  de  varias 
sociedades  litterarias,  cavaileiro  da  legião  de  boora,  é 
o  caDdidato  autor  de  varias  obras  e  memorias  de  histo- 
ria e  geographia,  das  quaes  alRomas  tfim  sido  premia- 
das. Enire  ellas  occupa  distincto  lugar  L''Année  géoyra- 
phique  \  revista  annual  de  viagens  terrestres  e  maritimas, 
explordçOes,missões.  publicações  sobre  geographiaeethDo- 
grapbia,  de  lodo  o  globo ;  o  volume  do  6*  aono  foi  pu- 
blicado em  1867  ;  obra  estimada. 

Sala  das  sessSes.  em  3t  de  Julho  de  1868.  — O  rela- 
tor, Agostinho  Marques  Perdigão  Halhtiro.  —  Dr.  Manoel 
Dtiorte  Moreira  de  Azevedo. 


À  commissão  de  admissão  de  sócios,  coosiderando  a 
proposta  do  consócio  Sr.  cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pi- 
nheiro de  22  de  Novembro  de  1867,  c  de  parecer  que  o 
candidato  Sr.  cavalleiro  José  de  Laca  está  no  caso  de 
ser  admlttido  sócio  correspondente  do  Instituto  Histórico 
e  Geographico  Brasileiro.  Prolepsor  de  geograpbia  e  esla- 
listica  na  universidade  de  Nápoles,  secretario  da  facul- 
dade de  letras  c  philosopbia  na  mesma  universidade, 
antor  de  diversas  obras  scientiAcas,  entre  as  quaes  so 
distinguem  a  Descripção  Geographica  Histórica  e  Admi- 
nistrativa da  Itália  3leriàional  e  as  Cartas  Náuticas  da 
Idade  Média  da  Itália,  c  sem  duvida  o  candidato  um  apro- 
veitado cultor  das  letras. 

Sala  das  conrerencias,  em  31  de  Julho  de  IS68.  —  O 
relator,  A.  M.  Perdigão  Malheiro.  — Dr.  Manoel  Duarte 
Moreira  de  Asevedo. 


Dictzedby  Google 


—  3«7  — 

A  commissãii  de  admissão  de  rocío;;,  attendenr1o&  prn- 
posu  de  22  NoTembro  de  186T  do  consócio  o  Sr.  cóne- 
go Br.  J.  C.  Fernandes  Pinheiro,  é  de  parecer  que  o  can- 
didato  o  Sr.  Alexandre  Magno  de  Castilho,  4*  tenente  da 
armada  pnrtugueza,  e  autor  do  Holeiro  da  Cotta  Occiden- 
tal d' Africa,  esiá  no  caso  de  ser  admiltidn  membro  cor- 
respondente do  Instituto  Histórico  o  tieographíco  Brasi- 
leiro. Pilho  do  conselheiro  José  Feliciano  de  Castilho, 
membro  de  ama  distincla  família  de  litteraios,  o  Sr.  Ale- 
xandre Magno  de  Castilho  tem  dado  provas  deqoetem 
em  grande  apreço  as  letras;  aqaelle  trabalho  é  dito  nm 
documento  vivo,  elogiado  pelo  Sr.  Mendes  Leal,  sem  dii- 
Tida  juiz  competente. 

Sala  das  sessões,  em  -It  de  Julho  de  1S68.  —  O  relator, 
A.  M.  Perdigão  Malheiro.  —  fír.  Manoel  Duarte  Moreira 
de  Ãxevedo. 


Á  commíssão  du  admissão  de  sucins,  tendo  emvistd  a 
proposta  de  17  de  Julho  corrente  assigoadu  pelos  cunso- 
cios  os  Srs.  Drs.  Caetano  Alves  de  Sousa  Pilgueiras, 
Carlos  Honório  de  Figueiredo  e  tuncnle-coronel  Pedro 
Torquato  Xavier  de  Brito,  é  de  parecer  que  o  Sr.  bacha- 
rel Eduardo  de  Sá  Pcrciía  de  Castro  está  no  caso  de  ser 
admittido  membro   correspondeu  lo  cl'estu  Insiitutu. 

O  candidato  6  bacharel  um  ma^hemalicas  u  sciencias 
pbysicas,  tenente  reformado  do  exercito,  c  professor  de 
matbemalicas  na  escola  militar,  onde  roge  lia  dois  annos 
a  cadeira  do  historia  c  geographia.  E'  autor  de  diver- 
sos escriptus,  entre  os  quaes  sobrcsahcm  uai  syslema  de 


Dictzedby  Google 


leitnra,  am  explicador  de  arithmetíca,  ama  metrologia, 
ama  geographia  astronómica,  e  biograpbias  dos  heróes 
brasileiros  oa  actual  campanha  do  Sal.  Sio  titalosqae 
recommendam  e  provam  as  habilitações  do  Sr.  Pereira  de 
Ca!itro. 

Sala  das  coafereDcias  do  Instituto  Histórico  eGeogra- 
phico  Brasileiro,  em  31  da  Jalho  de  1868.  —  O  relator, 
Agoitinho  Marques  Perdigão  Mallmro.  —  Dr.  Jfonoel 
Duarte  Moreira  d$  Aieoedo. 


A  cftmmissSo  de  admiasSo  de  sócios,  tomando  na  de- 
vida coDsideraçSo  a  proposta  dos  consócios  os  Srs.  Dr. 
Carlos  Honório  de  Figneiredo  e  cónego  Dr.  J.  C.  Fernan- 
des Pinheiro,  é  de  parecer  que  o  candidato  o  Sr.  José 
Haría  Pinto  Peixoto  está  no  caso  de  ser  admittido  mem- 
bro correspondente  d'e3t6  Instituto. 

Filho  legitimo  do  general  José  Haria  Pinto  Peixoto,  e 
nascido  n'esta  cdrte  aos  4  de  Novembro  de  1825,  tendo 
feito  as  suas  humanidades  o  o  curso  da  aula  do  commer- 
cio,  dedicou-se  à  carreira  diplomática,  onde  servia  de 
addido  Q  secretario  na  Europa  e  na  America,  âemKUn- 
do-se  em  1855.  E'  moco  Bdalgo  com  eiercicío  na  casa 
imperial  e  commendador  da  ordem  do  Chrislo.  Escre- 
veu artigos  sobre  a  livre  navegação  do  Paraná,  aberlura  do 
Amazonas,  questão  com  o  Paraguay  por  occasião  da  missão 
Pedro  Ferreira,  questão  do  Oyapock,  qaestSo  de  proprie- 
dades brasileiras  no  Estado  Orientai,  atém  de  outros  as- 
sumptos. Não  menos  notáveis  foram  uns  artigos  pelo 
picsmo  poblicados  no  Mercantil  de  Petrópolis  sobra  o 


Dictzedby  Google 


—  399  — 

Senhor  D.  Pe Jra  I  par  occasiSo  da  ÍDaaguração  ita  esta- 
tua equestre  do  fuodador  do  Império  ;  esses  artigos  re- 
faodidos  tèm  boje  por  titulo  DtMs  palavras  si^)re 
D.  Pedro  I  na  época  da  independência,  e  em  maous- 
cripto  o  seu  aulor  offereceu  a  este  lastítuto  em  1863. 
Sala  das  sessOds,  em  7  de  Agosto  de  1868. —Ore 
lator,  Agostinho  Marques  Perdigão  Malheiro.  —  Dr.  Ma- 
noel Duarte  Moreira  de  Azevedo. 


Dictzedby  Google 


Do.icdt,  Google 


SESSÃO  MAGNA   ANMVERSARU 

DO 

INSTITUTO  HISTÓRICO  t  GEOGIlirillCO  BntSILÍIRfl 

NO  DIA  15  DE  DEZEMBBO  DE  1868 


DISCURSO 

DO   PRESIDENTE   O  SR.  VISCONDE  DE   SAPUCAHY 

Dois  illustres  brasileiros,  distiuclos  peio  saber  e  palrio- 
(isoio,  a  um  dos  quaes  deve  o  Brasil  eoi  grande  parte  o  des- 
envolvimento dos  meios  adequados  ao  conseguimento  de 
sua  independência  politica,  esses  dois  Brasileiros,  desejando 
que  a  pátria  fosse  devídamenle  conbecídaeaprecíada  eutre 
os  estranhos,  porque  d'èsse  conhecimento  lhe  resultaria  glo- 
ria, e  convencidos  da  necessidade  de  que  os  natucaes  Dão 
ignorassem  as  vantagens  da  terra  natal,  eo  quanto  valiam 
seus  maiores,  conceberam  a  grandiosa  idéa  da  creaçâo  de 
uma  sociedade,  a  que,  de  accordo  com  o  programma  que 
traçaram,  deram  o  nome  de  Instituto  Histórico  e  Geogrephico 
Brasileiro. 

Sabiam  esses  doutos  patriotas  que  muitas  pennas,  aliás 
illuslres,  tinbam  escrípto  memorias,  aonaes  e  relatórios  das 
cousas  do  Brasil;  mas  faltava  uma  historia  bem  organisada 
quê  apresentasse  aos  olhos  dos  nossos  e  dos  estranhos  um 
quadro  fiel  de  pouco'mais  de  ttes  séculos,  em  que  se  visse 
a  marcha  dos  nossos successos  ralacionadosenlre  sidesdea 
descoberta  d'esla  parto  do  Novo  Mundo. 

Figurai-vos,  senhores,  as  peças  necessárias  á  construc- 
Ção  de  um  grande  edificio,  confusameilte  derramadas  em 

TOHO   XXSl,  P.  II  51 


Dictzedby  Google 


—  402  — 

um  rasto  campo,  Dão  podendo  por  isso  apresentar  á  admi- 
ração do  munJoo  mai;es(oso  espectáculo  que  the  oITerecem 
essas  obras  que  ainda  alTrontara  o  poder  dos  séculos  ;  e  vós 
tereis  uma  idéa  da  importante  tarefa  que  sobre  os  hombros 
tinha  de  to.nar  o  projectado  Instituto  Histórico  e  Geogra- 
phico  do  Brasil,  acompanhando  a  civilisação  da  pátria,  cujos 
progressos  se  tornam  mais  rápidos  de  dia  a  dia. 

Seria  o  encargo  da  sociedadci  reunir  primeiramente  do- 
cumentos incontestáveis,  despil-os  de  quaesquer  sombras 
que  os  possam  tornar  duvidosos,  e  assim  oITerecúl-os  a  fu- 
turos historiadores,  como  indispensável  material  sobre  que 
trabalhasse  a  sua  critica  e  a  sua  pbilosophia. 

Eis  a  concepção  dos  arrojados  emprebeodedores,  que, 
ajudados  de  raais  3S  verdadeiros  crentes,  conseguiram,  sob 
os  auspícios  da  illustre  sociedade  Auxiliadora  da  Industria 
Nacional,  o  desejado  fim. 

Inaugurou-se  o  conselho  administrativo  da  nascente  as- 
sociação, composto  de  doze  membros,  dos  quaes  existem 
apenas  dois,  o  conselheiro  Alexandre  Maria  de  Mariz  Sar- 
mento e  o  actual  presidente  do  Instituto  Histórico  e  Geo- 
graphico  Brasileiro,  que  tem  a  honra  do  dÍrigir-vos  a  pala- 
vra n'este  momento.  Tão  abundante  tem  sido  a  ceifa  da  ni- 
veladora fouce ! 

Surgiram  desde  logo  sinistros  agoureiros,  que  prognosti- 
caram a  recente  sociedade  ephemera  duração. 

p.  E' planta  exótica  no  Brasil,  diziam,  não  pôde  medrar 
fora  de  sua  zona.  » 

A  fé  e  perseverança  dos  fundadores,  o  patriotismo  dos 
brasileiros,  os  auxílios  do  governo,  e  sobretudo  a  protec- 
ção pessoal  do  monarcha,  zombaram  do  malfadado  agouro, 
e  sustentaram  a  empreza  a  ponto  de  atlingir  hoje  o  sexto 
lustro  de  existência. 


Dictzedby  Google 


—  403  — 

E  aqui  estamos,  senhores,  iacolumes  para  celebrar  a  so- 
Icmne  sessão  aoniversaria  de  sua  inauguração,  e  dar-vos 
conta  dos  successos  do  anno  que  Andou. 

Além  das  provas  do  cumprimento  de  deveres  exbibidos 
na  Revista  Trimensal,  vereis  no  bem  Iraf^do  relatório  do 
erudito  1°  secretario  qual  foi  a  marcha  do  Instituto  n^esse 
período ;  tereis  conhecimento  dos  factos  occorridos,  e  a  re- 
senha dos  trabalhos  de  própria  lavra  dos  illustres  consó- 
cios, assiduos  nas  reuniões  determinadas  pelos  nossos  ar- 
tigos constitutivos,  e  essas  reuniões  nem  uma  só  vez  dei- 
xaram de  ser  honradas  com  a  augusta  presença  de  S.  M.  o 
Imperador,  pntneiTO  sócio  do  Instituto  e  o  mais  interessado 
no  seuprogresso,  segundo  a  memorável  expressão  da  allo- 
cuçâo  do  15  de  Dezembro  de  1849,  que  tão  alto  coliocou  a 
sociedade. 

Aqui  apenas  adiantarei  que,  sem  aparlar-se  da  habitual 
circumspecção  que  o  distingue,  o  instituto  recebeu  este 
anno  em  seu  grémio  Hlteratos  distinctos  e  esperançosos. 
Bem  vindos  sejam  os  novos  obreiros.  Venham  robustos  dar 
impulso  á  mageslosa  fabrica  em  que  estão  empenhados  an- 
tigos lidadores,  já  merecedores  de  allivío,  bem  que  firmes 
em  seu  honroso  posto. 

Desapparecõram  do  nosso  quadro,  arrebatados  peta  fatal 
ueccssidade,  companheiros  prestantes,  cujos  nomes  e  pe- 
regrinação sobre  a  terra  o  illustrado  orador  recommendará 
á  posleridade  com  sua  olocação  encantadora. 

Concluindo,  cumpro  ogralo  dever ;  l",  de  agradecer  aos 
supremos  poderes  do  Estado  a  benigna  allenção  com  que 
lèm  acolhido  o  Instituto,  já  subsidiando-o,  já  ministrando- 
Ihc  documentos  c  fazendo  communtcações  que  muito  faci- 
litam a  espinhosa  vereda  por  onde  caminha ;  2',  de  render 
graças  aos  conspícuos  cidadãos  que  não  desdenharam  o 


Dictzedby  Google 


convite  do  Instituto,  e  dignaram-sfl  de  honrar  com  sua  prn- 
sença  esta  fest*  litteraria. 

A  V.  M.  Imperial,  senhor,  e  á  excelsa  Imperatriz  do  Bra- 
sil Dão  tenho  eipressões  que  demonstrem  os  sentimentos 
de  respeilo  e  do  animo  agradecido.  Seja  o  silencio  o  signal 
da  grandeza  do  reconhecimento  dolnslituto  aos  beneficias 
que  lhe  t^m  sido  Ião  liberalmente  dispensados. 

Está  aberta  a  sessão. 


Dictzedby  Google 


RELATÓRIO     . 

DO  PRIHBIBO  SECB8TAB10 

CÓNEGO  DR.  J.  aETANO  FERXANDE8  PINHEIRO 

Senhores.  —  Singular  pheaomeno  passa-se  u  nossos 
olhos,  phDaomeno  que  sem  duvida  lerá  repetidas  vi>zes 
formado  assumpto  de  vossas  cogitações  :  a  vida  nos  corre 
mais  ligeira  do  que  aos  nossos  maiores  ;  vivemos  mais  em 
menos  tempo. 

Transpostas  as  barreiras  que  a  prendiam,  como  um  cír- 
culo do  inferno  de  Dante,  a  humanidade,  atrelando  a  seu 
carro  o  cavallo  d^moamíco  e  fazendo  da  electricidade  pos- 
tilhão, riscou  dos  diccionarios  a  palavra  impossivel.  Mas, 
semelhante  a  esse  generoso  falerno  de  que  nos  falia  Horá- 
cio, que  a  miúdo  estalava  as  amphoras  que  o  continham,  as- 
sim o  homem  de  hoje  envelhece  prematuramente  :  alve- 
jam-se-lhe  os  cabellos  ou  desnuda-se-lhe  o  craneo,  na 
mesma  sazão  em  que  outr^ora  resplandeciam  seus  avós  de 
mocidade. 

Occorreram-me  estas  reílexões  quando  colltgia  as  bases 
para  este  relatório,  recordando-me  que  solemnisamos  o 
nosso  trigésimo  aniversario,  e  que  poucos  [ahl  bem  pou- 
cos !)  são  os  romeiros  d'essa  patriótica  peregrinação  que 
vejo  sentados  n'estas  cadeiras,  ou  que  por  motivos  impe- 
riosos deixaram  de  concorrer  ao  nosso  jubiléo  ! ! 

Trinta  aiinos,  senhores,  na  vida  dos  povos  modernos, 
correspondera  a  três  séculos  na  dos  unligos  ;  por  isso  o  sá- 
bio Babinet,  maravilhado  do  miraculoso  progresso  em  que 
víimos,  propdz  quo  a  década  substituísse  ao  século. 

Lançando  rápido  olhar  para  a  historia  da  nossa  associa- 


DictzedbyGoOglC 


—  4oe  — 

cão  Teremos  confirmado  o  que  á  primeira  vista  parecerá 
paradoxo. 

Em  Agosto  de  1838  dois  beneméritos  cidadios  (um  mi- 
litar e  um  padre)  propuzeram  ao  conselho  administrativo  da 
sociedade  Auxiliadora  da  Industria  Nacional  a  creação  de 
um  Instituto,  que  se  occupasse  de  centralísar  os  immersos 
e  preciosos  documentos  esparsos  pelas  províncias  e  que 
podessem  fervír  d  historio  egeograpbia  pátria. 

Aceita  a  idéa,  fundou-se  o  nosso  Instituto  sob  a  presi- 
dência de  um  venerando  aaciâo  de  saudosa  e  immorre- 
doura  lembrança.  Passado  o  primeiro  assomo  do  enthusias- 
mo,  congénere  aos  povos  meridionaes,  o  desanimo  e  a 
descrença  coáram-se  pelos  poros  da  nova  sociedade,  sendo 
então  preciso  que  três  atlantes  carregassem  sobre  seus 
bombros  o  tabernáculo  da  scÍencÍa.D'estes  três  atlaoles  pede 
a  justiça  que  faca  eu  aqui  expressa  e  honrosa  meucão  do 
mais  vigoroso,  mais  activo,  quiçá  mais  dedicado,  D'uma  pa- 
lavra do  cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa,  a  quem  in- 
dignamente succedo,  d'esse  prestimoso  ccclesíastico,  que 
descobriu  o  segredo  de  ser  ao  mesmo  tempo  útil  á  religião, 
ás  letras  e  i  pátria. 

Bem  que  favorecido  pelos  supremos  poderes  do  Estado, 
definhava  o  nosso  Instituto  :  e  muito  de  vós  se  lembrarão 
do  tempo  em  que  as  nossas  sessões  eram  apenas  concorri- 
das pelo  limiladíssimo  numero  de  sócios  exigidos  pelos 
estatutos.  O  dia  15  de  Dezembro  do  1849  raiou  alGm  no  ho- 
rizonte das  letras :  o  Imperador,  depois  de  havcr-nos  mu- 
oiricentemenle  hospedado  cm  seu  palácio,  veiu  sentar-se 
entre  nós,  honrar  com  a  sua  augusta  presença  os  nossos 
trabalhoso  vivilical-os. 

Muito  se  falia  nos  séculos  do  Augusto,  de  Leão  \,  de 
LuizXIVedeD.Manoel;longe,  bom  longe  demim  o  sacrílego 
pensamoniu  de  mingoar  o  tributo  do  gratidão  que  lhes  deve 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


a  posteridade:  não  mo  consta,  porém,  que  nenhum  dVsses 
preclaros  príncipes  descesse  do  fasligio  da  magestade  para 
nivelar-se  com  seus  súbditos,  trocando  o  sólio  pela  cadeira  do 
académico.  As  mesmas  pensões  que  asseguravam  aos  sábios 
e  litteratos  a  áurea  mediocridade,  tão  suspirada  pelo  poeta 
de  Venuza,  seriam  perniciosas  em  nossa  época,  em  que 
todo  o  homeno  deve  viver  de  seu  trabalho,  seguro  e  valioso 
penhor  de  sua  independência.  Melhor  do  que  ninguém  co- 
nhece o  Imperador  essa  fatídica  lei  da  sociedade  moderna, 
e  de  sua  bolsa,  sempre  franca  aos  necessitados,  não  tem 
sahido  essas  pensões  que  humilharam  Corneille  e  Racine, 
que  alimentavam  chronistas  que  mentiam  á  historia,  qne 
subsidiavam,  em  noma  da  religião  e  das  artes,  fantásticas 
creações  como  as  do  Escurial,  .Mafra  e  Versailles.  Não,  se- 
nhores, a  verdadeira,  a  legitima,  a  única  protecç.ão  de  que 
em  nossos  dias  carecem  as  sciencias  e  letras  é  a  que  nos  li- 
beralisa  o  Sr.  D.  Pedro.  11,  protecção  que  ainda  este  anno 
não  faltou  ao  instituto,  como  ides  ver  pela  minha  descorada 
narrativa. 

Em  preciosas  caçoulasíoia  myrrha  da  historia  queimada 
em  nossas  aras  por  zelosos  levitas.  O  Sr.  Dr.  José  Maria  da 
Silva  Paranhos  Júnior  prendeua  attenção  do  Instituto  cotn 
a  leitura daeslimavel — BiograpkiadogeneralJosédeAbreu, 
barão  do  Serro  Largo,  que  lhe  serviu  de  titulode  admissão, 
e  do  que  vos  fallei  em  meu  anterior  relatório.  Occulta  o  mo- 
desto titulo  de  biographia  a  minuciosa  historia  dos  grandes 
acontecimentos  quo  so  passaram  na  plaga  austral  do  Brasil, 
ou  nas  ribeiras  do  Prata,  onde  nossa  honra  ou  graves  in- 
teresses compromettidos  levaram  as  armas,  quasi  sempre 
victoriosas,  do  Impcrio.  O  nome  de  José  de  Abreu  era  tão 
legendário  como  mais  tarde  devfira  sor  o  de  Osório,  porque 
pertencem  ambos  a  essa  raça  inlelligenle  e  vigorosa  que  a 


Dictzedby  Google 


Com  et] 

^  de  Josn 
«>  toma  CO' 

,  enviado  p. 
>  Trogua).- 
K-epclUdo  S< 

Andréa  Arll 
íS  OrieDtaes. 


I 


-^^«iitagensqiil 
B_.^  Oriental  co^ 
-^.^rcbia  o  ' 
s.,^%.  «idilbo  que  c 
^^  -pelos  seus  st 
«^escommuDat 
.^-m  mjbe  dar,  mai 
t:»s-Ajres,  a  de.-. 
-^^  pulsão  dos  heb 
^-^os  de  alguns  L 

I  -^ez  se  diga  que  - 
t^K^re,  e,  pois,  julgai 
—  j^  •  Auio-Biograph 
.  =  _»    ArliBM  em   p< 


D,:„l,;cdtv  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


ãfflw  Lamentávamos  aausonciado  nosso  3' vice-presideníe, 
a  quem  motivos  alheios  á  vontade  conservava  arredio  de 
^^  nossos  trabalhos.  Eis  que,  superando  esses  obstáculos,  © 
dando  com  isso  exuberaote  prova  do  quaoto  se  interessa 
"  por  esta  associação,  quo  lhe  deve  os  primeiros  amores  A& 
"  ■■  mancebo  metaraorphoseados  na  amizade  do  homem  pro  - 
~  '  vecto,  veiu  na  sessão  de  23  de  Oatubro  ultimo  confiar-nos 
'^^'  o  fructo  de  suas  judiciosas  iudagações  concernentes  á  vida 
^■'^-  de  uma  illustce  poetiza,  compatriota  nossa.  Sabeis  que  me 
*'-'  refiro  a  D,  Beatriz  Francisca  de  Assis  Brandão,  qua  estrei — 
"!!*■■  los  víqcuIos  de  parentesco  ligavam  á  celebre  Marília  de  Dir— 
1^—  cea,  e  cujo  original  talento,  combinado  com  erudição  não 
'--  vulgar,  attrahiram  os  sinceros  e  imparciaes  gabos  do  nosso 
'''^'       coUega,  competente  e  mui  autorisado  contraste. 

Pagando  páreas  ao  Instituto  do  muito  que  lhe  devo,  sub- 
n-  metti  a  seu  acrysolado  juizo  um  ligeiro  estudo  que  empre— 
•V  hendi  acerca  dos  padres  da  Patrocínio  de  Ilú.  Meu  intuito 

foi  demonstrar  que  nem  a  maior  piedade,  nem  os  mais 
i-         austeros  costumes   podem  sublrahir-nos  do  contagio  de 
:■         falsas  doutrinas,  e  render  ao  mesmo  tempo  homenagem  a 
esses  santos  varões,  que,  advertidos  do  perigo  que  se  appo- 
pinquava,  submetleram-se  com  a  edificantedocilidade  que 
outr'ora  tanto  ennobrecôra  ao  sábio  arcebispo  de  Cambraia. 
Reservei  adrede  para  ultimo  lugar  a  monção  de  uma 
substancial  memoria  lida  este  anuo  no  Instituto  peio  Sr, 
Dr.  João  Ribeiro  de  Almeida,  porque  mais  de  espaço  que- 
ria d'ella  occupar-me,  atteota  a  importância  e  momentoso 
interesse  do  assumpto. 

AUudo  ao  luminoso  trabalho  do  nosso  illuslre  consócio 
intitulado — Considerações  sobre  o  acclimamento  das  raças 
hnmanas  para  servirem  ao  estudo  da  colonisação  no  Bra~ 
sil. 

Começada  no  anno  passado,  ijotívéra-se  na  seguinte  con- 

TOMO   XXXI,  P.  II.  52 


ídbyGooJ^lc 


—  408  - 

Providencia  coUocou  de  atalaia  em  nossas  sempre  dispu- 
tadas fronteiras. 

Um  joven  naturalista  que  nas  tradições  de  familia  de- 
parou com  o  culto  do  passado,  e  que  ainda  na  ÍDrancia  bal- 
baciava  com  respeito  os  nomes  dos  nossos  varões  illuslres, 
veiu  lèr-nos  a  mui  erudita  e  copiosa— BiogrnpAía  de  frei  José 
Marianno  da  Concàção  Velloío.Migao  era  por  certo  de  apre- 
ciar o  autor  da  Flora  Fluminense  o  St.  Mr.  Josó  de  Saldanha 
da  Gama,  que  tantos  encantos  descobre  na  contemplação  e 
estudo  da  nossa  pomposa  natureza  tropical,  e  que  na  qua- 
dra em  que  a  mór  parle  dos  homens  saboream,  a  longos  tra- 
gos, as  delicias  da  vida,  eotrega-se  com  indefessa  activi- 
dade ás  áridas  pesquizas  da  sciencia  de  Linneu,  Jussieu  e 
De  Candolle. 

Habituamo-Dos  a  ver  no  Sr.  Dr.  Moreira  de  Azevedo  um 
infatigável  esmerilhador  da  nossa  historia, que,compulsando 
esquecidos  documentos,  já  interrogando  coevas  testemu- 
nhas, vai  conseguindo  restabelecer  a  verdade  sobre  um  pe- 
ríodo tão  vizinho  de  nós  e  já  tâo  obscurecido  pelas  fabulas. 
Nâo  é  a  nossa  constituição  politica  um  mylbo,  como  a  da 
Inglaterra,  não  a  arrancou  a  aristocracia  á  fraqueza  de  ne- 
nhum rei,  nem  a  diclaram  demagogos  em  lumaltuosas  as- 
sembléas. 

Delineada  no  mais  magestoso  e  Ubérrimo  con'^sso  que 
o  Brasil  tem  tido,  e  interrompida  a  sua  feitura  por  lamen- 
táveis occurrencias,  realizaram-na  a  pratica  sabedoria  de  al- 
guns prestantes  varões,  animados,  e  quiçá  coadjuvados, 
pot  um  principa  cubiçoso  de  todas  as  glorias.  Recorda  o 
nosso  iilustrado  consócio  a  origem  do  pacto  fundamental 
que  nos  rege,  o  enthusiasmo  com  que  foi  acolhida  a  sua 
promulgação,  e  por  um  juslo  e  louvável  sentimento  de  gra- 
tidão deposita  grinaldas  de  folhas  de  ibirapitanga  sobre 
os  túmulos  meio  abertos  d'esses  patríarchas  da  liberdade. 


Dictzedby  Google 


Lnmenta vamos  aauseDciado  nosso  3*  vice-presidente, 
a  quem  motivos  alheios  á  vontade  conservava  arredio  de 
nossos  trabalhos.  Eis  que,  superando  esses  obstáculos,  e 
dsodo  com  isso  exuberante  prova  do  quanto  se  interessa 
por  esta  associação,  que  lhe  deve  os  primeiros  amores  de 
mancebo  metamorphoseados  na  amizade  do  homem  pro- 
vecto, veiu  na  sessão  de  23  de  Outubro  ultimo  con&ar-nos 
o  fructo  de  suas  judiciosas  indagações  concernentes  á  vida 
de  uma  illustre  poetiza,  compatriota  nossa.  Sabeis  que  me 
refiro  a  D.  Beatriz  Francisca  de  4ssis  Brandão,  que  estrei' 
los  vinculos  de  parentesco  ligavam  á  celebre  Marília  de  Dír- 
ceu,  e  cujo  original  talento,  combinado  com  erudição  não 
vulgar,  atlrahiram  os  sinceros  e  ímparciaes  gabos  do  nosso 
collega,  competente  e  mui  autorisado  contraste. 

Pagando  páreas  ao  Instituto  do  muito  que  lhe  devo,  sub- 
metli  a  seu  acrysolado  juizo  um  ligeiro  estudo  que  empre- 
hendi  acerca  dos  padres  do  Patrocínio  de  Itú.  Meu  intuito 
foi  demonstrar  que  nem  a  maior  piedade,  nem  os  mais 
austeros  costumes  podem  sublrahir-nos  do  contagio  de 
falsas  doutrinas,  e  render  ao  mesmo  tempo  homenagem  a 
esses  santos  varões,  que,  advertidos  do  perigo  que  se  àpro- 
pinquava,  submelteram-se  com  a  ediricante  docilidade  que 
outr'ora  tanto  ennobrecéra  ao  sábio  arcebispo  de  Cambraia. 

Reservei  adrede  para  ultimo  lugar  a  menção  de  uma 
substancial  memoria  lídu  esle  anno  no  Instituto  pelo  Sr. 
Dr.  João  Ribeiro  de  Almeida,  porque  mais  de  espaço  que- 
ria d^ella  occupar-me,  altenta  a  importância  e  momentoso 
interesse  do  assumpto. 

AUudo  ao  luminoso  trabalho  do  nosso  illustre  consócio 
intitulado — Considerações  sobre  o  acclimamento  das  raças 
hnmanaí  para  seroirem  ao  estudo  da  colonisação  no  Bra- 
sil. 

Começada  no  anno  passado,  (]etivéra-se  na  seguinte  coo- 

TOHO  XSXl,   P.  II.  S2 


Dictzedby  Google 


—  410  — 

clusão:  — as  innumeraveis  o  dolorosas  eiporienctas  por 
que  tem  passado  a  humnnidado  om  suas  emigrações  acon- 
selham que  nos  cinjamos  ao  pequeno  acclimaraento,  fir- 
mado ainda  pelo  cruzamento  com  os  naturaes  do  paiz.  — 
Ksta  conclusão,  corroborada  pelos  factos  hauridos  na  his- 
toria aoliga  e  média,  é  levnda  á  evidencia  pelas  iovestiga- 
rões  dos  factos  modernos.  Do  estudo  consciencioso  das  di- 
versas colónias  fundadas  na  America  desde  o  seu  descobri- 
mento, e  em  todas  as  zonas,  pelos  habitadores  de  varias  re- 
giões da  Europa,  lira  as  saguinles  conclusões  : 

!.•  As  emigraçSes  de  climas  quentes  para  outros  tempe- 
rados ou  frios  I6m  sido  sempre  bem  succedidas,  sendo  fácil 
o  acciimamenlo.  Quanto  mais  meridional  ha  sido  a  raça  eu- 
ropéa  emigrante  maior  gráo  de  resistência  o  mais  proraplo 
acciimameato  tem  apresentado. 

2.'  Nos  climas  quentes  a  raça  latina  conservará  sempre 
grande  superioridade  quanto  á  aptidão  para  sujeitar-se  ás 
inlluencias  dos  novos  climas;  contribuindo  poderosa- 
mente para  semelhante  resultado  os  cruzamentos  com 
os  aborígenes.  E'  o  que  demonstra  a  observação  rela- 
tivamente aos  bespanhóes  no  Meitco,  em  Cuba  e  nas  repu- 
blicas sul-americanas,  nas  Philippjnas,  etc.,  e  quanto 
aos  portuguezes  om  Ciibo-Verde,  S.  Thomé,  Príncipe, 
índia,  Brasil,  e  sobretudo  nas  possessões  da  costa 
oriental  e  occidental  da  Africa,  onde  resistem  ás  influen- 
cias delecterias  de  um  clima  extremamente  insalubre.  Para 
acolonísação  da  Argélia  concorrem  francezes,  italianos, 
hespanhócs  e  altemães;  estes  últimos,  porém,  succumbera 
era  globo:  conseguem  os  francezes  manter  o  equilíbrio 
entre  os  nascimentos  e  os  obílos,  os  italianos  prosperam, 
e  o  hespanbóes  acclímam-sa  de  tal  modo  que  o  seu  aug- 
menlo  annuo  cheg3  a  exceder  ao  do  próprio  paiz  natal. 
I.I.*  Ikefirdiam  e  succumbemnas  regiões  do  equador  e  dos 


Dictzedby  Google 


-  Hl    - 

trópicos  as  raças  supleatríonaes  da  Europa;  c  se  inilividua- 
lidades  privilegiadas  resisteia  e  chegam  a  adaptarem-se  ao 
clima,  a  grande  maioria  morre  ou  degrada-se  physica  e  mo- 
ra Imeate. 

Resumindo  os  fados  dispersos  e  fracciooados  de  accli- 
mamento  segundo  as  ranas,  deduz  o  erudito  autor  eslcs  co- 
rotlarios :  que  os  inglezes  e  outros  povos  de  origem  germâ- 
nica só  podem  colonisar  paizes  temperados  ou  frios  ;  sondo 
que  se  acham  em  completa  decadência  as  colónias  que  pos- 
suem fora  d^essas  regiões,  as  quaes  unicamente  conservam 
como  pontos  estratégicos,  empórios  commerciaes  ou  sim- 
ples feitorias.  Os  francezes  podem  acclimar-sc  nos  pai- 
zes  temperados  e  mesmo  em  al^iuns  quentes,  uma  vez  que 
sejam  salubres.  Os  italianos,  hespanhóes  c  porluguezes 
prosperam  em  lodos  os  climas  salubres,  queates,  ou  tórridos 
e  até  nos  insalubres,  mediante  o  cruzamento  com  os  indi- 
genas. 

Das  raças  européas  passando  ás  asiáticas  e  africanas, 
verifica-se  que  os  indianos  em  geral  supportam  bem  os 
climas  quentes,  como  acontece  aos  chins,  que  tão  bons 
serviros  estão  prestando  ás  colónias  inglezas.  Dá- se  admi- 
ravelmente a  raça  negra  nos  climas  quentes;  sobretudo  se 
é  tratada  com  doçura  e  lhe  deiíam  certo  gráo  de  liberdade, 
(iuza  mais  que  qualquer  outra  esta  raça  de  immunidade  ou 
de  uma  maior  resistência  à  acção  do  miasma  paludoso. 

A  propósito  do  cruzamento  das  raças,  demonstra  outro- 
sim  a  observação  que  a  raça  germânica,  caldeando-se  com 
os  autocblhones  de  Suas  colónias  ou  não  são  prolíficos  os 
seus  productos,  ou  constituem  uma  raça  hybrida  e  anti- 
engenesica.  Sirva  de  exemplo  o  que  acontece  com  os  in- 
glezes na  Austrália  e  com  os  hollandezes  em  Ceylão.  Os 
hespanhóes  e  portuguezes,  em  seus  cruzamentos  com  os 
indígenas  da  America,  ou  com  as  raças  negra,  indiana,  cht- 


Dictzedby  Google 


—  412  — 

Doza,  etc.,  têm  sempre  produzido  mestiços  perfeilamei 
engeaesicos. 

OccupaDdo-se  em  seguida  da  mui  debatida  questão  se 
mestiços  degeneram  ou  não  das  qualidades  caracteristit 
das  raças  mais,  eoteade  o  dosso  laborioso  Gollega  que  s 
melhaate  degeoeração  não  existe,  e  appelta  para  o  facto,[ 
todos  DÓS  reconhecido,  da  aptidão  dos  mestiços  para 
artes,  sciencias  e  letras. 

Como  preliminar  de  um  plano  geral  de  colooisação,  i 
tendeu  o  nosso  erudito  consócio  conveniente  estudai 
condições  climatológicas  do  paiz,  e,  depois  de  algumasi 
judiciosas  reOeiÓes  acerca  da  sua  topograpbia,  orograpb 
geologia,  meteorologia  e  salubridade,  divide  o  Brasil 
quatro  grandes  climas  :  o  tórrido  ou  equatorial,  que  se 
tende  do  cabo  de  S.  Roque  ao  extremo  septentrional 
Império ;  o  quente  ou  tropical,  que  comprebeude  o  tn 
de  terreno  sito  entre  o  cabo  de  S.  Roque,  a  cidade  de  S 
tos,  margeando  o  Atlântico,  e  no  interior  as  provinciaf 
Mato-Grosso  e  Goyaz ;  e  sub-tropical,  que  prolonga-st 
Santos  ao  cabo  de  S.  Matbeus  no  litoral ;  islo  é,  lod 
resto  da  província  da  S.  Paulo,  a  de  S.  Catharina,  com 
cepgâo  da  comarca  de  Lages,  e  no  interior  uma  grande  p 
da  província  de  Minas-Geraes ;  e  finalmente  o  tempen 
de  que  gozam  aparte  mais  elevada  da  província  de  Hini 
comarca  de  Lages  ( na  de  Santa  Catharina )  e  a  do  1 
Grande  do  Sul. 

Tal  é,  senhores,  o  pallido  reflexo  da  mui  curiosa  e  '. 
elaborada  memoria  do  Sr.  Dr.  Ribeiro  de  Almeida, 
opportunamente  será  registrada  nas  paginas  da  nossa 
■vista. 

Tendo  ouvido  a  sua  commissão  de  fundos  e  orçamf 
e  se  conformando  com  o  sou  parecer,  deliberou  o  InsI 
que  modestos  jazigos  recolhessem  ao  cemiíeiio  da  vec 


Dictzedby  Google 


-  413  — 

vel  ordem  terceira  de  S.  Francisco  de  Paula  os  restos  mor- 
taes  de  seu  benemérito  fundador  o  marechal  Raymundo  José 
da  Cunha  Mattos,  e  no  de  S.  Francisco  Xavier  os  do  desem- 
bargador Rodrigo  da  Silva  Pontes,  que  se  Snára  em  terra 
estranha,  prestando  á  pátria  reteraolissimos  serviços.  Foi, 
por  certo,  bem'grande  sacriãcío  que  se  impdz  o  Instituto 
ordenando  a  factura  d^esses  modestos  jazigos,  porque  não 
lhe  permittem  seus  exíguos  recursos  pecuniários  satisfazer  a 
generosos  impulsos  -,  abriu,  porém,  ums  excepção,  porque 
lambera  excepcionaes  haviam  sido  os  méritos  d^essos  presti- 
mosos varões. 

Prestando  culto  aos  grandes  nomes  que  abrilhantam  nos- 
sos fastos,  nem  se  olvidou  o  Instituto  que  uma  estatua  era 
devida  ao  grande  ministro  da  independência  *,  faltsndo-lbe, 
por^m,  meios  para  realizar  essa  idén,  recorreu  ao  patrio- 
tismo nunca  desmentido  dos  brasileiros,  incumbindo  de 
agenciar  subscripções  a  uma  commissão  que  esmerada- 
mente escolheu.  Ceifou,  porém,  a  segure  da  morte  o  pre- 
sidente d'essa  commissão,  o  conselheiro  Eusébio  de  Quei- 
roz Coutinho  Maltoso  Camará,  3pás  uma  dolorosa  enfermi- 
dade. Para  succederatáo  distincto  cavalheiro  lançou  o 
Instituto  vista  sobre  o  seu  1"  vice-presidente,  cujo  zelo  e 
actividade  são  proverbíaes,  o  qual  aceitando  esse  novo  en- 
cargo deu  mais  uma  prova  do  vivo  interesse  que  lhe  inspi- 
ram as  glorias  nacionaes. 

Mas  não  é  só  aos  mortos  que  paga  o  Instituto  a  dívida 
da  gratidão  :  merecem-lhe  também  particulares  attenções 
os  vivos  que  sobrelevam  por  nobres  feitos.  De  tal  proce- 
der exhibiu  ainda  recente  e  incontestável  documento. 

Refocilla  vamos  das  annnaes  fadigas  quando  cht^u  a 
fausta  e  inesperada  noticia  que  uma  divisão  da  esquadra 
brasileira,  vencendo  o  impossivel,  arrostara  ovante  as  for- 
midáveis baterias  de  Humaitã,emquaDlo  o  exercito,  cobrin- 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  ÍH  — 

se  de  Dovos  louros,  lomava  a  viva  força  iaeipugnaveisfor- 
tiãcaçõos  paraguayas. 

Ao  nosso  venerando  e  digníssimo  presidente  occorreu 
logo  a  idéa  de  convocar  extraordinariamente  o  Instituto, 
que,  acudindo  ao  seu  reclamo,  nomeou  uma  commissão 
para  ic  felicitar  ao  primeiro  brasileiro  por  successos  tão 
gratos  ao  seu  magnânimo  coração,  eem  acto  continuo,  por 
proposta  do  Sr,  Dr.  Pereira  Pinto,  deliberou  que  se  exa- 
rasse na  acta  um  voto  de  profundo  e  ardente  reconheci- 
mento ao  exercito  eá  armada,  aos  bravos  generaes  que  os 
commandsvam  em  tão  gloriosas  jornadas,  fazendo-se,  ou- 
trosim,  especial  e  honrosa  menção  aos  destemidos  chefes 
Delphim  e  Maurity. 

T(ão  se  limitou  a  isso  o  nosso  reconhecimento:  resolvía- 
mos mais  que  umacópia  authentíca  do  nossa  deliberação 
fosse  enviada  ao  exercito  e  á  esquadra,  e  que  ao  íllustre 
visconde  de  Inhaúma  expedíssemos  diploma  de  sócio  ho- 
norário, dístincção  esta  de  que  ha  muito  gozava  o  nobre 
marquez  de  Caxias. 

Souberam  devidamenlo  apreciar  os  distinctos  generaes 
as  manifestações  do  Instituto  :  e  um  após  outro  Iransmit- 
tírani-lhe  expressões  de  viva  gratidão  n'aqueltíi  lingungem 
f^ranca  e  leal  de  que  os  guerreiros  soem  usar. 

Sobre  vários  assumptos  elaboraram  nossas  commissões 
lúcidos  pareceres  :  n  de  fundos  e  orçamento  examinou  com 
habitual  proficiência  o  estado  dos  nossos  cofres,  e  ainda 
mais  uma  vez  reconheceu,  e  bem  alto  proclamou,  a  ioexce- 
divel  solicitude  de  nosso  honradissimo  thesoureiro,  que 
com  tanto  esmero  procura  equilibrar  a  receita  com  a  des> 
peza.e,  medianlea  mais  severa  economia,  consegue  sem- 
pre que  algum  saldq  appareça.  Penso  conslituír-me  órgão 
de  todos  os  membros  da  nossa  associação,  agradecendo 
hoje  o  n'estc  lugar  solcmnc  tudo  que  por  ella  tem  feito  tão 


DictizedbyGoOJ^IC 


_  4Í5  — 

benemérito  fuDCcionario.  As  1'  e  3*  coramíssões  degeogra- 
pbia  emitUtam  seus  votos  acerca  de  alguDs  trabalhos  que 
Ibes  foram  submettidos,  e  que  ora  pendem  de  aquilata- 
inento  da  de  admissão  de  sócios.  For  sua  própria  natureza 
mais  activa  elaborou  esta  ultima  vários  pareceres  que,  me- 
recendo a  plena  anaueocia  do  Instituto,  preenciíeram  com 
os  novos  adeptos  as  nossas  fileiras,  annualmente  rarefeitas 
pela  morte. 

Os  cavaibeiros  chamados  a  formar  parte  da  nossa  socie- 
dade foram  os  seguintes  senhores  :  Visconde  de  Inhaúma, 
que  dieta  a  historia  pela  voz  dos  canhões,  podendo  escre- 
vâl>a  com  áurea  penoa ;  Rev.  Brasseurde  Bourbourg,  sábio 
commendadorde /'a/>u/-FuÃ'Zen(í-iuesía  americano;  ca- 
valheiro Josá  de  Luca,  autor  da  mui  conhecida  e  estimada 
Vescripção  geographica,  hislorica  e  adminUtraliva  da  Itá- 
lia meridional;  Vivien  do  Saint-Martin,  autor  do  AnnoGeo- 
(jraphico,  uma  das  poucas  publicações  estrangeiras  cm  que 
cabal  justiça  nos  é  feita ;  Alexandre  Magno  de  Castilho,  que 
ainda  na  aurora  da  vida  sabe  escrever  livros  tão  importan- 
tes como  o  Roteiro  da  costa  oriental  d' Africa ;  Dr.  Luiz 
Francisco  da  Veiga,  vantajosamente  conhecido  na  imprensa 
politica  e  litteraria  e  autor  de  vários  opúsculos  históricos  ; 
Henrique  Ambauer  Schutel,  que  em  um  precioso  Itine- 
rário da  Cruz  Alia  ao  Campo  iVouo  revelou-nos  muitas  na- 
turaes  riquezas  da  província  de  S.  Pedro  do  Sul ;  Dr.  José 
Maria  Pinto  Poíiolo,  a  quem  devemos  um  capítulo  da  his- 
toria contemporânea  sob  o  titulo  Duas  palavras  sobre 
D.  Pedro  l  na  época  da  ind^endencia,  recommendavel  por 
mui  luminosas  apreciares  ;  Gnalmeote  bacharel  Eduardo 
JeSã  Pereira  de  Castro,  que  com  louvável  zelo  e  ardente 
patriotismo  está  escrevendo  as  mui  populares  Biograpkias 
dos  Iteróes  brasileiros  na  actual  campaniia  do  sul. 

tio  empenho  de  coUigir  quantos  ^documentos  possam  il- 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  416  — 

loslrnr  Dossa  historia,  ou  fazer-nos  melhor  conhecido  o 
paiz  qu«  habitamos,  solicitou  o  Instituto  do  governo  impe- 
riat  a  expedição  das  necessárias  ordens  para  que  lhe  seja 
remettida,  mediante  a  somma  estipulada,  uma  cópia  au- 
tbentica  da  traducçio  fraaceza  da  Descripcâo  do  Estado  do 
Maranhão,  Pará,  Cwvpá  e  rio  Amaxonas,  no  anno 
de  1612,  feita  por  Maurício  Heríarte,  cujo  maousmplo 
consta  existir  na  bíbliotheca  imperial  de  Vienaa  d'Austría. 

GontÍQúo  a  encontrar  nos  emproados  subsidiados  do 
Instituto  toda  a  cooperação  e  fidelidade  que  os  recommen- 
dam  aos  nossos  lavores  e  benevolência. 

A  denlora  da  remessa  do  papel  em  que  se  imprime  a 
Reviata,  cujo  papel  recebemos  immedíatameDte  de  França, 
prívou-me  da  satisfação  de  communica^-vos,  como  decos- 
tume,  achar-se  ella  em  dia :  está,  porém,  no  prelo  o  nu- 
mero correspondente  ao  3*  trimestre  do  corrente  anno,  e 
conto  que  mui  proximamente  vos  será  elle  distribuído. 

Successiva  e  lentamente  vamos  reimprimindo  os  volu- 
mes da  mesma  Revista  que  escasseam,  afim  de  que  jamais 
se  sinta  falta  de  tão  precioso  repositório,  avidamente  soli- 
citado pelas  academias  e  sábios  estrangeiros  e  ainda  pelos 
poucos  que  entre  nós  prezam  o  estudo  das  cousas  pátrias. 

Cumpro  um  grato  dever  participando-vos  que  as  nossas 
relações  scíentificas  e  titterarias  com  as  sociedades  e  aca- 
demias do  velho  e  novo  continente  tendem  a  estreitarem- 
se  cada  vez  mais,  á  medida  que  mais  conhecida  vai-se  tor 
nando  a  nossa  associação. 

Envido  todos  os  esforços  para  que  a  correspondência  e 
a  permuta  das  respectivas,  publicações  se  faça  com  a  pos- 
sível regularidade.  Cabe-me  aqui  registrar  um  testemunho 
de  gratidão  ao  nosso  íllustradíssimo  consócio  o  Sr.  conse- 
lheiro José  Feliciano  de  C&sttlbo,  que  tão  generosamente 
olTereceu-se  para  encaminhar  as  nossas  remessas  paraPor- 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  417  — 

tugal,  remessas  que  baviaro  sofTrido  alguma  íntemipção 
com  a  retirada  d'esta  cArle  do  outro  nosso  digno  consócio  o 
Sr.  F.  F.  de  Figanière  e  Mourão.  Tão  intuitiva  é  a  conve- 
niencia  da  intimidade  das  relações  litterarias entre  povos  ir- 
mãos, que  ocioso  julgo  demonstral-a. 

Releva  agradecer  em  nome  do  Instituto  aos  supremos 
poderes  do  Estado  e  a  todas  as  autoridades  os  innumeros 
favores  que  diariamente  lhe  estão  prestando.  Desprevida  de 
cdr  politica,  goza  osta  associação  das  sympalhias  de  todos 
os  bons  brasileiros,  recebendo  geraes  e  inequívocas  provas 
de  estima  e  consideração.  Os  multiplicados  e  valiosos  do- 
nativos que  ainda  este  auno  lhe  foram  feitos  servem  de 
abono  ao  que  acabo  de  dizer-vos. 

Cumprindo-me  especificar  esses  donativos,  quasi  todos 
constantes  de  livros,  mappas,  cartas  o  manuscriptos,  peço 
vénia  para  fazer  uma  solomne  declaração.  Além  da  minha 
reconhecida  insuHiciencia  intellectiial  fallecem-me  indis- 
pensáveis lazeres  para  conscienciosamente  apreciar  assump- 
tos de  summa  transcendência  e  responsabilidade  :  assim, 
poucas  serão  as  obras  de  que  me  occuparei,  porque  poucas 
foram  as  que  foi-me  possível  rapidamente  manusear  na  an- 
gustia do  tempo  de  que  pude  dispAr. 

Reraetteu-nos  o  nosso  consócio  o  Sr.  Dr.  A.  H.  Leal  os 
dois  primeiros  volumes  das  Obras  Poslhumas  do  sempre 
lembrado  Gonçalves  Dias.  Compulsando  com  alvoroço  essas 
paginas,  em  que  se  espelha  a  grande  alma  do  poeta,  la- 
mentei que  a  morte  o  arrebatasse  quando  passava  a  lima 
boraciana  nas  producções  do  seu  juvenil  engenho,  dei. 
lando-as  inacabadas  como  ess.is  inimitáveis  estatuas  do  Día 
e  da  Noite,  que  o  cinzel  de  Miguel  Angelo  esculpira  sobre  o 
tumulo  de  Juliano  de  Medicís. 

Com  gralU  satisfação  recebemos  o  8*  volume  do Z)iccto- 
nario  Bibtiographico,  que  o  nosso  illustrado  e  labori  oso 

TOMO  XSXI,    P.    II  53 


D,:„l,;cdtv  Google  - 


—  4!8  — 

coQSOcio  O  Sr.  Innocencio  PrsDcísco  da  Silva  fez-nos  mercA 
de  maadar.  Esta  obra,  hoje  elevada  á  cataria  de  um  mo- 
Dumento  interaacioQat,  dispensa  qualquer  sDcomio  que 
lhe  pudesse  tecer. 

Eadereçou-Dos  o  Sr.  Dr.  A.,  de  Castro  Lopes  um  opús- 
culo cheio  de  actualidade,  a'uma  língua  que  já  ninguém 
boje  falia,  Á  Musa  Latina,  ou  a  Iraducçâo  de  algumas  lyras 
da  MaTiliot  de  Dircêo :  é  uma  verdadaira  miragem  littera- 
ria,  um  prodígio  de  descommunal  e  cultivadissímo  talento. 
Eiprímírna linguagem  de  Ovídio  os  sentimentos  que  tu- 
multuavam n'alma  do  inconfidente  de  Vílla  Rica  offerecia 
diffinuldades  que  só  poderiio  ser  magistralmente  superadas 
por  aquelte  a  quem  Varrão  o  Priscíano  revelaram  todos  os 
seus  segredos  philoiogícos. 

Sob  o  titulo  de  Estjriptos  hiatoricot  e  UUerarios  deu  á  es- 
tampa o  nosso  distincto  collega  o  Sr.  Dr.  Homem  de  Mello 
nova  edição  melhorada  da  ConslUuinle  perante  a  historia, 
addicionando-lhe  um  estudo  sobre  o  Golpe  de  estado  de  30 
de  Junho  de  1832,  e  alguns  outros  trabalhos  de  secundário 
valor.  Sobejamente  conheceis  a  valentia  de  logíca  e  o  vivo 
colorido  de  dicção  com  que  o  talentoso  publicísts  sabe  res- 
taurar o  passado,  evocando  dos  seus  túmulos  os  nossos 
grandes  vultos  históricos.  Nunca  esquecido  da  affeíção  que 
lhe  consagramos,  comprehendeu-nos  no  numero  dos  favo- 
recidos com  a  ofterta  de  seu  bellissimo  livro. 

O  Sr.  conselheiro  Tito  Franco  de  Almeida  fez-me  pre- 
sente de  um  precioso  trabalho,  que  acaba  de  sabír  dos  pré 
los,  devido  á  sua  patriótica  peona.  Quero  faltar  da  mono- 
graphia  denominada  O  Brasile  a  Inglaterra  ou  o  Trafico 
de  africanos.  Acreditei  que  em  parte  alguma  estaria  melhor 
collocado  este  livro  do  que  em  nossa  bibliotheca  ;  e  por  isso 
ofrerleí-lb'o.  No  volver  de  olhos  que  me  foi  dado  lançar 
sobre  elle,  vislumbrei  sua  extraordinária  importância,  a 


;dby  Google 


—  419  — 

nobreza  dos  senlimeD tosque  oinspirarani,  e  a  geaerosidade 
do  impulBo  cora  que  seu  illustre  autor  proDigou  as  caliim- 
□ias  assacadas  contra  a  Dossa  raça  avessa  tão  roelindrosa 
quão  mal  apreciada  questão  do  trafico  de  africaDOS. 

Escripla  em  francez,  para  ser  lida  por  brasileiros  e  por- 
tugueses, aa  epigraramalica  phrase  de  Silvestre  Pinheiro 
Ferreira,  La  Belraite  de  Laguna  é  uma  brilhante  pagina 
da  nossa  historia  contemporânea.  Seu  autor,  o  Sr.  1*  te- 
nente Alfredo  de  Escragnolle  Taunay,  ura  dos  mais  espe- 
rançosos officiees  do  nosso  heróico  exercito,  descreve  o  que 
viu,  o  que  praticou,  à  guisa  de  Xenephonte,  com  singular 
modéstia  e  invejável  candura.  Dando-lhe  conveniente  des- 
tino, aguarda  o  Instituto  a  continuação  de  tão  interessante 
trabalho. 

Algumas  outras  obras,  de  não  menor  interesse,  foram- 
Dos  oíTerecídas,  as  quaes,  pendendo  de  estudo  das  commís- 
sões  a  que  foram  submettidas,  comprehendeis  que  importa- 
me  acerca  d'ellas  aguardar  seus  alvidramentos. 

Se  dos  livros  passamos  aos  maouscriptos  e  mappas,  at- 
trahiram-me  particular  atleução  os  seguintes  :  O  Itinerário 
da  viagem  feita  pelo  capitão  Joaquim  António  Xavier  do 
Valle  d  província  de  Mato  Grosso  pelos  rios  Tabagye  Bri- 
lhante no  anno  de  1865,  oíTerta  do  Sr.  Dr.  F.  I.  M.  Homem 
de  Mello;  as  Revoluções  e  levante  de  Pernambuco  em  1710 
a  1711,  dadiva  do  Sr.  Dr.  A.  H.  Leal;  a  Historia  do  assedio 
e  capitulação  da  colónia  do  Sacramento  em  1777  (com 
mappas),devida  á  generosidade  do  Sr',  tenente-coronel  P.  T. 
Xavier  de  Brito :  vários  autographos  do  desembargador 
T.  A.  Gonzaga,  relíquias  de  família,  com  que  o  Sr.  Dr.  J.  F. 
Carneiro  miraoseou  o  Instituto,  por  intermédio  de  seu  2* 
vice-presideute ;  a  Memoria  Histórica  da  administração 
do  Sr.  Dr.  Franklin  Américo  de  Menezes  Dória,  escripla 
pelo  oiTertante,  o  nosso  obsequioso  consócio  Sr.  Dr.  César 


Dictzedby  Google 


Augusto  Marques;  a  TabeUa  das  latiludes  e  longitttda  de 
diversos  Ivgares  da  província  de  Mato-Grosso,  delermioa- 
das  por  observações  astronooiicas,  e  o  Mappa  geograpbico, 
(Cronológico  e  eslalistico  da  referida  província,  ludo  obras 
do  Exm.  Sr.  barío  de  Melgaço,  que  graciosamente  nos  of- 
feilou,  e  Qnalmente  o  Aulo  original  da  fundação  do  forte 
do  Prindpe  da  Beira  e  os  Documentos  o^ctaes,  porluguezea 
e  hespanhóes,  relativos  aos  limites  do  Império  pelo  lado  da 
referida  província  de  Mato-Grosso,  compillados  pelo  enião 
capitão  de  fragata  Augusto  Leverger,  hoje  chefe  de  esqua- 
dra barão  de  Melgaço,  e  ofTerecidos  pelo  Sr.  Joaquim  Feli- 
ciano de  Almeida  Lousada. 

A  todos  os  doadores  dirigi  expressões  de  sincero  agrade- 
cimento, que  ora  reitero. 

Fechado,  senhores  se  acha  o  périplo  social  de  1868 :  sol- 
dado mais  um  annel  á  cadôa  do  tempo,  percorrido  mais 
um  marco  milltario  da  triumphal  via  do  progresso,  em  cuja 
meta  osleuta-se  magestoso  o  templo  da  gloria,  e  em  cujo 
frontal  ler-se-ha  burilado  o  nome  do  Instituto  Ilislorico 
eGeographico  Brasileiro. 


Dictzedby  Google 


DISCURSO 

DO  ORADOR  O  SR.  DR.  JOAQUIM  HAKOEL  DE  MACEDO 

A  corrente  do  tempo  não  para;  com  ella  vem  a  vida 
e  com  ella  vai  a  morte :  sobre  a  oada  que  passa  cabem  as 
folhas  sem  seiva,  os  mortos  para  a  torra  e  que  lá  vfio  pnra 
a  eternidade,  oceano  que  não  tem  praias,  6  que  se  chama — 
o  infinito;  mas  a  arvore  não  sa  despe,  folhas  antigas 
resistem  ainda  e  outras  novas  e  verdejantes  a  coroam,  os 
vivos  e  as  gerações  que  se  succedem,  para  seguir  o  mesmo 
caminho,  sendo  levados  pela  onda  implacável. 

Mas  emquanto  vive  o  homem  tem  deveres  a  cumprir, 
tarefas  a  desempenhar;  cada  homem  é  uma  pedra  do 
monumento  social,  cada  homem  é  uma  leira  do  livro  do 
presente  e  do  futuro  das  nações  que  a  providencia  mys- 
teriosa  escreve:  Aquelle  que  não  foi  pedra  nem  letra. 
Ou  foi  pedra  ruim  e  letra  inútil,  passa  como  semente  infe- 
cunda que  se  desfez  no  chão,  ou  como  sarça  daroninha  que 
a  ninguém  afQigíu,  quando  seccou. 

O  Instituto  Histórico  e  Geographico  do  Brasil  também 
é  parte  d'um  monumento,  também  é  pagina  do  grande 
livro  d'uma  nação,  e  também  é  ramo  d'arvoro  opulenta 
do  qual  cabem  folhas  sem  seiva  que  são  levadas  pela  onda 
da  morte. 

Ainda  ha  pouco  na  exposição  animada  dos  trabalhos  e 
serviços  do  Instituto  vimos  a  quadra  brilhante  da  vida; 
agora  na  commemoração  dos  nossos  consócios  finados 
veremos  o  exemplo  e  a  lição  que  elles  deixaram  na  seara 
do  seu  patriotismo  e  no  altar  de  suas  virtudes. 

As  gerações  se  succedem,  a  arvore  não  morre;  porque 
sempre  folhas  novas  e  verdejantes  vém  coroal-a :  appli- 


Dictzedby  Google 


—  ws  — 

que-se  a  pobre  e  rude  imagem  ao  nosso  iDstituto,  e  venha* 
veoha  ainda,  e  muito  mais  do  que  lem  vindo,  a  mocidade 
enlbusiasta  e  estudiosa  occupar  em  nosso  grémio  os  vazios 
deixados  por  varões  iUustres  que  morrem,  por  esses  no- 
bres velbes  que  são  levados  para  o  oceano  sem  praias, 
e  ajudar  a  ni^  outros,  que  fraqueamos  pela  fadiga  e  pela 
idade,  a  manter  activo  e  fértil  o  culto  d'esta  ínstiluii;ão 
que  é  lio  bella :  venham  ainda  mais,  e  muilo  mais,  as 
folhas  novas  e  verdejantes,  porque  nós,  pobres  folhas 
antigas,  começamos  a  definhar. 

Consideráveis  foram  as  perdas  que  sofTrcu  o  Instituto 
Histórico  e  Geographico  da  Brasil  em  1868;  cumpre-nos 
porém  lembrar  primeiro  um  nome  muito  prezado  que 
ficou  escrípto  no  registro  fúnebre  do  anno  antecedente. 

Em  1867  deixámos  de  pagar  uma  divida  sagrada :  não 
foi,  era  impossivel  que  fosse  o  £rio  olvido  das  cinzas  ainda 
quentes  d'um  benemérito,  o  esquecimento  ingrato  d'um 
brasileiro  distincto,  devoto  fiel  de  nosso  Instituto,  que  é 
íim  dos  padrões  da  sua  gloria.  Mais  tarde  do  que  era 
indispensável  recebemos  os  apontamentos  biographicos 
do  iltustre  finado,  e  hoje,  embora  com  transgressão  dos 
nossos  costumes,  o  elogio  um  anno  demorado  dá  teste- 
munho da  perdurarão  da  nossa  saudade. 

Os  monumentos  perpetuam  a  memoria  dos  seus  archi- 
tectos :  as  instituições  uteís  e  patrióticas  repetem  ao  mundo 
os  nomes  dos  seus  fundadores  pela  voz  agradecida 
dos  herdeiros  d^esses  thesouros:  o  Instituto  Histórico  e 
Geographico  do  Brasil,  que  se  ufana  de  mostrar  na  sida 
das  suas  sessões  os  bustos  do  cónego  Januário  e  do  mare- 
chal Cunha  Mattos,  jamais  esquecerá  os  serviços  que  deve 
ao  brigadeiro  José  Joaquim  Machado  de  Oliveira,  que  a 
si  próprio  ergueu  uma  estatua  nos  trabalhos  com  que 
enriqueceu  esta  instituição,  que  enthusiaslica  e  sempre 


Dictzedby  Google 


—  423  — 

radiante  de  fervor  nacional  ajudou  a  fundar,  carregando 
também  em  seus  hombros  a  primeira  pedra  para  o  primeiro 
alicerce. 

Filho  legitimo  do  (eaeate-coronel  Francisco  José  Ma- 
chado de  Vasconcellos  e  de  D.  Anua  Esmeria  da  Silva, 
José  Joaquim  Machado  de  Oliveira  nasceu  na  cidade 
de  S.  Paulo  a  8  de  Julho  de  1790 :  pelo  lado  paterno  per- 
tencia a  uma  das  mais  distinctas  famílias  da  sua  província ; 
pelo  materno  provinha  d^um  dos  ascendentes  do  celebre 
economista  francez  João  Baptista  Say,  que,  deixando  a 
Europa,  se  estabelecera  em  S.  Paulo:  era  primo  irmão 
do  cirurgião-mór  Francisco  Alvares  Machado  de  Vascon- 
cellos, famoso  na  sciencia  como  operador  oculista,  famoso 
no  parlamento  como  orador  inspirado,  e  o  mais  feliz 
vibrador  dos  raios  subtís  do  epigramma  e  da  ironia. 

Machado  de  Oliveira  assentou  praça  ainda  dormindo 
no  berço,  a  10  de  Fevereiro  de  1792,  com  anuo  e  meio 
de  idade :  foi  reconhecido  cadete  a  5  de  Dezembro  de  1807  : 
era  1809  teve  a  promoção  de  alferes,  dois  annos  depois 
a  de  tenente,  capitão  graduado  a  13  de  Maio  de  1813, 
passou  a  effectivo  em  29  de  Novembro  de  1817,  major 
graduado  em  Dezembro  do  anno  seguinte,  effectivo  a  1 
de  Março  de  1820,  recebeu  a  graduação  de  lenente-coronel 
a  12  de  Junho  de  1826,  e  a  etTectividade  a  12  de  Outubro 
de  1837 :  em  1818  passara  do  2°  batalhão  da  l^ião 
de  S.  Paulo  a  que  pertencia  para  o  estado-raaior  do  exer- 
cito, servindo  de  inspector  do  trem  militar  da  provincía 
do  Rio-Grande  do  Sul ;  a  18  de  Agosto  de  1820  foi  no- 
meado ajudante  de  ordens  do  governo  da  mesma  provín- 
cia;  a  12  de  Junho  de  1826  secretario  militar ;  a  12 
de  Outubro  de  1827  secretario  do  exercito  do  sul. 

Não  poupamos  datas  porque  ha  n'esta,  eloquência  bri- 
lhante :  esquecei  osprimeiías,  que  marcam  apenas  a  praça 


D,:„l,;cdtv  Google 


no  berço,  a  entrada  no  ser?iço  e  o  primeiro  posto  no  fulgor 
da  juventude :  comparai  as  outras  com  a  historia  pátria,  e 
n^ellas  vereis  também  as  guerras,  as  campanhas  do  sul 
até  8  paz  de  1838 :  eis  o  elogio  nas  datas,  eis  as  datas  sym- 
bolisando  nobres  feitos,  conquistando  postos  e  dragonas, 
postos  e  dragooas  realçando  a'  dedicação  do  soldado  bene- 
mérito, e  a  gratidão  do  Estado  aos  serviços  do  bravo. 

As  pelejas  e  batalhas  de  S.  Borja  e  dos  Passos  de 
Uruguay,  de  Arapeby  e  de  Catalão,  de  Taquarembó  e  do 
Passo  do  Itosario,  e  os  combates  de  Ibicuby  e  de  lapejá  e 
de  llacoroby  viram  a  ínlrepidez,  a  intellígencia,  o  zelo 
do  illustre  Machado  de  Oliveira,  que  n'esses  terríveis  jogos 
marciaes,  om  que  os  valentes  param  as  vidas  em  honra 
da  pátria,  commandou  por  vezes  ora  a  infantaria,  ora  a 
arlilberia. 

Para  a  gloria  d'um  cidadão  bastam  já  esles  louros  de 
soldado;  mas  o  distincto  paulista  ainda  lavrou  em  dois 
caTnpos  com  proveito  immenso  da  pátria:  no  campo  da 
vida  cívica,  no  campo  da  vida  litteraria. 

A'  fonte  limpida  e  rica  de  continuo  se  pede  agua ;  ao 
patriotismo  esclarecido  e  puro  o  Estado  pede  de  continuo 
tributos. 

José  Joaquim  Machado  de  Oliveira  foi  na  época  da  re- 
generação politica  do  Brasil  nomeado  membro  do  governo 
provisório  e  logo  depois  do  primeiro  conselho  provincial 
do  Rio-Grande  do  Sul :  foi  commandante  das  armas  em 
Sergipe  em  1830;  foi  presidente  da  província  do  Pará 
cm  183ã,  das  Alagoas  em  1834,  de  Santa  Catharina  em 
1837,  do  Espiríto-Sanlo  em  1840.  Foí  eleito  deputado 
da  assembléa  geral  pelo  Rio-Grande  do  Sul  na  primeira 
legislatura,  pela  província  do  seu  berço  na  oitava,  membro 
da  assembléa  provincial  de  Santa  Catharina  uma  vez,  da 
de  S.  Pauto  duas  vezes. 


Dictzedby  Google 


—  42S  — 

Nas  lutas  politicas,  nos  cerlmnens  constilucionaes,  do 
movimento  ardente,  na  acção  do  grande  iheatro,  como  no 
esquivo  retiro  da  fadiga  ou  das  illusões,  foi  sempre  liberal, 
e  deixou  no  mundo  immenso  das  cdres  cambiantes  o 
exemplo  da  firmeza  inabalável  na  religião  dos  principios, 
da  constância  enérgica  que  pôde  quebrar,  mas  não  torce, 
d'aquelles  vulhos  paulistas  que  se  chamaram  Feijó  e 
Àndradas,  Paula  e  Sousa  e  Alvares  Machado. 

No  primeiro  reinado,  a  opinião  politica  de  José  Joaquim 
Machado  de  Oliveira  provou-se  em  solemne  e  arriscado 
pleito,  como  o  ouro  que  se  prova  no  fogo.  Na  camará  tem- 
porária, de  que  clle  era  membro,  disculia-se  a  aecusação 
do  ministro  da  guerra  Joaquim  de  Oliveira  Alvares,  que 
além  de  ministro  era  general:  oíBciaes  do  exercito  en- 
chendo as  galerias  do  parlamento,  ameaçavam  os  eleitos 
do  povo,  ousando  até  interromper  com  insultuosa  grita 
o  velho  Dr.  França,  o  impávido  philosopho  :  soou  a  hora 
da  votação,  que  foi  nominal,  e  Machado  do  Oliveira,  liberal- 
arrostou  as  ameaças  que  tentavam  coagir,  deputado  não 
se  lembrou  de  que  era  soldado,  votou  pela  aecusação  do 
ministro  da  guerra. 

Não  apreciamos  as  questões  politicas  d'esse  recente 
passado :  exhibimos  somente  um  facto  que  glorifica  a  inde- 
pendência parlamentar  d'aquelles  tempos  de  tormenta  po- 
litica. 

A  capacidade  e  esclarecida  intelligencia  de  tão  prestante 
cidadão  foram  ainda  reconhecidas  pelo  governo  imperial 
quando  o  escolheu  para  desempenhar  importantíssimas  ta- 
refas, embora  na  serie  succcssiva  das  Domeaçõcs  umas  fos- 
sem impedindo  o  desempenho  do  outras. 

A  20  de  Abril  de  1843  foi  Machado  de  Oliveira  nomeado 
encarregado  de  negócios  e  cônsul  geral  do  Brasil  junto  ás 
republicas  do  Peru  e  Bolívia  ;  a  16  do  Junho  de  1844  rece- 

TOMO  XXXI,   P.  11.  54 


Dictzedby  Google 


—  426  — 

beu  a  incumbência  de  compilar  um  inappahydrographico 
dos  rios  Paraguay  e  Paraná ;  a  24  de  Julho  do  mesmo  anno 
cumpriu-lhe  ir  por  ordem  do  governo  examinar  a  fabrica 
de  ferro  de  Ipanema,  devendo  escrever  uma  memoria  so- 
bre o  seu  eslado  e  necessários  melhoramentos;  a  li  do 
Margo  de  1846  foi  nomeado  director  geral  dos  índios  da 
proviocia  de  S.  Paulo;  a  21  de  Fevereiro  de  1856,  dele- 
gado do  director  geral  das  torras  publicas  na  mesma  pro- 
víncia. 

O  peso  dos  annos  e  a  fadiga  de  incessantes  trabalhos  le- 
varam Machado  de  Oliveira  a  aproveitar-se  da  reforma  no 
posto  de  coronel,  que  obteve  pela  carta  patente  de  23  de 
Fevereiro  de  1844,  por  contar  mais  de  trinta  e  cinco  annos 
de  serviço,  para  retirar-se  ao  seio  amigo  e  suave  da  terra 
natal ;  mas  alli  o  dedicado  brasileiro  não  soube  furtar-se 
ao  dever  do  civismo. 

Em  S.  Paulo  serviu  como  presidente  da  commissão  ins- 
pectora da  casa  de  correcção  da  capital,  como  1'  substituto 
do  delegado  de  policia  e  como  presidente  da  camará  muni- 
cipal da  mesma  cidade  em  um  quatriênnio.  Depois  de 
commandar  armas  e  de  dirigir  a  alta  administração  de  pro- 
víncias ;  depois  de  occupar  uma  cadeira  na  camará  tempo- 
rária em  três  legislaturas,  José  Joaquim  Machado  de  Oli- 
veira vai  nobremente  pedir  o  voto  do  povo  nos  comícios 
municipaes,  e  aceita  um  lugar  de  substituto  de  delegado  de 
policia  ;  não  louveis  a  sua  modéstia,  admirai  a  sua  gran- 
deza: ello  não  desceu,  subiu:  a  charrua  de Ciacinato era 
mais  alta  que  a  dictadura  ;  mas  o  civismo  que  não  mede  o 
grjos  dos  cargos  públicos,  e  que  exerce  os  mais  modestos 
depois  de  haver  exercido  alguns  dos  mais  consideráveis,  é 
mais  alto  do  que  a  charrua  de  Cincinato. 

Agora  o  soldado  e  o  cidadão,  o  homem  da  guerra  e  da 
politica,  vai  mostrar-so  sob  outro  aspecto.  A  barraca  do 


D,:„i,;cdtv  Google 


—  427  — 

guerreiro  tioba  sido  gabinete  de  estudo  ;  as  lulas  dos  parti- 
dos não  absorveram  no  abysmo  das  paixões  exclusivas  a 
intelligencia  e  o  zelo  do  benemérito  Machado  de  Oliveira  : 
era  paladim  de  um  partido  politico  somente  porque  amava 
a  pátria ;  e  onde  bavía  campo  que  o  amor  da  pátria  podia 
arar,  o  illuslrado  paulista  se  mostrava  lavrador  incaasivet. 
A  historia  e  a  geographia  do  Brasil  foram  por  isso  os  seus 
estudos  de  predilecção. 

A  10  de  Agosto  de  1838  duas  vozes  generosas  e  patrióti- 
cas, a  do  cónego  Januário  da  Cunha  Barbosa  o  a  do  mare- 
chal Raymundo  José  da  Cunha  Mattos  propuzeram  na  so- 
ciedade Auxiliadora  da  Industria  Nacional  a  fundação  do 
Instituto  Histórico  e  Geographico  do  Brasil ;  o  no  empenho 
de  levanlar-se  o  templo  consagrado  á  historia  pátria,  um 
dos  mais  activos  e  laboriosos  operários  foi  José  Joaquim 
Machado  de  Oliveira. 

Os  fundadores  de  uma  instituição  são  como  os  patriar- 
cbas  de  um  povo  :  Josâ  Joaquim  Machado  de  Oliveira  foi 
mais  que  sócio  honorário,  foi  sócio  fundador,  um  dos  pais 
do  Instituto  :  a  veneração  ú  sua  memoria  é  santo  dever  que 
nossa  familia  não  olvida. 

Oh  I  mas  ha  pais  que  abandonam,  que  não  educam  os  íi' 
lhos,  que  os  deixam  inertes  ou  ociosos,  pervertidos  pela 
cega  licença  quo  estraga  a  natureza,  desgraçados  pela  inu- 
tilidade da  vida  que  não  aproveita  á  humanidade  ;  despre- 
zíveis, porque  são  como  as  heras  fataes  ás  arvores  fruclife- 
ras;  malditos,  porque  são  o  peso  c  tornam-se  a  vergonha 
da  sociedade.  São  os  pais  quo  possuídos  de  egoismo  louco 
se  desvanecem  dos  filhos,  porque  são  seus  Tilbos,  e  não  os 
sabem  criar,  educar  para  a  pátria  de  que  elles  devem  ser 
cidadãos,  ensinando-os  com  o  exemplo  da  virtude,  corri- 
gindo-os  com  a  severidade  da  justiça. 
Não  sabemos  nem  dizemos  que  nos  tempos  que  correm 


Dictzedby  Google 


—  428  — 

haja  réos  deste  crime  de  lesa-natureza  ou  de  leso-dever  ; 
com  ufania,  porém,  asseguramos  que  os  fundadores,  os 
pais  veDerandos  do  nosso  Inslitulo,  e  entre  elles  notavel- 
mente Josó  Joaquim  Machado  de  Oliveira,  crearam  e  edu- 
caram o  filho  com  a  lição  do  exemplo  e  com  a  severidade 
no  cumprimento  dos  fins  da  instituição. 

Desde  1838,  desde  o  berço  do  Instituto  Hislorico  e  Geo- 
eraphico  do  Brasil  até  muito  recente  data,  o  nosso  velho 
patriarcha  encheu  os  archivos  e  s  Revista  Trimensal  d'esta 
associação  com  estudos,  mcmoriss,  trabalhos  sobre  pontos 
obscuros  da  nossa  antiga  o  moderna  historia ;  perdão  se 
deixo  de  enumcral-os  ;  são  tantos  que  formariam|eiteDSa 
lista;  quasí  todos  se  acham  publicados  ua  imprensa  do 
Instituto,  e  todos  são  luzes  que  nos  esclarecem,  palavras 
que  nos  ensinam  o  caminho  que  nos  cumpre  seguir  :  eis  a 
lição  do  exemplo, 

£  n'esses  estudos,  memorias  e  trabalhos  tão  diversos  e 
variados,  e  no  seu  labor  activo  de  seis  annos  de  frequência 
és  sessões  do  Instituto,  o  patriarcha  zelou  a  imparcialidade, 
a  isenção  do  filho  nos  processos  de  que  elle  não  pôde  ser 
uiz,  nas  lutas  incandescentes,  apaixonadas,  suspeitas,  por- 
jqufi  sào  contemporâneas  oo  turbilhão  de  antagonismos,  ás 
vezes  na  cratera  quo  arroja  lavas  de  ódios,  na  confusão  de 
gritos,  no  atordoamento  de  ânimos,  em  que  n^oha  quem 
tenha  o  direito  de  sentenciar,  dizendo :  «  Sou  eu  que 
acerto,  és  tu  que  erras :  x  eis  a  severidade  no  cumpri- 
mento dos  fins  da  nossa  instituição. 

Além  dos  fruclos  preciosos  de  suas  lucubrações,  tributa- 
dos por  seu  amor  paternal  ao  Instituto  Histórico  e  Geogra- 
phicu  do  Brasil,  José  Joaquim  Machado  de  Oliveira  escreveu 
um  excellenle  livro  da  geographia  da  sua  muito  amada  pro- 
viucia,  e  deixou  rico  thesouro  de  manuscríptos  e  documen- 
osrelalivos  á  historia  pátria. 


Dictzedby  Google 


—  i29  — 

Sócio  etTectivo  e  depois  honorário  da  sociedade  Auxilia- 
dora da  Industria  Naciooal,  o  nosso  venerando  consócio 
foi  lambem  fundador  e  presidente  da  sociedade  Auxilia- 
dora da  Agricultura,  Commercio  e  Artes  da  província  de 
S.  Paulo. 

A  ampIidSo  do  seu  peito  mal  chegava  para  as  condeco- 
rações que  attflstavam  o  seu  merecimento ;  porque,  além 
do  habito  da  imperial  ordem  da  Rosa  e  da  commenda  da 
de  S.  Bento  de  Aviz,  n^elle  fulguravam  todas  as  medalhas 
das  campanhas  que  âzéra. 

Por  decreto  do  1'  de  Outubro  de  1835  foi- lhe  concedida 
a  pensão  annual  de  130|||,  approvada  pela  resolução  de  31 
de  Outubro  de  1837,  que  elle,  apezar  de  pobre,  cedeu  para 
as  urgências  do  Estado,  quando  em  1863  a  prepol«icia 
britânica  alvoraçou  o  patriotismo  dos  brasileiros. 

No  dia  16  de  Agosto  de  1867  falleceu  oa  capital  da  pro- 
víncia de  S.  Paulo  o  vaião  illustre  José  Joaquim  Machado 
de  Oliveira,  que  teve  sepultura  oude  tivera  o  berço :  con- 
tava setenta  e  sete  annos  de  idade  e  perlo  de  sessenta  de 
serviços  A  pátria.  Sua  vida  foi  como  o  harmonioso  canto  do 
artista  consciencioso  :  difGcil,  zeloso,  fatigante  para  o  can- 
tor ;  suave,  encantado  e  precioso  para  ós  ouvintes  que  sa- 
bem ouvir:  foi  como  terra  succulenta  de  pomar  que  deu 
seiva  ás  arvores,  e  pela  seiva  ás  arvores  ílõres  e  fruclos, 
não  para  si,  mas  a  pátria  que  se  enriqueceu  com  a  pingue 
colheita. 

A  15  de  Maio  de  1826  radiou  uma  fonte  de  luz  na  ph^ 
nix  pernambucana  :  o  Dr.  Lourenço  José  Ribeiro  abriu  na 
cidade  de  Olinda  a  academia  de  sclenciasjuridicas  e  so- 
ciaes,  creada  como  a  de  S.  Paulo  pela  carta  de  lei  de  11  de 
Agosto  de  1827.  O  sacerdote  abrira  as  portas  do  templo  de 
Minerva,  chamando  a  mocidade  ao  culto  da  sabia  densa,  e 
o  primeiro  candidato  que  correu  ao  generoso  convite  foi 


Dictzedby  Google 


—  430    - 

um  jovoD  de  quioze  annos,  agradável  e  sympatico  de  phi- 
sioaomia.  delicada  e  já  circumspecto  nas  maneiras :  cha- 
mava-se  Euzebio  de  Queiroz  Coutinho  Mattoso  da  Camará. 

&  nova  academia  encetou  os  seus  trabalhos  com  o  exame 
de  latim  d'esse  estudante,  que  também  foi  o  primeiro 
alumno  que  se  habilitou  para  matricular-se  uMIa.  A  estréa 
íòn  de  bom  agouro:  o  estudante  de  quinze  annos  foi  pre- 
miado Qos  quatro  annos  em  que  houve  prémios  no  curso 
académico,  e  em  um  d^esses  annos  leve  por  companheiro 
n'essa  distincção  aquelle  que  mais  tarde  havia  de  ser  bispo 
do  Rio  de  Jaaeiro  e  conde  de  Irajá,  e  que  então  já  era  sa- 
cerdote e  lente  de  theologia  no  seminário  de  Olinda. 

Euzebio  de  Queiroz,  nosso  illustre  e  finado  consócio,  era 
filho  legitimo  do  conselheiro  Euzebio  de  Queiroz  Coutinho 
da  Silva  e  de  D.  Catharina  Mattoso  de  Queiroz  Gamara,  e 
nasceu  a  27  de  Dezembro  de  181 2  em  S.  Paulo  de  Loanda, 
aa  Africa,  onde  seu  pat  serviu  o  lugar  de  ouvidor-geral : 
aos  três  annos  de  idade  veio  para  o  Rio  de  Janeiro  \  aos 
seis  acompanhou  seu  pai  nomeado  desembargador  da  Ba- 
hia, com  exercieio  de  ouvidor  na  comarca  do  Serro-Frio 
em  Minas-Geraes,  e  abi  aprendeu  as  primeiras  letras ;  de 
1822  a  1827  fez  em  Pernambuco  os  seus  estudos  de  huma- 
nidades, manifestando  sempre  talento  brilhante  e  essa 
applicação  não  commum,  que  é  o  dever  do  estudo  subli- 
misado  pelo  amor  do  estudo. 

Em  Euzebio  de  Queiroz  a  educação  desvelada  encami- 
nhou a  natureza  feliz;  o  zelo  dos  pais  poliu  os  dois  bri- 
lhantes: o  coração  e  a  íntelligencia  do  fílho. 

Em  1832,  fechando-se  antecipadamente  a  academia  em 
consequência  das  perturbações  politicas,  o  notável  estu- 
dante fez  acto  do  quinto  anno,  tomou  o  gráo  de  bacharel 
no  mez  de  Setembro  e  veio  chegar  em  20  de  Outubro  ao 


Dictzedby  Google 


-  431- 

Rio  de  Jaueiro,  oudo  seu  pai  servia  do  supremo  tribunal 
de  justiça. 

Vintd  dias  depois,  a  9  de  KoTembro,  fallando-lhe  ainda 
um  mez  e  dezesetfl  dias  para  completar  vinte  anoos,  fot 
nomeado  juiz  do  crime  do  bairro  do  Sacramento  n'esta 
cArte,  lugar  que  começou  a  servir  com  o  de  juiz  de  fora  a 
24  d^ttquelle  mosmo  mez.  Ha  patronato  que  escandalisa  na 
elevação  inexplicável  da  mediocridade  criança,  no  deposito 
da  autoridade  em  mãos  de  joven  inexperiente  e  de  ínlelli- 
gencia  acanbada  ou  negativa;  quando,  porém,  se  eleva,  se 
distingue  pela  preferencia,  se  honra  pela  conliança  o  man- 
cebo, cujo  merecimento  é  garantia  de  solicito  desempenho 
das  mais  árduas  tarefas,  porque  já  fulgura  como  aurora 
precursora  de  resplandecente  dia,  não  ha  patronato,  ba 
acerto,  ba  voz  generosa  do  governo  que  proclama  :  ani- 
mc-se,  estude,  eduque-se  e  assignale-se  illustrada  e  mora- 
lisada  a  mocidade  !  o  paiz  é  dWla,  porque  é  d'ella  o  futuro, 
c  porque  os  grandes  trabalhos  de  cada  época  devem  ser 
confiados  a  todos  aquelles  que  icm  nos  hombros  força  para 
carregar  o  peso  das  altas  commissões :  o  merecimento  não 
tem  idade.  Metternich  diante  de  Napoleão,  Conde  em  Ro- 
croy,  Pítt  na  Inglaterra,  Euzebio  de  Queiroz  no  Brasil,  can- 
taram o  b^mno  da  mocidade,  que  sabe,  por  ser  distincta, 
deixar-se  adivinhar  insigne. 

Euzebio  de  Queiroz,  nosso  muito  digno  consócio,  infe- 
lizmente finado  n'este  anno,  foi  notabilidade  na  magistra- 
tura e  na  politica. 

Na  magistratura  subiu  até  desembargador  da  relação  do 
Rio  de  Janeiro,  da  qual  foi  por  muito  tempo  presidente ; 
a  politica  o  desviou  com  frequência  d'aquelle  sacerdócio 
social,  em  que  os  seus  profundos  conhecimentos  jurídicos 
e  a  sua  probidade  o  leriam  erigido  em  juiz  modolo ;  pon- 


Dictzedby  Google 


dente  de  sua  mão  firme  a  balança  de  Astréa  pes& x 

liei. 

À  19  de  Março  de  1833  recebeu  a  nomeação 
direito  cbefe  de  policia  da  cdrte,  e  desempenhoo 
até  1844,  com  a  interrupção  de  cinco  mezes  em 
1833  e  ainda  depois  eram  limitadíssimas  as  attr 
chefe  de  policia  ;  em  Dezembro  d'esse  anno  OM 
capital  o  pronunciamento  popular  contra  a  soei 
lar  e  o  quebramento  insólito  de  tf  pograpbias  da 
foi  voz  corrente  n'essa  época  que  o  diefe  de  pc 
panhára  os  amotinadores,  e  fora  portanto  complíceus 
violências ;  damos  testemunho  de  que,  em  conTersi^o  íil- 
tima  e  repetida  sobre  esse  ponto  da  historia  contemporâ- 
nea, ouvimos  ao  conselheiro  Euzebio  minuciosas  iníot^v 
ções :  a  força  publica  nSo  estivera  á  sua  disposição ;  o 
governo  só  se  entendeu  com  os  juizes  de  paz  ;  albéio  a 
quanto  se  passava,  posto  de  lado  pelo  ministerio,  elle  ti- 
vera conhecimento  dos  factos  somente  depois  de  se  acha- 
rem consummados. 

À  palavra  do  conselheiro  Euzebio  foi  sempre  honrada 
portanto  a  calumnia  o  feriu  em  Dezembro  de  1833  e  insis 
tente  ainda  depois  -.  sirva  a  lição  aos  nossos  homens  polití 
cos  vivos,  porventura  tão  descuidados,  como  aos  nosso 
políticos  já  mortos;  muitos  d'elles  envolvidos  na  confusa 
dfl  acontecimentos  de  diversos  modos  apreciados,  abando 
nam-se  ao  juizo  da  posteridade,  suspeitos  de  sc-tos  cod 
demnaveis  e  talvez  injustamei^le  nodoados  por  al&íves  nãc 
destruídos ;  ao  illuslre  cidadão  que  perdemos,  como  á  ou- 
tra notabilidade  politica  que  ainda  é  mantenedor  admirá- 
vel apezar  do  seus  velhos  annos,  na  arena  da  camará  ríti- 
licia,  e  que  então  discorria  comnosco  sobre  aquelle  e  ou- 
tros assumptos  semelhantes,  dós  dissemos  o  que  repelimos 
agora  :  ■  Podeis  advogar  a  própria  causa  diante  dos  futn- 


Dictzedby  Google 


ros  historiadores;  esctevei  e  deixai  memorias:  ellas  Rpro- 
veitarão  á  pátria  o  a  nós  mesmos.  ■ 

Combatida  a  calumoia  de  1833,  deixados  ao  julgamento 
dos  pósteros,  que  únicos  podem  serimparciaes,  os  ulliraos 
aanos  em  que  a  policia,  dirigida  pelo  seu  chefe  Euzebio  de 
Queiroz,  foi  accosada  de  eovolver-se  ua  politica,  favore- 
cendo um  partido,  abstracção  feita  de  pleitos  que  ainda 
não  podem  ser  sentenciados,  a  justiça  e  a  gralidSo  teceram 
na  capital  do  império  coroas  cívicas  para  a  fronte  serena 
(lo  mais  dignamente  celebre  dos  nossos  chefes  de  policia. 
Euzebio  de  Queiroz  parecia  ter  dois  privilégios:  o  de 
não  dormir  e  o  de  adivinhar  :  o  crime  ou  era  prevenido, 
ou  de  promplo  seguido  e  npanhado  nos  recônditos  da  mais 
profunda  obscuridade ;  o  crime  deixava  sempre  rastilho, 
vestígios  que  n3o  escapavam  á  actividade  vidente  do  chefe 
de '  policia.  Euzebio  fazia  lembrar  Fouché  pela  sagacidade. 
Ministros  da  justiça  de  diversos  credos  politicos  realçaram 
os  seus  grandes  serviços. 

No  campo  da  Dolílica  o  nosso  finado  consócio  íllus- 
trou-se  como  um  dos  chefes  mais  babeis  e  estimados  do 
partido  conservador;  rommandou  seus  correligionários 
nos  comicios  populares,  e  n'clles  nâo  foi  primus  inier  pa- 
res, porque  nunca  houve  quem  lhe  disputasse  a  primazia : 
nos  dias  d'esses  certamens  coustitucionaes  o  chefe  dos  con- 
servadores, o  general  que  planejava,  o  valente  que  se  ex- 
punha, diremos  a  palavra,  o  cabalista  que  procurava,  fat- 
iava ao  povo,  era  elle.  Euzebio  de  Queiroz  era  então  cabeça 
e  braço  do  seu  partido,  porque  era  o  democrata  entre  con- 
servadores. 

Em  183S  foi  eleito  membro  da  assemblóa  provincial  do 
Rio  de  Janeiro  e  pelo  mesma  província  deputado  i  assem- 
bléa  geral  em  cinco  legislaturas;  no  anno  de  185i  mereceu 
Toao  XXXI,  p.  II  85 


Dictzedby  Google 


-  U4  - 

ser  escolhido  senador  em  lista  tríplice  offereàda  á  corAa 
ainda  pelo  Río  de  Janeiro. 

Em  1848  entrou  como  mínblTO  da  justiça  no  gabinete 
de  29  de  Setembro. 

Por  decreto  imperial  de  34  de  Outubro  de  18&5  foi 
nomeado  conselheiro  de  Estado  eslraordinario  e  em  i8  de 
Agosto  de  1866  conselbeiro  de  Estado  ordinário. 

Tario  grave  e  sisudo,  dispondo  de  intellígencia  vasta, 
de  vontade  enérgica  e  d*aquella  força  que  provém  da  consci- 
ência do  valor  próprio  o  conselbeiro  Euzebio  onde  se  mos- 
trou, onde  serviu,  foi  notabilidade  :  inQuencia  legitima  no 
gabinete  de  que  fez  parte,  chefe  parlamentar  na  camará, 
um  dos  guias  do  seu  partido  no  senado,  laborioso  e  rico 
de  luz  no  conselho  de  Estado,  foi  estadista  que  depois  de 
Vasconcellos  ostealou-se  a  par  do  marquez  de  Paraná  e 
do  visconde  do  1'rugua^,  se  os  não  excedeu,  na  direcção 
babil  da  escola  conservadora. 

Orador  doutrinário,  de  palavra  facíl  e  amena,  de  dia- 
léctica cerrada,  m<  .^T&do  ainda  nas  mais  fervorosas  dis- 
cussões, sempre  cortez  na  forma,  sempre  vigoroso  na 
matéria  possuindo  o  condão  apreciavel.o  raro  privilegio  de 
não  dizer  mais  nem  menos  do  que  lhe  era  preciso,  alcançou 
na  tríbuna  parlamentar  esplendidos  triumphos. 

Põra  dos  marcos  da  magistratura  e  da  politica  o  conse- 
lheiro Euzebio  prestou  ainda  ao  Brasil  diversos  e  alguns 
importantes  serviços.  Foi  durante  alguns  annos  inspector 
geral  da  instrucção  primaria  e  secnndaria  do  município  da 
cdrte,  lugar  cuje  exercicio  deixou  em  consequência  da 
cruel  moléstia  queo  levou  á  sepultura,  acertando  o  governo 
em  não  dar-lbe  demissão,  embora  fosse  evidente  a  morte 
prévia  do  iUusIre  cidadão,  condemnado  aos  martírios  de 
um  longo  viver  de  moribundo. 

Mal  terrível  cahira  como  um  raio  sobre  o  illustre  varão : 


Dictzedby  Google 


-  435  - 

profuoda  enfermidade  que  punha  em  ruína  a  sua  organi- 
zarão manlfestou-se  ainda  mais  cruel  na  paralisia  mais  ou 
manos  completa  da  lingua  ;  quebrãra-se  para  sempre  ao 
valente  guerreiro  sua  melhor  espada;  ao  exímio  orador  fal- 
tou a  palavra. 

Ainda  depois  de  uma  viagem  á  Europa.que  com  os  cui- 
dados incessantes  de  um  brasileiro  medico  distincto  e 
amigo  extremado,  lhe  dera  fracas  melhoras,  o  conselheiro 
Euzebio  resistiu  alguns  mezesá  morte. 

Os  habitantes  doesta  capital  viam  as  vezes  um  homem 
que  vagaroso  passava  apoiado  em  bra^o  amigo  ;  não  era 
velho,  e  seus  passos  dúbios  se  arrastavam,  seus  olhos  ti- 
nham perdido  o  brilho  antigo,  em  seu  rosto  estampavam-se 
a  ddr  e  paciência,  em  seus  lábios  triste  sorriso,  sorriso  ir- 
mão de  lagrimas,  parecia  o  adeus  de  despedida  de  um 
mart;r,  se  alguns  corriam  a  fallar-lhe,  elle  se  esforçava, 
lutava  com  a  paralysía  para  responder,  e  desatadas  a  custo 
da  língua  semi-mortas  palavras  mal  pronunciadas,  incom- 
pletas, o  homem  curvava  a  cabeia  e  melancólico  se  ia 
afastaudo ;  alguém  acaso  perguntava  :  «Quem  é  t...>  lodos 
respondiam  compungidos  :  Euzebio  em  ruinas.  i 

Deus  compadeceu-se  doíllustre  brasiciro:  a  longuíssima 
agonia  do  conselheiro  Euzebio  de  ij-ioíroz  Coutinho  Ma- 
toso da  Camará  terminou  a  11  de  Maio  doeste  anno. 

Bella  intelligencia  e  nobre  coração,  probidade  e  honra 
foram  dotes  doeste  nosso  finado  consócio  ;  notabilidade 
politica,  chefe  de  um  partido,  estadista  influente,  julgue 
de  seus  acertos  ou  dos  seus '  erros  a  posteridade  ;  pela 
nossa  parte  somos  duas  vezes  suspeito  :  havia  vinte  annos 
que  éramos  seu  adversário  politico,  havia  dezoito  annos 
que  éramos  seu  estimado amigo.O  adversário  não  pôde  jul- 
gal-o  :  o  amigo  se  lembrara  d'elte  sempre  com  saudade. 

No  anno  que  vai  acabar  soffrou  ainda  o  nosso  Instituto 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  436  — 

UmeolaTel  perda  com  a  morte  de  seu  membro  honorário  o 
sflDador  do  império  Francisco  de  Paula  de  Almeida  e  Al- 
buquerque, 

Era  um  cidadlo  por  muitos  títulos  digno  da  estima  e  do 
'espeilo  dos  brasileiros  e  de  grande  consíderaç&o  da  nossa 
sociedade. 

Ponnado  em  scieucias  jurídicas  na  universidade  de 
Coimbra,  o  Brasil  regenerado  politicamente  em  1822  soube 
aproveílarosdotos  doesse  seu  dislinclo  filho,  que  modestoe 
retirado  nunca  se  lembrou  de  disputar  grandezas,  e  apenas 
recebeu  as  grandezas  sociaes,  que  o  foram  procurar  em 
nome  do  amore  da  confiani;a  dos  seus  concidadãos. 

O  Dosso  fíaado  consócio,  natural  da  província  de  Per- 
nambuco, e  digno  representante  da  noiavel  familía  que 
seu  nome  ÍDdíca.roi  por  seus  com  provincianos  apresentado 
em  lista  tríplice  para  senador,  o  pelo  regente  em  1838  es- 
colhido para  sentar-se  em  uma  das  cadeiras  da  camará 
vitalícia. 

Já  tinha  sido,  durante  poucos  dias  embora, presidente  dn 
sua  província  nata),  logo  depois  o  senador  Almeida  e  Albu- 
querque foi  ministro  de  um  gabinete  de  transicçãu  que  du- 
rou breves  mezes,  e  succumbiu  ao  choque  do  dois  pnrti- 
dos  adversos,  entre  os  quaes  parecia  corpo  eslr^nho  ;  por- 
que não  era  expressão  lie!  e  legitima  de  nenhum  d'elles. 

Alheio  a  paixões  politicas,  poralt;um  tempo  ausente  da 
pátria  em  viagem  pela  Europa,  o  nosso  estimado  e  honra- 
díssimo consócio  perdeu  as  vanglorias  o  escapou  aos  ódios 
da  nossa  alé  hoje  muito  estéril  e  mesquinha  luta  da  política 
interna. 

O  senador  Francisco  de  Paula  de  Almeida  e  Albuquerque 
não  morreu  ignorado,  e  descansa  para  sempre  n'esta  terra 
de  Grécia  e  Troya  abençoado  por  gregos  e  Iroyanos, 

Ha  um  ministério  e  uma  profissão  que  aduoam  com  todas 


Dictzedby  Google 


—  437  — 

as  i:lassesdasociedade,  com  os  ricos  n  os  pobres,  com  os 
poderosos  e  os  humildes  squelles  que  sabem  cxercet-os 
conscienciosa  e  completamente  :  ha  dois  e  não  mais  ;  o 
ministério  do  padre  e  a  profissão  do  medico. 

O  padre  e  o  medico  nos  palácios  da  realeza,  nas  cazas 
faustosas  da  opulência ,  nos  abrigos  mesquinhos  da  po- 
breza, nos  azylos  sombrios  da  indigência,  tCro  os  mesmos 
deveres  a  cunriprir;dosempeDb3m  dois  sacerdócios  de  frater- 
nidade :  são,  devem  ser  duas  caridades  evangélicas  a  soc- 
correr  ohonnem  :  um,  o  medico,  espera  o  homem  á  porta 
da  vida,  e  ás  vezes  o  acode  ainda  niiles  do  seu  nascimento, 
qnando  elle  ó  apenas  feto  ;  o  outro,  o  padre,  acompanha  o 
homom  alé  a  sepultura,  e  ainda  depois  da  sua  morle  ofTe- 
rece  por  sua  alma  a  esmola  da  oraç9o  eo  sagrado  sacriBcio 
a  Deus. 

Entre  o  nascimento  e  o  passamento  do  homem  o  padre 
toma-o  na  infíiacia,  banha-o  no  Jorlão  do  baptismo, 
depois  unge-o  com  o  óleo  santo  da  confirmação,  sagra-lhe 
os  la^fos  de  amor  no  hymenèo,  ensina-o  do  púlpito,  acon- 
selha-o  ao  confissionario,  pede  ao  rico  para  o  pobre,  dá 
a  este  metade  do  seu  p3o,  consola  o  afllicto,  absolvo  o  con- 
Iricto,  o  nos  trances [la  agonia  accende  aos  olhos  do  mori- 
bundo n  luz  da  fé.que  abre  o  caminho  do  céo.e  lhe  cstonde 
os  braços  de  Deus  misericordioso  na  divina  magestade  do 
perdão  ;  e  também  enlrc  o  nascimento  e  o  passamento  do 
homem  o  medico  é  o  coração  amigo  que  ouve  o  gemido  do 
quesoftre  c  corre  a  combater  o  mal  que  faz  sofrer,  é  na 
dArde  quem  não  falia  o  interprete  da  mudez  da  croan^a,  das 
confusões  do  pudor  da  donzella,  do  silencio  obstinado  da 
victima  do  erro,  e  o  ouvido  sepultura  qafs  se  fecha  sobre  o 
sngredo  dn  honra  ;  é  a  piedosa  dls;imuliição  da  sensibili- 
dade quo  disfari;a  o  perigo  e  finge  não  ver  a  morto  ',  é  a  mão 
subtil  que  deixa  á  cabeceira  do  pobro  a  bolsa  da  caridade. 


Dictzèdby  Google 


-  438  — 

é  o  saoto  amor  do  próximo  identificado  na  sua  pro- 
fissão. 

Quando  o  padre  e  o  medico  sabem  ser  assim,  as  beoçãos 
de  todos  são  os  seas  prémios  mais  suaves  durante  a  vida, 
e  as  lagrimas,  a  alllicção  de  todos,  honras  fúnebres  gran- 
diosas que  em  sua  morte  recebem  nos  altares  dos  corações. 

Mo  dia  13  deJuUio  de  1868  havia  lagrimas  e  afllicção 
de  todos  na  cidade  do  Rio  de  Janeiro  :  Unha  morrido  um 
medico  que  sabia  ser  medico. 

O  velho  Dr.  Meirelles  descansava,  dormindo  o  ultimo 
somno. 

Joaquim  Cândido  Soares  de  Meirelles,  filho  legitimo  do 
cirurgião  Manoel  Soares  de  Heirelles  e  de  D.  Anna  Joa- 
quina de  S.  José  Meirelles  nasceu  em  Santa  Luzia  do  Sa- 
bará  na  proTincia  de  Minas-Geraes  aos  5  de  Novembro  de 
1777  :  de  seu  pai  herdou  a  vocação  para  a  medicina,  s 
esse  génio  medico  que  tão  justa  nomeada  lhe  deu  no  Brasil 
e  particularmente  na  capital  do  império.  Mo  seminário  do 
S.  José  d'esta  cõrle  fez  com  proveito  e  distincção  os  seus 
estudos  de  humanidades,  em  1819  malrículou-se  na  aca- 
demia medico-cirurgica  ,  tendo  passado  pelos  exames  en- 
tão eiigidos  ;  assentou  pra<;a  como  cirurgiào-ajudante  no 
batalhão  de  caçadores  em  1822,  foinumeado  cirurgião-mõr 
do  regimento  de  cavallaria  de  Minas,  e  na  sua  província 
prestou  grandes  serviços,  organizando  o  hospital  militar 
no  Ouro  Preto,  e  tornando-se  tão  notável  no  tratamento  de 
doentes  durante  uma  terrível  epidemia  que  cotão  grassou, 
que  em  1825,quando  de  novo  se  achava  no  Rio  de  Janeiro, 
a  camará  municipal  do  Ouro-Preto,  vendo  seus  municipes 
vizilíidos  por  outro  flagello  epydemico,  representou  ao  go- 
verno imperial  pedindo  com  instancia  que  the  fosse  man- 
dado o  soccorro  do  illustre  Meirelles. 

Mas  em  182i}  o  distincto  mineiro  partiu  para  a  Europa 


Dictzedby  Google 


—  43d  — 

como  peusioDÍsta  do  Estado  para  desenfolver  e  aperfeiçoar 
em  França  os  estudos  médicos  que  completara  oa  academia 
medico-cirurgica  do  Rio  de  Janeiro.  Em  Paris  a  vida  do 
nosso  digno  compatriota  passou-se  toda  e  exclusivamente 
na  frequência  dos  hospilaes  militares,  no  estudo  da  or- 
ganização, feito  no  livro  dos  cadáveres,  nas  manhãs  apro- 
veitadas em  ouvir  as  liçdes  dos  grandes  mestres,nas  noites 
consagradas  á  leitura  reflectida  das  obras  dos  sábios.  Mei- 
relles  viu  em  Paris  os  bospitaes  e  a  escola  de  medicina  ; 
mas  em  dois  annos  e  alguns  mezes  ja  linha  visto  bastante, 
e  obtendo  a  dúplice  corda  de  doutorem  medicina  e  cirur- 
gia por  aquella  escola,  voltou  á  patri^  nas  azas  da  saudade 
e  do  patriotismo. 

O  amor  da  sciencia  tinha  custado  a  Heirelles  provaçítes 
cruéis  que  mais  tarde  elle  contava  sorrindo  :  deixerool-o 
fallar  e  ouçamol-o  em  1825  :  —  já  eu  era  marido  e  pai ; 
da  rainha  pensão  de  cincoenta  mil  réis  fortes  deixei  metade 
para  minha  mulher  e  filhos  e  com  os  vinte  e  cinco  mil  for- 
tes, que  me  ficaram,  tive,  além  do  mais,  de  pagar  mestres 
e  de  comprar  livros  e  cadáveres  :  durante  os  dias  úteis  da 
semana  alimentava-me  ordinariamente,  comendo  fructas, 
e  pão:  aos  domingos  desíorrava-me  da  penitencia,  indo 
jantar  com  Paulo  Barbosa,  ou  com  José  Marcellino  Gonçal- 
ves, ou  com  o  capitío-mór  José  Joaquim  da  Rocha,  ou 
com  o  visconde  de  S.  Lourenço,  e  eutão  eram  para  mim 
inapreciáveis,  maviosissimos,  esses  dias  de  festa ;  por- 
que n'elle3  o  excellente  jantar  era  o  menos,  o  fatiarmos  da 
pátria  era  o  mais.  > 

Em  182S  o  Dr.  Meirelles  não  se  contentou  no  Rio 
de  Janeiro  com  a  clinica  urbana  que  om  larga  escala  exer- 
cia pela  fama  e  pelas  provas  da  sua  sciencia  e  do  seu  tino 
medico,  pediu  e  obteve  uma  enfermaria  da  Santa  Casa  da 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


—  441  — 

Carlos,  o  Mirsbedu  brasileiro:  «  Esle  sol  em  seu  occaso 
ainda  brilha  como  brilhava  ao  meio-dÍa.  > 

Velho  e  cansado,  o  illuslre  medico  brasileiro  foi  nomeado 
ciruFgião-mór  da  armada,  e  depois  de  haver  n'esse  emprego 
dado  provas  ds  maior  solicitude  pelo  serviço  publico, 
melhorando  a  administração  respectiva,  zelando  a  hygíene, 
economizando  os  dinheiros  do  tbesouro,  dando  o  exemplo 
da  actividade  e  do  escrupuloso  cuidado  no  cumprimento 
do  dever,  em  1865  remoçado  pelo  enthusíasmo  patriótico, 
cego  aos  estragos  da  idade,  surdo  ás  reclamações  do  egoís- 
mo bem  fundado,  vendo  e  ouvindo  somente  a  aiTronla 
e  o  clamor  do  Brasil,  o  impulso  e  a  lição  do  brasileiro  que 
é  imperador,  acompanhou  o  imperador  n'essa nobre  viagem 
do  Rio  de  Janeiro  a  Porto-Alegre,  n^essa  nobre  corrida 
de  Porto-Âlegre  a  Uruguaiana,  onde  o  estrangeiro  invasor 
abateu,  entregou  as  armas,  para  que  uma  victoria  sem  gola 
de  sangue  sagrasse  um  dos  mais  bellos  actos  cívicos  do 
primeiro  cidadão. 

N^essa  honrosa  embora  facit  campanha,  em  que  aliás 
sobraram  provações,  o  Dr.  Meirelles  apenas  escapou  á 
morte  para  avançar  fria  e  implacavetmeole  para  a  sepul- 
tura, que  aberta  o  esperava.  Fulminado  peto  typho,  mori- 
bundo tornou  á  vida;  mas  a  que  vida?....  a  vida  da 
consciência  illustrada  do  medico  que  está  lendo  nt>  livro 
do  seu  corpo,  dos  seus  soffrimentos,  nas  pulsações  do 
coração,  na  perturbação,  nas  ruinas  do  organismo,  oannun- 
cío  iuíallivel,  o  agouro  sinistro  do  passamento  próximo. 

Mas  não  choremos  morto  o  grande  medico,  sem  que 
I)  tenhamos  saudado  patriota. 

O  Dr.  Joaquim  Cândido  Soares  de  Meirelles  não  sacri- 
ficou o  dever  cívico  ao  culto  exclusivo  da  sciencía,  em  que 
se  mostrou  exímio.  Houve  o'clle  por  assim  dizer  duas 

TOMO  KXXI,  P.  II  96 


Dictzedby  Google 


—  442  — 

naturezas,  a  da  vocação  medica,  a  da  religiío  liberal  na 
politica. 

Brasileiro  como  seus  pais,  brasileiro  como  seus  filhos, 
que  digDOS  d'elle  se  mostram,  sua  alma  accendia*se  aas 
Qammas  do  patriotismo,  seu  coraçSo  era  todo  da  liberdade. 
Em  11  de  Janeiro  del822foielleque,correndoaotheatro 
de  S.  João,  depois  de  S.  Pedro  de  Alcântara,  fez  prevenir 
ao  principe  regente  do  pronunciamento  das  tropas  poriu- 
guezas,  que  sob  o  commando  de  Jorge  de  Avillez  se  revol- 
taram  armadas  contra  o  Fico  magestosamente  revolu- 
ctoDarío. 

Em  1840  Toi  ainda  elle  ura  dos  mais  persistentes  pro- 
pugnadores  da  maioridade  de  S.  U.  o  Imperador,  e  a  essa 
causa  prestou  serviços  iguaes  aos  maiores  que  então  foram 
prestados. 

Em  1842  o  antagonismo  violento  dos  partidos  e  as 
eiagerações  politicas  da  época  agitaram  anormalmente  o 
paiz :  o  Dr.  Meirelles  teve  de  seguir  deportado  para  a  Europa 
com  03  Srs.  conselheiro  Limpo  de  Abreu,  depois  visconde 
de  Abaete,  conselheiro  Saltes  Torres-Homem  e  outros  ■' 
tão  boa  e  dislincla  companhia  de  infortúnio  assignala  a 
importância  politica  do  nosso  illustrado  consócio,  como 
assigna)ou-se  a  sua  innocencia,  quando,  de  volta  ao  Rio 
de  Janeiro,  nSo  houve  juiz  nem  tribunal  que  o  chamasse 
á  contas,  e  a  restituição  das  honras  e  empregos  desfez  até 
a  mais  leve  nuvem  de  suspeitas. 

Hembro  da  assembléa  provincial  do  Rio  de  Janeiro  em 
uma  l^slatura,  deputado  da  essembléa  geral  pela  provín- 
cia de  Miaas-Geraes  em  outra,  o  Dr.  Joaquim  Cândido 
Soares  de  Meirelles  distinguiu-se  como  campeão  leat,  deci- 
dido e  enérgico  dos  princípios  liberaes  e  da  monarchia 
constitucional  representativa. 

Em  politica  homem  de  coavicções  puras  e  inabaláveis. 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  ti3  — 

oa  scieacia  medica  luzeiro,  na  vida  intima  modelo  de  pai 
de  familia,  exemplo  de  probidade  e  virtudes,  elle  foi  ainda 
amigo  como  sSo  esses  amigos  raros,  dos  quaes  basta 
um  para  consolação  e  encanto  da  vidn  Q'esle  mundo  de 
misérias  e  de  ingratidões. 

O  Dr.  Joaquim  Cândido  Soares  de  Itteirelles  leve  o  titulo 
de  conselho,  e  em  seu  peito  a  insígnia  de  ofUcial  da  ordem 
do  Cruzeiro,  a  commenda  da  imperial  ordem  da  Rosa, 
o  habito  de  civalleiro  de  S.  Bento  de  Aviz  e  a  medalha 
commemorativa  da  reodiçfio  de  Uruguayana. 

Além  d^essas  remunerações  de  serviços,  d'es3as  graças 
que  a  mageslsde  confere  aos  beneméritos,  o  conselheiro 
Dr.  Joaquim  Cândido  Sonres  de  Meirelles  gozou  da  con- 
fiança e  da  maior  estima  de  S.  M,  o  Imperador  e  de  sua 
augusta  familia  e  foi  medico  da  imperial  camará. 

Na  republica  das  letras  mereceu  ser  e  foí  sempre  muito 
considerado :  os  títulos  de  membro  honorário  da  Imperial 
Academia  de  Merlicina,  de  membro  correspondente  do 
nosso  Instituto,  e  de  muitas  outras  sociedades  scientiScas 
e  lítlerarias  do  Brasil  e  da  Europa,  foram  diplomas  que 
laurearam  a  fronte  nobre  d'esse  brasileiro  illustrado. 

O  povo  também  confere  (itulos:  sem  o  direito  de  de- 
cretar, decrota  pelo  convénio,  pelo  juizo  unanime:  o  juizo 
unanime  d'um  povo  já  fez  d'um  franciscano  um  santo 
antes  da  canonísaçfio  declarada  pelo  Papa :  o  juizo  una- 
nime do  povo  fluminense  agraciou  o  Dr.  Joaquim  Cândido 
Soares  de  Meirelles  com  o  triplico  laurel  da  sciencia,  da 
caridade  e  do  patriotismo. 

A  lista  fúnebre  dos  nossos  consócios  finados  em  1868 
vai  agora  encerrar-se  coro  o  noroe  illustre  do  conselheiro 
Paulo  Barbosa  da  Sllva.cidadão  benemérito,  quosoubecon- 
sagrar  ao  Brasil  seu  braço  de  soldado,  seu  coraçáo  de  pa- 
triota, sua  intelligencia  esclarecida  de  politico  e  diplomata, 


Dictzedby  Google 


—  444  - 

o  seu  zelo  esmerado,  sua  fidelidade  sem  quebra,  sua  de- 
dicação, sau  amor  i  sagrada  iníancia  dos  augustos  pupillos 
da  pátria,  prestando  depois  e  até  a  morte  todos  os  tributos 
do  Ihesouro  de  seu  rico  préstimo  á  pessoa  e  á  casa  de 
S.  M.'  o  Imperador. 

Filho  de  Anloaio  Barbosa  da  Silva ,  coronel  do  1* 
regimento  de  cavallaria  do  Snbará  em  Minas-Geraos,  Paulo 
Barbosa  da  Silva  nasceu  em  1790  n'aquella  mesma  villa, 
o  assentou  praça  de  cadete  aK^^regado  iio  regimmilo  de  ca- 
vallaria do  Minas  a  15  de  Maio  de  1804,  passando  a  oIToc- 
tivo  a  12  de  Outubro  de  1808,  c  apenas  com  IS  annos  foi 
encarregado  da  remonta  d'esse  corpo  militar,  eda  inspecção 
da  mineraçio  do  salitre:  doís  annos  depois  era  alferes  e 
por  ordem  do  capitão  general  marquez  do  Palma  punha 
em  execução  o  ordenado  na  caria  régia  de  3K  de  Stílembro 
de  1811  sobre  a  inspecção  da  mineração  do  ouro,  tarefa 
diflicíl  e  minuciosa,  por  cujo  desempeaho  mereceu  os 
maiores  elogios. 

O  claugor  das  trombetas  guerreiras  chamava  os  soldados 
ás  campanhas  do  sul  em  1813.  Paulo  Barbosa  partiu ;  roas 
a  convenção  de  Rademaker  fez  retroceder  da  Banda  Oriental 
nossas  hostes  victoríosas,  e  o  joven  oflicial  teve  de  regressar 
de  S.  Paulo,  para  onde  marchara.  Em  1817  vem  com  o  seu 
regimento  para  o  Rio  de  Janeiro,  e  então  obtém  do  rei  li- 
cença paia  permanecer  na  capital  e  frequentar  a  academia 
militar,  onde  leve  o  curso  mathematíco,  sendo  premiado 
no  2",  3",  4'  e  5*  annos.  Em  1819  recebeu  a  promoção  de 
^eneate,  o  o  habito  da  ordem  de  Christo  com  a  tença 
de  238S  annuaes :  capitão  a  14  de  Setembro  de  l82l,passou 
n'esse  posto  para  o  corpo  de  engenheiros  por  decreto  de  27 
de  Novembro  de  1823:  um  anno  antes  já  elle  era  mandado 
a  levantar  forlificações  em  Cabo-Frio  e  Macalié,  quando  se 
receiava  alguma  invasão  de  tropas  porluguezss :  em  23  da 


Dictzedby  Google 


—  445  — 

Junbo  de  1824  foi  Domeado  commaadante  das  baterias  de 
Irajá  e  três  mezes  depois  oraou  seu  peito  de  soldado  com  o 
habito  de  Aviz. 

Em  1826  ÍQ(eiTompem-se  as  coromissões  encarregadas 
ao  hábil  engenheiro,  e  Paulo  Barbosa  parte  para  a  Europa 
entre  os  estudantes  notáveis  que  o  governo  manda  i  con- 
quista dt)  mais  luzes  e  sciencia  nos  grandes  focos  da  civíli- 
saçSo  do  velho  mundo. 

De  lá  mesmo  o  cidadão  patriota  se  empenha  em  servir 
ao  seu  paiz:  é  elle  quem  propõe  em  Julho  de  1827  a 
creaçãodaarmadelanceirosnoRio-GrandedoSul,  e  quem 
manda  o  primeiro  modelo  de  artilhería  de  montanha  e  uma 
memoria  para  syslematisar  os  pesos  e  medidas  do  Império. 
Chamado  em  breve  a  ler  pra<;a  na  diíScil  e  delicada  mi- 
lícia da  paz,  Paulo  Barbosn,  diplomata,  e  depois  politico 
e  administrador,  não  tem  mais  nam  occasiSo,  nem  tempo 
de  distinguir-se,  como  soldado  engenheiro,  senão  no  curto 
espaço  do  vinte  e  um  mezes,  desde  Março  de  1833,  em  que 
de  volta  da  Europa  seapresenlou  noquarlel-general.até  30 
de  Dezembro  de  1833,  datn  da  sua  nomeação  .p.ira  mor- 
domo interino  da  casa  imperial;  mas  esse  período  etio  o 
enche,  empregado  nas  divisas  d.is  freguezias  da  província 
do  Rio  da  Janeiro,  em  trabalhos  da  repartição  do  ministé- 
rio do  império,  a  cujo  serviço  passa,  e  na  tarefa  espinhosa 
e  polriotica,  qua  dignamente  desempenha,  acompanhando 
o  general  Pinto  Peixoto  a  Mínas-Cieraes,  onde  a  revolta 
alçava  o  collo  e  tentava  derribar  o  governo  legal  da  pro- 
víncia. 

O  sangue  dns  revoltosos  era  para  Paulo  Barbosa  sangue 
duas  vezes  irmão,  sangue  brasileiro  e  mineiro:  poupal-o 
era  mais  que  dever,  gloria  verdadeira  e  sublime :  essa  gloria 
tiveram  o  general  e  o  nosso  venerando  consócio:  a  revolta 
do  Ouro-Preto  dissipou-se  como  nuvem  negra  ao  sopro  de 


Dictzedby  Google 


suaves  auras :  não  se  ouviram  tiros  nem  gemidos :  a  ordeoa 
restabeleceu*«e  sem  o  delírio  dos  combates,  sem  o  aspecto 
de  cadáveres,  sem  o  quadro  sÍDÍstro  das  ruÍDas,  Uais  tarde 
em  1839  o  posto  de  tenente- coroael  recordava  a  bella 
víctorís  insangienla  a  Paulo  Barbosa  da  Silva,  que  aliás 
tinba  sido  promovido  a  major  effectivo  a  12  de  Setembro 
de  1837. 

A  vida  militar  activa  de  Paulo  Barbosa  da  Silva,  ioter- 
rompe-se  portanto  no  6m  do  anno  de  1833  e  não  mais  se 
reaccende :  a  15  de  Harço  de  1844  a  suo  reforma  no  posto 
de  brigadeiro  dá-lbe  emfim  essa  jubilação  do  soldado, 
jubilaçãoque  foi  amaina  para  o  nosso  venerando  consócio, 
pois  que  elle  a  procurou  desgostoso  e  como  um  recurso 
contra  a  iniolerancia  politica  de  adversários,  que  não  lhe  per- 
doavam a  SUB  Gdelidade  e  dedicação  aos  princípios  libcraes. 
Eis  a  carreira  militar  de  Paulo  Barbosa,  modesta,  mas 
nobre,  e  n'6lla  a  serie  de  seus  serviços  de  soldado,  come- 
çando aos  18  e  aos  20  annos  por  commissões  do  canGança> 
em  que  elle  ostentou  zelo  e  honra ;  e  terminando 
aos  43  annos  pelo  vencimento  de  revoltosos  em  armas,  em 
que  elle  escreveu  a  bistoria  do  tríumpbo  sem  molhar  a 
penna  no  sangue  de  um  só  vencido. 

Para  a  sua  gloria  de  soldado  modesto  bastam  estas  re- 
cordações. 

Em  balde  os  anachronismos,  corra  agora  a  vida  do  diplo- 
mata antes  da  vida  do  politico,  que  a  precedeu  e  imer- 
roediou. 

A  6  de  Abril  de  1829  foi  Paulo  Barbosa  da  Sitva  nomeado 
addido  A  legação  do  Brasil  na  Rússia  ;  mas  a  26  do  mesmo 
rooze  por  ordem  do  raarquez  de  Barbacena, segue  da  In- 
glaterra paraVienuH  d'Auslria,  levando  offioíos  d'«quelle 
então  embaiiador,  o  volta  a  Londres  em  Julho  do  mesmo 
anno,  sendo  portador  do  contrato  de  casamento  do  impe- 


Dictzedby  Google 


—  4i7  — 

railor  o'  Sr.  D.  Pedro  I  com  S.  A.  Real  a  príaceza  de 
Lewthembnrg  logo  depois  imperatriz  do  Brasil. 

Por  decreto  de  23  de  Outubro  ainda  de  1829  sobe  a  se 
cretsrio  da  legação  brasíleirn  em  Vienna,  tendo  antes  em 
MuDÍch  merecido  por  seu  espirito  a  aíTabilídade  o  mais 
obsequioso  acolhimento,  e  concorrido  muito  alli  para  des- 
truir preconceitos  que  existiam  contra  o  Brasil.  Demittidoa 
30  de  Janeiro  de  1830, volta  é  pátria,  e  vem  achar  no  throno 
um  imperador  inda  infante.DO  governo  outras  ídéas  e  prin- 
cípios, DO  paiz  as  convulsões  resultantes  de  uma  revolução 
que  foi  generosa  e  salvadora  ,  mus  que  não  podia  escapar 
aos  perigos  do  abalo  virulento  da  sociedade,  e  precisava 
vencôi-os,  como  os  venceu  com  o  esforço  e  o  encanto  do 
patriotismo. 

Depois  de  uma  interrupção  de  quinze  annos,  o  nosso  ve- 
nerando consócio  volta  á  carreira  diplomática.  Por  decreto 
de  13  de  Dezembro  de  1845  ó  nomeado  enviado  extraor- 
dinário e  ministro  plenipotenciário  para  S.  Petersburgo, 
passa  a  servir  em  Berlin  com  o  mesmo  caracter  a  10  de 
Dezembro  de  1847  e  d^abiéremovidopara  Viennad'Auslria 
a  10  de  Abril  de  1842. 

Ffão  foi  d'esses  diplomatas  ociosos  que  presumem  fazer 
bastante  satisfazendo  os  cumprimentos  e  deveres  da  eti- 
queta. Quando  esteve  em  Berlin  promoveu  a  organisação 
de  uma  sociedade  que  teria  por  Cita  favorecer  a  emigração 
prussiana  para  o  Brasil,  sendo  o  principe  Alberto  o  pro- 
tector  d'essa  instituição,  que  aliás  não  conseguiu  realisar 
por  ter  sido  removido  para  Vienna.  Teve  occasião  de  dar 
provas  de  sua  dedicação  e  fidelidade  é  família  imperial,  e 
S  M.  o  Imperador  lh'o  agradeceu  em  honrosissima  carta. 
Recebido  com  distincçào  e  favor  em  todas  ns  cortes  da 
Europa,  e  especialmente  na  Rússia,  onde  o  imperador  Ni- 
coláo  o  acolheu  com  a  mais  penhoradora  estima,  o  conse- 


Dictzedby  Google 


—  448  — 

Iheiro  Paulo  Barbosa  da  SíIts  deixou  ein  todas  essas  capi- 
tães suaves  recordações  e  vivas  sympatbias.quo  elle  cuidou 
sempre  de  aproveitar  em  beneficio  ou  no  justo  iateresse 
da  pátria. 

Na  capital  da  Áustria  moléstia  gravíssima  pAz  em  risco 
seus  dias  e  atormeatou-o  com  padecimentos  qne  por  loagos 
mezes  o  tiveram  prostrado  entre  a  vida  e  a  morte,  e  foi  do 
meio  doesse  terrível  solTrOT,  que  á  família  e  aos  amigos  se 
aOigurava  leota  agonia,  que  lhe  chegou  o  decreto  de  sua 
demissão  fulminado  por  seus  adversários  políticos,  então 
no  poder.  O  philosopho  riu-se  do  golpe,  o  moribuntlp 
tornou  é  vida,  o  patriota  voltou  para  o  Brasil  era  1854. 

O  conselheiro  Paulo  Barbosa  da  Silva,  como  diplomata, 
acaba  aqui. 

Patriota  fervoroso,  Paulo  Barbosa  da  Silva  surge  na  vida 
politica,  escrevendo  o  seu  nome  na  historia  da  sanla  cru- 
zada da  independência  do  Brasil.  Em  Dezembro  de  182i 
chegou  ao  Rio  de  Janeiro  o  decreto  das  C6rtes  de  Lisboa, 
mandando  retirar  para  a  Europa  ao  príncipe  regente  :  a 
noticia  de  semelhaute  disposição,  que  de  harmonia  com 
outras  já  desfachadas  preanunciavam  tentativas  ou  de  re- 
colooisação  ou  de  rebaixamento  do  Brasil,  alvoraçaram 
os  habitantes  da  cidade  do  Rio  de  Janeiro,  e  em  seus 
clubs  o  capitão-mór  José  Joaquim  da  Rocha,  José  Ma- 
rianno,  Nóbrega  e  outros  resolveram  provocar  pronuncia- 
mentos públicos  em  opposição  á  retirada  do  priucipe;  mas 
não  bastava  a  enthusiastica  voz  do  povo  tluminense,  e 
para  que  se  desprendessem  uuisonas,  com  essa,  para  tão 
grande  empenho,  as  vozes  das  provincías  de  S.  Paulo  e 
Minas  procuraram-se  e  acfaaram-se  promptos  dois  cora- 
josos emissários  :  para  S.  Paulo  partiu  Pedro  Dias,  depois 
marquez  de  Quiíeramobim,  para  Minas  seguiu  dili- 
gente Paulo   Barbosa  da  Silva,  que   tão  avisado  e  activo 


Dictzedby  Google 


correu  a  desempeabar  a  nobre  larefa,  que,  deixando  a 
nossa  capital  a  15  de  Dezembro,  remettia  logo  a  27  a  re- 
presentação da  viila  de  Barbacena,  e  a  4  de  Janeiro  de 
1822  a  da  comarca  deMaríanna,  no  sentido  ajustado; 
exemplos  poderosos,  eléctricas  labaredas  que  obrigaram  o 
governo  provisório  de  Mioas.que  aliás  recusava  sua  obediên- 
cia ao  principe.  a  mandar  o  seu  vice-presidente  reconbe- 
cêl-o  como  cbefe  supremo  e  pedir-lbe  também  que  fi- 
casse no  Brasil. 

A  causa  gloriosa  pela  qual  subira  ao  patibulo  o  Tira- 
dentes,  consagrada  pela  victoría  tornou  heróes  felizes  os 
revolucionários  do  Ypiranga  ;  mas  por  esse  mesmo  con- 
traste se  patentes  a  ousada  e  honrosissima  dedicação 
d'BqueUes  brasileiros  que  se  extremaram,  trabalhando  pela 
independência  da  pátria  em  1821  e  1822,  e  eipondo-se 
e  sabendo  como  e  a  quanto  se  expunham,  se  adversa  lhes 
fosse  a  fortuna  D'esse  processo,  que  era  a  conspiração  e 
a  luta,  e  de  que  o  triumpho  seria  a  sentença ;  e  por  isso 
mesmo  conquistaram  brilbanle  renome,  e  a  immorredoura 
gratidão  nacional,  os  beneméritos  que,lembrando  a  pátria, 
esqueceram  os  perigos,  e  nem  mediram  a  responsabilidade 
que  tomaram.  Um  d^esses  beneméritos  foi  Paulo  Barbosa 
da  Silva. 

Em  Dezembro  de  1833  o  governo,  impellido  por  aconte- 
cimentos políticos  cuja  apreciação  não  seria  agora  inoppor- 
tuna,  arredou  do  palácio  de  S.  Christovão  e  da  tutoria  de 
S.  M.  o  Imperador  e  de  suas  augustas  irmâso  sabioe  vene- 
rando José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva,  e  chamou  para 
subslluil-o  em  tão  elevada  tarefa  o  leal  e  dedicado  marquez 
de  Itanhaen,  sendo  a  31dome5mo  mez  nomeado  mordomo 
iuterino  da  casa  imperial  Paulo  Barbosa  da  Silva. 

Desde  enião  o  nosso  prezadn  consócio,  consagrando- se 
lodo  com  solicitude  e  amor  ao  serviço  do  imperador  e  das 

TOMO   XIXI.   P.  II.  B7 


.db^^gogle 


—  *50  — 

augustas  príncezas  brasileiras,  ainda  uma  vez  bem  mereceu 
da  pátria . 

Foi  ao  zeto  e  á  feliz  iospiração  de  Paolo  Barbosa  que  o 
imperador  deveu  ter  por  mestres  priocipaes  o  muito  illus- 
ttado  Sr.  víscoude  de  Sapucahy,  nosso  digno  presidente, 
cuja  preseDça  aos  tolhe  o  mais  justo  elogio,  e  aquelle  sim- 
ples, modesto  e  sábio  carmelita  Fr.  Pedro,  depois  bispo 
de  Chrysopolis,  foote  de  luz  pela  sciencia  e  de  virtudes 
pela  caridade. 

Gozando  da  mais  plena  confiança  domarquezde  Itanbaeo, 
que  nobremente  reconhecia  a  superioridade  da  sua  ei- 
periencia  intelligente  e  de  sua  notável  illustração,  Paulo 
Barbosa  da  Sílva  foi  mais  do  que  mordomo  da  casa  impe- 
rial, foi  o  sacerdote  da  fidelidade  da  nação,  que  constante 
velou  pelos  sagrados  penhores  da  monarchia,  do  patrio- 
tismo e  da  gloria  do  Brasil. 

O  augusto  pupiUo  (Ia  pátria  declarado  maiordeu  eloquente 
e  magnifíco  testemunho  da  grandeza  de  tão  relevantes  ser 
viços,  nomeando  a  Paulo  Barbosa  mordomo  elTectivo  de 
sua  casa,  honrando-o  como  d'anles  e  sempre  com  a  sua 
amizade,  e  resistindo  na  mageslado  da  sua  gratidão  ao  cal- 
culado embale  de  quantas  invenções  e  tramas  engendrou 
o  ódio  politico  para  cavar  a  perda  e  a  desgraça  do  inabalá- 
vel e  allivo  adversário,  cujo  crime  único  era  a  sua  posição 
no  paço,  e  a  conSança  intima  que  merecia  do  Sr.  0.  Pe- 
dro 11,  confiança  e  esfima  que  o  acompanharam  e  o  real- 
çaram  até  a  morle. 

Na  mordomia  da  casa  imperial  Paulo  ^Barbosa  da  Sílva 
prestou  serviços  que  o  publico  mal  conhece  ou  de  todo 
ignora.  Além  de  obras  que  mandou  executar  no  paço  da 
cidade,  foram  innumeras  as  que  realizou,  reconstruindo  e 
augmentando  o  da  imperial  quinta  da  Boa-Vista,    onda 


Dictzedby  Google 


lambem  completou  o  hospital,  que  pôde  receber  mais  de 
cem  doentes. 

Na  fazeoda  de  Sanla-Cruz  fez  construir  grande  parte  do 
palácio  e  o  hospital  com  capacidade  para  duzentos  leitos. 

Considerando  a  condição  infeliz  dos  escravos  da  corda, 
que  nunca  se  podiam  libertar,  e  interpretando  fielmente  os 
sentímentose  os  desejos  do  imperador,  foi  Paulo  Barbosa  ds 
Silva  que  m  uilo  concorreu  para  que  passasse  nas  camarás  a 
lei  que  permilliu  a  Sua  Magestade  a  quebrar  os  ferros  e 
restituir  á  verdadeira  vida  de  homens  quinhentos  e  tantos 
infelizes,  e  de  sua  parte,  como  mordomo,  facilitou  sempre 
a  emancipação  dos  escravos. 

A  colónia  allemã  fundada  na  fazenda  do  Córrego  Secco, 
pertencente  a  S.  M.  o  Imperador,  e  onde  tão  vicejante  flo- 
resceu já  a  fresca  e  bella  Petrópolis,  nasceu  do  plano  com- 
binado entre  Paulo  Barbosa  da  Silva  e  o  seu  intimo  amigo 
o  illustre  conselheiro  Aureliano  de  Sousa  e  Oliveira  Cou- 
tinho, depois  visconde  de  Sepitiba,  e  então  presidente  da 
província  do  Rio  de  Janeiro. 

O  muito  que  ainda  fez,  as  reformas  que  realizou  na  casa 
imperial,  os  grandes  beneRcios  e  melhoramentos  públicos 
para  que  concorreu,  estenderiam  este  rude  elogio  biogra. 
phico  alam  dos  limites  que  é  indispensável  respeitar. 

Esse  varão  preclaro  pagou  emQm  o  derradeiro  tributo  : 
ao  peso  de  setenta  e  oito  atarefados  annos  juntou-se  longa 
e  insensível  moléstia  que  o  levou  á  sepultura. 

O  conselheiro  Paulo  Barbosa  da  Silva  foi  na  vida  pu- 
blica um  cidadão  benemérito,  e  na  particular  o  encanto  da 
familia  eo  modelo  da  amizade. 

Illustrado,  bom,  caritativo,  ameníssimo  na  conversação, 
leal  aos  amigos,  até  os  sacríQcios,  cujas  proporções  só  me- 
dia pelo  dever  e  pela  honra,  probo,   firme  em  suas  con- 


DictizedbyGoOJ^IC 


—  452  — 

vic{ões,  Paulo  Barbosa  da  Silva  soaba  merecer  a  inimensa 
estima  qae  gozou. 

Tinba  os  defeitos  das  suas  qualidades,  e  ainda  dos  de- 
feitos oobrezÀ ;  franco  pela  lealdade,  foi  ás  vezes  franco 
até  a  radeza,  e  sua  palavra  pungente  feria  eatão  como  am 
dardo  o  hypocrita  que  teotava  enganal-o.  Os  antagonismos 
dos  partidos  políticos  o  envolveram  em  suas  lutas  frequen- 
temente enraivadas;  alto,  e  portactto  preferido  peto  raio  dos 
adversários,  Paulo  Barbosa,  rico  de  sentimentos  generosos 
e  por  Isso  altiro,  quando  aggredido  reagia  com  o  impulso 
enérgico  do  seu  caracter,  e  na  repulsão  as  vezes  esmagava 
com  o  peso  do  sarcasmo.  Inabalável  nas  suas  idéas,  con- 
servado inabalável  na  sua  elevada  posição  administra tíva, 
zombando  das  tempestades,  como  o  jequitibá  nas  monta- 
nbas,  como  o  rocbedo  nos  mares,  eicitou  o  ódio,  as  pragas 
e  os  aleives  de  inimigos. 

Em  compensação  contou  elle  no  Brasil  e  na  Europa  nu- 
merosos e  dedicadissimos  amigos.  No  velho  mundo,  além 
de  muitos  nas  cortes  onde  fora  nosso  ministro,  teve  entre 
os  melhores  Saial-Hilaire  e  .Martíus,  com  quem  activamente 
se  correspondia.  Na  pátria,  onde  ainda  tantos  o  choram, 
nenfaum  foi  melhor  amigo  de  Paulo  Barbosa  do  que  S.  M. 
o  Imperador. 

Nâo  faltaram  ao  nosso  muito  estimado  consócio  e  bene- 
mérito cidadão  as  honras  da  terra.  Elie  teve  o  titulo  de 
conselho,  e  foi  grande  do  império,  cavalleiro  da  ordem 
de  S.  Bento  de  Aviz,  oITicíbI  da  imperial  ordem  da  Rosa, 
commendador  da  de  Nossa  Senhora  da  CoDceiçSo  de  Vilta 
Viçosa  e  da  Legião  de  Honra,  grã-cruz  da  real  italiana  de 
S.  Maurício  e  S.  Lazaro,  da  imperial  russiana  de  Sant^Anna, 
da  Ernestina  da  casa  ducal  da  Saionia,  e  da  imperial  turca 
de  Medjidié  da  segunda  classe. 


Dictzedby  Google 


-  *53  - 

Mas  acima  de  todas  essas  hoans,  dístÍDCçõese  grandezas 
sociaes,  P«ulo  Barbosa  da  Silva  teve  títulos  mais  altos, 
mais  nobres  ainda ;  fonm  estes : 

Na  vida  militai  brilho  de  inteltigencia  e  exemplo  de  dis- 
cipliaa. 

Na  vida  particular,  o  cultodaamizade  e  o  amor  da  Tamilia 
erigidos  em  religião. 

No  exercício  dos  cargos  públicos  e  na  administração  da 
casa  imperial,  o  dever,  o  zelo  e  a  boora  tomados  por 
pharoes. 

Na  politica  dos  partidos,  a  sua  brilhante  Brmeza  de  prin- 
cípios, como  propugnador  do  progresso  a  mantenedor  das 
idéas  liberaes. 

No  pa{o  imperial  e  fora  d*elle,o  mesmo  rosto  sem  mas- 
cara, o  mesmo  peito  leal,  e  no  rosto  a  boca  para  a  verdade, 
e  no  peito  o  coração  dieio  de  amor  e  de  fidelidade  para  o 
imperador  e  sua  augusta  familia. 

Na  epopéa  de  1832  emfim,  a  gloria  esplendida  esublime 
de  paladino  da  independência  da  pátria . 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


MANUSCRIPTOS  OFFEREODOS  AO  INSTITUTO 

DURANTE  O  ANNO  DE  1868 

PELO  EXH.   SR.    C0N3ELSEIB0   iOXO   MANOEL  PEREIRA  DA  SILVA 

Carta  pateote  nomeando  familiar  do  santo  officio  da  ci- 
dade  deLisboaa  Antimio  Borges  de  Carvalho,  em  1761. 

Lista  dos  contratos  qae  tem  a  capiíaoia  do  Rio  de  Ja- 
neiro, etc. 

PELO    SR.    DR.    CÉSAR    AUGUSTO  MARQUES 

Memoria  histórica  da  administração  do,  Dr.  Franklin 
Américo  de  Menezes  Dória  na  província  do  Maranhão, 
{ escripta  pelo  offertanle). 

Ode  recitada  no  dia  2  de  Fevereiro  de  1826  pelo  ex- 
presiJoute  da  provincia  do  Maranhão  Pedro  José  da  Costa 
Barros  por  occasião  do  festejo  do  natalicio  de  S.  lU.  o  Im- 
perador, etc. 

PELO  SR.  DR.  FRANCISCO  IQKACIO  HARCOMDES  HOHEH  DE  MELLO 

Itinerário  da  viagem  feíEn  pelo  capitão  Joaquim  António 
Xavier  do  Valleà  provincia  de  Mato-Grosso  pelos  rios  Ti- 
bagy  e  Brilhante,  em  1865. 

PELO  3R.    DR.    ANTÓNIO    HENRIQUES   LEAL 

Revoln£<}es  e  levante  de  Pernambuco  em  iTiOenil. 

PELO  SR.  TENENTE  CORONEL  PEDRO    TORQUATO  XAVIER  DE  BRITO 

Historia  do  assedio  e  <^apitulaçãO  da  praça  da  Colónia  do 
Sacramento  em  31  de  Maio  de  1777.  —(Com  mappas.) 

P^O  SR.  DR.  J.  F.  CARNEIRO 

Vários  aati^raphos  do  desembargador  Thomaz  AnlODÍo 
Gonzaga. 


Dictzedby  Google 


-  456  — 
PELO  BXM.  SR.  BÁitlO  DE  MELGAÇO 

Tabeliãs  das  latitades  e  loi^fitudes  de  diversos  lagares  da 
proTiacia  de  Malo-Grosso  determioados  por  observações 
astrooomicas. 

Mappa  geograpbjco,  cfaroDOlogico  e  eatalísUco  da  pro- 
Tincia  de  Mato-Grosso,  oi^aaizado  pelo  Sr.  capilio  de 
fragata  Angnslo  Leverger.  hoje  chefe  de  esqaadra  barSo  do 


PELO  SI.    JOAQllM  FELICUKO  DE  ALMEIDA   LOUZIDA 

Documeolos  offlciaes  porhigucizes  e  hespanhoes  relativos 
aos  limites  do  Império,  na  proviocia  de  Halo-Grosso, 
compilUdos  de  ordem  do  Illm.  e  Exm.Sr.AntODÍo  Francisco 
de  Pania  HoIIanda  Cavalcanti  de  Alhaqaerque,  ministro 
da  marinha,  pelo  capitãj  de  fragata  da  armada  nacioaal  e 
imperial  Aogasto  Leverger. 

Aato  origioal  da  fundação  do  forte  do  Priocipe  da  Beira 
□a  província  de  Mato-Grosso. 


HAPPAS  OFFERECmoS  AO  INSTITl^TO  DURANTE 
O  AN.NO  DE  1868. 

Mappa  das  fragatas  portuguezas  que  se  incorporarão  á 
armada  do  Sul  durante  os  aonos  de  1774  a  J776. 

PELO  Sft.  DR.  D.  JUAH  VILANOVA  Y  PIEHA. 

Cartas  topc^aphicas  dos  districtos  de  Madrid,  Caraban- 
cbel  baixo  e  Titaleia,  levantadas  pela  Junta  Geral  de  Sla- 
tistica  de  tlefiiLinlia. 


Dictzedby  Google 


PELO  SR.    DR.    CÂNDIDO  MENDES  DE  AIMEIPA 

Atlas  do  Império  do  Brasil,  comprehendendo  as  rcspec- 
livas  divisões  adminislrativas,  eticlesiasticas,  eieitoraes  e 
judiciarias.  Rio  de  Janeiro,  1868.  in-folio  gr. 

P£LO  Sa.  PRESIDENTE  DA  fROVINaA  DE  3.  PEDRO  DO  RlO-GRiNDE 
DO  SDL 

Carta  topograpliica  da  proTincia  lie  S.  Pedro  do  Rio- 
Graode  doSul.confeccionada  segando  os  trabalhos  odíciaes 
existentes  oo  archivo  das  obras  publicas  províociaes  con- 
cluiJd  por  ordem  do  Exm.  Sr.  Dr.  Francisco  Ignacio  Mar- 
cODdes  Homem  de  Mello, presidente  da  província,  sob  a  di- 
recção do  bacharel  António  Cieuterio  de  Camai^o,  1868. 


RELATÓRIOS  E  DOCUMENTOS  REMETTIDOS  PELAS 
SECRETARIAS  DE  ESTADO  DURANTE  O  ANNO 

DE  Í868. 

SECRETARIA  DO  IHPERIO 

Relatório  apresentado  á  assembléa  geral  legislaiÍTa 
Da  2*  sessão  da  15'  legislatura  pelo  Exm.  Sr.  ministro  do 
império,  José  Joaquim  Fernandes  Torres.  Rio  de  Ja- 
neiro, 1868. 

Collecion  de  documei^tos  inéditos  relativos  ao  desça- 
brinieoto,  conquista  e  colonisação  das  possessões  hespa-. 
nholas  na  America  o  Oceaaia.  —  Madrid,  os  seis 
1'.  tomos,  annos  1864—66. 

Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  Dr.  João  Francisco  Duarte 

l"  vice-presidente  da  província  das  Alagoas,  entregou  a 

administração  da  mesma  provincia  no  dia  9  de  Setembro 

TOSO  XIII,  P.  II  58 


Dictzedby  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


—  458  — 

de  1866  ao  Exm.  Sr.  presideDie  Dr.  AnlODio  Moreira  de 
Barros.  Uaeeiõ,  1887. 

Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  Dr.  Adelino  Anlonio  de 
Lana  Freire  passou  a  admÍDÍstraçíio  da  proviocia  do 
Piauh;  ao  Exm.  Sr.  vlce-presideote  Dr.  José  Uaooel  de 
Freitas  oo  dia  5  de  Novembro  de  18(^8,  precedido  de  am 
officio  com  qae  o  Sr.  vice-presidente  entregou  a  adminis- 
tração da  mesma  proTiicia  no  dia  9  de  Novembro  d'aquelle 
anno  ao  novo  presidente,  Dr.  Polydoro  César  Bnrlamaqae. 
S.  Lniz,  1868. 

Relatório  com  que  o  Exm  Sr.  presidente  da  província 
Dr.  Jactntho  Pereira  do  Rego  abriu  a  asseroblèã  legisla- 
tiva provincial  do  Amazonas  no  dia  1°  de  Junbo  de  186ã. 
Hanàos,  1868. 

Regulamento  D. i7  de  l*  de  Agosto  de  1867,  reformando 
a  administração  da  Tazenda  provincia)  do  Amazonas. 
Manáos,  1868. 

Collecção  dos  rognlamentos  e  outros  actos  expedidos 
pelo  governo  da  província  do  anno  de  1867.  Mara- 
nhão, 1868. 

Relatório  com  qoe  o  Exm.  Sr.  Dr.  Joaquim  Vieira  da 
Canha,  l*  vice-presideate  da  província  de  S.  Pedro  doRio- 
Grande  do  Sal,  passou  a  admiaíslração  da  mesma  ao  Exm. 
Sr.  Marechal  de  campo  Guilherme  Xavier  de  Sousa,  no 
dia  lidelulhode  1868. 

*  ' 

SECRETARIA  DA  JDSTIÇA 

Relatório  do  ministério  dajastiça  apresentado  á  as- 
semhléa  geral  legislativa  na  2*  sessão  da  13'  legislatura 
pelo  respectivo  ministro  e  secretario  d'Est3do,  Hartia 
Francisco  Ribeiro  de  Andrada.  Rio  de  Jaaeiro,  1868. 


Dictzedby  Google 


SeCRETARU   DA   GUERRA 

Reldtorio  apresealado  i  assembiéa  geral  legislativa  na 
3*.  sessio  da  IH*  legíslatara  peloExin.  Sr.  miolslro  da 
guerra,  João  Ltistosa  da  Guoha  ParaDagua.Rjo  deJanei- 

SECRETARIA  DA   MARINHA 

Rolatorioapreseitado  4  asssembléa  geral  legislativa  na 
1'.  sessão  da  13*  legislatura  pelo  ministro  e  secretario  dos 
negócios  da  roarinba  Exm.  coDselheiro  Affonso  Celso  de 
Âssis  Figueiredo.  Rio  de  Janeiro,  1868 

SBCRETARIA    DA   FAZENDA 

Proposta  e  relatório  apresentado  à  assembiéa  geral  le- 
gislativa na  2'  sessão  da  13'  legislatura  pelo  ministro  e 
secretario  d'Estado  dos  negócios  da  fazenda,  conselheiro 
Zacarias  de  Góes  eVasconcellos.  Rio  de  Janeiro,  1868. 

SECRBTARIA  DE  BSIRANGEIfiOS 

CoUeccion  de  documentos  inéditos  relativos  ai  desco- 
brimento, conquista  y  oi^anízacton  de  las  anlígnas  Pose- 
siones  cspaRolas  da  America  y  Oceania,  etc.  Por  D.  Lais 
Torres  de  Mendonza.  Matlrid,  1866,  6  ds.  in-i. 

Idem  idem.  Madrid,  1867,  7*  e  8*  tomos  compreben- 
dendo  13  ns.  ío-4. 

Relatório  da  repartiçSo  dos  negócios  estrangeiros  apre- 
sentado á  assembiéa  geral  legislativa  na  2' sessão  da  13.* 
Legislatura  pelo  Exm.  ministro  e  secretario  de  Estado, 
João  Silveira  de  Sousa.  Rio  de  Janeiro,  1868. 

SECRETARIA  DA  AGRICULTORA 

Relatório  apresnntado  ã  assembiéa  geral  legislativa  na  2* 
sessão  da  ( 3'  legislatura  pelo  ministro  e  secretario  d'Es- 


Dictzedby  Google 


tado.  conselheiro  Manoel  Pinto  de  Sonsa  Dantas.  Riu  de 
Jaoeiro,  1666. 

Relatório  sobre  a  exposição  niiivcrsal  de  1867,  redigido 
pelo  secretario  da  commissâo  brasileira,  Júlio  Constascío 
de  Villencuve,  e  apresentado  a  S.  M.  o  Imperador  pelu 
presidente  da  mesma  commissão,  Marcos  António  de 
Aranjo.  Paris,  1868.  o  1*.  vol.  Íd-V. 


RELATÓRIOS  E  DOCUMENTOS  REMETTIDOS  POR  ALGU- 
MAS PRESIDÊNCIAS  DE  PROVÍNCIAS  DURANTE  O 

ANNO  DE  1868. 


Relatório  que  ao  Sr.  presidente  da  província  do  Paraná, 
bacbarel  José  Feliciano  Horta  de  Araújo  approseotou  o 
bacharel  Círios  Augusto  Ferrar,  do  Abreu  por  uccasiãa  de 
passar-lhe  a  administração  da  mesma  pruvincis.  Corí- 
tiba,  1867. 

Collecçfio  das  leis  o  decretos  da  provincia  do  Paraná  dos 
annos  de  1867  e  1868.  Oiritiba. 


CoUecção  das  leis  e  ro^oluçOes  da  assembléa  provincial 
de  Sergipe,  do  anno  de  1867.  Aracaju,  1868. 


Gollccção  das  leis  da  província  do  Gram  Pará.  Tomos  28 
í  29,  annos  de  1856,  186fi— 1867. 


Leis  e  resoluções  da  asscmbléa  Icgislsiiva  provincial, 
saaccíonadas  o  publicadas  do  anno  de  186'.  in-8. 


D,:„l,;cdtv  Google 


—  461  — 

Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  prí^sideote  abrio  a  assem- 
bléa  legislativa  no  dia  1°  de  Março  do  1808',  o  docomen- 
tos  aoncxosao  referido  Relatório. 

Leis  o  Resoluções  da  Àssembléa  Legislaliva  da  Babia 
saoccionadas  o  publicadas  do  anno  de  1868.  Bahia,  i86S. 

Relatório  com  que  o  Exm  Sr.  Dr.  José  Bonifácio  Nascen- 
tes do  Azambuja  passou  a  administração  da  proviacia  ao 
Exm.  Sr.  Tice-presidcnle  desembargador  António  Ladisláo 
de  Figueiredo  Rocha,  do  dia  26  de  Julho  de  1868. 
Babia,  1866. 

ALAGOAS 

Relatório  apresentado  á  assembléa  legislativa  provin- 
cial das  Alagoas  na  3*  sessão 'da  17*  legislatura  pelo  presi- 
dente, Dr.  António  Moreira  de  Barros.  Maceió.  1867,  in-4. 

Relatório  com  que  ao  Exm.  Sr.  Dr.  Graciliano 
Ariitides  do  Prado  Pimentel  entregou  a  administração  da 
província  das  AlagAas  do  dia  22  de  Maio  de  1868  o  Exm. 
Sr.  Dr.  António  Uoreira  de  Barros.  Maceió,  18b8. 

PROVÍNCIA  DO  AMAZONAS 

Regulamento  n.  17  de  1  de  Agosto  de  1867  reformando 
a  Administração  da  fazenda  provincial  do  Amazonas. 
Manáos,  1868. 

Relatório  com  que  o  Sr.  presidente  da  proviacia,  Dr. 
Jacintbo  Pereira  de  Abreu,  abria  a  assembléa  legislativa 
provincial  do  Amazonas,  no  dia  1°  de  Junho  de  1868. 
Mau&os,  1666. 

PROVÍNCIA   DE   HATO   GROSSO 

Relatório  do  vice-presidente  da  provincia  de  Hato- 
Grosso,  o  barão  de  Agiiapeby,  na  abertura  da  sessHo  ordiná- 
ria da  assemMèa  legislativa  provincial,  em  3  de  Maio 
de  1868.  Cuyabà,  1866. 


D,c,t,zedbyG<.10gIe 


BSPIRITO-SANTO 

Relatório  com  que  foiaberU  a  sessão  exlraordinaria  da 
assomblèa  k>gislaliva  proriacíal  pelo  Etm.  Sr.  Dr.  Fran- 
CÍS4S0  Leite  Bitieacoart  Sampaio,  presidente  da  província. 
Vlctoría,  1668. 

UO-CRAiniE    DO   SUL 

Relatório  com  que  o  Exm,  Sr.  Dr.  Francisco  Ignacio 
Marcondes  Homem  de  Mello  passou  a  administração  da 
proTÍQcia  ao  1'  TÍce-presideale  da  provincia,  no  dia  l3  de 
Abril  de  1868.  Porto-Àlegre,  1868. 

Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  Dr.  Joaquim  Vieira  da 
Canba,  1*  TÍce-presídenie  doesta  provincia,  passou  a  admi- 
nistração da  mesma  ao  Eim.  Sr.  marecbal  de  campo  Gui- 
Iberme  Xavier  de  Sousa,  no  dia  14  de  Julho  de  1868. 
Porto-Ãlegre,  1866. 

Quadro  estaUstIco  e  geograpbico  da  província  de  S.  Pedro 
do  Rio-Grande  do  Sal,  oi^anisado  em  virtude  de  ordem  do 
presidente  da  mesma,  Dr.  Francisco  Ignacio  Marcondes 
Homem  de  Mello,  pelo  bacbarel  António  Eleuterio  de  Ca- 
margo. Porto-Alegre,   1868,  2  vol.  ín-i. 

Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  marecbal  de  campo  Gui- 
lherme Xavier  de  Sousa  passou  a  administração  da  provin- 
da do  Rio-Grande  do  Sul  ao  Exm.  Sr.  Dr.  Israel  Rodrigues 
Barceltos,  e  este  ao  Gxm.  Sr.  Dr.  António  da  CosU  Pinto 
Silva.  Porlo-Alegre,  1866. 


OBRAS    DIVERSAS  OFFEREClDAS   AO  INSTITUTO 
DURANTE  O  ANNO  DE  1868 

PELO  SR.  CONSELBElnO  lOkO    MAIVOEL   PEREIRA   DA  SILVA 

Le  Brésil  contomporain  —  races,  moeurs,  inslitutions. 


Dictzedby  Google 


—  468  — 

payságe,  coloDisatíoQ.  Par  Adolphe  d'As8ir.  Paris,  1867. 

ÍD-8. 

L'Iodustrie  moderoe  au  cbami»  de  Hars  —  Conp  d'CEil 
sur  l'éxposiUon  universel  de  1867.  Par  U.  Jales  le  Roux. 
Paris,  io-4. 

Les  campagaes  de  Dugany-Trouin.  (Com  estampas.) 

L'NoTeau  et  graod  illumiiiaDl  flambleau  de  la  mer. 
AiDslerdam,  1684,  iD-folio. 

Historia  da  fuodação  do  Império  do  Brasil,  tomo  7°.  Rio 
de  Janeiro,  1868,  íd-8. 

PELO  SH.    GRACILU»0  PIMENTEL 

A  liberdade  e  o  trabalbo.  Victoria,  1866,  folbeto. 

PELO  SR.  JOSÉ  tlCARDO  DE  SOUSA  NUNES 

Memoria  sobre  a  calecbese  e  civílisaçao  dos  indigeaas 
do  Brasil.  Haraobão,  1867,  folheio. 

PELO  INSTITUTU  DA  ORDEH  DOS    ADVOGADOS  BRASILEIROS 

Revista  do  mesmo  iastíluto,  2  yol.  RíO  de  Janeiro,  1868. 
e  Tol.  2°  tomo  6.' 

PELO    INSTITUTO    DE    COIMBRA 

O  n.  6  do  seu  jornal. 

PELO  SR.  DR.  CBSAR  AUGUSTO  MARQUES 

Almaoak  de  lembranças  brasileiras,  3*  anno,  1868. 
S.  Luiz  do  Maranhão,  in-8. 

Os  ns.  do  Publicador  Maranhense  onde  se  acham  pu- 
blicadas as  biographías  dos  bispos  do  Marauhão. 

Semanários  Maranhenset,  onde  se  acham  impressos  os 
seus  artigos  sobro  o  canal  do  Arapaby ;  Instituição  da  Santa 
Casa  da  Misericórdia  do  Maranhão ;  a  historia  da-  capella 


Dictzedby  Google 


—  464  - 

da  camará  municipal ;  hospital  militar,  hospital  dos 
ros,  casa  dos  expostos ;  curiiiterio  velho  da  Hiseric« 
cemílerio  do  Gavião,  igreja  de  S.  Pantaleiio,  do  Uarai 
retraio  do  desembargador  A.nlonÍo  Rodrigaes  Vello* 
Oliveira;  relatório  do  Eitm.  Sr.  FraDklíD  Américo  di 
nezcs  Dória  ao  passar  a  administração  da  provinc 
Maranhão  ao  Sr.  Dr.  Aatonio  Epamtnondas  de  Hello 

ladice  alphabelico  das  leis,  decretos  e  avisos  relaii 
iocompaUbitidade  na  accomulação  dos  ai^os  e  emp 
públicos.  I'or  Ovidio  da  Gama  Lobo.  Maranhão,  i 
in-". 

Peosameolos  e  máximas,  pelo  bacharel  Frederico 
Corrêa.  Maranhão,  186&,  in-8. 

Relatório  que  o  Exm.  Sr.  Dr.  Manool  Janseo  Fer 
apresentou á asseiubléa  legislativa  provincial  no  dial 
Maio  de  1868.  S.  Luiz  do  Maranhão,  1868. 

Máximas,  sentenças  e  provérbios  reduzidos  k  his 
pátria  pelo  padre  Cyrilto  dos  Reis  Lima.  Maranhão,  i 
in-8. 

Direilosedeveresdoaestrangeiros  no  Brasil.  Pelo  bi 
rei  Ovidio  da  Gama  Lobo.  Maranhão,  1868.  in-8. 

Semanários  Maranhenses  ~' cQoteuáo :  Meurim,  l 
fregoezia  ;  Biographia  de  D.  Luiz  de  Brito  Homem, 
bispo  do  Maranhão ;  Largo  do  Campo  de  Ourique,  qu 
ememoriaàsagraçãodeS.M.  oSr.  Dr.  Pedro  li.  Uma 
sobre  a  agricultura,  importafSo  exportação,  e  tribui 
algodão  da  província  do  Maranhão ;  artigo  sobre  a  fre 
zia  e  yilla  de  Ânajatuba ;  artigo  sobre  o  cemitério  \i 
do  Maranhão ;  artigo  sobre  a  historia  e  cultivo  do  a 
no  Maranhão,  e  a  historia  da  ordem  carmelitana  da  mt 
província. 

Resumo  da  historia  do  Brasil  escript<>  por  D.  Bercu 
Firmina  Vieira  de  Soosa.  in-B. 


Dictzedby  Google 


PELA  REDACÇXo  DA  GAZETA  MEDICA   DA  BAHU 

Código  de  eibica  medica  adoptado  pela  Associação  Me- 
dica AmericaDa,  tradazido  do  ioglez,  exirabído  da  Gazeta 
Medica  Brasileira,  Bahia.  1868.  Folheto,  e  17  os.  do  sea 
jornal. 

PELO  SR.  DR.  SATDRNIHO  DE    SOUSA  E  OUTEIHA 

Elemenlos  grammaticaes  Ubemdo,  composta  pelo  offei^ 
taote  e  Manoel  Alves  de  Castro  Francina.  Loaada,  1868- 
in-8. 

Essai  de  grammaire  poogwée.  i  vol.  [n-6. 

Dictionoaire  Françaís-Wotof  et  Wolof-Français.  Par  ies 
RR.  PP.  Missionnaires.  Dakar,  1855.  ín-8. 

PELO  SR.  AHTONIO  ALTES  FERREIRA 

Bydroli^ia  geral,  l  vol.  in-8. 

PBLA  SECRETARIA  DA  CAMARÁ  DOS  DEPUTADOS. 

Annaes  da  camará  dos  deputados  da  sessão  de  1867. 
S  Tol.  Idem  do  aono  de  1 868. 

PELO  SR.  CONSELHEIRO  FRANCISCO  XAVIER  BOMTEHPO 

Instmcções  para  a  navegação  do  lio  Amazonas.  Rio  de 
J»ieiro,  1868. 

P8L0  SR.  DR.  JOAQUIM  DOS  RFHEDIOS  MONTEIRO 

H^ene  e  edocaçio  da  infância.  Rezende,  1868. 

PELO  SR.  CÓNEGO  DR.  JOAQUIM  CAETANO    FERNANDES    PINHEIRO 

O  Brasil  e  a  Inglaterra  ou  o  trafico  de  africanos,  es- 
cripto  pelo  conselheiro  Tito  Fr»nco  de  Almeida.  Rio  de 
Janeiro,  1868. 

TOMO  XXXI,    P.    II  59 


Dictzedby  Google 


—  *6fi  - 

PE..OSR.  DR.JOSlÊIOAQUItt  TAVARES  BELFORT 

Collecçâo  deiornaes,  contendo  trabalhos  sobre  a  esta- 
listica  da  provinda  do  Maranhão. 

PELO  SR.  A.  DEODORO  DE  PASCCAL 

Umf^pisodto  da  historia  palria.  As  quatro  derradeiras 
noites  dos  inconfidentes  de  Minas-Geraes(17í>2).  Rio  de 
Janeiro,  1868. 

PELA  SECRETARIA  DO  SENADO 

Collecção  dos  pareceres  da  mesa  do  senado  da  sessão 
de  1867,  in-8. 

Um  exemplar  da  collecção  dos  Annaes,  e  um  volume 
da  synopse  dos  objectos  pendentes  de  deliberação. 

PELA   SOCIEDADE  DE  GEOGRAPHIA  DE    PARIS 

Boletins  da  mesma  dos  mezcs  de  Janeiro  a  Agosto  do 
corrente  anno. 

PELO   INSTITUTO  HISTÓRICO  DE    FRANÇA 

O  Investigador  jornal  do  mesmo  instituto :  8  ns. 

PELA    SOCIEDADE  AUXILIADORA  DA  INDUSTRIA  NACIONAL 

Collecção  incompleta  de  suas  Revistas  e  Manuaes  sobre 
differentes  assumptos,  e  Revistas  dos  mezes  de  Março  a  Se- 
tembro do  corrente  anno. 

PELO  SR.  DR.  ANTÓNIO  PEREIRA  PINTO 

Vários  exemplares  da  soa  obra— Estudos  sobre  algnmas 
questões  internacionaes.  S.  Pfluln,  1867.  in-8. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


PELO  SR.  l.  A.  B0UIJU4GER 

Aagusis|iaroQlsdeleursMagestésrEmpereurD.  Pedro  11, 
et  rimperatrice  D.  TberesaChrístiDa  Maria,  io-folio. 

PELO  SR.  DR.    UIGUEL  FERREIRA  VIEIRA 

Reflexões  acerca  do  progresso  material  da  província  do 
Haranbao,  io-8  gr. 

PELO  SR.  JOSÉ  SILVESTItE  RIBEIRO 

Quadras  da  litteralura,  das  scJencias,  e  artes  da  Rússia. 
Por  R.  Lzovitich,  precedido  de  um  rápido  lance  de  vis- 
ta, por  José  Silvestre  Ribeiro  in-8gr. 

PELA   TYPOGRAPHIA    NACIONAL 

Collecf^o  de  leis  do  Império  do  Brasil,  do  auno  de  18fí7. 
2  toI. 

pela  reuacçilo  do  jornal.  bahia  illustrada 
10  aameros  do  seu  jornal. 

PELO  SR.  DR.  NICOLÀO  JDAQUIH  MOREIRA 

Discurso  jirODunciado  pelo  Dr.  Nicoláo  Joaquim  Moreira 
em  nome  da  Academia  Imperial  de  Medicina,  na  sessão  an- 
niversaria  do  instituto  dos  Itachareis  em  U  trás,  em  2  de 
Junbo  de  1S6S.  Rio  de  Janeiro,  in-8. 

Considerações  sobre  o  snicidio.  Discurso  pronunciado 
perunte  S.  M.  o  Imperador  na  sessão  solemae  da  Acade- 
mia Imperial  de  Medicina  em  30  de  Junbo  de  1867.     - 

Relatório  medico-legal.  Exame  de  sanidade  feito  pelos 
peritos  da  justiça  sobre  a  pessoa  do  Dr.  José  Marianno  da 
Silva  em  13  de  Abril  de  1867,  io-8. 

Duas  palavras  sobre  a  educação  moral  da  mulher.  DIs- 


DictizedbyGoOgk 


\ 


corso  proQQQuiado  perante  S.  H.  o  Imperador  aa  sessão 
solemDe  da  Academia  Imperialde  Medicina  em  30  de  Jaobo 
de  1868.  pelo  Dr^  Nicoláo  Joaquim  Moreira,  in-8  gr. 

Relatório  da  comrnissio  especta)  nomeada  pela  Acade- 
mia Imperial  de  Mediciaa  para  interpftr  seu  parecer  sobre 
a  memoria  do  Dr.  José  Luiz  da  Costa-. —O  que  éa  saúde?  O 
qoe  é  a  doeucaT  Pelo  Dr.  Nicoláo  Joaquim  Moreira,  ío-8  gr. 

PELO  SB.  LDB  JOSÉ   HURINELLY 

Algumas  cousideracoes  que  acerca  de  um  folbelo  im- 
presso, assigaado  e  dislribnido  pelo  Dr.  D.  de  A.  C.  de 
Daque-Eatrada  com  o  tilulo:— Prologo  para  a  verdadeira 
historia  da  Imperial  Sociedade  Amaole  da  luslniccão,  offe- 
rece  ao  conselho  da  mesma  sociedade  o  sócio  fundador 
Luiz  José  Hurinelly.  Rio  de  Janeiro,  1863,  in-4. 

PELO  SR.  JOiO   CARLOS  NORÊ 

Refleides  sobre  a  brochura  do  Sr.  Cb.  Expelly.  Le 
Brésil,  Buonos-Aires,  Montevideo  et  le  Faraguay  devanl 
la  civilisation.  Porto-Alegre,  1868.  ín-8  gr. 

PELO  SH.  SECRETARIO  DO  BANCO  00  BRASIL 

Relatório  apresentado  &  assembléa  geral  dos  accionis- 
tas do  banco  do  Brasil  na  sua  reunião  de  1868  pelo  sen 
presidente,  o  cooselbeíro  d'Gstado  Francisco  de  Salles 
Torres  Homem.  Rio  de  Janeiro,  1868,  in-folio. 

PELO  SR.  JOSE*  MARGELLIMO    PEREIRA  DE  MORAES 

Atlas  univarsel  par  Robert,  et  par  Roberi  de  Vaugoo- 
dy,  corr^é  et  augimeaté  de  la  carte  de  TEmpire  Franpais, 
derisé  ea  départemeiís  parC  F.  Delamarcbe.  Paris,  1  toI. 

ÍD-f0lÍ0. 


DictizedbyGoOJ^IC 


FEXOSK.  J.  H.  P.  DE    VASCOHCELLOS 

Selecta  brasiliense  oa  nolicías,  descobertas,  observa- 
ções, Taclos  e  coriosidades  era  relação  aos  homens,  á  his- 
toria ecoasasdo  Brasil.  Rio  deiaDeiro,l86S,  1  toI.  íq-8. 

PELO  SR.  OR.  ANTOMO  HENRIQOES    LEIL 

'  Carso  de  litteratara  por  Francisco  Sotero  dos  Reis. 
Almaaak  admiaistrativo  do  Maranhão  para  1868 ;  Poesias 
de  AdIodÍo  Joaquim  Franco  de  Sá. 

Os  dois  primeiros  volumes  das  obras  poslbumas  do  Dr. 
Gonçalves  Dias. 

Ecbo  politico  —  Responde  era  Portugal  a  la  Voz  de  Cas- 
tilla  y  satisfaço  a  an  papel  auonymo  oGíerecido  a  el  Rey  D. 
Pbilippe  4*,  Lisboa,  1645,  ín-8. 

PELO  SR.  INNOCENCIO  FRANCISCO    DA  SILVA 

Díccionario  bibliograpbico  portuguez.  Lisboa,  1868, 
tomo8*tD-8  gr.. 

PELO  SR.  VIVIEN  DE  SAIHT-MARTIM 

L'anDée  géographique.  Revue  anuuelte  des  voyages  de 
terre  et  de  raer.  7'  annèe  1867.  Paris,  1868,  íd-8. 

PELO  SR.  PADRE  LINO    DO  MONTE  CARMELO    LUNA. 

Descripção  das  exéquias  solemnes  do  Exm.  general 
D.  Venâncio  Flores,  celebradas  na  cidade  de  Pernambuco, 
por  ordem  do  cônsul  da  Republica  Oriental  do  Uroguay. 
Recife,  1868. 

PELO  SR.    OR.    ANTÓNIO   DE  CASTRO    LOPBS 

Uosa  latina— Oollecyão  de  lyras  de  Maritia  de  Dirceu 
tradusidas  para  verso  latino.  Rio  de  Janeiro,  4868. 


Dictzedby  Google 


PELA  SOCIEDADE  UNIÃO  BENEFICESTE  CO» HSR    -  ?  E  ARTES. 

Relatório  apresentado  em  sessão  d'assembléa  geral  em 
26  de  Janeiro  de  1868. 

PELO  SK.    DR.    RICARDO  CUMBLETON    DAUHT 

The  canse  poor  Catbolic  emigrants  pleaded  before  the 
calholiccongressof  Belgiam,  Setemberi667.  London. 

PEU  ACADEMIA  REAL  DAS    SCIENCIAS  DA  BÉLGICA 

Annalles  méléorologiqaes  de  Tobservalolre  Royal  de 
Bmxelles,  1867.  in-folio. 

Mémuires  couronnées  el  Mémoíres  des  savants  étrangers 
publiées  par  TAcadémie  Royal  des  Sciences,  des  Lettres  et 
de  beaoi-arts  de  Belgique,  1867,  iD-rolio. 

fiuilelinsde  rAcadémie  Royal  des  Sciences,  etc,  de  Bel- 
gique, 1867, iD-8. 

Annuatre  de  l'Académíe  Royal  des  Sciences,  des  lettres 
et  de  beaai-arts.  Bmxelles.  1868.  in-8. 

PEU    ACADEMIA   REAL    DAS  SCIENCIAS  DE  LISBOA 

Memorias  da  Academia  —  Classe  de  sciencias  mathema- 
tbicas,  pbysicas  e  natnraes.  Tomo  4°  parle  1*,  Lisboa,  1867. 

Actos  e  rclacOes  politicas  e  diplomáticas  de  Portugal 
comas  diversas  potencias  ilumundodesJeo  século  16°  até 
os  nossos  dias,  publicados  por  ordem  da  Academia  pelo  Sr. 
Luiz  António  Rebello  da  Silva.  Tomoâ.'  Lisboa,  1865. 

Quadro  elementar  das  relagões  politicas  e  diplomáti- 
cas de  Portugal  com  as  diversas  potencias  do  mundo,  peto 
visconde  de  Santarém.  Lisboa,  1866.  2  vol.  iu-4. 

PELO  SR.  DR.  JOAQUIM    ANTÓNIO  PINTO  JÚNIOR 

O  cbartatão  Carlos  Expilly  e  a  verdade  sobre  ocouflícto 
entre  o  Brasil,  Buenos-Aires,  Montevideo  e  o  Paraguay. 
S.  Paulo.  1866,  tQ-8. 


DictizedbyGoOJ^Ic 


—  471  — 

Uma  excursão  á  comarca  de  Iguape,  pelu  Dr.  Joaquim 
ÃDtonio  Pinto  Júnior,  em  commissão  do  governo  da  pro- 
víncia desde  4  de  Agosto  até  2  do  Setembro  de  1866,  S. 
Paulo,  1866,  in-8. 

Discurso  proDUQciado  perante  o  tribunal  dojury  da  ci- 
dade de  Santos,  pelo  Dr.  Joaquim  Anionio  Pinto  Júnior,  na 
accusa^So  de  Henrique Begbie  e  seus  (3  co-réos,  pelo  as- 
sassinato de  João  Pedro  Cbrist  Júnior,  Santos,  18CS,  ia-4. 

Biographia  doExm.Sr.  conselheiro  Dr.  MaooelJoaquim 
do  Amaral  Gurgel,  1868,  in-8. 

PELO   5H.    DR.   MAXIMIANO   HARQUES   DE  CARVALHO 

Exposição  universatde  1867.— Catalogue  géoéral,  publié 
par  la  commission  impértale—  Paris,  2  vol.  in-8. 

PELO  Sfl .  BACHAREL  EDUARDO  DE  SA  PEREIRA  DE  CASTRO 

Os  Hetóes  brasileiros  na  Companba  do  Sul  em  18f5,  os 
ns.  12,  13, 14  eis. 

PELO  SR.  DR.  ALFREDO  d'eSCRAGN0LLE  TAUM*Y 

Scenas  de  viagem.  Eipior&çSo  enire  os  rios  Paraguay  e 
Aquidauana,  no  distrittode  Mirandada  provinda  de  Mato 
Grosso,  memoria  descriptiva.  Rio  de  Janeiro,  1868, 1  vol. 
in-8. 

Le  Rètraíte  de  Laguna,  1868.  in  8. 

PELO  SR.  COMEGO  JOAOUIM   PINTO  DE  CAMPOS 

Polemica  religiosa.— Refutação  ao  impio  opúsculo  qne 
tem  por  tiiulo  o  Deus  dos  Judeos  e  o  Deus  dos  Chrislãos 
sob  o  pseudonymo  de  Christ3o  velho.  Pernambuco,  1868, 
in-8. 


Dictzedby  Google 


PBL*  SOCIEDADE  POHTUGUKZA  DE  BEHEFICFUCU 

Relatório  apresenUdo  á  assembléa  Geral  do  dia  22  de 
JuDbo  de  1868  pelo  presidente  viscoDde  de  S.  Hamede,  e 
Parecer  da  commissSo  de  exame  de  conlas.  Rio  de  Janei- 
ro, 1868,  in-4. 

PELO  Sa.  DR.  LUIZ  FRANCISCO    DA  VEIGA 

Noticias  recônditas  sobre  a  inquisição  pelo  padre  A. 
Vieira. 

OratSo  fQDebre  á  memoria  do  senador  D.  A.  FeijÕ. 

Njcttieroy  (poema)  pelo  cónego  Janoario  da  C.  Barbosa. 

Relalorio  da  commissflo  de  visita  a  prisões,  conventos  e 
estabelecimentos  de  caridade.  Rio  de  Janeiro,  1830. 

Glossaria  línguarumBrasiliensiaoi. 

Elementos  de  bisioria  oacionale  de  economia  politica  por 
CG. 

Le  Koran,  traduzido  do  árabe  porKasimírski. 

L'Enrop6  révolulionnaire  par  IvanGoloTèDe. 

L'ADgleterre,  la  Frsnce,  la  Rnsaie  et  la  Tarquie.  Obra 
traduzida  do  inglez,  1835. 

Relação  breve  e  verdadeira  da  entrada  do  exercito 
francez  em  Pnrtagat.  Lisbda,  1809. 

L'Emperear  Napoléon  lU  et  TAngleterre,  1858. 

La  Lombardie  et  le  Venetien.  1858. 

L'Aulrícbe  et  le  Prínce  Roumain,  1859. 

Politiqae  nationate  par  ua  ancien  depute.  1859. 

Rome  et  ses  Provinces.  1860. 

La  Douvelle  carie  de  l'Europe  par  L'About.  1860. 

La  verité  sur  les  événements  de  Candie,  1858. 

La  qoestion  Sonnieuse  devani  l'Europe  par  François 
Lenormant,  1859. 

La  Duuvelle  «ittiludu  de  la  France,  1860. 


DictizedbyGoOJ^IC 


-  A73  - 

UUre  i'vn  jooraaliate  catbotttiiie  á  Mooseignour  l'ETê- 
qoe  ()'OrleaDs,  1860. 

Condem nati ou  de  IMotríche,  1859. 

LesRomagnes  par  J.deSaint-ArQaad,  1860. 

L'ADgleleiTe  el  In  RqssÍc  par  Amedée  de  Ceseoa,  1859. 

L'ATeDÍr  de  l^arope  ptr  Predcric  d'Hanault,  18S9. 

L'Eniperaar  Napoléoii  IH  «t  les  príacipautés  roumai- 
nes,  1858. 

Apre;  ta  gaerre.  ReconstitaUon  de  Ia  Hnagri»  par 
Amedée  Le  Paare.  1859. 

La  Pnissã.el  laquesUon  iUlieoDe,  :1859. 

La  Pnisse  ea  isêopar  L.  About,  1860. 

Venise,  complemontde  la  qtiestioa  ilalieaae  par  M.  le 
CtfmtediiHamel,  1860. 

La  CoalitioD,  1860. 

LaHoagrie,  germaoisation  auiríchienae,  1860. 

Esl-ce  la  paix  ?  Est-ce-Ia  guerre,  18M. 

La  paix  de  Zmícb  et  te  noaveau  congros  earopéen  par 
Tchiliatcbes. 

Carta  pastoral  do  Revoí.  arcebispo  da  Bahia  coDde<de  S. 
Salvador  sobra  oespiriUspú,  1867. 

Gorograpbla  brasílica  pelo  paãre.ManooUyres  de  Casal. 
1833. 

PELO  SB.  FRESIDBMTE  DO  MONTE  PIO  DA  BASU 

Relatório  apresentado  pelo  consGlho  administmUvo  da 
sociedade  Hoate-Plo  da  Bahia  i  assembléa  geral  ordinária 
èni  11  de  Junho  de  1868. 

PELO  SR.  DR.  MANOEL  DA  CVtSBjí  GALVÍ0. 

Melhoramento  do  porto  de  Pernambuco.  Proposta  dos 
Srs.  barSo  de  Maná,  conselheiro  Manoel  da  Cunha'  Galvão 
e  Dr.  J.  P.  A.  B.  Moniic  Barreto.  Rio  de  Janeiro,  1868. 

TOMO  XXXI,  P.  II  60 


D,:„l,;cdtvG00J^IC 


PELOSK.  D.  FRANCISCO  B&LTHAUR  DA  SILVEIRA 

Relatório  com  que  o  Exm.  Sr.  prosidenle  da  pioTÍncia 
do  AmazoDAs,  Dr.  Jacinlbo  Pereira  do  Rego  abria  a  ussem- 
biéa  legislativa  provincial  do  dia  1°  de  Junbo  de  1868. 
Hanàos,  1868. 

PELO  SR.  SR.  r.  I.  HARCOHtlES  HOHEH  DE  MELLO 

Escriptosbistorícos  elitteiarios.  Rio  de  Janeiro.  1868. 

i  TOt.  ÍD-4. 

PELA  SOCIEDADE  IMPERIAL  DOS  NATURALISTAS  BE  HOSCOV 

Ossens  Boletins  de  1865  v  1866  2  toI.  íd-8. 
Idem  de  1867. 

PELA  SOCIEDADr  DE  ETHNDGI.APtnA  DC  PARIS 

Assoas  Memorias  tomol.*  Paris,  1867. 

PELOSR.  JOtO  BAPIISTA  CORTIKES  LAXE 

R<>gimenlo  das  camaran  manicipaes  ou  Lei  de  1*  de  Oo- 
lobro  dl-  1828.  Annotado  por  ]on<i  B-iptista  Corlioes  Laie. 
Pio  de  Janeiro,  1868.  íd-8. 

PELO  inSl  ITCTO  DOS   BACBAREIS  EM  LURAS 

Discurso  do  presidente,  ReUloriodo  secretario  e  EI<^Ío 
histórico  do  orador,  na  sossSo  ir-agna  rm  2  d<  Julho 
de  1868.  Rio  de  Janeiro,  18C8. 


DictizedbyGoOJ^IC 


\ 


SUCIOS  ADMITI IDUS  AO  GRÉMIO  UO  INSTITUTO 
m  AflNO  DE  1868. 

UOHOKAHIO 

Exui.  viscundo  de  lQhaú'.ija. 

COHRESPONOENTSS 

Ur.  Luiz  Francisco  da  Veiga. 
Reviu.  Pa^lre  Braitsourdfl  Bourbuurg. 
Vivieii  de  Saiot-Marliii. 
Cavallcíro  José  de  Luca. 
Alexandre  Magno  de  Castilho. 
Eduardo  de  Sá  Peroira  du  Castro. 
Uenriqui:  Ambanur  Schutel. 
José  Maiia  Pinto  Peiíolo. 


Dictzedby  Google 


.dbiGooglc 


índice 

DAS  MATÉRIAS  CONTIDAS  NO  10M0  XXXI 
PARTE  SEGUNDA 

TXKCBUIO  niNBSTRE 

A  ACADEMIA  BRAStUCA  ilos  Esquecidos.  Estudo  hUlorico  e 
lUlerario,  lidu  do  la8'Uulo  Histórico  BGeQgrapliÍGoBruil«iro 
pelo  sócio  efTectivo  cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pinlieiro. , . . 

O  DIA  9  DE  JANEIR J  DE  1893.  Mumoria  lida  no  Insliluto  His- 
tórico e  Geographico  Brasileiro,  pelo  Dr.  Moreira  de  Azevedo. 

ESBOÇO  BIOGRAPHIGO  lo  general  José  de  Abreu.  barSo  do 
Serro  Largo,  por  Joeé  Maria  da  Silva  Paranhos  Júnior. 
I.— Nasdmeiíto  de  José  de  Abreu.  —  Assenta  praça  no  regi- 
mento de  ilragdei. —  E'  promovido  a  capitio,pclos  seniçoa 
presiados  nas  campanhas  de  1811  e  18J2.  —  £'  elevado  a 
teoenie  coronel,  e  recebe  o  cominando  raililar  da  fronteira 

do  Quarabim 

IL—  nauida  tisla  d'ollios  sobre  o  estado  da  Bunda  Oriental 
em  1816,  r  sobre  as  cautas  da  interveocSo  armada  do  go- 
verno de  D.  Joau  VI  —  Chegada  doe  voluntários  reaes, — 
InstrucçSes  ilo  capillo-generiil  do  Rlo-Grande  —Cometo 
das  hostilidades,  encontros  entre  as  forças  inimigas  e  as 
de  José  de  Abreu,  no  distrlcto  de  Enlre-Rlos.  — O  ge- 
neral Curado  toma  conta  do  exefiio  da  direita.  —  Plano 
de  Artigas,  suas  forças  invadem  as  Missões  Orientaea  e 
sitiam  5.  Borja,— José  de  Abreu  é  enviado  para  levantar  o 
sitio  de  S.  Borja.  —Sua  march.i  no  longo  do  Uruguar.— 
Combates  do  Passo  de  Japejú  e  do  tbicuhy,  em  qUe  é  re- 
pellidd  Sotál.  —Abreu  atravessa  este  rio  em  procura  do 
coronel  Andrés  Artigas.  ^  Combale  de  s.  Borja  e  restau- 
ração das  Missões  Orientaea 

III.—  Factos  que  se  seguiram  ao  combate  de  9.  Borja.  —  O 
inimigo  resolve  alacar-nns  com  todas  as  snas  forças.  - 
Uove-se  o  nosso  exercito.  —  Abreu  é  íacumbido  do  com- 
mando  da  vimguarda,—  O  exercito  inimigo,  ao  mando  do 
La  Torre,  marcba  ao  encontro  dos  nosxos.  —  Resolve  o 
nosso  general  atacar  o  quartel- general  do  Artigas  —  Abreu 
é  incumbido  d'e«ia  missSo.  —  Ataqne  do  Arajiehf  (3  de 
Janeiro  de  18t7)  e  derrota  de  Artigas  —  Voita  Abr  u  cun 
a  noticia  de  que  La  Torre  a'esse  dia  devia  ntacar-nos  — 
Batalha  de  Calalan  [i  de  Janeiro)  —  Parle  que  n'ella  loie 
Abreu 


Dictzedby  Google 


IV.—  Campnnha  de  !819  a  1830.  —  Arllgas  invade  o  Rio- 
Grande.  —  Abreu  evacun  Alegrete,  e  rclira-sfi  dlaiiie  do 
inimigo  — 4kinibaie  do  Ihírapmtan-Chico  (IA  de  Selrmbri>]. 
— Renne-K  ao  general  Gorr&t  da  Gamara,  e  colloca-*e  cim 
este  no  passo  do  Rosário — São  atacados  a  17  |ior  La  Torre, 
que  é  repeltido.  —  Marcham  em  obi^rvação  da  inimigt> 
Combale  do  Ibicuhy-Guassú  27  de  Dezembro;.  —  Arligas 
marrJia  em  dlrecçilo  ás  vertentes  do  Taquarembó.  e  é 
seguido  por  Abreu  eCáninra. —Volta  para  atacal-os. — Estes 
re(lram-se,  e  rennem-se  ao  Mnde  da  Figueira. —  Marcha 
o  nosso  exercito  em  pmctira  dn  inimigo  —  Baialba  de 
Taquarembó  (20  ile  Janeiro).— Parle  que  n'ellateve  Abreu 
E'  destacado  para  limpar  ^i  iraropanha  ;ilé  ao  Uruguat. — E' 
recompensado  comoposlo  de  marechal  de  campo  graduadn 


a  re- 
.  _  a  de  rcrorços  para  o  siiio  de  Montevideo,  e  marcha 
alé  Mercedes  com  uma  divisSo  auxiliiir.  —  Volta  para  o 
Rio-Crande  depois  ds  capitulação  dos  poriuguezes. — E'-ilie 
conferido  o  poslo  eíTeciiTo  de  marecbal  de  campo 

VI.—  QoesISo  da  Clsplatinn.  —Revolução  de  1625  protegida 
pelo  governo  aif  enlmo.— DeFecçío  ilo  coronel  Julian  Laguna 
e  do  nrigadeiro  Rivera  —  O  visconde  da  Laguna  pede  re- 
forgoa  ao  governo  gorai,  e  á  província  do  Rio-Gmndc  do 
Sul  —Abreu  prenara  uma  divisão,  e  invades  Cisplalina — 
começa  a  desinlelligcncia  do  general  Sebastião  Bnrreto  com 
Abreu.  —  Estado  da  Cisplatina,  quando  Abreu  pàz-se  em 
marcha  —Demora  se  este  Junlo  ao  arroio  Pregueio  á  espera 
das  Torças  dos  coronéis  Jardim  e  Menna  Sairelo. —  Ataque 
de  MGrcedi's  pelo  general  Rivera  (23  de  Agoslo),  que  í 
rechaç.ado,  —  Abreu  move-se  par.i  cobrir  esse  ponlo,  e  ata- 
car Rivera.- Teii'ativi<s  inúteis  para  chamar  Rivera  a  uma 
acção  geral  

VU.—  AUreu  destaca  conlra  Rivra  o  coronel  Bento  Manoel. 
— Combate  de  Arbolilo  (4  de  Setembro;,  e  marcha  de  BeiUo 
Manoel  para  Montevideo. — Lavalleja  levaulao  sitio  da  Coló- 
nia, e  concentra  suas  forças  no  interior.  ~~  Posição  dos 
belligoraotes  —  l'1ano  de  operações  communicado  pelo 
visconde  da  Laguna  a  Abreu.— Combates  <lo  RÍdcod  e  de 
Sarandv.—Abreu  não  concorreu  para  esses  revezes;  accn- 
sações  mfnndadas  que  lhe  foram  feitas.  —  Retirasse  para 
Belém,  e  ahi  reuno-ae  a  Bento  Manoel  —  Segue  para  o 
Rincon  de  Mala-Perros 

VIII.—  Abreu  deixa  no  Rincon  de  Catalan  Benio  Manoel,  c 
Hxa  seu  quartel-general  em  S.  Gabriel. —  Recebe  a  noticia 
de  lhe  ler  sido  conferido  o  titulo  de  barão  do  Serro-l^igo. 
—Providencias  para  defeza  da  fronteira  do  Rio-Grande.— 
Combale  de  Taqunry  (17  de  Detcmbro  ,  e  snrpreza  do  forte 
de  Santa  Theresa  [31  de  Dezembro).  —  Vencem  os  inimi- 


D,:„i,;cdtv  Google 


Ill 

g08  du  barSo  do  Serr(KLar|;o,  que  é  eiunerado  do  com- 
matidii  das  arman  do  Itio-draode.  —  Sua  despedula.  —  Es- 
tado em  que  detiou  a  proviocU.  —  Erroe  ao  seu  sncce»- 
aor.—  Ciiiiibuies  durunte  o  anuo  de  18i6.  —  Viagem  do 

seolior  D.  Peilro  I  au  Hlo-Graode *** 

IX  —  <)  barSo  du  Serru-Largo  offerece-ae  para  orgaoisaJ'  um 
Gurpo  de  VDiuiilaríos.  —  O  Imperador  regreasa  ã  c6rte.— 
O  marquez  de  Barbaceoa  é  nomeado  commaodante  em 
chefe  do  eiercllo.  —  Conferencia  do  marquei  com  o  bário 
du  Serro-Largo.— lislt  recusa  aceitar  o  commando  de  uma 
dÍTÍB3o,  e  aò  pede  o  do  corpo  de  voluoLarios  que  la  orga- 
Disar.—  Parte  para  S.  Gabriel,  para  (uide  cbama  os  seus 
'elliOB  tompanheiros  de  armas.  —  O  eiercito  argenlíDO 
dirige-se  á  Do&ga  fronteira  —  Mofimenlos  doa  dolsfxer- 
cilos.  —  JuiiiçSo  dl'  Barbacena  e  de  Biown  no  arroio  das 
Palmas  —  Fu^a  simuliida  ile  Alyear.  —  O  barSo  do  Serro- 
Largu  reune-se  ao  eiejcilo  do  passo  doa  Enforcados.  — E' 
iucumbidu  de  iiommand^ir  a  viioguarda. — Marcha  do  exer- 
cito em  direcção  uo  passo  do  Bosarío.  —  Balalliu  de  Ilu- 
zaingo.— Morte  do  barjo  do  Serro-Largo liO 

QtlAATO  TRIXESTKE 


BIOGRAPtllA  du  botânico  brasileiro  José  Mariauao  da  CoQcei<^o 
Velloso.   MuiDOíía  lida  ao  Inglitutu  Hiblgrícn  perante  S.  U.  o 

imperador,  por  J»Bé  de  Saldanha  da  Gama 

CAPITtiLOl* 

D       a- 

•  3-  Volver  d'olhos  anulytico  sobre  os  primeiros  tra- 

balhos de  Velloso 

•  a- 

»  6*  A  Flora  FlumineaBC 


IA 881 

U 388 

15 SúS 

16  Analjse  de  tratado  si.bre  s  cultura,  ueo  e  utili- 
dade das  batutas  ou   \apa,   do  liespunbot 

D.  Henrique  Dojle 248 


Dictzedby  Google 


c»piTDLol9  VrilAsoe  Bocagfl  ., 2S9 

■  ao   T 27S 

CE1IBI16S  creadM  por  Pr.  José  Mnitono  da-Concel^o  VpIIoso 
para  a  Fhra  BnuiUira.—Jiaif»  colbfdnB  na  Flan  Brati- 
Itúa  da  Dr.  Martius  :   naOm.  nantanm  d'Hoide  e  Bth, 

e  DorfeRndtrchpr,  etc.  etc.;  moDograpliíM,  etc S7A 

pLtHTts  danificadas   por  Vellcnr,  que  coostam  da  Flora 

Bratíteira 276 

ipriHBiCB SOA 

APPtRDici  ao  capitulo  VHInsoe  Bocage 305 

BhKUIAPMIA  dos  hraslteiros  itliistres  por  anosB,  lelraR,  viitn- 
dea.  ele. 

Prandseo  HmwpI  da  Silva 306 

ACTAS  das  snsSes  em  1B68 3tú 

PARECERES  de  conunissOes  OU  rominlBranos  especlaes. 

Parecer  da  caminlssilo  de  fundos  eorçtinento 37t 

Parecer  da  nonunlasSo  de  Tirudos,  ntxm  de  um  jazigo  per- 
petuo  pira  o«  reitos    Dinrlaes  do  floiidp  marechal  Ray- 

inuDdo  José  daCDDha  Mattos 375 

Pareceres  de  admissio  de  soctos 377 

SE<^SAO  auiícnt  anaftertaTia.  Discurso  do  presidrnte  o  Sr.  vis- 

coode  de  Sapncah; &01 

RELATÓRIO  do  1*  secn^tarlo  cónego  Dr.  J.  C.  Fernandes  Pi- 
nheiro        A05 

DISCURSO  do  omdor  o  Sr.  Dr.  Joaquim  Manoel  de  Macedo. ...      131 
MANUSCRIPTOS   oITereftidos  ao   Instituto  durante  0  aono  de 

1K68 555 

MAPPAS  offerecidos  ao  Instituto  durante  oannn  de  1868 A56 

RELATÓRIOS  e  documeiítoii  remellidns  pelas  secretarias  de  Es- 
tado durante  o  annode  1S6S 557 

RELATÓRIOS  e  documentos  remettido»  por  algumas  presidên- 
cias de  provindas  durante  o  anno  de  1868 460 

OBRAS  diversas,  offérecidag  ao   Instlliito  durante  o  anno  de 

1868 Ú62 

SÓCIOS  admitlldos  ao  grémio  do  Instituto  no  anno  de  1868...      â75 


TYP    DE  PINHEIRO  &   OWP  ,  RUA   SETE   DF   SETEMBRO  N.    159 


DictizedbyGoOJ^IC 


Png.  95  —  epigraplie  —  Abreiípre  para  —  lèa-se  :  Abreu  prepara 
n      97  —  prevenetes  —  lêa-se  :  previdenles. 
»     98  —  Arsenal  Graode  —  lía-se :  Arenal  Orande. 
»    100  —  nola  W)  —  ancliões  —  leo-se  :  laachOes. 
»    t23  —  nota  (63)  —  responsave  —  léa-se  :  responsável. 


Dictzedby  Google 


Do.icdt,  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google 


D,i.,.db,  Google